O que fazer com as agências de 'rating'?
Elias Escreveu:O meu ponto é que não tens entidades independentes. Nesta questão da dívida são todos parte interessada
Certo, mas se não tenho, se não há, posso sempre criar, ou não? Nunca me debruçei sobre isso, mas assim à priori sempre me parece melhor resolver a questão de uma vez por todas do que alinhar com aqueles que vêem defendendo a criação de europeias para "confrontar" as dos USA.
Criar de raiz com técnicos indicados pelos bancos centrais? Sei lá... Diz lá tu...

Dom_Quixote Escreveu:Por isso é que lá apareceu FMI, porque não estava a vêr qual seria a ... "outra". Mas a ideia está lá. Criar algo de novo independente que altere a actual situação.
O meu ponto é que não tens entidades independentes. Nesta questão da dívida são todos parte interessada

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Elias Escreveu:Dom_Quixote Escreveu:E porque não acabar com elas e entregar esse trabalho a uma entidade financeira internacional independente. Por exemplo, podia-se criar um departamento apenas e só com essa competência numa entidade que já exista (FMI ou outra)...
Mas o FMI é tudo menos independente! O FMI empresta dinheiro, quando pior o rating mais alto o juro que vai cobrar
Elias, daí o "ou outra"...

Dom_Quixote Escreveu:E porque não acabar com elas e entregar esse trabalho a uma entidade financeira internacional independente. Por exemplo, podia-se criar um departamento apenas e só com essa competência numa entidade que já exista (FMI ou outra)...
Mas o FMI é tudo menos independente! O FMI empresta dinheiro, quando pior o rating mais alto o juro que vai cobrar

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E porque não acabar com elas e entregar esse trabalho a uma entidade financeira internacional independente. Por exemplo, podia-se criar um departamento apenas e só com essa competência numa entidade que já exista (FMI ou outra)...
Qualquer solução será melhor que a situação actual, nomeadamente no que a suspeição diz respeito.
Qualquer solução será melhor que a situação actual, nomeadamente no que a suspeição diz respeito.

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O que fazer com as agências de 'rating'?
O que fazer com as agências de 'rating'?
13 Agosto 2012 | 11:33
Carlos Bastardo
De cada vez que alguma agência de 'rating' vem comunicar uma descida de notação do risco de um emitente, seja País ou instituição financeira, lá vem o coro de vozes contra as agências de 'rating'. Fez agora um ano em que o 'rating' dos EUA foi reduzido por uma agência de 'rating' e teve consequências desastrosas nos mercados financeiros.
Neste momento, existem alguns países europeus AAA de 'rating', mas com um "outlook" negativo que podem sofrer uma revisão em qualquer altura, não a pedido dos investidores, mas sim porque a agência de 'rating' entende fazê-lo, havendo razões ou não para isso. Mas que soluções poderiam ser implementadas para tornar mais eficiente o trabalho das agências de 'rating'?
Todos nós, pessoas do mercado financeiro, sabemos que as agências de 'rating' perceberam tarde o problema da excessiva alavancagem dos bancos mundiais, especialmente os bancos americanos, ingleses e da Zona Euro. Já em 2006 e 2007 era uma situação visível, bastava olhar para certos balanços.
O conceito "colocar trancas à porta depois de a casa ter sido roubada" foi uma evidência nos últimos anos. As descidas de notação de risco vieram em alguns casos com dois a três anos de atraso. Mas não vale a pena chorar sobre o leite derramado.
Para melhorar o trabalho da agências de 'rating' (que são necessárias), existem várias hipóteses, umas mais legítimas que outras: criar uma agência de 'rating' europeia, controlar mais activamente o trabalho desenvolvido pelas agências de 'rating', criar até agências de 'rating' públicas ou outras medidas que a meu ver fazem mais sentido.
A Zona Euro até pode criar uma agência de 'rating', mas, ao ser constituída, a probabilidade de os procedimentos de análise serem idênticos aos das agências americanas seria elevada, até porque, provavelmente, haveria o recrutamento de alguns directores e técnicos das agências já existentes. Portanto, o resultado seria muito parecido ao que temos hoje. As agências americanas a "atacarem" os emitentes europeus e a agência europeia a "atacar" os emitentes anglo-saxónicos. Não faz sentido.
A criação de agências de 'rating' directamente controladas pelo Estado, tem factos positivos, mas também tem factos negativos e um deles, o mais importante, é que os Estados são também emitentes de dívida e, por isso, o carácter de independência e de governance não ficaria salvaguardado.
A questão de um maior controlo da actividade das agências de 'rating' faz sentido. No entanto, penso que há duas medidas, uma delas bastante radical perante a actual situação, que seriam determinantes numa maior disciplina e transparência de actuação.
A primeira medida era quem pagaria as comissões às agências de 'rating'? Faz sentido serem os emitentes de dívida? Para mim, faz mais sentido serem os investidores institucionais a pagarem e repercutir depois esse custo por todos os investidores (mercado primário e secundário). Em primeiro lugar, porque seriam os investidores a requisitar as análises de risco para investirem, acabando o livre critério das agências de 'rating' de "eu quero, posso e analiso".
Em segundo lugar, os investidores institucionais seriam mais exigentes relativamente à informação prestada pelos emitentes, no momento da montagem e colocação da dívida; logo, os emitentes seriam automaticamente mais disciplinados na sua gestão estratégica e financeira e na capacidade de convencerem os investidores a financiá-los. Estes últimos seriam mais selectivos.
A segunda medida seria a de circunscrever a actividade das agências de 'rating' somente à produção de análises de risco. A gestão de activos financeiros deveria ser vedada às agências de 'rating', uma vez que não faz sentido analisar para o mercado e, simultaneamente, ser um interveniente no mercado. Existem aqui as chamadas zonas de desconforto ou em termos anglo-saxónicos, "chinese walls". É necessário que quem produz informação relevante para os mercados esteja separado das entidades que tomam decisões de investimento.
Economista, Autor do livro "Gestão de Activos Financeiros - Back to Basis"
13 Agosto 2012 | 11:33
Carlos Bastardo
De cada vez que alguma agência de 'rating' vem comunicar uma descida de notação do risco de um emitente, seja País ou instituição financeira, lá vem o coro de vozes contra as agências de 'rating'. Fez agora um ano em que o 'rating' dos EUA foi reduzido por uma agência de 'rating' e teve consequências desastrosas nos mercados financeiros.
Neste momento, existem alguns países europeus AAA de 'rating', mas com um "outlook" negativo que podem sofrer uma revisão em qualquer altura, não a pedido dos investidores, mas sim porque a agência de 'rating' entende fazê-lo, havendo razões ou não para isso. Mas que soluções poderiam ser implementadas para tornar mais eficiente o trabalho das agências de 'rating'?
Todos nós, pessoas do mercado financeiro, sabemos que as agências de 'rating' perceberam tarde o problema da excessiva alavancagem dos bancos mundiais, especialmente os bancos americanos, ingleses e da Zona Euro. Já em 2006 e 2007 era uma situação visível, bastava olhar para certos balanços.
O conceito "colocar trancas à porta depois de a casa ter sido roubada" foi uma evidência nos últimos anos. As descidas de notação de risco vieram em alguns casos com dois a três anos de atraso. Mas não vale a pena chorar sobre o leite derramado.
Para melhorar o trabalho da agências de 'rating' (que são necessárias), existem várias hipóteses, umas mais legítimas que outras: criar uma agência de 'rating' europeia, controlar mais activamente o trabalho desenvolvido pelas agências de 'rating', criar até agências de 'rating' públicas ou outras medidas que a meu ver fazem mais sentido.
A Zona Euro até pode criar uma agência de 'rating', mas, ao ser constituída, a probabilidade de os procedimentos de análise serem idênticos aos das agências americanas seria elevada, até porque, provavelmente, haveria o recrutamento de alguns directores e técnicos das agências já existentes. Portanto, o resultado seria muito parecido ao que temos hoje. As agências americanas a "atacarem" os emitentes europeus e a agência europeia a "atacar" os emitentes anglo-saxónicos. Não faz sentido.
A criação de agências de 'rating' directamente controladas pelo Estado, tem factos positivos, mas também tem factos negativos e um deles, o mais importante, é que os Estados são também emitentes de dívida e, por isso, o carácter de independência e de governance não ficaria salvaguardado.
A questão de um maior controlo da actividade das agências de 'rating' faz sentido. No entanto, penso que há duas medidas, uma delas bastante radical perante a actual situação, que seriam determinantes numa maior disciplina e transparência de actuação.
A primeira medida era quem pagaria as comissões às agências de 'rating'? Faz sentido serem os emitentes de dívida? Para mim, faz mais sentido serem os investidores institucionais a pagarem e repercutir depois esse custo por todos os investidores (mercado primário e secundário). Em primeiro lugar, porque seriam os investidores a requisitar as análises de risco para investirem, acabando o livre critério das agências de 'rating' de "eu quero, posso e analiso".
Em segundo lugar, os investidores institucionais seriam mais exigentes relativamente à informação prestada pelos emitentes, no momento da montagem e colocação da dívida; logo, os emitentes seriam automaticamente mais disciplinados na sua gestão estratégica e financeira e na capacidade de convencerem os investidores a financiá-los. Estes últimos seriam mais selectivos.
A segunda medida seria a de circunscrever a actividade das agências de 'rating' somente à produção de análises de risco. A gestão de activos financeiros deveria ser vedada às agências de 'rating', uma vez que não faz sentido analisar para o mercado e, simultaneamente, ser um interveniente no mercado. Existem aqui as chamadas zonas de desconforto ou em termos anglo-saxónicos, "chinese walls". É necessário que quem produz informação relevante para os mercados esteja separado das entidades que tomam decisões de investimento.
Economista, Autor do livro "Gestão de Activos Financeiros - Back to Basis"
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