Off topic- José Miguel Júdice em entrevista
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Re: Os contribuintes tem o direito de saber.
tugadaytrader Escreveu:Em vez de exigirmos a JMG que divulgue quanto recebeu de A, B ou C porque não exigimos ao Estado (que somos todos nos) que publique quanto paga ao escritorio D, E, F?
Essa informação devia ser obrigatória em relação a todos os gastos do estado.
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Os contribuintes tem o direito de saber.
MiamiBlueHeart Escreveu:Inspirado Escreveu:Estamos a trabalhar mais no estrangeiro, estamos a exportar mais. Dependemos pouco do Estado.
AGORA, dependem pouco do Estado, porque até aqui era à sombra do Estado que se aguentavam, ele que diga o que quiser, mas ainda deve trabalhar muito para o Estado.
Fala, fala, mas é mais um a comer do Estado, passa é o tempo a dizer que não, que não precisa e ainda diz mal do Estado. Quantos mais não andarão por aí?
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Tem muita razão no que diz, em muitos aspectos, mas Júdice devia dizer quantos milhões recebeu do Estado nos últimos 6 anos pelos trabalhos que efectuou..
Em vez de exigirmos a JMG que divulgue quanto recebeu de A, B ou C porque não exigimos ao Estado (que somos todos nos) que publique quanto paga ao escritorio D, E, F?
Essa informação devia ser obrigatória em relação a todos os gastos do estado.
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O jogo da especulação é o mais fascinante do mundo. Mas não é um jogo para os estúpidos, para os mentalmente preguiçosos, para aqueles com fraco balanço emocional e nem para os que querem ficar ricos rapidamente. Esses vão morrer pobres. Jesse Livermore
O jogo da especulação é o mais fascinante do mundo. Mas não é um jogo para os estúpidos, para os mentalmente preguiçosos, para aqueles com fraco balanço emocional e nem para os que querem ficar ricos rapidamente. Esses vão morrer pobres. Jesse Livermore
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Inspirado Escreveu:Estamos a trabalhar mais no estrangeiro, estamos a exportar mais. Dependemos pouco do Estado.
AGORA, dependem pouco do Estado, porque até aqui era à sombra do Estado que se aguentavam, ele que diga o que quiser, mas ainda deve trabalhar muito para o Estado.
Fala, fala, mas é mais um a comer do Estado, passa é o tempo a dizer que não, que não precisa e ainda diz mal do Estado. Quantos mais não andarão por aí?
Bons Negócios.
Tem muita razão no que diz, em muitos aspectos, mas Júdice devia dizer quantos milhões recebeu do Estado nos últimos 6 anos pelos trabalhos que efectuou..
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Estamos a trabalhar mais no estrangeiro, estamos a exportar mais. Dependemos pouco do Estado.
AGORA, dependem pouco do Estado, porque até aqui era à sombra do Estado que se aguentavam, ele que diga o que quiser, mas ainda deve trabalhar muito para o Estado.
Fala, fala, mas é mais um a comer do Estado, passa é o tempo a dizer que não, que não precisa e ainda diz mal do Estado. Quantos mais não andarão por aí?
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Mcmad Escreveu:Mais um ao serviço. Mas diz algumas verdades.
Só algumas verdades?!... Eu vejo ali muitas verdades juntas.
Sempre foi assim na história de Portugal. Só fazemos reformas quando nos obrigam. Somos um povo maravilhoso em épocas de crise e um povo péssimo quando tudo está bem. Temos uma stamina para o sofrimento. Vejam o que foram os Descobrimentos: o que era as pessoas meterem-se numa casca de noz. Ou a Guerra de África, os emigrantes que foram para a França. Eu fiz colégio na zona mais pobre de Coimbra. E, dos meus colegas, só dois foram para o liceu, o resto foi trabalhar. Os meus amigos - o Zé Ladrão, o Barril, tudo nomes que parecem saídos da Crónica dos Bons Malandros - viviam em condições horríveis. Tinha amigos com casas sem janelas onde viviam cinco pessoas. E as pessoas riam, tinham boa disposição. Somos ótimos a sofrer, mas quando corre bem abandalhamos.
Os portugueses estão a fazer um esforço grande, mas o problema vem de trás. Não temos um grande grau de densidade cultural. Que já vem da monarquia. A maioria da família real até ao século xviii só sabia assinar. Era uma corte um pouco troglodita, em que era muito mais valorizada uma pessoa que enchesse uma casa de pratas do que a que punha os filhos a fazer cursos. Os problemas já vêm de longe.
A única forma de defender o Estado social é torná-lo razoável. Descobriu-se que, numa ilha grega com 300 habitantes, havia 900 cegos, quando só 30 o eram realmente. Não se pode dar tudo a todos. O dinheiro não chega. Se a Europa não fizer uma reforma para criar um Estado social razoável, corremos o risco de perder tudo. A guerra pode voltar à Europa.
Em Portugal é muito difícil ser oposição. Se não gritarem, ninguém ouve. O PS também está à deriva. O Sócrates quis posicionar o PS para viabilizar o Estado social com muitas reformas, que ele depois não conseguiu levar até ao fim. Mas a maior parte dos militantes do PS são funcionários públicos. Estão contra as reformas. Quantas pessoas são eleitas? 130 a 150 mil. Entre governo, câmaras e outros. Criou-se um oligopólio político, onde há uma elite que decide quem nos vai governar.
Podia ter usado esse pretexto para sair. O António Vitorino safou-se da política com um pretexto, uma porcaria qualquer de uma Sisa. Saiu e foi ganhar dinheiro, nunca mais voltou. Ainda bem, tem todo o direito. Continuou a ser um homem de influência sem precisar de ser um homem de política. Quem quer ganhar dinheiro até pode ser um homem de influência, mas não pode ser político em Portugal. O Miguel Relvas- não sei se ganhou dinheiro -, mas é muito difícil juntar as duas coisas. Houve uma altura em que, na política, era preciso ser bom orador. Agora é passar bem na televisão. E não ser rico. Quem quer ser político, tem de viver com muita parcimónia.
O António Borges é um homem de influência, no bom sentido da palavra. E os homens de influência são mais úteis se não estiverem na máquina burocrática do Estado. Ele nunca foi ministro e podia ser, mas não sei se está disponível para isso. Tem muitos inimigos, porque ele é um homem brilhante. Portugal é um país difícil, sabe?
Há um chamado comunismo burocrático, que são pessoas que trabalham no Estado mas que no fundo acham que as empresas privadas são como as casas de prostituição: é melhor tê-las e controlá-las do que não as ter. Mas não gostam delas. As estruturas burocráticas do Estado são contra as empresas.
Mas volta e meia aparecem reticências na opinião pública a este tipo de investimento.
É um misto de tudo, de chauvinismo contra os estrangeiros. Antigamente eram os espanhóis. Agora, os angolanos são os novos espanhóis. Há uma certa irritação histórica, uns laivos de racismo e também algum receio de que haja uma instrumentalização à luz das lutas políticas angolanas do que se passa em Portugal. Dizem: Em Angola há corrupção. Pois há e nos outros países do mundo? Nunca vi ninguém muito preocupado com os investimentos do Médio Oriente. A ideia de que não há corrupção no Sul da Europa também já teve melhores dias. Ainda bem que vêm investir em Portugal. Não tenho o mínimo problema com isso.
Off topic- José Miguel Júdice em entrevista
"País pequeno não pode brincar. Se quiserem, os alemães lixam-nos"
José Miguel Júdice, na PLMJ
Ângelo Lucas
25/08/2012 | 00:00 | Dinheiro Vivo
José Miguel Júdice tinha chegado de manhã de Moçambique e ia à tarde para a serra da Estrela. Férias, depois de uma semana em Maputo, ter sido uma surpresa. "Nunca tinha ido, mas vê-se que é um sítio onde as coisas estão a melhorar", garante o sócio fundador da PLMJ e coordenador da equipa de arbitragem. E Angola? "É uma sociedade mais caótica, com um ritmo de crescimento muito grande. É uma sociedade com mais tensão. É um petropaís". E Portugal, pergunto. "Está a ser difícil." E continuámos por aí.
Já batemos no fundo? E já há uma luz ao fundo do túnel?
Quem vê bem, vê sempre uma luz ao fundo do túnel. Os cidadãos normais não veem bem ao longe, não têm informação, não veem a luz. É normal. As pessoas mais bem preparadas, sim, mas é uma luz muito ténue. Há sinais contraditórios. Se olhar para o meu escritório, que é um indicador, estamos melhor, mesmo tendo dificuldades de cobrar. Estamos a trabalhar mais no estrangeiro, estamos a exportar mais. Dependemos pouco do Estado. Estou mais preocupado com a Europa, que está em crise psicológica.
Psicológica?
As pessoas estão preocupadas. As economias modernas - e eu escrevi muito sobre isso e discordo - baseiam-se muito no consumo. É preciso que as pessoas consumam mais. Se as pessoas estão preocupadas com o fim do euro, com a subida de impostos, o que fazem? Tentam pagar o que devem. Toda a economia portuguesa está a arrefecer.
Há necessidade de um novo modelo de consumo? Com menos dívida e mais poupança?
Todo o modelo da economia moderna está errado. Se eu resolver investir em vez de consumir, tenho o aumento do risco e nenhuma vantagem. Se eu tiver uma empresa e em vez de pôr capital social puser dívida, tenho enormes vantagens. O Estado entende que todos nós devemos ter uma proteção social, mas, em vez de fazer pagar esse custo pela rentabilidade das empresas, faz pagar pelo número de trabalhadores. Isso leva as empresas a diminuir emprego e a trocá-lo por máquinas.
É um ciclo vicioso: o Estado precisa de impostos para manter o modelo social, impostos que depois também travam o crescimento.
Era possível fazer um modelo neutral em que a redução dos impostos sobre o rendimento e para a segurança social fossem compensados por um aumento da taxa sobre os lucros das empresas. Há empresas que podiam pagar muito mais impostos, porque têm uma rentabilidade elevada. Todo o modelo está errado, mas não há condições para o alterar agora. O grande problema dos países é que fazem as reformas quando elas doem menos. No tempo de Cavaco escrevi muito isso: não seria muito melhor mudar a lei laboral quando havia quase pleno emprego? Ou reformar o Estado quando havia emprego para os funcionários públicos.
Cavaco Silva, quando era primeiro-ministro, teve essa oportunidade?
Estive dez anos a dizê-lo. A troika veio fazer o que Portugal devia ter feito. Mas não foi só Cavaco, foram todos os primeiros-ministros. A certa altura, as reformas pararam porque politicamente era um suicídio. É o que Passos Coelho está a fazer, mas não tenho a certeza de que não parará quando lhe cheirar a eleições.
Passos Coelho diz que não, que oobjetivo principal não é ser reeleito.
Houve um primeiro-ministro português que me disse isto - e fiquei encantado: prefiro fazer as reformas e perder as eleições do que não as fazer. Não as fez, claro.
Quem foi?
Não lhe posso dizer. Mas não foi o Passos Coelho.
Que já disse o mesmo.
É muito frequente: nós, portugueses e europeus, temos uma memória pré-histórica e continuamos à espera de que os nossos líderes sejam homens com sorte. Antigamente escolhíamos os líderes com base na sua capacidade para fazer chover. Se não chovia, matava-se e substituía--se por outro. Se o homem começa por nos dizer que a única solução é aumentar impostos, retirar subsídios de férias, nós acreditamos nele. Se o vizinho do lado diz "eu não vou fazer nada disso", acabamos por votar neste, mesmo sabendo que está a mentir. A única coisa em que um político pensa genuinamente é em ganhar eleições.
E tudo se resume a isso?
Um empresário quer vender mais, um jogador de futebol meter golos. Na hora da verdade, os políticos querem ser reeleitos. Não se lhes pode pedir grandes reformas.
Agora, pelo menos, somos controlados mensalmente pela troika.
Sempre foi assim na história de Portugal. Só fazemos reformas quando nos obrigam. Somos um povo maravilhoso em épocas de crise e um povo péssimo quando tudo está bem. Temos uma stamina para o sofrimento. Vejam o que foram os Descobrimentos: o que era as pessoas meterem-se numa casca de noz. Ou a Guerra de África, os emigrantes que foram para a França. Eu fiz colégio na zona mais pobre de Coimbra. E, dos meus colegas, só dois foram para o liceu, o resto foi trabalhar. Os meus amigos - o Zé Ladrão, o Barril, tudo nomes que parecem saídos da Crónica dos Bons Malandros - viviam em condições horríveis. Tinha amigos com casas sem janelas onde viviam cinco pessoas. E as pessoas riam, tinham boa disposição. Somos ótimos a sofrer, mas quando corre bem abandalhamos.
O que é um elogio e não é. Como é que isso cola com a imagem de preguiçosos, que parece ser a ideia que têm de nós, periféricos, no centro da Europa?
Não é só preguiçoso. Mas imagine que esteve dez anos a viver com grande dificuldade e que lhe sai o Euromilhões. O que faz? Tira férias. Os portugueses, os gregos, os espanhóis andaram anos a tirar férias. O que não quer dizer que não trabalhavam, mas que gastavam desalmadamente. Repare nos brinquedos que agora dão às crianças. Eu, o melhor presente que tive na minha infância foi uma bola pequena de couro. E agora vemos que qualquer família de classe média tem roupas de marca. Ou que quem se casa vai para o Extremo Oriente. A minha viagem de núpcias foi uma volta pelo Gerês. A grande revolta não é só dos que não têm nada, mas dos que tinham e que agora estão a perder. Os portugueses estão a fazer um esforço grande, mas o problema vem de trás. Não temos um grande grau de densidade cultural. Que já vem da monarquia. A maioria da família real até ao século xviii só sabia assinar. Era uma corte um pouco troglodita, em que era muito mais valorizada uma pessoa que enchesse uma casa de pratas do que a que punha os filhos a fazer cursos. Os problemas já vêm de longe.
E nas empresas? Também é um problema da qualidade dos gestores?
Não acho que o problema seja só esse. Repare: o nosso mercado é muito pequeno. A única fronteira é com Espanha, somos uma ilha isolada entre a meseta castelhana e o mar. Qualquer coisa que se faça aqui é mais cara de exportar do que se for feita em Barcelona. A nova economia - mais digital - pode ser que nos ajude. Sou otimista em relação ao futuro.
Disse há poucos dias que o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, estava no rumo certo. Não há mesmo alternativa à austeridade?
Quando o PSD estava na oposição a maior parte das coisas que dizia eram disparates. Isso agora acontece com o PS, com as críticas que faz. Qual é a alternativa? Espanha e Itália estão a tentar manter as regras do jogo e não conseguem. Nós é que vamos conseguir? Um pequeno país não pode brincar. Porque se os alemães quiserem, lixam-nos. Se Portugal começasse a pedinchar, a exigir, o que diria um alemão? Não sabemos se Passos Coelho está a fazer discretamente aquilo que o PS pede aos gritos.
Acha que, com o aproximar das legislativas, o CDS se vai demarcar mais do PSD?
O líder do CDS é muito inteligente. É um profissional daquilo. Ele tem de estar permanentemente a fazer prova de vida, mas sem incomodar o seu parceiro. Nisso tem sido sensato: diz aos seus ministros para ficarem quietos, para não se mexerem, para não se exporem a ataques. E com isto quer reequilibrar o jogo.
Há quem o acuse de não dar a cara pela parte difícil, pela austeridade.
É normal que seja assim. Só houve um caso em que não foi: com Sá Carneiro e Amaro da Costa. Mas aí Lucas Pires era oposição interna e Freitas do Amaral foi de uma fidelidade enorme com Sá Carneiro. O Durão Barroso rompeu com Marcelo Rebelo de Sousa no congresso de Tavira devido à aliança com o PP. E passado seis meses estava a fazer uma aliança com o CDS. A política é assim. Quem não gosta, não se meta lá dentro. Não é trágico: a política é cada vez menos importante. A política só é importante pelo que estragam, não pelo que fazem. Passos Coelho está na direção certa, a fazer aquilo que quem manda nele deve fazer.
Saiu do PSD em 2007, desiludido com um partido que dizia estar ideologicamente perdido. Continua perdido?
Fiz muita crítica ao PSD, porque o partido atacava o PS pela esquerda e o CDS pela direita. O partido precisava de uma viragem liberal e o PSD, em vez de combater por isso, lutava contra a deriva ideológica.
Ainda hoje não combate por isso.
Claro, porque Portugal é um país pobre. As vantagens da liberalização da economia fazem-se sentir a prazo, mas os inconvenientes sentem-se no imediato. As reformas são muito difíceis. Só é possível fazer reformas se se aguentar todo o ciclo das reformas. Senão ainda fica pior.
Mas o que é o PSD hoje? Liberal não é, social-democrata também não.
Não é coisa nenhuma, mas agora está com uma estratégia ideológica inevitável. O país está a virar à direita. A única forma de defender o Estado social é torná-lo razoável. Descobriu-se que, numa ilha grega com 300 habitantes, havia 900 cegos, quando só 30 o eram realmente. Não se pode dar tudo a todos. O dinheiro não chega. Se a Europa não fizer uma reforma para criar um Estado social razoável, corremos o risco de perder tudo. A guerra pode voltar à Europa.
A guerra?
Tenho dito isso. Antigamente riam--se, agora já olham para mim como um original. A Europa pode partir.
Por onde?
Na Primeira Guerra Mundial, um separatista sérvio matou o arquiduque para começar a guerra. Estamos numa situação propícia a derivas totalitárias, a populismos. Pode haver soluções autoritárias na Europa que nasçam do desespero das pessoas. Como hoje me dizia um amigo, voltámos a falar na Europa da diferença entre capitalismo financeiro e não financeiro. Isso era a linguagem dos anos 20 da extrema-direita! Se a extrema-esquerda subir para os 35%, a extrema-direita também vai subir, como resposta. Alberto João Jardim diz que o Governo criou o separatismo da Madeira. Quem quer ser independente que seja, o problema é dele. Não estou a dizer que quero, mas qual é a alternativa se eles quiserem? Estamos numa deriva. Estou muito mais preocupado com a Europa do que com Portugal.
Como é que sente o PS?
Em Portugal é muito difícil ser oposição. Se não gritarem, ninguém ouve. O PS também está à deriva. O Sócrates quis posicionar o PS para viabilizar o Estado social com muitas reformas, que ele depois não conseguiu levar até ao fim. Mas a maior parte dos militantes do PS são funcionários públicos. Estão contra as reformas. Quantas pessoas são eleitas? 130 a 150 mil. Entre governo, câmaras e outros. Criou-se um oligopólio político, onde há uma elite que decide quem nos vai governar. Só podemos escolher aqueles. Como é que eles evitam que entrem novos partidos no sistema? Financiando os que lá estão. As grandes empresas também tendem a ir buscar pessoas que estão próximas desses círculos políticos. Eu conheço 100 pessoas que são tão boas ou melhores do que todos os políticos que foram nomeados ou colocados nas empresas públicas ou privadas. E nenhum deles vai.
Tem colegas que ocupam cargos sociais em empresas (Proença de Carvalho como chairman da Zon, Pedro Rebelo de Sousa como administrador da Caixa). Nunca quis? Ou não recebe estes convites?
Nunca fiz parte de nenhuma empresa que não fossem clientes meus.
Mas porque há algum incómodo?
Não, não. Não sou útil, não tenho nenhum interesse. Uma pessoa como eu, que não faz parte de nenhum partido, é normal que seja menos recordada. Mas não tenho problema nenhum com isso.
Voltando ao PS. Foi mandatário do dr. António Costa. Ele é uma alternativa real à atual liderança?
Fui mandatário do dr. António Costa e nunca trabalhei um minuto para a câmara. Naquela conjuntura ele era o melhor candidato. Só não o apoiei na recandidatura porque ele se aliou a uma pessoa - chamada Sá Fernandes - que me tinha injuriado. E quando ele insistiu para que eu voltasse a ser mandatário dele, eu disse que não, que não queria, que não votaria nele. Para dizer o quê: o António Costa é claramente a grande figura do partido socialista. Mas tem, sem dúvida, o calendário contra ele. O António José Seguro vai - muito provavelmente - ganhar as eleições em 2015.
O PS ganha as próximas eleições?
É natural, a menos que até 2015 isto possa mudar. O António Costa vai inevitavelmente ter de se candidatar a Presidente da República. E como não terá na lista o Sá Fernandes, já posso votar nele.
António Costa? Já nas próximas eleições presidenciais?
Sim. Se o PS perder as legislativas, ele vai suceder ao José Seguro. E como os portugueses gostam de equilibrar os partidos, pode ser uma opção. Mas terá um calendário difícil.
Em 2010 dizia - e cito uma entrevista sua - que o Presidente da República teria uma ação mais visível e preponderante neste segundo mandato. Hoje está desiludido?
Eu nunca fui cavaquista. Durante os dez anos em que foi primeiro-ministro, sempre o apoiei porque achava que ele era a melhor opção para o país. Mas nunca me deu nada nem eu a ele. Depois, apoiei-o nos mandatos para Belém, mas, como já disse mil vezes, prefiro almoçar com Manuel Alegre, porque acabamos a falar das coisas que eu gosto. Não tanto a economia, mas a falarmos de história, de cultura, do que gostamos. Quanto a Cavaco Silva: tive esperança. Ele não obrigou o José Sócrates a fazer uma coligação como devia ter obrigado porque isso o poderia levar a perder eleições e porque se preocupava em ser reeleito.
Mas neste segundo mandato já não tem essa pressão.
Era o que eu pensava, que ele no segundo mandato fosse trabalhar para a história. E cometeu erros desnecessários e não encontrou a mão. Os presidentes da República também têm que ver com a qualidade das pessoas que o rodeiam. Talvez a qualidade do gabinete do dr. Cavaco Silva não seja tão grande como precisaria. Ele tem tentado fazer algo que ainda pode ser muito útil: ser um lender of last resort.
Uma alternativa se tudo o resto falhar.
Isso. Se isto correr mal com o PSD, ele poderá talvez fazer uma grande coligação, um governo de salvação nacional. E ele quer manter esse ferro ao lume. Hoje podemos dizer que ele está a falhar e daqui a um ano dizemos que foi genial.
Mas os apelos do Presidente têm tido pouco efeito. Quando diz que há limites para os sacrifícios pedidos aos portugueses, parece que é desmentido pouco tempo depois.
Já tenho dito que o professor Cavaco Silva perdeu várias ocasiões para estar calado. Mas pode ser que ele esteja a preparar-se para ser o salvador da civilização à beira do abismo. Se a solução se tornar muito complicada, o Presidente pode não ter outra alternativa senão formar um governo de técnicos.
Já não se imagina na política?
Podia haver uma altura - nos meus 30 anos - em que podia ter enveredado pela política. Mas vários fatores - uns privados, outros públicos - impediram isso. Mas - e respeitoCavaco Silva, apoiei-o sempre - a última coisa que me apetecia era aturá-lo. E ser político naqueles anos- nos meus 35 - era aturar o Cavaco Silva. Não tenho feitio para isso. Nunca tive essa vontade e não tenho nenhuma nostalgia. Mas, olhando para trás, eu tenho pessoas que foram presidentes da República, ministros, secretários de Estado e presidentes de câmara que, sem falsas modéstias, eram piores do que eu. Do meu grupo da Nova Esperança saíram dois primeiros-ministros, três líderes do PSD e um vice-primeiro-ministro, Nuno Morais Sarmento.
Por falar em vices: Miguel Relvas devia ter saído do Governo?
Não, seria um exagero. Podia ter usado esse pretexto para sair. O António Vitorino safou-se da política com um pretexto, uma porcaria qualquer de uma Sisa. Saiu e foi ganhar dinheiro, nunca mais voltou. Ainda bem, tem todo o direito. Continuou a ser um homem de influência sem precisar de ser um homem de política. Quem quer ganhar dinheiro até pode ser um homem de influência, mas não pode ser político em Portugal. O Miguel Relvas- não sei se ganhou dinheiro -, mas é muito difícil juntar as duas coisas. Houve uma altura em que, na política, era preciso ser bom orador. Agora é passar bem na televisão. E não ser rico. Quem quer ser político, tem de viver com muita parcimónia. O Miguel Relvas podia ter aproveitado a oportunidade para sair, mas ir-se embora ainda era mais ridículo do que fazer aquela licenciatura de que não precisava nada. Em Portugal todos querem ser doutores.
E a remodelação? É inevitável?
Os primeiros-ministros não gostam de fazer remodelações porque é um sinal de fraqueza. É uma filosofia muito machista. Acho que ele só fará remodelação se não tiver alternativa. Admito que faça uns rearranjos. Pode, sim, dividir os ministérios, sobretudo os que são muito grandes, substituir um ministério ou outro.
Aí perde-se a lógica inicial, que era de poupar no número de cargos no Estado.
Mas a lógica inicial era tonta, por isso quanto mais rápido acabarem com ela melhor.
E quais são esses ministérios?
Há uns que são ingeríveis como a Economia e a Agricultura. A solução diferente era criar cinco vice-primeiros-ministros. Um para a áreado território, outro para a economia, outro para a área social e outro para a área da representação externa.Depois haveria ministros abaixo, que podiam ir à União Europeia,podiam ir ao Parlamento. Mas nenhum primeiro-ministro gosta de ter vices porque perde o controlo. E como não sabem gerir têm de estar com as massas em cima da massa.
Se houver remodelação, acredita que podem ganhar peso outros nomes? Como António Borges?
O António Borges é um homem de influência, no bom sentido da palavra. E os homens de influência são mais úteis se não estiverem na máquina burocrática do Estado. Ele nunca foi ministro e podia ser, mas não sei se está disponível para isso. Tem muitos inimigos, porque ele é um homem brilhante. Portugal é um país difícil, sabe?
Mesmo sem dinheiro no Estado, a crise também levou os poderes públicos para novas áreas. Ainda podemos ter um banco nacionalizado? Sobretudo entre os que tiveram ajuda do Estado - BCP, BPI, Banif?
Fiz um artigo muito duro pelo projeto que estava a ser posto em prática - creio que por funcionários das Finanças e do Banco de Portugal - para nacionalizar os bancos. O que saiu não é isso - não há uma nacionalização -, e é bom que não seja. Estou convencido de que os bancos vão ser capazes de dar a volta. A economia produtiva seria muito pior se não houvesse bancos portugueses. Acho que o Estado não está nessa tendência.
Nem tem essa ambição?
Há um chamado comunismo burocrático, que são pessoas que trabalham no Estado mas que no fundo acham que as empresas privadas são como as casas de prostituição: é melhor tê-las e controlá-las do que não as ter. Mas não gostam delas. As estruturas burocráticas do Estado são contra as empresas.
No último fim de semana, Marcelo Rebelo de Sousa falava sobre a entrada de interesses angolanos nas empresas portuguesas. Vê algum problema?
Não vejo problema nenhum. Quando era jovem defendia que Portugal devia ser um país pluricontinental e que a capital devia ir para Angola. Era a única forma - racional - de não haver estas independências. Era impossível, o idealismo de um jovem, mas o Amílcar Cabral disse, pouco antes de morrer, que se o Presidente da República de Portugal fosse também da Guiné e de Cabo Verde ele não se importaria de ser português. Se a capital de Portugal fosse em Angola, não teriam passado pela guerra, hoje estariam a investir ainda mais em Portugal. Por isso não vejo problema nenhum.
Mas volta e meia aparecem reticências na opinião pública a este tipo de investimento.
É um misto de tudo, de chauvinismo contra os estrangeiros. Antigamente eram os espanhóis. Agora, os angolanos são os novos espanhóis. Há uma certa irritação histórica, uns laivos de racismo e também algum receio de que haja uma instrumentalização à luz das lutas políticas angolanas do que se passa em Portugal. Dizem: Em Angola há corrupção. Pois há e nos outros países do mundo? Nunca vi ninguém muito preocupado com os investimentos do Médio Oriente. A ideia de que não há corrupção no Sul da Europa também já teve melhores dias. Ainda bem que vêm investir em Portugal. Não tenho o mínimo problema com isso.
O país está em crise. E a sua sociedade, a PLMJ?
Estamos otimistas. Nós temos um conjunto de estratégias em curso. A primeira delas é a internacionalização. Queremos ser a sociedade de advogados líder da lusofonia, e os resultados são animadores. Segundo objetivo: a passagem de um testemunho a uma nova geração, que está a ser feita. Houve uma reestruturação e esse processo está em curso. Terceiro: adaptámos uma nova conjuntura e eu próprio vou lançar novos programas, novas soluções - na área da litigância - para o mercado português. E, claro, continuar a apoiar os nossos clientes: fomos considerados pelo mais relevante guia de análise de advogados como o escritório português do ano. Estamos otimistas, mas isto também não está a ser fácil. Fizemos algumas reestruturações, chegámos a acordo com alguns sócios para nos separarmos, o que foi feito com todo o respeito e amizade. Também temos uma força enorme na área da litigância, começámos mais cedo do que os nossos concorrentes. E estas apostas vão dar frutos. Nunca trabalhei tanto como este ano.
Não está a pensar reformar-se.
Não, não. Fiz um acordo com os meus sócios para ficar até aos setenta anos, vão aturar-me mais sete. Depois disso só farei arbitragem, mas continuarei a trabalhar até à morte porque gosto e porque faz bem à saúde.
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