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Caldeirão da Bolsa

Uma solução para o Sobre-endividamento de Portugal

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por Koreano » 23/8/2012 18:25

gorgol Escreveu:Parece que temos aqui uma questão de conceito. Para mim risco é abrangente e já comporta a credibilidade. Embora não me parece relevante a memória dos mercados. A Islandia poderá ser no futuro um exemplo de redução de risco e o que passou já lá vai.

Chega a uma altura em que já não há compradores, mesmo com remureração elevada, quando o risco põe em causa o valor nominal. Eu sei bem disso, visto que muitas por vezes não vendo, a crédito, nem a preço de tabela. Os bons clientes chegam a ter 50% de desconto.

Se a Grécia descobrir petróleo e disser eu agora sou a nova Noruega ou o Quatar, ganha credibilidade num instante.


É mesmo um conceito, o da credibilidade: estar apto a que nos concedam credito.E se vendes - especialmente se trabalhares com grande volume - sabes bem o que isso é. Nem todos os que te batem à porta merecem o teu crédito. Uns porque duvidas da sua capacidade em poder pagar, outros porque duvidas da sua vontade em querer pagar. E o historial de relacionamento que tens com eles pesa e bem na tua apreciação. E se um deles te meter a faca uma vez, provavelmente nunca mais lhes voltas a dar credito sem garantias palpaveis. E como cá na nossa terra não descobrimos petroleo e o ouro é pouco, para estares apto a que te concedam credito resta-te pouco mais que mostrar que podes pagar e que querespagar. Sem facadas.
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por gorgo » 23/8/2012 17:23

Koreano Escreveu:
gorgol Escreveu:
gorgol Escreveu:O risco é tudo seja no primário seja no secundário.


Discordo. No que toca a dívidas soberanas, a credibilidade é que é tudo. É o conjunto das avaliações técnica (económica), política, ético-moral e histórica.

O risco é (inversamente) decorrente da avaliação da credibilidade. Se não tens credibilidade, tens muito risco. Se tens muita credibilidade, tens pouco risco.

gorgol Escreveu:Não faltaram compradores se o risco descer fortemente ou ajustar a taxa de juro.


Também não faltarão compradores se o risco e as yields aumentarem. O objectivo não é encontrar compradores mas sim encontrar um perfil de comprador adequado.


Parece que temos aqui uma questão de conceito. Para mim risco é abrangente e já comporta a credibilidade. Embora não me parece relevante a memória dos mercados. A Islandia poderá ser no futuro um exemplo de redução de risco e o que passou já lá vai.

Chega a uma altura em que já não há compradores, mesmo com remureração elevada, quando o risco põe em causa o valor nominal. Eu sei bem disso, visto que muitas por vezes não vendo, a crédito, nem a preço de tabela. Os bons clientes chegam a ter 50% de desconto.

Se a Grécia descobrir petróleo e disser eu agora sou a nova Noruega ou o Quatar, ganha credibilidade num instante.
 
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por Koreano » 23/8/2012 16:40

gorgol Escreveu:Imaginemos que o BCE compra no secundário e devolve via Banco de portugal as maios valias. O resultado é o mesmo usando um intermediário. Até pode ser o fundo de pensões da SS ou outro agente nomeado para o efeito.


O resultado, em termos financeiros, é o mesmo. Em termos éticos, é completamente diferente: Se o BCE decide devolver mais valias é porque o conjunto dos países europeus decidiu dar-nos uma "abébia". Se somos nós a comprar e ficamos com as mais valias (que só aconteceram porque nós permitimos que o nosso produto desvalorizasse desde a sua venda) então estaremos nós a dar "baile" aos nossos credores. Quem tem o dinheiro (que não somos nós) até pode não se importar de vez em quando de dar uma abébia, mas não gosta de levar baile.

gorgol Escreveu:O risco é tudo seja no primário seja no secundário.


Discordo. No que toca a dívidas soberanas, a credibilidade é que é tudo. É o conjunto das avaliações técnica (económica), política, ético-moral e histórica.

O risco é (inversamente) decorrente da avaliação da credibilidade. Se não tens credibilidade, tens muito risco. Se tens muita credibilidade, tens pouco risco.

gorgol Escreveu:Não faltaram compradores se o risco descer fortemente ou ajustar a taxa de juro.


Também não faltarão compradores se o risco e as yields aumentarem. O objectivo não é encontrar compradores mas sim encontrar um perfil de comprador adequado.
A dívida soberana deve voltar a ser um negócio de estacionamento de dinheiro, com juros mínimos. Se tal não acontecer, passa a investimento especulativo, que é o que é agora. Uns especulam que as nações vão cumprir (que é o meu caso no que toca a Portugal, e o de bastantes foristas assíduos), mas exigem um valor elevado para investir. Outros especulam que as nações não vão cumprir e investem (exclusivamente) em CDS, aumentando ainda mais pressão e a probabilidade de default de um Estado, o que é do meu ponto de vista inadmissível e justificativo de intervenções do BCE no mercado secundário.
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por gorgo » 23/8/2012 15:45

Koreano Escreveu:Não me parece que o facto de haver credores internos ou externos disponíveis a dar liquidez seja aplicável neste caso, dado que é a falta deles - por diversos motivos - que provoca a escalada das yields.


O BCE a operar, operaria no mercado secundário.
Em primeiro lugar seria muito diferente ser o BCE a comprar em comparação com a compra do Estado: O BCE não estaria a lucrar com uma incompetencia própria, mas de terceiros. A compra, a desconto, por parte do Estado, será sempre vista com a visão de alguém que vendeu um produto para em seguida o desvalorizar e o recomprar - não é ético e a longo prazo o mercado mostra-te a porta de saída.
Em segundo lugar, uma compra em larga escala do BCE, seja em mercado secundário ou primário (novas colocações), não é nenhum haircut. É apenas um aumentar massivo da procura, que resulta numa subida do preço das OT pelo desiquilíbrio dentre oferta e procura (deixo até de lado as implicações políticas de percepção de risco).


A minha análise foi sempre sobre o mercado secundário.
Não estamos a falar duma estratégia de vender, de seguida desvalorizar e depois aproveitar. Apenas em avaliar o risco de forma diferente de emissões anteriores.

Imaginemos que o BCE compra no secundário e devolve via Banco de portugal as maios valias. O resultado é o mesmo usando um intermediário. Até pode ser o fundo de pensões da SS ou outro agente nomeado para o efeito.

Será que os mercados são éticos ou morais ou só procuram diferenciais de avaliação de risco?

O risco é tudo seja no primário seja no secundário.

Não faltaram compradores se o risco descer fortemente ou ajustar a taxa de juro.
 
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por migluso » 23/8/2012 15:26

gorgol Escreveu:
migluso Escreveu:
Koreano Escreveu:Uma recompra de dívida soberana em grandes quantidades - com ou sem o dinheiro da troika - iria significar, neste momento, uma descredibilização adicional de Portugal perante os seus credores e inviabilizar o regresso ao funcionamento do mercado primário a preços comportáveis.


Tendo a concordar.


Tendo a discordar:

Significa avaliação de menor risco pelas entidades públicas sobre a sua dívida;

Significa que há recursos ou credores internos ou externos disponiveis a dar liquidez às entidades públicas.

Quando é o BCE a fazê-lo, temos também um crédito dado a essa dívida e esse país, mesmo que com condições.

Se esta prática, em larga escala, resulta numa redução da dívida total, embora seja um hair cut não oficial, logo é uma redução do risco e obtenção de mais valias. Basta ver o que alguns bancos portugueses fizeram.

Se o mercado secundário o permite aos agentes privados, não me parece errado, também, ser executado por agentes públicos.


Esta é uma questão que levanta muitas dúvidas.
Uma delas é o próprio estatuto do credor.

Como os oficiais são os "primeiros" seniores, significa que a "raia miúda" é que leva com as perdas todas...

Nem por acaso, hoje de manhã tinha lido este artigo, que se enquadra perfeitamente nesta troca de pontos de vista.

...the ongoing process of rescue operations of the public rescue funds and the ECB’s contribution to the rescue operations that are reflected in the Target2 imbalances themselves appear to contribute to the continued high interest rates of countries in crisis.


..."the concerns of private investors about seniority will be addressed"


http://www.voxeu.org/article/what-expla ... tes-europe

Quem teve atento ao mercado, reparou que aquela frase do super Mario Draghi teve impacto...
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por Koreano » 23/8/2012 14:42

gorgol Escreveu:Tendo a discordar:

Significa avaliação de menor risco pelas entidades públicas sobre a sua dívida;

Significa que há recursos ou credores internos ou externos disponiveis a dar liquidez às entidades públicas.


Não me parece que o facto de haver credores internos ou externos disponíveis a dar liquidez seja aplicável neste caso, dado que é a falta deles - por diversos motivos - que provoca a escalada das yields.

gorgol Escreveu:Quando é o BCE a fazê-lo, temos também um crédito dado a essa dívida e esse país, mesmo que com condições.

Se esta prática, em larga escala, resulta numa redução da dívida total, embora seja um hair cut não oficial, logo é uma redução do risco e obtenção de mais valias. Basta ver o que alguns bancos portugueses fizeram.

Se o mercado secundário o permite aos agentes privados, não me parece errado, também, ser executado por agentes públicos.


O BCE a operar, operaria no mercado secundário.
Em primeiro lugar seria muito diferente ser o BCE a comprar em comparação com a compra do Estado: O BCE não estaria a lucrar com uma incompetencia própria, mas de terceiros. A compra, a desconto, por parte do Estado, será sempre vista com a visão de alguém que vendeu um produto para em seguida o desvalorizar e o recomprar - não é ético e a longo prazo o mercado mostra-te a porta de saída.
Em segundo lugar, uma compra em larga escala do BCE, seja em mercado secundário ou primário (novas colocações), não é nenhum haircut. É apenas um aumentar massivo da procura, que resulta numa subida do preço das OT pelo desiquilíbrio dentre oferta e procura (deixo até de lado as implicações políticas de percepção de risco).
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por Automech » 23/8/2012 13:36

O "or otherwise" pode levar a várias interpretações. Compra compulsiva, por exemplo, caso a taxa de juro de novas emissões sejam melhores do que as antigas ?
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por mais_um » 23/8/2012 13:05

Em relação à questão de recompra de OT antes da maturidade por parte do Estado, estive a ler o prospecto da emissão de OT2013 e é omisso. Na emissão de 2014 já não é omisso:



The Republic shall have the right at anytime to purchase OTs in the open market or otherwise. Any OTs purchased as aforessaid will be cancelled forthwith and may not be reissued or sold.

https://www.bigonline.pt/pdf/bonds/PTOTE1OE0019.pdf


Por isso não me parece que seja uma supresa para os mercados, já que essa possibilidade está prevista desde o inicio da emissão.

O Estado tembém pode fazer leilões de recompra (os ultimos foram no 1º trimestre de 2011), embora neste caso seja só para os operadores do mercado primário.
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por K. » 23/8/2012 12:48

Não é necessário o dinheiro da Troika pois o IGCP nunca deixou as emissões de curto prazo e ainda há algum dinheiro das privatizações que tem mesmo de ser gasto em amortização da dívida.
 
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por gorgo » 23/8/2012 12:42

migluso Escreveu:
Koreano Escreveu:Uma recompra de dívida soberana em grandes quantidades - com ou sem o dinheiro da troika - iria significar, neste momento, uma descredibilização adicional de Portugal perante os seus credores e inviabilizar o regresso ao funcionamento do mercado primário a preços comportáveis.


Tendo a concordar.


Tendo a discordar:

Significa avaliação de menor risco pelas entidades públicas sobre a sua dívida;

Significa que há recursos ou credores internos ou externos disponiveis a dar liquidez às entidades públicas.

Quando é o BCE a fazê-lo, temos também um crédito dado a essa dívida e esse país, mesmo que com condições.

Se esta prática, em larga escala, resulta numa redução da dívida total, embora seja um hair cut não oficial, logo é uma redução do risco e obtenção de mais valias. Basta ver o que alguns bancos portugueses fizeram.

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por migluso » 23/8/2012 12:18

Koreano Escreveu:Uma recompra de dívida soberana em grandes quantidades - com ou sem o dinheiro da troika - iria significar, neste momento, uma descredibilização adicional de Portugal perante os seus credores e inviabilizar o regresso ao funcionamento do mercado primário a preços comportáveis.


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por Koreano » 23/8/2012 12:05

migluso Escreveu:Se a troika estiver a disponibilizar cash em excesso para Portugal efectuar essas operações de recompra semi-secretas, não deixa de facto de ser uma boa estratégia.


O Estado faz obviamente (pequenas) recompras de OTs e basta analizar os relatórios mensais do IGCP para verificar que o saldo vivo de OTs diminui mensalmente e mesmo quando há lugar a amortizações na maturidade, as amortizações são superiores à emissão vencida.

Estas (pequenas) recompras são vistas pelos mercados com normalidade quando os prémios de risco estão nos patamares esperados para a dívida emitida (no fundo, estas recompras são "apenas" uma forma adicional de gestão adaptativa da dívida soberana).
Quando os prémios de risco estão em patamares bem acima dos esperados inicialmente aquando das emissões e os montantes recomprados são significavos, o emitente corre o risco de perda de credibilidade perante o mercado ao levantar a suspeita de que se está a aproveitar da sua própria incompetencia em gerir a dívida para - lesando os seus credores e o funcionamento do mercado - retirar benefícios.
Uma recompra de dívida soberana em grandes quantidades - com ou sem o dinheiro da troika - iria significar, neste momento, uma descredibilização adicional de Portugal perante os seus credores e inviabilizar o regresso ao funcionamento do mercado primário a preços comportáveis.
Os custos de emissão de dívida soberana são históricamente mais baixos devido ao facto dessa mesma dívida proporcionar - comparativamente - um acréscimo de segurança em relação às restantes. As entidades com elevado volume financeiro e estratégia conservadora de investimento, com necessidades de "estacionamento seguro" do seu capital - no fundo, as entidades que tornam possível a emissão da dívida soberana - não estão minimamente interessadas em expor-se ao risco e, ao redireccionarem os seus investimentos para outras paragens (por exemplo, para a Alemanha, onde neste momento até pagam para lá estacionar o dinheiro), colocam-nos sem acesso ao mercado.

migluso Escreveu:Quem é o testa de ferro? A CGD? E fá-lo através de off shores ou às claras?
O IGCP pode efectuar compras no mercado secundário?


Presumo que as recompras de dívida "oficiais" do Estado sejam feitas pelo IGCP mas não tenho conhecimento aprofundado.

O que eu gostava de saber era quais as quantidades de dívida adquiridas pela Seg. Social e outros organismos estatais deficitários semelhantes. Estas recompras não são abatidas ao saldo vivo da dívida mas na práctica irão gerar poupança/ganho através da diminuição das transferencias previstas em OE para cobertura do seu defice. Obviamente, para serem feitas, alguém "lá de cima" tem de garantir - aqui sim, com certeza absoluta - que não haverão cortes de cabelo nem reestruturações temporais. Alguem sabe onde é possivel verificar a dinâmica das carteiras de investimento em dívida soberana deste tipo de entidades?
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por migluso » 23/8/2012 10:33

mais_um Escreveu:
migluso Escreveu:O IGCP pode efectuar compras no mercado secundário?


Dos prospectos das OT que li, essa possibilidade está contemplada, não sei se será o IGCP ou outro organismo publico, mas o Estado tem essa possibilidade contemplada (pelo menos nas emissões que vi)


Obrigado pela informação. :wink:
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por mais_um » 23/8/2012 9:47

migluso Escreveu:O IGCP pode efectuar compras no mercado secundário?


Dos prospectos das OT que li, essa possibilidade está contemplada, não sei se será o IGCP ou outro organismo publico, mas o Estado tem essa possibilidade contemplada (pelo menos nas emissões que vi)
"Só duas coisas são infinitas, o universo e a estupidez humana. Mas no que respeita ao universo ainda não tenho a certeza" Einstein
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por migluso » 23/8/2012 1:09

K. Escreveu:Não posso ter a certeza, mas penso que parte dos financiamentos de curto prazo (penso que estão a falar dos bilhetes) emitidos dentro do programada Troika foi utilizado para recompra da dívida nos prazos até 5 anos, começando pelas maturidades mais curtas. É a minha interpretação do "conceito" do Ministro. É o que eu teria feito se estivesse nas finanças e no IGCP e as pessoas que lá estão têm acesso a muito mais informação do que eu.


Eu tinha ideia que as tranches do financiamento da troika iriam sendo disponibilizadas periodicamente, e de acordo com as nossas necessidade para financiarmos despesas correntes e amortizarmos dívida que se vence até à data da próxima tranche.

Se a troika estiver a disponibilizar cash em excesso para Portugal efectuar essas operações de recompra semi-secretas, não deixa de facto de ser uma boa estratégia.

Quem é o testa de ferro? A CGD? E fá-lo através de off shores ou às claras?
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por K. » 23/8/2012 0:57

Não posso ter a certeza, mas penso que parte dos financiamentos de curto prazo (penso que estão a falar dos bilhetes) emitidos dentro do programada Troika foi utilizado para recompra da dívida nos prazos até 5 anos, começando pelas maturidades mais curtas. É a minha interpretação do "conceito" do Ministro. É o que eu teria feito se estivesse nas finanças e no IGCP e as pessoas que lá estão têm acesso a muito mais informação do que eu.

Especulo até que isto tenha sido combinado com a Troika, visto ser uma das lições que ficou do tubo de ensaio da Grécia: se a recompra na Grécia correu mal por ter aproximado as maturidades, na Irlanda e em Portugal terá sido natural programar uma recompra de forma a criar o efeito contrário, pois é esta a melhor forma de afastar o receio de reestruturação dos mercados. A evolução das curvas da Irlanda e de Portugal são impressionantemente parecidas, após spikes nas maturidades mais curtas em que a curva fica completamente invertida, inicia-se uma normalização cerca de 10 meses depois dos pedidos de ajuda.

Em resumo, terá sido assim na Irlanda e em Portugal: esperou-se pelo momento em que a reestruturação era dada como certa para começar a recomprar as obrigações com maior incidência nas maturidades mais curtas. O efeito na redução nominal da dívida pode ser marginal, mas o efeito em termos de imagem, de escalonamento da dívida e de valorização dos activos dos bancos, são tudo factores a contribuirem para o êxito da missão da Troika. Depois do fracasso na Grécia, o FMI tem de limpar a imagem de alguma forma, e no caso de Portugal qualquer coisa vale se for possível evitar a reestruturação.
 
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por migluso » 23/8/2012 0:48

MoneyGPS Escreveu:Concordo que o ideal era fazer esta operação num cenário em que existisse um défice sob controle, mas o problema é que estamos a viver uma espiral negativa que tem que ser parada o mais cedo possível.

Os juros da dívida contribuem para o défice e o esforço para cobrar mais impostos para reduzir o défice está a matar milhares de empresas o que diminui as receitas de IRC e de IVA do estado (não só das empresas que fecham, mas também das suas fornecedoras) e aumenta as despesas do estado com subsídios do desemprego.

É urgente restruturar a dívida seja de que forma for. A minha solução visava apenas dar uma aparência de uma restruturação pacífica em que os credores não perdiam nada (face ao mark to market e não face ao investimento obviamente).


MoneyGPS,

Eu percebo a tua ideia.
Mas não concordo quando tu dizes que os credores não perdiam.

Não podemos comparar um credor a um accionista (tu fazes essa comparação quando referes que a operação sugerida seria tipo uma OPA). Têm um "vínculo" diferente com a empresa/Estado.

Outra coisa diferente é o BCE aceitar o reembolso das OT que detém a um valor igual ao da compra. Neste caso, o problema fundamental é de "moral hazard", e corre-se o risco de no futuro mais países se "desleixarem" por saberem que o BCE em último recurso intervém.

Eu não fui confirmar, mas tenho 99,99% de certeza que nunca algo do género se passou nos EUA, entre Estados e a FED.

A solução, do meu ponto de vista, pode passar por compras de dívida de prazos inferiores a 2 anos por parte do BCE, que se prolongarão eventualmente por 10 anos. A taxa média de financiamento não deve ser superior à taxa média de crescimento desse período.

É verdade que os juros terão um peso maior no futuro, mas fiz umas contas muito rápidas (espero não me ter enganado) e se nos próximos 10 anos:
- os défices orçamentais não forem superiores a 3% (isto obriga a saldo primários positivos);
- a taxa média de crescimento (real) anual for de 2,5%;
- a taxa média de inflação for de 3%

e partindo de um rácio máximo de 120% dívida/pib no ano zero, no espaço de 10 anos o rácio dívida/pib estará próximo dos 80%.

Ou seja, do meu ponto de vista é possível inverter o rumo sem uma reestruturação da dívida.

Se devido à conjuntura externa não conseguirmos atingir valores próximos daqueles, aí sim, devemos optar por uma reestruturação.
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por Pata-Hari » 23/8/2012 0:03

Krupper, por acaso nesta reparei e por isso intervi. E reparei porque conheço a qualidade do moneygps e sigo os posts dele sempre com atenção. Se falhou noutros momentos e com outros participantes, foi pena, idealmente não deveria ter falhado. Mas que foi flagrante, foi.
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por Krupper » 22/8/2012 15:35

Pata-Hari Escreveu:A vossa implicação e bullying é portanto com o termo "certeza absoluta"? penso que os cálculos foram explicados. É que ainda por cima a explicação está correctissima e a base do raciocinio está correctissima mesmo que a expressão usada possa não ter sido a perfeita. Mudar para "a descontra" porquê, sniper?

Por favor lembrem-se que o facto de alguns participantes não serem regulares não significa que não saibam exactamente e perfeitamente do que estão a falar e que devam ser recebidos com sete pedras na mão como se, por falta de número de posts, sejam menos bons que outros, saibam menos e não tenham muito a ensinar a quem coloca muitos posts.

Aliás, mesmo os participantes que nada sabem de mercados têm a ensinar, quanto mais os que sabem muitíssimo e infinitamente mais do que os participantes que são amadores.


Mas o MoneyGP tem direito a tratamento especial? Já vi pessoas serem mais enxovalhadas do que o MoneyGP e não te vi tão indignada quanto ao tratamento perante esses utilizadores. Não quero com isto dizer que se deva tratar mal o utilizador em questão, o motivo do meu espanto é só ver tanta rapidez na defesa deste utilizador especifico e o "esquecimento" de outros que merecem o mesmo respeito.

Quanto ao teor da explicação, é óbvio que o termo certeza absoluta está errado e não deve ser usado por ninguém num contexto de mercados financeiros. Ainda para mais quando aparentemente é uma pessoa com experiência, nunca deveria usar esse tipo de termos que qualquer pessoa minimamente experiente sabe não poder ser utilizado.
 
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Re: dúvida

por mais_um » 22/8/2012 15:21

gorgol Escreveu:
Oberon__ Escreveu:A minha primeira ideia passava por usar os financiamentos de curto prazo para intervir de uma forma reduzida no mercado secundário. Imagina dentro do plano de financiamento de curto prazo, usar 1000 milhões para esse fim. Não seria nada que resolvesse directamente a situação do país, mas ajudava. Assim, como nenhuma reforma vai milagrosamente salvar o país, mas ajuda. Mas mencionaste o ouro (que, sinceramente, nem sequer me tinha passado pela cabeça). Porque não ter vendido o ouro em Janeiro de 2012, comprado dívida portuguesa, e voltando a comprar ouro daí a 3 ou 5 anos? Daria origem ou não a uma mais-valia?


Os financiamentos de curto prazo pode ser uma solução, mas estás a colocar mais stress na rotação da dívida. Como referido pelo K., a solução passa por aumentar as maturidades.

O ouro não pode ser vendido, visto haver um acordo entre bancos centrais da UE, para vendas programadas e valores de reserva para o BCE.

As privatizações, algum restante dos 6.000 milhões do fundo de pensões da banca e sobras do fundo de recapitalização dos bancos, podem ser solução, todavia as chamadas de liquidez das entidades públicas têm sido muitas, tendo aumentado a dívida total mais do que a soma do défice desse ano.


Quando os fundos de pensões foram integrados na segurança social, presumo que a divida publica detida por estes, tenha entrado ao valor de mercado e não ao valor nominal, se assim foi deu uma pequena ajuda.
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Re: dúvida

por gorgo » 22/8/2012 15:09

Oberon__ Escreveu:A minha primeira ideia passava por usar os financiamentos de curto prazo para intervir de uma forma reduzida no mercado secundário. Imagina dentro do plano de financiamento de curto prazo, usar 1000 milhões para esse fim. Não seria nada que resolvesse directamente a situação do país, mas ajudava. Assim, como nenhuma reforma vai milagrosamente salvar o país, mas ajuda. Mas mencionaste o ouro (que, sinceramente, nem sequer me tinha passado pela cabeça). Porque não ter vendido o ouro em Janeiro de 2012, comprado dívida portuguesa, e voltando a comprar ouro daí a 3 ou 5 anos? Daria origem ou não a uma mais-valia?


Os financiamentos de curto prazo pode ser uma solução, mas estás a colocar mais stress na rotação da dívida. Como referido pelo K., a solução passa por aumentar as maturidades.

O ouro não pode ser vendido, visto haver um acordo entre bancos centrais da UE, para vendas programadas e valores de reserva para o BCE.

As privatizações, algum restante dos 6.000 milhões do fundo de pensões da banca e sobras do fundo de recapitalização dos bancos, podem ser solução, todavia as chamadas de liquidez das entidades públicas têm sido muitas, tendo aumentado a dívida total mais do que a soma do défice desse ano.
 
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por gorgo » 22/8/2012 14:49

K. Escreveu:gorgol, fiz as contas a 40 mil do BCE e a 10 mil de recompras pelo IGCP. No entanto estive a tentar ver e parece que o numero do BCE é de facto inferior, e deve andar perto dos 30 mil.

Se o IGCP executou ou não o programa, não o sabemos. O dinheiro do resgate tinha restrições neste ponto, mas os bilhetes do tesouro e o dinheiro das privatizações pode ser utilizado para este efeito.


Espero que estejas certo! Claro que a recompra tem de ser feita em segredo. Não confimo nem desminto!
 
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por K. » 22/8/2012 13:45

gorgol, fiz as contas a 40 mil do BCE e a 10 mil de recompras pelo IGCP. No entanto estive a tentar ver e parece que o numero do BCE é de facto inferior, e deve andar perto dos 30 mil.

Se o IGCP executou ou não o programa, não o sabemos. O dinheiro do resgate tinha restrições neste ponto, mas os bilhetes do tesouro e o dinheiro das privatizações pode ser utilizado para este efeito.

O ministro das finanças nunca foi claro sobre a estratégia de reorganização da dívida. Por um lado, os jornalistas em Portugal parecem não estar interessados no assunto. Por outro lado, é conveniente não denunciar totalmente a estratégia aos mercados.

As poucas palavras do ministro ficaram nas entrevistas que foi dando, que, apesar de lacónicas, indiciam uma estratégia de recompra de prazos curtos:





Asked whether Portugal might take advantage of low bond prices to buy back some government debt to improve its overall fiscal profile, he said the government is looking at options.

'What we are doing is this very slow transition to longer maturities in the markets. We are working on a concept of asset and liability management that may involve more reductions, but since we don't have strategy worked out now, I can't give you any specific answer,' Gaspar said.


A mensagem está lá: "this very slow transition to longer maturities in the markets".


O artigo original é este:

http://www.xe.com/news/2012-03-19%2019: ... 551569.htm
 
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por mais_um » 22/8/2012 10:36

AutoMech Escreveu:mais_um, não percebi o teu comentário. A situação que descreves era a que existia até ter havido a crise das dívidas públicas, ou seja divida soberana com taxas inferiores às taxas de depósitos dos bancos (exclui-se aqui, obviamente, os depósitos promocionais).

Edit: esquece, acabei por postar ao mesmo tempo que a Pata e ficou uma mensagem com teor semelhante.


Na practica essa situação não existia no mercado em geral, a divida publica só estava disponivel para grandes clientes. Neste momento está disponivel para todos, para o pequeno cliente também e é nessa perspectiva que fiz o meu comentário.
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por mais_um » 22/8/2012 10:32

Pata-Hari Escreveu:Quanto às OTs portuguesas, ainda bem que assim é. Sempre foi a "normalidade" das coisas: os estados "sempre" tiveram menos riscos que as suas instituições financeiras e portanto pagaram menos que os bancos.


Certo, isso é assim numa situação normal, o que não é o caso. Para já a emissão em causa está fora do chapeu de chuva da troika (pelo menos formalmente), ainda é suposto irmos ao mercado para pagar essa emissão.

Pata-Hari Escreveu: A anormalidade da situação foi ter sucedido o inverso por uma quantidade de razões (nomeadamente os montantes disponibilizados para a banca e para a sua recapitalização que geraram temporariamente maior confiança na banca que no estado).


Nao foi o que se passou no nosso caso, os bancos estão a ser recapitalizados agora, quando as nossas yields estão a baixar e não quando as nossas yields estiveram mais altas (inicio deste ano).

Não sei quem esta á comprar as OT2013 ao valor que estão a comprar actualmente, mas parece-me pouco provavel que sejam particulares.

Eventualmente os bancos, dependendo da taxa a que estão a financiar-se junto do BCE, possam estar a ganhar dinheiro com isso.
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