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Caldeirão da Bolsa

Artigos de Opinião do dia ...

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por Elias » 29/8/2012 1:03

O Estado que não emagrece

O Governo quer convencer os portugueses de que é quase a mesma coisa cortar dois subsídios aos funcionários públicos ou um subsídio a toda a gente – público e privado. Infelizmente, não é.

Se, num caso, o Estado poupa nas despesas e corta o que gasta com um sector grande demais e caro demais (custou 19,3 mil milhões de euros só em salários no ano passado); no outro caso, aumenta as receitas e faz o que sempre soube fazer quando falta dinheiro: sobe os impostos.

Esta diferença entre cortar a despesa e aumentar a receita não é apenas a diferença entre uma medida justa e necessária para a sobrevivência do Estado e outra injusta e fatal para o emagrecimento do sector público. É, acima de tudo, um erro político e uma violação do acordo com a troika.

Portugal chegou à situação em que está porque o Estado gasta demais. Distribui cargos na função pública sempre que muda o partido no poder, aumenta salários cada vez que há eleições e recusa-se a avançar com despedimentos com medo de perder votos.

O Estado é o único sector da economia que não dispensa trabalhadores quando está em dificuldades financeiras. É o único patrão que não exige mais trabalho quando é preciso produzir mais. É o único empregador que não corta salários quando se acaba o dinheiro.

O Estado engordou enquanto as empresas emagreceram e recusa-se a fazer dieta quando o país praticamente passa fome – por exemplo, na Madeira, o número de funcionários públicos deveria cair 2% ao longo deste ano e até agora caiu 0,7%. Enquanto os portugueses poupam, o Estado manteve o número de municípios, recuou no corte de freguesias, hesitou na mobilidade dos funcionários públicos, adiou a redução das fundações, amedrontou-se na renegociação das rendas energéticas e das PPP e prepara-se agora para abandonar a diminuição de salários com a desculpa do Tribunal Constitucional. Nas medidas da troika para poupar, o Estado vacilou; nas medidas para cobrar, o Estado superou-se. Substituir o corte dos subsídios da função pública (despesa) por uma sobretaxa para todos (receita) é fazer o que sempre foi feito: os seus impostos pagam os excessos dos governos.

NA COREIA DO NORTE, Kim Jong-Il escolheu o seu sucessor, o filho Kim Jong-Un; em Cuba, Fidel Castro escolheu o seu sucessor, o irmão Raul Castro; na Síria, Hafez al-Assad escolheu o seu sucessor, o herdeiro Bashar al-Assad; e no Bloco de Esquerda Francisco Louçã também escolheu os seus sucessores, os amigos João Semedo e Catarina Martins, além de um novo modelo de liderança bicéfalo.

É claro que nada disto tem qualquer resquício ditatorial. Todos eles tiveram de passar por rigorosas e exigentes eleições típicas de uma livre democracia de extrema-esquerda: tal como Kim Jong-Un foi eleito pela Assembleia Popular Suprema, Raul Castro pela Assembleia Nacional de Cuba e Bashar al-Assad pela Assembleia do Povo, também João Semedo e Catarina Martins terão de ser aprovados pela convenção do Bloco de Esquerda.

Mas, se houvesse qualquer dúvida sobre o sentido de voto dos militantes, Francisco Louçã fez logo questão de esclarecer que esta sua sugestão teve uma “enorme simpatia dentro do núcleo da direcção do Bloco” e que “só há razões para presumir que será muito bem aceite” pela convenção do partido. Perante isto, no caso português se calhar não valeria a pena sequer insistir com a votação formal: Louçã já tomou a decisão, o partido só precisa de obedecer.

O DIÁRIO DE NOTÍCIAS cometeu a ousadia de perguntar ao gabinete de Pedro Passos Coelho se o senhor primeiro-ministro se dera ao cuidado de pedir factura do aluguer da sua casa no Algarve. Visto que o aluguer sazonal de habitações de Verão é uma das formas habituais de fuga ao fisco, o DN achou a pergunta pertinente. Mas Pedro Passos Coelho considerou-a uma evidente violação do “foro privado”, porque “não estão em causa dinheiros públicos”.

Da próxima vez que um inspector das finanças lhe perguntar se negociou as obras de casa ou o arranjo do carro sem factura e sem IVA, já sabe o que deve responder.

Revista Sábado | quinta-feira, 23 Agosto 2012

http://www.mynetpress.com/pdf/2012/agos ... 2da305.pdf
 
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por Elias » 13/8/2012 15:53

A crise é fundamentalmente cultural
25 Julho 2012 | 23:30
Nuno Garoupa

O diagnóstico está feito há muitos anos e repete-se intensamente na imprensa internacional cada vez que falam de Portugal. Nas condições económicas em que o país se encontra e no contexto da actual zona euro (que pode ser muito injusto, pouco solidário e excessivamente neoliberal, mas é o que há), Portugal não tem nenhum potencial de crescimento. Está absolutamente condenado ao empobrecimento relativo e à estagnação económica e social, com uma emigração massiva de capital humano e capital físico.

Para que Portugal possa crescer e ter algum futuro com esperança ou faz reformas profundíssimas, sem precedentes na história recente, ou sai da zona euro. Infelizmente o meio termo não é uma solução viável, mas antes um compasso de espera para mais pobreza.

Mas as elites portuguesas insistem no meio termo. Basta ler as recente entrevistas de Rui Vilar, António Borges, do ministro da Economia, do presidente do Tribunal Constitucional ou mesmo do Presidente da República para perceber que todos gostam muito de ficção. À direita, uma mão cheia de nada supostamente já resolveu tudo (de um governo que não tocou nem nas PPP nem nas rendas na energia e noutros sectores, não reformou nem a administração local, nem a justiça, nem as universidades, nem o Estado, não fez nenhuma reforma fiscal). Falam mesmo já de um caso de sucesso. Mau sinal pois sempre que Portugal foi um caso de sucesso, de Cavaco a Sócrates, sabemos agora, era uma mentira pegada. À esquerda, com medo de assumir o inevitável, espera-se por mudanças na zona euro. Ora isso é simplesmente irresponsável porque não vão acontecer nem à velocidade nem com a profundidade que Portugal precisaria (ao contrário do que diz o ex-presidente Soares, mandar a senhora Merkel de volta para a Alemanha de Leste não resolve nada; mostra apenas uma ignorância absoluta e confrangedora sobre a realidade política alemã).

Quando um país está condenado ao fracasso económico e as suas elites bem como a sua opinião pública recusam entender onde estão metidas, o problema é fundamentalmente cultural e muito pouco económico. Podem até proteger os interesses instalados bem como os direitos adquiridos dos lóbis, dos sindicatos, de todos aqueles que conseguem condicionar e influenciar as políticas públicas. Podem continuar a governar os pensionistas das políticas que, sendo os principais responsáveis do desastre (como mínimo, por uma profunda falta de visão), acham que mudando o acessório, conseguem manter o fundamental. Mas o empobrecimento não espera. E falar em crescimento para 2015 ou 2016 é atirar areia para os olhos. Portugal precisa de crescer a 3-4% para superar os seus problemas estruturais e criar emprego. Se insistem no meio termo, esse crescimento económico, digam o que digam os muitos economistas e especialistas ao serviço do regime (na generalidade, os mesmos que andaram anos a dizer que o euro era excelente para a economia portuguesa), não vai acontecer nos próximos dez anos.
 
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por alexandre7ias » 3/7/2012 3:59

Num colóquio anual organizado em Atenas pelo jornal britânico The Economist, que nunca escondeu as suas dúvidas sobre a manutenção da Grécia na Zona Euro, Megan Greene, diretora de estudos europeus da empresa do analista Nouriel Roubini, afirmou que a Grécia deverá ser a primeira a abandonar a moeda única.

"Estimamos que há uma probabilidade de 85 por cento de ver a Grécia e Portugal saírem da Zona Euro. Na minha opinião, a Grécia vai ser o primeiro país a sair e isso vai acontecer no início do próximo ano", afirmou Greene.

Jörg Asmussen, membro do Banco Central Europeu (BCE), falou na abertura do debate em representação dos credores internacionais de Atenas - BCE, Comissão Europeia (CE) e Fundo Monetário Internacional (FMI).

O responsável foi perentório: os gregos devem aceitar e acelerar os sacrifícios e as reformas estruturais se quiserem sair da crise e garantir a pertença à Zona Euro.

E, para isso, devem proceder à "desvalorização interna", ou seja, baixar fortemente os custos de produção do país, sobretudo os salários, para poderem entrar num caminho de competitividade e de crescimento, sem desvalorizar a moeda.

Convidado de honra para as conferências que hoje tiveram lugar em Atenas, Alexis Tsipras, líder da oposição e dirigente da esquerda radical grega, o Syriza, que se tornou o segundo partido mais votado do país depois das eleições legislativas de 17 de junho, foi um dos oradores.

Para Tsipras, o esquema de "desvalorização interna" preconizado pelos credores internacionais da Grécia é "doloroso para o povo grego" e "ineficaz", uma vez que conduz a um "desastre humanitário".

"A austeridade", disse, vai "agravar a situação" e "conduzir o país à saída da Zona Euro, que é a única via institucional possível para um Estado no interior da moeda única", acrescentou.

Referindo uma reforma fiscal e a luta contra a corrupção, Tsipras considera que estas alterações "necessárias" não podem ser realizadas de maneira duradoura num ambiente de "afundamento da economia". Entre as medidas que defende, o responsável do Syriza aponta "uma moratória" sobre o pagamento da dívida helénica.

Megan Greene, por seu lado, não acredita que "este governo tenha mais hipóteses do que o anterior de adotar reformas" e afirma que a Grécia "já não pode suportar mais austeridade".

A economista alerta ainda para que, "de qualquer forma, se conseguirem nunca vai permitir uma moratória sobre o pagamento da dívida e a Grécia vai ser obrigada a entrar em incumprimento e, por isso, a sair da Zona Euro", sentenciou a responsável.
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por mfsr1980 » 2/7/2012 16:42

Portugal afunda-se, a Europa divide-se e a Esquerda assiste, atónita.


A Esquerda assiste, atónita?
Foram os responsáveis pela situação actual e agora assistem atónitos?
Deixaram o País com uma divída insuportável, de tal forma que só de juros pagamos mais do que gastamos em saúde e educação e agora assistem atónitos???
Tenham vergonha!
 
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por PMACS » 30/6/2012 11:12

Já agora, fica aqui o manifesto!

Esta é uma iniciativa política de pessoas livres, unidas pelos ideais da esquerda e pela prática democrática. Aberta a todos os cidadãos, com ou sem partido. Acreditamos que apenas a expressão de uma forte vontade cívica, por parte de cada um de nós, poderá dar a resposta adequada aos problemas do nosso tempo.



Portugal afunda-se, a Europa divide-se e a Esquerda assiste, atónita.

As raízes desta crise estão no desprezo do que é público, no desperdício de recursos, no desfazer do contrato social, na desregulação dos mercados, na desorientação dos governos, na desunião europeia e na degradação da democracia.

Em Portugal e na Europa, a direita domina os governos, as instituições e boa parte do debate público. A direita concerta-se com facilidade, tem uma agenda ideológica e um programa para aplicar. A direita proclama que o estado social morreu e que os direitos, a que chamam adquiridos, são para abater.

Em Portugal e na Europa, a esquerda está dividida entre a moleza e a inconsequência. Esta esquerda, às vezes tão inflexível entre si, acaba por deixar aberto o caminho à ofensiva reacionária em que agora vivemos, e à qual resistimos como podemos. Resistir, contudo, não basta.

É necessário reconstruir uma República Portuguesa digna da palavra República e construir uma União Europeia digna da palavra União.

É preciso propor aos portugueses, como aos outros europeus, um horizonte mais humano de desenvolvimento, um novo caminho para a economia e um novo pacto de justiça social.

É possível fazê-lo. Uma esquerda corajosa deve apresentar alternativas concretas e decisivas para romper com a austeridade e sair da crise, debatidas de forma aberta e em plataformas inovadoras.

A democracia pode vencer a crise. Mas a democracia precisa de nós.

Apelamos a todos aqueles e aquelas que se cansaram de esperar – que não esperem mais.

É a nós todos que cabe construir:

UMA ESQUERDA MAIS LIVRE, com práticas democráticas efetivas, sem dogmas nem cedências sistemáticas à direita, liberta das suas rivalidades, do sectarismo e do feudalismo político que a paralisa. Uma esquerda de cidadãos dispostos a trabalhar em conjunto para que o país recupere a esperança de viver numa sociedade próspera e solidária.

UM PORTUGAL MAIS IGUAL, socialmente mais justo, que respeite o direito ao trabalho condigno e combata as injustiças e desigualdades que o tornam insustentável. Um país decidido a superar a crise com uma estratégia de desenvolvimento económico e social, com uma economia que respeite as pessoas e o ambiente, numa democracia mais representativa e mais participada, com um Estado liberto dos interesses particulares que o parasitam.

UMA EUROPA MAIS FRATERNA, à altura dos ideais que a fundaram, transformada pelos seus cidadãos numa verdadeira democracia. Uma Europa apoiada na solidariedade e na coesão dos países que a formam. Uma Europa que ambicione um alto nível de desenvolvimento económico, social e ambiental. Uma União que faça do pleno emprego um objetivo central da sua política económica, que dê um presente digno aos seus cidadãos e um futuro promissor às suas gerações jovens.

http://paraumaesquerdalivre.net/home/manifesto/
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por Automech » 30/6/2012 2:49

Excelente artigo. Obrigado Elias.
Encaixa também na perfeição em alguns participantes do CdB.
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por Elias » 29/6/2012 23:10

Eles querem um "futuro decente". Mas não lá muito honrado

Hoje, no Público, falei de um manifesto que defende que a origem dos nossos males está no memorando da troika. É falso: está numa economia e num Estado viciados em dívidas

António Hespanha é uma pessoa muito observadora. Soubemo-lo no último Prós e Contras. Quando vai a um supermercado e olha para os carrinhos de compras dos outros clientes, acha que as suas escolhas não são racionais. Não sei o que o douto professor conhecerá da vida das outras pessoas para fazer essa avaliação, mas se calhar não necessita de saber muito. Ele faz parte daquela elite que julga conhecer as nossas necessidades mesmo quando são apenas nossas. É também dos que acham que os que pensam diferente sofrem de uma irremediável "impiedade" que faz deles monstros em potência. Até porque é um dos subscritores do manifesto "por um futuro decente", que junta gente que, como ele, só pensa no bem do próximo - desde que o próximo aceite que sejam eles a dizerem o que é o seu bem.
Nesse manifesto defende-se que cabe ao Estado "organizar a sociedade em bases colectivas". Naturalmente que, se isso sucedesse, os clientes dos supermercados não fariam compras irracionais - talvez até nem fizessem compras, pois as prateleiras estariam vazias ou só teriam os produtos que iluminados com "sensibilidade social" como o prof. Hespanha entendem-se necessários. E também não haveria maliciosas promoções oferecidas pelos gananciosos dos donos dos supermercados, apenas o que o Estado entendesse correcto - "em bases colectivas".
Parece exagero, mas não é. Nesse manifesto, que juntou as luminárias do costume a uns trânsfugas do PS, também se diz que todos os nossos problemas têm origem no acordo com a troika. Como se sabe, há um ano, antes desse acordo, nós não tínhamos problemas, só tínhamos soluções. Quando não tínhamos soluções, tínhamos pelo menos "uma visão". E, claro, estávamos prenhes das "ideias generosas" que, de acordo com os subscritores do documento, faltam aos nossos responsáveis mas sobram nos corações sensíveis do prof. Boaventura, do coronel Lourenço ou do ex-sindicalista Da Silva.

Todo o manifesto se pode resumir a duas ideias centrais. A primeira é que não podemos empobrecer. A segunda é que não devemos pagar as nossas dívidas. Chama-se-lhe, eufemisticamente, uma "negociação com todos os credores" que "não pode deixar de ser dura". Ou seja, propõe-se como solução para o empobrecimento um caminho que nos tornaria irremediavelmente mais pobres.
É certo que o prof. Hespanha se apresenta apenas como historiador, mas é estranho que, tendo passado o Prós e Contras a apelar a que se olhasse para a realidade, seja de uma total cegueira quanto a factos bem reais. E um deles é que Portugal nunca conseguiu, desde pelo menos 1950, equilibrar as contas externas. Mesmo nos períodos em que a nossa economia cresceu mais depressa, sempre importámos mais do que exportámos. Fomo-nos safando graças às remessas dos emigrantes, à ajuda dos fundos europeus e ao investimento externo, até que chegou o tempo do crédito fácil e barato. Temos a dívida que temos porque, só desde 1995, fomos acrescentando todos os anos à dívida externa o equivalente a dez por cento do PIB. Porque consumimos sistematicamente mais dez por cento do que aquilo que produzimos. Porque vivemos a crédito e foi esse desequilíbrio que causou os nossos problemas.
Há, no essencial, duas formas de ultrapassar esta nossa dependência de dívidas cada vez maiores. Uma é a forma decente e honrada de o fazer, que é reformarmos a nossa economia e os nossos hábitos de forma a torná-los sustentáveis. Isso implicará, naturalmente, alterar hábitos de consumo, adaptando-os às nossas possibilidades. A outra é a forma indecente e desonesta e passa por dizer aos nossos actuais credores que não pagamos e aos nossos futuros credores que queremos é subsídios. A tais exigências chamaremos "solidariedade" e embrulhá-las-emos em discursos sobre a "coesão social". Quem tiver dúvidas que leia o manifesto: está lá a retórica toda.

Uma das coisas mais extraordinárias destes debates é o ar sério, até compungido, com que pessoas que nunca perderam um minuto da vida em acções de solidariedade se propõem "ser solidários" com o dinheiro dos outros. Sejam eles contribuintes portugueses ou contribuintes alemães (se forem alemães é melhor ainda). É sempre uma posição confortável e de elevada "autoridade moral". O pior é quando se tem de passar da simples e fácil indignação às propostas concretas.
Os subscritores do nosso manifesto ainda estão na primeira fase, a do simples protesto. A das proclamações tão gongóricas como vagas. Basta-lhes dizer que são pela "defesa da democracia, da soberania popular, da transparência e da integridade, contra a captura da política por interesses alheios aos da comunidade". Ou que dão "prioridade ao combate ao desemprego, à pobreza e à desigualdade". É fácil e é óptimo. Dir-se-ia até que estamos todos de acordo. Só que não estamos.
Propor a denúncia do memorando da troika tem consequências. Estar à altura da grandiloquência destas proclamações também. Pelo que se algum dia tiverem de passar das frases gerais às medidas concretas, as nossas almas sensíveis teriam, para serem coerentes, de propor algo semelhante à plataforma eleitoral do Syriza, cuja leitura é altamente recomendável porque altamente instrutiva. Sobretudo num país como Portugal, onde quase tudo o que ali se propõe já foi por nós testado - pelos governos de Vasco Gonçalves, em 1975. Com os resultados económicos conhecidos.
A minha ideia de um país decente não é essa. Nem é a de um país a viver de subsídios.

José Manuel Fernandes, in Público
 
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por Automech » 29/6/2012 15:20

E se a Alemanha estiver a preparar a saída do euro?...
28 Junho 2012 | 23:30

Mais uma cimeira, mais uma viagem, mais uma voltinha. Certo? Errado. Há agora uma diferença. Enorme. Espanha e Itália adoptaram um discurso de aflição. É altura de encararmos as perguntas difíceis: e se isto der mesmo para o torto? E se o euro acabar? E se no fundo a Alemanha estiver a preparar não a nossa mas a sua saída do euro?

A União Europeia está à beira do descalabro. Falar nisso já não é alarmismo, não falar é que passou a ser negacionismo. O alarme soa já por toda a Europa. Soou ontem, aliás. Desde a Itália e desde Espanha, países que afinal não são grandes demais para falhar, são apenas grandes demais para salvar.

Na Itália, a armadilha chama-se dívida pública. É gigante. E o facto de ser em grande parte dívida interna e não externa começa a deixar de ser atenuante suficiente. Porque pagar taxas de juro mais elevadas é, para uma dívida tão grande, o suficiente para aniquilar o excedente das contas italianas. Para mais, o primeiro-ministro de que os mercados gostam, o tecnocrata Mario Monti, tem uma margem política muito reduzida para implementar medidas de austeridade. Porque lhe falta a legitimidade do voto. E porque a coligação parlamentar é frágil.

Em Espanha, o primeiro-ministro Mariano Rajoy é uma desgraça. Afunda-se em contradições e mostra-se incapaz de liderança política de uma crise que se está a descontrolar. A intervenção junto de alguns bancos espanhóis com problemas mostrou-se ineficaz para sossegar os mercados. E assim os mercados estão a cobrar taxas de juro incomportáveis à própria dívida soberana espanhola. Mais: há bancos que já não estão a conseguir financiar-se nos mercados, disse ontem Rajoy. Supõe-se que se referia não aos bancos com problemas, pois esses estão "cobertos" pela ajuda de cem mil milhões. Estaria então a falar dos maiores bancos espanhóis, Santander, BBVA e La Caixa?

Este cenário de aflição aumenta brutalmente a pressão sobre a Alemanha. O que falta, a França submergir? O que está a acontecer é a precipitação da necessidade de apoiar Itália ou (e?) Espanha, precisamente o que sempre dissemos que aniquilaria o euro. Porque não havia, e não há, dinheiro que chegue para um resgate a esses países. E é por isso que as cimeiras vão avaliando "resgates suaves", tais como a compra pelo Fundo de Estabilização de dívida pública destes países no mercado secundário. Não é para poupar estes países de um resgate como o português. É por não haver dinheiro para ele.

Agora imagine-se na pele de um alemão. Tem a inflação controlada, está a financiar-se a taxas de juro quase nulas e olha para o lado e vê países a pedirem-lhe dinheiro para salvar os seus problemas. Acode-lhes? Ou sacode-os?

A resposta é completamente especulativa mas a pergunta não. Há rumores de um célebre estudo supostamente feito pela Alemanha que avalia o impacto no seu PIB do fim do euro. A Finlândia, ao contrário de outros países (como Portugal), só emprestou dinheiro para a Grécia contra garantias reais: "ouro" (títulos de elevado "rating" e "cash"). Os mercados emprestam dinheiro a taxas nulas à Alemanha, o que significa que preferem não ganhar dinheiro e terem um refúgio - ou mesmo a terem uma opção sobre o marco... Há empresas alemãs, como a Volkswagen, que já estão a fazer contratos com cláusulas que se referem não ao euro mas "à moeda que vigorar". E notícias não confirmadas de grandes bancos europeus que têm planos de contingência para o fim do euro. Seja pelos efeitos de contágio de uma saída desordenada. Seja por uma saída voluntária de países como a Finlândia. Ou mesmo a Alemanha.

Sim, a Alemanha. Atrevamo-nos à pura especulação. A saída para a crise parece passar apenas por uma solução de federalismo, como ainda ontem defendeu Viviane Reding, vice-presidente da Comissão Europeia. Mas esse federalismo, que implicaria a criação de uns Estados Unidos da Europa, parece longínqua porque simplesmente… os europeus não parecem querê-la. E o federalismo não pode ter na raiz se não a democracia.

Se houver federalismo com democracia (e não há outro federalismo), então a Alemanha terá menos poder representativo pelo povo do que tem hoje pelo poder do dinheiro. Essa ideia não agrada aos alemães, como se viu na ideia recente de o poder no Banco Central Europeu ser distribuído em função da posição no capital, o que daria mais poder à Alemanha.

Se a Alemanha não quiser perder esse poder que o federalismo lhe imporia (basta ver como hoje tem mais força que as instituições europeias como a Comissão e o Conselho), e farta que se mostra de passar cheques, então a alternativa para um continente imerso numa crise longa pode ser a ruptura. Sobretudo a partir do momento em que a Alemanha deixe de lucrar com a crise como tem lucrado até aqui: financia-se a taxas de quase zero e "empresta" a 3% ou 4%; tem risco baixo de Alemanha e moeda fraca de país do sul.

A Europa enfrenta um cenário de estagnação à japonesa, de um longo período de nenhum ou de fraco crescimento. Se a Alemanha sair do euro, atrás por exemplo de uma Finlândia que abra essa porta, enfrentará uma quebra imediata no PIB e uma apreciação da sua "nova" moeda, o que reduziria a sua competividade. Para os outros países, como Portugal, seria o fenómeno inverso: ficariam com uma moeda mais fraca, longo poderiam desvalorizar, o que seria bom. Mas perderiam a capacidade de controlar a inflação.

O que está em jogo é mais do que finanças, é uma construção política que visa uma relação de paz entre povos europeus. Mas as finanças estão a rebentar as costuras dessa construção. E está demasiado em jogo para que não nos preocupemos. Esperemos que os alemães gostem mais dos outros povos europeus do que os povos europeus gostam deles.

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por Automech » 28/6/2012 15:12

Feios, portos e maus
27 Junho 2012 | 23:30
Pedro Santos Guerreiro - psg@negocios.pt


Deve ser bruxedo. Ou brincadeira. As administrações dos portos e de quase todas as empresas públicas de transportes estão sem mandato. O caso piora com greves paralisantes na Navegação Aérea, TAP e CP. Querem exportar? Receitas turísticas neste Verão? Privatizações? Lamentamos, para o ano há mais. Se houver.
Deve ser bruxedo. Ou brincadeira. As administrações dos portos e de quase todas as empresas públicas de transportes estão sem mandato. O caso piora com greves paralisantes na Navegação Aérea, TAP e CP. Querem exportar? Receitas turísticas neste Verão? Privatizações? Lamentamos, para o ano há mais. Se houver.

Empresas sem cabeça com tronco e membros ou param ou andam à roda. E o mesmo Governo que anunciou fusões de administrações, criação de "holdings" e reestruturações empresariais olha como um boi que não é para o palácio que não está. A Refer, o Metro do Porto, os STCP, a Carris e todos os portos estão em gestão corrente, as suas administrações terminaram o mandato há meses, não foram substituídas, mesmo que em muitos casos os gestores já tenham mesmo saído.

Das empresas públicas de transportes, só duas estão em mandato pleno, a CP e o Metro de Lisboa. Curiosamente, ambas têm os seus presidentes de saída. O Metro porque vai (vai?) ser fundido com a Carris; a CP porque o seu presidente já deu sinais de estar pelos cabelos e quer sair no final do mandato. Este atraso nas fusões e nomeações é espantoso, deixando as empresas em calhas livres. A pergunta já não é "quando?". A pergunta é "porquê?". Porquê?

Só razões políticas podem explicar esta inércia soluçante. Ou dificuldade em contratar com salários altos de mais para incompetentes, mas baixos de mais para quem está no sector privado.

As empresas são mais do que conjuntos de custos que é preciso cortar. Têm trabalhadores, estratégias e têm uma coisa que o Estado esquece vezes de mais: têm clientes. As empresas portuguesas querem exportar, para isso precisam de portos eficientes e com taxas baratas. Para o contribuinte, que "investe" o seu dinheiro, o importante é que estas empresas não tenham prejuízos, o que remete para reestruturações empresariais, de balanços, de custos. Mas para o cliente, que por acaso até é quem paga os serviços, não interessa se há uma "holding" única, duas para o Norte e para o Sul ou mil. O que lhe interessa é que o serviço funcione e seja barato. E o que dizem os clientes dos portos é que os fretes são caros. E que nada mudou no último ano.

A gestão dos portos, mesmo assim, melhorou muitíssimo nos últimos anos. Em Leixões há uma teimosia justificada, pelos resultados e pela decana paz social, de não querer mexer no que está bem, por fusão com outros portos. Também se compreendem as resistências na Carris e na STCP, que "viraram" nos últimos anos as operações. O que não acontece noutras empresas.

O tráfego ferroviário de mercadorias está paralisado há meses por greves. Como disse numa conferência, há dias, um gestor de um grande exportador português, "já pedi à CP para deixar de me enviar as notificações de pré-avisos de greve e passar a mandar os pré-avisos de trabalho "

Este surto de greves parece ser oportunista. Seja a longa paralisação na CP, a greve dos controladores de navegação aérea que não querem sofrer os cortes de outras empresas públicas ou a greve dos pilotos da TAP, que se engalfinham em política interna. À entrada da época alta de receitas, e numa altura em que o Governo apressa privatizações e concessões, parece haver um propósito de reivindicar enquanto é tempo. Enquanto o patrão é o Estado. E, paradoxalmente, os sindicatos que estão contra a privatização acabam por torná-la mais barata para os privados. Pelo caminho, destrói-se a porta de saída de exportadoras e de entrada de turistas. Mas isso não é preocupação de grevistas. Isso sim, é evidente.
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por tiagopt2 » 15/5/2012 18:13

The Mechanic Escreveu:O PSI-20 não caía abaixo dos 5,000 pontos desde 27 de Setembro de 2002 (numa breve incursão diária , no que foi o "fundo" , por cá, da Internet Bubble ) .

Isto quer dizer que esta é uma das duas sessões mais baixas dos ultimos..pfff... 15 , 20 anos.

The Mechanic


Nem tinha reparado, tive fazer um grande zoom out no gráfico para constatar essa "bela" curiosidade... Que brutalidade...
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por artista_ » 15/5/2012 18:10

The Mechanic Escreveu:O PSI-20 não caía abaixo dos 5,000 pontos desde 27 de Setembro de 2002 (numa breve incursão diária , no que foi o "fundo" , por cá, da Internet Bubble ) .

Isto quer dizer que esta é uma das duas sessões mais baixas dos ultimos..pfff... 15 , 20 anos.


Como é comum dizer-se que as Bolsas precedem a Economia real , isto quererá apenas dizer que ainda não batemos no fundo ?!

Na minha humilde opinião , mais triste que não ter presente ,é não ter perspectivas de ter futuro . E o país , está assim . Sem perspectivas .

Vamos ver no que dá .

Um abraço ,

The Mechanic


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por MiamiBlue » 15/5/2012 18:05

The Mechanic Escreveu:Muito bom artigo , na perspectiva de quem nos vê de fora e acha que isto ( a "Europa" ) , nunca há-de funcionar .


Um abraço ,

The Mechanic


Excelente artigo.

Á tempos, alguém dizia, que se a Europa fosse Portugal, Portugal era gerida pelos Presidentes de Câmara..

Dito desta forma, parece algo inacreditável, face ao rídiculo da situação, infelizmente na Europa é o que acontece..
 
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por The Mechanic » 15/5/2012 15:51

O PSI-20 não caía abaixo dos 5,000 pontos desde 27 de Setembro de 2002 (numa breve incursão diária , no que foi o "fundo" , por cá, da Internet Bubble ) .

Isto quer dizer que esta é uma das duas sessões mais baixas dos ultimos..pfff... 15 , 20 anos.


Como é comum dizer-se que as Bolsas precedem a Economia real , isto quererá apenas dizer que ainda não batemos no fundo ?!

Na minha humilde opinião , mais triste que não ter presente ,é não ter perspectivas de ter futuro . E o país , está assim . Sem perspectivas .

Vamos ver no que dá .

Um abraço ,

The Mechanic
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por The Mechanic » 9/5/2012 14:30

Buy America, sell Europe
Commentary:[b] It’s not the plan, it’s the planners[/b]By David Weidner, MarketWatch


NEW YORK (MarketWatch)

When you watch the reports on European elections, about change sweeping through the euro zone, be grateful that you live or invest in the U.S. of A.
The United States promises much. It dreams big and it always outperforms. It comes together. Through ingenuity and grit, the U.S. perseveres and pays its bills with interest.
Europe promises the world. It dreams. Then the group starts to fight amongst itself. It falls apart. Europe defaults. It needs to be bailed out, sometimes by the U.S.A.
During the last 200 years Greece has defaulted twice, Spain twice, Portugal twice. Germany has defaulted. Italy has defaulted. There have been 10 defaults in the last 100 years. And that list, compiled by the business school at the Massachusetts Institute of Technology, doesn’t include defaults caused by “wars, revolutions, occupations and state disintegrations.”

They just kind of went belly up.

Add those wars and disasters, and European defaults might exceed 30 or more, a rate of more than one default a decade.
That’s nice of the MIT people to look at it that way. After all, the U.S. has had several wars during that time, including one with itself. Indeed, it’s bailed out Europe’s butt militarily and economically a couple of times in the last 100 years. Still, it’s paid its bills.

How the European elections impact the U.S.
In many ways, it’s that history that explains why Europe is being punished in the markets for veering away from austerity and the U.S. never was. It’s why Standard & Poor’s was wrong in downgrading U.S. sovereign debt last year. It’s why Warren Buffett, who knows a thing or two about credit, called the United States a “quadruple-A” credit.
And these are the rates you get when the European Central Bank has pledge to buy $272 billion in sovereign debt from at-risk countries (France not included).
Sell all of them if you can, because Europe is about to respond to a crisis caused by printing too much money.
Now, for a country such as the United States, printing money may not be a bad strategy. To work, it requires something from investors: confidence. And confidence is earned.
One of the ways to earn the confidence is to never default. Another way is to turn printing money into economic expansion. And for all of our whining about the recovery — “only” a 2.5% growth rate and a “high” unemployment rate of 8.1% — it is nothing compared to the euro zone: 10.9% unemployment in May and an expected 0% economic growth rate in 2012.
In other words, we’re going gangbusters compared to the austerity-driven economies just west of the Caucuses.
And that’s largely why the United States, with a total sovereign debt load of roughly $15 trillion, has better credit than the euro zone, with $13.6 trillion.

The bigger problem, of course, is that the European Union is really an oxymoron. If Europe is a “union” then salt is pepper and up is down. It’s just patently wrong. Europe like any expansive region with multiple states is, by definition, always at war — culturally, economically and socially.

[b]But unlike the U.S., which has a strong central government to get its states in line, Europe has to count on the goodwill of its members.[/b] You know, the members who start talks by blaming economic problems on their neighbors.

This isn’t to knock the ambition of the European Union, which was coalesced in 1993 and introduced its currency in 1999. It’s just that the 27 members have never abdicated any power to the greater good.

That’s why French President-elect François Hollande, Mario Monti, the new prime minister of Italy, the Pasok and New Democracy parties in Greece and, for the time being, David Cameron in Great Britain and Angela Merkel in Germany really have no standing.

They represent a momentary blip in leadership among countries that never will get along nor work together, now that the global capital bubble has popped. Having never agreed to share the pain, they will never share the pain.

Ultimately, the constant upheaval of leadership and plans will make the bonds of Spain, Italy and Portugal an even dicier proposition. Private investors, seeing this will sell them. U.S. bonds will strengthen in the long-term flight to safety.

Europe is division. America is united.

It sounds silly and simple — kind of like the idea that 27 adversaries could become friends over money.


David Weidner covers Wall Street for MarketWatch.


Muito bom artigo , na perspectiva de quem nos vê de fora e acha que isto ( a "Europa" ) , nunca há-de funcionar .


Um abraço ,

The Mechanic
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por mcarvalho » 7/3/2012 10:49

O Gasparinho atacou de flanco e recuou. Espera agora nova oportunidade para roubar mais um pedaço do orçamento... ou demitir-se, em vez do Álvaro!

Ler texto integral em O António Maria
Link: http://o-antonio-maria.blogspot.com/201 ... ar-ii.html (via shareaholic.com)
mcarvalho
 
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por Automech » 6/3/2012 14:16

Álvaro, o homem-bala
5 Março 2012 | 23:30
Pedro Santos Guerreiro


O destino de Álvaro Santos Pereira está traçado. São dois traços cruzados, e não é de hoje: foi há cinco meses que o João Cândido da Silva aqui escreveu o editorial "Tiro ao Álvaro". Os erros políticos acumulam-se na fritadeira mediática, mas Santos Pereira será defenestrado não por ser mau ministro – mas por ser um ministro mau. Tem os lóbis todos à porta do seu amotinado palácio. E não tem experiência nem força nem habilidade para esquivar-se.

Álvaro Santos Pereira é como Assunção Cristas: a imagem que tem de si mesmo é muito melhor do que a que os outros têm dele. É um nabo politicamente, diz puerilidades, perde as estribeiras por pouco – mas é um homem sem obediência a ninguém. De nada lhe serve. Transformou-se no boneco da feira, a quem todos atiram bolas de sumaúma só pelo gozo. É um peixinho dourado, um pouco amuado com o trato, mas não percebe que o seu defeito decisivo é outro: é o vazio em vez da vazão, é não despachar os milhões de assuntos que lhe poisam na mesa.

A "troika" anda feliz com o cumprimento por Portugal do seu plano. Bate palmas, promove, sublinha com fosforescências. Mas avisa: e os grupos de interesse, não se lhes toca? E aí, como ontem aqui escrevia o Rui Peres Jorge, a história dos contratos não pega: quantos direitos adquiridos já foram rasgados com a Função Pública e com os pensionistas?

Os lóbis são as forças mais poderosas de Portugal. Porque caminham em serpentinas, porque financiam partidos, dão comissões e empregos a muita gente. Álvaro sabe, Álvaro escreveu sobre isso – Álvaro não está a fazer-lhes frente.

Vamos à lista das impossibilidades: 1. cortes de custos das empresas públicas, incluindo milhares de despedimentos e redução de serviço, como encerramento de linhas de transporte, coisa em que há trinta anos ninguém toca; 2. suspensão de Obras Públicas, renegociação de SCUT e de PPP; 3. subsidiação à energia; 4. gestão das verbas do QREN, o "único" dinheiro que está a entrar na economia e que pode salvar ou não milhares de empresas – e de associações falidas que se abeiram dos microfones também como receptadoras de fundos à formação profissional; 5. privatizações, agora da TAP (que não trará dinheiro, é apenas libertação de um passivo) e da ANA; 6. aumento das tarifas de transporte.

Agora refaça a lista pensando nos lóbis prejudicados, entre os quais 1. todas as empresas públicas, altamente partidarizadas, algumas das quais foram berço de pequena corrupção nas compras, como se viu no "Face Oculta"; os partidos políticos que as dominam, e os tachos que por lá disseminam; os sindicatos destas empresas; os privados interessados na sua privatização e, portanto, na sua aparente degradação; 2. todas as construtoras, concessionárias, advogados contratados e bancos que têm os contratos nas mãos, mais os partidos financiados por todos eles; 3. todas as empresas que recebem subsídios de energia e não só a EDP (nos CMEC), a Galp, a Portucel, a Iberdrola, a Endesa, as cerâmicas, os têxteis (na cogeração), as empresas do solar, milhares de empresas como as bem conhecidas deste Governo Fomentivest (de que Passos Coelho foi gestor) e Finertec (de que Miguel Relvas foi administrador); 4. associações empresariais e as pouco potentes PME; 5. advogados, financeiros, bancos, interessados nas privatizações. Sim, falta um: o ponto 6., aumento dos transportes públicos, que enfrenta os menores lóbis. Talvez por isso seja a única das seis que está a avançar. De resto, está tudo por concluir: a fusão de administradores, de empresas, extinções, saídas de pessoal, cortes mais fundos da despesa. O programa para os transportes, o PET, arrisca-se a ser uma peta que nos contaram. Os dossiers das empresas exportadoras, os bloqueios nos Estaleiros de Viana, o complicado dossiê da energia – está tudo pode resolver. E o AICEP já fugiu da alçada.

O Ministério já perdeu muitas pastas. É um balão que se esvazia. Se Álvaro Santos Pereira quer ter força, tem de usá-la, limpar as pendências dos aflitos e enfrentar os poderosos. Só a execução e coragem o protegerão, não a ampulheta de Passos Coelho por onde a areia vai declinando.

Não é à toa que toda esta contestação surge exactamente agora, em que muitos destes dossiês estão a ser fechados e os lóbis questionados. Um ministro frágil não dá meio passo. E portanto Santos Pereira merece resguardo de quem o quer fora dali por interesse. Mas tem de agir, não lhe basta sentir-se injustiçado. Se passa de governante da Rua Gomes Teixeira para governanta do Palácio da Horta-Seca, será trucidado pelos molares dos próprios partidos da coligação e, em vez de peixinho dourado, será um comestível "peixinho da Horta". Nesse caso, ninguém terá pena dele, nem a merecerá. Como escreveu outro Álvaro, o heterónimo, sobre si mesmo, "Coitado do Álvaro de Campos, com quem ninguém se importa! Coitado dele que tem tanta pena de si mesmo!".
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por Automech » 1/3/2012 22:29

:clap:
Isto só lá vai com penas de prisão
29 Fevereiro 2012 | 23:30
Camilo Lourenço

A Câmara Municipal de Setúbal vai ter de repor as verbas que gastou, desde 2009, com a promoção de 500 funcionários. Promoção que a presidente considera ter-se baseado numa "análise técnica interna cuidada e rigorosa e na melhor informação disponível à data", mas que a Inspecção-geral das Autarquias Locais classifica de ilegal. A solução óbvia seria "convidar" a presidente a repor do seu bolso cerca de um milhão de euros gastos ilegalmente com as promoções.

O problema é que Maria das Dores Meira diz que não pode, "à custa do seu salário e património", reembolsar o Estado (por isso o reembolso vai sobrar para os funcionários…).

Pergunta: se os dois despachos que promoveram os funcionários são da responsabilidade da presidente, quem senão ela deveria reembolsar o Estado pela errada utilização de dinheiro dos contribuintes?

É injusto? Não. Os autarcas, e todos os decisores públicos, têm de ser responsabilizados pelos seus actos (em Elvas, em 2010, ocorreu uma situação parecida). No caso das autarquias há um longo historial de má gestão (se mais de 50% dos municípios vivem com dificuldades financeiras, isso significa que foram muito mal geridos). E, em alguns casos, essa má gestão raia a gestão danosa.

Sempre que se apure que um autarca, ou outro decisor público, utilizou erradamente dinheiro dos contribuintes, e se for considerado culpado pelos tribunais, deve cumprir pena de prisão. Mas prisão efectiva. É uma punição exagerada? Não. Enquanto um decisor público não acabar atrás das grades por gestão danosa (isto é um eufemismo porque há actos que configuram crimes bem mais graves…) a irresponsabilidade vai continuar.
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The mechanic

por futriber » 24/2/2012 15:46

Boas,
Alguém sabe o porquê da ausência do autor do tópico? Ou será impressão minha!? Sempre li os seus comentários com atenção/gozo. É pena, porque era uma grande mais valia no fórum...
Espero que esteja tudo bem com ele e com os seus.
É caso para dizer: regressa "the mechanic" estás perdoado...

Um abraço e tudo de bom.
 
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por pepi » 24/2/2012 14:48

As verdades que nunca nos dirão
23 Fevereiro 2012 | 23:35
Pedro Santos Guerreiro - psg@negocios.pt

E se correr mesmo tudo bem? E se os cépticos, os abstémios e os infelizes errarem nas possibilidades de desvio? E se Vítor Gaspar estiver certo, naquela candura académica de quem acredita mesmo nos seus modelos, e o dinheiro chegar, o desequilíbrio contrair, a economia crescer, o euro fluir - e Portugal respirar depois da submersão?
E se correr mesmo tudo bem? E se os cépticos, os abstémios e os infelizes errarem nas possibilidades de desvio? E se Vítor Gaspar estiver certo, naquela candura académica de quem acredita mesmo nos seus modelos, e o dinheiro chegar, o desequilíbrio contrair, a economia crescer, o euro fluir - e Portugal respirar depois da submersão? E se escrevêssemos um texto muito ingénuo, crédulo, e respeitássemos, por uma página que fosse, que toda a maldade pode mesmo resultar em algo de bom?

Não há onirismos nem niilismos, o programa de ajustamento é um rol de destruição. Destruição de emprego, de dívida, de economia; dizima uma geração da inocência, tributa, corta, retira, anula, toca e não foge. Há até um sentido no nome, Programa de Ajustamento Económico e Financeiro, porque o PAEF é um PAF!, uma bofetada de luvas encarnadas de sangue. Mas tem um futuro no fim? Gaspar saiu ontem do MiG onde pilota a economia e escreveu um texto, na "Visão", explicando que sim.

É curioso que seja um tecnocrata a falar-nos do sentido político das nossas misérias. Um povo precisa de linguagem política, de mobilização, sentido e causa para o sacrifício. Mas Passos Coelho é como o peixe, não puxa carroça. Tem uma vantagem: baixando expectativas, não vende ilusões. Quando assume que o desemprego ainda vai subir, ouve uma vaia - mas fala verdade, matéria-prima rara. E essa falta de luz própria pode até trazer em humildade o que noutros sobra em vaidade. Há demasiada gente a querer ficar na história, a ser o Ernâni Lopes desta crise, e a pressa humana pela estatuária é má conselheira.

Muitas coisas podem correr mal. As privatizações podem ficar por aqui, falhar-se a TAP e a ANA, a despesa no Estado pode descontrolar-se, as baixas receitas fiscais de Janeiro alongar-se ano adentro, pode o crédito parar, o euro colapsar, os mercados repetirem que o dinheiro não basta. Mas há coisas que estão a correr francamente melhor do que o esperado. E não é apenas cumprir a lista de compras da troika.

Os bancos saíram melhor do que a encomenda e não vão precisar sequer de metade dos 12 mil milhões de euros, que "os mercados" diziam ao princípio serem insuficientes. O desendividamento está a ser mais acelerado do que a troika previa. Há entradas de capital externo. O Banco de Portugal admite equilíbrio externo (raiz de todo o mal) dentro de um ano. E, convenhamos, a "Europa" agora está a ajudar. Não pode é dar muito nas vistas, para que as opiniões públicas nórdicas, alemã e holandesa não dêem por isso. Mas o BCE está a financiar indirectamente os Estados (deixando lucros nos bancos intermediários...), mesmo os que não têm "rating"; a troika parece disposta a aceitar a pressão do Ministério das Finanças e do Banco de Portugal (siameses na liderança do processo) e a deixar dar mais crédito às empresas. E como vimos numa janela indiscreta, a própria Alemanha está disponível a ser mais flexível, quando o tempo chegar.

Se Portugal tivesse outras fontes de financiamento, poderia ter um programa mais suave. Não tem. Este programa impõe a violência das desvalorizações súbitas e do desmame do crédito.

O drama pela frente é o risco de falta de crescimento da economia. Sem ela, torramos. É por isso que neste caminho quase impossível para chegar à outra margem sobre um rio violento, o crédito é uma das alpondras necessárias. O crescimento não está mais no Estado e nas suas Obras Públicas. Está nas empresas. Nas exportações. É isso, aliás, que todas as reformas estruturais visam: reduzir a intervenção, e já agora o custo, do Estado, deixando a economia às empresas.

Uma das coisas boas que estão a acontecer é a mudança rápida de hábitos dos portugueses. As marmitas, a redução do tráfego, as marcas brancas não são apenas opções de pobreza, são novos modos de vida. Silva Lopes sempre o disse: os portugueses são muito mais flexíveis do que se imagina. Falta mudar ainda muita coisa, no próprio Estado, na política, na Justiça mas também nas empresas. Porque se tudo correr bem, se o aeromodelismo de Vítor Gaspar e de Carlos Costa fizer máquinas que voam e não carlingas para kamikazes, então serão as empresas a liderar a economia. Vale a pena crer? Vale, com a viseira baixa e as espadas erguidas, mas vale porque será crer nos portugueses. E nesses não vale a pena descrer. Não nesses, não neles, não em nós.
 
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por Automech » 13/2/2012 15:29

Privatizem a gestão da Caixa
12 Fevereiro 2012 | 23:30
Pedro Santos Guerreiro

Faz três anos que a Caixa assinou o que titulámos então de "escandaloso negócio com Manuel Fino", um acordo para as dívidas do empresário com acções da Cimpor. Foi um cobertor para o estertor. Ei-lo de novo, em dose tripla: de Fino, da Caixa e da Cimpor. José de Matos devia pendurar as contas de 2011 à frente da mesa onde atende os telefonemas do Governo: para se lembrar do que custa dizer "sim".

José de Matos não é Luís de Matos, não faz ilusionismo. Estes prejuízos limpam anos de sarcófagos. Não há fábula, agora é o príncipe que, beijado, se transforma em sapo. E assim se percebe que esta administração pôs cá fora o que pelo menos duas administrações andaram a fazer ou a esconder. Os valores de provisões e de imparidades (1,6 mil milhões de euros!) são como confissões de crimes que prescreveram: não comprometem esta administração (embora comprometam alguns dos seus administradores).

Ouvir José de Matos dizer que "a Caixa vai concentrar-se na actividade bancária" revela um ridículo inteiro. É como ouvir um hotel dizer que vai dedicar-se à hotelaria ou uma pedreira às pedras. Para trás estão investimentos ruinosos na diversificação (por exemplo na saúde), na internacionalização (em Espanha), em participações financeiras (a lista é interminável), em empréstimos sem garantias, a famosos, a amigos do Governo e a financiadores de partidos. As imparidades "esmagaram os resultados", diz Matos. É verdade. Mas as imparidades não são meteoritos inexplicáveis que caem do céu. Eles nasceram da terra onde se semearam jogatanas de poder. Com o BCP à cabeça, no que se tornou um "arrastão" maior de falhados e de quem os financiou: incluindo nós, sem o sabermos.

Releia O escandaloso negócio com Manuel Fino, Editorial publicado em Fevereiro de 2009

Manuel Fino foi um dos arrastados pelos cânticos suicidários do BCP. O empresário está pouco mais do que falido, não tem como pagar dívidas de centenas de milhões, e pede uma moratória à Caixa, para não perder o que resta da Cimpor para as duas hienas brasileiras, Votorantim e Camargo, que se preparam para passar da partilha ao espartilho da cimenteira que já foi portuguesa. Manuel Fino tem uma vida inteira de industrial, não de casinada bolsista, pelo que este desfecho é especialmente cruel. Além disso, o "capitão de indústria" revela uma dignidade no seu declínio como é raro assistir no país das aparências. Mas isso, que torna a perda de Fino desgostosa, não a iliba.

Só a Caixa separa a Cimpor do seu desmantelamento. Mas ele não é responsabilidade sua, é dos accionistas que em vez de a gerirem, a usaram como garantia de empréstimos alucinados. Foi aí que a Caixa não se concentrou "na actividade bancária", mas noutra coisa qualquer que só o Diabo poderá escrever. Mas é também verdade que Armando Vara tem as costas largas: os empréstimos foram aprovados por conselhos de crédito numerosos. Ou todos os seus membros, que têm nome, eram incompetentes, ou alinhados ou medrosos.

Já não vale a pena propor que privatizem a Caixa, não há dinheiro para comprá-la, mesmo que uma Caixa privada jamais fizesse o mal que esta fez - e se fizesse, seria aos seus accionistas, não aos contribuintes. Mas além de mais um aumento de capital e do início tardio da venda de activos pede-se, por favor, uma nova era na gestão do banco. A era do "não", do "não" aos partidos, aos Governos, às cunhas, aos amigos, aos políticos e às ocasiões. É isso que se pede à equipa de José de Matos, agora que acabou a faxina das contas.

Os prejuízos de 2011 da banca são como álcool em ferida, ardem mas curam. E evidenciam que foi a Caixa e o BCP que mais asneiras fizeram, incluindo nas inacreditáveis fragilidades das garantias dos seus empréstimos. Mas agora a Caixa recomeça do zero. Quer dizer, do menos 488 milhões.

PS: Fonte do Governo de José Eduardo dos Santos, sobre o BCP, ao "Novo Jornal": "Com uma crescente influência de Angola na condução desta nova fase da vida do Millennium poderemos, a médio prazo, levá-lo a investir em geografias que maiores sinergias geram no processo de internacionalização das nossas empresas e, neste quadro, estabelecer parcerias equilibradas e contribuir para a diversificação económica". Não é verdade, pois não? Não é verdade que com menos 15% já mandem assim no BCP, pois não? Não substituiremos um Estado pelo outro, pois não?
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por pepi » 26/1/2012 17:14

Portugal tem que mudar de vida
25 Janeiro 2012 | 23:30
Nuno Garoupa

Esperemos que o Governo entenda que não pode aplicar austeridade para corrigir as loucuras dos últimos vinte anos e, ao mesmo tempo, permitir o regabofe da distribuição de sinecuras bem remuneradas aos seus amigos.
Portugal vive uma situação muito complicada, tão complicada que mais parece que muitos não querem entender. Está essencialmente falido (é evidente que não vai pagar o que deve; a dívida será reestruturada, mas como e quando a Alemanha queira), sem qualquer potencial de crescimento a médio prazo, com uma crise de exclusão social muito complicada, num contexto de instituições públicas descredibilizadas. O empobrecimento relativo de Portugal começou em 2000, não em Junho de 2011 como dizem influentes comentadores. A tal política de crescimento que a esquerda berra foi seguida desde 2000 com efeitos nulos nesse mesmo crescimento e um passivo acumulado de dívidas (pois se há outra política de crescimento, o PS que explique porque a não aplicou nos treze anos que esteve no poder). O Governo, caucionado pelo memorando da troika, lá vai fazendo o que lhe é exigido. Faz as reformas que pode. Mas não todas!

Diz-se que Portugal tem que mudar de vida. Mas, com ou sem memorando da troika, com ou sem estado de excepção, quem não muda de vida são as nossas elites políticas. Primeiro foi a Caixa Geral de Depósitos, uma prioridade que ninguém percebeu em Julho de 2011, só explicada pela voragem da distribuição de lugares (ainda por cima com uma flagrante violação do princípio da separação entre regulador e regulado). Agora foi a EDP e as Águas de Portugal. E logo pelos mesmos que andaram anos a denunciar a confusão entre política e negócios. E, claro está, criticado pelos que defenderam esse sistema nefasto durante anos em nome de pseudo estratégias de crescimento. Ninguém tem vergonha. Todos ajudam a descredibilizar mais.

Em Portugal, gosta-se de debates sibilinos. É o Governo a pressionar a EDP ou é a EDP a pressionar o Governo? Seja qual for, é errado e apenas mostra uma falta de transparência e ética na vida pública. Evidentemente que o investidor chinês (que conhece bem mais portugueses que o conjunto de amigos do Governo) já percebeu como se faz negócio em Portugal. Isso sim não muda. Como aliás mostraram as declarações absolutamente aberrantes de muitos dos protagonistas de triste conto.

Fala-se muito de valor de mercado. Mas que mercado? Se não há mercado absolutamente nenhum. São as rendas acumuladas pela proximidade da política com os negócios que arruinou Portugal. E, no meio das ruínas, exige-se que os portugueses mudem de vida, mas não a sua classe política.

Esperemos que o Governo entenda que não pode aplicar austeridade para corrigir as loucuras dos últimos vinte anos e, ao mesmo tempo, permitir o regabofe da distribuição de sinecuras bem remuneradas aos seus amigos. A continuar por este caminho vai acabar muito mal. A classe política tem que mudar de vida antes de pregar que Portugal tem que mudar de vida. O Governo parece incapaz de mudar de vida. Se assim for, é mais um Governo falhado de mais uma oportunidade perdida.



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por tiago_ferreira » 20/1/2012 15:33

A minha economia: Fernando Alvim

Quando desapareceu a Maddy, surgiram vários inspectores da PJ por aí. Toda a gente tinha um curso criminal, toda a gente sabia explicar o que tinha acontecido. Agora, de repente, são só economistas, em cada casa há três ou quatro. Aderindo a esta moda, eu próprio comecei a comprar livros de economia. Gosto muito de "A Vaca Púrpura", de Seth Godin. Tenho o "Freakonomics", claro. E comprei a colecção "50 Ideias: Economia - Que precisa mesmo de saber". O custo de oportunidade, essas coisas todas.... Eu ando a ler isso! Incrível! Acredito que deve haver um gestor em mim e, não havendo, tenho que, pelo menos, fazer um esforço. Acho que é um bocado efeito placebo, um "wishful thinking".

Quando penso em economia, penso logo em gravatas e pessoas que vestem sempre o mesmo casaco. É muito cinzenta. Tenho a ideia que as pessoas são movidas pela frieza dos números. Definitivamente ganha a racionalidade dos números à paixão dos actos. Os pragmáticos e cépticos do costume acabam por ter vitórias que, a mim, me embaraçam um pouco e me "desromantizam". Eu gostava de ser considerado o primeiro gestor romântico português, queria ser uma espécie de "Julio Iglesias da economia". Costumo dizer às pessoas que trabalham comigo: "já sabemos que não vamos ganhar dinheiro, ao menos que tenhamos o prazer incrível de fazer algo de absolutamente diferente".

Claro que a minha intenção é rendibilizar os projectos, mas isso nem sempre acontece. Então, tal como os grandes grupos económicos têm, muitas vezes, aquelas fundações para lavagem de dinheiro, eu tenho outras vias de negócio que rentabilizam a minha vida. Passo música, trabalho que me farto a fazer rádio e vou fazendo outras coisas. Criei agora para as empresas um programa que é o "super buzz Alvim". Atenção, eu gosto de arriscar, mas não gosto de ficar na penúria ou na falência. Só arrisco quando percebo que há ali alguma segurança e só o consigo fazendo muitas coisas... para poder, eventualmente, falhar em algumas delas.

Uma amiga minha, que participava numa telenovela da TVI, fazia de empregada e era muito, muito boazinha. Lembro-me de lhe dizer: "Teresa, tu agora tens de fazer de menina. E rapidamente! Não podes ser só essa coisa direitinha...". Acho que, por vezes, Portugal necessitava de um abanão, de arriscar. Portugal é aquele amigo que, ok, vai ter a filha, os filhos, sem problema na banca, vida estável mas, se virmos bem, nunca arriscou na vida. E não tem nada de surpreendente. É isso que eu vejo em Portugal. O António Câmara, da YDreams, disse-me que, mais do que investirmos num TGV ou num novo aeroporto, deveríamos apostar numa faculdade, com os "Peter Druckers" da vida como professores, que ensinassem a arriscar e a falhar. Acho que é por aí. Acho mesmo que deveria haver uma disciplina de criatividade e de risco em todas as escolas.

O Vítor Gaspar precisava de ser despenteado. Todo este Governo é extraordinariamente penteadinho. Faltam uns copos ao Governo, senão entramos numa depressão absoluta e, definitivamente, quando as pessoas dizem que o efeito placebo não cura, eu digo o contrário: cura, sim. Tem que haver optimismo. Ao contrário da maioria das pessoas, eu acho que 2012 pode ser um ano extremamente interessante a nível de criatividade: pode acontecer em 2012 o mesmo que acontecia com o humor na altura da ditadura, isto é, tem de ser de uma forma sub-reptícia. Ter pouco dinheiro faz com que eu seja muito criativo, no sentido de arranjar ideias com impacto, que não sejam avassaladoras em termos de orçamento.

Claro que é preciso trabalhar na mesma. Aliás, a dada altura da minha vida eu escolhi uma frase para me guiar: "fia-te na virgem e não corras!". O que explica aquilo que eu penso sobre tudo. Considero-me um optimista céptico. Há uma canção dos Clã que diz: "Feliz a cem por cento. Só mesmo um pateta feliz...". As pessoas que só irradiam felicidade são patetas, isso não existe. Eu não estou sempre feliz, pareço, mas não estou, faço por ganhar os dias. Costumo dizer que, da mesma forma que existem as mulheres a dias, eu sou um homem a dias, faço por ganhar os dias, o maior número de dias possível....

A ideia da nossa editora (Cego Surdo e Mudo) é a descoberta de novos talentos portugueses, a aposta no domínio do humor e em produtos ousados no mercado. Queremos que as pessoas percebam logo que somos nós. Lançámos o DVD "Último a Sair", tivemos o António Raminhos, vamos ter o João Quadros, o Bruno Aleixo, e vamos editar o "Grande Livro dos Prefácios", um livro que só tem prefácios, um livro que acaba por não acontecer.... com a edição da Ana Sousa Dias para ter alguma credibilidade...

Penso que o Júlio Isidro precisava de sucessão e, quando olho para trás, percebo que foi isso que fiz toda a vida: descobrir talentos. Sempre tive um prazer especial em descobrir outros talentos, inclusivamente muito superiores ao meu, o que, de resto, não é muito difícil. Acho que já contribuí para que alguns nomes, pelo menos, tivessem uma outra exposição, Seja no domínio da música, humor ou televisão. E isso foi muito importante para mim.

Não sou materialista, mas tenho várias extravagâncias. Em minha casa tenho uma girafa gigante, que me custou perto de um balúrdio, tenho uma caixa de preservativos, daquelas que se usam nas farmácias, que serve para abastecer toda a vizinhança, tenho uma sauna portátil, que usei duas vezes, nomeadamente para tirar fotografias que aparecem no meu blog. Gosto de comprar coisas que se revelam muito pouco úteis para a minha vida futura. Mas se dúvidas houvesse de que não sou materialista, gostava de revelar que o meu carro é de 98 e não tem ar condicionado, o que faz com que durante as minhas longas viagens eu tenha de viajar à noite para não ter calor.
 
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por pepi » 18/1/2012 15:42

O unicórnio que voa
17 Janeiro 2012 | 23:30
Pedro Santos Guerreiro - psg@negocios.pt

Olha, é uma reforma estrutural! Afinal existem mesmo, fazem-se com partidos de direita e em democracia. Chamem as galinhas com dentes e levem-nas com os porcos de bicicleta a visitar o unicórnio voador.
Olha, é uma reforma estrutural! Afinal existem mesmo, fazem-se com partidos de direita e em democracia. Chamem as galinhas com dentes e levem-nas com os porcos de bicicleta

a visitar o unicórnio voador. Agora que já caminhamos sobre a água, só falta saber para onde vamos: temos reforma, o que se faz com ela? A pergunta é para si, senhor empresário.

Alvíssaras, Álvaro Santos Pereira, alvíssaras, Pedro Passos Coelho. A reforma do mercado de trabalho era necessária há muitos anos. Grande parte dela já havia até sido concluída no Governo de José Sócrates, basta ver a facilidade com que se despediram milhares nos últimos anos. Mas sobrava uma última rigidez: o despedimento individual. Era como dobrar uma barra de ferro. Agora, se os tribunais não implicarem, será dúctil como plasticina. Era uma aberração: ter o despedimento colectivo instantâneo e o despedimento individual impossível.

A reforma é toda para isto: para baixar custos às empresas (nas rescisões, nas horas extraordinárias) e ao Estado (menos subsídio de desemprego), para que se trabalhe mais tempo (menos férias, folgas e feriados) e para enunciar a liberalização do despedimento. Sim, é uma enunciação, pois os termos para a inadaptação do posto de trabalho são tão ambíguos que o tribunal pode no mesmo gesto abrir ou fechar a porta.

Mas esta é também uma reforma feita para consumo externo, para agradar aos mercados, como confessou o ministro da Economia, para saciar a troika, para pontuar melhor nos "rankings" de competitividade.

Tudo o que é perdido, é o trabalhador que perde. Tudo o que é ganho, é a empresa que ganha. Tudo o que é omisso, é omisso para o trabalhador, para o precário ou para o desempregado. Com um caso gritante: e os recibos verdes, pá? Nada, não há quase nada. Mas esse é tema para um outro editorial. Para já, fiquemos no que está no acordo, olhemos para o meio copo, porque hoje é dia de celebração.

O acordo é bom, pois a situação era desequilibrada a favor do trabalhador. Mas agora acabou-se a ladainha e o ramerrão. O Governo sai de cena e a lei deixa de ser bode expiatório: aos patrões foi dado aquilo que nem nos sonhos mais selvagens eles esperavam ter. Agora que têm a varinha mágica na mão, precisam de mostrar que sabem usá-la, que não a abanam por vingança, que não a viram contra si mesmos.

Deixemo-nos de histórias: o primeiro efeito desta mudança da lei será de destruição. Há milhares de empresas que estavam à espera disto para avançar com os despedimentos. Porque precisam de reduzir a sua capacidade, os seus custos, e porque não querem pagar milhares de euros em indemnizações. Depois dessa mortandade anunciada, inicia-se um novo ciclo.

É aqui que entram os chefes, os empresários e os patrões. A concertação social deu-lhes os meios que eles sempre reivindicaram, nunca mais poderão queixar-se se não de si mesmos. Ou são bons gestores, ou são maus gestores. E tendo em conta o estado das nossas empresas, a sua fragilidade financeira, a observação de que os trabalhadores portugueses trabalham bem no estrangeiro e em multinacionais, as expectativas estão baixas. A nossa capacidade de gestão é genericamente fraca. Temos muitos chefes incultos, gestores que não imaginam como se motiva, lidera, envolve e premeia, empresários muito pouco exigentes em relação a si mesmos. Todos eles estão hoje radiantes mas ficarão preocupados se a sua própria incompetência se tornar visível. É também por isso que esta reforma é boa, porque separará os bons gestores dos empresários duma figa.
 
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por mapaman » 13/1/2012 14:58

Gostava de não acreditar no cidadão de rua. Aquele que diz "são todos iguais". Os políticos. Os que prometem uma coisa na oposição e fazem outra no Poder. Mas desta vez ele tem razão...
Gostava de não acreditar no cidadão de rua. Aquele que diz "são todos iguais". Os políticos. Os que prometem uma coisa na oposição e fazem outra no Poder. Mas desta vez ele tem razão...

Vem isto a propósito das nomeações para a Águas de Portugal. Não conheço os nomeados, nem sequer sei se são competentes. Mas isso conta pouco, porque a esparrela é tão grosseira que espanta como Passos Coelho caiu nela.

Vejamos. Qualquer Governo usa e abusa de nomeações políticas. Este não é diferente. É por isso que a gritaria de PS, Bloco e PCP sobre este tema não me impressiona. Mas isso não afasta a gravidade da decisão em si. Porque há duas coisas em que Passos Coelho deveria ter pensado. A primeira é que não se nomeia para administrador de uma empresa alguém que tem um conflito judicial com ela: se de hoje para amanhã a Águas de Portugal alterar a decisão sobre a alegada dívida da Câmara do Fundão, alguém vai acreditar que Manuel Freches não influenciou o processo?

A segunda razão não é menos grave. Passos Coelho dirige um governo que está a tomar medidas tão duras (as mais duras em 37 anos de Democracia) que podem corroer o cimento que une a sociedade portuguesa (veja-se o estudo que diz que os mais pobres foram os mais afectados pela austeridade). Ora passar para a opinião pública a ideia de que há dois mundos, o dos boys (onde não há austeridade) e o dos tótós (que suporta tudo), é dar um grande tiro no pé.

Mas bem vistas as coisas, a decisão até teve um mérito: o de mostrar o poder descomunal dos lobbies nos partidos. Só esse poder era capaz de condicionar um 1º ministro desta maneira. Que vergonha.



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por Automech » 12/1/2012 21:59

O socialismo dos últimos 35 anos
Camilo Lourenço
11 Janeiro 2012 | 23:30

Nas últimas semanas assistimos a críticas violentas às reformas da troika: lei laboral, Educação, Saúde, Arrendamento, Justiça, etc. A ideia é clara: bloquear as mudanças. Já se percebeu que este movimento anti-reforma vem dos grupos que mais têm a perder com as mudanças.

Mas avancemos um pouco no raciocínio. Quando ouvimos Carvalho da Silva e João Proença vociferar contra as alterações à lei laboral, Mário Nogueira gritar contra a reforma educativa, dirigentes partidários (PSD incluído) recusarem a reforma das autarquias; Mário Soares criticando a redução do peso do Estado (classificando de neoliberal puro um país com défice orçamental de 7,5%...!) a tentação é perguntar: será que não têm razão?

Não, não têm. Basta fazer uma pergunta: qual a política dos últimos 35 anos? Socialismo, puro ou numa versão mitigada (com PSD e CDS no poder). É um absurdo? Parece. Ora veja: a actual lei das rendas mudou pouco desde os anos 70; a orientação da política Educativa é quase igual; a lei laboral é a mesma; a concertação social é igual; a protecção no desemprego é praticamente a mesma, o SNS e a Justiça nem falar

Mas há outro exercício que ajuda a tirar isto a limpo: desde 1977 a despesa do Estado disparou. Naquele ano pesava 28% no PIB, em 1995 chegou a 37% e em 2010 foi de 51,3%. Ou seja, os governos dos últimos 54 anos comungaram do mesmo ideal: a engorda do Estado (por aqui se vê que Soares não tem razão).

É por isso que a retórica anti-reformista impressiona pela negativa. Não mexer naquelas áreas é deixar tudo na mesma; é contribuir para o empobrecimento do país. Não é melhor dar o benefício da dúvida às reformas da troika?
http://www.jornaldenegocios.pt/home.php ... &id=530961
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