Acordo ortográfico
Excelente texto, muito importante para quem ainda não compreendeu as graves consequências da aplicação do Acordo Ortográfico. Um Acordo desenhado com enorme inépcia, em nada semelhante a qualquer das reformas ortográficas já realizadas na Língua Portuguesa.
O impossível Acordo
António Guerreiro
Na discussão do Acordo Ortográfico, além dos termos de uma estéril querela que se fica por questões de princípio, é possível perceber que por mais críticas que tenha suscitado, por mais que tenha sido desautorizado cientificamente, ele resistiu pela sua condição de projecto político.
A discussão pública do Acordo Ortográfico (AO) tem surgido muitas vezes como uma espécie de querela dos Antigos e dos Modernos: os primeiros, por fé e princípio, contra o Acordo, chegando a anunciar, em linguagem apocalíptica, que ele significa a “destruição” da língua portuguesa; os segundos, por princípio e fé, a favor do Acordo, em nome de uma mirífica unidade da língua como factor de internacionalização e da ideia de que a ortografia pode ser mudada e simplificada como qualquer convenção. No primeiro caso, a ortografia é entendida como um facto linguístico imutável, fixado como uma natureza; no segundo caso, exacerba-se a convencionalidade para lhe negar um estatuto propriamente linguístico e de sistema autónomo em relação à oralidade.
Para perceber o alcance, os efeitos, as contradições e até alguns absurdos do AO é preciso abandonar a discussão que se desenrola nos termos de uma querela caricata e prescinde tanto da argumentação técnico-linguística como dos aspectos pragmáticos e formais da implantação do Acordo. Mas, se a discussão não ocorreu nos moldes desejáveis, isso deve-se em grande parte ao facto de o Acordo ter sido elaborado e negociado sem se cumprir a exigência de ouvir os linguistas e outras entidades que têm especial competência sobre o assunto. O Acordo nasceu como uma opção política e como tal foi imposto. Quando a Comissão Nacional de Língua Portuguesa (CNALP), órgão de aconselhamento do Governo em matéria de língua, coordenada então por Vítor Manuel Aguiar e Silva, elaborou um parecer bastante crítico do anteprojeto de 1988, logo foi impedida de ter acesso ao texto do AO, assinado em 1990. Aguiar e Silva demitiu-se e, em declarações ao Expresso, afirmou: “Há pontos escandalosos do ponto de vista técnico-linguístico, como o da facultatividade ortográfica, que coloca grandes problemas de natureza pedagógico-didáctica.” Pela mesma altura, duas linguistas da Faculdade de Letras, Inês Duarte e Raquel Delgado Martins, diziam também ao Expresso que os especialistas da língua não representados na Academia não foram chamados a intervir no processo. Inês Duarte afirmava, então: “É a história do rei que vai nu. Está-se a tentar dar a ilusão de que se está a unificar a ortografia do português. Se agora temos duplas grafias, elas vão continuar a existir depois do Acordo, continuando a impedir aquilo em nome do qual ele é feito, co-edições, etc.” E acrescentava que a dupla grafia consagrada no AO ia criar um problema que não existia antes, pelo facto de passar a haver “no interior do mesmo espaço nacional duas grafias, conforme a oscilação da pronúncia. E isso é o contrário de tudo aquilo que é a própria noção de ortografia”. Recordemos ainda que em Dezembro de 1990 um conjunto de escritores, editores, professores (entre os quais Herberto Helder, Dinis Machado, Vasco Graça Moura, Jorge Molder, Pedro Tamen, Fernando Gil, M. Villaverde Cabral) exigiram às três principais figuras da hierarquia do Estado a “publicação imediata e integral do novo projecto de Acordo Ortográfico”, porque ele continuava subtraído à divulgação pública, para ser poupado à discussão. A tentativa de neutralização pela táctica do silêncio afectou também quatro pareceres de linguistas que, elaborados em 2005 a pedido do Instituto Camões, por razões misteriosas só foram conhecidos em 2008. Trata-se de pareceres emitidos pela Associação Portuguesa de Linguística (APL), assinado por Inês Duarte, pelo Departamento de Linguística Geral e Românica da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, assinado por Ivo Castro, pelo Departamento de Linguística Teórica e Computacional (DLTC), assinado por Maria Helena Mira Mateus, e pela Academia das Ciências de Lisboa. Dos quatro, só o último era favorável. Mas faltava um pouco de isenção a quem o tinha feito: nada mais nada menos do que João Malaca Casteleiro, um dos autores do Acordo. Nos outros, podemos ler afirmações como esta: “Parece-nos prudente suspender quaisquer actos que tornem irreversível a sua aprovação pelo Governo português” (APL); e como esta: “O Acordo Ortográfico terá sempre consequências bem mais graves que a existência actual de duas normas” (DLTC). E Ivo Castro, antecipando a possibilidade que entretanto se tornou mais plausível de Angola e Moçambique não assinarem o AO, avisava que “a adesão portuguesa ao Acordo introduzirá uma divisão onde existe união”. Parecer também muito crítico foi o do professor de Linguística da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa João Andrade Peres, apresentado em 2008 à Assembleia da República, onde se podia ler: “O Acordo Ortográfico (...) não só introduz um factor de indefinição da grafia, como parece não resultar de uma avaliação rigorosa das consequências das mudanças sobre outros componentes do sistema linguístico, nomeadamente a pronúncia.” E a seguir indicava três aspectos negativos do AO: as grafias facultativas, nomeadamente a “dificilmente explicável” acentuação de certas formas verbais, a supressão das consoantes ditas mudas, mostrando que isso tem como efeito a multiplicação de homografias e de homofonias, além de aumentar o risco de fechamento vocálico e operar uma “desagregação gráfica de famílias de palavras” (por exemplo, a supressão do p dá-se em Egito, mas não se dá em egípcio, afastando membros da mesma família). Crítica contundente e sistemática ao AO foi a que fez António Emiliano, linguista, professor na Universidade Nova de Lisboa, em dois livros: “O Fim da Ortografia” (Guimarães Editores, 2008), a mais exaustiva análise crítica do AO, e “Apologia do Desacordo Ortográfico” (Verbo/Babel, 2010), onde reúne textos das suas intervenções públicas. António Emiliano mostra as contradições, os erros, as falácias, as incongruências do AO, para concluir que ele consagra uma “dis-ortografia” e instaura o “caos ortográfico”. E, com enorme projecção pública, há as críticas e as intervenções de Vasco Graça Moura.
Assim, em várias e competentes instâncias, o AO foi criticado, desautorizado enquanto documento técnico-científico, considerado inepto e nefasto. Em sua defesa, porém, o mais que pudemos ler foram artigos em jornais, refugiados nas questões genéricas das supostas vantagens de um acordo, sem responderem aos argumentos dos críticos. É fácil perceber que a impermeabilidade à crítica e a imunidade do AO estavam garantidas pelo facto de se tratar de um instrumento político para servir a estratégia ideológica da lusofonia.
Vejamos quais os aspectos em que têm insistido com mais veemência os críticos do AO. Eles são unânimes em apontar a grafia dupla (e múltipla) como um problema introduzido por este Acordo. As grafias duplas decorrem na maior parte dos casos de se ter adoptado o critério da pronúncia e são virtualmente tão frequentes que acabam por mostrar que o AO, visando a unificação ortográfica, consagra a sua impossibilidade. António Emiliano mostra como ele cai frequentemente em falácias e absurdos, algo que Isabel Pires de Lima também apontou numa entrevista ao “DN”, em 2/6/08: “O princípio da facultatividade excessiva (...) vai contra o próprio conceito normativo de ortografia.”
A grafia dupla abrange três domínios: o das consoantes mudas, o da acentuação gráfica e o da capitalização (o uso das maiúsculas). Como o critério é o da pronúncia, temos os casos em que há a supressão obrigatória (ato, seleção), os casos em que há a manutenção obrigatória (facto, dicção) e os casos em que a supressão é facultativa (rece(p)cão, dece(p)cão), em que o Acordo dito de unificação ortográfica conseguiu criar uma divergência onde ela não havia. Portanto, além de não ter conseguido unificar neste domínio em que estava posta de parte a possibilidade de os brasileiros regressarem à consoante etimológica, a dupla grafia manteve-se em muitos casos e criou-se a facultatividade: decepção ou deceção, pois no Brasil pronuncia-se decepção. Mas como é que nós sabemos que há facultatividade, que podemos em alguns casos manter o c e o p que são mudos em Portugal e noutros países lusófonos? Sabendo qual é a “norma culta” no Brasil. Acontece que nós não sabemos nem temos meios de saber tal coisa. E acontece que aquilo que o AO chama “norma culta” da pronúncia não está definida em lado nenhum. Com a introdução do conceito de “norma culta”, os autores do AO quiseram apenas limitar a proliferação de heterografias e idiografias (sirvo-me novamente de dois conceitos utilizados por A. Emiliano) que o espírito e a letra do Acordo tornam possível a partir do momento em que consagram o critério da pronúncia (por exemplo, alguém saberá dizer qual das duas pronúncias, setor ou sector, caraterística ou característica, é a “norma culta” em Portugal?). Este foi um dos aspectos para o qual João Andrade Peres chamou a atenção: a questão do carácter facultativo da grafia apoia-se em algo que o AO dá como evidente, o conceito de “pronúncia culta”, mas que na realidade “carece de ser cientificamente fixado”.
Facultativo é também o uso do acento gráfico nas formas da primeira pessoa do plural do pretérito perfeito dos verbos da primeira conjugação (amámos, tomámos), já que no Brasil a vogal é sempre aberta, tanto na forma do presente como na do passado e portanto não é necessário o acento para diferenciar. Temos assim que, numa palavra onde se combinam dois tipos de facultatividade, ela passa a ter quatro grafias possíveis. António Emiliano dá este exemplo: confeccionámos, confecionámos, confeccionamos, confecionamos. E uma palavra como Electrónica (recorrendo a outro exemplo de A. Emiliano), designando uma área científica, tem oito formas ortográficas oficiais, porque a maiúscula também é facultativa. Para limitar os estragos, o “Plano de Accão de Brasília para a Promoção, a Difusão e a Projecção da Língua Portuguesa” faz esta recomendação: “Nos pontos em que o Acordo admite grafias facultativas, é recomendável que a opção por uma delas, a ser feita pelos órgãos nacionais competentes, siga a tradição ortográfica vigente em cada Estado-membro.” Decorre desta recomendação que devíamos, por exemplo, continuar a escrever recepção (porque há a facultatividade receção/recepção). Mas podemos verificar que não é o que está a acontecer, já que o critério da pronúncia fala mais alto, sendo muito embora aquela que autoriza a arbitrariedade ortográfica. É grande a confusão, e um breve exame ao que se passa nas instituições que já adoptaram o Acordo mostra que ninguém o aplica correctamente e instituíram-se normas locais, casuísticas e decididas arbitrariamente, para impor normas que faltam, para suprir as incongruências e as contradições do AO (por exemplo, neste jornal em que escrevo, espectador começou por perder a consoante não articulada c, mas já a reconquistou). Como vai ser possível ensinar a ortografia nas escolas? Como reagirão os alunos quando um professor os ensinar a escrever uma palavra de uma determinada maneira e um outro professor os ensinar de maneira diferente? A inexistência de um Vocabulário Ortográfico Comum (prometido para Janeiro de 1992 e que era um dos requisitos da entrada em vigor do Acordo) torna tudo ainda mais complicado. Ou será que esse Vocabulário Ortográfico Comum não existe porque não pode existir e não passa de uma enorme falácia?
Limitei-me a falar do problema das duplas grafias e da facultatividade. Seria necessário falar também das contradições e da incoerência das regras da hifenização (por exemplo, cor-de-rosa com hífen e cor de laranja sem hífen); seria necessário discutir o critério da “consagração pelo uso” para justificar as excepções (e em todos os domínios, o AO é uma máquina de criar excepções); seria necessário falar do risco do fechamento vocálico por causa do desaparecimento das consoantes mudas (um risco de que falou, entre outros, Óscar Lopes); seria necessário falar da acentuação... Mas, para se perceber a confusão instalada, basta.
Artigo publicado na revista "Atual" do jornal Expresso de 25 de Fevereiro de 2012
http://www.ciberduvidas.com/controversias.php?rid=2475
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AutoMech Escreveu:elreidom Escreveu:Exactamente. O exemplo que está a dar é claríssimo quanto à falta de rigor com que foi redigido o Acordo.
Como apontei atrás, há dualidade de critérios conforme a conveniência. Quando dá jeito invoca-se a pronúncia, quando não dá invoca-se a etimologia. A isto pode-se chamar muita coisa, mas não um trabalho científico.
E, convenhamos, com esses exemplos se vê ainda mais claramente como é incrivelmente ridículo usar o argumento das letras "que não se pronunciam". Se isso fizesse sentido nada justificaria que não se acabasse com os "h" iniciais e os "u" em "qu" e "gu", quando não se lê o "u".
Exacto. E acabava-se de uma vez com a chatice do há e do à. O verbo haver passava a aver. A confusão começava a ser com o verbo ver.
Isto é tudo tão bizarro...
Mas assim não poderiamos escrever posts no "amanha a bolsa" !!!!
Segue a tendência e não te armes em herói ao tentar contrariá-la.
Podes tentar, mas o Mercado é um monstro selvagem que provavelmente te irá engolir.
Podes tentar, mas o Mercado é um monstro selvagem que provavelmente te irá engolir.
Re: Só para dizer...
cinco kapa Escreveu:que concordo com a nova ortografia, a língua não é uma coisa morta (já nos chega o latim ) só é pena que não se tenha ido mais longe. Para os puristas, existem sempre os magníficos textos medievais e as cantigas de amor e de escárnio . Tal como o sangue que nos corre nas veias, a nossa língua é uma mescla de muitos "sabores" de muito "Mundo" e sempre viva .
É uma teoria gira mas... as línguas não são coisas mortas porque evoluem, de preferência, de forma natural.
Este é um Acordo Ortográfico à força que não trás vida nenhuma à língua portuguesa, antes mais parece que a quer por moribunda de tão a maltratar. E não é preciso ser purista nenhum, basta não estar para aturar incoerências de todo o tamanho!
O que vale é que ninguém é obrigado a seguir o acordo...

FLOP - Fundamental Laws Of Profit
1. Mais vale perder um ganho que ganhar uma perda, a menos que se cumpra a Segunda Lei.
2. A expectativa de ganho deve superar a expectativa de perda, onde a expectativa mede a
__.amplitude média do ganho/perda contra a respectiva probabilidade.
3. A Primeira Lei não é mesmo necessária mas com Três Leis isto fica definitivamente mais giro.
Só para dizer...
que concordo com a nova ortografia, a língua não é uma coisa morta (já nos chega o latim ) só é pena que não se tenha ido mais longe. Para os puristas, existem sempre os magníficos textos medievais e as cantigas de amor e de escárnio . Tal como o sangue que nos corre nas veias, a nossa língua é uma mescla de muitos "sabores" de muito "Mundo" e sempre viva .
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elreidom Escreveu:Exactamente. O exemplo que está a dar é claríssimo quanto à falta de rigor com que foi redigido o Acordo.
Como apontei atrás, há dualidade de critérios conforme a conveniência. Quando dá jeito invoca-se a pronúncia, quando não dá invoca-se a etimologia. A isto pode-se chamar muita coisa, mas não um trabalho científico.
E, convenhamos, com esses exemplos se vê ainda mais claramente como é incrivelmente ridículo usar o argumento das letras "que não se pronunciam". Se isso fizesse sentido nada justificaria que não se acabasse com os "h" iniciais e os "u" em "qu" e "gu", quando não se lê o "u".
Exacto. E acabava-se de uma vez com a chatice do há e do à. O verbo haver passava a aver. A confusão começava a ser com o verbo ver.

Isto é tudo tão bizarro...
No man is rich enough to buy back his past - Oscar Wilde
Movimento de oposição ao Acordo Ortográfico cresce em várias frentes
14.02.2012 - 16:11 Por Sérgio C. Andrade
publico.pt
Petições no Parlamento e na Internet, uma queixa na Provedoria de Justiça por "inconstitucionalidade" e uma Iniciativa Legislativa de Cidadãos são algumas das acções em curso.
A decisão de Vasco Graça Moura de não aplicar no Centro Cultural de Belém o Acordo Ortográfico (AO) fez reavivar a polémica e avolumar as movimentações contra a introdução definitiva das suas directivas. Hoje, um cidadão vai defender no Parlamento uma petição exigindo um referendo. Continua em curso, e a fazer o seu caminho, a Iniciativa Legislativa de Cidadãos (ILC) lançada em 2010 com o objectivo de levar à Assembleia da República (AR) um projecto de decreto-lei que suspenda o AO. Há uma nova petição a correr na Internet, que surgiu após o arquivamento, em Maio de 2009, na AR, do manifesto que mobilizou mais de cem mil assinaturas. E voltou agora a ser notícia a queixa que um professor de Direito fez entrar na Provedoria de Justiça, no final do ano passado, invocando a inconstitucionalidade do AO.
Ivo Miguel Barroso, assistente da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, é o autor da queixa, que, segundo o PÚBLICO confirmou, deu entrada em Dezembro na Provedoria de Justiça e está a ser analisada.
O queixoso explicou à Lusa que o AO viola a Constituição, porque esta foi escrita seguindo a ortografia anterior ao acordo aprovado em 1990. Daí que seria necessária "uma revisão constitucional" para que a ortografia da Constituição fosse alterada. "Assinalo, porém, que a Constituição já foi aprovada. As alterações, em sede de revisão, são feitas artigo a artigo. Por isso, só alterando todos os artigos que estão em desconformidade com o AO", adverte Ivo Barroso, segundo a Lusa. E acrescenta que "uma língua não se muda por decreto", além de que considera que o acordo foi elaborado "contra a vontade do povo português" e contra a maioria dos "pareceres técnico-científicos".
Jorge Bacelar Gouveia, professor da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa, ainda que admitindo que a iniciativa de Ivo Barroso vem "abrir uma nova frente de discussão" sobre o tema, não concorda que a constitucionalidade do AO esteja em causa. "Não se trata de uma revisão da língua, que não muda", argumenta o também presidente do Instituto de Direito da Língua Portuguesa. E nota que o AO "não tem uma dimensão punitiva", continuando os portugueses a poder usar a língua como bem entenderem. Também a constitucionalista e deputada independente pelo PS Isabel Mayer Moreira, salvaguardando não conhecer o teor do requerimento, acha que a ideia da inconstitucionalidade "não colhe". "O que não pode ser alterado são as palavras no seu significante, não na forma. Se se retirar um "c" antes de um "p", isso não altera o significado da palavra", diz.
Outros constitucionalistas contactados pelo PÚBLICO não quiseram pronunciar-se sobre esta questão, ou por desconhecerem os fundamentos da argumentação de Ivo Barroso, ou por a acharam insustentável.
Quem fez questão de recusar qualquer associação entre a queixa na Provedoria e a sua luta contra o AO foi João Pedro Graça, o primeiro subscritor da ILC que continua a cuidar de reunir as assinaturas necessárias para apresentar um projecto de lei na AR que revogue o AO. "Não queremos ter só as 35 mil assinaturas exigidas por lei, mas o máximo possível para fazermos valer a nossa causa", diz o ex-tradutor, que abdicou da sua profissão, e está agora desempregado, por se recusar a trabalhar subjugado pelo AO.
14.02.2012 - 16:11 Por Sérgio C. Andrade
publico.pt
Petições no Parlamento e na Internet, uma queixa na Provedoria de Justiça por "inconstitucionalidade" e uma Iniciativa Legislativa de Cidadãos são algumas das acções em curso.
A decisão de Vasco Graça Moura de não aplicar no Centro Cultural de Belém o Acordo Ortográfico (AO) fez reavivar a polémica e avolumar as movimentações contra a introdução definitiva das suas directivas. Hoje, um cidadão vai defender no Parlamento uma petição exigindo um referendo. Continua em curso, e a fazer o seu caminho, a Iniciativa Legislativa de Cidadãos (ILC) lançada em 2010 com o objectivo de levar à Assembleia da República (AR) um projecto de decreto-lei que suspenda o AO. Há uma nova petição a correr na Internet, que surgiu após o arquivamento, em Maio de 2009, na AR, do manifesto que mobilizou mais de cem mil assinaturas. E voltou agora a ser notícia a queixa que um professor de Direito fez entrar na Provedoria de Justiça, no final do ano passado, invocando a inconstitucionalidade do AO.
Ivo Miguel Barroso, assistente da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, é o autor da queixa, que, segundo o PÚBLICO confirmou, deu entrada em Dezembro na Provedoria de Justiça e está a ser analisada.
O queixoso explicou à Lusa que o AO viola a Constituição, porque esta foi escrita seguindo a ortografia anterior ao acordo aprovado em 1990. Daí que seria necessária "uma revisão constitucional" para que a ortografia da Constituição fosse alterada. "Assinalo, porém, que a Constituição já foi aprovada. As alterações, em sede de revisão, são feitas artigo a artigo. Por isso, só alterando todos os artigos que estão em desconformidade com o AO", adverte Ivo Barroso, segundo a Lusa. E acrescenta que "uma língua não se muda por decreto", além de que considera que o acordo foi elaborado "contra a vontade do povo português" e contra a maioria dos "pareceres técnico-científicos".
Jorge Bacelar Gouveia, professor da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa, ainda que admitindo que a iniciativa de Ivo Barroso vem "abrir uma nova frente de discussão" sobre o tema, não concorda que a constitucionalidade do AO esteja em causa. "Não se trata de uma revisão da língua, que não muda", argumenta o também presidente do Instituto de Direito da Língua Portuguesa. E nota que o AO "não tem uma dimensão punitiva", continuando os portugueses a poder usar a língua como bem entenderem. Também a constitucionalista e deputada independente pelo PS Isabel Mayer Moreira, salvaguardando não conhecer o teor do requerimento, acha que a ideia da inconstitucionalidade "não colhe". "O que não pode ser alterado são as palavras no seu significante, não na forma. Se se retirar um "c" antes de um "p", isso não altera o significado da palavra", diz.
Outros constitucionalistas contactados pelo PÚBLICO não quiseram pronunciar-se sobre esta questão, ou por desconhecerem os fundamentos da argumentação de Ivo Barroso, ou por a acharam insustentável.
Quem fez questão de recusar qualquer associação entre a queixa na Provedoria e a sua luta contra o AO foi João Pedro Graça, o primeiro subscritor da ILC que continua a cuidar de reunir as assinaturas necessárias para apresentar um projecto de lei na AR que revogue o AO. "Não queremos ter só as 35 mil assinaturas exigidas por lei, mas o máximo possível para fazermos valer a nossa causa", diz o ex-tradutor, que abdicou da sua profissão, e está agora desempregado, por se recusar a trabalhar subjugado pelo AO.
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pokilo Escreveu:mas existe coisas no novo acordo ortografico que nao entendo por exemplo , os dias do ano que se escrevam em minusculas ainda menos mal, mas se nao se escreve o que nao se prenuncia entao higiene tinha que ser igiene
Exactamente. O exemplo que está a dar é claríssimo quanto à falta de rigor com que foi redigido o Acordo.
Como apontei atrás, há dualidade de critérios conforme a conveniência. Quando dá jeito invoca-se a pronúncia, quando não dá invoca-se a etimologia. A isto pode-se chamar muita coisa, mas não um trabalho científico.
E, convenhamos, com esses exemplos se vê ainda mais claramente como é incrivelmente ridículo usar o argumento das letras "que não se pronunciam". Se isso fizesse sentido nada justificaria que não se acabasse com os "h" iniciais e os "u" em "qu" e "gu", quando não se lê o "u".
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Estava por acaso a consultar uma página do site de uma universidade brasileira (Unicamp) e algumas palavras saltaram-me à vista. Vai daí, lembrei-me de vir aqui partilhar estes exemplos de como o Acordo Ortográfico foi mal concebido e como não serve sequer para "uniformizar" grafias.
Resolvi então fazer uma lista de todas as palavras nesta página que devem incluir consoantes "mudas" segundo a nossa ortografia fixada em 1945:
- Selecção
- Actuar
- Aspectos
- Percepção
- Perspectiva
- Respectivamente
- Projecto
São sete. Em Portugal dizem-nos que agora se deve alterar a forma como escrevemos todas estas sete, suprimindo as letras a vermelho.
Mas, no Brasil, apenas em três destas palavras não se escreve a tal consoante: "Seleção", "Atuar" e "Projeto". As outras quatro ficam exactamente como estão escritas na lista acima. Porque eles pronunciam a consoante e nós não. O resultado é a multiplicação de "grafias duplas" onde elas não existiam.
Ou seja, neste exemplo com o qual me deparei, antes do Acordo tínhamos 3 diferenças entre Brasil e todos os outros países de língua portuguesa; depois do Acordo temos 4 diferenças.
E agora a secção de anedotas:
«O Acordo Ortográfico visa (...)garantir uma maior harmonização ortográfica entre os oito países que fazem parte da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).»
Resolução do Conselho de Ministros n.º 8/2011
«(...) a harmonização ortográfica nos países da CPLP é fundamental para que os cerca de 250 milhões de falantes (...) possam comunicar utilizando uma grafia comum.»
Resolução do Conselho de Ministros n.º 8/2011
Isto não falando na enorme quantidade de diferenças gramaticais que obrigam qualquer texto do Brasil a ser profundamente alterado para fazer sentido em Portugal, diferenças essas que obviamente não podem nem vão desaparecer. A tal "grafia comum" é um mito tão óbvio, mas passou ao lado dos nossos letrados legisladores.
Resolvi então fazer uma lista de todas as palavras nesta página que devem incluir consoantes "mudas" segundo a nossa ortografia fixada em 1945:
- Selecção
- Actuar
- Aspectos
- Percepção
- Perspectiva
- Respectivamente
- Projecto
São sete. Em Portugal dizem-nos que agora se deve alterar a forma como escrevemos todas estas sete, suprimindo as letras a vermelho.
Mas, no Brasil, apenas em três destas palavras não se escreve a tal consoante: "Seleção", "Atuar" e "Projeto". As outras quatro ficam exactamente como estão escritas na lista acima. Porque eles pronunciam a consoante e nós não. O resultado é a multiplicação de "grafias duplas" onde elas não existiam.
Ou seja, neste exemplo com o qual me deparei, antes do Acordo tínhamos 3 diferenças entre Brasil e todos os outros países de língua portuguesa; depois do Acordo temos 4 diferenças.
E agora a secção de anedotas:
«O Acordo Ortográfico visa (...)garantir uma maior harmonização ortográfica entre os oito países que fazem parte da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).»
Resolução do Conselho de Ministros n.º 8/2011
«(...) a harmonização ortográfica nos países da CPLP é fundamental para que os cerca de 250 milhões de falantes (...) possam comunicar utilizando uma grafia comum.»
Resolução do Conselho de Ministros n.º 8/2011
Isto não falando na enorme quantidade de diferenças gramaticais que obrigam qualquer texto do Brasil a ser profundamente alterado para fazer sentido em Portugal, diferenças essas que obviamente não podem nem vão desaparecer. A tal "grafia comum" é um mito tão óbvio, mas passou ao lado dos nossos letrados legisladores.
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escada1 Escreveu:É uma vergonha para Portugal.
Parabéns aos angolanos, acima de tudo pelas suas palavras de repudio a quem não sabe falar:
"E também não podemos demagogicamente descer ao nível dos que não dominam correctamente o português”, escreve o “Jornal de Angola”, um dos países que não ratificou o Acordo Ortográfico.
Afinal quem assinou essa treta do acordo foi só Portugal e o Brasil?
Não ligo patavina a isso, escrevo como sempre escrevi.
Mas não me incomoda quem escreve com o Português abrasileirado..

Cumprimentos
Bull And Bear Markets
O jogo da especulação é o mais fascinante do mundo. Mas não é um jogo para os estúpidos, para os mentalmente preguiçosos, para aqueles com fraco balanço emocional e nem para os que querem ficar ricos rapidamente. Esses vão morrer pobres. Jesse Livermore
O jogo da especulação é o mais fascinante do mundo. Mas não é um jogo para os estúpidos, para os mentalmente preguiçosos, para aqueles com fraco balanço emocional e nem para os que querem ficar ricos rapidamente. Esses vão morrer pobres. Jesse Livermore
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É uma vergonha para Portugal.
Parabéns aos angolanos, acima de tudo pelas suas palavras de repudio a quem não sabe falar:
"E também não podemos demagogicamente descer ao nível dos que não dominam correctamente o português”, escreve o “Jornal de Angola”, um dos países que não ratificou o Acordo Ortográfico.
Parabéns aos angolanos, acima de tudo pelas suas palavras de repudio a quem não sabe falar:
"E também não podemos demagogicamente descer ao nível dos que não dominam correctamente o português”, escreve o “Jornal de Angola”, um dos países que não ratificou o Acordo Ortográfico.
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nuuuno Escreveu:agora perdi-me...! em que ficamos?! vamos falar mais abrasileirado ou afastar as pronuncias...!?
Nunca disse que vamos "falar mais abrasileirado" nem nada equivalente. Sugiro que releia os meus argumentos, se tiver oportunidade. Se algum lhe deixou essa dúvida, tentarei esclarecer.
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nuuuno Escreveu:Atomez Escreveu:Uma grande diferença entre a pronúncia portuguesa e brasileira, e que cada vez mais se acentua, é que no Brasil as vogais são bem pronunciadas e abertas, enquanto que por cá são cada vez mais fechadas ao ponto de se tornarem quase impercetíveis.
Por exº, "boa tarde" no Brasil é "bôá tárdi!" e por cá já é só "b'tard"...
Não sei porque é assim nem quais as consequências, mas que é assim, é.
a consequencia é simples...1 alemao (por exemplo) aprende portugues do brazil em menos de 1 ano...cá demora 10 anos...e....é dificil de o entender...!
Passe o exagero, não?
Está por demonstrar que um estrangeiro aprenda mais facilmente a escrever e ler português no Brasil do que em Portugal. A língua portuguesa escrita em Portugal é (era...) mais próxima das línguas europeias do que a que se escreve no Brasil. As nossas consoantes "mudas" também existem nas palavras correspondentes em francês, inglês, castelhano, italiano... (em alemão confesso que não tenho a certeza).
Veja como se escreve, por exemplo, "Egipto" em...
- inglês: Egypt
- francês: Égypte
- alemão: Ägypten
- castelhano: Egipto
- dinamarquês: Egypten
- catalão: Egipte
- polaco: Egipt
- checo: Egypt
- romeno: Egipt
- basco: Egipto
- finlandês: Egypti
- holandês: Egypte
- escocês: Egyp
- húngaro: Egyiptom
- norueguês: Egypt
- russo: Египет (notem que o "п" vale como "p" e o "т" como "t")
- grego: Αίγυπτος (notem que o "π" vale como "p" e o "τ" como "t")
E uma das poucas excepções:
- italiano: Egitto (ainda assim, mantêm as duas consoantes).
[Obrigado, Wikipédia!]
Escolhi propositadamente uma palavra em que a supressão da consoante "muda" não altera a pronúncia, mas tem importantes implicações na compreensão da etimologia da palavra - e, consequentemente, na compreensão de palavras relacionadas como é o caso de "egípcio" e na proximidade com as restantes línguas europeias.
Agora, que o estrangeiro aprenda mais facilmente a falar e compreender o português falado do Brasil, é natural que sim. Vem daí algum mal? Julgo que não. Eu compreendo muito melhor o inglês americano do que o britânico. Talvez porque são muito mais a falá-lo e os ouço muito mais frequentemente. E a pronúncia é menos rebuscada, mais "arredondada". Precisam os ingleses de mudar alguma coisa por isso? Não. Aliás, notem que aquelas alterações que suspeito possam acontecer na pronúncia do português de Portugal são exactamente no sentido oposto à pronúncia do Brasil. Será o "fechamento" das vogais, porque essa é a nossa tendência natural. Chega a ser irónico como a suposta uniformização de muitas palavras terá tendência para afastar ainda mais as pronúncias.
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MarcoAntonio Escreveu:Também para registar que apreciei bastante o texto do elreidom, provavelmente porque ele acaba a reflectir (com mais conteúdo e explicação) aquilo que eu sempre achei sobre este acordo, o qual eu chamo de acordo para o abrasileiramento da língua portuguesa.
Obrigado. Se assim o entenderem, divulguem à vontade.
Notem, por favor, que nada me move contra a língua portuguesa falada e escrita no Brasil. Pelo contrário, sou um grande entusiasta da cultura brasileira. E um apreciador da diversidade. Se o Brasil decidiu, em determinada altura, pôr de lado a etimologia e privilegiar a "poupança de letras", sem comprometer a pronúncia, estavam no seu direito. É preciso é compreender que o fizeram sem levar em conta que essas alterações nunca poderiam ser aplicadas em Portugal, porque aqui comprometem de facto a pronúncia. Por isso é que a aplicação por cá dessas medidas tem para nós consequências graves que para eles não foram tão graves (embora eu entenda que também perderam bastante ao afastarem a escrita da etimologia).
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MarcoAntonio Escreveu:nuuuno Escreveu:
a consequencia é simples...1 alemao (por exemplo) aprende portugues do brazil em menos de 1 ano...cá demora 10 anos...e....é dificil de o entender...!
A propósito, para um alemão Brasil continua a ser com "s"!
como quiseres ...para mim dá igual ...

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nuuuno Escreveu:
a consequencia é simples...1 alemao (por exemplo) aprende portugues do brazil em menos de 1 ano...cá demora 10 anos...e....é dificil de o entender...!
A propósito, para um alemão Brasil continua a ser com "s"!

FLOP - Fundamental Laws Of Profit
1. Mais vale perder um ganho que ganhar uma perda, a menos que se cumpra a Segunda Lei.
2. A expectativa de ganho deve superar a expectativa de perda, onde a expectativa mede a
__.amplitude média do ganho/perda contra a respectiva probabilidade.
3. A Primeira Lei não é mesmo necessária mas com Três Leis isto fica definitivamente mais giro.
Atomez Escreveu:Uma grande diferença entre a pronúncia portuguesa e brasileira, e que cada vez mais se acentua, é que no Brasil as vogais são bem pronunciadas e abertas, enquanto que por cá são cada vez mais fechadas ao ponto de se tornarem quase impercetíveis.
Por exº, "boa tarde" no Brasil é "bôá tárdi!" e por cá já é só "b'tard"...
Não sei porque é assim nem quais as consequências, mas que é assim, é.
a consequencia é simples...1 alemao (por exemplo) aprende portugues do brazil em menos de 1 ano...cá demora 10 anos...e....é dificil de o entender...!
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Também para registar que apreciei bastante o texto do elreidom, provavelmente porque ele acaba a reflectir (com mais conteúdo e explicação) aquilo que eu sempre achei sobre este acordo, o qual eu chamo de acordo para o abrasileiramento da língua portuguesa.
FLOP - Fundamental Laws Of Profit
1. Mais vale perder um ganho que ganhar uma perda, a menos que se cumpra a Segunda Lei.
2. A expectativa de ganho deve superar a expectativa de perda, onde a expectativa mede a
__.amplitude média do ganho/perda contra a respectiva probabilidade.
3. A Primeira Lei não é mesmo necessária mas com Três Leis isto fica definitivamente mais giro.
comentário
Caro elreidom
Tem sido muito apreciado o seu texto no FB. Um claro exito de que eu, tentando ser honrado, me eximi, declarando que apenas partilhava uma mensagem da qual nao era autor.Referi que de si, só lhe conhecia o pseudónimo.
Do facto lhe dou conta.
cumps
Tem sido muito apreciado o seu texto no FB. Um claro exito de que eu, tentando ser honrado, me eximi, declarando que apenas partilhava uma mensagem da qual nao era autor.Referi que de si, só lhe conhecia o pseudónimo.
Do facto lhe dou conta.
cumps
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Comentário
Caro elreidom
Li com alguma atenção o seu comentário inicial. Julgo que entendi o sentido geral das suas palavras e os corolários a que chega ácerca das consequências pouco favoráveis que resultam para a língua portuguesa.
Foi numa visão sectorial do potencial estratégico de uma determinada entidade política da cena internacional que considerei o potencial cultural (neste caso a Língua) a par dos potênciais económico, diplomático,..etc....até e por último...o potêncial militar...como integrante dessa totalidade.
Neste sentido, os países lusófonos não se sentirão confortáveis se um sector do seu potencial de afirmação internacional se desestruturar e se decompuser em dialectos particulares e de menor relevância. O potêncial cultural sairá diminuído...o que é pouco desejável.
Como lhe disse considerei excelentes os seus reparos que entendo cruciais e da maior acuidade na problemática em apreço.
Tomei a liberdade de fazer partilha no fb.
cumps
Li com alguma atenção o seu comentário inicial. Julgo que entendi o sentido geral das suas palavras e os corolários a que chega ácerca das consequências pouco favoráveis que resultam para a língua portuguesa.
Foi numa visão sectorial do potencial estratégico de uma determinada entidade política da cena internacional que considerei o potencial cultural (neste caso a Língua) a par dos potênciais económico, diplomático,..etc....até e por último...o potêncial militar...como integrante dessa totalidade.
Neste sentido, os países lusófonos não se sentirão confortáveis se um sector do seu potencial de afirmação internacional se desestruturar e se decompuser em dialectos particulares e de menor relevância. O potêncial cultural sairá diminuído...o que é pouco desejável.
Como lhe disse considerei excelentes os seus reparos que entendo cruciais e da maior acuidade na problemática em apreço.
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Uma grande diferença entre a pronúncia portuguesa e brasileira, e que cada vez mais se acentua, é que no Brasil as vogais são bem pronunciadas e abertas, enquanto que por cá são cada vez mais fechadas ao ponto de se tornarem quase impercetíveis.
Por exº, "boa tarde" no Brasil é "bôá tárdi!" e por cá já é só "b'tard"...
Não sei porque é assim nem quais as consequências, mas que é assim, é.
Por exº, "boa tarde" no Brasil é "bôá tárdi!" e por cá já é só "b'tard"...
Não sei porque é assim nem quais as consequências, mas que é assim, é.
As pessoas são tão ingénuas e tão agarradas aos seus interesses imediatos que um vigarista hábil consegue sempre que um grande número delas se deixe enganar.
Niccolò Machiavelli
http://www.facebook.com/atomez
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Re: comentário
jotabilo Escreveu:Caro elreidom
Desde já o meu agradecimento pelo seu texto que concretiza inquietações minhas sobre este acordo a que eu designo como a amnistia do erro.
Pelo que pude entender do seu texto, existem perigos reais de a lingua portuguesa sofrer uma notável desestruturação e, consequente, perda de um potencial esratégico cultural que é essencial para a nossa afirmação como matriz cultural no seio da cena internacional.
Estou consigo na necessidade de o acordo ser revisto no sentido da sua melhoria e eficácia, procurando soluções que a modernidade possa determinar.
Tinha noticias sobre a posição tomada pelo Doutor Vasco Graça Moura e outros...mas os perigos que anuncia no seu texto levaram-me a pressentir naquilo que deduzi, claros sinais de confusão e desastre que podem suceder à nossa língua falada e mais significativamente quando escrita.
O meu aplauso, portanto.
cumps
Eu é que agradeço a atenção dada ao que escrevi.
Nada sei sobre as consequências ao nível do potencial estratégico da língua - deixo essa análise a quem perceba do assunto. Mas quanto às consequências na língua falada e na facilidade de aprendizagem, quanto a isso não tenho dúvidas. A pronúncia vai mudar, a médio prazo, o que nunca deveria acontecer "por decreto". Dentro de anos haverá palavras que poucos saberão ao certo como pronunciar. Até mesmo com as consoantes mudas isso acontece, que fará sem elas! Já ouviram certamente aquelas jornalistas da TSF dizerem "ôtimizar" sem abrir o "o" de "optimizar"...
Das reformas anteriores, genericamente positivas, o maior erro quanto a mim foi a supressão do trema em 1945, que era essencial (pelas razões que acima expus). Agora que o Brasil acaba também com o trema, vejam como essa medida tem sido contestada por lá. E bem. As consequências da supressão do trema são uma amostra do que irá suceder nas palavras agora alteradas.
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comentário
Caro elreidom
Desde já o meu agradecimento pelo seu texto que concretiza inquietações minhas sobre este acordo a que eu designo como a amnistia do erro.
Pelo que pude entender do seu texto, existem perigos reais de a lingua portuguesa sofrer uma notável desestruturação e, consequente, perda de um potencial esratégico cultural que é essencial para a nossa afirmação como matriz cultural no seio da cena internacional.
Estou consigo na necessidade de o acordo ser revisto no sentido da sua melhoria e eficácia, procurando soluções que a modernidade possa determinar.
Tinha noticias sobre a posição tomada pelo Doutor Vasco Graça Moura e outros...mas os perigos que anuncia no seu texto levaram-me a pressentir naquilo que deduzi, claros sinais de confusão e desastre que podem suceder à nossa língua falada e mais significativamente quando escrita.
O meu aplauso, portanto.
cumps
Desde já o meu agradecimento pelo seu texto que concretiza inquietações minhas sobre este acordo a que eu designo como a amnistia do erro.
Pelo que pude entender do seu texto, existem perigos reais de a lingua portuguesa sofrer uma notável desestruturação e, consequente, perda de um potencial esratégico cultural que é essencial para a nossa afirmação como matriz cultural no seio da cena internacional.
Estou consigo na necessidade de o acordo ser revisto no sentido da sua melhoria e eficácia, procurando soluções que a modernidade possa determinar.
Tinha noticias sobre a posição tomada pelo Doutor Vasco Graça Moura e outros...mas os perigos que anuncia no seu texto levaram-me a pressentir naquilo que deduzi, claros sinais de confusão e desastre que podem suceder à nossa língua falada e mais significativamente quando escrita.
O meu aplauso, portanto.
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