Responsáveis: arrastar, enforcar e esquartejar?
Ulisses, muito obrigado pelo elogio. O facto de o que eu escrevi não ser politicamente correcto diz muito sobre a perigosa tendência de unanimismo em relação a certas questões.
Gostaria de responder a alguns comentários, vou começar por este último.
Migluso, estive a ver os artigos e eles falam em liquidez, não em solvência (tirando o primeiro, que fala num método contabilistico para cumprir as exigências dos racios sem aumentos de capital).
Em relação à liquidez, a questão nem sequer se coloca, pois já há muito que ela é providenciada pelo BCE, o mercado interbancário desde 98 que é disfuncional.
A questão aqui não é de deixar os bancos cairem ou não, mas sim de os obrigar a aumentar os racios (e a qualidade dos activos) numa altura em que está a haver uma contracção da massa monetária. Esta exigência é pro-cíclica e só se compreende no actual contexto de Economia Política, em que a retórica monetarista não tem contraditório. Tirando Krugman e Cavaco Silva, quem tem vindo a público defender medidas Keynesianas? Não estou a dizer que elas devam ser seguidas cegamente, mas numa altura destas seria natural que alguém começasse a lembrar que talvez o desemprego seja um problema maior que os défices elevados. Que houvesse uns deste lado e outros do lado da austeridade-é isto a democracia. Mas por motivos obscuros, tal não está a acontecer. Parece que os Keynesianos são os novos comunistas. A deformação da realidade é de tal ordem que políticos como Reagen-que fizeram a economia crescer com défices gigantescos-são dados como exemplos de austeridade.
Outro caso que não é referido é a America do pós-guerra: a dívida no final dos anos 40 estava acima dos actuais valores. E o que fez o governo? Gastou, gastou, deu dinheiro à Europa. Resultado: a dívida foi reduzida através do crescimento do PIB, houve 20 anos de porsperidade e desenvolvimento a todos os níveis, enriquecimento das classes médias.
Porque é que isto tudo foi de repente esquecido? Eu tenho a minha teoria: o grupo de lobying mais interessado na manutenção de uma classe média (pois dela vive) são os bancos. Com o colapso de 2008, os bancos perderam prestígio, poder, e ficaram dependentes de políticos. Qual a classe económica que resta para pressionar os governos?-as Confederações de Indústria e os Think-Tanks de orientação monetarista. Evidentemente que à indústria interessa tudo menos a existência de uma classe média, daí a pressão política para executar o "garrote monetário" que leva à queda dos salários. Os custos de mão de obra descem e tornam muitas empresas viáveis. É a revanche daqueles que mais perderam nos últimos 20 anos com o Euro e as políticas sociais. Não os critico, cada um ganha a vida como pode. Mas não podemos deixar de ter a noção da realidade, e deixar que algo se torne verdade só por ser repetido muitas vezes.
Gostaria de responder a alguns comentários, vou começar por este último.
Migluso, estive a ver os artigos e eles falam em liquidez, não em solvência (tirando o primeiro, que fala num método contabilistico para cumprir as exigências dos racios sem aumentos de capital).
Em relação à liquidez, a questão nem sequer se coloca, pois já há muito que ela é providenciada pelo BCE, o mercado interbancário desde 98 que é disfuncional.
A questão aqui não é de deixar os bancos cairem ou não, mas sim de os obrigar a aumentar os racios (e a qualidade dos activos) numa altura em que está a haver uma contracção da massa monetária. Esta exigência é pro-cíclica e só se compreende no actual contexto de Economia Política, em que a retórica monetarista não tem contraditório. Tirando Krugman e Cavaco Silva, quem tem vindo a público defender medidas Keynesianas? Não estou a dizer que elas devam ser seguidas cegamente, mas numa altura destas seria natural que alguém começasse a lembrar que talvez o desemprego seja um problema maior que os défices elevados. Que houvesse uns deste lado e outros do lado da austeridade-é isto a democracia. Mas por motivos obscuros, tal não está a acontecer. Parece que os Keynesianos são os novos comunistas. A deformação da realidade é de tal ordem que políticos como Reagen-que fizeram a economia crescer com défices gigantescos-são dados como exemplos de austeridade.
Outro caso que não é referido é a America do pós-guerra: a dívida no final dos anos 40 estava acima dos actuais valores. E o que fez o governo? Gastou, gastou, deu dinheiro à Europa. Resultado: a dívida foi reduzida através do crescimento do PIB, houve 20 anos de porsperidade e desenvolvimento a todos os níveis, enriquecimento das classes médias.
Porque é que isto tudo foi de repente esquecido? Eu tenho a minha teoria: o grupo de lobying mais interessado na manutenção de uma classe média (pois dela vive) são os bancos. Com o colapso de 2008, os bancos perderam prestígio, poder, e ficaram dependentes de políticos. Qual a classe económica que resta para pressionar os governos?-as Confederações de Indústria e os Think-Tanks de orientação monetarista. Evidentemente que à indústria interessa tudo menos a existência de uma classe média, daí a pressão política para executar o "garrote monetário" que leva à queda dos salários. Os custos de mão de obra descem e tornam muitas empresas viáveis. É a revanche daqueles que mais perderam nos últimos 20 anos com o Euro e as políticas sociais. Não os critico, cada um ganha a vida como pode. Mas não podemos deixar de ter a noção da realidade, e deixar que algo se torne verdade só por ser repetido muitas vezes.
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migluso esquece, o mal foi feito muito tempo atras , quando deviam ter arrumado com o "problema" Grego em uma semana. Agora é tarde, a maquina ja nao para.
Ja atacam a divida Austriaca e Francesa. Nao tarda atacam a Alemã. O BCE nao tem capacidade de comprar divida em quantidade suficiente, alias se se poe a comprar cada vez vao aparecer mais vendedores a querer "despachar" o lixo.
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Atomez Escreveu:migluso Escreveu:Ao contrário da FED nos EUA, o BCE deve exigir austeridade e rigor, ou seja, exigir que se trabalhe no sentido de resolver o problema que está na origem dos desequilíbrios (excesso de dívida) e não se limitar a empurrar o problema para as gerações futuras.
Pois, só que... o BCE não tem autoridade nem meios para exigir nem fazer cumprir o que quer que seja. Nem é esse o papel de um banco central.
Aliás, nem o BCE nem ninguém tem. Esse é o problema de fundo do sistema monetário europeu, é um problema político e se não for resolvido o Euro acabará por estoirar.
O BCE faz parte da troika. Quer dizer alguma coisa.
É um problema político, com certeza. E enquanto não for resolvido, através de maior integração, compete à troika e ao BCE (naqueles países que não foram intervencionados), "obrigar" os políticos a tomarem as medidas que têm que ser tomadas.
Como? Na minha opinião, por exemplo através de um acordo tácito entre o BCE e os países, do tipo, os países implementam reformas exigidas pelo BCE e este mantém as yields da dívida pública dos países abaixo de um determinado nível através do SMP.
"In a losing game such as trading, we shall start against the majority and assume we are wrong until proven correct!" - Phantom of the Pits
migluso Escreveu:Ao contrário da FED nos EUA, o BCE deve exigir austeridade e rigor, ou seja, exigir que se trabalhe no sentido de resolver o problema que está na origem dos desequilíbrios (excesso de dívida) e não se limitar a empurrar o problema para as gerações futuras.
Pois, só que... o BCE não tem autoridade nem meios para exigir nem fazer cumprir o que quer que seja. Nem é esse o papel de um banco central.
Aliás, nem o BCE nem ninguém tem. Esse é o problema de fundo do sistema monetário europeu, é um problema político e se não for resolvido o Euro acabará por estoirar.
As pessoas são tão ingénuas e tão agarradas aos seus interesses imediatos que um vigarista hábil consegue sempre que um grande número delas se deixe enganar.
Niccolò Machiavelli
http://www.facebook.com/atomez
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Para aqueles que se opõem à entrada do Estado na estrutura accionista da banca e que defendem que este não é o momento para rever os rácios de capital a que os bancos estão obrigados, recomendo vivamente a leitura destes artigos.
Não é por acaso que fundos americanos estão a resgatar aplicações em bancos europeus, ou que cidadãos e empresas europeias estão a levantar os seus depósitos e a aplicá-los na Suiça, nos EUA ou mesmo junto do BCE (Siemens).
http://news.businessweek.com/article.as ... 0NS8MD8449
http://www.creditwritedowns.com/2011/09 ... ry-up.html
http://www.creditwritedowns.com/2011/09 ... k-run.html
Infelizmente, Portugal está no grupo de países cujos cidadãos sofrerão a dobrar.
Ao contrário dos EUA, da Irlanda ou da Islândia, onde os bailouts dos bancos e o consequente aumento da dívida pública se ficou a dever a uma bolha de um sector específico da economia, no caso português, grego ou italiano os bailouts dos bancos ficam a dever-se à bolha da dívida pública.
Ou seja, já teríamos que apertar o cinto sem crise bancária. Agora, porque os bancos precisam de ser recapitalizados, e só há dinheiro público disponível (obrigado troika), os encargos para os contribuintes serão ainda maiores.
Infelizmente, deixar os bancos cair, como alguns aqui defendem, trará consequências bem mais dramáticas do ponto de vista económico e social. Não é solução para os três maiores bancos portugueses.
Parece-me óbvio que a única forma de evitar um dominó de defaults no curto prazo será o BCE intervir fortemente.
Ao contrário da FED nos EUA, o BCE deve exigir austeridade e rigor, ou seja, exigir que se trabalhe no sentido de resolver o problema que está na origem dos desequilíbrios (excesso de dívida) e não se limitar a empurrar o problema para as gerações futuras.
Não é por acaso que fundos americanos estão a resgatar aplicações em bancos europeus, ou que cidadãos e empresas europeias estão a levantar os seus depósitos e a aplicá-los na Suiça, nos EUA ou mesmo junto do BCE (Siemens).
http://news.businessweek.com/article.as ... 0NS8MD8449
http://www.creditwritedowns.com/2011/09 ... ry-up.html
http://www.creditwritedowns.com/2011/09 ... k-run.html
Infelizmente, Portugal está no grupo de países cujos cidadãos sofrerão a dobrar.
Ao contrário dos EUA, da Irlanda ou da Islândia, onde os bailouts dos bancos e o consequente aumento da dívida pública se ficou a dever a uma bolha de um sector específico da economia, no caso português, grego ou italiano os bailouts dos bancos ficam a dever-se à bolha da dívida pública.
Ou seja, já teríamos que apertar o cinto sem crise bancária. Agora, porque os bancos precisam de ser recapitalizados, e só há dinheiro público disponível (obrigado troika), os encargos para os contribuintes serão ainda maiores.
Infelizmente, deixar os bancos cair, como alguns aqui defendem, trará consequências bem mais dramáticas do ponto de vista económico e social. Não é solução para os três maiores bancos portugueses.
Parece-me óbvio que a única forma de evitar um dominó de defaults no curto prazo será o BCE intervir fortemente.
Ao contrário da FED nos EUA, o BCE deve exigir austeridade e rigor, ou seja, exigir que se trabalhe no sentido de resolver o problema que está na origem dos desequilíbrios (excesso de dívida) e não se limitar a empurrar o problema para as gerações futuras.
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O que nos fez partir para ceuta foi exactamente a crise economica de Portugal na altura.
O que nos fez partir para as descobertas, principalmente para a india, foi o transporte de mercadorias, que até então era dominado pelos arabes.
Mas tormamos-nos na altura a maior potÊncial mundial no comercio.
Depois vieram outras borlas como o Brasil e Africa, que nos deram fortunas colossais.
Por exemplo, sabiam que os dois JUMBOS que a TAP teve na decada de 70, foram comprados com o comercio de Marfim ?
Pois, até 1974, Africa teve um papel chave na economia nacional.
Acabou Africa ficamos sem recursos.
Macau também foi uma rasoalvel fonte de rendimentos com os casinos.Mas se fosse houve cobria mais de metade do nosso defice.Os chineses são viciados no jogo.Gastam fortunas.Uma vez falei com um tipo que disse-me que um chinês riquissimo, perdeu 500 milhoes de euros numa noite no casino, e ficou na boa.Mas ao que parece isso nem beliscou a sua fortuna.
Por exemplo, os EUA só depois da 1 guerra mundial se comecaram o tornar uma potÊncia mundial.Até lá era um país mediocre e agricula.No inicio do seculo XX as grandes potências eram Inglaterra e a França.
Por isso, estamos a atravessar um ciclo da nossa vida como nação.Temos que nos ir safando, e acima de tudo maximizarmos aquilo em que somos bons.A desenrascar.O que é o mesmo que inovar.
Só necessitamos de uma coisa:
Deixarmos de ter a mania da grandeza.
O que nos fez partir para as descobertas, principalmente para a india, foi o transporte de mercadorias, que até então era dominado pelos arabes.
Mas tormamos-nos na altura a maior potÊncial mundial no comercio.
Depois vieram outras borlas como o Brasil e Africa, que nos deram fortunas colossais.
Por exemplo, sabiam que os dois JUMBOS que a TAP teve na decada de 70, foram comprados com o comercio de Marfim ?
Pois, até 1974, Africa teve um papel chave na economia nacional.
Acabou Africa ficamos sem recursos.
Macau também foi uma rasoalvel fonte de rendimentos com os casinos.Mas se fosse houve cobria mais de metade do nosso defice.Os chineses são viciados no jogo.Gastam fortunas.Uma vez falei com um tipo que disse-me que um chinês riquissimo, perdeu 500 milhoes de euros numa noite no casino, e ficou na boa.Mas ao que parece isso nem beliscou a sua fortuna.
Por exemplo, os EUA só depois da 1 guerra mundial se comecaram o tornar uma potÊncia mundial.Até lá era um país mediocre e agricula.No inicio do seculo XX as grandes potências eram Inglaterra e a França.
Por isso, estamos a atravessar um ciclo da nossa vida como nação.Temos que nos ir safando, e acima de tudo maximizarmos aquilo em que somos bons.A desenrascar.O que é o mesmo que inovar.
Só necessitamos de uma coisa:
Deixarmos de ter a mania da grandeza.
_x_ Escreveu:Ferradura, lá porque uns estão mal, não somos obrigados a estar mal tambem, a não ser por incuria, desleixo ou incompetência.
Podia-mos estar como os Filandeses os Dinamarqueses ou Canadianos e não estamos porque?
Não sei se são mais espertos ou se tem mais capacidade de adaptação, se calhar, são mais competentes.
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Ferradura, lá porque uns estão mal, não somos obrigados a estar mal tambem, a não ser por incuria, desleixo ou incompetência.
Podia-mos estar como os Filandeses os Dinamarqueses ou Canadianos e não estamos porque?
Não sei se são mais espertos ou se tem mais capacidade de adaptação, se calhar, são mais competentes.
Podia-mos estar como os Filandeses os Dinamarqueses ou Canadianos e não estamos porque?
Não sei se são mais espertos ou se tem mais capacidade de adaptação, se calhar, são mais competentes.
_X_
John Maynard Keynes
The capitalist economy is not real, it is simply a delusion that keeps the masses enchained to their social bondage.
É sempre muito falível projetar cenários não acontecidos.
John Maynard Keynes
The capitalist economy is not real, it is simply a delusion that keeps the masses enchained to their social bondage.
É sempre muito falível projetar cenários não acontecidos.
-Quero deixar uma questão:
Se os portugueses são assim tão estupidos e incompetentes...porque razão os EUA, a Italia, a França, a Inglaterra, a Espanha, a Grecia estão com iguais problemas de defice e divida publica ?
-Se o mundo está mal, nós não vamos aumentar as nossas exportações.
Não será antes o sistema economico/financeiro que foi implementado nestes últimos 40 anos que acabou ?
Será que crescimento é significado de saude financeira ?
Será que manter, um sistema, não será só por si uma virtude ?
Se os portugueses são assim tão estupidos e incompetentes...porque razão os EUA, a Italia, a França, a Inglaterra, a Espanha, a Grecia estão com iguais problemas de defice e divida publica ?
-Se o mundo está mal, nós não vamos aumentar as nossas exportações.
Não será antes o sistema economico/financeiro que foi implementado nestes últimos 40 anos que acabou ?
Será que crescimento é significado de saude financeira ?
Será que manter, um sistema, não será só por si uma virtude ?
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Não é por ser mais fácil que se diz mal das pessoas, quando são incompetentes há que dizer o que tem de ser dito, e que os há neste governo. Não é por serem da nossa cor politica que vamos meter a mão por baixo, estamos numa situação difícil e não há tempo para ensinar uns meninos a ser ministros. Quanto às ideias, seria mais fácil num governo de minoria, chegar a um maior consenso com outras propostas. Com um governo de maioria e intransigente é bastante difícil aceitarem ideias. Como não concordo com a maioria das decisões, se os vir a cair saio da frente, até esticava o pé se dependesse de mim. Desculpem a sinceridade. 

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A ocupação da maioria das pessoas, incluindo opinion-makers, comentadores e jornalistas, parece ser de descobrir os responsáveis por tudo de mau que acontece.
Qual o sentido desta busca? Irá resolver algum problema?
K. , excelente post. Longe de ser politicamente correcto, mas um grande, grande post.
P.S. É bem mais fácil perseguir as pessoas, dizer mal de tudo e de todos do que encontrar soluções.
Realmente procurar culpados não soluciona os atuais problemas, mas se não se começar a fazer pela culpabilização dos políticos , estaremos sempre a buscar soluções para as burradas e a corrupção.
Uma coisa não invalida a outra.Há que se buscar legislação para responsabilizar políticos e também há que buscar soluções.
A330
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Re: Responsáveis: arrastar, enforcar e esquartejar?
TRock Escreveu:Se o estado e todo o sector publico pagasse o que deve à banca, não havia necessidade de fazer esta recapitalização e os bancos ficariam em condições de conceder crédito à economia.
Falta sustentar esta frase com números. Obviamente, as obrigações e títulos do tesouro não podem entrar nas contas.
Em relação ao post do K., volto a dizer aquela que é a minha opinião e que já escrevi noutro tópico qualquer:
- desconheço qual a crise financeira/bancária que tenha sido ultrapassada sem uma recapitalização da banca. Ora, não havendo investidores privados, recorre-se ao "capitalista de último recurso" - o Estado.
- o mercado interbancário jamais voltará a funcionar normalmente enquanto não houver confiança nos balanços dos bancos, pelo que é imperativo a contabilização dos activos a valores realistas.
- sem mercado interbancário não há crescimento sustentável da economia real, que por sua vez é fundamental que ocorra de modo a podermos pagar as nossas dívidas.
Relativamente às dúvidas levantadas sobre os perigos que a entrada do Estado no capital dos bancos poderá trazer para estes e para a economia em geral, partilho dos receios.
Mas tenho ainda mais receio do que poderia acontecer caso os bancos não se recapitalizassem.
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Re: Responsáveis: arrastar, enforcar e esquartejar?
TRock Escreveu:Totalmente de acordo com a questão da recapitalização dos bancos.
Se o estado e todo o sector publico pagasse o que deve à banca, não havia necessidade de fazer esta recapitalização e os bancos ficariam em condições de conceder crédito à economia.
O estado pagar o que deve mas apenas o que já ultrapassou o prazo. Todos os outros empréstimos devem ser pagos nos prazos acordados.
Editado pela última vez por acintra em 15/11/2011 13:55, num total de 1 vez.
Um abraço e bons negócios.
Artur Cintra
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Re: Responsáveis: arrastar, enforcar e esquartejar?
Totalmente de acordo com a questão da recapitalização dos bancos.
Se o estado e todo o sector publico pagasse o que deve à banca, não havia necessidade de fazer esta recapitalização e os bancos ficariam em condições de conceder crédito à economia.
Já quanto ao "não vale a pena apontar o dedo nem fazer nada aos responsaveis" não estou mesmo de acordo.
Responsaveís há muitos, mas estes ultimos que nos desgovernaram durante os ultimos anos e que por pura teimosia, vaidade e ambição pessoal (sempre postas acima dos interesse do país e de todos nós) não só nada fizeram para inverter o rumo como nos levaram a passos largos para o abismo, esses bem que merecem
Literalmente, mesmo. É que esses hipotecaram a nossas vidas, as dos nossos filhos e provavelemnte dos nossos netos em meia dúzia de anos. Não há castigo bastante para eles.
Se o estado e todo o sector publico pagasse o que deve à banca, não havia necessidade de fazer esta recapitalização e os bancos ficariam em condições de conceder crédito à economia.
Já quanto ao "não vale a pena apontar o dedo nem fazer nada aos responsaveis" não estou mesmo de acordo.
Responsaveís há muitos, mas estes ultimos que nos desgovernaram durante os ultimos anos e que por pura teimosia, vaidade e ambição pessoal (sempre postas acima dos interesse do país e de todos nós) não só nada fizeram para inverter o rumo como nos levaram a passos largos para o abismo, esses bem que merecem
K. Escreveu:**A antiga pena capital em Inglaterra, onde, depois de ser arrastado por um cavalo, o enforcamento era lento o suficiente para manter o condenado consciente na parte do esquartejamento-tradicionalmente a fase mais apreciada pela multidão que a estas execuxões assistia).
Literalmente, mesmo. É que esses hipotecaram a nossas vidas, as dos nossos filhos e provavelemnte dos nossos netos em meia dúzia de anos. Não há castigo bastante para eles.

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Pois, como sempre metemos a cabeça na areia e deixamos os responsaveis andar por ai todos contentes e Milionários.
Pior, deixamos essas maças podres continuar a infectar o nosso pomar.
Mas pronto, ja estou habituado a esta solução.
A questão não é o Estado pagar o que deve (o que deveria fazer sem qualquer duvida) , afinal supostamente o Estado é uma pessoa de bem , mas os outros são todos gatunos.
Muito se fala das dividas do Estado e etc, mas eu não vejo na lista dos credores do Estado nenhum nome, logo parece que esta tudo em ordem, porque nao aparecem la os nomes? E so jogadas por baixo do pano? Assim uns nao se podem diferenciar dos outros! Andou tudo nas mesmas negociatas!
A Banca emprestou a empresas mais que falidas , pois tinham o "aval" do Estado, ora o Estado nunca pode falir pois tem 10.000.000 de contribuintes, estes pagam nem que morram a fome. Logo, nao interessa se a empresa sempre foi insolvente , alguém vai pagar!
Com as camaras foi igual e pior com o própio Estado foi igual, andaram a comprar OT com juros brutais (logo, impossiveis de pagar) , mas como davam enooormes rendimentos e como sempre tinha o aval dos 10.000.000 .
Eu tb conheço muita gente que foi aos ctt comprar , não foi para ajudar o Estado, nem para "salvar" o País como muitos dizem por ai , foi pq pagavam , e bem. E depois tinham a garantia dos outros 9.999.999.
Sejamos coerentes, andava tudo a ganhar . O problema foi quando acabou a mama (ou seja , o cash). Todos, mas todos sem excepção levaram o País a este buraco.
Pior, deixamos essas maças podres continuar a infectar o nosso pomar.
Mas pronto, ja estou habituado a esta solução.
A questão não é o Estado pagar o que deve (o que deveria fazer sem qualquer duvida) , afinal supostamente o Estado é uma pessoa de bem , mas os outros são todos gatunos.
Muito se fala das dividas do Estado e etc, mas eu não vejo na lista dos credores do Estado nenhum nome, logo parece que esta tudo em ordem, porque nao aparecem la os nomes? E so jogadas por baixo do pano? Assim uns nao se podem diferenciar dos outros! Andou tudo nas mesmas negociatas!
A Banca emprestou a empresas mais que falidas , pois tinham o "aval" do Estado, ora o Estado nunca pode falir pois tem 10.000.000 de contribuintes, estes pagam nem que morram a fome. Logo, nao interessa se a empresa sempre foi insolvente , alguém vai pagar!
Com as camaras foi igual e pior com o própio Estado foi igual, andaram a comprar OT com juros brutais (logo, impossiveis de pagar) , mas como davam enooormes rendimentos e como sempre tinha o aval dos 10.000.000 .
Eu tb conheço muita gente que foi aos ctt comprar , não foi para ajudar o Estado, nem para "salvar" o País como muitos dizem por ai , foi pq pagavam , e bem. E depois tinham a garantia dos outros 9.999.999.
Sejamos coerentes, andava tudo a ganhar . O problema foi quando acabou a mama (ou seja , o cash). Todos, mas todos sem excepção levaram o País a este buraco.
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Tambem não estou de acordo com a direcção que isto está a levar.
Na minha opinião antes dos bancos terem de recorrer ao fundo devia ser pago pelo estado todos os empréstimos que já chegaram aos respectivos prazos.
Os que ainda estão dentro do prazo deixava-os correr normalmente.
Depois disso via-se a necessidade da banca recorrer e a que montantes.
De certeza que já dava uma grande ajuda á banca, que a merece se já falamos de incumprimento, e alivia a tensão com o estado.
Na minha opinião antes dos bancos terem de recorrer ao fundo devia ser pago pelo estado todos os empréstimos que já chegaram aos respectivos prazos.
Os que ainda estão dentro do prazo deixava-os correr normalmente.
Depois disso via-se a necessidade da banca recorrer e a que montantes.
De certeza que já dava uma grande ajuda á banca, que a merece se já falamos de incumprimento, e alivia a tensão com o estado.
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Responsáveis: arrastar, enforcar e esquartejar?
A ocupação da maioria das pessoas, incluindo opinion-makers, comentadores e jornalistas, parece ser de descobrir os responsáveis por tudo de mau que acontece.
Qual o sentido desta busca? Irá resolver algum problema?
Que eu saiba não está em curso nenhum julgamento. Houve eleições em Junho. Aos que criticam continuamente a classe política, lembro uma frase atribuida a Platão:
"Quem não participa na Política está condenado a ser governado pelos seus inferiores".
Posto isto, vou tentar levar a discussão para o futuro. Afinal, este é um Fórum sobre especulação. E a especulação não é mais do que a nobre arte de pensar sobre o que não se conhece (neste caso, o futuro).
Uma discussão quente, na qual me tenho envolvido a vários níveis, é sobre a recapitalização dos bancos. A opinião pública tem sido orientada para discussões morais que estão muito longe da pergunta que deve ser feita:
-Como financiar a economia nacional sem aumentar o endividamento do estado para níveis insustentáveis?
A posição que defendo, e que começa a ter mais apoiantes, é de que a recapitalização dos bancos pelo estado é um erro fatal. Primeiro porque não é de todo necessária:
1) Caso o estado cumpra as suas obrigações de dívida, os bancos ficam bem capitalizados, mesmo com as novas exigências. Os problemas de capitalização devem-se à queda do valor das obrigações portuguesas e ao malparado de empresas públicas. Logo, se o estado não entrar em Default (e é para isso que está a pedir tantos sacrifícios) e se as empresas públicas pagarem o que devem, os bancos não precisam de ser nacionalizados.
2) Se o estado capitalizar os bancos, estará a assumir, à priori, que vai ser obrigado a reestruturar a dívida. Se o objectivo era financiar a Economia, então estamos mal. A reestruturação é o fim da linha.
3) A nacionalização dos bancos levaria a um buraco sem fundo no estado (daí a divida disparar para níveis insustentáveis). Seriam vários BPNs a sustentar. Isto porque:
3-a) O haircut na Grécia está a ser contabilizado como 50% quando na realidade (sem Eurobonds ou recompra) será próximo dos 100% (exactamente devido à necessidade de recapitalizar os bancos). Ou seja, os restantes 50% entravam na dívida do estado após a nacionalização.
3-b) A dívida de Portugal está a desconto de cerca de 20%. Um haircut teria de ser na casa dos 50% (pelo menos). Tal como na Grécia, a diferença seria suportada pelo estado.
3-c) O incumprimento do estado levaria ao incumprimento das empresas públicas-mais dívida a contabilizar.
3-c) O incumprimento do estado levaria a cortes de salários e pensões de tal ordem, que o malparado iria disparar-mais dívida.
Ou seja, ficaríamos na situação em que está a Grécia, onde para diminuir a dívida em 50% é necessário um haircut perto dos 100%! Será que alguém vê o que tal significaria?
4-A solução: ganhar tempo (como os bancos estão a tentar fazer):
4a. A estabilidade política e a dimensão dos problemas com a Itália e Grécia, retiraram Portugal do falatório internacional. Para alem disso, o BCE vai aliviar juros e injectar liquidez, o que vai ajudar as perspectivas.
4b. Os facores de 4a. podem levar a que o movimento de descida dos juros (iniciado na semana passada) se prolongue, como aconteceu na Irlanda no Verão.
4c. Se os juros em Portugal atingirem valores de solvência (como na Irlanda), a valorização das obrigações irá aumentar os racios dos bancos, ficando resolvida uma grande parte do problema sem necessidade de injecção de capital.
5. Numa fase intermédia, penso que a melhor forma de financiar as empresas seria uma linha de crédito directa com a Troika (para diminuir a probabilidade de o dinheiro ir parar às mãos erradas)
6. Numa altura em que tanto se critica a corrupção dentro do Estado, será aceitável que este controle os bancos? E depois os tachos, os favores, as aldrabices etc? A única coisa que se pode fazer em relação à corrupção, é não deixar que ela aconteça, pois depois de acontecer, não há nada a fazer, por muita vontade que haja de ver os responsáveis "arrastados, enforcados e no final esquartejados**"
**A antiga pena capital em Inglaterra, onde, depois de ser arrastado por um cavalo, o enforcamento era lento o suficiente para manter o condenado consciente na parte do esquartejamento-tradicionalmente a fase mais apreciada pela multidão que a estas execuxões assistia).
Qual o sentido desta busca? Irá resolver algum problema?
Que eu saiba não está em curso nenhum julgamento. Houve eleições em Junho. Aos que criticam continuamente a classe política, lembro uma frase atribuida a Platão:
"Quem não participa na Política está condenado a ser governado pelos seus inferiores".
Posto isto, vou tentar levar a discussão para o futuro. Afinal, este é um Fórum sobre especulação. E a especulação não é mais do que a nobre arte de pensar sobre o que não se conhece (neste caso, o futuro).
Uma discussão quente, na qual me tenho envolvido a vários níveis, é sobre a recapitalização dos bancos. A opinião pública tem sido orientada para discussões morais que estão muito longe da pergunta que deve ser feita:
-Como financiar a economia nacional sem aumentar o endividamento do estado para níveis insustentáveis?
A posição que defendo, e que começa a ter mais apoiantes, é de que a recapitalização dos bancos pelo estado é um erro fatal. Primeiro porque não é de todo necessária:
1) Caso o estado cumpra as suas obrigações de dívida, os bancos ficam bem capitalizados, mesmo com as novas exigências. Os problemas de capitalização devem-se à queda do valor das obrigações portuguesas e ao malparado de empresas públicas. Logo, se o estado não entrar em Default (e é para isso que está a pedir tantos sacrifícios) e se as empresas públicas pagarem o que devem, os bancos não precisam de ser nacionalizados.
2) Se o estado capitalizar os bancos, estará a assumir, à priori, que vai ser obrigado a reestruturar a dívida. Se o objectivo era financiar a Economia, então estamos mal. A reestruturação é o fim da linha.
3) A nacionalização dos bancos levaria a um buraco sem fundo no estado (daí a divida disparar para níveis insustentáveis). Seriam vários BPNs a sustentar. Isto porque:
3-a) O haircut na Grécia está a ser contabilizado como 50% quando na realidade (sem Eurobonds ou recompra) será próximo dos 100% (exactamente devido à necessidade de recapitalizar os bancos). Ou seja, os restantes 50% entravam na dívida do estado após a nacionalização.
3-b) A dívida de Portugal está a desconto de cerca de 20%. Um haircut teria de ser na casa dos 50% (pelo menos). Tal como na Grécia, a diferença seria suportada pelo estado.
3-c) O incumprimento do estado levaria ao incumprimento das empresas públicas-mais dívida a contabilizar.
3-c) O incumprimento do estado levaria a cortes de salários e pensões de tal ordem, que o malparado iria disparar-mais dívida.
Ou seja, ficaríamos na situação em que está a Grécia, onde para diminuir a dívida em 50% é necessário um haircut perto dos 100%! Será que alguém vê o que tal significaria?
4-A solução: ganhar tempo (como os bancos estão a tentar fazer):
4a. A estabilidade política e a dimensão dos problemas com a Itália e Grécia, retiraram Portugal do falatório internacional. Para alem disso, o BCE vai aliviar juros e injectar liquidez, o que vai ajudar as perspectivas.
4b. Os facores de 4a. podem levar a que o movimento de descida dos juros (iniciado na semana passada) se prolongue, como aconteceu na Irlanda no Verão.
4c. Se os juros em Portugal atingirem valores de solvência (como na Irlanda), a valorização das obrigações irá aumentar os racios dos bancos, ficando resolvida uma grande parte do problema sem necessidade de injecção de capital.
5. Numa fase intermédia, penso que a melhor forma de financiar as empresas seria uma linha de crédito directa com a Troika (para diminuir a probabilidade de o dinheiro ir parar às mãos erradas)
6. Numa altura em que tanto se critica a corrupção dentro do Estado, será aceitável que este controle os bancos? E depois os tachos, os favores, as aldrabices etc? A única coisa que se pode fazer em relação à corrupção, é não deixar que ela aconteça, pois depois de acontecer, não há nada a fazer, por muita vontade que haja de ver os responsáveis "arrastados, enforcados e no final esquartejados**"
**A antiga pena capital em Inglaterra, onde, depois de ser arrastado por um cavalo, o enforcamento era lento o suficiente para manter o condenado consciente na parte do esquartejamento-tradicionalmente a fase mais apreciada pela multidão que a estas execuxões assistia).
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