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Caldeirão da Bolsa

G20 dá última oportunidade à zona euro

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G20 dá última oportunidade à zona euro

por cesar1967 » 16/10/2011 12:48

Economia
G20 dá última oportunidade à zona euro

A zona euro tem 8 dias para por a casa em ordem. Se não, o FMI assumirá maior protagonismo na próxima cimeira do grupo dos 20 em Cannes a 3 e 4 de novembro.

Jorge Nascimento Rodrigues (www.expresso.pt)
12:19 Domingo, 16 de outubro de 2011

Os ministros das Finanças e banqueiros centrais do G20 colocaram o tema "crise europeia" à cabeça do comunicado de 8 pontos no final da reunião de Paris no sábado. O G20 é o grupo mundial que abarca as principais potências desenvolvidas e emergentes e que praticamente eclipsou da cena geopolítica mundial o G7 (o grupo formado pelos Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Canadá, a que se juntara em anos recentes a Rússia).

No segundo ponto do comunicado, o G20 dá uma oportunidade à zona euro até à cimeira europeia de 23 de outubro (sábado da próxima semana) para apresentar "um plano abrangente" que lide "decisivamente" com os "desafios em curso". A Reuters titulou mesmo um seu despacho com palavras muito diretas: "G20 diz à zona euro para resolver a crise da dívida em 8 dias".

No fundo, os ministros e banqueiros centrais do resto dos 20 esperam que os europeus "implementem" as decisões tomadas a 21 de julho na cimeira europeia que ficou célebre pelo alargamento das funções do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF), em que repousam as esperanças de conseguir evitar "contágios" (leia-se empurrar Itália e Espanha para o remoinho dos mercados financeiros até final do ano, evitar que a Bélgica se queime e a França e a Áustria percam a notação de crédito de triplo A e entrem em plano inclinado).

A oportunidade geopolítica do FMI

Se a cimeira falhar - recorde-se que Ângela Merkel disse, recentemente, que "não há soluções milagrosas" -, uma parte importante do G20 pretende dar ao Fundo Monetário Internacional (FMI) um papel liderante em todo este processo. A sua diretora-geral, Christine Lagarde, já o havia sugerido, na última reunião do FMI em 23 e 24 de setembro em Washington DC. Alguns gurus defendem o reforço do papel do FMI - como Raghuram Rajan, professor de Finanças na Booth School da Universidade de Chicago, num artigo sindicado publicado na edição deste sábado do Expresso.

O FMI, se a oportunidade ocorrer, aproveitará o momento, o que significará mais uma machadada no peso geopolítico da Europa. A favor deste protagonismo do FMI estão já, naturalmente, as potências emergentes - contra, por ora, os EUA, a Austrália e o Canadá, segundo referiu a Reuters. Um papel acrescido do FMI implicará mais fundos e para tal as potências emergentes pretendem ver concluída a reforma das quotas dentro da instituição decidida em 2010 e o alargamento do "cabaz" de divisas (por ora restringido ao dólar, euro, iene e libra) que suporta a moeda virtual do FMI, os direitos especiais de saque (SDR, no acrónimo em inglês), ainda que essa revisão esteja só prevista para 2015.

Tendo em consideração o caldeirão de contradições que é a Europa (entre os seus membros, entre dignitários das instituições europeias, entre a banca privada e os políticos, entre os banqueiros centrais entre si e com os políticos, entre eleitorados com interesses contraditórios em pequenos e grandes países) e o tempo que leva a concretizar decisões (a das novas funções do FEEF levou 3 meses até à recente votação parlamentar em Bratislava, na Eslováquia, a última dos 27 membros da UE), o comunicado do G20 apela ao FMI para considerar "novas formas de fornecer, caso a caso, liquidez de curto prazo para os países enfrentando choque exógenos, incluindo sistémicos" e apresentar propostas concretas na cimeira do G20 em Cannes em 3 e 4 de novembro. Um das ideias que tem sido aventada é a criação de um veículo financeiro especial; outra, a emissão de títulos especiais pelo FMI.

Sistema bancário em alerta vermelho

O outro ponto crítico que o G20 abordou foi a questão da situação do sistema bancário. A probabilidade elevada de um default seletivo da Grécia até final do ano e de uma cascata de efeitos sobre os investidores privados internacionais (nem gregos ou cipriotas, nem da troika formada pelo BCE, FMI, União Europeia e empréstimos europeus bilaterais) assusta os mercados financeiros.

Os investidores privados internacionais detêm 36,4% da dívida grega - €125,9 mil milhões. O processo poderá, depois, colocar em linha a reestruturação seletiva de outras dívidas soberanas e desencadear vários eventos no mercado dos credit default swaps e de financiamento das dívidas soberanas, bem como no sistema bancário mundial exposto às dívidas soberanas europeias. A "cauda longa" desta exposição é desconhecida e, como casos como o Dexia franco-belga e o Erste Group austríaco revelam, pode ser muito mais "gorda" do que se julga.

Por isso, o G20 pretende que "os bancos estejam adequadamente capitalizados e tenham acesso suficiente a financiamentos para lidar com os riscos atuais". Um dos planos aguardados é, naturalmente, o de recapitalização da banca europeia, cujos cálculos variam entre €192-228 mil milhões (segundo um estudo de Constantin Gurdgiev, professor do Trinity College em Dublin, referido ao Expresso) e €275 mil milhões, segundo contas do Morgan Stanley divulgadas pelo Financial Times.

Mas o G20 não se fica por essa intervenção de curto prazo - reclamada, desde setembro, por Christine Lagarde. Aponta a questão crítica da "reforma do sector financeiro", em que dois pontos são referidos: os mercados de derivados e a redução dos riscos colocados pelas instituições financeiras consideradas "sistemicamente importantes" (mais um acrónimo inventado, o dos SIFIs - systemically important financial institutions). Entre as medidas que poderão desagradar ainda mais aos banqueiros privados está um adicional de 1 a 2,5% para além dos 7% de rácio de capital mínimo a exigir aos bancos de grande dimensão. O que, no concreto, significará "grande banco" está em discussão - fala-se em 28 bancos nesse rol mundial, mas o G20 poderá aumentar o número para 50, segundo a Reuters.

Ainda recentemente, a agência de notação Fitch referia a vulnerabilidade dos modelos de negócio dos bancos que designou como "bancos globais universais".

O temor do triple-dip

Finalmente, o G20 aborda o problema dos desequilíbrios mundiais na ótica que o economista John Maynard Keynes colocava há décadas atrás. Uma estratégia decisiva contra a crise financeira e económica não pode ser colocada só nos ombros dos países com défices comerciais e orçamentais, etiquetados como os maus da fita, ou porque importam em demasia ou porque se endividam de mais.

Os países avançados e emergentes com excedentes nas suas balanças têm de entrar em campo, frisa, claramente, o comunicado dos ministros das Finanças e banqueiros do G20. De contrário, corremos o risco do que o Lorde Robert Skidelsky, o guardião inglês da memória de Keynes, já batizou de triple-dip - uma dupla recaída, numa nova recessão nos países desenvolvidos (o que tem sido batizado de double-dip) associada a um regresso ao pânico financeiro.
 
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