A minha reacção à revolta dos portugueses
Re: A minha reacção à revolta dos portugueses
Metallising Escreveu:Não vou dizer nada de novo, mas só para mostrar o ponto de vista, vejamos um exemplo prático:
Imagine-se que a Siemens produzia telefones numa fábrica na Alemanha. Então, o salário pago pela Siemens aos operários, seria dinheiro que iria continuar a circular dentro da Alemanha. Se a Siemens exportasse cada telefone por 100euros, então, cada telefone vendido seriam 100euros limpos a entrarem no país.
Agora imagine-se que os mesmos telefones eram produzidos na China. A cada telefone vendido por 100euros, apenas 80euros limpos entrariam na Alemanha uma vez que 20euros teriam sido gastos na China em mão de obra. No final, embora a Siemens continue a poder vender o produto ao mesmo preço, inevitavelmente há dinheiro que sai país.
Conta essa à Apple!
Metallising Escreveu:Nem a propósito, a Alemanha é de longe o país mais industrializado da Europa, logo, é de longe a maior economia da Europa.
A Alemanha é a maior economia da Europa porque são 80 e tal milhões. Os outros a seguir, UK e França, são mais pequenos.
Em termos de PIB per capita (que de facto indica a produtividade por pessoa) estão em 19º no mundo ao nível de França, UK e Japão.
Editado pela última vez por atomez em 15/10/2011 2:22, num total de 1 vez.
As pessoas são tão ingénuas e tão agarradas aos seus interesses imediatos que um vigarista hábil consegue sempre que um grande número delas se deixe enganar.
Niccolò Machiavelli
http://www.facebook.com/atomez
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Re: A minha reacção à revolta dos portugueses
Atomez Escreveu:Em qualquer país desenvolvido, pelo menos mais desenvolvido que este, grosso modo os da OCDE, a agricultura representa menos de 5% e a indústria menos de 20% da economia quer em termos de PIB quer em termos de emprego.
Nos países mais desenvolvidos o sector de serviços representa 3/4 ou mais da economia. O chamados "países industrializados" são de facto... países de serviços!
É precisamente por essa razão, pelo facto dos países do ocidente se terem desindustrializado transferindo as indústrias para a Ásia Oriental, que neste momento se assiste a uma transferência de poder económico do ocidente para o oriente.
Não vou dizer nada de novo, mas só para mostrar o ponto de vista, vejamos um exemplo prático:
Imagine-se que a Siemens produzia telefones numa fábrica na Alemanha. Então, o salário pago pela Siemens aos operários, seria dinheiro que iria continuar a circular dentro da Alemanha. Se a Siemens exportasse cada telefone por 100euros, então, cada telefone vendido seriam 100euros limpos a entrarem no país.
Agora imagine-se que os mesmos telefones eram produzidos na China. A cada telefone vendido por 100euros, apenas 80euros limpos entrariam na Alemanha uma vez que 20euros teriam sido gastos na China em mão de obra. No final, embora a Siemens continue a poder vender o produto ao mesmo preço, inevitavelmente a Alemanha lucra menos 20euros com a venda de cada telefone.
Nem a propósito, a Alemanha é de longe o país mais industrializado da Europa, logo, é de longe a maior economia da Europa.
Editado pela última vez por Visitante em 15/10/2011 2:16, num total de 1 vez.
Re: A minha reacção à revolta dos portugueses
Atomez Escreveu:Metallising Escreveu:Sem os sectores que são a base de qualquer economia, não há forma de gerar emprego/salários.
...
E agora qual é a solução? Até podia parecer simples: Agricultura e Indústria!
Completamente errado! Isso era no séc. XIX, já estamos no XXI.
Em qualquer país desenvolvido, pelo menos mais desenvolvido que este, grosso modo os da OCDE, a agricultura representa menos de 5% e a indústria menos de 20% da economia quer em termos de PIB quer em termos de emprego.
Nos países mais desenvolvidos o sector de serviços representa 70% ou mais da economia. O chamados "países industrializados" são de facto... países de serviços!
(Ver aqui a lista de países ordenada por peso dos serviços na economia)
O nosso problema não é esse, o problema é que os serviços que produzimos são de baixa especialização, baixo valor acrescentado e portanto com baixa produtividade e praticamente não exportamos serviços.
Ainda assim Portugal tem alguns sectores de serviços competitivos a nível mundial:
- turismo
- distribuição (supermercados, centros comerciais)
- telecomunicações
- banca
- futebol (não riam porque é verdade, em termos económicos é que não tem grande expressão)
Olhando para os países em desenvolvimento e crescimento no mundo actual quem parece estar em melhor condição e sobretudo com melhores perspectivas futuras com sustentabilidade são os países com mais industria e agricultura dado a procura exponencial à escala global.
Pelo contrário os países com a economia assente no sectores dos serviços são os que actualmente passam por grandes dificuldades e tempos de austeridade, sendo que algumas das maiores economias do mundo ameaçam a bancarrota e tempos ainda mais difíceis do que aqueles que possamos imaginar actualmente.
Eu sempre tive dificuldade em perceber como é que um pais pode desenvolver-se com a maioria da sua economia com base nos serviços e pouca industria sem que isso implique grandes desequilíbrios a longo-prazo. Em economias de grande escala é discutivel, mas em economias frágeis e pequenas como a nossa é uma utopia e pura ilusão.
Hoje sabemos como isso é possível e quais as consequências, dividas maciças acumuladas dos Estados e por fim bancarrota em catadupa... Estamos a falar do Ocidente do Hemisfério Norte, em tempos sinonimo de desenvolvimento e progresso mundial, hoje ninguém é capaz de adivinhar o futuro a 6 meses sequer!..
Re: A minha reacção à revolta dos portugueses
Atomez Escreveu:Metallising Escreveu:Sem os sectores que são a base de qualquer economia, não há forma de gerar emprego/salários.
...
E agora qual é a solução? Até podia parecer simples: Agricultura e Indústria!
Completamente errado! Isso era no séc. XIX, já estamos no XXI.
Em qualquer país desenvolvido, pelo menos mais desenvolvido que este, grosso modo os da OCDE, a agricultura representa menos de 5% e a indústria menos de 20% da economia quer em termos de PIB quer em termos de emprego.
Nos países mais desenvolvidos o sector de serviços representa 3/4 ou mais da economia.
O nosso problema não é esse, o problema é que os serviços que produzimos são de baixa especialização, baixo valor acrescentado e portanto com baixa produtividade e praticamente não exportamos serviços.
Ainda assim Portugal tem alguns sectores de serviços competitivos a nível mundial:
- turismo
- distribuição (supermercados, centros comerciais)
- telecomunicações
- banca
- futebol (não riam porque é verdade, em termos económicos é que não tem grande expressão)
Em parte tens razão temos de facto alguns serviços competitivos. Mas o que o Metallising diz também é correcto, e não estará assim tão completamente errado como tu afirmas.
Primeiro porque nem todos os estudos/estatisticas modernos estão sempre certos, se assim fosse os problemas atuais teriam sido previstos e os futuros não existiriam.
Segundo porque qualquer país evoluído ou não precisa de uma agricultura forte e competitiva, não fosse da agricultura que sai os produtos mais básicos para vivermos.
Terceiro porque estamos no séc. XXI mas temos de voltar ao séc. XIX, quem sabe

Nunca digas nunca.
Abraço
Abraço
Re: A minha reacção à revolta dos portugueses
Atomez Escreveu:Em qualquer país desenvolvido, pelo menos mais desenvolvido que este, grosso modo os da OCDE, a agricultura representa menos de 5% e a indústria menos de 20% da economia quer em termos de PIB quer em termos de emprego.
Sim, é verdade, mas vale a pena ver os números à lupa. Assim ao acaso, comparemos Alemanha, Holanda, França, Espanha e Portugal (os dados são do CIA World Factbook):
ALEMANHA
GDP - composition by sector:
agriculture: 0.9%
industry: 27.8%
services: 71.3% (2010 est.)
Labor force - by occupation:
agriculture: 2.4%
industry: 29.7%
services: 67.8% (2005)
HOLANDA
GDP - composition by sector:
agriculture: 2.6%
industry: 24.9%
services: 72.5% (2010 est.)
Labor force - by occupation:
agriculture: 2%
industry: 18%
services: 80% (2005 est.)
FRANÇA
GDP - composition by sector:
agriculture: 2%
industry: 18.5%
services: 79.5% (2010 est.)
Labor force - by occupation:
agriculture: 3.8%
industry: 24.3%
services: 71.8% (2005)
ESPANHA
GDP - composition by sector:
agriculture: 3.3%
industry: 26%
services: 70.7% (2010 est.)
Labor force - by occupation:
agriculture: 4.2%
industry: 24%
services: 71.7% (2009 est.)
PORTUGAL
GDP - composition by sector:
agriculture: 2.4%
industry: 22.9%
services: 74.7% (2010 est.)
Labor force - by occupation:
agriculture: 11.7%
industry: 28.5%
services: 59.8% (2009 est.)
Como facilmente se percebe a partir destes números, a agricultura de Portugal tem um peso no PIB que compara bem com a média dos 4 outros países referidos, mas a proporção de pessoas que trabalha nesse sector é QUATRO VEZES SUPERIOR.
Estes números ilustram bem a nossa falta de produtividade.
O presidente Cavaco apela a que os jovens se dediquem à agricultura. Não faria mais sentido apelar a uma maior produtividade por parte da enorme massa de gente que já trabalha nesse sector?
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Re: A minha reacção à revolta dos portugueses
Metallising Escreveu:Sem os sectores que são a base de qualquer economia, não há forma de gerar emprego/salários.
...
E agora qual é a solução? Até podia parecer simples: Agricultura e Indústria!
Completamente errado! Isso era no séc. XIX, já estamos no XXI.
Em qualquer país desenvolvido, pelo menos mais desenvolvido que este, grosso modo os da OCDE, a agricultura representa menos de 5% e a indústria menos de 20% da economia quer em termos de PIB quer em termos de emprego.
Nos países mais desenvolvidos o sector de serviços representa 70% ou mais da economia. O chamados "países industrializados" são de facto... países de serviços!
(Ver aqui a lista de países ordenada por peso dos serviços na economia)
O nosso problema não é esse, o problema é que os serviços que produzimos são de baixa especialização, baixo valor acrescentado e portanto com baixa produtividade e praticamente não exportamos serviços.
Ainda assim Portugal tem alguns sectores de serviços competitivos a nível mundial:
- turismo
- distribuição (supermercados, centros comerciais)
- telecomunicações
- banca
- futebol (não riam porque é verdade, em termos económicos é que não tem grande expressão)
Editado pela última vez por atomez em 15/10/2011 1:31, num total de 1 vez.
As pessoas são tão ingénuas e tão agarradas aos seus interesses imediatos que um vigarista hábil consegue sempre que um grande número delas se deixe enganar.
Niccolò Machiavelli
http://www.facebook.com/atomez
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Re: A minha reacção à revolta dos portugueses
Metallising Escreveu:Deixo aqui um pensamento que me ocorreu após chegar a casa e ler no facebook tantos comentários de raiva e revolta
"Porque é que os portugueses estão tão revoltados com a situação do país? Porque é que exigem emprego e salários altos? Olhando para o país onde vivem, no que é que se baseiam essas expectativas?
Porque haverão os portugueses fazer exigências quando vivem num país sem indústria e completamente dependente do exterior para importar bens tão essenciais como produtos agrícolas, um país que não gera qualquer tipo de riqueza nem é auto suficiente.
Portugal não tem sector primário (agricultura/matérias primas) nem secundário (transformação/indústria), só terciário (serviços). Sem os sectores que são a base de qualquer economia, não há forma de gerar emprego/salários.
Mesmo para quem não perceba nada de economia, deduz-se facilmente que um país que compra muito mais produtos do que aqueles que consegue vender, vai inevitavelmente entrar em saldo negativo.
E agora qual é a solução? Até podia parecer simples: Agricultura e Indústria!
Meter doutores e intelectuais que estudaram até aos 30 anos de enxada na mão? Isso pode parecer um problema, mas alguém lhes devia ter dito antes de se matricularem que se estavam a atirar de cabeça para o desemprego/precariedade.
Quanto à indústria, Portugal não reúne qualquer tipo de condições que possam atrair o investimento exterior, quem quer investir, investe onde os salários são baratos: Ásia Oriental. Investimento interno com que dinheiro? E produzir o quê?
E de quem é a culpa? Do governo (por favor... outra vez não...)? Do capitalismo? Ou simplesmente das expectativas demasiado altas sem fundamentos? Eu não estou revoltado com a situação do país, sinto-me antes um sortudo por ter vivido bem durante tanto tempo num país tão frágil.
Quanto a mim, acho que a curto-prazo a solução passa por políticas de proteccionismo (aquelas que a UE aceitar....) para fomentar o consumo interno e produção nacional.
Longo-prazo: Investimento no sector primário com participação de privados.
Investigação e investimento no sector das energias renováveis e a sua industrialização.
Escrevo este texto após chegar a casa e deparar-me com dezenas de posts no facebook a incitar manifestações, a queixar-se do governo, a queixar-se dos salários dos políticos, enfim, isso é "ruído", é para entreter o povo, duvido que seja essa a raiz do problema."
Tenho a mesma opinião. Manifestações para quê? Quase que aposto que vão lá estar sempre os mesmos. Que normalmente são os que nunca estão contentes com nada e por norma fazem pouco mais que os minimos.
Nunca digas nunca.
Abraço
Abraço
A minha reacção à revolta dos portugueses
Deixo aqui um pensamento que me ocorreu após chegar a casa e ler no facebook tantos comentários de raiva e revolta
"Porque é que os portugueses estão tão revoltados com a situação do país? Porque é que exigem emprego e salários altos? Olhando para o país onde vivem, no que é que se baseiam essas expectativas?
Porque haverão os portugueses fazer exigências quando vivem num país sem indústria e completamente dependente do exterior para importar bens tão essenciais como produtos agrícolas, um país que não gera qualquer tipo de riqueza nem é auto suficiente.
Portugal não tem sector primário (agricultura/matérias primas) nem secundário (transformação/indústria), só terciário (serviços). Sem os sectores que são a base de qualquer economia, não há forma de gerar emprego/salários.
Mesmo para quem não perceba nada de economia, deduz-se facilmente que um país que compra muito mais produtos do que aqueles que consegue vender, vai inevitavelmente entrar em saldo negativo.
E agora qual é a solução? Até podia parecer simples: Agricultura e Indústria!
Meter doutores e intelectuais que estudaram até aos 30 anos de enxada na mão? Isso pode parecer um problema, mas alguém lhes devia ter dito antes de se matricularem que se estavam a atirar de cabeça para o desemprego/precariedade.
Quanto à indústria, Portugal não reúne qualquer tipo de condições que possam atrair o investimento exterior, quem quer investir, investe onde os salários são baratos: Ásia Oriental. Investimento interno com que dinheiro? E produzir o quê?
E de quem é a culpa? Do governo (por favor... outra vez não...)? Do capitalismo? Ou simplesmente das expectativas demasiado altas sem fundamentos? Eu não estou revoltado com a situação do país, sinto-me antes um sortudo por ter vivido bem durante tanto tempo num país tão frágil.
Quanto a mim, acho que a curto-prazo a solução passa por políticas de proteccionismo (aquelas que a UE aceitar....) para fomentar o consumo interno e produção nacional.
Longo-prazo: Investimento no sector primário com participação de privados.
Investigação e investimento no sector das energias renováveis e a sua industrialização.
Escrevo este texto após chegar a casa e deparar-me com dezenas de posts no facebook a incitar manifestações, a queixar-se do governo, a queixar-se dos salários dos políticos, enfim, isso é "ruído", é para entreter o povo, duvido que seja essa a raiz do problema."
"Porque é que os portugueses estão tão revoltados com a situação do país? Porque é que exigem emprego e salários altos? Olhando para o país onde vivem, no que é que se baseiam essas expectativas?
Porque haverão os portugueses fazer exigências quando vivem num país sem indústria e completamente dependente do exterior para importar bens tão essenciais como produtos agrícolas, um país que não gera qualquer tipo de riqueza nem é auto suficiente.
Portugal não tem sector primário (agricultura/matérias primas) nem secundário (transformação/indústria), só terciário (serviços). Sem os sectores que são a base de qualquer economia, não há forma de gerar emprego/salários.
Mesmo para quem não perceba nada de economia, deduz-se facilmente que um país que compra muito mais produtos do que aqueles que consegue vender, vai inevitavelmente entrar em saldo negativo.
E agora qual é a solução? Até podia parecer simples: Agricultura e Indústria!
Meter doutores e intelectuais que estudaram até aos 30 anos de enxada na mão? Isso pode parecer um problema, mas alguém lhes devia ter dito antes de se matricularem que se estavam a atirar de cabeça para o desemprego/precariedade.
Quanto à indústria, Portugal não reúne qualquer tipo de condições que possam atrair o investimento exterior, quem quer investir, investe onde os salários são baratos: Ásia Oriental. Investimento interno com que dinheiro? E produzir o quê?
E de quem é a culpa? Do governo (por favor... outra vez não...)? Do capitalismo? Ou simplesmente das expectativas demasiado altas sem fundamentos? Eu não estou revoltado com a situação do país, sinto-me antes um sortudo por ter vivido bem durante tanto tempo num país tão frágil.
Quanto a mim, acho que a curto-prazo a solução passa por políticas de proteccionismo (aquelas que a UE aceitar....) para fomentar o consumo interno e produção nacional.
Longo-prazo: Investimento no sector primário com participação de privados.
Investigação e investimento no sector das energias renováveis e a sua industrialização.
Escrevo este texto após chegar a casa e deparar-me com dezenas de posts no facebook a incitar manifestações, a queixar-se do governo, a queixar-se dos salários dos políticos, enfim, isso é "ruído", é para entreter o povo, duvido que seja essa a raiz do problema."
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