Outros sites Medialivre
Caldeirão da Bolsa

A minha reacção à revolta dos portugueses

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

Re: A minha reacção à revolta dos portugueses

por atomez » 15/10/2011 2:14

Metallising Escreveu:Não vou dizer nada de novo, mas só para mostrar o ponto de vista, vejamos um exemplo prático:

Imagine-se que a Siemens produzia telefones numa fábrica na Alemanha. Então, o salário pago pela Siemens aos operários, seria dinheiro que iria continuar a circular dentro da Alemanha. Se a Siemens exportasse cada telefone por 100euros, então, cada telefone vendido seriam 100euros limpos a entrarem no país.

Agora imagine-se que os mesmos telefones eram produzidos na China. A cada telefone vendido por 100euros, apenas 80euros limpos entrariam na Alemanha uma vez que 20euros teriam sido gastos na China em mão de obra. No final, embora a Siemens continue a poder vender o produto ao mesmo preço, inevitavelmente há dinheiro que sai país.

Conta essa à Apple!

Metallising Escreveu:Nem a propósito, a Alemanha é de longe o país mais industrializado da Europa, logo, é de longe a maior economia da Europa.

A Alemanha é a maior economia da Europa porque são 80 e tal milhões. Os outros a seguir, UK e França, são mais pequenos.

Em termos de PIB per capita (que de facto indica a produtividade por pessoa) estão em 19º no mundo ao nível de França, UK e Japão.
Editado pela última vez por atomez em 15/10/2011 2:22, num total de 1 vez.
As pessoas são tão ingénuas e tão agarradas aos seus interesses imediatos que um vigarista hábil consegue sempre que um grande número delas se deixe enganar.
Niccolò Machiavelli
http://www.facebook.com/atomez
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 5852
Registado: 4/11/2002 22:48
Localização: Entre Marte e Vénus

Re: A minha reacção à revolta dos portugueses

por Metallising_ » 15/10/2011 2:10

Atomez Escreveu:Em qualquer país desenvolvido, pelo menos mais desenvolvido que este, grosso modo os da OCDE, a agricultura representa menos de 5% e a indústria menos de 20% da economia quer em termos de PIB quer em termos de emprego.

Nos países mais desenvolvidos o sector de serviços representa 3/4 ou mais da economia. O chamados "países industrializados" são de facto... países de serviços!


É precisamente por essa razão, pelo facto dos países do ocidente se terem desindustrializado transferindo as indústrias para a Ásia Oriental, que neste momento se assiste a uma transferência de poder económico do ocidente para o oriente.

Não vou dizer nada de novo, mas só para mostrar o ponto de vista, vejamos um exemplo prático:

Imagine-se que a Siemens produzia telefones numa fábrica na Alemanha. Então, o salário pago pela Siemens aos operários, seria dinheiro que iria continuar a circular dentro da Alemanha. Se a Siemens exportasse cada telefone por 100euros, então, cada telefone vendido seriam 100euros limpos a entrarem no país.

Agora imagine-se que os mesmos telefones eram produzidos na China. A cada telefone vendido por 100euros, apenas 80euros limpos entrariam na Alemanha uma vez que 20euros teriam sido gastos na China em mão de obra. No final, embora a Siemens continue a poder vender o produto ao mesmo preço, inevitavelmente a Alemanha lucra menos 20euros com a venda de cada telefone.


Nem a propósito, a Alemanha é de longe o país mais industrializado da Europa, logo, é de longe a maior economia da Europa.
Editado pela última vez por Visitante em 15/10/2011 2:16, num total de 1 vez.
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 198
Registado: 21/7/2010 12:52
Localização: 16

Re: A minha reacção à revolta dos portugueses

por JMHP » 15/10/2011 1:54

Atomez Escreveu:
Metallising Escreveu:Sem os sectores que são a base de qualquer economia, não há forma de gerar emprego/salários.
...
E agora qual é a solução? Até podia parecer simples: Agricultura e Indústria!

Completamente errado! Isso era no séc. XIX, já estamos no XXI.

Em qualquer país desenvolvido, pelo menos mais desenvolvido que este, grosso modo os da OCDE, a agricultura representa menos de 5% e a indústria menos de 20% da economia quer em termos de PIB quer em termos de emprego.

Nos países mais desenvolvidos o sector de serviços representa 70% ou mais da economia. O chamados "países industrializados" são de facto... países de serviços!

(Ver aqui a lista de países ordenada por peso dos serviços na economia)

O nosso problema não é esse, o problema é que os serviços que produzimos são de baixa especialização, baixo valor acrescentado e portanto com baixa produtividade e praticamente não exportamos serviços.

Ainda assim Portugal tem alguns sectores de serviços competitivos a nível mundial:

- turismo
- distribuição (supermercados, centros comerciais)
- telecomunicações
- banca
- futebol (não riam porque é verdade, em termos económicos é que não tem grande expressão)


Olhando para os países em desenvolvimento e crescimento no mundo actual quem parece estar em melhor condição e sobretudo com melhores perspectivas futuras com sustentabilidade são os países com mais industria e agricultura dado a procura exponencial à escala global.

Pelo contrário os países com a economia assente no sectores dos serviços são os que actualmente passam por grandes dificuldades e tempos de austeridade, sendo que algumas das maiores economias do mundo ameaçam a bancarrota e tempos ainda mais difíceis do que aqueles que possamos imaginar actualmente.

Eu sempre tive dificuldade em perceber como é que um pais pode desenvolver-se com a maioria da sua economia com base nos serviços e pouca industria sem que isso implique grandes desequilíbrios a longo-prazo. Em economias de grande escala é discutivel, mas em economias frágeis e pequenas como a nossa é uma utopia e pura ilusão.

Hoje sabemos como isso é possível e quais as consequências, dividas maciças acumuladas dos Estados e por fim bancarrota em catadupa... Estamos a falar do Ocidente do Hemisfério Norte, em tempos sinonimo de desenvolvimento e progresso mundial, hoje ninguém é capaz de adivinhar o futuro a 6 meses sequer!..
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 1659
Registado: 19/5/2009 18:26
Localização: 12

Re: A minha reacção à revolta dos portugueses

por asrael » 15/10/2011 1:37

Atomez Escreveu:
Metallising Escreveu:Sem os sectores que são a base de qualquer economia, não há forma de gerar emprego/salários.
...
E agora qual é a solução? Até podia parecer simples: Agricultura e Indústria!

Completamente errado! Isso era no séc. XIX, já estamos no XXI.

Em qualquer país desenvolvido, pelo menos mais desenvolvido que este, grosso modo os da OCDE, a agricultura representa menos de 5% e a indústria menos de 20% da economia quer em termos de PIB quer em termos de emprego.

Nos países mais desenvolvidos o sector de serviços representa 3/4 ou mais da economia.

O nosso problema não é esse, o problema é que os serviços que produzimos são de baixa especialização, baixo valor acrescentado e portanto com baixa produtividade e praticamente não exportamos serviços.

Ainda assim Portugal tem alguns sectores de serviços competitivos a nível mundial:

- turismo
- distribuição (supermercados, centros comerciais)
- telecomunicações
- banca
- futebol (não riam porque é verdade, em termos económicos é que não tem grande expressão)


Em parte tens razão temos de facto alguns serviços competitivos. Mas o que o Metallising diz também é correcto, e não estará assim tão completamente errado como tu afirmas.
Primeiro porque nem todos os estudos/estatisticas modernos estão sempre certos, se assim fosse os problemas atuais teriam sido previstos e os futuros não existiriam.
Segundo porque qualquer país evoluído ou não precisa de uma agricultura forte e competitiva, não fosse da agricultura que sai os produtos mais básicos para vivermos.
Terceiro porque estamos no séc. XXI mas temos de voltar ao séc. XIX, quem sabe :wink: .
Nunca digas nunca.

Abraço
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 461
Registado: 2/2/2010 1:35
Localização: Viseu

Re: A minha reacção à revolta dos portugueses

por Elias » 15/10/2011 1:30

Atomez Escreveu:Em qualquer país desenvolvido, pelo menos mais desenvolvido que este, grosso modo os da OCDE, a agricultura representa menos de 5% e a indústria menos de 20% da economia quer em termos de PIB quer em termos de emprego.


Sim, é verdade, mas vale a pena ver os números à lupa. Assim ao acaso, comparemos Alemanha, Holanda, França, Espanha e Portugal (os dados são do CIA World Factbook):



ALEMANHA
GDP - composition by sector:
agriculture: 0.9%
industry: 27.8%
services: 71.3% (2010 est.)

Labor force - by occupation:
agriculture: 2.4%
industry: 29.7%
services: 67.8% (2005)


HOLANDA
GDP - composition by sector:
agriculture: 2.6%
industry: 24.9%
services: 72.5% (2010 est.)

Labor force - by occupation:
agriculture: 2%
industry: 18%
services: 80% (2005 est.)


FRANÇA
GDP - composition by sector:
agriculture: 2%
industry: 18.5%
services: 79.5% (2010 est.)

Labor force - by occupation:
agriculture: 3.8%
industry: 24.3%
services: 71.8% (2005)


ESPANHA
GDP - composition by sector:
agriculture: 3.3%
industry: 26%
services: 70.7% (2010 est.)

Labor force - by occupation:
agriculture: 4.2%
industry: 24%
services: 71.7% (2009 est.)


PORTUGAL
GDP - composition by sector:
agriculture: 2.4%
industry: 22.9%
services: 74.7% (2010 est.)

Labor force - by occupation:
agriculture: 11.7%
industry: 28.5%
services: 59.8% (2009 est.)


Como facilmente se percebe a partir destes números, a agricultura de Portugal tem um peso no PIB que compara bem com a média dos 4 outros países referidos, mas a proporção de pessoas que trabalha nesse sector é QUATRO VEZES SUPERIOR.

Estes números ilustram bem a nossa falta de produtividade.

O presidente Cavaco apela a que os jovens se dediquem à agricultura. Não faria mais sentido apelar a uma maior produtividade por parte da enorme massa de gente que já trabalha nesse sector?
 
Mensagens: 35428
Registado: 5/11/2002 12:21
Localização: Barlavento

Re: A minha reacção à revolta dos portugueses

por atomez » 15/10/2011 1:15

Metallising Escreveu:Sem os sectores que são a base de qualquer economia, não há forma de gerar emprego/salários.
...
E agora qual é a solução? Até podia parecer simples: Agricultura e Indústria!

Completamente errado! Isso era no séc. XIX, já estamos no XXI.

Em qualquer país desenvolvido, pelo menos mais desenvolvido que este, grosso modo os da OCDE, a agricultura representa menos de 5% e a indústria menos de 20% da economia quer em termos de PIB quer em termos de emprego.

Nos países mais desenvolvidos o sector de serviços representa 70% ou mais da economia. O chamados "países industrializados" são de facto... países de serviços!

(Ver aqui a lista de países ordenada por peso dos serviços na economia)

O nosso problema não é esse, o problema é que os serviços que produzimos são de baixa especialização, baixo valor acrescentado e portanto com baixa produtividade e praticamente não exportamos serviços.

Ainda assim Portugal tem alguns sectores de serviços competitivos a nível mundial:

- turismo
- distribuição (supermercados, centros comerciais)
- telecomunicações
- banca
- futebol (não riam porque é verdade, em termos económicos é que não tem grande expressão)
Editado pela última vez por atomez em 15/10/2011 1:31, num total de 1 vez.
As pessoas são tão ingénuas e tão agarradas aos seus interesses imediatos que um vigarista hábil consegue sempre que um grande número delas se deixe enganar.
Niccolò Machiavelli
http://www.facebook.com/atomez
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 5852
Registado: 4/11/2002 22:48
Localização: Entre Marte e Vénus

Re: A minha reacção à revolta dos portugueses

por asrael » 15/10/2011 1:14

Metallising Escreveu:Deixo aqui um pensamento que me ocorreu após chegar a casa e ler no facebook tantos comentários de raiva e revolta


"Porque é que os portugueses estão tão revoltados com a situação do país? Porque é que exigem emprego e salários altos? Olhando para o país onde vivem, no que é que se baseiam essas expectativas?

Porque haverão os portugueses fazer exigências quando vivem num país sem indústria e completamente dependente do exterior para importar bens tão essenciais como produtos agrícolas, um país que não gera qualquer tipo de riqueza nem é auto suficiente.
Portugal não tem sector primário (agricultura/matérias primas) nem secundário (transformação/indústria), só terciário (serviços). Sem os sectores que são a base de qualquer economia, não há forma de gerar emprego/salários.
Mesmo para quem não perceba nada de economia, deduz-se facilmente que um país que compra muito mais produtos do que aqueles que consegue vender, vai inevitavelmente entrar em saldo negativo.

E agora qual é a solução? Até podia parecer simples: Agricultura e Indústria!
Meter doutores e intelectuais que estudaram até aos 30 anos de enxada na mão? Isso pode parecer um problema, mas alguém lhes devia ter dito antes de se matricularem que se estavam a atirar de cabeça para o desemprego/precariedade.

Quanto à indústria, Portugal não reúne qualquer tipo de condições que possam atrair o investimento exterior, quem quer investir, investe onde os salários são baratos: Ásia Oriental. Investimento interno com que dinheiro? E produzir o quê?

E de quem é a culpa? Do governo (por favor... outra vez não...)? Do capitalismo? Ou simplesmente das expectativas demasiado altas sem fundamentos? Eu não estou revoltado com a situação do país, sinto-me antes um sortudo por ter vivido bem durante tanto tempo num país tão frágil.

Quanto a mim, acho que a curto-prazo a solução passa por políticas de proteccionismo (aquelas que a UE aceitar....) para fomentar o consumo interno e produção nacional.
Longo-prazo: Investimento no sector primário com participação de privados.
Investigação e investimento no sector das energias renováveis e a sua industrialização.

Escrevo este texto após chegar a casa e deparar-me com dezenas de posts no facebook a incitar manifestações, a queixar-se do governo, a queixar-se dos salários dos políticos, enfim, isso é "ruído", é para entreter o povo, duvido que seja essa a raiz do problema."


Tenho a mesma opinião. Manifestações para quê? Quase que aposto que vão lá estar sempre os mesmos. Que normalmente são os que nunca estão contentes com nada e por norma fazem pouco mais que os minimos.
Nunca digas nunca.

Abraço
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 461
Registado: 2/2/2010 1:35
Localização: Viseu

A minha reacção à revolta dos portugueses

por Metallising_ » 15/10/2011 0:58

Deixo aqui um pensamento que me ocorreu após chegar a casa e ler no facebook tantos comentários de raiva e revolta


"Porque é que os portugueses estão tão revoltados com a situação do país? Porque é que exigem emprego e salários altos? Olhando para o país onde vivem, no que é que se baseiam essas expectativas?

Porque haverão os portugueses fazer exigências quando vivem num país sem indústria e completamente dependente do exterior para importar bens tão essenciais como produtos agrícolas, um país que não gera qualquer tipo de riqueza nem é auto suficiente.
Portugal não tem sector primário (agricultura/matérias primas) nem secundário (transformação/indústria), só terciário (serviços). Sem os sectores que são a base de qualquer economia, não há forma de gerar emprego/salários.
Mesmo para quem não perceba nada de economia, deduz-se facilmente que um país que compra muito mais produtos do que aqueles que consegue vender, vai inevitavelmente entrar em saldo negativo.

E agora qual é a solução? Até podia parecer simples: Agricultura e Indústria!
Meter doutores e intelectuais que estudaram até aos 30 anos de enxada na mão? Isso pode parecer um problema, mas alguém lhes devia ter dito antes de se matricularem que se estavam a atirar de cabeça para o desemprego/precariedade.

Quanto à indústria, Portugal não reúne qualquer tipo de condições que possam atrair o investimento exterior, quem quer investir, investe onde os salários são baratos: Ásia Oriental. Investimento interno com que dinheiro? E produzir o quê?

E de quem é a culpa? Do governo (por favor... outra vez não...)? Do capitalismo? Ou simplesmente das expectativas demasiado altas sem fundamentos? Eu não estou revoltado com a situação do país, sinto-me antes um sortudo por ter vivido bem durante tanto tempo num país tão frágil.

Quanto a mim, acho que a curto-prazo a solução passa por políticas de proteccionismo (aquelas que a UE aceitar....) para fomentar o consumo interno e produção nacional.
Longo-prazo: Investimento no sector primário com participação de privados.
Investigação e investimento no sector das energias renováveis e a sua industrialização.

Escrevo este texto após chegar a casa e deparar-me com dezenas de posts no facebook a incitar manifestações, a queixar-se do governo, a queixar-se dos salários dos políticos, enfim, isso é "ruído", é para entreter o povo, duvido que seja essa a raiz do problema."
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 198
Registado: 21/7/2010 12:52
Localização: 16

Anterior

Quem está ligado:
Utilizadores a ver este Fórum: afcapitao, cali010201, Dc team, Google Adsense [Bot], paul_invest, PAULOJOAO, Pmart 1 e 409 visitantes