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Caldeirão da Bolsa

O que é que os credores teriam a ganhar?

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por Pata-Hari » 26/5/2011 7:06

Lion, ficam os dois. A banca compra para os fundos que são detidos pelos clientes (mas esses são património autónomo e são mesmo dos clientes). O problema neste caso tem a ver com a parte que pertence mesmo às carteiras dos bancos e portanto aos seus capitais próprios que garantem solvabilidade.
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por Lion_Heart » 26/5/2011 2:00

Mas quem fica a perder? É a banca ou a quem a banca vendeu essas obrigações nas suas mais variadas formas?

E que fico sempre confuso nestas questões, pois a banca é dona de tudo mas os clientes que la investem nos n fundos , obrigações , acçoes , ppr e etc. não parecem ser donos de nada.

Em ultimo caso quem fica a arder são os clientes ou não será assim?
" Richard's prowess and courage in battle earned him the nickname Coeur De Lion ("heart of the lion")"

Lion_Heart
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por K. » 25/5/2011 21:41

Caro migluso,

Interessante. Esta mesmo no limite, trocar as maturidades mantendo os juros.

Nao e uma reestruturacao no sentido duro.

O problema e outro. Suponhamos extender o prazo de uma OT Dezembro de 2011 sem aumentar o juro para OT Dezembro de 2013. O credor, se tiver informacao antecipada, pode neutralizar a divida com CDS de Dezembro de 2011.

E o emissor de CDS de 2011?

Tambem vai ter de dilatar a proteccao ate 2013, mas para neutralizar a posicao vendendo obrigacoes a descoberto, seria obrigado a vender OTs Dezembro de 2013 aos precos actuais...

Ou seja, dilatar prazos em paises onde o mercado de CDS e gigantesco comparado com o valor da divida (como Portugal e Grecia) isto levaria muitas carteiras em situacao de neutralidade face ao risco a assumirem perdas instantaneas.

Para alem do fcato de os emissores de naked CDS Gregos serem em grande parte Gregos (uma bomba atomica, razao tinha Buffet...).

As agencias de rating iriam certamente anunciar o Default.

A melhor solucao seria a mutualizacao da divida (inevitavel se houver um Bear Raid na Italia). Caso seja impossivel, a unica solucao e levar ate ao fim o seguinte esquema

1) Recomprar a divida a precos actuais do mercado com o dinheiro do FEEF e FMI, que passam assim a ser os credores principais.


2) A estrategia de 1) tem um efeito duplo, pois limpa progressivamente os balancos dos portfolios dos bancos e fundos e reduz a divida em ate 40% na Grecia e em 20% em Portugal.

3) A estrategia de 1) cria uma situacao complicada ao concentrar a divida em prazos curtos em paises potencialmente insolventes. Aqui (provavelmente dentro de 2 ou 3 anos) sera necessario uma renegociacao.


4)O problema e que a Alemanha obrigou a criacao de um mecanismo que nao permite que a renegociacao fosse feita exclusivamente com o FEEF (isto eliminaria o risco de colapso dos emissores de CDS, pois essa divida nao e negociada nem tem derivados). A imposicao da Alemanha obriga a que, apos 2013, qualquer renegociacao feita com o FEEF obriga a uma renegociacao com os privados.

5)Como a renegociacao com os privados seria sempre considerada uma reestruturacao, os riscos de destruicao da zona Euro sao enormes.

6) A Alemanha nao pode deixar o Euro cair. Ou seja, caso as dividas nao sejam mutualizadas nem as regras do FEEF alteradas, vai ser necessario recomprar TODA a divida PIG. Obviamente que isto e uma mutualizacao dissimulada (por razoes eleitoralistas). As medidas de austeridade impostas aos PIG sao irrelevantes. Servem apenas para acalmar a Schadenfreude (nao existe traducao em Portugal, aconselho a Wikipedia) do povo alemao.

Nota~Em minha opiniao, a Alemanha e totalmente responsavel pela actual situacao. A Franca colaborou e ja se arrependeu mas nao actua. No pior cenario a maior prejudicada sera a Alemanha.

Sounds familiar?


Cumprimentos,

K.
 
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por migluso » 23/5/2011 18:42

Salvaguardando desde já as devidas (e profundas) diferenças, há casos de reestruturação que podem ser considerados um grande sucesso:

Finally, the market after the exchange does not show signals of strain against the country which was obliged to ask for debt relief.
Uruguay’s ability to tap the market at current post exchange yields five months after the exchange are the best proof that the “voluntary “ debt exchange was the best strategy available.


5 meses depois o Uruguai estava novamente no mercado, e de forma bem sucedida.

http://r0.unctad.org/dmfas/docs/steneri.pdf

Para os investidores, as palavras chave são "Net Present Value". Desde que não haja delapidação do seu capital, não haverá retaliações...

With the end of the crisis, the government of Uruguay worked cooperatively with their creditors to execute a voluntary debt exchange in May 2003. The exchange was a success. Payments were stretched out without a change in net present value, much different from the aggressive exchange that the IMF had recommended


http://www.stanford.edu/~johntayl/Onlin ... _Later.pdf
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por K. » 23/5/2011 12:29

A iniciativa de Vienna e baseada no principio da

Teoria de Jogos,

<<O Dilema do Prisioneiro>> (ha um artigo do PSG)

O que se passa e que se o jogo entre os credores e os devedores e um jogo de soma positiva (ambos ganham) se o pagamento for feito e um jogo de soma negativa (ambos perdem) se o pagamento nao for feito.

Assim o credor aumenta o prazo do emprestimo e aumenta as possibilidades de ser pago.

Nao sou adepto, devido aos riscos politicos envolvidos. Os politicos e os seus eleitores podem ver aqui algo parecido com uma reestruturacao.

A diferenca e que a reestruturacao obriga a um corte no valor da obrigacao, seja qual for a forma que seja feita.


Nada melhor que um pouco de Historia do Sec. XXI para melhor entender a diferenca,

Argentina, 2001:


1) Junho de 2001 (Iniciativa de Viena, mais coisa menos coisa)
<> Domingo Cavallo anuncia um Swap (troca) de maturidades voluntario, em que titulos de curto prazo poderiam ser trocados por outros de maturidades mais longas e com taxas de juro mais altas (sem perda do capital, portanto). Tudo pacifico.

2) Novembro de 2001 (Reestruturacao)

<> De La Rua (homem de pouca inteligencia) anuncia um Swap de maturidades em que as taxas de juro dos prazos mais elevados sao mais baixas. No dia seguinte as agencias de rating consideraram isto uma reesstruturacao e o caos comecou. Passados 10 anos ainda nao resolveram o problema. A Argentina passou do primeiro para o terceiro mundo e la ficou.


Como se pode ver, este assunto e da maxima IMPORTANCIA para o pais. Tudo o resto sao fait-divers.
 
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por Pata-Hari » 23/5/2011 7:26

Se a banca vender as quantidades que tem, encaixa uma menos valia tal que o seu capital próprio se evapora. Ora se o drama da europa é recapitalizar os bancos....

Nota que a banca neste caso foi investidor, sim, mas sem ela os estados não se teriam financiado também. E se houver problema na banca, há um problema nas tuas poupanças. E se isso acontecer, o estado tem que tentar salvar as tuas poupanças injectando mais dinheiro no sistema...blablabla blablabla.
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por rsacramento » 22/5/2011 22:07

Pata-Hari Escreveu:rsacramento, se as OTs fizerem default e estiverem no balanço dos bancos, é um prejuízo, um enorme buraco nas contas de todos os bancos que detiverem as mesmas. Se houver reescalonamento dos pagamentos, esse buraco em termos de capital não acontece. É uma diferença GIGANTE que pode significar a falência de alguns bancos em função do tamanho do default.


concerteza, mas a banca pode vender; repito: o que ganha não vendendo? ganha nas yields e na garantia do reembolso total, enquanto se vendesse seria abaixo do par? é isso?

como é que isto se relaciona com a recapitalização da banca? (parece que estou a ouvir a pata: se não pagarmos a banca fica a "arder")
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por Pata-Hari » 22/5/2011 21:53

rsacramento, se as OTs fizerem default e estiverem no balanço dos bancos, é um prejuízo, um enorme buraco nas contas de todos os bancos que detiverem as mesmas. Se houver reescalonamento dos pagamentos, esse buraco em termos de capital não acontece. É uma diferença GIGANTE que pode significar a falência de alguns bancos em função do tamanho do default.
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O que é que os credores teriam a ganhar?

por rsacramento » 22/5/2011 20:00

Bruxelas abre a porta a uma renegociação da dívida nacional

Olli Rehn reconhece que a recomendação dada a Portugal para convencer os credores a manterem dívida é uma porta aberta à renegociação.

O Comissário Olli Rehn reconheceu ontem que o apelo feito a Portugal para que convença os credores privados a manter a sua exposição à divida soberana nacional é uma porta aberta para a renegociação da dívida. Esta hipótese está a ser muito invocada para o caso da Grécia, como alternativa à reestruturação da dívida, mas o comissário lembrou o que esta solução foi plantada no programa para Portugal, no seguimento da condição imposta pela Finlândia.

"A reestruturação da dívida não está na mesa", garante Rehn. Mas "uma iniciativa do tipo da iniciativa de Viena, que tem como objectivo a manutenção da exposição dos credores privados pode ser feito na Grécia, tal como foi agora acordado para Portugal. Nesse contexto uma extensão voluntária de maturidades dos empréstimos, um reescalonamento ou renegociação numa base voluntaria também podem ser examinados".

No mínimo, o que esta cláusula implica é negociar os termos em que os maiores credores privados, nomeadamente a banca, se comprometem a não vender os seus títulos e a cumprir as maturidades. No máximo, é uma porta aberta à revisão de cada um dos termos do contrato de crédito. A iniciativa de Viena a que se refere o comissário foi a base com que se recapitalizou a banca de países como a Hungria, Roménia e Letónia a troco de uma reescalonamento e renegociação da dívida soberana desses países.

ficaram com as OTs o tempo todo (e mais algum, digo eu): em que é que isso recapitalizou a banca?

não li todo o artigo já que não sou assinante, mas estou perplexo...
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