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Caldeirão da Bolsa

Até tu, Brutus? por Pedro Santos Guerreiro

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

Até tu, Brutus? por Pedro Santos Guerreiro

por Pata-Hari » 5/3/2011 10:51

Até tu, Brutus?
04 Março2011 | 10:21
Pedro Santos Guerreiro - psg@negocios.ptPartilhar41

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Até tu, Brutus?





Há muito que sabíamos que os juros haveriam de subir, só não sabíamos quando. Sabemos agora: é já. Jean-Claude Trichet foi, ontem, um amigo da onça para Portugal. Mas, bem vistas as coisas, cá se fazem, cá se pagam.
Há muito que sabíamos que os juros haveriam de subir, só não sabíamos quando. Sabemos agora: é já. Jean-Claude Trichet foi, ontem, um amigo da onça para Portugal. Mas, bem vistas as coisas, cá se fazem, cá se pagam.

A declaração do presidente do Banco Central Europeu surpreendeu todos: a instituição admite subir já em Abril as taxas de juro directoras, ou seja, aquelas a que empresta dinheiro aos bancos. Foi um rastilho: imediatamente, as taxas de juro dos mercados para as dívidas públicas subiram, anulando, no caso português, o efeito tonificante que as declarações de Angela Merkel haviam tido na véspera.

Com a subida das taxas de juro directoras, sobem todas as outras: as dos Estados, as dos bancos, as Euribor que servem de referência aos créditos dos particulares e das empresas. Era mesmo o que nos faltava. E porquê isto? Por causa da inflação.

O aumento vertiginoso das matérias--primas em todo o mundo, incluindo do petróleo e da alimentação, está a provocar subidas dos preços que podem degenerar em aumentos da inflação que violem o sagrado limite de 2% do Banco Central Europeu. Há alguns dias, Trichet afirmara que não havia riscos desde que não houvesse "contágio" da inflação aos salários - o que é uma curiosa forma de dizer "se os salários não começarem a aumentar" -, o que retira competitividade às economias europeias. Foi por isso que o anúncio de ontem de que as taxas podem subir já em Abril apanhou toda a gente de surpresa.

Em 2008, à beira da falência e nacionalização de bancos, o Banco Central Europeu cometeu o erro histórico de aumentar taxas de juro para 4,25%. Meses depois, dar-se-ia uma acção concertada inédita de corte de taxas de juro entre vários bancos centrais, numa manobra de emergência para acudir a uma economia que se via subitamente pendurada num galho sobre um abismo.

Nos meses seguintes, assistir-se-ia a uma política de corte radical das taxas de juro, para os actuais 1% na Europa e até 0% nos Estados Unidos, tendo os bancos centrais das duas regiões despejado, de forma diferente, dinheiro para cima da economia como quem atira desesperadamente água sobre um incêndio à beira de se descontrolar.

Esta política de baixas taxas de juro aliviou os agentes económicos. Em Portugal, em 2009, ela produziu mesmo um aumento do poder de compra. Mas esse período está a chegar ao fim. Está na hora do fim desta ilusão do dinheiro que parece grátis (o que, na verdade, nunca aconteceu).

Essa será outra razão para este anúncio: não foram apenas os detentores de créditos à habitação que se habituaram a prestações mais baixas e que agora pasmarão mesmo se as taxas continuarem baixas, mas apenas menos. Foram também os bancos e alguns países, como Portugal, que se acomodaram no colo do BCE, que tem financiado as emissões de uns e dos outros. É preciso iniciar este desmame. Malditos juros.

PS: Definição na Wikipedia: "Um 'Argumentum ad hominem' (latim, 'argumento contra a pessoa') é uma falácia, ou erro de raciocínio, identificada quando alguém responde a algum argumento com uma crítica a quem fez o argumento, e não ao argumento em si."
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