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Caldeirão da Bolsa

Salvando Portugal?!

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por EuroVerde » 29/4/2011 23:24

Então Sr. Cem!!!

Portugal já se está a salvar?
O Sr. tem mais alguma novidade que queira actualizar connosco?
cumpr. :mrgreen:
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por Las_Vegas » 9/2/2011 21:12

Não ! isto não pode acabar assim :cry:

Queremos mais episódios !

Espero sinceramente que o amigo Cem dê continuidade a esta saga da qual sou um atento leitor.

Nem que seja preciso pagar :lol:

Solicito à administração que coloque aí no canto superior direito um daqueles links para o pessoal fazer doações que reverterão para uma conta a indicar pelo Cem.

Parabéns, a história está fantástica.
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por mfsr1980 » 9/2/2011 20:57

Não se pode elogiar e prontos...a história agora já não é para todos... :? :(
 
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Episódio 20 - Carta de despedimento

por Cem pt » 8/2/2011 8:36

Lisboa, 7 de Fevereiro de 2011, 21 H.

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Ao recolher à noite o correio do dia houve um sobrescrito que chamou de imediato a atenção do Cem, tinha no canto superior esquerdo a chancela da Presidência do Conselho de Ministros.

“Estranho”, pensou, “uma carta? Se me querem dizer alguma coisa porque não falam por telefone ou directamente comigo?”

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Depois de subir as escadas que davam acesso à sala de estar, abre vagarosamente o envelope, desdobra o conteúdo e começa a ler a carta que vinha assinada no final pelo próprio Primeiro, que quereria ele?

O Cem procede à sua leitura:

“Prezado Senhor,
Atenta a verificação hoje confirmada em pleno Conselho de Ministros de que a conta gerida por si, denominada “Salve Portugal!”, detém à presente data uma rentabilidade negativa, decorrido mais de um mês do início de movimentos na carteira em causa, o Conselho de Chefes hoje reunido decidiu:
1 ) Cancelar de forma irreversível a atribuição da gestão da referida conta à que era patrocinada pelo Senhor Cem, atendendo aos resultados desastrados e negativos que contrariaram em absoluto as esperanças depositadas nos retornos pretendidos.
2 ) Transferir a responsabilidade da mesma à atenção do Dr. João José Costa Santos, presentemente a exercer o cargo de Director dos Estudos de Assessoria Estratégicos Transversais do Ministério das Finanças, um reputado membro com provas dadas na liderança de contactos e gestão de recursos da inteira confiança política do Governo.
3 ) Agradecer ao Senhor Cem a disponibilidade que na altura manifestou na pretensão de contribuir para o enriquecimento e salvação do nosso País, solicitando-lhe que no interesse nacional continue a manter elevado sigilo acerca da existência da conta “Salve Portugal!”.
Com os melhores cumprimentos,
Atentamente reconhecido,
O Primeiro, ….”

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Naquela forma que lhe era estranha de transferir a conta secreta para um “boy”, que certamente iria gerir aquela verba extraordinária de acordo com os altos desígnios nacionais, o Cem concluiu o que na altura estava a pensar:

“Pois até que enfim, já era de esperar, posso resumir esta carta como tendo sido despedido por triste, indecente e má figura, ao menos agora ninguém mais me chateia!”

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Lisboa, 8 de Fevereiro, 3H.

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O “Salvador da Pátria” voltou a assinalar mais uma diferença que o obrigaria a modificar posições, desta vez o programa colocou todos os papéis com o indicador a zeros, um cenário inacreditável cuja probabilidade de ocorrência era quase impossível de acontecer.

O Cem corre para o telefone:

- Corretora, fechar todas as posições ao mercado!

Do outro lado, em vez da voz habitual do seu interlocutor dos mercados, ouve espantado a voz claramente bem identificada do Primeiro:

- Nem pense nisso, se você perde dinheiro nos mercados a nossa estratégia vai ser a de executar o contrário do que você diz, portanto vamos abrir todas as posições ao mercado!
Ah, ah, ah…

Aquele riso estridente fez com que o Cem acordasse repentinamente dum pesadelo com suores frios, de repente recordou-se que já não podia dar ordens na conta secreta, que barraca!

Acabava de se lembrar que tinha sido despedido por não conseguir pôr a conta em terreno positivo, uma vergonha de todo o tamanho.

O Cem sobressaltou-se, se estava a sonhar talvez a carta com o despedimento tivesse acontecido no sonho. Seria mesmo verdade?

----------

Calçou os chinelos de quarto e dirigiu-se à sala de estar.
Na escrivaninha onde guardava a correspondência, reparou no envelope bem ao cimo do pequeno monte das cartas recebidas.
Era mesmo o da Presidência do Conselho de Ministros que lera umas horas antes perto da altura de jantar, não havia qualquer dúvida, aquela louca e estranha aventura especulativa acabou mal começara.

----------

O Cem voltou para a cama, no dia seguinte teria mais um dia de trabalho árduo na sua profissão rotineira.

Foi como se um peso enorme lhe tivesse saído de cima, sentiu um tremendo alívio, naquelas circunstâncias estranhas apercebeu-se finalmente que não seria ele o salvador de Portugal

----------


FIM



[ FIM DA HISTÓRIA DE FICÇÃO NA VERSÃO NET ]
O autor não assume responsabilidades por acções tomadas por quem quer que seja nem providencia conselhos de investimento. O autor não faz promessas nem oferece garantias nem sugestões, limita-se a transmitir a sua opinião pessoal. Cada um assume os seus riscos, incluindo os que possam resultar em perdas.


Citações que me assentam bem:


Sucesso é a habilidade de ir de falhanço em falhanço sem perda de entusiasmo – Winston Churchill

Há milhões de maneiras de ganhar dinheiro nos mercados. O problema é que é muito difícil encontrá-las - Jack Schwager

No soy monedita de oro pa caerle bien a todos - Hugo Chávez


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por Ulrich » 5/2/2011 0:30

Viva Cem,
parabéns pela coragem da acidez da escrita.

Que bonito ver o "Gorongoza" a mostrar ,orgulhosamente, todo o seu potencial, parece um relógio atómico.

Abraços
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por mfsr1980 » 4/2/2011 23:12

É sempre um prazer ler esta novela, Cem!
:clap: :clap: :clap:
 
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Episódio 19 - Reunião do núcleo duro do Governo

por Cem pt » 4/2/2011 19:59

Lisboa, 4 de Fevereiro de 2011, 15H.

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A sova que o PS tinha apanhado nas últimas eleições Presidenciais obrigaram-no a repensar as grandes linhas estratégicas para continuar a boiar à superfície, leia-se agarrado ao Poder.

O Primeiro chamou ao seu gabinete os seus membros do núcleo duro: o seu Adjunto, mais conhecido pelo Chefe da Presidência PSP, as iniciais do seu nome, depois vinha o Chefe da Defesa, conhecido no exterior pelo uso da sua linguagem viperina, estava também presente o Lacazitos, que fazia a ligação à Assembleia da República para aprovar o que o Primeiro achasse que fosse importante, e finalmente marcava presença o Chefe das Finanças, o seu pesadelo de estimação.

Tinham de engendrar um plano para sair do buraco por cima e não se enterrarem ainda mais.

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O Primeiro em tom solene anuncia o objectivo da reunião:

- Caros companheiros e camaradas, estamos numa encruzilhada muito difícil, o Cavaco está-nos com um pó desgraçado e tudo por causa aqui do nosso amigo recém-convertido às causas militares.

O Chefe da Defesa levantou a mão para intervir mas o Primeiro nem lhe deu hipóteses:

- Calma, Doutor, nós subscrevemos o que você disse no passeio do Alegre mas pronto, como a moeda ao ar do que precisávamos de desabafar lhe calhou a si ficámos a torcer para que não descobrissem as nossas carecas, bastou que identificassem a sua.
À primeira escorregadela que tivermos vamos ter de gramar aquele diabólico Presidente, vocês viram aquele discurso infame no final das eleições?! Não duvidem, quando pusermos um pé em falso vai-nos dissolver de imediato a Assembleia e convocar novas eleições.

Todos acenaram afirmativamente, o Primeiro tinha sempre razão.
O discurso às massas continuou na sua voz pausada tonitruante:

- Ora, nós temos de arrastar esta situação o mais possível, quanto mais tempo passar mais a gente recupera nas sondagens para humilharmos aquele Passos Penteadinho, estou-lhe cá com um pó que vocês nem sabem.
Para isso é necessário cumprirmos um plano à risca para não darmos argumentos a que nos demitam.
Preciso portanto que me dêem cenários, que não podemos permitir que aconteçam, para o Presidente não dissolver a Assembleia e demitir o Governo.

O Lacazitos, o mais reguila do grupo, não dá hipóteses a que ninguém intervenha antes dele:

- Caro Primeiro, tem toda a razão, eu acho que temos de fingir que somos humildes e aceitar com desportivismo a banhada que os eleitores nos deram, mandamos cá para fora que vamos colaborar com o Presidente mas ao mesmo tempo devemos continuar a investigar, através dos nossos amigos que agora controlam o BPN, aquela troca dos terrenos pela vivenda e tentar lançar mais achas para a fogueira através do nosso novo grupo dos “media boys” do Rangedentes e do Soarocas, isso distraía a populaça e deixava-nos mais soltos para continuarmos a governar sem nos chatearem mais uns mesitos.
Entretanto tenho um plano genial, enquanto pensamos uma forma de nos safarmos desta crise vamos distrair as atenções com coisas que o povinho gosta de ouvir, que tal por exemplo diminuir o número de deputados?

O Primeiro concordou:

- Bravo, força com esse plano, mas nada de passar lá para fora que autorizei a diminuição do número de deputados senão os nossos “boys” e militantes das últimas 4 filas da Assembleia, que estão lá para bater palmas e levantar a mão para votar nas nossas propostas, não me voltavam a eleger nas próximas internas do Partido.
Coitados, a maior parte deles tem quase 8 anos de Parlamento, aquilo é um trabalho estafante de ir e vir todos os dias e sentarem-se no hemiciclo da Assembleia, merecem atingir a reforma por inteiro, foram-me sempre muito leais e obedientes e pelo menos são votos garantidos na minha reeleição.

O Chefe da Defesa intervém por caminho idêntico:

- É isso, estamos no ponto, há que baixar também o nosso tom de malhação à direita, da minha parte farei os impossíveis por convencer a opinião pública de que o Presidente é um nosso grande aliado, só assim lá iremos.
É sumamente desagradável ouvir o que se diz por aí que fui eu o principal detonador da raiva presidencial, então onde fica o Atacante de Moura, o dos pés de ballet para a dança crioula?
Que injustiça apontarem-me a dedo, logo eu que falo tão bem e com uma dicção pausada para todos entenderem de forma límpida, como é possível não descortinar à transparência as minhas diatribes sofismadas subtis que fui recuperar ao Caeiro do Pessoa e ao Almada Negreiros?

O Chefe da Presidência, calado por natureza, não se conteve:

- Pois claro colega, mas se não se põe a pau, ainda nos enviam lá de Bruxelas, para encher os nossos computadores através daquelas chatas das nossas rafeiras do Parlamento Europeu, a Estrelocas de Sintra e a Anocas Rottweiler, mensagens de correcção linguística e de mais denúncias de aviões militares dos States que transportaram à borla de avião para as Caraíbas mais uns amigalhaços do Bin Laden e nem sequer lhes demos de comer nem dar a provar o nosso tintol na paragem de escala nas Lajes.

Só faltava intervir o nosso herói, o ajuizado e sensato Chefe das Finanças:

- Bem, indo ao encontro daquilo que não podemos permitir que aconteça, eu acho que não podemos chamar nunca o FMI e ao mesmo tempo vamos ter de cumprir à risca o Orçamento de Estado de 2011, isso dá-nos folga para as pessoas esquecerem que foram massacradas até ao tutano em impostos e salários este ano porque o passar dos meses vai adormecer a crítica à nossa actuação.

Os colegas de Governo ouviam-no fascinados, apesar de ser um bronco rude com ar de avô cantigas, era de uma grande sensatez estratégica, mesmo na abordagem dum tema difícil como era a dureza dos sacrifícios impostos aos portugueses.
O Chefe das Finanças continuou a discorrer:

- As coisas podem ser controladas até ao último trimestre deste ano, mas aí vamos ter de enfrentar grandes obstáculos para recuperar o nosso eleitorado:
1) Esperar que o Benfica seja campeão para festejarmos o título com o Jorge Jesus e colocarmos do nosso lado 6 milhões de portugueses, mas a situação está difícil, talvez se forçarmos a Comissão de Árbitros através da nossa Secretaria dos Desportos, fazíamos aqui umas excepções e aumentávamos os salários como fez o Soarocas no Taguslândia;
2) Esperar que aquele idiota do Cem dê a volta ao texto e ponha a carteira secreta do “Salve Portugal!” a dar um lucro jeitoso nessa altura;
3) Quando tivermos de aprovar o Orçamento de 2012 e anunciarmos mais reduções de salários e aumentar mais impostos, aí vai ser muito complicado, não sei se nos vão chamar os “mubarakes” cá do sítio, tenho receio que o povo venha para a rua, para isso peço aqui ao nosso colega da Defesa que ponha os militares de prevenção para colocarem os tanques nas ruas…

O Primeiro começou a ficar preocupado, Portugal poderia passar por uma situação semelhante ao que estava o Egipto a passar?
Interpelou de chofre o Chefe da Defesa:

- Que me diz a esta situação, temos algum plano de contingência preparado?

O Chefe da Defesa já tinha reunido com os Chefes dos Estados-Maior, aquilo era canja:

- Sim, de facto está tudo planeado, pomos o nosso colega da Administração Interna e os polícias todos entretidos dentro dos gabinetes a descobrir o puzzle dos números de eleitor dos cidadãos com o novo cartão, assim a população escusa de se enraivecer com a sempre odiada polícia.
Deixamos assim o caminho livre aos nossos militares para irem para a rua ocupar os pontos estratégicos de Lisboa.
Entretanto já identificámos o perigo principal, está todo na grande massa dos trabalhadores da margem sul de Setúbal, Almada, Montijo e Barreiro.
Não podemos deixar que os bloquistas e comunas atravessem o Tejo para encher as ruas de Lisboa, para isso temos o nosso submarino Albacora meio camuflado, quase todo debaixo de água, já com a torre da metralhadora apontada para o céu na direcção da ponte 25 de Abril para impedir a marcha sobre Lisboa.
Depois vamos ter de entreter os militares que forem para as ruas.
Nesta altura o que temos de melhor para circular são uns blindados austríacos, equipados com pneus, que não conseguem disparar mísseis.
Até o presidente da Câmara me pediu por todos os santinhos que fossem eles a circular para não esburacar mais as ruas de Lisboa, já viram o prejuízo que seria para a autarquia se tivéssemos de asfaltar todas as ruas com o estrago provocado pelos rastos das lagartas de tanques? Olhem se mandássemos estes monstros para circular na cidade, já imaginaram? Só dão prejuízo, estragam as ruas e gastam muita gasosa.

Aqui o Chefe da Defesa fez uma pequena pausa para beber um refresco de limonada que ocupava o centro da mesa à disposição de todos, de seguida retomou a estratégia engendrada:

- Como não temos muito dinheiro para deixarmos a tropa sentada nos veículos em comezainas e jantaradas, uma vez que o que queremos é que nos protejam do povo, achamos por outro lado que vai ser muito difícil que o Benfica ganhe o campeonato de futebol, mas é muito possível que venha a ganhar o de “futsal”.
Para evitar que os militares se baldem, se os espalhássemos por toda a cidade e se misturassem em demasia com o povinho, com o perigo de se virarem contra nós, vamos concentrá-los todos num único ponto de Lisboa para estarem todos controlados, no Marquês de Pombal!
Para juntar o útil ao agradável convocamos a população para assistir a um jogo final de confraternização de “futsal” arbitrado pelo Eusébio no Marquês do Pombal entre o Benfas e as Forças Armadas, que tal?!
Pomos lá um campo improvisado com os tanques de pneus a formarem um rectângulo de jogo, para a bola não sair e fazer tabelas, mais o Jorge Jesus a comandar os benfiquistas para comemorarem o título, a populaça aos milhares faz por lá o carnaval habitual, oferece ela própria com a satisfação estampada na alma as bifanas, chouriça assada e cerveja a rodos à tropa e assim poupamos uma pipa de massa que pode dar jeito para atingirmos as metas do défice de 2011, fica tudo satisfeito e até se esquecem de nós…

O Primeiro estava impressionado:

- Brilhante, caro Doutor, com esse plano nunca o Presidente se lembraria de nos demitir, ah grande Jesus, e viva o Benfica!

Em uníssono os outros Chefes acompanharam-no com gritos entusiasmados com aquele extraordinário plano:

- Viva o Benfica!

O Primeiro à despedida chamou de lado PSP:

- Não se esqueça de que para facilitar as coisas temos de tratar dos árbitros, veja lá se nos novos Estatutos da FPF que vão ter de aprovar prometemos em troca aos árbitros a profissionalização que eles tanto pedem.
Já sei que vamos ter o nosso amigo Pintinho a praguejar contra os mouros, mas paciência, depois pomos lá outra vez no Porto a Elizinha com um cachecol do FCP a tentar arrebanhar os votos da tripeirada…

- Certo, meu Primeiro, não se preocupe, tomaremos providências…

O Chefe das Finanças que ficara para trás e ainda ouviu aquele desabafo final do Chefe dos Chefes e não pôde deixar de exclamar:

- Grande Eliz...

E calou-se para não denunciar o seu portismo primário militante.
O Primeiro virou-se para ele bastante intrigado:

- Que ía dizendo, caro Doutor?

O Chefe das Finanças corou mas teve de balbuciar uma desculpa idiota:

- Nada, meu caro Primeiro, com estes acontecimentos no Egipto, sobre o que nos podia acontecer de semelhante, lembrei-me de pensar na Cleópatra e no papel magnífico que foi representado pela Elizabeth Taylor! Era cá uma brasa muito apetitosa, não acha?

O Primeiro encolheu os ombros, não estava propriamente virado para pensar em mulherio.
O que ele sentia naquela altura era um grande orgulho de si próprio, havia de ficar para a História como alguém que os portugueses jamais iriam esquecer, isso fazia-o sentir ainda mais importante.
Apesar da crise tinha ali uma equipa muito dedicada e que trabalhava arduamente para o mesmo fim: escolhera uns verdadeiros resistentes para se manterem à tona de água, afinal não era o PS um Partido com tradição na luta pela resistência e pelo fim do fascismo?

“Quem se meter connosco”, meditou, relembrando as sábias palavras dum célebre ex-líder com nome de roedor, “leva!”

----------

Lisboa, 4 de Fevereiro, 18H 45M.


O programa desta vez reconheceu que metera água da grossa no EuroDollar, as coisas estavam a correr razoavelmente bem no par até há 3 dias atrás, só que nessa altura zás: toca a reforçar para a alavancagem máxima de x4 num nível em que o par estava a fazer máximos do ano, que frustração.
Tratou-se do componente “Gorongoza X” a dar o sinal de redução.

Agora o sistema de trading reconheceu o tiro mal dado e toca de recuar para a alavancagem antiga de x2, é a vida:

- Corretora, vender 500.000.000 EURUSD ao preço de mercado, para continuar comprado em metade da posição actual.

- Ok, operação de venda efectuada ao preço de 1,3584 USD/EUR.

Ora bolas, que raio andava o “Salvador da Pátria” a pensar quando se meteu naquelas acelerações suicidas?
O Cem não deixava de matutar:

“Pronto, dentro duns dias lá vou ter de novo aquele chato do Chefe das Finanças outra vez à perna com aquelas perguntas idiotas…”




[ Continua ]
Anexos
EURUSD SP_20110204.png
EURUSD SP_20110204.png (31.2 KiB) Visualizado 1874 vezes
EURUSD CB Gorongoza X 20110204.png
EURUSD CB Gorongoza X 20110204.png (23.98 KiB) Visualizado 1874 vezes
Editado pela última vez por Cem pt em 7/2/2011 17:14, num total de 2 vezes.
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Episódio 18 - Os primeiros indicadores técnicos

por Cem pt » 3/2/2011 20:21

Lisboa, 3 de Fevereiro de 2011

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O Cem reflectia agora acerca dos indicadores genéricos que usou dos anos 90 para cá.

Nessa altura os indicadores eram pouco sofisticados, com um grande “bull market” a impulsionar os mercados, qualquer indicador que desse sinal de compras era bom!
A razão era simples: o mercado tinha um sentido ascendente imparável.
Mesmo que houvesse uma data de sinais de venda quase todos muito prematuros, porque o mercado continuava a subir que nem um louco, as novas compras eram executadas a preços bastante superiores aos da última venda e mesmo assim continuava-se a ganhar dinheiro pelo simples facto da venda seguinte se situar num patamar ainda mais acima, bons tempos!

Em mercados tendenciais estes indicadores básicos eram umas verdadeiras máquinas!

A evolução dos conceitos de programação tinha entretanto mudado de forma substancial porque mais tarde constatou-se, com a crescente prevalência dos mercados lateralizados, que estes indicadores primitivos eram uma fonte de perdas sucessivas, umas atrás das outras.

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No início lembrava-se de ter feito uma espécie de concurso interno ao conjunto dos indicadores “default” que faziam parte do pacote que vinha com o programa base do Metastock.
Nessa altura o objectivo era simples e básico: encontrar o número de sessões de qualquer indicador que no final do somatório de muitas acções do mercado português que retornasse a maior rentabilidade possível.

Todos estes indicadores tinham uma particularidade comum: eram do tipo reactivo.
Isto é, adaptavam-se aos ditames das flutuações da cotação seguindo a direcção predominante do mercado já depois de ocorrer determinada subida ou descida num determinado número de sessões, em contraponto aos indicadores pró-activos que procuravam antecipar o fim de um determinado ciclo de subidas ou descidas, realmente é muito difícil prever a data e o valor aproximado do termo de uma tendência.

Ganhou nessa altura o campeonato interno dos melhores resultados o RVI(14) seguido do Aroon(14).
Esta molhada de letras aparentemente sem sentido quer dizer o seguinte:
- RVI(14) = Índice de Volatilidade Relativo de 14 sessões.
- Aroon(14) = Indicador de breakout Aroon de 14 sessões.

Para gerar uma ordem de compra a fim de ficar “longo” num determinado papel, cada um destes 2 indicadores tinha de estar com um sinal positivo.
Da mesma forma poderia assumir uma posição curta ou “short” se os 2 indicadores estivessem simultaneamente com um sinal negativo.

De que forma era atribuído um sinal positivo ou negativo em cada um destes indicadores?

Era simples, bastava programar as condições em que tal acontecia, dando a cada um deles um valor binário de “+1” ou “-1” consoante houvesse respectivamente um regime de tendência crescente ou decrescente.

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Para se programar em linguagem de Metastock as condições básicas para tal suceder efectuava-se uma tarefa simples na zona de programação dedicada ao efeito.

Tomando como referência o primeiro indicador atrás referido, atribuía um sinal positivo sempre que o RVI(14) ultrapassasse em subida a fasquia do nível 56 e um valor negativo desde que o RVI(14) viesse abaixo dos 44 pontos.

Este indicador básico RVI(14) dava origem a um novo indicador relacionado, que se tornava num componente auxiliar tendencial:

NOME:
Indicador Tendencial Auxiliar RVI

PROGRAMA:
If(RVI(14)>56,1,If(RVI(14)<44,-1,PREV))

Tirando esta linguagem de uma única linha a limpo, queria significar o seguinte:
- Sempre que o RVI de 14 sessões ultrapassar o valor de 56 pontos atribuímos ao “Indicador Tendencial Auxiliar RVI” o valor de “+1”.
- Por outro lado sempre que o RVI de 14 sessões baixar do valor de 44 pontos atribuímos ao “Indicador Tendencial Auxiliar RVI” o valor de “-1”.
- Finalmente, sempre que nenhuma das duas anteriores condições se verificar, deixamos que o “Indicador Tendencial Auxiliar RVI” mantenha o mesmo valor prévio.

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Pegando no “Aroon(14)” de seguida fazíamos com que nascesse nova componente auxiliar tendencial através de um novo indicador programado:

NOME:
Indicador Tendencial Auxiliar Aroon

PROGRAMA:
If(AroonUp(14)>70 AND AroonDown(14)<30,1,If(AroonUp(14)<30 AND AroonDown(14)>70,-1,PREV))

Traduzindo para uma linguagem terra a terra:
- Sempre que o AroonUp de 14 sessões estiver acima de 70 pontos e também o AroonDown com o mesmo número de sessões estiver abaixo de 30 pontos, atribuímos ao “Indicador Tendencial Auxiliar Aroon” o valor de “+1”.
- Por outro lado sempre que o AroonUp de 14 sessões estiver abaixo de 30 pontos e também o AroonDown com o mesmo número de sessões estiver acima de 70 pontos, atribuímos ao “Indicador Tendencial Auxiliar Aroon” o valor de “-1”.
- Se nenhuma das condições anteriores for verdadeira ao “Indicador Tendencial Auxiliar Aroon” continuará a ser atribuído o valor previamente calculado.

----------

Para obtermos o resultado pretendido final bastava só somar os valores binários dos 2 indicadores auxiliares:

NOME:
Indicador Antigo Tendencial Principal

PROGRAMA:
principal:=
Fml(“Indicador Tendencial Auxiliar RVI”)+ Fml(“Indicador Tendencial Auxiliar Aroon”);
auxiliarprincipal:=
If(principal=2,1,If(principal=-2,-1,PREV));
auxiliarprincipal;

Tirando a linguagem por miúdos o novo programa final quer dizer o seguinte:
- Definir uma variável interna, chamada “principal”, que é o somatório dos 2 programas anteriores definidos, podendo portanto nos extremos atingir valores de “+2” ou “-2” no caso de ambos os programas estarem simultaneamente positivos ou negativos, respectivamente.
- Definir nova variável interna, chamada “auxiliarprincipal”, que toma o valor de “+1” sempre que a variável “principal” retornar o valor “+2”.
- A mesma variável interna “auxiliarprincipal” tomará por outro lado o valor de “-1” sempre que a variável “principal” retornar o valor “-2”.
- A variável interna “auxiliarprincipal” manterá o valor prévio desde que a variável “principal” não satisfaça nenhuma das condições anteriores.
- Finalmente é dada uma instrução na última linha para “mostrar” no gráfico o valor da variável interna “auxiliarprincipal” que representa o valor atribuído ao novo “Indicador Antigo Tendencial Principal” acabado de programar.

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No caso concreto do Ouro, fica abaixo no 1º gráfico a curiosidade sobre o comportamento deste “Indicador Antigo Tendencial Principal”, podendo detectar-se que apenas nas alturas em que o Ouro se encontra claramente tendencial é possível ganhar alguma maquia.

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Lisboa, 3 de Fevereiro de 2011, 19H.

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O “Salvador da Pátria” pelos vistos não simpatizou muito tempo com as posições curtas recentes assumidas no Ouro, acabando hoje por ficar neutro na matéria-prima à espera de uma definição a curto prazo que convença o programa a decidir-se para que lado quer ir…

No caso concreto tratou-se de uma mudança na componente “Gorongoza X”, que assinala a perda potencial da força tendencial descendente que recentemente predominava no Ouro.

Quando assim é, resta fechar posições vendidas e aguardar por melhores dias:

- Corretora, comprar 478.445 onças de XAUEUR para fechar a posição curta na carteira.

- Ok, compra efectuada ao preço de 992,76 Euros por onça.

Enfim, menos um papel para nos preocuparmos no entretanto.




[ Continua ]
Anexos
XAUEUR IAT_20110203.png
XAUEUR IAT_20110203.png (16.5 KiB) Visualizado 1917 vezes
XAUEUR SP_20110203.png
XAUEUR SP_20110203.png (28.2 KiB) Visualizado 1911 vezes
XAUEUR CB Gorongoza X 20110203.png
XAUEUR CB Gorongoza X 20110203.png (30.94 KiB) Visualizado 1921 vezes
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Episódio 17 - Almoço do Cem com o Chefe das Finanças

por Cem pt » 2/2/2011 11:56

Lisboa, 1 de Fevereiro de 2011, 14H.

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Finalmente chegara o dia do almoço planeado, a convite do Chefe das Finanças, numa zona das redondezas da Assembleia da República.

Nas mesas em redor viam-se muitas caras conhecidas de deputados mais ligados ao espectro da Direita mas também vários apaniguados do Partido no Poder.

Naquele local certamente discutiam-se segredos de Estado e grandes negociatas que jamais passariam pela cabeça da maioria dos cidadãos, algo só comparado ao que se passava em S. Paulo aos almoços de fim-de-semana na Sociedade Hípica Paulista ou no antigo Royal Golf Club de Hong-Kong.

Estes são locais onde os novos candidatos a empresários pagam fortunas na jóia de adesão para se tornarem simples sócios com direito a frequentar as instalações e a travar conhecimento com os verdadeiros milionários e magnatas que controlam o mundo do dinheiro.

É nesses lugares estratégicos de eleição, num ambiente meio informal e descontraído à mesa dos almoços reservados à elite, que se estabelecem nos bastidores as linhas gerais e os princípios dos acordos de palavra de muitos dos grandes negócios que mais tarde ouvimos falar.

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Enquanto o chefe de mesa do “Conventual” retirava as campânulas de prata da entrada comum das 2 doses de camarões à guilho temperados apenas com sal e pedaços de alho tostado, para prevenir o perigo de salpicarem os convivas com o azeite fervilhante, via-se que o Chefe das Finanças estava realmente zangado, entrando logo a matar:

- Cem, ontem à noite o nosso Primeiro chamou-me ao seu gabinete para ver como estava a sua / nossa mega-carteira especulativa ao fim dum mês, como sabe é neste momento a nossa grande esperança para evitarmos recorrer ao FMI, o nosso Primeiro pretende perto do final do ano divulgar o plano por trás da campanha do “Vencer no futuro”, esperando discursar junto ao Jorge Jesus para celebrarem juntos a vitória do Benfica no campeonato juntamente com o sucesso dos grandes lucros da carteira.

O Chefe via-se que digeria cada camarão com um prazer redobrado, como que compensando o requinte do prato com uma raiva incontida do resto dos seus planos lhe estarem a sair furados:

- Olhe, liguei o acesso directo por computador antes de vir para cá e até me ía dando um baque! Então como é que explica que aquilo já vai com um retorno negativo a rondar os 3% e inclusivé já chegou a estar a perder 5,5%? Eu acho inacreditável que a carteira não tenha estado ao menos positiva um único dia desde que arrancou, você nem faz ideia das voltas que tivemos de dar para arranjar aquela massa toda! Que raio de gestor de carteiras é você? Apesar de se encontrar com ganhos no DAX e no EuroDollar, está a levar uma banhada das grandes no EuroIene e principalmente no Ouro, só nesta matéria-prima o seu prejuízo já ultrapassa os 50 milhões de Euros. Já viu o que podíamos dar de aumentos em prestações sociais só este ano com esse dinheiro? Olhe que não podemos destruir o nosso Estado social, isto é gravíssimo! Mas eu na altura avisei-o: venda o ouro, você é teimoso e não me quis ouvir...

O Chefe não largava a presa e voltou à carga:

- Quero, exijo uma explicação para esta verdadeira desgraça, o Primeiro até me sugeriu que se calhar o melhor é pararmos por aqui senão o valor da conta a este ritmo desaparece todo dentro de dois ou três anos, você já parece a minha mulher a fazer compras: o dinheiro desaparece num fósforo e eu nem sei como! Acalmei-o um pouco e disse-lhe que ainda íamos dar ao Cem mais uma pequena oportunidade para se redimir, mas olhe que só o consegui aguentar para já por um fio.

Como é que o Cem lhe podia explicar que uma conta deste tipo não podia ser vista numa base de crescimento sustentado com todos os meses a subir, que isso era impossível numa conta em regime de “position trading”?

“Ai, velhadas”, pensou para si mesmo, “que falta de paciência em explicar como se pode desenvolver uma linha de evolução de capital, então ele não sabe que existem “drawdowns” por todo o lado, uns maiores que outros?”

- Oiça, há que dar tempo ao tempo, por vezes os timings das tendências entram desfasados em regime “anti-trend” e pior ainda quando o programa de “trading” muda de sentido tendencial, isso coincide com os períodos em que a conta acumula necessariamente mais prejuízos, como aconteceu recentemente no Ouro…

- Ó Cem, eu não quero saber disso para nada, nem me interessa saber se o programa tem dessas coisas de “drawdowns” como você diz, estou-me marimbando para essas explicações, a única coisa que lhe exijo é que imediatamente você transforme a conta em lucros crescentes, foi esse o objectivo e é isso que tem de ser feito, portanto desenrasque-se!

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O bife de lombo com molho de natas que cada um pediu por ser um prato rápido, acompanhado de batatas fritas e bróculos gratinados num prato à parte, estava excelente, mas depois daquela conversa introdutória desagradável o prazer da degustação desapareceu.

Mesmo assim o Chefe das Finanças estava intrigado com o percurso de especulador do Cem, como é que tendo um emprego bem remunerado e exercendo cargos de responsabilidade numa grande empresa cotada em Bolsa, tinha enveredado por um “hobby” de tempos livres crivado de riscos?

O Cem não deixou de lhe abrir uma pequena janela por onde justificou parte da curiosidade, indicando que a sua profissão estava ligada às Engenharias:

- Sabe, mesmo nas profissões ligadas a outros sectores sem ser a Economia, com a responsabilidade acrescida de nos envolvermos em ramos de negócios muito diversos na actividade privada, acabamos com o passar dos anos por ser cada vez menos Engenheiros e cada vez mais Gestores.
Isso acarreta termos de nos sujeitar a períodos de autoformação intensos no campo das Ciências Económicas e da Gestão, pelo que nos anos 90 acabei também por me imiscuir nos mercados financeiros, acredite que aquilo foi uma verdadeira droga viciante que ficou, achei aquela história de comprar e vender uma coisa incerta uma actividade espectacular, o bichinho ficou e acabei por aprender muita coisa relacionada com este mundo da especulação.

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O Chefe estava mais calmo, mesmo assim não deixou de voltar a dar um remoque ao Cem à despedida do almoço:

- Bem, veja lá como vai evoluir a carteira daqui para a frente, olhe que eu tenho-o defendido perante o Primeiro que está doidinho por lhe dar um belo pontapé no traseiro, chamo-lhe a atenção de que se a carteira não sobe a curto prazo vou eu e vai você para a rua, vai ser limpinho, veja lá se desta vez põe essa porcaria a andar sobre rodas como deve ser.

O Cem despediu-se do Chefe naquele início da tarde onde a polícia e o motorista do Chefe guardaram entretanto os dois carros em contramão em segunda fila, por aquelas bandas era um milagre arranjar um lugar para estacionar.
Adiante, ao pôr a sua viatura em marcha para regressar ao emprego, o Cem começou a matutar como era possível explicar àquela cabeça dura que a carteira só poderia subir quando as tendências entrassem em fase sincronizada com o previsto na direcção predominante calculada pelo programa de “trading” e não por ordens vindas de S. Bento?!

Tinha-se metido num belo molhe de bróculos, sim senhor, que se lixe…

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Lisboa, 1 de Fevereiro de 2011, 23H.

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O indicador tinha dado novo alerta na carteira, desta vez no EuroDollar, onde no fecho nocturno da sessão o “Salvador da Pátria” acabou de dar ordem para subir, de +0.50 para +1.00, as posições alavancadas compradas no par para o máximo da escala, passando de x2 para x4.

O EuroDollar tem andado felizmente a ser acompanhado de uma forma genérica certinha pelo indicador de trading, pelo que resta apenas cumprir a directiva recebida:

- Corretora, comprar mais 500.000.000 EURUSD ao mercado para juntar à posição anterior comprada na mesma quantidade.

- Certo, nova operação de acumulação de compra no EuroDollar efectuada ao preço de 1,3825.

O Cem confirmou que o único componente do indicador que anteriormente se encontrava neutro, neste caso o “Bobi”, acabara de passar a positivo no EURUSD.

"Vamos lá a ver se é desta que a carteira, sujeita a uma alavancagem crescente, passa rapidamente para terreno positivo a curto prazo, irra que desta vez isto está difícil, até enjoa!"




[ Continua ]
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Citações que me assentam bem:


Sucesso é a habilidade de ir de falhanço em falhanço sem perda de entusiasmo – Winston Churchill

Há milhões de maneiras de ganhar dinheiro nos mercados. O problema é que é muito difícil encontrá-las - Jack Schwager

No soy monedita de oro pa caerle bien a todos - Hugo Chávez


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Episódio 16 - Iniciação na Análise Técnica

por Cem pt » 28/1/2011 20:55

Carcavelos / Parede, 28 de Janeiro de 2011, 13H 30M.

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Aquele restaurante na Parede, mesmo sobre a Marginal do Tejo, enchia-lhe as medidas.
Passe a publicidade, mas para comer um peixe fresco espectacular, que podia apreciar nos atractivos mostruários de gelo à entrada juntamente com todo o tipo de marisco, nada melhor que o “Toscano”.
É um bocado careiro, não está ao alcance de todas as bolsas, mas o serviço é do mais requintado que existe e depois tem aquela vista magnífica sobre o rio, a cintilar até perder de vista à linha do horizonte ao ritmo da ondulação favorável aos reflexos do astro solar.
A vista do rio ou do mar era sem dúvida um bálsamo relaxante, fazia-o sentir calmo e num mundo fora do stress e do “rush” profissional do dia-a-dia, funcionava como um calmante retemperador para o resto dos esgotantes dias de trabalho.
Era definitivamente um dos “top ten” na lista muito pessoal do Cem, no que toca aos melhores restaurantes que sentia prazer em frequentar.

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Experimentara pela primeira vez este ano o arroz de lampreia, que ali cozinhavam tipicamente à moda do Minho, a dose era um pouco pesada e em quantidade generosa com aquele molho espesso, consistente e escuro acastanhado, apaladado à maneira, mas aquele ciclóstomo de sabor requintado valia bem o preço cobrado.

Também não era todos os dias que se iria alambazar com estas pequenas extravagâncias, podia-se felizmente permitir estes pequenos luxos de vez em quando mas regra geral até era bastante frugal nos almoços que comia quase sempre todos os dias da semana de trabalho fora de casa.

Ao mexer lentamente o café, depois de saborear uma magnífica “flute” da salada de frutas frescas do dia, procurou pôr algumas ideias em ordem.

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Donde lhe viera aquela maluquice do “hobby” sobre os mercados?

Recuou à década de 90, foi nessa altura que começou a dar as primeiras ordens em Bolsa.

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O Cem começou a divagar enquanto saboreava calmamente o café mexido com o sabor do pau de canela:

“Em plena época de loucura de um dos maiores “bull markets” da história, nessa altura era fácil ganhar dinheiro, nem era preciso ter ao lado qualquer conselho de especialistas ou análises mais ou menos sofisticadas, tudo subia!”

“Comprava-se qualquer coisa, vendia-se quando quiséssemos umas semanas ou uns poucos meses depois, quase sempre com lucro, depois voltávamos a comprar bastante mais acima do que o preço a que tínhamos vendido anteriormente e voltávamos a vender muito mais caro, era sempre a aviar!”

“Aquilo só podia habituar mal as pessoas, toda a gente julgava que jogar na Bolsa era sempre dinheiro em caixa, foi um logro que muitos hoje em dia ainda lamentam pensando que os mercados são uma coisa sempre a subir em direcção ao céu!”

“Um engano, isso sim, ainda hoje existe muita gente a pensar porque razão um papel comprado há 10 anos atrás nunca mais voltou aos lucros, perderam-se grandes fortunas sem dúvida nenhuma!”

“Estava-se mesmo a ver que aquela situação paradisíaca não podia durar para sempre, não era realista pensar que os Bancos podiam continuar alegremente a subir os “price targets” de tudo e mais alguma coisa para valores estratosféricos.”

“Estava-se mesmo a ver que aquela subida doida dos anos 90 tinha de acabar mal, com um “crash” ou com um “bear market” muito violento, conforme veio a acontecer naquele período terrível de 2000 a 2003 onde muita gente se enterrou até ao pescoço e nunca mais quis ouvir falar de Bolsa até ao resto das suas vidas.”

“Por volta de 1996 achei mais sensato procurar tomar decisões de acordo com outras ferramentas que poucos usavam nessa altura mas que, através de livros e revistas da especialidade, se adivinhava poderem vir a ser uma boa fonte previsional sobre como poderiam os mercados evoluir num futuro próximo, para tentar adivinhar as vizinhanças do pico extremo do “bull market” terminado em 2000.”

“Foi assim que me iniciei nos meandros da Análise Técnica em boa altura, diga-se em abono da verdade. “

“Os indicadores técnicos nessa época estavam ainda nos seus primórdios, havia muitas ideias mas muito desgarradas e nem sempre consistentes, uma vez que estavam essencialmente adaptados ao tipo de mercado direccional e portanto muito tendencial prevalecente.”

“Felizmente os indicadores que entretanto desenvolvera adaptavam-se muito bem às tendências predominantes, não admira portanto que o grande período dourado onde se ganhou muito dinheiro, seguindo à risca as directivas dos sinais de compra e venda gerados pelos indicadores técnicos predominantemente tendenciais, tenha sido durante os períodos marcantes de mercados em regimes “bull” e “bear” bem identificados.”

“As indefinições ou lateralizações eram pouco consistentes e duravam poucas sessões, de 1993 a 2003 os mercados andavam de preferência bem vincada para cima ou para baixo, não havia meio termo, mas uma coisa era certa: sempre que entravam num regime lateral os indicadores técnicos tendenciais faziam com que se perdesse dinheiro, havia que corrigir o tiro.”

“Contando que os mercados teriam necessariamente de passar por esses períodos de duração incerta com indefinição direccional, era crítico juntar aos indicadores técnicos instruções sobre o que fazer nessas situações. No fundo era introduzir na detecção desses períodos de lateralização as ordens tendenciais viradas ao contrário, em mercados oscilantes deve-se comprar na base dum “swing” e vender no seu topo.”

“Esta é a parte difícil de programar, porque quando verificamos que um mercado está a andar de lado provavelmente esta indefinição estará quase a terminar e a retomar em breve um comportamento tendencial. Como conciliar então isto tudo?”

“Por isso se diz que a Análise Técnica é também uma arte, um programador para além de testar a validade da sua ideia, tem de procurar antecipar se determinado padrão pode ou não probabilisticamente induzir um novo movimento completamente diferente, um mundo para explorar.”

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Estava aqui embrenhado nestes pensamentos até que a chegada do talão da conta obrigou o Cem a ter de regressar ao seu trabalho, mais tarde teria de lembrar-se do historial de indicadores que foi utilizando com o passar dos anos…

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Lisboa, 28 de Janeiro, 19H 30M.

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O programa de trading registou nova diferença nos valores do “Salvador da Pátria”, desta vez voltou a apitar, no caso do Ouro cotado em Euros, com o indicador a passar de -100 para -50 pontos.

Tendo passado há poucas sessões para vendido no Ouro a todo o gás, leia-se com a alavancagem máxima, o metal amarelo continuava em queda mas o programa dava agora ordens para travar a euforia de vender em grandes quantidades, certamente que a grande subida registada na sessão de hoje não terá passado despercebida ao programa.

Desta vez o indicador técnico sugeria que o Ouro fosse exposto a um risco de metade do actual, baixando a alavancagem de x4 para x2, embora continuando a apostar em quedas a prazo.

Ao consultar os principais componentes do sistema de trading constatou que a diferença tinha sido gerada no “Bobi”, a sugerir que nos encontrávamos numa tendência indefinida e numa zona em que a “downleg” do “swing” de baixa de curto prazo deverá estar próxima do esgotamento.

- Corretora, comprar ao mercado metade da posição actualmente vendida no XAUEUR, ou seja, comprar 478.445 onças.

- Operação de compra executada ao preço de 982,28 Euros por onça.

“Bolas”, pensou o Cem, “logo agora que a carteira ontem já tinha recuperado de quase todas as perdas em que vinha a incorrer desde o arranque do ano, hoje apanhei uma grande banhada, só o EURJPY se salvou no meio do temporal! Paciência, melhores dias de sol virão, espera-se…”




[ Continua ]
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Episódio 15 - Dicas ao Dr. João Santos

por Cem pt » 25/1/2011 20:45

25 de Janeiro de 2011, 14H.

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- Cem, viva, daqui João Santos do Ministério das Finanças, gostei de falar consigo naquele dia, sabe que segui os seus conselhos e acabei por vender as tais acções que tinha.
Precisava que me desse mais umas dicas, pode ser?

- Caro Doutor, nesta altura não tenho tempo para grandes conversas mas…espere lá, tenho aqui umas notas desgarradas que fui escrevendo ao longo do tempo, são apenas uns apontamentos que fui fazendo ao longo dos anos, alguns já têm a idade do século passado mas creio que o poderão interessar se quiser mesmo dedicar algum capital aos mercados numa carteira a médio e longo prazo.
Se quiser vou-lhas enviando uma a uma, de vez em quando, está interessado?

- Cem, obrigado, força com isso, claro que já estou aqui em pulgas, venha de lá essa papelada.
O meu e-mail é: jjcs.boy38726@blablabla... .

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Ao Cem nem sequer lhe passou pela mona que iria ter uma trabalheira danada para recuperar e pôr em ordem toda aquela desorganização de papéis desarrumados e colocados aleatoriamente em várias gavetas, sem qualquer ordem cronológica ou por tópicos de interesse.

“Bolas, no que me fui meter”.

Puxou da primeira folha de A4 que tinha à mão de semear, viu que se tratava de uma folha de apontamentos de mercado escrita com uns rabiscos rápidos feitos o ano passado e toca de fazer um “scanner” e enviá-lo por correio electrónico ao seu novo amigo dos mercados.

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Do outro lado do servidor de mail o nosso amigo Director dos Estudos de Assessoria Estratégicos Transversais do Ministério das Finanças lê avidamente o documento que acabara de receber:

No mercado os resultados dos negócios irão variar entre os positivos e os negativos.

O segredo para sobreviver nesta actividade é manter as perdas com valores baixos e procurar que em alguns poucos ganhos se consigam lucros substanciais.
Se este objectivo for conseguido a média a longo prazo dos ganhos por negócio deverá superar de forma clara as médias de perda por cada trade negativa.

É certo que teremos muito a aprender muito no futuro com os erros cometidos e com as perdas incorridas, mas se sofrermos prejuízos muito avultados e significativos com um único negócio o capital remanescente pode ficar de tal forma comprometido que o objectivo de ganhar dinheiro com a especulação pode-se esfumar em definitivo.

Como diria Larry Williams, um trader internacionalmente conhecido, não só pela comunidade dos melhores gestores de contas na classe de derivados e “hedge-funds” como também por se ter celebrizado mundialmente por ainda hoje em dia manter o “record” mundial da maior rentabilidade alcançada num único ano no campeonato do mundo dos traders profissionais com dinheiro real na “Robbins Cup”, ao conseguir transformar os 10.000 USD iniciais em 1.100.000 USD no fim do período anual, os grandes falhanços não constroem o carácter, destroem a conta bancária.

Embora ninguém possa adivinhar o futuro ou o sentido da evolução das cotações, é crítico e fundamental na gestão das carteiras conseguir conciliar a optimização dos ganhos com o controlo da dimensão das perdas.


O Doutor João Santos resolveu arquivar o documento, nesta altura do campeonato não sabia muito bem como tirar proveito daqueles princípios que o Cem lhe enviara mas suspeitou que um dia talvez lhe viessem a ser úteis.
Era chegada a hora de voltar ao trabalho, a sua Secretária veio à porta avisá-lo que estava em linha um telefonema proveniente de Bruxelas por parte do Comissário Europeu.
“Olha que chatice”, pensou o Director, “Só pode ser o das Finanças, este Comissário Europeu do Olli Rehn é um desatino, quando se fala com ele em inglês ninguém o percebe, de certeza que não devia ser dos tais alunos espertos finlandeses que muitos apregoavam na net.”
De facto a Comissão Europeia ultimamente não largava a perna ao Ministério das Finanças em Lisboa, agora que Portugal estava nas bocas do mundo, não parando de solicitar documentos de controlo orçamental para tudo e mais alguma coisa, era um verdadeiro chato. Aquele Barroso bem podia ter escolhido outra peça mais simpática…

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Lisboa, 19H 30M.


Ao percorrer os seus gráficos com os indicadores da Análise Técnica o Cem detectou mais uma diferença no “Salvador da Pátria”, desta vez no EuroIene, em que o seu valor desce de -50 para -87,5 pontos.
Depois de confirmar que a descida se deveu ao facto de um dos componentes do sistema ter sugerido que estamos próximos de um topo de curto prazo, o programa aproveita para aumentar o risco de alavancagem na previsível perna descendente que se deve seguir no EURJPY.

- Corretora, vender 375.000.000 EURJPY, para acumular à posição curta actual de 500.000.000 de EuroIenes.

- Ok, confirmada a venda de 375.000.000 EURJPY ao preço de 112,20 JPY/EUR.

O EuroIene era ainda um dos dois papéis que ainda se encontrava negativo na carteira mas para o programa este par estava em ponto de rebuçado para levar uma grande carambola para baixo, será que vai mesmo ser assim?




[ Continua ]
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Gráfico correspondente

por Cem pt » 21/1/2011 20:52

Gráfico do Ouro cotado em Euros
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Episódio 14 - Por terras das Arábias

por Cem pt » 21/1/2011 20:36

Auto-estrada entre Abu Dhabi e o Dubai, 18 de Janeiro de 2011, 17 H, calor tórrido.

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A comitiva portuguesa aterrara há 2 dias atrás no Qatar.

Os 2 autocarros de luxo postos à disposição do grupo de quase 60 pessoas, com ministros e empresários à mistura, dirigiam-se nesta ocasião do Abu Dhabi para o hotel mais luxuoso do mundo, o famoso Burj-Al-Arab, também chamado Torre das Arábias, com 7 estrelas.

O Dubai é um dos mais pequenos territórios semi-independentes do mundo, podendo-se dizer que se trata duma mini-concentração de luxos ocidentalizados no emirato mais turístico que faz parte da RAU ou Emiratos Árabes Unidos.

O Chefe das Finanças, sentado mesmo ao lado do Primeiro no 2º autocarro da fila, não disfarçava algum mau humor.
Aquela bicha estranha mista de veículos e animais era aberta por uma escolta de polícias com sabres à cintura, montados em meia dúzia de camelos em passo de corrida, precedidos por um espadalhão americano, da escolta pessoal do emir, provido de vidros fumados à prova de bala.

O Chefe foi obrigado a abrir as hostilidades daquela conversa difícil, enquanto a comitiva circulava em velocidade lenta por uma auto-estrada fantasmagórica que deixava atrás de si no pavimento uma poeira castanha clara, com a via ladeada à esquerda por um deserto coberto por dunas e alguma vegetação seca rasteira e à direita pela extensa praia de Jumeirah:

- Meu caro Primeiro, veja lá que na reunião de trabalho de ontem, enquanto você foi visitar o emir, sentaram-nos todos em círculo no chão dum tapete numa enorme tenda beduína e depois daqueles salamaleques todos dos cumprimentos e da ronda do chá começaram a querer vender-nos vivendas nas ilhas de luxo da Palm e do World Dubai, parece que aquilo são empreendimentos que custaram uma nota preta e que estão completamente falidos!
Como não mostrámos muito entusiasmo, embora se tivéssemos massa talvez fosse uma boa ideia para passarmos aqui as nossas reformas…

Aqui o Chefe das Finanças hesitou um pouco e baixou o tom de voz ao ouvido do Primeiro:

- Talvez se V. Exa. voltar atrás com a possibilidade de acumularmos todas as reformazitas de deputados e ministros mais as de dirigentes partidários e outras alcavalas… isto não pode ser feito abertamente para os jornais não caírem de cima da gente, se der umas ordens ao Lacazitos para ele falar com o Ricky Rod que é jeitoso a fazer umas excepções nas Leis da Assembleia a favor dos políticos …

O Primeiro estava passado:

- Não, nesta altura não me parece ser o timing mais adequado e se os jornalistas descobrem lá se vão as últimas esperanças de sermos reeleitos.
Bem, então o que aconteceu a seguir na vossa conversa da tenda?

- Caro Primeiro, como viram que não tínhamos estaleca para nos abalançarmos a vivendas, nem sequer experimentaram vender-nos petróleo, tentaram logo a seguir que adquiríssemos um camelo de corridas e um casal de falcões peregrinos que eles usam para caçar lebres no deserto, nada que nos interessasse!
A gente também não trouxe nada de especial para lhes dar em troca, um dos nossos boys trazia um chocalho e um barrete de campino que os intrigou um bocado, porque é muito diferente do que eles usam por aqui com um lenço branco seguro por duas coroas arredondadas na pinha. No tempo do Vasco da Gama aceitavam isso em troca de especiarias mas hoje em dia, com estas modernices da internet, já não os conseguimos enganar facilmente…

O Primeiro ficou atordoado de boca aberta:

- O quê?! Nem sequer referiram que podiam estar interessados nas nossas taxas de juro da Dívida Pública, mesmo que a aumentemos com um pequeno bónus para ficarem com ela? Mas então não lhes explicaram que quem precisa da massa somos nós e não eles?

- Caro Primeiro, pois, deixámo-los falar no início por uma questão de cortesia e logo a seguir o nosso Chefe Loved dos Estrangeiros explicou-lhes que precisávamos de vender Obrigações da nossa Dívida e que se fosse preciso também lhes podíamos impingir a Portugal Telecom, até lhes dissemos que se trata duma empresa que tem à frente Hu-Zein-Al Bava que suspeitamos ter uns parentes por estas bandas, falámos também do Al-Mexiah que tem umas ventoinhas que substituem as palmeiras que também abanam quando há vento…

- E eles, Doutor, ficaram interessados?

- Meu caro Primeiro, creio bem que não, acho que não perceberam muito bem o que são Obrigações, aqui para nós que ninguém nos ouve, nesta terra as coisas só funcionam com altas comissões, dinheiro vivo e propostas de trocas por camelos.

- Doutor, assim estamos feitos, o ideal era invertermos as posições, enfim, então e depois?

- Bem, depois acabou-se a conversa, vieram umas bailarinas zíngaras com um véu transparente pelo nariz e outro à volta do rabo dançar a música do ventre para toda a comitiva, ao som duns flautistas barbudos um bocado toscos.
Havia lá uma dançarina que se pôs bem à minha frente, bem boa, nem sei como é que ela é árabe, linda de morrer e cá com umas curvas que nem lhe digo nem lhe conto…

- Ok, ok, pronto. Já vi que a viagem foi um fracasso total, temos de despistar os nossos jornalistas, não podemos dizer de forma alguma que viemos cá para vender ao desbarato o que resta da nossa Economia, ouviu bem?
Olhe, Doutor, estamos a chegar, ohhh…olhe-me aquela entrada toda trabalhada em ouro, tenho de pôr os óculos escuros por causa destes reflexos intensos, este hotel é de facto deslumbrante, será que me deixam amanhã fazer o meu “footing” aqui à volta do hotel? Só que em vez das sapatilhas tenho de pôr fato de banho e barbatanas…

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Bem à entrada da imponente estrutura do Burj-Al-Arab os operadores de câmara das redes de televisão presentes correram para a porta de saída do autocarro de trás, esperando impacientes a saída do Primeiro, que por sua vez tinha uma secreta esperança de os despistar com aquele bendito disfarce dos óculos de sol.
Os repórteres de exteriores caçaram-no de imediato ao tocar o solo, já levavam a pergunta fisgada:

- Senhor Primeiro, então os árabes sempre nos vão comprar a nossa dívida?

- O que estão vocês para aí a dizer? Claro que não, nós não viemos cá para isso, viemos assistir a manifestações culturais da dança regional e a ver hipóteses de negociarmos na área de acordos bilaterais entre jardins zoológicos… desculpem, viemos em visita de negócios mas jamais nos passou pela cabeça vender essas coisas da nossa Dívida aos nossos simpáticos anfitriões.

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Os jornalistas bateram em retirada, ainda não fora desta que descobriram um grande negócio das Arábias.

Já no átrio do esplendoroso hotel o Primeiro vira-se para o Chefe das Finanças e desabafa:

- Já os enganámos novamente, bem, toca a pôr as túnicas para irmos ao bazar ao início da noite e fazermos umas compritas para a família, assim passamos despercebidos, ouvi dizer que aqui as cataplanas e os cobres trabalhados são ao preço da chuva…

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Lisboa, 21 de Janeiro, 19H 30M.

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Com a sessão do dia a dar as últimas o Cem descobre com algum desconsolo que as coisas não lhe estão a correr nada bem no Ouro cotado em Euros, estava até a levar uma bela ripada.
Aquele papel sozinho era responsável por manter ainda a carteira no vermelho, ajudada pelo EURJPY que subia descaradamente contra as expectativas do “Salvador da Pátria”, as perdas só eram um pouco atenuadas por estar a ganhar uns trocos de poucos milhões no EURUSD e no Dax.

Enfim, ía ouvi-las das boas quando o Chefe das Finanças se lembrasse de o chatear novamente!

O programa finalmente decidiu-se pela primeira vez desde o arranque da carteira em mudar de campo, o indicador do sistema de trading mudou a agulha de +87,5 para -100 pontos no Ouro.

Isto significava passar de comprador a forte vendedor no Ouro, que estranho, era contra as suas próprias convicções fundamentais mas se o programa de trading dava a ordem o Cem nem se atrevia a questionar, era passar a vendedor e ponto final!

Pelas suas contas, precisava de fechar uma posição longa de 819.289 onças e vender, para assumir posições curtas neste mercado, mais 956.890 onças.
Um total equivalente a cerca de 7 camiões carregadinhos de ouro, é obra!

- Corretora, venda 1.776.179 onças de XAUEUR na conta especial.

- Muito bem, operação executada, ficou com uma posição vendida resultante de 956.890 onças. Tudo executado ao preço de 987,36 Euros por onça.

Uma chatice, a conta não estava a correr nada bem, mas paciência.
Foi preciso começar a cortar, o programa finalmente reconheceu que a posição comprada no Ouro era insustentável de manter.
Olhando para o gráfico do indicador “Salvador da Pátria” constatou que foi preciso esperar 16 meses para o programa voltar a sugerir posições vendedoras no Ouro.

Ainda por cima sabia que lá teria de ouvir a berraria do Chefe, quando tiver de o aturar dentro de dias, que ano este…




[ Continua ]
Editado pela última vez por Cem pt em 24/1/2011 15:53, num total de 3 vezes.
O autor não assume responsabilidades por acções tomadas por quem quer que seja nem providencia conselhos de investimento. O autor não faz promessas nem oferece garantias nem sugestões, limita-se a transmitir a sua opinião pessoal. Cada um assume os seus riscos, incluindo os que possam resultar em perdas.


Citações que me assentam bem:


Sucesso é a habilidade de ir de falhanço em falhanço sem perda de entusiasmo – Winston Churchill

Há milhões de maneiras de ganhar dinheiro nos mercados. O problema é que é muito difícil encontrá-las - Jack Schwager

No soy monedita de oro pa caerle bien a todos - Hugo Chávez


O day trader trabalha para se ajustar ao mercado. O mercado trabalha para o trend trader! - Jay Brown / Commodity Research Bureau
 
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Episódio 13 - Virtudes da Análise Técnica

por Cem pt » 17/1/2011 22:49

Lisboa, 17 de Janeiro de 2011-01-17

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Desde que conheceu o Cem, o Dr. João Santos do Ministério das Finanças não perdia uma oportunidade para o contactar e lhe pedir mais umas dicas acerca de tudo o que envolvia os mercados.

Que raio, então ele era Director de topo num lugar de Assessor do Chefe, presumivelmente conhecedor dos meandros ligados à Economia, e sentia necessidade de contactar um especulador para saber mais sobre as movimentações do mercado financeiro?

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O Cem não se importava de lhe dar umas pistas, já o tinha avisado que havia cá no burgo gente bem mais habilitada para lhe prestar os esclarecimentos que muito bem entendesse, tudo o que sabia devia-se essencialmente a muitas leituras de sites de mercados e à leitura especializada de livros e revistas sobre o seu grande “hobby”, a Análise Técnica.
Teve o cuidado de pôr ao corrente o Dr. João Santos que muito do que aprendeu foram ensinamentos retirados de inúmeros negócios feitos no passado nos mercados com regras diversas e através das mais variadas experiências tentadas, umas que resultaram em lucro e outras que foram rotundos fracassos.

Daí o Cem o ter voltado a avisar que tinha a certeza que haveria gente ligada a este “métier” muito mais capacitada para lhe prestar toda a informação correcta que desejasse obter nesta matéria fascinante dos movimentos imprevisíveis das acções e produtos financeiros quejandos.
Aliás, corrigiu o tiro, teve de acrescentar que informação correcta é coisa que não existe, haverá quanto muito tópicos orientadores com mais elevadas probabilidades de virem a resultar na ponderação dos diversos cenários em jogo.

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Ao entrarmos no mundo do risco é como se aderíssemos a desafios de entrada em labirintos ao ar livre, vamos fixando que certas correntes de ar a soprar em certo sentido podem ter mais hipóteses de conter a resposta do caminho certo.
Para aumentarmos as hipóteses de sucesso temos de proceder a tentativas de auto-aprendizagem que no futuro se vão corrigindo para evitar cometermos os mesmos erros do passado.

Porém, apesar de todo o conhecimento que vamos adquirindo ao longo de muitos anos, há que reconhecer uma grande insuficiência baseada na imprevisibilidade e portanto a existência de uma grande dose de incerteza no sucesso de qualquer negócio.
Os factores aleatórios continuam a ter um peso muito significativo e as vantagens a colocar do lado do trader ou do especulador têm de continuar a limitar-se a grandes princípios que procuram filtrar a resposta a dúvidas permanentes que se colocam a todo o instante.

Para termos uma noção da analogia que se pretende estabelecer é como se soubéssemos que para adivinhar a evolução de uma cotação determinada, tudo dependesse de respostas correctas, com ponderações desconhecidas, a várias centenas de perguntas, que vão variando ao longo dum dia e de semanas e meses, a serem substituídas permanentemente.
Ninguém consegue ter essa capacidade, mesmo dispondo de um super-computador inteligente programado para o efeito.
O máximo que qualquer especulador pode aspirar retirar desta amálgama indefinida de questões que se levantam em permanência é conseguir responder a 2 ou 3 perguntas com alguma importância que possam afectar minimamente as perspectivas futuras da empresa e do sector de negócio em questão e, acima de tudo, caracterizar tecnicamente o comportamento do título.

O diagnóstico correcto da caracterização técnica duma acção é o que está por trás da escola de previsões daquilo que se convencionou chamar a Análise Técnica.

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O Dr. João Santos questionava mais uma vez o Cem:

- Que métodos existem para se obter sucesso na Bolsa ou como conseguir estudar um investimento ou uma boa oportunidade de compra nos mercados de capitais?

O Cem estava farto de ver esta questão colocada em sites e fóruns dedicados aos mercados, era como regressar ao b + a = ba da especulação. Tentou sintetizar a resposta:

- Caro Doutor, há inúmeras formas de abordar essa questão, depende essencialmente de cada um, da sua maneira de ser, do seu “background” de aprendizagem, das suas crenças, do “feeling”, de alguma sorte, que se vai esbatendo à medida que os negócios se vão sucedendo, e essencialmente de muito estudo e tempo disponível dedicado à análise.
Como em tudo na vida, sem estudo, dedicação e gosto acerca deste mundo fascinante, as hipóteses de sucesso a prazo reduzem-se de forma muito significativa.

- Cem, sei disso tudo, mas quais os ramos do conhecimento ou fontes de obtenção dessas análises? Donde vem isso e como posso gastar algum tempo a debruçar-me sobre essas matérias?

- Doutor, posso-lhe resumir um pouco o que se passa nesse campo.
O método tradicional de investir comprando acções a longo prazo por um período de largos anos, contando tradicionalmente com o aconselhamento dos Bancos e publicações periódicas da especialidade, só porque se dizia que o retorno em operações de risco gerava as maiores valorizações, deixou de ser válido.
Quem tenha investido muitas das suas poupanças na maioria dos mercados bolsistas de há 10 anos para cá, irá constatar com enorme decepção que está a perder dinheiro, e não é tão pouco como isso, à data presente!

- Cem, realmente essa é uma constatação que os jornais económicos só agora se lembraram de referir.
Falam que essas recomendações de compra foram feitas na altura baseadas em Análise Fundamental, de acordo com os rácios esperados, numa perspectiva paradisíaca de evolução da Economia mundial sem grandes perturbações, e em “price targets” muito compensadores no futuro.
Sabemos que pelo meio houve crises e problemas que ninguém suspeitava que se viessem a verificar, isso significa que esta Análise Fundamental deve ser posta em causa uma vez que ninguém consegue adivinhar os grandes problemas inesperados do futuro?

- Doutor, nada disso, a Análise Fundamental tem a sua utilidade para podermos comparar em determinado período se determinada empresa está ou não intrinsecamente cara ou barata face à competição que disputa com toda a sua concorrência no mundo empresarial.
A evolução das facturações e dos “cash-flows” expectáveis nos próximos exercícios e das perspectivas de negócio nos diversos mercados de actuação são críticos para se estabelecerem rácios que os especialistas dos mercados não deixarão de explorar em seu benefício, nesta óptica a Análise Fundamental não poderá nunca de deixar de ter a sua utilidade, é bom olhar para um estudo duma empresa nesta perspectiva com alguma atenção.
O problema que aqui se coloca é infelizmente o divórcio desta escola de análise com uma realidade mais profunda que reside na dissociação completa daquilo que costumo chamar os aspectos emocionais que atraem ou afastam a confiança dos agentes do mercado.
Na minha óptica é no aspecto emocional que está a grande resposta da procura dos timings adequados às previsíveis subidas e descidas dos mercados, tudo se resume à confiança de quem compra ou possui acções ou equivalentes.

- O que quer dizer com isso, Cem? Isso significa que as dúvidas e incertezas para dar uma ordem de venda num clima negativo se sobrepõem à racionalidade da consciência dum estudioso que sabe que determinada acção está “barata” e tem um bom potencial de subida?

- Exactamente, Doutor, está a chegar ao ponto!
Um clima emocional negativo percepcionado arrasta muita mais gente a vender do que a aproveitar uma oportunidade razoável baseada num estudo de mercado.
Depois forma-se uma bola de neve, atrás de quedas com algum significado o clima negativo vai-se adensando, às pessoas que ainda têm acções só lhes passa pela cabeça uma coisa: vender já antes que seja tarde demais.
Já dizia um velho conhecedor dos mercados que para apostarmos numa boa acção é como fazermos parte dum júri dum concurso de misses em que quem aposta na vencedora tem direito a um bónus. Nesse caso em vez de apostarmos naquela miúda gira que mais gostamos temos de escolher antes a boazona que julgamos que vai ter a preferência da maioria dos restantes membros votantes.

- Cem, isso é interessante, mas não acha que um movimento de pânico pontual vai acabar por oferecer boas oportunidades de entrada quando as descidas abrandarem? Toda a gente sabe que o mercado é feito de subidas seguidas de descidas e vice-versa.

- Doutor, não é bem assim, só quis explicar como se inicia uma tendência de baixa.
Nos mercados existem obviamente subidas, descidas e movimentos imprecisos ou lateralizados.
Uma lateralização é uma indefinição que o mercado aproveita para respirar em períodos de acumulação e distribuição.
O segredo é descobrir o sentido da direcção de médio e longo prazo do mercado que irá previsivelmente seguir e colocarmo-nos nesse lado da barreira.
Mesmo em tendências ascendentes ou descendentes existem sempre “swings” ou pequenas reacções contra o sentido da tendência dominante estabelecida, se formos atrás dessas pequenas reacções que estão sempre a acontecer pode crer que estafamos muito dinheiro de forma escusada.
O que tem interesse para o trader é perceber a estrutura do movimento e discernir quem tem mais força, se os que empurram o mercado para cima ou para baixo e não andar para a esquerda e para adireita duma rua no mesmo sentido dum bêbado cambaleante sem direcção aparentemente definida.
Depois de estabelecida uma tendência a sua duração poderá durar muitos meses ou anos a desenrolar-se, é aqui neste aproveitamento que advêm os ganhos da maioria dos especuladores profissionais.
Posso-lhe garantir que é uma ilusão pura pensar que alguém pode aproveitar todos aqueles movimentos de “swings” de curta duração para cima e para baixo, isso só serve para confundir e deixar qualquer pessoa confusa, esqueça essas pequenas oscilações.
Um trader nesse caso tem apenas de percepcionar duma forma rápida os extremos desses movimentos de “swing”. Isto é, se o mercado está a fazer mínimos cada vez mais baixos para confirmar uma tendência descendente ou máximos cada vez mais elevados para nos certificarmos que nos encontramos perante tendências ascendentes.

- Cem, e como pode alguém de fora como eu tirar partido dessas situações?

- Doutor, é muito fácil, como eu disse há bocado, basta seguir a tendência dominante, é daí que lhe virão os ganhos a prazo para a sua carteira.
Repare, enquanto houver receio instalado dum clima negativo em que claramente o medo de continuação da desvalorização das acções se sobrepõe à expectativa de subida das cotações, quem manda no mercado são os “bears”.
Como para vender tem que haver quem lhe compre do outro lado, os novos compradores vão-se colocando a medo com preços cada vez mais baixos, recuando cada vez mais com as dúvidas e o receio a acumularem-se sobre se estarão a agir correctamente.
Os vendedores atropelam-se uns aos outros e despacham as suas acções que lhes queimam os dedos, com os prejuízos acumulados dos últimos dias, a qualquer preço ao “melhor” do mercado, os compradores na defensiva vão retirando ordens do sistema e baixando cada vez mais a sua oferta de compra, é assim que as cotações vão evoluindo em baixa.

- Cem, isso quer dizer que o estudo do domínio emocional dos “bulls” e “bears” é o factor primordial que devia comandar as tomadas de decisão para comprarmos e vendermos na Bolsa?

- Em termos simplistas diria que sim, Doutor.
Se acrescentarmos a estes factores primordiais uma resenha histórica imparcial, pode-se concluir que a Análise Fundamental não sai muito bem na fotografia.
Repare, muitos estudos e “papers” de “research” agora divulgados concluíram que a grande maioria das pessoas que compraram em Bolsa no passado, e que deixaram ficar essas acções paradas nas suas contas, foram influenciadas maioritariamente por conselhos emanados de notícias que anunciavam “price targets” estudados por departamentos especializados de Bancos de Investimento.
Todos esses estudos se baseavam na chamada Análise Fundamental! Na sua maioria é fácil constatar que não resultaram.
Não quero com isto dizer, volto a repetir, que a Análise Fundamental não tenha a sua utilidade, mas na minha opinião deveria uma recomendação deste tipo ter sido mais bem aplicada numa referência comparativa entre empresas dos mesmos sectores para eventuais escolhas em caso de dúvida.

- Tenho pena dessas pessoas, Cem, acredito que muitas delas estejam a perder muita massa…

- Pois, é certo que até poderiam estar a ganhar, provavelmente foi uma questão de sorte e azar, acho que num casino poderiam ter tido um destino semelhante.
Questiono-me como é possível ter tanta gente sido enganada por entidades credíveis e conhecedoras das empresas que deviam ter outro tipo de responsabilidades.
Só que conhecer os rácios e perspectivas não chega, há que ir mais a fundo.
O que quero dizer com isto é simplesmente tentar descortinar o clima emocional prevalecente baseado nos próprios movimentos dos mercados.
Porque esses é que sim, são os verdadeiros catalisadores do ânimo ou desânimo que acabam por contagiar a maioria dos intervenientes que fazem mexer as cotações e lhes imprimem as tendências que vão desenvolvendo.
Cerca de 80% a 90% das recomendações dos departamentos de investimento dos Bancos incidiram em ordens de compras e reforços de aquisição.
Temos de nos lamentar ter-se chegado a este ponto tão baixo, ou melhor, a este pântano!
Mas reconheço que não se podem condenar as pessoas que emitiram esses estudos e pareceres, limitaram-se a debitar cá para fora o que aprenderam nas Faculdades de Economia.
As Universidades infelizmente não ensinam a verdadeira motivação e as razões primordiais que estão por trás dos grandes movimentos dos mercados, que são na sua essência os factores de ordem emocional que jazem por trás da escola de previsões alternativa da chamada Análise Técnica, embora nos últimos 10 anos tenha havido a atribuição de 3 Prémios Nobel de Economia a trabalhos que começam finalmente a cair na órbita dos aspectos psicológicos e emocionais ligados à Macro-Economia e às respectivas motivações decisórias.
Finalmente alguém responsável, como os renomados membros de prestígio do Comité Nobel, começa a ter outra abertura e a procurar outra luz na obtenção de respostas satisfatórias que não resultaram até agora.

- Cem, isso quer dizer que a Análise Técnica é o sector onde temos de encontrar a resposta que procuramos para os timings de intervenção no mercado?

- Caro Doutor, não me interprete mal, o que quero com isto dizer é que a Análise Técnica está muito longe de ser infalível, será porventura a fonte de resposta mais adequada às dúvidas que nos assaltam frequentemente para podermos decidir comprar ou vender, depois de estabelecermos as regras que julgamos ser as mais eficazes em termos probabilísticos.
Vou-lhe fazer uma confissão que provavelmente o surpreenderá: pessoalmente ao longo de quase 15 anos de aplicação de princípios retirados da Análise Técnica devo ter acumulados um número total de mais negócios negativos do que positivos.

- O quê?! Oh Cem, você afinal está a perder dinheiro desde que anda a especular na Bolsa?

- Não, não é isso, o que quis dizer é que a minha taxa de sucesso nos negócios onde ganhei dinheiro se aproxima da faixa dos 40%.
O segredo aqui reside em mantermos uma média de perdas controladamente baixa nos negócios onde se perde dinheiro e garantir, em contrapartida, uma média elevada de ganhos nos negócios vencedores.
É como se em cada 5 negócios tivéssemos 3 deles a perder por exemplo 10 Euros em cada um deles e nos restantes 2 vencedores ganhássemos por exemplo uma média de 30 Euros em cada, isso dava para as perdas por cada 5 negócios um valor de 3 x 10 euros = 30 euros e para os ganhos um total de 2 x 30 euros = 60 euros.

- Certo, Cem, acho estar a apanhar o fio à meada.
Voltando à minha pergunta inicial, como poderia então resumir a dúvida dum cidadão pouco informado que possuísse disponibilidades financeiras e as quisesse aplicar nos mercados? Que caminho mais sensato deveria seguir para expectavelmente obter ganhos no futuro?

- Doutor, a resposta crítica e sincera a essas questões chave sintetiza-se em poucas palavras: não existe qualquer método ou conselho totalmente seguro quando está em jogo o risco ou a incerteza nos mercados.
Contudo há uma pequena luz ao fundo do túnel, se dedicar algum tempo a apreender os conceitos básicos da Análise Técnica certamente terá muito mais probabilidades de vir a ser um ganhador a longo prazo, colocando do seu lado as regras mais “correctas” de se expor ao risco.
Com esta postura poderá esperar rentabilizar de forma lenta e sistemática as suas apostas duma forma mais segura e controlada do que um outro qualquer investidor que siga “feelings” pessoais ou conselhos e recomendações de entidades “especialistas”.

- Ok, Cem, vou já estudar essa história da Análise Técnica, estou desejoso de começar a comprar…

- Calma, Doutor, a impaciência no trading é um inimigo a combater, por outro lado a paciência é uma virtude, dê tempo ao tempo, os mercados estarão lá sempre à sua espera, nada de pressas!

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17 de Janeiro, 21H.

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Na sua monitorização rotineira do final do dia o Cem constata mais uma vez que um dos papéis da carteira alterou o seu valor do “Salvador da Pátria”, tratou-se do Ouro cotado em Euros que sobe de +75 para +87,5 pontos, o que significa um reforço para as posições compradas.

Mais uma vez o programa foi retirar esta conclusão através da detecção dum possível início de “swing” ascendente.

- Corretora, reforçar a quantidade actual comprada de 702.248 onças de Ouro compradas na carteira “Salve Portugal!” com a compra de mais 117.041 onças no XAUEUR.

- Ok, tomar nota do preço de compra da nova quantidade: 1.023,85 Euros por onça.

Encerrada a conversa o Cem constata que nesta altura o Ouro e o DAX são os papéis da carteira mais alavancados com um coeficiente de x3,5. Nesta altura num apanhado muito por alto pode concluir que está a perder dinheiro no primeiro e a ganhar dinheiro no segundo dos activos referidos.
Nos restantes papéis de câmbios da carteira existe também outro empate: detectou que até agora está a perder dinheiro no EURJPY e a ganhar no EURUSD.

“Humm”, constata rapidamente, “esta procissão ainda vai no adro, vamos lá a ver quando é que a carteira começa realmente a mexer verdadeiramente num sentido bem definido…”




[ Continua ]
Anexos
XAUEUR SP_20110117.png
XAUEUR SP_20110117.png (33.66 KiB) Visualizado 2327 vezes
XAUEUR CB Gorongoza X 20110117.png
XAUEUR CB Gorongoza X 20110117.png (31.33 KiB) Visualizado 2340 vezes
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Episódio 12 - Convite para almoço

por Cem pt » 13/1/2011 22:46

Lisboa, 13 de Janeiro de 2011, 19H.

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O Chefe tinha passado mais um sobressalto, a primeira operação do ano de venda de Obrigações do Tesouro a 10 anos tinha sido colocada no mercado um pouco abaixo da barreira psicológica dos 7% que ele próprio estabelecera como o nível de fogo perigoso a não ultrapassar.

Mais a mais tivera de entregar dois dias antes ao Primeiro os dados preliminares, apanhados um pouco por alto e em grandes números, referentes às contas do Défice de 2010.
É claro que o Primeiro só se quis focar e transmitir aos media os valores positivos, estava-lhe no sangue, as boas notícias eram da sua responsabilidade e o resto eram azares do destino que não podia permitir que lhe fossem assacados.
O que interessava era fazer passar uma imagem positiva, sempre em destaque!
Os números negros da Saúde e da Justiça irritaram-no profundamente mas não eram para ali chamados, o essencial era acalmar os mercados e transmitir que estava tudo debaixo de controlo para garantir que a colocação da tranche da dívida não fosse o princípio dum descalabro para o FMI se instalar desde já de malas e bagagens no nosso País.

Portugal podia portanto respirar um pouco mais, antes de voltar a pensar na chegada do FMI.

----------

Como todos estes acontecimentos em mente até tinha esquecido a famosa conta paralela do Cem.
Da última vez que falou com ele pelo menos consciencializou-se que os resultados só poderiam a parecer a longo prazo, mesmo assim a sua curiosidade não o impedia de tentar tirar nabos da púcara.

Como é que ele geria uma carteira daquelas? Que raio de fórmulas mágicas esquisitas existiriam por trás das ordens de compra e venda que estava a dar? Seriam mesmo mágicas ou tudo aquilo não passava de uma grande e monumental trapaça que enganou os serviços secretos?

Estes pensamentos não o largavam, decidiu-se então a marcar um encontro com aquela peça.

----------

Do interior da sua sala de trabalho o Chefe berrou:

- Ana, chegue aqui!

A Ana dirigiu-se de imediato ao seu gabinete.

A secretária estava cada vez mais provocante, já tinha avisado o Chefe que estava em processo de divórcio, como que a comunicar que estava livre para outros compromissos…
A sua figura não era exactamente um clone da Adriana Lima, mas passava bem por prima dela.
Não deixava ao acaso a forma apelativa de mostrar os seus outros atributos, em que as mini-saias e aqueles sapatos de salto agulha assentavam que nem uma luva na sua silhueta, dando de si mesma uma mostra agradável em que aquelas pernas de actriz de cinema, oh sim, que mulheraça, sobressaíam como autêntico chamariz para qualquer homem.

- Sim, Chefe, deseja alguma coisa?

O Chefe não pôde evitar olhar de soslaio para o belo espectáculo que a Ana não deixava de lhe providenciar, aquilo era demais para si, fez um esforço para se concentrar outra vez no assunto da conta secreta:

- Ana, ligue ao Cem e veja quando ele tem uma vaga na agenda dele para almoçar comigo perto do final do mês.
Se eu não tiver nada marcado para esse dia veja se reserva uma mesa para dois no meu restaurante preferido.

- Muito bem, Chefe.

----------

Ana regressa ao gabinete contíguo onde trabalha e faz uma marcação directa para o Cem:

- Boa noite, senhor Cem. O Chefe gostaria de almoçar consigo perto do final do mês no “Conventual”. Em que dias livres da sua agenda poderá ser?

- Olhe, Ana, da minha parte tanto no primeiro como no segundo dia de Fevereiro não tenho compromissos para almoçar, veja o que der mais jeito ao Doutor.

Ana percorre a agenda de viagens, reuniões, almoços e jantares do Chefe e confirma que no início do mês seguinte havia um espaço em branco.

- Senhor Cem, confirmo então que o almoço com o Chefe será no dia 1 de Fevereiro às 13H.

- Ok, da minha parte está confirmado. Boa noite.

A Ana não estava ao corrente de todos os detalhes, mas como pertencia ao círculo restrito do Chefe não lhe passou despercebido ou pelo menos desconfiou com aquele sexto sentido das mulheres que o Cem devia ser um indivíduo senão importante talvez com muito interesse em contactar.
Se ele geria uma conta com números muito maiores que o Euromilhões é porque havia muita massa por trás, podia ser um bom partido, quem sabe?! Tinha de se aproximar dele!
Encerrou a conversa com a sua melhor voz em tom delicodoce:

- Muito boa noite, senhor Cem. Quando quiser passe por aqui pelo Ministério, é sempre bom ficarmos a conhecer pessoalmente a gente importante que fala com o Chefe.
Peço desculpa mas vou ter de desligar, tenho aqui em espera, para falar com o Chefe, o Primeiro em pessoa.
Foi um prazer falar consigo!

----------

Lisboa, 13 de Janeiro, 21H 30M.

----------

Naquela mesma noite o Cem abriu os gráficos dos activos da carteira “Salve Portugal!” e dedicou-se a uma actividade curiosa, resolveu aplicar a cada um deles o primeiro indicador que há mais de 10 anos atrás tinha publicado na internet, num fórum antigo já extinto onde de vez em quando deixava umas mensagens sobre a Bolsa.

Esse indicador, em linguagem técnica, era do tipo SAR ou “Stop and Reverse” e tinha sido desenvolvido numa versão dos anos 90 dum programa genérico gráfico de Análise Técnica, mais concretamente no Metastock 6.52.
Basicamente é uma linha que vai acompanhando de perto a evolução das cotações de acordo com dados de volatilidade, mudando de campo ou de sinal quando um nível de suporte ou resistência dinâmico é quebrado.
Quando o indicador em causa ficar no final de determinada sessão abaixo das cotações devíamos ficar comprados, se pelo contrário estiver acima das cotações a posição aconselhável seria vender.

O Cem abriu o conteúdo da fórmula na plataforma gráfica que usa e aí sim, confirmou que aquele indicador antigo ainda lá estava.

O “Indicator Builder” debitou cá para fora a respectiva programação.

----------

NOME:

Stop Reverse Original

PROGRAMA:

{1.START FORMULA}
{2.DEFINE VAR1 - RISK MANAGEMENT}
lengthstopcorrect:=
Max(3*ATR(13),5/2*ATR(8)) ;
{3.DEFINE VAR2 - STOP LEVEL}
srto:=
{4.INDENT}
If(
C <= PREV AND Ref(C,-1) > Ref(PREV,-1) ,
C+lengthstopcorrect ,
{5.INDENT}
If(
C > PREV AND Ref(C,-1) <= Ref(PREV,-1) ,
C-lengthstopcorrect ,
{6.INDENT}
If(
PREV < C ,
Max(C-lengthstopcorrect,PREV) ,
Min(C+lengthstopcorrect,PREV) ))) ;
{7.SHOW VAR2 - STOP LEVEL}
srto ;
{8.END FORMULA}

----------

De seguida anexou a cada um dos papéis da carteira o indicador antigo, a sua curiosidade residia em confirmar se as posições actuais eram ou não coincidentes com as do “Stop Reverse Original”.

Para sua surpresa constatou que, apesar do indicador ser do tipo tendencial cujos princípios procuram detectar a tendência dominante, havia um caso em que a posição aconselhada era diametralmente oposta da assumida na carteira.
Tratava-se do EuroDollar, comprado na carteira e vendido no indicador SAR.

Esta conclusão só veio confirmar o que já sabia há muito tempo, que não há indicadores coincidentes, independentemente de se destinarem à mesma finalidade, neste caso de detecção da tendência dominante.
Grande parte destas divergências conclusivas depende da natureza e do número de sessões para o qual indicador foi programado.

Embora neste arranque do ano 2011 o indicador antigo tenha estado mais correcto no acerto da direcção do EURUSD do que aquele que foi adoptado na carteira, os testes de eficiência efectuados exaustivamente no passado mostraram que não é mais fiável a longo prazo do que o “Salvador da Pátria”.

Nos restantes casos o “Stop Reverse Original” mostrou concordância posicional com o que foi adoptado na carteira: vendido no EURJPY, comprado no XAUEUR e comprado no DAX.

Enfim, uma curiosidade retirada do baú para descontrair.




[ Continua ]
Anexos
EURUSD SRO_20110113.png
EURUSD SRO_20110113.png (26.76 KiB) Visualizado 2420 vezes
EURJPY SRO_20110113.png
EURJPY SRO_20110113.png (26.81 KiB) Visualizado 2421 vezes
XAUEUR SRO_20110113.png
XAUEUR SRO_20110113.png (23.29 KiB) Visualizado 2419 vezes
DAX SRO_20110113.png
DAX SRO_20110113.png (33.37 KiB) Visualizado 2420 vezes
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Re: Comentários

por mais_um » 13/1/2011 1:29

Cem pt Escreveu:Um parêntesis neste tópico para auscultar a vossa opinião: estava aqui a pensar na possibilidade desta thread poder vir a transformar-se mais tarde na base dum livro, cujo final desconheço e que estará muito dependente da evolução da conta virtual.

A historieta ainda vai nos primórdios e há muitas cenas novas a desenvolver, o que vou fazendo aos poucos em tempos livres que vou aproveitando aos fins-de-semana.

A ideia central versa toda à volta da Análise Técnica e de como desenvolver fórmulas para chegar a desenvolver um sistema de trading capaz.

É claro que para não tornar um assunto que para a maioria dos mortais será certamente uma coisa esquisita muito maçuda, para não dizer intragável, vou ser obrigado a introduzir algo mais que chame a atenção para que este projecto não passe dum flop.

Para isso estava a planear misturar um enredo descontraído duma sátira que vai ter de meter espionagem internacional e sexo pelo meio, para ter alguma venda!

Qual é a vossa opinião?

Desde já agradecido pelo vosso "feedback", seja ele positivo ou negativo.


Boas!

Tenho acompanhado a tua novela e penso que só a compreeende quem sabe um pouco de mercados. Mas por mim continua a tentar salvar Portugal! :mrgreen: :mrgreen:
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Re: Comentários

por aefernandes » 12/1/2011 13:34

Cem pt Escreveu:Para isso estava a planear misturar um enredo descontraído duma sátira que vai ter de meter espionagem internacional e sexo pelo meio, para ter alguma venda!

Qual é a vossa opinião?

Desde já agradecido pelo vosso "feedback", seja ele positivo ou negativo.


Positivissimo Sr. Dr., só isso faz levantar mais de metade de Portugal...

Abraço Cem e Obrigado pelo bom trabalho que fazes.
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Comentários

por Cem pt » 12/1/2011 13:29

Um parêntesis neste tópico para auscultar a vossa opinião: estava aqui a pensar na possibilidade desta thread poder vir a transformar-se mais tarde na base dum livro, cujo final desconheço e que estará muito dependente da evolução da conta virtual.

A historieta ainda vai nos primórdios e há muitas cenas novas a desenvolver, o que vou fazendo aos poucos em tempos livres que vou aproveitando aos fins-de-semana.

A ideia central versa toda à volta da Análise Técnica e de como desenvolver fórmulas para chegar a desenvolver um sistema de trading capaz.

É claro que para não tornar um assunto que para a maioria dos mortais será certamente uma coisa esquisita muito maçuda, para não dizer intragável, vou ser obrigado a introduzir algo mais que chame a atenção para que este projecto não passe dum flop.

Para isso estava a planear misturar um enredo descontraído duma sátira que vai ter de meter espionagem internacional e sexo pelo meio, para ter alguma venda!

Qual é a vossa opinião?

Desde já agradecido pelo vosso "feedback", seja ele positivo ou negativo.
Editado pela última vez por Cem pt em 12/1/2011 13:38, num total de 1 vez.
O autor não assume responsabilidades por acções tomadas por quem quer que seja nem providencia conselhos de investimento. O autor não faz promessas nem oferece garantias nem sugestões, limita-se a transmitir a sua opinião pessoal. Cada um assume os seus riscos, incluindo os que possam resultar em perdas.


Citações que me assentam bem:


Sucesso é a habilidade de ir de falhanço em falhanço sem perda de entusiasmo – Winston Churchill

Há milhões de maneiras de ganhar dinheiro nos mercados. O problema é que é muito difícil encontrá-las - Jack Schwager

No soy monedita de oro pa caerle bien a todos - Hugo Chávez


O day trader trabalha para se ajustar ao mercado. O mercado trabalha para o trend trader! - Jay Brown / Commodity Research Bureau
 
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Episódio 11 - Como nasceu o "Salve Portugal!"

por Cem pt » 11/1/2011 19:46


Lisboa, 11 de Janeiro de 2011, 14H.

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O nosso Chefe das Finanças gostava de dar a si próprio uns minutos relaxantes diários sem que o incomodassem.
Caramba, não era de ferro, tinha de recuperar física e mentalmente as energias de mais um dia de elevado stress.
Sim, porque uma excepção com dias rotineiros era coisa que não existia naquele cargo público que em má hora resolveu abraçar.

As responsabilidades tremendas que pesavam sobre os seus ombros, as constantes solicitações a que estava sujeito, os telefonemas, reuniões, leituras de relatórios, desmentidos à imprensa, as notícias desanimadoras, sei lá mais o quê, tudo contribuía para que concedesse a si mesmo uns breves minutos de relaxe e meditação para recuperar energias.

Para isso nada melhor que uma cigarrada a seguir ao café do almoço.
O médico já o tinha avisado para largar aquela porcaria do fumo mas ele nem sequer lhe ligou, dava primazia absoluta à recuperação do seu bem-estar mental.
Quando largasse aquele maldito cargo talvez pensasse um dia em acabar com aquele vício.

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Hoje ao almoço lembrou-se de estrear uma simpática lembrança de cortesia que lhe fora oferecida há perto de um ano atrás em Lisboa, por alturas da Cimeira Ibero-Americana que tivera lugar no jantar de gala oferecido em Belém, numa tenda panorâmica virada para o Tejo, antecedido por uma magnífica mostra cultural da música melancólica portuguesa com a chancela de qualidade do Rodrigo Leão.

Nessa ocasião estiveram também presentes, para além dos Chefes de Estado e dos Governos de língua portuguesa e espanhola dos continentes europeu e americano, os representantes dos Negócios Estrangeiros e das Finanças dos países representados.

Era comum nestas ocasiões proceder-se a uma tradicional troca de lembranças a seguir aos discursos de ocasião de boas-vindas.

Os anfitriões ofereceram aos dignitários convidados pequenos exemplares artísticos de filigrana, um emblemático computador Magalhães dentro duma mochila comemorativa do evento e ramos de flores para as senhoras e acompanhantes presentes, um gesto bonito que fica sempre muito bem.

Em contrapartida a maioria das outras delegações retribuía também com pequenos gestos de simpatia e uns “recuerdos” regionais bem ao gosto popular sul e centro americano, recorda-se que a esmagadora maioria dos presentes eram representantes de países de língua castelhana.

No caso cubano o nosso Chefe apreciou a utilidade dos objectos de cortesia da colega congénere, presenteando-o com uma pequena caixa trabalhada com cuidado, encimada por um rótulo de identificação da marca gravada a fogo de lupa, contendo uma dezena de charutos seleccionados.
Cada um encontrava-se embrulhado num transparente papel de celofane e colocado num pequeno tubo de alumínio roscado individual, para manter a qualidade garantida inalterada por largos meses.

O Chefe era um apreciador da verdadeira qualidade daquele produto.
Quando reparou que eram “Montecristo Nº 4 Reserva”, duma edição extremamente rara e limitada inexistente no mercado, ficou estarrecido.
Aquilo para ele era o topo da gama, o Rolls-Royce dos charutos, bem acima doutros números e edições da mesma marca ou da generalidade dos também excelentes “Cohiba”, que eram outra das suas perdições.

Para além do mais sabia que aqueles “Montecristo” eram dos genuínos cubanos que lançaram o nome original em 1935 e que a produção mantinha a proveniência e métodos de fabrico manuais originais.

Sabia por alto que ainda nos dias de hoje estava a decorrer uma guerra comercial interminável pela utilização simultânea da marca com os conhecidos americanos da Altadis, que reclamam ter adquirido os “brand rights” ao proprietário original que foi expropriado em 1959 pelo regime de Fidel.
Só que os charutos de proveniência “outside Cuba” não eram a mesma coisa, nem nada que se parecesse.
Embora os mais comercializados fossem os “americanos”, dependentes de embalagens e acondicionamentos cuidadosos, com recurso a grande percentagem de robotização, efectuados no Connecticut e as matérias-primas fossem inspeccionadas com todo o rigor e importadas de folhas de tabaco de áreas seleccionadas sujeitas a rigorosos filtros de qualidade, vindas da República Dominicana, México, Nicarágua e Peru, para um conhecedor esta misturada de várias proveniências não faz muito sentido.
Era como fazer vinho do Porto em toda a Espanha, França e Itália, fora da região original demarcada.

Para o Chefe os verdadeiros que dão prazer só podem ser os originais, mais nada!

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Finalmente agora tivera uma pontinha de folga para puxar dum dos famosos “Montecristo” que trazia sempre no casaco, a seguir ao excelente bacalhau assado e à bica da praxe que nunca dispensava.
Sabia que saborear aquela raridade o faria perder quase hora e meia daquele cheiro inebriante do charuto a consumir-se lentamente, apreciava particularmente aquele aroma que lhe fazia lembrar uma mistura de “robusto sublime” e “corona mareva ”, uma delícia para os seus sentidos olfactivos.
Procurou colocar as ideias em ordem e concentrar-se em memorizar os tópicos que o iriam manter alerta nos próximos meses, precisava mesmo de assentar ideias e meditar um pouco em tudo o que estava a acontecer.

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Recentemente há uns meses atrás tinha pensado consumir a primeira daquelas raridades quando o F. C. Porto, o seu clube, fosse campeão, só que o Jorge Jesus trocou-lhe as voltas.
Agora JJ era uma das figuras de proa do novo programa do “Vencer no futuro” promovido por ele próprio e pelo partido no poder, quem diria?!

Quase se beliscava para se ver obrigado a aparecer ao lado do novo “compagnon de route” do regime mas o apelo do Primeiro em Conselho de Chefes tinha sido demasiado claro, todos teriam de contribuir para que a nova imagem que queriam fazer passar do Governo em 2011 fosse diferente e vencedora.

Tinham de dar a volta ao texto.
Bem lá no fundo até nem se importava de Jesus e o Benfica fracassarem, o Primeiro que descalçasse a bota, porque no íntimo o que desejava realmente era que o Hulk lhes estragasse os planos.
Não se iria importar nadinha se tal acontecesse para gozar sozinho aquele pratinho, grande FCP!

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Após as primeiras baforadas, as que lhe sabiam melhor pelos muitos meses de ausência em provar aquele prazer requintado, decidiu mudar a agulha da mente, para pensar em pontapé na bola teria certamente mais tarde ao fim-de-semana tempo suficiente para desopilar.

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O que precisava mesmo era de se concentrar em rever como tudo o que lhe estava a cair em cima tinha acontecido e como poderia mudar o rumo às borrascas que se anunciavam no horizonte.

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Aquele mês de Setembro de 2008 jamais seria esquecido na sua mente, fora aí que uma porta dum ciclo de gastar à fartazana se fechara, o mundo pareceu ter saído dum sonho paradisíaco para entrar numa vida real de pesadelo.

A falência do Lehman Brothers deu origem ao despoletar da crise em catadupa das chamadas “subprimes” dos créditos hipotecários.

O contágio não tardou a arrastar-se de forma tentacular a todo o sistema financeiro mundial, espalhando-se rapidamente dos U.S.A. à Europa onde grandes Bancos ficaram repentinamente à beira do precipício do colapso.

Os supervisores e Bancos de investimento de renome finalmente aperceberam-se que grande parte dos colaterais de investimento, que incluíam garantias imobiliárias, negociados como pacotes de produtos financeiros complexos mas seguros, por serem avaliados de forma incompreensivelmente elevada com o selo dos ”ratings” máximos das agências de notação financeira, não valiam afinal um tostão furado.

Tinham sido “decretados” como excelentes produtos transaccionáveis por algumas mentes brilhantes do “bank research” do sector imobiliário, que ainda hoje se devem estar a rir, como novos activos de valorização com risco de incumprimento muito reduzido.

Bancos e Fundos de Pensões adquiriram por biliões e biliões de USDollars estes novos produtos complexos armadilhados, antes de serem classificados na realidade como “toxic assets” ou mais exactamente verdadeiro lixo misturado com alguns (poucos) produtos de garantia sem risco. Pouco ou quase nada valiam, dava vontade de rir e chorar!

Instituições tão rigorosas na selecção do risco de crédito aos clientes particulares foram verdadeiramente burladas com a complexidade e forma engenhosa com que estas patranhas financeiras do tipo “ovo podre cheira mal” lhes foram passadas.

Os produtos tóxicos espalharam-se ao longo de muitos anos por uma enorme cadeia ou rede de troca de créditos entre grandes Bancos, acumulando-se como uma praga de bolha gigantesca que rebentou bem na cara de todo o nervoso e atarantado mundo financeiro / bancário, com uma dimensão de tal ordem que tornou o sistema capitalista quase insolvente se não fosse a rápida intervenção da Federal Reserve e a ajuda externa indirecta da compra de dívida americana proveniente da Ásia e do núcleo duro dos países BRIC.

É curioso e paradoxal que em parte tenha sido o bloco comunista a dar uma mãozinha de ajuda para evitar uma derrocada à escala mundial planetária.

Em especial não deixa também de ser caricato que os Bancos mais ingénuos tenham sido os de origem anglo-saxónica, o esteio da confiança e seriedade da Banca mundial, onde pacificamente os títulos de crédito hipotecário e imobiliário eram aceites sem discussão e trocados por liquidez de financiamento e crédito negociados no mercado interbancário, um escândalo de proporções inimagináveis e uma fraude monumental com a complacência ou a ingenuidade dos órgãos reguladores e de supervisão de todos os países desenvolvidos.

É inacreditável como foi possível chegar-se àquele ponto!

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O que se seguiu foi uma intervenção maciça de injecção de liquidez e dinheiro no sistema bancário e industrial mais débil, como o sector automóvel, com o patrocínio e iniciativa do Governo Norte-Americano e da Federal Reserve.
Os riscos de inflação e agravamento dos défices e dívidas soberanas deixavam de ser prioridade de controlo, mais tarde logo alguém se irá preocupar com esses detalhes.

Os Países Europeus reagiram mais tarde, curiosos e simultaneamente apreensivos, a ver (ou aprender) o que faziam em primeiro lugar os States.
De seguida foram obrigados pelas circunstâncias a tomar medidas genéricas semelhantes, um tanto a medo e portanto muito insuficientes, como se veio a revelar.

A actuação que se seguiu, naquele período de finais de 2008 e genericamente ao longo de quase todo o ano de 2009, pode-se caracterizar como navegação à vista num mar cheio de icebergs com barcos (países) cheios de rombos e cada um a navegar para seu lado.

Não se criaram em conjunto regras e fundos específicos para as situações de emergência que se vieram a despoletar bem no coração da âncora do sistema da zona Euro, era cada um por si e depois logo se veria.

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No essencial Portugal através do Governo teve de intervir com compromissos de garantias Estatais e fundos urgentes destinados a fins diversos.

Desta intervenção só se conhece parte da história completa mas há que acrescentar em abono da verdade que a maioria das tomadas de decisão de auxílio urgentes, tomadas de cima do joelho no calor da refrega, se seguiu a apelos dramáticos dos Bancos.

O pânico estava instalado ao mais alto nível e muitos compromissos foram avançados sem olhar a meios, a planeamento e a recursos que nem sequer existiam no Orçamento de Estado.

Desviaram-se verbas destinadas a outros fins que ficaram irremediavelmente comprometidas, obrigando o Estado a recorrer a mais endividamento para além de qualquer nível imaginável de tragédia.

Em inúmeras situações teve o Estado Português de passar pelo papel de garante de bonificações de linhas de crédito urgentes a empresas que necessitavam de liquidez e fiador ou facilitador intermédio em sectores exportadores tecnológicos e industriais estratégicos, à beira da rotura ou da falência.
Quem não se lembra de exemplos muito badalados nas áreas do calçado e do fabrico de “chips”?

Não havia um plano de ataque à crise, actuava-se de forma caótica tipo “bombeiro” aos sinais de pânico e rumores que os próprios Bancos se encarregavam de transmitir à tutela, prioridade absoluta às garantias e liquidez para acorrer a apagar inúmeros fogos que começavam a atear-se um pouco por todo o lado.

Foi um caos, perdeu-se o controlo das despesas inscritas no Orçamento de Estado, os défices dispararam sem surpresa para quem estivesse atento aos sinais de desnorte crescentes que vinham de todo o lado, fossem do sector bancário, público e privado.

Já nem sequer os discursos dos dirigentes políticos disfarçavam o drama que se vivia no período de 2008 e 2009, independentemente dos arrufos do Primeiro a colocarem Portugal como um dos primeiros Países a sair da crise, parlatório para ingénuos de que até os próprios apoiantes do regime se começavam a afastar!

O consumo interno, que até aí alimentava o pequeno crescimento da nossa Economia, caiu para valores nunca vistos, as falências começavam a aparecer que nem cogumelos, investidores estrangeiros abandonavam o nosso território uns atrás dos outros e o desemprego crescia a um ritmo galopante nunca visto.

A intervenção no sistema financeiro atingiu algum dramatismo em casos muito particulares, como foram os casos no BPP, BPN e até mesmo no BCP com a quase total transferência da equipa de gestão da Caixa, patrocinada pelo Estado para pôr um travão num processo suicida de guerra interna de vaidades e liderança que poderia ter descambado num processo de auto-destruição.

Se juntarmos a este panorama de crise os pacotes disponibilizados de prestações de garantias do Estado no âmbito dos contratos públicos em andamento de concursos em fase de negociações, para evitar que as instituições de crédito estrangeiras deixassem de emprestar dinheiro aos Bancos portugueses, que viram secar de forma dramática a sua fonte de obtenção de crédito na zona Euro no mercado interbancário, dá para perceber que estivemos à beira do precipício.

Contudo há que reconhecer que dificilmente haveria outro caminho, apesar das grandes críticas feitas à actuação do Governo em todo este processo de descontrole caótico e conhecendo-se a forma como as instituições públicas funcionam. Fez-se o que se pôde!

Se não se actuasse a inacção alastrar-se-ia em forma de contágio sistémico ao nosso tecido bancário e financeiro.
Um cenário que poderia ter descambado no fim do Estado mais ou menos organizado que nos habituámos a conhecer em Democracia.

O sector bancário não deixa de ser a base imprescindível de sustentação de toda a nossa Economia, poderia naquele período louco em que “o mundo mudou”, nas palavras do Primeiro, ter ruído como um baralho de cartas tal como aconteceu na Islândia, e em certa medida na própria República da Irlanda, num cenário totalmente impensável para quase toda a gente.

Evitou-se assim, com esta actuação de benesses e medidas caóticas ao sabor dos apelos lancinantes de urgência que apareciam de todos os lados, a falência do sector bancário e uma corrida dramática de levantamento aos depósitos por parte dos cidadãos meio perdidos e atarantados antes destes se aperceberem que as instituições a quem confiavam o seu dinheiro estiveram bem perto dum desastre que a todos nos afectaria com consequências dramáticas.

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Os meses que se seguiram em concreto ao longo de 2009 foram muito duros, as falências continuavam, as pessoas começaram a pensar duas vezes antes de qualquer gasto, poupando em vez de consumir, sentiam pela primeira vez o medo de perder a segurança do posto de trabalho e entretanto o desemprego teimava em não parar de subir.

O Estado tentava manter algum contrapeso continuando a insistir no essencial com um programa reduzido e corajoso, embora discutível, no sector das parcerias.
Na prática canalizou-se algum investimento público para evitar um drama maior, o colapso da Construção.
Este sector possui um peso dramático na Economia do país por ser o que alberga o maior número de empregados. Só à sua conta, a montante e a jusante com produtores e transformadores de materiais de construção, fornecedores diversos, empregados ligados aos equipamentos da construção civil, subempreiteiros e pessoal dos quadros e contratado directamente pelas Construtoras, garantem ao nosso país emprego a mais de 600.000 trabalhadores.
Mesmo assim a crise é tremenda na Construção, sendo só à sua conta responsável nesta altura por quase 1/3 da totalidade dos desempregados.

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Os compromissos de transferência de recursos assumidos nesta situação de emergência fizeram soar os alarmes em todos os Estados afectados que tiveram de intervir para acorrer a todos os fogos.
As despesas dos Estados dispararam em muitos casos para níveis incontrolados e as consequências ficaram à vista de todos na entrada de 2010 quando cada país teve de abrir o jogo e mostrar os seus resultados, ou melhor, os seus rombos: cofres públicos exangues com défices a ultrapassarem os limites do tolerável e aumentos excessivos das dívidas externas, em particular na maioria dos países do sul da Europa.

Na Grécia descobriram-se maroscas das batotas orçamentais praticadas por governos irresponsáveis, praticadas ao longo de mais de uma dezena de anos.
Aos países motores do Euro saltou-lhes a tampa, era preciso dizer chega a toda aquela irresponsabilidade e leviandade, acabar com benesses de reformas por inteiro aos cinquenta e poucos anos para quase um terço da população.
As taxas de juro da dívida soberana grega atingiram as raias do insuportável, acima dos 10% em pleno 1º semestre de 2010, originando uma operação de salvamento acompanhada por medidas draconianas que o novo governo se viu obrigado a aceitar por exigência das instâncias da CE e do FMI numa base 2/3 + 1/3, cedendo a zona Euro parte dos fundos de emergência captados de forma ponderada aos países utilizadores da moeda única durante um dramático fim-de-semana de Maio de 2010.
As consequências deste aperto, a que o tecido empresarial grego não estará eventualmente preparado para fazer face, poderão sair muito caras ao País de Alexandre, Homero e Aristóteles.

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As agências de “rating” tiveram um toque a rebate, recorda-se que o Lehman Brothers norte-americano faliu com uma notação sem risco que lhe estava na altura atribuído, denominado AAA ou equivalente.

Era chegada a hora da “casa roubada trancas à porta”.

Os países mal comportados durante a crise iam começar a sofrer as consequências gravosas dos desmandos cometidos, os seus “ratings” foram baixando de forma gradual com o passar dos meses e o protesto dos Governos afectados.

O custo de obtenção de crédito começava a ficar mais caro e difícil, quer fosse para países ou para bancos, ninguém emprestava a ninguém e o pouco crédito que circulava atingia valores de custo proibitivos.
Os especuladores viram que os países encostados às cordas eram tal e qual ovelhas presas para serem sacrificadas, ali estavam boas oportunidades para afiar o bico e juntarem-se ao festim da degola dos inocentes.
Tomaram de assalto o mercado secundário das dívidas soberanas, entraram a matar no lado das compras fazendo disparar as taxas de juro para valores insustentáveis que só muito a custo o BCE vai aparando com a sua liquidez monstruosa. Mas até quando aguentará uma batalha com vagas intermináveis de assaltantes que não dão mostras de recuar?

A Irlanda teve de deitar a toalha ao tapete pouco antes da recta final do ano que terminou, era o 2º país do Euro a não aguentar a pressão, tendo de ser socorrida por parte das reservas remanescentes dos fundos de emergência da zona Euro e pelo sempre odiado e omnipresente FMI.

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Portugal está agora na linha da frente do ataque à dívida soberana por parte dos mercados , seremos os seguintes a cair?!

O Chefe das Finanças, absorto nos seus pensamentos enquanto saboreava o seu charuto quase a meio, tinha poucas dúvidas que em 2011 dificilmente escaparíamos à voragem dos especuladores a engolirem a vítima inocente mais à mão, para ele esse cenário era mais que certo por muito que lhe custasse ter de ouvir papaguear o Primeiro: “De maneira nenhuma, jamais iremos por esse caminho, Portugal e os portugueses irão trabalhar e fazer tudo o que estiver ao seu alcance para evitar essa situação dramática, blá, blá , blá…”.

O Chefe divagava:

“Bem, se o controlo da despesa descambar então aí é que não há mais nada a fazer, vamos ter moção de censura, queda do Governo, boa, boa, as minhas férias finalmente…, vem aí depois o Penteadinho da oposição para novo Primeiro, que já deve ter tudo tratado com o FMI para entrar a matar. Ai vai ser lindo, vai, vai, ainda vão ter saudades nossas”.

Tentou recompor o fio à meada:

“ Até parece que me está a passar tudo à frente como num filme, caramba, não há dúvida que tudo mudou depois daquela reunião havida em Bruxelas em Julho do ano passado com o meu colega alemão, se os nossos jornalistas sonhassem sequer com o que ele me disse então havia de ser o bom e o bonito”.

“Aquilo foi mesmo dramático, o tipo mesmo em cadeirinha de rodas tem que os ter bem no sítio para me ter dito na cara que ou púnhamos ordem na casa ou estávamos arrumados e só nos restava sair do Euro, embora não o pudesse dizer publicamente.
Se sairmos do Euro vai o ser o fim do nosso país, acaba-se a nossa soberania, isto iria ser um verdadeiro caos e o começo duma revolução com final muito triste, não podemos chegar a esse ponto, de maneira nenhuma”.

“Em qualquer dos casos, sem FMI, com FMI e mesmo sem Euro passaremos sempre a depender inteiramente dos caprichos dos nossos credores internacionais”.

“Tive de encostar o nosso Primeiro às cordas quando lhe contei esta conversa, foi mesmo penoso vê-lo sem capacidade de reacção durante uns minutos, coitado”.

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O Chefe recordava bem a sequência dessa dramática conversa com o Primeiro. A primeira reacção balbuciante não tardou a emergir:

- Doutor, tenho a certeza que você acha como eu que vai ser quase impossível cumprirmos aqueles planos plurianuais dos défices decrescentes até chegar aos 3% em 2013. O que acha então que podemos fazer?

- Meu caro Primeiro, é fácil, mesmo que a gente atinja défices anuais entre os 3% aos 5% ao ano a nossa dívida externa vai continuar a derrapar para valores incomportáveis.
Até agora estávamo-nos a lixar para o problema porque fazemos parte da zona Euro e todos os países financiavam-se alegremente com os Bancos entre si sem ninguém chamar a atenção para o regabofe do crédito fácil e ilimitado.

O Chefe das Finanças retoma o fôlego após um copo de água:

- Esses tempos acabaram, infelizmente. Ainda por cima a Sra. Merkel é a primeira a tomar partido por essa cruzada contra os países gastadores e relaxados do sul, não lhes devíamos comprar mais nada a partir de agora, era bem feito para ela aprender, mas isso é outra conversa.
Agora com as agências de “rating” a apertar, os juros incomportáveis da dívida que vamos ter de pagar cada vez mais caros e de forma crescente com língua de palmo e os Bancos a deixarem de emprestar dinheiro entre si no mercado interbancário, só nos vai restando o nosso amigo Trichet que vai abrindo os cordões à bolsa graças às pressões do Constâncio”.

Chegado a este ponto o Chefe teve de ganhar alguma coragem para dar mais uma má notícia ao Primeiro:

- Infelizmente o Schaeuble, cá para mim que ninguém nos ouve é o verdadeiro pastor alemão da Sra. Merkel porque a verdade é que ela macaqueia cá para fora tudo o que ele lhe sopra, disse-me duma forma muito directa que a mama do BCE vai acabar quando lá colocarem o Weber no próximo mandato já em 2011.
Já viu isto? E aí depois, como vai ser? Onde vamos arranjar a massa?
Tive mesmo de lhe perguntar, então como vai ser? Se nos fecham a torneira do crédito como vai Portugal sobreviver?
A resposta dele foi muito clara: ou recorríamos aos fundos de emergência do Eurogrupo, juntamente com os do FMI, ou vão estar de cima de nós que nem uns rafeiros para vigiar os défices e garantir que, com esse controlo, pudéssemos ganhar algum fôlego até 2013 para depois numa 2ª fase reduzirmos a dívida pública e a dívida externa.
Se deixarmos descambar este barco da dívida vão pressionar para sairmos do Euro, ou nós saímos ou eles, foi muito taxativo e obviamente pediu sigilo absoluto.

- Mas Doutor, isso é duma gravidade extrema.
Siga por favor esta linha de raciocínio comigo, sabemos os dois que tendo sempre défices todos os anos, mesmo por pequenos que sejam, a nossa dívida vai continuar sempre a aumentar, a menos que o crescimento do PIB anual fosse superior para compensar.
Só que sabemos que isso é uma utopia, o nosso tecido empresarial está muito debilitado, a força de trabalho cada vez mais reduzida, os juros da dívida vão atingir valores incomportáveis à medida que o tempo passa e a dívida aumenta, o investimento quase desapareceu e o crédito mais caro torna as nossas empresas menos competitivas perante as estrangeiras, como é que saímos deste buraco?
Preocupam-me realmente os encargos crescentes dos pagamentos dos juros e capital das nossas Obrigações do Estado, que já não sabemos como compensar com mais receitas, ninguém quer dar nada pelas empresas que queremos nacionalizar, vamos entrar num beco sem saída, se não for já este ano, no seguinte rebentamos!
Já viu a bronca que era se tivéssemos de cortar os salários dos funcionários em perto de 30%?
Como pensa resolver este problema insolúvel que vai descambar sempre na falência do nosso país, tem algum plano em mente, alguma loucura?

- Meu caro Primeiro, tive uma ideia brilhante, mas é uma coisa muito arriscada nunca tentada por ninguém: arranjar uma forma paralela de conseguir receitas que a longo prazo venham a ultrapassar os valores dos défices e que no limite venham a anular toda a dívida pública.

- O que está para aí a pensar, caro Doutor, você está bom da cabeça?

- Caro Primeiro, tive acesso a um relatório dos nossos serviços secretos que andaram a retirar ideias na internet acerca de como salvar o nosso País.
Descobriram um site de mercados, num tal Panelão da Massa, por sinal muito frequentado por especuladores que cascam em nós como gente grande, uma data de ideias malucas, umas engraçadas, outras lunáticas, outras sem sentido, etc.
Entre as sem sentido descobrimos que se propunham trabalhar mais que nem uns cães, ora isso para nós não nos interessa muito porque senão descobriam a careca dos nossos “boys” que ficavam ali um pouco isolados sem saber justificar os seus níveis de produtividade.
Resultado, tivemos de seleccionar na categoria das propostas lunáticas a ideia dum gajo maluco que se propunha investir numa carteira com um método testado, segundo ele, e que viemos a confirmar noutras mensagens do indivíduo que aquilo parece ser verdade ou andar lá perto.
Segundo essa proposta, ao fim de 20 anos ele parece conseguir multiplicar o capital inicial por cerca de 1000 com uma rentabilidade anualizada próxima dos 40% usando umas fórmulas esquisitas!
A rentabilidade da aplicação do Cavaco na SLN ao pé desta promessa até corava de vergonha!

- Sim? E daí? Não me ponha agora chateado com essa porcaria toda do BPN, o Alegre se quiser que chafurde nessa lama...

- E daí, meu caro Primeiro, deixe-me interrompê-lo, resolvíamos o nosso problema!
Se tudo correr duma forma realista e controlada a nossa dívida externa dentro de 20 anos, juntando o Estado com os Organismos Públicos, as Empresas Públicas, os Municípios, as Empresas Privadas, as Famílias e os Particulares, mesmo que os nossos défices rondem valores um pouco acima dos 3% ao ano, dizia eu a nossa dívida total vai atingir uma bolada próxima de um bilião de Euros ou, melhor, um milhão de milhão de Euros, para que não nos confundamos.
Para conseguirmos atingir esse valor de receitas na tal conta paralela especulativa desse maluco lunático, o capital da mesma teria de começar agora com mil vezes menos, ou seja, mil milhões de Euros!
Fácil, não é?

- Meu caro Doutor, mas isso é extraordinário, brilhante! No papel isso parece uma coisa genial, mas que garantias temos de que pode resultar?

- Nenhumas, meu caro Primeiro, mas também não temos outras alternativas, aquilo para nós pode ser uma ideia do género “tudo ou nada”, ou resulta e seremos uns génios do futuro na História Económica de Portugal ou vamos todos para o c*****o .

- Doutor, é isso, gosto mais da primeira opção de entrar na História, veja se vigia de perto esse fulano para não sermos burlados, da minha parte pode pôr esse plano maluco em andamento.
Vamos ver também se fazemos como os americanos, agora aprendi uma coisa gira a que chamam o QE ou “Quantitative Easing”, que em poucas palavras significa fazer dinheiro a vender ou a despachar as nossas empresas, parece ser uma boa ideia, veja se conseguimos impingir as nossas Acções das grandes empresas e Obrigações do Estado ao Lula, à Isabel dos Santos, ao Ramos Horta, ao Chavez, ao Kadafi, aos chineses, olhe, a quem quiser ficar com esta m***a toda!
Temos de arranjar liquidez, dê por onde der, estou farto de ter sempre os Bancos todas as semanas a fazerem-me o choradinho de que vão fechar a torneira do crédito, como é que você ainda os atura?

O nosso Primeiro atalhou em seguida, a terminar:

- O que interessa é ficarmos no Poder…

O Primeiro sentiu que meteu água por lhe ter escapado a boca para a verdade e corrigiu de imediato o tiro:

- …Ou melhor, salvar o nosso País. Salve Portugal com esse plano, mau caro Doutor!

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O Chefe das Finanças dera a última baforada naquele magnífico exemplar inesquecível das folhas secas de tabaco cubano, depois de recompor na memória toda a sequência do drama dos acontecimentos recentes que o tinham colocado no topo da coluna do furacão que ameaçava a nossa independência, era chegada a hora de voltar ao trabalho.

Contudo aquelas palavras finais do apelo do Primeiro jamais seriam esquecidas, tornando-se o mote para o plano agora em marcha, foi por isso que atribuíra à conta secreta do Cem a pomposa designação do “Salve Portugal!”.

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11 de Janeiro, 18 H 30M.

Perto do final da tarde o Cem volta de novo a colocar o seu “laptop” a correr o software desenvolvido propositadamente para a conta do “Salve Portugal!”, detectando mais uma diferença em relação a valores anteriores.

Neste caso tratou-se de uma alteração no DAX-30, em que o indicador acabou de subir de +50 para +87,5 pontos.

Pesquisando um pouco mais além concluiu que a alteração se deveu à modificação do sub-indicador “Gorongoza X” que acaba de proceder a um diagnóstico de início dum possível ciclo ascendente de curto prazo no índice alemão.

- Corretora, proceder ao reforço de compra de mais 53.810 CFD no DAX, que estava até agora comprado em 71.746 CFD.

- Ok, ordem de compra no novo reforço em CFD do DAX executada aos 6.925 Euros por CFD.

O DAX acabava de passar nesta altura a ser o activo da carteira mais alavancado, com um factor de x3,5. Isto começa a animar!

O Cem voltou a fechar o computador.
Um bom banho retemperador, a expectativa das notícias com as últimas sobre a novela da vinda ou não vinda do FMI e um jantar leve por volta das 8 da noite era tudo o que precisava para anteceder um bom filme descontraído na TV a fim de recuperar de mais um dia stressante.




[ Continua ]
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Citações que me assentam bem:


Sucesso é a habilidade de ir de falhanço em falhanço sem perda de entusiasmo – Winston Churchill

Há milhões de maneiras de ganhar dinheiro nos mercados. O problema é que é muito difícil encontrá-las - Jack Schwager

No soy monedita de oro pa caerle bien a todos - Hugo Chávez


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Episódio 10 - Os princípios básicos do trading

por Cem pt » 7/1/2011 20:42

Qualquer pessoa que chegue pela primeira vez aos mercados não se afasta muito destes padrões:

1) Possui algum dinheiro guardado de lado, que amealhou como consequência de poupanças efectuadas ao longo de vários anos. Eventualmente herdou alguns milhares de Euros duns avós falecidos ou efectuou algum bom negócio de venda de um imóvel ou similar que lhe proporcionou a obtenção de um capital inesperado, em suma, uma disponibilidade de capital que pretende rentabilizar ou valorizar com algum risco.

2) Tem um conhecimento mais ou menos rudimentar sobre a forma como os mercados funcionam.

3) Pouco ou nada ouviu falar acerca de Análises Fundamental e Técnica.

4) Confia essencialmente nas suas capacidades de percepção ou “feeling” para tentar descortinar oportunidades de investimento ou especulação.

5) Eventualmente terá lido nas secções de Economia dos jornais ou revistas recomendações de especialistas sobre “price targets” e compras de acções aconselhadas.

6) Ponderando parte destes tópicos e associando conselhos de outros amigos, o novato em mercados ganha confiança suficiente para se abalançar a esta nova aventura, entusiasmando-se o suficiente por se iniciar nesta apaixonante e stressante actividade da compra e venda de acções.

7) A maioria julga que os mercados ou a Bolsa são uma espécie de casino em que as possibilidades são “fifty-fifty”: ou sobe e ganha ou desce e perde.
Descontando as comissões que muitos desprezam, mal, diga-se em abono da verdade, dir-se-ia que estaríamos numa situação melhor do que nas casas de jogo, cujas probabilidades comportam sempre uma ligeira vantagem a favor da casa de apostas.

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Todos possuem contudo um objectivo comum, melhor ainda, uma ilusão: ganhar dinheiro, preferencialmente ganhar realmente muito dinheiro, ficarem ricos, muito ricos, de preferência milionários!

A prática revelar-se-á infelizmente muito diferente dos desejos, o sonho pode comandar a vida mas não nos enriquece com os mercados.

Os muitos anos de experiência e tentativas falhadas neste domínio acabarão fatalmente por nos ensinar muitas coisas importantes, só que muitas vezes tarde demais.

Acaba assim por ser crítico um novo especulador tentar rapidamente apreender as regras básicas sobre pelo menos o que não fazer em termos de erros a cometer.

Essas regras ou princípios básicos vêm de ensinamentos de trading retirados da Análise Técnica.

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Independentemente dos indicadores ou métodos gráficos escolhidos para funcionarem como regras de compra e venda, que se deverão revelar como essenciais se nunca forem quebrados, um bom trader deverá aderir aos seguintes princípios:

1) “Go with the trend”.
Identificar a tendência dominante e procurar acompanhar as suas posições sempre de acordo com o respectivo sentido.
É bom lembrar que uma boa tendência pode demorar longas semanas ou até anos a ser quebrada, pelo que se deve procurar permanecer o máximo de tempo possível na posição ganhadora do mercado onde o dinheiro se constrói de forma vagarosa e metódica.

2) “Cut the losses short”.

Como ninguém sabe à partida como vão evoluir as cotações, quando entramos a comprar existe uma probabilidade próxima dos 50% de estarmos errados.
Devem-se por isso estabelecer preventivamente no trading níveis defensivos e procurar fixar uma percentagem de perda limite aceitável que em caso algum não ultrapasse mais de 5% do capital à disposição do trader.
Se as cotações limites em causa forem atingidas não se considere um derrotado, saia de imediato.
Neste negócio de risco pode acreditar que até os grandes traders erram de forma idêntica mas têm uma virtude, saem do mercado logo que o nível de perdas é atingido.
De que forma? Através de sinais stops reais ou mentais pré-estabecidos retirados de níveis de quebra de importantes suportes e resistências ou por via doutros indicadores de trading alternativos que acabam por ter funções semelhantes.

3) “Maximize profits and manage risks”.
O chamado “money mangament” tem a ver com a forma como se devem gerir e acompanhar produtos financeiros com alavancagem, evitando riscos de falência e procurando em simultâneo acelerar os lucros da carteira.
Só é possível aplicar princípios correctos de “money management” a métodos de negociação comprovadamente fiáveis, será um tema a ser abordado certamente numa fase mais adiantada.
Trata-se duma forma avançada de proporcionar maiores rentabilidades à carteira gerida, sem deixar de ter em vista que o aumento de risco de perdas a níveis incomportáveis pode provocar danos irreparáveis e terminar em verdadeiras tragédias.
Para estabelecermos uma comparação, trata-se neste domínio de lidarmos com situações de equilíbrio instável puxadas ao extremo. Exemplificando, é como se aumentássemos até um limite incomportável a área da vela de um iate de competição num dia de vento terrível até ao ponto da sua velocidade e controle se tornarem de tal forma instáveis que impediriam de todo a capacidade de o conseguir manobrar.

“The bigger the risk, big reward and big loss”, quanto maior o risco e a alavancagem da carteira, maiores serão os lucros esperados mas também maiores serão as perdas incorridas.
Subir a alavancagem ou o factor multiplicativo de risco significa aumentar a emoção de incorrer em “roller-coasters” de verdadeiras montanhas russas com movimentos alucinantes do capital sujeitos a enormes acelerações ascendentes e descendentes, nem todos possuem o grau de aceitação psicológico para conseguirem suportar perdas percentuais significativas nas suas carteiras de trading.

Costuma-se dizer que um gestor que se preocupe essencialmente com os aspectos de optimização do “money managemnt” na sua carteira terá atingido os patamares da Fórmula 1 do trading.
Eis-nos chegados ao lugar onde muitas fortunas se constroem de forma metódica e sistemática em cenários que podem ser suaves ou moderadamente calmos a favor das tendências descortinadas até à destruição repentina de verdadeiros impérios de dinheiro, em situações “anti-trend” materializadas por “crashes” inesperados aterradoramente diluvianos que se manifestam em movimentos de repentinas volatilidades registadas em escalas inusitadamente assustadoras.

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Lisboa, 19 H 10M.

Ao monitorizar perto do final da sessão a carteira do “Salve Portugal!”, o Cem constatou o registo dum sinal de reforço de compras no Ouro cotado em Euros, com o “Salvador da Pátria” a subir de +50 para +75 pontos.

A alteração do valor do indicador deveu-se ao subsistema do “Gorongoza X”.
Aparentemente esta subida está relacionada com a detecção provável do início de um swing ascendente de curto prazo.

Tendo em vista as quantidades iniciais de onças compradas no Ouro, uma conta simples de acrescento de mais 50% em relação ao referido valor foi suficiente para proceder à ordem de reforço à corretora:

- Proceder à compra de 234.083 onças no XAUEUR.

- Operação efectuada ao preço de1058,21 € por onça.

Com esta operação a alavancagem no Ouro sobe na carteira para o factor x3, aumentando consequentemente a respectiva exposição ao risco, enquanto os restantes papéis da carteira se mantêm no risco multiplicativo defensivo de x2.




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Episódio 9 - O cepticismo do Chefe na gestão da carteira

por Cem pt » 5/1/2011 0:03

4 de Janeiro, 8H, Gabinete do Chefe das Finanças.

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Ao início de cada manhã a rotina não se alterava.

O Chefe era dos primeiros a chegar ao Ministério.
Não era uma questão de dar o exemplo, tratava-se simplesmente de manter alguma disciplina para tentar obter a informação essencial do dia sem ser interrompido por telefonemas e subordinados.
Aquele período das 8 às 9 da matina era a sua hora favorita, dera ordens estritas para não ser incomodado por ninguém.
Vinham do passado os seus hábitos de grande capacidade de trabalho e dedicação à causa pública, pelo menos desde os tempos saudosos em que exerceu funções de ensino e de responsabilidades elevadas em cargos políticos e órgãos reguladores.

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Ana, a bela secretária que parecia escolhida a dedo, conhecia os seus gostos de olhos fechados.
Cada vez que o Chefe entrava no gabinete para ela era chegado o primeiro momento prazenteiro do dia para actuar.

Transportando cuidadosamente uma bandeja larga, Ana colocou-a calmamente numa pequena mesa, junto à grande janela por onde entrava grande quantidade de luz exterior, rodeada por três sofás confortáveis de cor verde seca resguardados por um grande candeeiro em estilo antigo colonial com base em madeira nobre africana e haste trabalhada em marfim de proboscídeo.

No tabuleiro espalhavam-se numa das metades o café da manhã e um pequeno “scone”, que alternava todos os dias com compota de pêssego ou de abóbora, juntamente com um conjunto de talheres e guardanapo.

Junto à zona direita da travessa em casquinha estava cuidadosamente amontoado um pequeno lote seleccionado de jornais diários com as notícias frescas da actualidade.

Do estrangeiro bastava-lhe que colocassem bem ao cimo do conjunto o Financial Times para ficar ao corrente dos grandes títulos que preocupavam a imagem dos seus colegas europeus e procurar tópicos interessantes para manter alguma conversa para passar o tempo quando tivesse de voltar a Bruxelas.

Das restantes publicações do nosso burgo, para além dos imprescindíveis Jornal de Negócios e Diário Económico, completavam o lote o DN, o Público e o Correio da Manhã, a que por vezes se juntava também mais recentemente o “i”.

O CM não era propriamente um diário que o interessasse muito em termos de análise política noticiosa.
Aliás até o irritava aquela tendência maliciosa de estarem sempre a repetir a tecla dos coitadinhos da malandragem. Já não tinha pachorra para ler as sequelas dos ourives, bombas de gasolina, Bancos e farmacêuticos assaltados e dos malandros dos juízes que soltavam em paz os assaltantes juntamente com as declarações de lamentação policiais do “será que vale a pena arriscarmos a vida a prender criminosos para logo a seguir os soltarem e voltarem a aterrorizar a população pacífica?”.
Para não ficar mal disposto nem sequer olhava para a secção do correio dos leitores a cascar na falta de segurança e no insulto baixo à classe política e pedidos de regresso do Salazar, já não tinha pachorra nem tempo para aturar aquele desfile de apelos lancinantes a tempos de mão dura do passado!
Não, o que gostava mesmo era de passar os olhos por uns breves momentos na secção das fotos dos escândalos, mulherio e “pin ups” da moda, ao menos dava-lhe um ânimo positivo e ganhava alguma boa disposição para compensar o resto do dia de trabalho.

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Conhecendo os seus hábitos de catrapiscar de vez em quando o belo sexo, também a secretária não se fazia rogada.

Ela sabia como pôr o Chefe de cabeça à roda e por isso usava e abusava das saias muito curtas e justinhas que deixavam alimentar aventuras ilusórias ao Chefe, que de vez em quando mandava uns olhares de soslaio e desejo mal disfarçado difícil de conter para aquelas pernas bem torneadas.

Ao colocar a bandeja na pequena mesa junto à qual o Chefe se recostava no sofá principal a ler as notícias do dia, Ana curvava-se quase em ângulo recto para pousar a travessa direita, deixando descair um decote da blusa que propositadamente deixava entrever uns seios naturais bem feitos e generosos.

O Chefe enrubescia um pouco mas não tinha coragem de lhe dizer para se tapar mais um bocado. Sabia que iria ter mais um dia de reuniões e chatices, para ele aqueles momentos matinais da Ana a servirem-no eram um bálsamo para ganhar ânimo e relaxar a pensar nas férias das Caraíbas que não ainda sabia quando planear.

“Mau, qualquer dia perco a cabeça com esta gaja, põe-me maluco”, pensou, “isto é muito bonito mas não posso estar aqui a divagar, deixa-me mas é concentrar no meu trabalho. Ora deixa-me cá ver como estão a evoluir as cotações da nossa carteira secreta daquele teimoso do Cem”.

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Saboreando o seu “scone” quase na sua recta final o Chefe sentiu um verdadeiro baque ao consultar no Negócios os fechos das cotações da véspera, murmurando para si próprio:

“O quê? Mas eu não disse àquele tolo que o Euro só podia subir contra todas as outras moedas? Olha-me para isto, o EuroIene foi dos câmbios que mais subiu na primeira sessão do ano e aquele tipo, zás, vendeu no arranque e já está a perder uns poucos de milhões!
Olha-me outra, o Ouro está a descer também, eu não disse que estava na altura de vender por um bom preço?
Mas eu só tenho incompetentes, caramba! Ai aquele gajo vai-mas ouvir, vai, vai”!

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Na sala ao lado a sua secretária , habituada aos momentos de má disposição frequentes do Chefe, ouviu berrar em voz zangada:

- Ana! Ligue-me ao Cem, já, imediatamente.

A Ana sabia que aquelas ordens eram para ter sequência imediata, ai dela ou dos que trabalhavam com o Chefe se alguma coisa o contrariasse.
Felizmente conseguiu apanhar o Cem, que ao princípio não reconheceu a sua voz profissional e ao mesmo tempo melodiosa:

- Senhor Cem, se não se importa vou ter de lhe passar o Chefe. Tenha um muito bom dia!

- Muito bem, bom dia também para si, então passe lá a chamada.

O Cem já adivinhava o que aí viria, o Chefe das Finanças não deixaria de chamar os louros da sua competência em adivinhar os movimentos dos mercados em detrimento das apostas do sistema de trading que não estavam a correr de feição, suspirou e preparou-se para um discurso previsível do tipo “raspanete”:

- Cem, eu não o avisei? Não lhe disse que sabia que o Euro ia esmagar o resto das outras moedas? E que o Oiro estava mas é bom para vender, não lhe chamei a atenção?
Você até agora só está a acertar no EuroDollar e no DAX mas isso também eu sabia que tinham de valorizar, afinal que raio de competências tem você para me garantir que a carteira vai ser a nossa salvação?
Até eu acerto mais e tenho mais que fazer, bolas!

- Oiça, para já nunca lhe dei garantias nenhumas e ainda por cima isto é uma carteira a muito longo prazo, dê tempo ao tempo e deixe de me chatear por causa de uma única mísera sessão de mercado, isto é totalmente ridículo.
Os resultados só vão começar a aparecer depois de muitos meses, até lá estamos a falar de milho para os pardais.
Não se iluda com as suas convicções porque isso é a tragédia da maioria dos aspirantes que querem ganhar nas Bolsas, afeiçoam-se àquilo em que acreditam e depois podem sofrer consequências desastrosas com as teimosias de não querer largar o seu querido tesouro.

- Você acha mesmo?! Olhe que não me convence!
Não se esqueça que pelas minhas contas simples feitas aqui de cima do joelho, apesar de você já ter concluído um negócio positivo nos EuroDollars, ao final do dia já estávamos a perder quase 10 milhões de Euros! Ouviu bem, sabe para que servia essa massa toda quando estamos aqui todos coitados no Governo a contar todos os tostões? É uma fortuna, se o Primeiro sabe disto despede-nos aos dois, já viu a responsabilidade?

- Olhe, só lhe posso dizer que esta conversa não faz sentido nenhum, então você pede-me um compromisso de gestão a 20 anos, ainda nem sequer passaram dois dias e já está a pedir batatinhas?
Sabe que mais? Não estou com paciência para o aturar mais no dia de hoje, vá-se curar.

Dizendo isto o Cem desligou-lhe o telefone na cara.
“Olha-me para este”, indignou-se o Cem, “vê-se bem que não faz a mínima ideia acerca do comportamento de uma carteira, se houver períodos a dar para o torto pois paciência, o segredo é manter a disciplina e manter o rumo da tendência dominante enquanto os indicadores estiverem para aí apontados”.

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No Ministério o Chefe espumava, aquele desaforado do Cem tinha tido o arrojo de lhe desligar o telefone.
“ Que mal fiz eu para ter só de lidar com incompetentes?”, balbuciou entre dentes, “ Vou ter de redobrar a atenção com este Cem, era só o que me faltava, com tão poucas chatices que já tenho todos os dias ainda tenho de me ralar e aturar esta história da carteira negativa deste mal-educado e incompetente.
Que raio de trabalho de pesquisa de gestores de carteira andaram os nossos serviços secretos a fazer? Aquele Rui Pereira tem de se pôr a pau, tenho de o avisar que por aquelas bandas, no Ministério dele, o pessoal não deve fazer nenhum”.

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4 de Janeiro, 22 H 30 M, vivenda do Cem.

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O sistema de trading do “Salvador da Pátria” não dava folga ao Cem, então não é que voltou a apitar para nova intervenção na ponta final do dia de hoje?
Ainda não houve sessão este ano em que pelo menos não tivesse que registar uma nova ordem executada.

A trade em causa acabou de ser assinalada no EuroIene com o sistema de trading a passar o indicador chave da marca de -100 para -50 pontos, significava encerrar de imediato metade das posições curtas abertas.

Investigou qual dos subsistemas de trading fora responsável pela alteração do indicador.
Constatou que, ao contrário do EURUSD, o “Gorongoza X” tinha dado um sinal de esgotamento de ciclo de swing.
A tendência dominante de médio e longo prazo continuava contudo descendente, manter uma posição curta embora menos exposta no EURJPY pareceu-lhe fazer sentido da parte do “Salvador da Pátria”.

- Alô corretora, boa noite, é para executar mais um negócio na conta do “Salve Portugal!”:
Comprar 500.000.000 EURJPY.

- Certo, operação executada ao preço de 109,268 JPY/EUR.

- Confirme-me por favor o resultado da 2ª trade encerrada na carteira.

- Ok, o negócio agora concluído registou um prejuízo de 6.351.356 EUR.

O Cem desligou calmamente o telefone com um calafrio, só de pensar que o prejuízo do negócio era uma pequena fortuna… paciência, deixa para lá, actuou de acordo com as regras, sabia que as perdas faziam parte natural deste negócio de risco. Seria certamente o primeiro de muitos.
Esperava no entanto que a médio e longo prazo os positivos liderassem claramente o pelotão das performances futuras.

Registou também mentalmente que à data presente não havia nenhum papel na carteira com a alavancagem máxima planeada, será que o programa desconfiava de todos os activos escolhidos?




[ Continua ]
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Episódio 8 - O primeiro fecho de um negócio na carteira

por Cem pt » 4/1/2011 0:06

3 de Janeiro, 20H

Noite fria típica do princípio do novo ano.

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A reunião do Conselho de Chefes tinha sido mais morna do que o Chefe das Finanças previra à partida.

Exceptuando o início da reunião em que cada Chefe tentava sem êxito promover mais uns boys com retroactivos a 2010, até a simpática e independente Chefe da Cultura resolveu arriscar:
- Meus senhores, tenho também aqui uns pianistas do Conservatório com muito jeito que vão fugir lá para fora se não lhes dermos mais algumas benesses…

O Primeiro teve de se assumir numa postura responsável e pôr um travão naquela coboiada toda:

- Acabou, não há mais postos de chefia para ninguém, se continuarem com esta palhaçada os jornais e a oposição nunca mais nos largam e bem podemos dizer adeus às próximas eleições.
Vamos passar ao ponto da agenda seguinte, o controlo orçamental nos Ministérios.

O Primeiro bem tinha martelado na tecla de que era preciso poupar em todos os Ministérios ao longo do ano de 2011, que se adivinhava como um grande desafio de equilibrismo das Contas Públicas.
Porém o Chefe das Finanças sabia que à maioria dos colegas aquele discurso tinha entrado por um ouvido a 100 e saído pelo outro a 200 à hora, nesta altura do campeonato já poucos acreditavam na seriedade destas intenções.
No momento do aperto em que teve de intervir para reforçar o apelo do Primeiro, o nosso herói das Finanças contara apenas com umas palavras de conforto e compreensão vinda do sector dos Assuntos Parlamentares.
Todos os outros aproveitaram a cartada eleitoral para um extenso rol de queixinhas.
Lamentavam-se dos cortes que as Finanças lhes queriam impor, deixariam de ter recursos financeiros suficientes para poder fazer isto e mais aquilo e que no final a inacção lhes iria custar muitos votos, blá, blá, blá, só lamentações.

O Chefe das Finanças ouvia sem paciência e concluiu a pensar com um suspiro:
“Isto é mesmo tempo perdido, já faltou menos para qualquer dia fazer como o Pinho…”.
Uma tentação instantânea surgiu-lhe que nem um lampejo, “Porque não?”, hesitou mas o bom senso dum último segundo fez com que se contivesse, obrigando-o a manter a sua compostura de Estadista.

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O Chefe das Finanças entrou calmamente no banco de trás do Mercedes de Estado que lhe fora destinado, o luxuoso modelo já tinha uns anitos mas estava bem conservado.
Com as poupanças que impusera aos restantes membros do Governo, aquilo era viatura para durar mais meia dúzia de anos pelo menos.
Antes de transmitir qualquer ordem ao motorista ligou aos seus Secretários de Estado para os convocar de imediato para uma reunião urgente no Ministério, iam ter mais uma longa noite para o aturar.

- Anastácio, para o meu Ministério.
Tenho de lá estar sem falta dentro dum quarto de hora, veja se tem de pôr os pirilampos ou requisitar um batedor.

“Bolas”, pensou, “está-se toda a gente a marimbar para a execução do Orçamento de Estado para este ano. Paciência, se isto começar a descambar e não houver novo PEC 3 vou-me embora, marco logo umas férias nas Caraíbas, quem me dera! Curaçao, Aruba, aquelas águas azul turquesa…”.
Suspirou mais uma vez mas desta vez algo o fez voltar à realidade.
“Ah, já me estava a esquecer, o nosso grande especulador do Cem já deve ter dado as primeiras ordens na carteira secreta. Estou curioso, deixa-me cá perguntar-lhe que macacadas é que está para lá a fazer”.

----------

O Cem estava a dirigir-se para casa quando o seu telemóvel tocou.

Encostou à berma, detestava falar pelo celular quando estava a conduzir, e atendeu:

- Alô, quem fala?

- Boa noite, Cem, sou eu, o Chefe, gostava apenas de saber se já deu início à nossa conta especial e que ordens lá estão.

O Cem estranhou um pouco aquele prelúdio, na papelada que tinha assinado o Chefe das Finanças era uma das cinco pessoas autorizada a poder consultar a todo o instante o saldo da conta e o seu conteúdo.
Para que quereria saber essa informação de forma directa se a poderia obter através do seu Ministério?
“Provavelmente”, pensou o Cem, “até é simpático da parte dele. É uma prova que gosta de saber das coisas na primeira pessoa. Gosto destes gestos e das pessoas directas”.

- Ah, viva, então é assim: a conta está comprada em DAX, Ouro e EuroDollars. Também está vendida em EuroIenes.

Do outro lado da linha houve uma pausa que durou uns longos segundos.
Certamente o Chefe estaria a ruminar porque carga de águas tinham aquelas escolhas sido feitas.

- Humm, isso do DAX comprado é porque acredita que as Bolsas vão subir, não é? Posso concluir que são boas notícias? Pelo que sei os mercados accionistas vão todos por arrasto na mesma direcção…

- Bem, nem sempre é assim, embora o PSI não esteja na carteira actualmente não se pode dizer que esteja em sintonia direccional com o DAX…

O Chefe nem o deixou concluir porque já estava a raciocinar mais à frente:

- Cem, que raio é essa sua estratégia de comprar mais Ouro? Nos nossos cofres estamos a abarrotar com isso, para que queremos ter mais? Não acha que já atingiu um preço muito caro e que agora o correcto era vender, que é uma coisa em que andamos a matutar no meu Ministério para ajudar a baixar o défice em 2011?

O Cem suspirou fundo, como é que iria num simples telefonema de cortesia explicar que a tendência dominante se encontrava firmemente ascendente desde há quase 2 anos para cá e que isso constituía uma razão imperativa para continuar a acreditar nas subidas?!
Enfim, não tinha muita paciência para explicar os meandros básicos da Análise Técnica a quem provavelmente não tinha paciência nenhuma de o ouvir numa prelecção deste tipo.
Antes que dissesse mais alguma coisa o Chefe adianta-se do outro lado da linha:

- Cem, estou aqui um bocado confuso, explique-me uma coisa, você está a comprar Euros contra o Dollar e ao mesmo tempo está a vender Euros contra o Iene?
Não entendo, afinal você não acredita no Euro?
Vou-lhe dizer uma coisa, na semana passada estive em Bruxelas no último Conselho do ano de 2010 do Ecofin e todos, ouviu bem? Oiça então atentamente, todos os Chefes das Finanças da zona Euro foram unânimes em considerar que somos os únicos países decentes que não andamos no mercado a mandar o Euro para baixo.
Os chineses, os americanos, os japoneses, aquilo é gente que está tudo a vender as suas moedas só para que o Euro fique mais caro e eles nos possam impingir as suas exportações, está a ver bem a história?
Portanto só me resta concluir que o nosso Euro vai subir contra tudo e contra todos…

- Oiça, se quiser impor as suas ideias e colocar outra pessoa a gerir a conta especial, esteja à vontade, demito-me já.
É complicado explicar-lhe em poucos minutos a razão das posições assumidas mas embora não possa obviamente garantir que tenho a razão do meu lado, posso-lhe afiançar que são motivos muito fortes que me levaram a tomar essas posições do Euro no mercado cambial.

- Oh Cem, não me leve a mal, estava só a querer-lhe mostrar que da parte dos Chefes da zona Euro existe a convicção profunda de que há uma campanha internacional de grandes especuladores para deitarem abaixo a nossa moeda. Até o nosso Primeiro está convicto disso e já convenceu o Santos Silva a reforçar esta posição nas televisões.
Olhe, desculpe-me, estou a estacionar aqui na garagem do meu Ministério, agora tenho outros compromissos, tenho que preparar cenários para o PEC 3 com os meus Secretários.
Voltamos a falar mais tarde num dia destes.

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A conversa com o Chefe incomodara o Cem.
Não foi o facto de discordar de forma cordata com a venda do EuroIene, com isso podia ele bem porque confiava cegamente na eficiência a longo prazo do seu sistema de trading.
O que o aborreceu profundamente foi a indirecta aos especuladores que estavam a querer destruir a zona Euro e com isso a atacar as políticas oficiais do Governo.
Bem lá no âmago o Cem tivera de engolir uma directa ao estômago, os especuladores estavam bem identificados: queriam destruir os Estados do sul da Europa vendendo Euros.
Uma vez que ele estava a vender o Euro contra o Iene a conclusão era óbvia: apesar de estar do mesmo lado da barricada na conta secreta do Estado, não deixava de ser mais um daqueles ignominiosos especuladores que tudo destroem impiedosamente como bandos de gafanhotos anónimos sem rosto.

Especulação e especuladores, o Cem estava mais que certo que aquela teoria ridícula enraizada nos círculos do poder, de que havia uma campanha organizada para destruir o Euro comandada por um bando de poderosos e perigosos especuladores, estava em marcha.

Para já os Estados atacados pela crise iniciaram uma cruzada que consistia em alertar os media, para já publicitavam para amedrontar.
Os países debaixo de fogo garantiam que tinham debaixo de olho os candidatos a revivalistas do George Soros que, quem não se recorda, ganhara milhões com o ataque à Libra Esterlina.
Os PIGS estavam atentos às suas manobras infames e sujas de destruição dos alicerces da democracia!
No fundo sentiu que havia de forma muito clara um certo desprezo do Chefe das Finanças por essas múmias paralíticas que se alimentavam dos mercados para destruir o Euro e, por arrasto, os países que se encontravam em grandes apertos, entre os quais o nosso.

O Cem nada podia fazer para recompor ou refazer outra imagem mais humana dos especuladores, sabia bem que essa era uma guerra perdida.
Era impossível alterar a óptica da opinião pública para a qual os especuladores pouco se afastavam de seres com vontades malévolas destruidoras que tudo levavam à frente sem olhar a meios e à desgraça alheia.

Ficou mesmo assim aborrecido, na altura do telefonema não se lembrara, esquecera-se de recordar ao Chefe na conversa havida que se não fossem os especuladores a liquidez dos mercados jamais seria o que é nesta altura.
Se não existissem “spreads” “bid-ask” ou diferenças de preços muito competitivas em todos os mercados jamais se teria atingido a dimensão colossal do desenvolvimento e valorização dos activos cotados existentes.
Muita gente teria evitado entrar a especular ou a comprar se soubesse que não havia possibilidades de vender posteriormente a bons preços, isto é, se não houvessem compradores ou especuladores de mercado que garantissem a colocação de ordens diferenciais competitivas nos sistemas de negociação.
Resumindo, os especuladores são essenciais para fornecer liquidez ao sistema financeiro, o sangue do sistema circulatório que mantém os mercados vivos e activos.

E os empregos que existem devido à actuação de tantos especuladores?
Ninguém se lembrou que não haveria necessidade dos Bancos de Investimento e Corretoras em contratarem no mundo inteiro dezenas ou centenas de milhares de brokers, corretores, telefonistas, etc, só para aturar estes “parasitas” da sociedade?
Mas se falarem em quem beneficia com os lucros das margens, comissões, “slippage” de mercado, taxas de mercado e similares, aí vamos ter tudo de bico calado porque quem paga neste caso, ora nem mais, são os malandros dos especuladores!
Já agora, ninguém refere o que os Estados arrecadam com impostos de mais-valias, porquê? E os milhares de empregos existentes pelo mundo fora no sector fiscal só à conta destes demónios à solta, quanto contribuem para a riqueza de cada país? Pois, não interessa divulgar.
“Enfim”, pensou o Cem, “o rótulo de especulador já o tinha interiorizado há muito tempo para mim próprio, o que me chateia é que quando se pensa em termos sociais só vêem a face negativa de nada criarem em bens tangíveis e não a que tem a faceta útil da valorização do conjunto do sistema financeiro e consequentemente da sociedade em geral”.

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Quem não está muito familiarizado com os mercados pensa que a especulação é um jogo de adivinhação do futuro.
Pode ser, se o método da tomada de decisão for discricionário ou de base duvidosa.

Para quem dedica algum tempo ao estudo dos mercados, baseado em análises de cenários, a especulação passa a ser um negócio de estratégia, nem mais nem menos!
A expectativa nestas condições será a obtenção de retornos positivos a longo prazo, colocando as probabilidades mais favoráveis do lado do especulador analista.
Nesta perspectiva a nova situação pode ser encarada como um jogo invertido, a casa de apostas que possui o “plus” da vantagem das probabilidades passa a ser o especulador e o jogador passa a ser o mercado! Estranho, não é? Pois seja, mas se o negócio do casino é ganhar dinheiro, o negócio dum especulador com estratégia também o é.

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Qualquer pessoa pode possuir habilidades inatas para se tornar um especulador de sucesso?

A resposta é difícil mas não se afasta muito dos padrões do que se passaria se a mesma pergunta fosse feita a alguém candidato a gestor, médico, engenheiro, advogado, arquitecto, cabeleireira, carpinteiro, rameira, agricultor, etc.

Para se ter sucesso em qualquer profissão é fundamental gostarmos daquilo que fazemos, sem isso nada feito.

Retirar prazer absoluto da profissão exercida é o topo que podemos almejar, um patamar ainda mais difícil de alcançar que se encontra ao alcance de poucos, infelizmente.
Se o seu caso é esse então pode crer que não precisa de pensar em mudar de ramo de actividade, está lá muito bem.
Parabéns porque escolheu seguir o seu sonho e sente-se bem consigo próprio.

Voltando à vaca fria, ser especulador normalmente é um complemento de outra profissão.

Ser especulador profissional requer uma quantidade de capital enormíssima que não se encontra ao alcance de qualquer um, pode-se garantir que para alguém pretender seguir uma carreira totalmente dedicada à especulação financeira requer-se no mínimo um capital de partida na casa das várias centenas de milhares de euros. Se estiver abaixo deste patamar, esqueça, a especulação profissional não está ao seu alcance.

Ninguém nasce ensinado, para que um candidato se torne um bom especulador é preciso passar por uma fase de aprendizagem que demora uns anos a aperfeiçoar até se conseguir atingir um nível que garanta resultados de sucesso médios aceitáveis.
As performances obtidas no trading especulativo estão muito longe da convencional estabilidade dum salário planeado ou regular proporcionado pelo trabalho exercido noutras profissões.
Os resultados dum especulador, seja ele bom ou mau, irão sempre alternar com valores de variâncias inabituais ou pouco comuns, depende muito obviamente do perfil de risco de cada um.

Um bom especulador que pretenda assumir riscos extremos poderá esperar resultados anuais muito bons misturados com anos decepcionantes com retornos próximos do zero ou até mesmo negativos, é inevitável e não há volta a dar.

O risco de colisão e acidente de um corredor de rally de alta competição tem de estar sempre presente, alcançar a meta num tempo “record” ou muito difícil de alcançar pode ser o prémio a recolher , mas uma má trajectória numa curva mais traiçoeira pode ter consequências dramáticas para as suas aspirações.
Da mesma forma podemos fazer esta analogia a um especulador, sujeita-se permanentemente ao risco e os benefícios serão os resultados positivos dos negócios e os prejuízos os imponderáveis das reacções de mercado que não esperava encontrar pela frente, podendo ir no limite até à perda irreparável do seu capital num negócio mal defendido.

Na especulação nada está garantido à partida, os melhores jogam com as probabilidades do seu lado tal como numa partida de poker.

O desvio-padrão dos resultados é de tal forma incerto e volátil que a opção de se dedicar à especulação de elevados retornos só fará sentido se estiver disposto a correr riscos elevados e aspirar obter rentabilidades médias que ultrapassem de forma clara as expectativas do que obteria noutras profissões em termos de garantia de segurança e estabilidade salarial.

Podemos assim concluir que não é qualquer um que se pode tornar um bom especulador.

Nesta actividade são exigidas três qualidades (ou defeitos, depende da perspectiva) que dificilmente serão encontradas noutras profissões:
1) Gostar muito de lidar com o risco, o stress e a aventura do desconhecido.
2) Uma vontade ilimitada de tentar encontrar métodos cada vez mais eficazes de ganhar dinheiro.
3) Possuir algum objectivo subconsciente inconfessável de tentar provar a si próprio, ou a alguém próximo, que se pode ter sucesso para além da profissão rotineira, recorrendo à imaginação e algum estudo.

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3 de Janeiro, 21H 50M

Ao proceder à actualização dos gráficos diários no final do dia com os novos activos da carteira, o Cem constatou com alguma surpresa que o “Salvador da Pátria” tinha alterado o seu “output” no EuroDollar de +100 para +50, obrigando a vender metade da posição comprada ao início da manhã.

“Humm”, procurou pôr as ideias em ordem, “o EuroDollar tem estado a subir num “swing” de curto prazo e o indicador baixou? Terá sido alguma componente oscilatória a assinalar a proximidade dum topo?
Como o “Salvador da Pátria” é uma média do “Bobi” com o “Gorongoza X”, só se um destes indicadores baixou para neutro é que se pode justificar que a média tenha baixado de 100 para 50.
Deixa-me confirmar.
Pronto, está visto, foi o “Bobi” que passou de ascendente a neutro no EURUSD, marca agora uma indefinição de tendência.
Vou ter de confirmar a nova posição com o corretor”.

- Alô, boa noite, nova ordem a colocar ao mercado:
Vender 500.000.000 EURUSD.

- Certo, ordem de venda executada a 1,33542 USD/EUR.
Nesta altura e apesar da venda, ainda está comprado na carteira com 500.000.000 EURUSD.

- Ok, confirme-me por favor o lucro do fecho da posição dos 500.000.000 EuroDollars que foram vendidos.

- Queira tomar nota, por favor, lucro de 3.085.172 €.

O Cem fechou a loja naquele dia, para primeiro negócio encerrado até nem foi mau de todo começar com um pequeno lucro.
“Esperemos que continue desta maneira daqui para a frente”, assim que recostou a cabeça no sofá o Cem caiu para o lado num sono profundo.

Enquanto descansava no maple perpassou-lhe pela mente um verdadeiro pesadelo que o obrigou a acordar agitado e a dirigir-se para a cama, precisava de se acalmar.
Ainda estava meio abananado a lembrar-se do terrível sonho com milhares e milhões de notas de Euros a serem sugadas para o inferno, onde uma Frau Merkel demoníaca com um par de hastes taurinas na cabeça berrava a plenos pulmões naquela língua intragável: “Hättest du lust für ihn hölle zu kommen?”.
Coisa horrível!

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Aquele primeiro dia da conta tinha sido um pouco stressante, não pelas posições de risco assumidas ou pela dupla operação no EURUSD, mas sim pela conversa com o Chefe das Finanças.
Se as coisas continuassem a correr desta forma, pretendendo que desse justificações das posições e a ser picado com fábulas sobre especuladores fantasmas a conta iria acabar cedo.
Paciência, tinha mais que fazer, que arranjassem mas é outro gestor para aturar aquele chato.




[ Continua ]
Anexos
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Citações que me assentam bem:


Sucesso é a habilidade de ir de falhanço em falhanço sem perda de entusiasmo – Winston Churchill

Há milhões de maneiras de ganhar dinheiro nos mercados. O problema é que é muito difícil encontrá-las - Jack Schwager

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Episódio 7 - As primeiras ordens

por Cem pt » 3/1/2011 20:11

Lisboa, 3 de Janeiro de 2011, 7H 55M.

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Finalmente a execução das primeiras ordens de acordo com os valores retirados do “Salvador da Pátria” com as quantidades rapidamente calculadas uns minutos atrás.

Normalmente o Cem daria as suas ordens de Bolsa depois das oito e meia da manhã se estivesse a lidar com carteiras pessoais compostas por acções portuguesas e europeias.
A folga da meia hora depois da abertura das bolsas europeias advinha da experiência acumulada das ineficiências e puxadas inconsistentes que muitas vezes não permitiam a obtenção de preços razoáveis na fase da abertura, era chamado o “período dos tolos”, a fase em que a maioria da multidão dos participantes do mercado actuava para dar ordens no mercado e paralelamente o período do dia que os profissionais do mercado evitavam a todo o custo.

No caso concreto da nova carteira do “Salve Portugal!” os activos que a iriam compor eram no entanto pares cambiais, uma mercadoria e um índice, que já estavam todos cotados pelo menos desde as 7H da manhã.
De forma sensata bastar-lhe-ia dar as ordens ao mercado um pouco antes das bolsas abrirem em toda a Europa Ocidental.

- Bom dia, aqui ficam as ordens de estreia para a carteira do “Salve Portugal!” ao mercado, agradeço que tome nota:
Vender 1.000.000.000 EURJPY.
Comprar 1.000.000.000 EURUSD.
Comprar 468.165 onças de XAUEUR.
Comprar 71.746 CFD do DAX.

- Ok, vou-lhe enviar a confirmação de imediato por e-mail, as ordens foram executadas aos seguintes preços, queira tomar nota:
EuroIenes vendidos a 107,88 JPY/EUR.
EuroDollars comprados a 1,32718 USD/EUR.
Onça de ouro comprada a 1068,75 Euros.
DAX comprado a 6.973 Euros por CFD.

- Bom dia e até à próxima.

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Para calcular as quantidades em cada um dos papéis da carteira o Cem procedeu da seguinte forma:

1) EURJPY:
Quantidade a negociar = Valor inteiro de: “Salvador da Pátria” x Alavancagem máxima x Saldo da carteira / Número de papéis da carteira / 100
Q = -100 x 4 x 1.000.000.000 EUR / 4 / 100 = -1.000.000.000 EUR

2) EURUSD:
Quantidade a negociar = Valor inteiro de: “Salvador da Pátria” x Alavancagem máxima x Saldo da carteira / Número de papéis da carteira / 100
Q = +100 x 4 x 1.000.000.000 EUR / 4 / 100 = +1.000.000.000 EUR

3) XAUEUR:
Quantidade a negociar = Valor inteiro de: “Salvador da Pátria” x Alavancagem máxima x Saldo da carteira / Número de papéis da carteira / 100 / Cotação da onça de Ouro
Q = +50 x 4 x 1.000.000.000 EUR / 4 / 100 / 1068 = +468.165 Oz

4) DAX-30:
Quantidade a negociar = Valor inteiro de: “Salvador da Pátria” x Alavancagem máxima x Saldo da carteira / Número de papéis da carteira / 100 / Cotação por CFD
Q = +50 x 4 x 1.000.000.000 EUR / 4 / 100 / 6969 = +71.746 CFD

Obviamente os valores positivos correspondem a compras e os negativos a vendas, tudo operações fáceis e intuitivas.

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Que raio é esta história do “Salvador da Pátria”? Esta é uma pergunta que muitos farão nesta altura!
Resposta simples e imediata: trata-se de um indicador de Análise Técnica cujas características serão referidas em maior detalhe mais adiante.

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E a Análise Técnica, que diabo é isso?

Voltemos ao básico dos conceitos, quem se dedica ao estudo das acções nos mercados bolsistas usa duas fontes de análise distintas, refiro aqui duma forma simplista apenas o básico da pontinha do topo de cada um destes “icebergs”:

- A Análise Fundamental, ensinada nas universidades em Economia e Gestão, que se debruça sobre os valores dos balanços, rácios financeiros e perspectivas de evolução dos resultados e cash-flows das empresas analisadas para estimar o valor do custo de oportunidade de cada acção. Comparando os valores assim obtidos com a cotação actual, recomendam-se compras ou vendas consoante os cálculos das estimativas calculadas, denominadas “price targets”, estiverem acima ou abaixo do preço de mercado presente.

- A Análise Técnica, baseada no comportamento comparado de cenários similares do passado, procura determinar a forma como as multidões e agentes do mercado reagem emocionalmente ao actual padrão de cotações, determinando em seguida se existem maiores probabilidades de assistirmos a subidas ou descidas das cotações.

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Bem perto da hora de jantar o Cem tivera de passar pelo Ministério das Finanças, muito vazio de pessoal devido à hora tardia, para formalizar a papelada que tinha para assinar sobre a conta sigilosa do “Salve Portugal!”.

Aquilo eram formulários, assinaturas, notas de rodapé, termos de responsabilidades, duplicados de legislação, declarações para o Fisco, uma catrefada de burocracia incontável.

Ainda diziam que estávamos no País do Simplex. Pois, pois, um Complex com tentáculos cada vez maiores, isso sim, apesar de todo o avanço que os computadores e acessos online podiam proporcionar.

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Absorto sobre onde deixara a viatura estacionada, à saída do gabinete e já com cópias devidamente organizadas na pasta, quando se preparava para descer as escadas de acesso à saída os seus pensamentos são interrompidos por uma voz que o chamava a poucos metros de distância:

- Boa noite, desculpe incomodá-lo, mas você é o Cem, não é?

- Boa noite, sim, prazer em conhecê-lo.

- Apresento-me, meu nome é João José Costa Santos, sou o Director dos Estudos de Assessoria Estratégicos Transversais do Ministério das Finanças.

Depois, virando a cara para os dois lados para se certificar que mais ninguém o estava a escutar, dispara em voz baixa e muito rápida:

- Sabe, sou o chefe dos boys neste departamento mas detesto ser visto nesta condição.

- Deixe para lá, Doutor, na vida há coisas piores.

- Gostava de o convidar para tomar um cafezinho comigo, tem algum tempo disponível?

- Com todo o gosto, têm aqui o vosso bar do Ministério aberto?

- Cem, vê-se bem que você não conhece a Função Pública, nada disso, o nosso bar encerrou à hora certa de fecho dos departamentos públicos, não dão nem mais um minuto de folga.
Venha comigo ali abaixo à saída, há ali um café jeitoso mesmo ao virar da esquina.

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O Cem acompanhou o seu simpático interlocutor, não o conhecia de lado nenhum mas ao menos este estranho não escondia que era boy, um caso raro nos dias que correm.

Trabalhar fora de horas até tarde no Ministério não estava na imagem que o Cem imaginara nesta classe de favorecidos do regime, como em tudo na vida haveria certamente os que se esforçavam por ser úteis à sociedade.

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Caminharam uns metros no exterior apanhando uns pingos de chuva frios que os obrigaram a apressar a passada e entraram num café.
Em duas mesas mais interiores havia três pessoas a atacar uns bitoques e um frango grelhado.
Sentaram-se numa zona mais reservada onde se podia falar sem receio de violação da privacidade e o Dr. João Santos pediu 2 cafés e copos de água.

- Cem, desculpe a minha curiosidade, estou-me a iniciar nos mercados há poucos meses, ouvi dizer que você percebia disto e portanto gostava de saber a sua opinião.
No princípio as minhas apostas estavam a render uns cobres, estava a ganhar perto de 8% e de repente as acções começaram a cair.
Em vez de vender fiquei um pouco confuso e pensei que devia ser uma correcção saudável da Bolsa, acreditava piamente que as minhas acções eram uma escolha excelente.
Deixei-me ficar quieto, reparei que outras acções começaram a subir e aí ganhei confiança.
Estava a perder já uns 6% e achava que as cotações da empresa da minha aposta também teriam de subir apara acompanhar as outras, não fazia sentido estarem ali quase isoladas no meio de outras muito piores a apanhar pancada.
Reforcei mais compras com dinheiro que fui buscar às minhas últimas economias.
Resultado: nada, as acções continuaram a cair, acho que a culpa não foi minha, foi dos mercados, a empresa em que apostei garanto-lhe que é muito boa, tenho lá amigos que me dizem muito bem daquilo, mas o certo é que foi a 2ª pior do nosso índice desde essa altura, não é mesmo azar?
Nesta altura já perco acima de 15% e com dinheiro que nunca pensava ter aplicado em risco. O que acha que devo fazer nesta altura, reforçar ainda mais com dinheiro emprestado? Deixar andar e continuar angustiado? Ou vender e sair a perder muita massa? Neste caso já viu a minha vergonha porque não sei o que vou dizer à minha mulher?

- Dr. João Santos, eu não sou profissional nos mercados, só lhe posso transmitir a minha opinião pessoal baseada em anos de experiência e nos conhecimentos que vamos acumulando, fruto dos falhanços e sucessos que todos temos de atravessar.
O que me acabou de retratar infelizmente é muito comum em pessoas que resolveram entrar nos mercados sem uma grande preparação ou conhecimento sobre o comportamento das acções e dos mercados em geral.
No seu caso pessoal não sei a que acção se está a referir em concreto nem me interessa saber, uma das regras que devia ter adoptado era nunca reforçar posições perdedoras, não há ninguém por muito experiente que seja nos mercados que consiga adivinhar se determinada aposta de compras vai subir e até quanto, ninguém!
Outro conselho que lhe dou é nunca usar dinheiro emprestado, aplique apenas capital que tenha de lado e que sinta que nunca precisará de recorrer para qualquer emergência pessoal ou familiar.
Posso-lhe também afiançar uma coisa, exceptuando casos de “swing trading” que agora não são aqui chamados para o caso para não complicar, a piramidagem negativa ou a acumulação de posições perdedoras deve ser evitada a todo o custo.
Devia estabelecer uma perda limitada em cada negócio, se vir que a cotação continuava em queda e atingiu um nível perigoso que deveria ter estabelecido à partida, de preferência que não ultrapassasse aquela faixa dos 2% a 4%, devia já ter saído!
Muita gente que entra a comprar depois parece um condutor tolo perdido no meio do trânsito duma cidade desconhecida, não faz a mais leve ideia sobre que direcção tomar, a altura em que deve sair, não tem qualquer plano de trading estabelecido. Fica completamente perdida e sem saber o que fazer, está permanentemente cheia de dúvidas acerca do que fazer em seguida. Para isso era melhor nem ter entrado.
Nos mercados há que ter objectivos, um rumo e um plano: pensar que conseguimos adivinhar o sentido da acção dos preços é um erro tremendo, como não dominamos os mercados temos de ter opções para sermos nós a adaptarmo-nos a eles.
Se a cotação subir a este nível faço isto, se descer até ali, faço aquilo, isso é o mínimo dos mínimos.
Já agora deixe-me que lhe diga uma coisa, nunca culpe os mercados pelo que suceder, a responsabilidade sobre como actuar é sempre de cada um de nós envolvido no respectivo negócio, nunca se esqueça disso.
Nos mercados há mais marés que marinheiros, no futuro terá muitas mais oportunidades de apostar noutras acções ou cenários diferentes mas para isso precisa de preservar na sua essência o capital que dispõe. Se o gastar ou o deixar esfumar-se deixa de ter quaisquer chances de o reaplicar novamente.
Normalmente é por essa razão que ao primeiro aperto sério com perdas significativas que muitos candidatos a traders não querem ouvir falar mais nos mercados.
A especulação, no sentido literal de comprar e vender nos mercados financeiros, parece fácil, os ganhos parecem estar ali ao virar da curva à nossa espera, mas a realidade é bem diferente.
Várias fontes têm referido por diversas vezes que na prática só perto de 10% dos indivíduos que apostam em mercados consegue retirar lucros nesta actividade.
Pode acreditar, especular não é mandriar nem é aquilo que de uma forma depreciativa se convencionou ser um bando de parasitas a ganhar dinheiro fácil à custa do trabalho dos outros. É uma actividade difícil, onde a maioria perde muito dinheiro.
Para ganhar na especulação requer-se muita paciência, estudo e alguns conhecimentos básicos para se conseguirem capitalizar pequenos ganhos em grandes lucros no longo prazo.




[ Continua ]
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Re: Comentários

por Cem pt » 1/1/2011 17:21

Quero já agora aproveitar para agradecer os simpáticos comentários e incentivos a esta pequena sátira.

Na medida das disponibilidades, que infelizmente não são muitas, enquanto me estiver a divertir vou colocando mais umas cenas ou episódios.

Lembrei-me que duma forma romanceada os posts sobre AT e evolução dos mercados provavelmente merecerão um pouco mais de atenção e visibilidade.

Aproveito para desejar a todos um razoável / bom ano de 2011, já que excelente parece ser uma miragem face às dificuldades que se adivinham.
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por EuroVerde » 1/1/2011 15:07

Eu também me levantei cedo!
Espero que o Salvador da Pátria venha mesmo melhorar o mercado português.

Eu tou a ver um euro muitissímo forte ao longo deste ano, e os Estados a encaixarem muito muito dinheiro e a melhorar o mercado acionista e obrigacionista.

No entanto já já já vamos ver se a interpretação do mercado é afundar a curt prazo. PSI20 nos 6800

Crude sobe sem parar se assim for, provocando falências em empresas de transporte?
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