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Caldeirão da Bolsa

Salvando Portugal?!

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

Episódio 6 - O indicador "Salvador da Pátria"

por Cem pt » 1/1/2011 12:03

1 de Janeiro de 2011

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No primeiro dia do novo ano o Cem levantou-se cedo, cerca das 8 horas da manhã.

Era uma boa oportunidade para fazer uma primeira verificação sobre os resultados do novo sistema de trading antes dos outros membros da família acordarem. Haveria certamente muito tempo de planear um belo programa de fim-de-semana relaxado, com o sol convidativo a espreitar, mas estas horas matinais eram soberbas para deixar as suas coisas de mercados organizadas.

Abriu cuidadosamente o portátil pessoal, chamou o seu programa favorito do Metastock onde testava e introduzia as suas milhentas fórmulas de trading e chamou o “layout” do indicador “Salvador da Pátria” com o primeiro dos 4 papéis da nova carteira que lhe fora encomendada: o EuroIene.

Escolhera propositadamente gráficos simples, directos e de leitura fácil e automática. No caso do EURJPY o indicador colocado na zona superior do ecrã apontava para o valor extremo mínimo da escala: -100, o equivalente a -100%.

O significado desta leitura era bem simples, devia simplesmente vender ou tomar posições curtas neste papel com a alavancagem máxima possível.

Aproveitou a embalagem e descarregou os gráficos dos restantes activos da carteira: EuroDollar, Ouro cotado em euros e DAX-30.

Anotou numa folha de cálculo previamente preparada os novos valores obtidos para cada um deles no indicador “Salvador da Pátria”: +100 para o EuroDollar, +50 para o DAX e +50 para o Ouro.

Para já estava satisfeito, na 2ª feira tinha tudo o que necessitava para fazer um pequeno cálculo acerca das quantidades a estrear na nova conta.




[ Continua ]
Anexos
EURJPY SP_20101231.png
EuroIene 2010/12/31
EURJPY SP_20101231.png (33.97 KiB) Visualizado 3573 vezes
EURUSD SP_20101231.png
EuroDollar 2010/12/31
EURUSD SP_20101231.png (34.2 KiB) Visualizado 3584 vezes
XAUEUR SP_20101231.png
Ouro em euros 2010/12/31
XAUEUR SP_20101231.png (27.09 KiB) Visualizado 3577 vezes
DAX SP_20101231.png
DAX 2010/12/31
DAX SP_20101231.png (17.91 KiB) Visualizado 3568 vezes
O autor não assume responsabilidades por acções tomadas por quem quer que seja nem providencia conselhos de investimento. O autor não faz promessas nem oferece garantias nem sugestões, limita-se a transmitir a sua opinião pessoal. Cada um assume os seus riscos, incluindo os que possam resultar em perdas.


Citações que me assentam bem:


Sucesso é a habilidade de ir de falhanço em falhanço sem perda de entusiasmo – Winston Churchill

Há milhões de maneiras de ganhar dinheiro nos mercados. O problema é que é muito difícil encontrá-las - Jack Schwager

No soy monedita de oro pa caerle bien a todos - Hugo Chávez


O day trader trabalha para se ajustar ao mercado. O mercado trabalha para o trend trader! - Jay Brown / Commodity Research Bureau
 
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Episódio 5 - O plano de trading

por Cem pt » 1/1/2011 10:37

Lisboa, 31 de Dezembro

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O Banco onde estava sedeada a conta do “Salve Portugal!” tomou a iniciativa de contactar o Cem:

- Cem, daqui fala o Administrador do sector de Mercados do Banco.
Gostaríamos de o informar que reservámos para tratar em exclusivo da conta especial o nosso director dos corretores, tome nota do número directo, por favor: 9........ .

- Ok, obrigado.

- As suas ordens serão dadas directamente para o número disponibilizado de forma a evitar qualquer tentação de “inside trading” da nossa restante equipa de corretagem devido ao saldo exorbitante da conta.
O valor pornográfico das ordens que sejam dadas pode vir a ser um grande problema, estamos convencidos que poderia influenciar em vários pontos percentuais as cotações de acções em Portugal ou outras praças estrangeiras com capitalização reduzida.
Diria mais, provavelmente na maioria dos papeis do PSI-20 nem haveria quantidades suficientes de ordens acumuladas para satisfazer o saldo da sua conta, o que poderia provocar interrupções permanentes de cotação e leilões consecutivos para evitar que o limite dos 15% de valorizações ou desvalorizações seja atingido.

- É um facto. Tem alguma sugestão para atenuar esse efeito?

- Pedia-lhe encarecidamente, para evitar perguntas ou dúvidas que de certeza absoluta nos vão ser colocadas sistematicamente pela CMVM para evitar manipulações, que seleccione bem os activos da carteira de forma a evitar oscilações significativas através das ordens que forem colocadas.

- Muito bem, vou levar isso em consideração, espero introduzir as primeiras ordens na próxima 2ª feira.

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O Cem voltou ao seu escritório, que mais parecia um bunker, onde guardava toda a documentação e cadernos de apontamentos sobre mercados.

Toda aquela papelada continha rabiscos e testes com milhares de números, anotações e fórmulas de programação, prometera a si mesmo pôr aquilo tudo organizado e em ordem logo que arranjasse algum tempo disponível, coisa difícil de encontrar.

Felizmente a maioria desta informação já estava bastante desactualizada e sem grande importância, mais de metade daquilo já tinha destino marcado: o caixote do lixo.

O facto de manter um emprego estável numa área bem diferente da Economia só lhe permitia dedicar a atenção desejada ao seu “hobby” preferido dos mercados a seguir ao jantar ou durante algumas horas relaxadas dos fins-de-semana com a compreensão do resto da família, que aliás o incentivava e apoiava devido ao seu manifesto desejo de gostar de se isolar um pouco quando se dedicava à pesquisa e estudo de tudo o que dizia respeito a estas matérias.

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Evidentemente que a primeira coisa que teria de fazer era esboçar o seu plano de trading.

Na sua forma mais básica o Cem já tivera tempo de arquitectar o que a conta do “Salve Portugal!” iria ser. Um filme sobre a forma como iria lidar com a conta passava-lhe constantemente à frente dos olhos, faltava-lhe apenas tentar adivinhar a evolução dos resultados futuros da mesma.

Puxou duma pequena folha de A4 manuscrita e rememorou as linhas de guia do que pretendia fazer:

1) Estratégia:
- Seguir de forma mecânica e disciplinada as ordens do seu novo sistema de trading, baseado em Análise Técnica.
- O indicador que forneceria as posições e quantidades percentuais de risco dava pelo nome pomposo de “Salvador da Pátria”, mais à frente serão dados os detalhes necessários para o definir. Cada vez que o seu valor for alterado será transmitida a respectiva ordem na carteira, umas vezes no final da sessão e outras na abertura da sessão seguinte, dependerá da hora de fecho, da natureza do mercado em questão e também da disponibilidade de tempo.
- A conta será do tipo “hedge-fund”, recorrendo-se a posições longas e curtas sobre qualquer dos activos que a compõem.
- As análises incidirão sobre os gráficos diários. O “day trading”, que poderia implicar mais que uma ordem por dia, estava fora de qualquer hipótese. A sua actividade profissional impedia-lhe quaisquer tentações nesse domínio. Para além do mais é bom lembrar, basta ler alguma boa bibliografia sobre o tema, que quanto menor a escala do “time-frame” de eventual “day trading” mais remotas seriam as chances de obtenção de boas performances.
- A alavancagem será parte integrante do conjunto. A experiência anterior de gestão das suas carteiras pessoais através de gráficos de escala diária amadureceu-lhe conclusões que apontam para a utilização de factores multiplicativos entre cerca de 2,5 a 6 em acções, índices, câmbios e mercadorias diversas. Como regra geral pode-se estabelecer que quanto maior for a volatilidade existente em determinado papel menor deverá ser a alavancagem a imprimir. Porém, para evitar complicações de cálculos elaborados excessivos, neste caso decidira facilitar a aplicação deste princípio e adoptar unicamente o factor médio de x4 para qualquer dos activos da carteira, o que era uma aproximação aceitável face ao risco global.

2) Activos potenciais componentes da carteira:
- EuroIene (EURJPY), cotado no mercado Forex.
- EuroDollar (EURUSD), com cotações do Forex.
- Ouro cotado em Euros (XAUEUR), pertencente ao Forex.
- DAX-30 em CFD (Contracts For Difference), um índice muito popular representativo de acções na Europa, equivalente ao seguimento ponderado das principais 30 acções cotadas no mercado alemão de Frankfurt.

A escolha destes activos não aparece do acaso, fora já fruto anterior de experiências interessantes, seja em testes ou em trading em tempo real.

Recorrer a dois câmbios de excepcional liquidez, como são o EuroIene e o EuroDollar do mercado cambial Foreign Exchange (Forex) onde os Bancos Centrais são “players” importantes e permanentes, era uma escolha quase natural.
A diferença baixíssima do “spread” “bid-ask” garante à partida liquidez permanente e a sua capitalização anual de alguns triliões (em numeração americana) de Euros impedia que elevadíssimas quantidades transaccionadas pudessem fazer variar de forma visível as respectivas cotações, eliminando assim uma das preocupações dos reguladores de mercado.

O Ouro está na moda, não poderia deixar de fazer parte da carteira. Uma carteira de trading sem “commodities” é como comer um bolo sem açúcar.

Poderia ter sido escolhida outra mercadoria, fosse ela outro metal ou “commodity” dos sectores energéticos ou alimentares mas existem razões fortes para ter optado pelo metal amarelo.

A razão da escolha do Ouro tem muito a ver com o mercado onde é transaccionado.
Na esmagadora maioria dos casos as mercadorias são negociadas através de produtos derivados em futuros e opções com prazos normalizados bem definidos.
Os derivados têm contudo um handicap: o facto de serem produtos alavancados faz com que o seu valor em futuros seja superior à cotação “cash” ou “spot” subjacente.
Quanto mais afastado estiver do período de maturidade o “fair price” do derivado em causa mais se afastará em relação ao seu valor de mercado presente.
O “slippage” entre diferenças de melhores compradores e vendedores e as comissões de corretagem, associadas a custos de permanentes “roll-overs” nas transferências para os períodos mais líquidos seguintes em derivados correspondem infelizmente a custos de erosão que acabam por ser muito significativos no final do ano, comendo grande parte de eventuais lucros que possam ter existido.

Assim, se escolhermos um produto que seja cotado em permanência, do tipo de uma acção onde não existem custos de “roll-overs”, entramos no campo das preferências de qualquer trader que saiba apreciar as vantagens da estabilidade a longo prazo.

No mercado Forex existem 2 mercadorias à escolha: o Ouro ou a Prata. Por precaução defensiva, devido à sua menor volatilidade, a agulha apontou para o primeiro caso.

Evidentemente que o Ouro poderia ser cotado em moeda diferente, neste caso a opção foi o Euro mas também poderia ter sido o USDollar.
Reconhece-se que nesta matéria a decisão depende um pouco de uma questão de preferência pessoal embora o facto da carteira ser valorizada em Euros faça com que o risco cambial deixe de ser factor de preocupação.

Finalmente o DAX-30, um índice com elevada aceitação por parte dos traders em geral.
A escolha de CFD para negociar este produto tem bastante a ver com os inconvenientes dos custos dos futuros acima referenciados.
O maior inconveniente dos produtos CFD está relacionado com o pagamento de uma taxa anual das posições longas ou compradas que normalmente ronda os 3% a 4%.
Mesmo assim trata-se dum valor suportável face à elevada liquidez do produto e à muito competitiva diferença entre comprador e vendedor existente nas plataformas de negociação dos mercados.

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Para já o Cem voltou a arrumar a papelada no sítio, agora eram horas de comemorar a passagem do ano.

A vida não pode ser só trabalho, responsabilidades e preocupações. As chatices e ralações, sabia-o bem, estavam aí quase ao virar da esquina nesta nova grande aventura em que o tinham metido.

Adivinhava o começo dum desafio de proporções colossais, era um facto, não o podia ignorar mesmo que quisesse.

O destino pusera-lhe um fardo descomunal sobre os ombros, sabia que não podia falhar mesmo que tivesse dito ao Governo que nada podia garantir em termos de resultados.

Era o futuro de Portugal a longo prazo que estava em causa! Mas que alhada em que se aceitou meter…

Deixemos por enquanto esse desafio para 2011, agora é hora de descanso. Se não for aproveitada na sua plenitude a nossa passagem pela Terra torna-se um vazio sem significado e sensaborão.




[ Continua ]
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Episódio nº 4 - Obtenção do capital inicial da conta secreta

por Cem pt » 30/12/2010 22:49

Lisboa, 30 de Dezembro.

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Um pouco inquieto com o aproximar da data de pôr em marcha o grande plano de salvação do nosso País, o Cem telefona para o Ministério das Finanças.

- Bom dia, daqui Cem. Ligue-me por favor ao Chefe das Finanças.

A telefonista, habituada a atender milhares de telefonemas com o mesmo propósito, vê-se obrigada à frase de rotina:

- O Chefe está em reunião, não pode ser interrompido. Pretende deixar alguma mensagem?

Também o Cem estava avisado para estas respostas e fora previamente instruído que para ter acesso imediato ao Chefe das Finanças teria de citar uma senha de prioridade absoluta de grau 2, já que o grau 1 estava destinado apenas ao Primeiro e à mulher do Chefe:

- Minha senhora, então agradecia que prestasse atenção a esta mensagem: Vencer no futuro com a liderança do Primeiro + JJ + PT = Trio vencedor.

- Ah, muito bem, um instante por favor…

Passado cerca de meio minuto a voz do Chefe das Finanças aparece do outro lado da linha, parecendo um pouco surpreendido com aquela chamada inesperada:

- Bom dia, Cem, que se passa? Você já está preparado para arrancar com o nosso grande projecto secreto?

- Bom dia, lamento informá-lo que não.
Como sabe estamos a poucos dias do arranque do mega-Fundo, fui ao Banco consultar o saldo da conta do “Salve Portugal!” que devia ter os mil milhões e nicles, nada, o saldo ainda está em branco!

- O quê?! Tem a certeza? Vou já tomar providências, não se preocupe mais.
No arranque do ano vai lá estar o dinheiro, vou já pôr o meu Ministério em polvorosa a tratar desse assunto com a máxima prioridade.
Então, já agora, o que achou da cerimónia de Fátima há uns dias atrás? Concordará que foi um êxito estrondoso, o Cem partilha desta opinião?

- Foi um tanto inesperada, percebo que o Governo tenha querido tirar dividendos dum desejo prematuro de recuperação orçamental que ainda não aconteceu.
Só acho perigoso que vocês queiram dar demasiada visibilidade através da mediatização a algo sigiloso que devia ser tratado com o máximo de “low profile” e sem qualquer publicidade.
A propósito, o Jesus e o Padre Melícias o que sabem eles exactamente acerca do por enquanto secreto mega hedge-fund?

- Cem, o Fundo do “Salve Portugal!” vai-se manter secreto, é imperativo. Quanto aos outros nossos amigos, eles estão a milhas desse assunto, para o Governo o que interessa é aparecerem ambos a apoiar o “Vencer no futuro” que está integrado no Portugal Tecnológico para garantirmos o apoio da populaça neste projecto.
Só precisamos de dar a conhecer a ponta do “iceberg”, onde vamos colocar o Benfica para baralhar as hostes, e fazer constar que estamos a trabalhar bem para recuperar a nossa Economia e evitar a vergonhaça da entrada do FMI naquilo que é nosso.
Olhe, um bom ano de 2011 para todos nós que bem precisamos, nem sei se vamos chegar até às férias do verão mas fazemos questão em arrancar com o lançamento deste projecto ambicioso do “Salve Portugal!” para que um dia digam que o PS tinha lá governantes de génio, ao menos fica a restar deste Governo alguma coisa de jeito…

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O Chefe das Finanças chama com urgência ao seu gabinete o seu Secretário do Tesouro.

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Visivelmente irritado o Chefe das Finanças entra a matar:

- Bolas, então que é feito do dinheiro do mega-Fundo secreto? Recebi a informação que a conta ainda não foi constituída! Caramba, façam alguma coisa de jeito, temos aqui no Ministério uma enorme equipa de boys, pagamos-lhes bem e parece que só servem para falar ao telemóvel e bater palmas ao Primeiro…

- Calma, Chefe, a situação está difícil, os cofres do Estado estão vazios e apareceram também uns empecilhos pelo caminho.

- O quê?! Resuma lá rapidamente o que se passa, a massa tem de ser lá colocada com toda a urgência até ao final do ano.

- Chefe, tal como lhe disse, não há cheta em lado nenhum. Os impostos arrecadados não chegam para as encomendas, não conseguimos tapar todos os buracos de última hora que vão aparecendo. Esgotámos todos os recursos e mesmo assim estamos em risco de não conseguir cumprir o défice dos 7,3% neste ano.
Telefonámos a todos os outros Ministérios para ver se havia algumas sobras e está tudo de tanga, por aí não há hipótese. Já pus o nosso pessoal a pensar onde podíamos arranjar a massa mas não sei o que o Chefe vai pensar disso.
A primeira possibilidade analisada é vendermos parte do ouro acumulado no tempo do Salazar. O que acha?

- Não acho nada, nem pense nisso, já viu a bronca que era se os jornais descobrissem que andamos a gastar os últimos cartuchos da pesada herança do fascismo? Qualquer dia fuzilavam-nos, que mais cenários pensaram?

- Chefe, outra bela hipótese seria arranjarmos uma taxa excepcional para as entradas nas festas de passagem de ano.
Poríamos os hotéis, as discotecas, os restaurantes e os clubes populares onde há cervejolas, vinhaça, espumantes, foguetório e arraiais a cobrar 1000 Euros por pessoa.
Quem vai às festas é porque tem massa, é aí que temos de concentrar os nossos esforços para sacar mais uns cobres.
Considerando que se espera uma afluência no mínimo de 1 milhão de portugueses se despedir de um ano que vai deixar muitas saudades, face aos que aí virão, arranjávamos facilmente a verba da conta!

- Você está maluco, só pode. Com essa maquia toda por cada entrada?! Os jornais, o Alegre e toda a brigada do reumático do nosso PS já quase fizeram um levantamento de rancho só por querermos cobrar 2 euros e pouco por umas míseras taxas moderadoras nos hospitais, quanto mais 1000 Euros! Nem pense nisso.
Com tantos aumentos de impostos e taxas adicionais que acabámos de colocar no Orçamento de Estado do ano que vem, sem falar nos dos PECs, enforcavam-nos na praça pública. Que mais temos para descalçar a bota?

- Chefe, antes de continuar acabou de aparecer outro problema.
O Tribunal de Contas só autoriza a que se invista dinheiro do Estado e das disponibilidades dos Serviços Públicos através do IGCP, o Instituto de Gestão das Contas Públicas. Diz ainda o Tribunal que os gestores desses serviços públicos que aplicam verbas em Bancos Comerciais deviam ser demitidos pela ilegalidade cometida.

- Mau, não me venha outra vez com esses empatas do Tribunal de Contas para atrapalhar isto tudo.
Então alguma vez eu iria demitir o Cem por ter de gerir a conta especial fora do IGnãoseidasquantas?
Esqueça, essa conta do “Salve Portugal!” é secreta e vai ter de ser incluída à força na legislação especial para casos excepcionais, é como pagar aos nossos agentes secretos no estrangeiro, não podem aparecer nas folhas de pagamento do Estado.
Além do mais essa gente desse Instituto só faz essencialmente aplicações dos dinheiros com risco reduzido, pelo que me disseram põem aquilo em obrigações e coisas do género. A rentabilidade não passa do “ram-ram” dos 1% aos 4% ao ano, aquilo são miudezas, o dinheiro ali empatado não anda nem desanda.
Continue lá a debitar outras hipóteses para arranjarem a massa.

- Chefe, outro cenário possível era irmos buscar metade da verba ao novo aumento de capital do BPN, em vez de ir para esse buraco sem fundo desviávamos os 500 milhões para abrir a conta secreta.
Para completar o que falta a nossa equipa de “brainstorming” pensou que era capaz de ser uma boa ideia obrigar com urgência a Portugal Telecom a devolver até ao fim do ano o dinheiro que pouparam nos impostos com a antecipação dos dividendos, foram quase mais 400 milhões.
Era canja, o Bloco e o PC estão preparadíssimos para votar favoravelmente essa medida, se quiser telefono já ao Lacão para falar com o Assis. Ele chama os deputados que foram todos de férias para a passagem do ano, vão-se torcer todos mas que se lixem, os que não estiverem presentes para votar até amanhã de manhã pedimos ao Primeiro para não integrarem as próximas listas à Assembleia da República, remédio santo para fazermos passar o nosso plano.
O que fica a faltar, perto de 100 milhões, íamos também pedir ao Zeinal Bava para rapar parte dos restos da conta do fundo de pensões da PT, tão solícitos foram connosco em nos impingir os 2.500 milhões para taparmos o buraco do défice deste ano que desconfiamos que aquilo deve ser um poço sem fundo ou uma vaca sempre com leite.
Para quem nos disponibilizou tanta massa é porque devem andar ainda a gozar de ébrios toda a fortuna da venda da Vivo, caidinha do céu, temos de lhes caçar toda a nota que pudermos. Aquela empresa parece o cofre forte do tio Patinhas, há que lhes pôr o nosso fisco à perna!
Se não alinharem na manobra usamos a “golden share” para os apertar ou então ameaçamos em não reconduzir o Granadeiro na próxima Assembleia Geral, não acha uma estratégia brilhante, Chefe?

O Chefe das Finanças começava a perder a paciência, exasperado:

- Mas eu só tenho incompetentes neste Ministério? Vocês perderam o tino de vez? Não misturem o BPN com o “Salve Portugal!”, bem me basta os pesadelos de tentar saber como vamos safar esse maldito Banco, para além de andarem todos de cima da gente com esse tema não me ponham também agora a pensar como vamos salvar o Banco mais o País ao mesmo tempo, não é?! Vocês não têm mais imaginação?
Quanto à Portugal Telecom não me arranjem mais chatices, já fiz uma triste figura de pedinte a apelar em nome dos contribuintes para logo a seguir o nosso Primeiro dar instruções para não chafurdar mais nessa matéria.
A nossa “golden share” que ainda lá temos nem pensar em usá-la nesta altura, temos é que estar mansinhos e fingir que não a temos porque a Comissão Europeia parece um “bulldog” a farejar um osso, aquilo deve ser laia de gente que aprendeu com a Ana Gomes.
Ainda por cima ontem tive de pedir por especial favor à Administração da PT para não nos cortarem o telefone por causa da conta que não pagámos no final do mês de Novembro, veja lá que até me vieram dizer que ainda nos estão a fazer um favor porque são nossos amigos! [Suspirando, após curta pausa] Têm cá uma latosa!
Bem, em frente, há mais soluções possíveis?

- Sim, Chefe, há ainda outra possibilidade interessante, que tal disfarçarmos os mil milhões divididos proporcionalmente por cada tuga na próxima factura da EDP?
Diluindo desta forma o pessoal nem repara que só menos de metade é que corresponde de facto à despesa da electricidade, se quiser telefono já ao Mexia, como a conta do Cem vai ter um saldo em constante renovação até seria legal aumentarmos um bocadinho a conta dos subsídios compensatórios das renováveis…

- Já estou a perder a paciência consigo, então não vê que as facturas de Dezembro da EDP já seguiram para os clientes? Agora só se fosse em Janeiro de 2011 e aí já é tarde, a massa tem de estar na conta secreta até amanhã, percebeu?

O Secretário começava a ficar preocupado, restava-lhe só uma possibilidade na manga:

- Chefe, só temos então uma hipótese: emitirmos mais mil milhões de Euros em Obrigações até ao fim do ano…

- Mas isso é impossível, as emissões de 2010 estão esgotadas, os mercados da dívida estão encerrados até ao fim do ano e ainda por cima o nosso amigo Trichet está de férias com o Constâncio, já não nos vão comprar nem mais 1 euro enquanto não aprovarmos o novo aumento de capital do BCE!
E agora? Começamos bem, sim senhora, cheira-me que nos vamos estrear com uma grande barracada perante o Cem, vai querer começar a dar ordens no início do novo ano e não existe lá um pequeno cêntimo que seja na conta secreta!

- Calma, Chefe, que tal se falarmos com os nossos Bancos?
Por muito que digam que não se conseguem financiar lá fora ultimamente, os lucros deles este ano vão ser fabulosos graças a nós e aos “spreads” que praticam no crédito aos clientes.
Connosco ganharam um maná com a negociata da diferença das taxas de juro das emissões das nossas Obrigações, como sabe pedem dinheiro ao Banco Central Europeu a 1% com contra-garantia das Obrigações compradas anteriormente e cobram-no a nós a quase7% ao ano nas novas emissões a 10 anos. Se fizer as contas com o que os Bancos subscreveram este ano ganharam muito mais do que os 1.000 milhões de euros que precisamos.
Precisam de nós para ganhar dinheiro e portanto não nos podem bater com a porta logo na altura em que deles mais precisamos.

- Humm, finalmente, parece ser uma ideia com pernas para andar mas só de pensar que tenho de convencer aquelas cabeças duras a aderir ao nosso plano até me dá pesadelos. Convoque-me para logo à tarde com urgência uma reunião com os Presidentes da Caixa, BES e Millennium.

- Certo, Chefe, desculpe lá, o Ulrich fica fora desse rol das convocatórias?

- Ó Homem, não me faça perder mais a paciência, esse indivíduo está fora do baralho, foi ele que começou com a história de estarmos quase a bater com a cabeça na parede e de revelar um segredo de Estado como o valor da nossa dívida externa que só fez com que os mercados nos começassem a atacar forte e feio, o nosso Primeiro nem o pode ver à frente nem pintado.
Mantenha a convocatória só com os que lhe pedi, aturar esses três já é suficiente para me pôr os últimos cabelos brancos.

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O momento era solene, os três Presidentes não estranharam muito o semblante de grande preocupação do Chefe das Finanças, afinal nos últimos dois anos os pedidos constantes para os principais Bancos nacionais continuarem a financiar os projectos do Governo eram o pão nosso de cada dia.
A única dúvida que os assaltava, houve até apostas entre eles quando subiam as escadas para a sala de reuniões do 1º andar, era saber se desta vez iria haver um pedido para libertar crédito acima dos 500 milhões de Euros para tapar o imprevisto de mais algum buraco do Governo ou se o Chefe os iria apertar uma enésima vez para os impingir à força as sobras do BPN.
Após os cafezinhos da praxe servidos pela simpática e vistosa secretária do Chefe das Finanças, este resolve introduzir de imediato o motivo desta reunião tão urgente num tom solene e seco:

- Meus senhores, agradeço a vossa presença e estou certo mais uma vez da vossa disponibilidade em ajudar o País, uma vez que vocês representam os últimos recursos que nos restam.
Estamos todos no mesmo barco, deixar de contribuir para os projectos fundamentais em curso é o mesmo que condenar os vossos Bancos a uma tragédia que nos irá afectar a todos, ou remamos todos para o mesmo lado ou vamos todos ao fundo.
A situação é muito grave e portanto peço-vos encarecidamente que nos ajudem mais uma vez.

Os Presidentes trocaram rapidamente olhares entre si, este tipo de discurso não era novo, já o tinham ouvido anteriormente e em várias ocasiões.
Recentemente na altura do lançamento dos PECs, também em Outubro de 2008 quando o mercado inter-bancário secou por completo durante duas semanas que podiam ter terminado em tragédia para o mundo numa altura em que se preparava uma corrida de pânico generalizado ao levantamento dos depósitos bancários e quando durante o dramático período de Março a Maio deste ano a Grécia deitou a toalha ao tapete.
Aquelas palavras não auguravam nada de bom.
Contudo o efeito dramático do tom do discurso com um preâmbulo enigmático por parte do Chefe das Finanças, apesar de calejado em saber manter a compostura perante cenários muito adversos que não deixavam de ser a regra geral que tinha de enfrentar em permanência, deixou os ilustres presentes incomodados e pouco à vontade.
Todos sabiam que a cabeça do Chefe estava claramente em jogo se não arranjasse a muito curto prazo uma estrutura altamente eficaz e dura para combater a despesa pública fora de controlo em quase metade dos Ministérios do Governo de que fazia parte. Na véspera tinha tido uma conversa muito séria com o Primeiro e até tinha ameaçado bater com a porta se alguns dos colegas do Governo não levassem esse controlo orçamental a sério. Só que era fácil suspeitar que a reunião em causa nada tinha a ver com essa matéria.
O Chefe das Finanças expõe finalmente a verdadeira razão daquela intrigante convocatória:

- Meus caros, os vossos Bancos têm de subscrever mais uma pequena bolada de 1.000 milhões de Euros até ao dia 31 de Dezembro sem falta, trata-se de um projecto secreto de sobrevivência do nosso País que nesta altura não vos posso revelar por imperativos do máximo interesse nacional, aliás vai ser classificado como PIN de grau máximo: Projecto de Interesse Nacional da mais elevada importância. É assunto que pode pôr em causa a continuidade da nossa soberania futura!
Se isto que vos estou a pedir não for para a frente então adeus, vamos todos ao charco, eu vou-me embora porque já não estou para aturar esta pocilga e depois não há mais nada a fazer, torna-se inevitável a vinda do FMI e provavelmente os vossos Bancos vão ficar sujeitos a restrições impensáveis.

Um dos Presidentes procura atalhar:

- A vinda do FMI até era capaz de não ser má de todo, no passado as duas intervenções acabaram por ser positivas.

O Chefe irritou-se com a interrupção:

- Desculpem lá, vocês conhecem a nossa posição oficial que foi manifestada pelo próprio Primeiro: FMI nunca enquanto formos Governo, mais a mais se ele aí vier as taxas de juro dos fundos que vão ser colocados à nossa disposição baixam e o vosso negócio de intermediação nas obrigações de dívida pública, que vai sendo nos dias que correm o vosso Midas “touch”, sofre um grande rombo. É isso que os senhores querem para os vossos Bancos, baixarem as margens de lucro? Os vossos accionistas rifam-vos…

Os Presidentes engoliram em seco, de facto o último motivo invocado fazia sentido.
Além do mais dois dos Presidentes dos Bancos em causa foram colocados na sua posição com a bênção deste Governo, embora o Estado fosse apenas accionista dum deles.
Bem lá no fundo todos os Presidentes dos Bancos presentes sabiam que tinham de colaborar umbilicalmente devido aos elevados negócios e interesses actuais e do passado em jogo entre o Estado e a Banca, tudo dentro da legalidade como é evidente.
O destino duns e doutros era recíproco, faziam parte do topo duma figura geométrica composta por um baralho de cartas, colocado em pé numa posição instável, amparada neste caso pelas mãos do Chefe das Finanças.
Os importantes interlocutores da reunião aguardaram com ansiedade o que teria então o Chefe das Finanças a propor de concreto:

- Meus senhores, os 1.000 milhões de Euros que precisamos como pão para a boca têm de vir de imediato duma emissão obrigacionista secreta a 20 anos com uma taxa de remuneração de 5% ao ano! Procedam de imediato a uma sindicação em que a Caixa faça uma tomada de 50% das obrigações e os restantes Bancos fiquem com 25% cada.

Aos Presidentes presentes saltou-lhes a tampa ao mesmo tempo quando ouviram a taxa de juro para aquele prazo, era só o que faltava impor-lhes tamanha humilhação, era como se alguém de fora dispusesse do dinheiro das suas instituições a bel-prazer com remunerações abaixo do que estavam habituados a negociar, impensável!
Um deles, resguardado no facto do Estado não ser seu accionista, ganhou coragem suficiente para intervir com indignação:

- O quê?! Então se formos ao mercado primário e secundário da dívida para prazos muito mais curtos arranjamos taxas muito superiores e o Governo só nos quer remunerar com essa taxa vergonhosa? Nem pensar, o senhor arranje outros Bancos que não o meu, olhe, desculpe-me a arrogância, vá ao Totta!

O Chefe das Finanças, como que estando à espera duma reacção tão intempestiva, manteve o sangue-frio e lançou para a mesa a sua última e decisiva cartada que convenceu finalmente os presentes em definitivo:

- Tenham calma, não se esqueçam que o Estado tem apesar de todas as vicissitudes destes tempos difíceis um “rating” melhor que o vosso, a emissão tem uma garantia a acompanhar: um aval do Estado a custo zero, portanto risco nulo para os vossos Bancos, encaixam o dobro na maturidade com o capital e juros.
Estamos a falar dum negócio que não arranjam em lado nenhum!
Por ser uma emissão secreta que não pode entrar nas nossas Contas Públicas, posso-vos garantir que vai ter prioridade em relação a qualquer outra eventual reestruturação futura de Obrigações da dívida pública emitida e a emitir que venha a ter lugar, embora acredite que seja uma hipótese muito remota.
Estas condições contudo têm de ficar totalmente secretas, o mercado e o nosso Tribunal de Contas jamais poderão conhecer isto de forma nenhuma, perceberam bem, meus senhores? Seria de uma gravidade extrema se tal viesse a acontecer.
Para manter este grande segredo entre nós preciso de um juramento conjunto da vossa palavra, para isso convido-vos a cantarem comigo o Hino Nacional.

----------

Nas salas e andares de baixo os funcionários do Ministério das Finanças estranharam um som bem audível mas um pouco roufenho e meio desafinado que vinha da sala de reuniões do Chefe, as cantorias não eram certamente um ponto forte dos presentes na importante reunião mas havia que descontar a idade e a sua postura de estudada formalidade, seguindo-se sons estridentes de copos de champanhe a fazerem “tchim-tchim”:

- Heróis do mar, nobre povo…blá, blá, blá…contra os canhões marchar, marchar!
Plof…tsssss;… tlim, tlim, tlim, tlim, tlim, tlim: à nossa e de Portugal!

A bela secretária do Chefe precisamente na sala ao lado virou-se para as colegas e confessou:

- Caramba, o Chefe não se enganou por um dia de diferença nas comemorações do fim de ano com os convidados?
Esperem lá, se calhar é isso, nunca me disse que iam ligar o projector da sala com ligação à Sport TV, com hino e champanhe que vitória de Portugal é que terão estado a festejar?
O meu marido que é fanático da bola não me disse que o Cristiano Ronaldo ia jogar hoje outra vez, logo à noite vai-me ouvir das boas e vou-lhe fazer greve…

----------

Na despedida dos Presidentes ao Chefe das Finanças um deles fica para trás e pede-lhe uma palavrinha a sós.

- Sabe, Chefe, no meu Banco já sabemos do vosso plano da conta especial porque foi lá que abriram a tal conta secreta! Esteja descansado que não abrimos o bico, sabemos manter o sigilo dos nossos Clientes.
Mas diga-me uma coisa, porque é que vocês vão dar a gerir essa conta especial a um tipo desconhecido, esse tal Cem? Nós temos dos melhores profissionais Economistas e Gestores com graus de doutoramento nos mercados à frente dos nossos sectores de Private Banking, Corporate Advisory e Private Equity.
Não acha que se pode meter numa grande alhada duma aventura com um triste fim?

- Ó senhor Presidente, olhe que os nossos serviços secretos pesquisaram milhares de horas à procura dum tipo capaz de multiplicar a massaroca.
Até que encontraram um “site” na internet onde o grau de acertos dos analistas de mercado é uma coisa do outro mundo, você nem vai acreditar nas taxas de acerto…

- Chefe, não me diga que está a falar do Panelão…

- Nem mais, caro Presidente, foi aí que o fomos descobrir, podia ter sido ele ou outros e outras que por lá andam, pelas informações que me deram aquilo parece que é tudo craque em Análise Técnica, uma coisa esquisita que nós não demos nas Universidades mas que parece que vai estar na moda dentro duns anos, segundo dizem os americanos lá por Wall Street!

- Ah bom, Chefe, se esse indivíduo vem lá dessas bandas do Panelão já estou mais descansado, aquilo parece ser uma boa escola, são os únicos que conseguem competir com os meus homens!




[ Continua ]
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Citações que me assentam bem:


Sucesso é a habilidade de ir de falhanço em falhanço sem perda de entusiasmo – Winston Churchill

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por Marcohvm » 28/12/2010 6:30

Excelente !!!!!!
:clap: :clap: :clap: :clap:

Cmps,
Marcohvm
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Episódio 3 - Outras aparições em Fátima

por Cem pt » 28/12/2010 4:42

Fátima, 27 de Dezembro, 8 horas e 20 minutos da manhã.

Num hotel sobranceiro ao santuário uma mesa do salão principal destacava-se das restantes.

O espaço em questão chamava a atenção pelo facto da mesa se encontrar um pouco isolada das demais e de estar rodeada de câmaras de televisão da RTP, SIC e TVI com os respectivos repórteres visivelmente irritados com o atraso do evento que a todo o instante esperavam transmitir em directo, aguardando instruções de filmagem do Relações Públicas do Ministério das Finanças presente.

----------

Na véspera, a gozar ainda o fim-de-semana natalício, o Cem fora convocado de urgência.
Desconfiando que se tratava da cerimónia da abertura oficial da conta “Salve Portugal!”, veio a tomar conhecimento mais detalhado do que estava a ser tramado pelos representantes do poder ao abrir uma mensagem entregue em mão por um boy das secretas.

Uma dúvida assaltava-o constantemente, como iria o Governo descalçar a bota e dar a conhecer este dossier muito sensível e até agora secreto, sabendo de antemão do enorme perigo de desagregação que poderia ser provocado no seio do Governo se tal plano fosse revelado?
Como conter as consequências desastrosas das ondas de choque junto da opinião pública se a revelação duma conta secreta altamente especulativa e de valor muito significativo viesse a ter lugar?

Afastou pensamentos negativos que de vez em quando o assaltavam, começava a tomar consciência do enorme desafio que tinha de enfrentar, se algo corresse mal na gestão da mega-carteira como iria enfrentar essa grande barraca?
Respirou fundo e rasgou o duplo envelope da mensagem acabada de receber. O seu conteúdo foi lido de uma penada:
“Sua Excelência, o Chefe das Finanças, tem o prazer e a honra de o convocar para a abertura oficial do evento “Vencer no futuro”, representando o grande passo em frente do Portugal Tecnológico do amanhã.
A cerimónia terá lugar amanhã, dia 27 de Dezembro, às 8 horas da manhã no Hotel Pax e Lux em Fátima.
Presença obrigatória.
Traje de gala.”

----------

O Cem jamais suspeitara contudo da mediatização do acontecimento.
Ao entrar na sala do hotel, uns minutos antes da hora marcada, deu de caras com Jorge Jesus, o Padre Milícias e um macilento e acabrunhado Chefe das Finanças, fruto certamente do trabalho e pressão dos últimos dias.

Sentando-se à mesa dos restantes convivas do pequeno-almoço de boas vindas, reparou que reuniam curiosamente um ponto em comum: todos possuíam cabelos brancos, tudo gente que certamente passou pelo exercício de difíceis responsabilidades.

Na breve troca de palavras iniciais que serviu para se apresentarem e quebrar o gelo, o Cem concluiu que também JJ e o representante da Igreja receberam convites idênticos, mas questionou-se: saberiam eles exactamente o alcance e o verdadeiro propósito deste encontro? Estariam a par do mega hedge-fund? À cautela decidiu não introduzir o tema a não ser que o Chefe das Finanças tocasse no assunto.

Passado o período de apresentações e conversas banais para entreter, os minutos pareciam decorrer intermináveis sem que nada de interessante acontecesse.

O Chefe das Finanças parecia um pouco incomodado, notava-se que hesitava em dar início oficial à sessão. Afinal as televisões estavam mais que a postos. De que estaria o Chefe verdadeiramente à espera?

O Relações Públicas do Ministério das Finanças acercou-se para sussurrar algumas palavras ao ouvido do Chefe e o seu semblante alterou-se, mostrando-se claramente mais aliviado mas sem nada revelar aos convidados da mesa.

Eis senão quando no exterior são ouvidas sirenes agudas de motos da polícia. Que se estaria a passar?

----------

O Relação Públicas sacode o braço num sinal combinado, os operadores de câmara televisiva agitam-se e os repórteres colocam-se em posição junto à porta do salão chamando por satélite com urgência os respectivos estúdios para lhes dedicarem espaços noticiosos em directo.
As objectivas apontam para a entrada e acendem-se holofotes.

Ao fundo um bruá em aproximação crescente duma comitiva que estaria a chegar fazia-se sentir a todo o instante.

Como que saídos duma nave espacial num filme bem ensaiado, as portas da sala abrem-se de rompante para dar entrada à verdadeira estrela desconhecida da sessão, nem mais nem menos que o próprio Primeiro em pessoa seguido de uma numerosa comitiva que se vai sentando onde pode nas restantes mesas vazias!

----------

Após um rápido cumprimento protocolar um pouco forçado a cada um dos presentes na mesa em destaque, sem se sentar o Primeiro dirige-se a um pequeno palanque, preparado um pouco ao lado, contendo em lugar de primazia virado para as televisões uma frase centrada que sobressaía junto ao microfone dizendo “Vencer no futuro”.

Para completar a encenação vislumbrava-se ao fundo um notável segundo plano do santuário com um sol envergonhado a querer romper, visível através dos enormes vidros panorâmicos do salão.

Ao mesmo tempo um dos boys da comitiva puxou Jorge Jesus pelo braço para o colocar na posição de papagaio de pirata, um pouco atrás e ligeiramente de lado em relação ao Primeiro, para ser o terceiro personagem filmado em directo, para além do Chefe das Finanças colocado estrategicamente ao lado do Primeiro no palanque.

O líder do Governo começa a falar com enorme à vontade, bem treinado por inúmeros discursos que o amadureceram nestas andanças.

Num ritmo pausado e parecendo saído de um discurso estrategicamente pré-ensaiado, as televisões apanham toda a conversa do Primeiro:

- Por mero acaso vinha a passar para o Norte do País e fui alertado que o Chefe das Finanças do meu Governo se encontrava aqui presente, pelo que não podia deixar de lhe enviar o meu abraço e a minha solidariedade perante as horas difíceis que estamos a passar.
Ele bem merece toda a confiança dos portugueses e portanto não quis deixar de lhe manifestar pessoalmente toda a estima e consideração de todo o Governo e do País.
Tenho a honra de também ter aqui ao meu lado o grande Jorge Jesus, presente nesta iniciativa de enorme importância para o Governo e para todos os portugueses.

Virando-se ligeiramente para trás e puxando-o para primeiro plano o Primeiro apoia-se no ombro de JJ e dirige-lhe um enorme sorriso:

- Jorge, diga aqui umas palavrinhas para os portugueses e benfiquistas com a sua mensagem de esperança nesta altura festiva.

Apanhado desprevenido, Jorge Jesus tem de balbuciar uns chavões mais que repetidos noutras ocasiões:

- Bem, humm, continuação de Boas Festas a todos, o Benfica vai recuperando e vamos fazer os possíveis e impossíveis para ultrapassar todas as dificuldades que nos esperam em 2011.
O Cardozo achamos que vai estar à altura, o David Luiz já tive uma conversinha séria de pé de orelha, o Roberto vai ser um Casillas, os reforços que pedi ao Presidente…

O líder do Governo corta-lhe no momento crítico a palavra, retomando o seu ar sério e discurso sem hesitações:

- Obrigado, Jorge, também nós no Governo que dirijo somos socialistas e defensores do Estado Social. Temos nos nossos emblemas em comum o vermelho, a cor do esforço, do trabalho e do sacrifício que todos os portugueses com imensa coragem vão trilhando. O Benfica e os portugueses são símbolos que a todos nos orgulham e engrandecem.
A obstinação de não desistir, de continuar a lutar sempre, sem desfalecer nunca, enquanto houver réstia de esperança, para alcançar o objectivo da vitória final.
Estamos aqui para vencer o futuro.
Isso quer dizer tudo o que vamos fazer daqui para a frente.
Estamos cansados de ser manipulados e massacrados pelos mercados, agências de rating e grandes especuladores que empobrecem injustamente o nosso País, obrigando-nos a pôr em marcha medidas impopulares que significam enormes sacrifícios para todos.
Os tempos difíceis vão continuar nos próximos anos, não nos iludamos, mas na sombra é chegada a hora de contra-atacarmos.
Queria deixar-vos por isso uma mensagem de verdadeira esperança, através da honrosa presença do Padre Melícias na mesa ao lado que digna e simbolicamente representa a esperança espiritual deste retiro emblemático de Fátima, que os portugueses se preparam para vencer os desafios colossais dos mercados e os golpes incontáveis dos grandes especuladores internacionais que sem vergonha desde 2008 para cá pretendem derrubar de forma infame e injusta os alicerces do desenvolvimento social dos países do sul da Europa.
É portanto com uma grande mensagem de esperança nascida deste cenário que hoje lançamos o programa “Vencer no futuro”, digno de uma Economia moderna dos dias de hoje.
Um programa cujos contornos permanecerão secretos, por interesse nacional, e do qual só poderei adiantar que acaba de ser posto em marcha pelo nosso Governo.
Portugal não se vai vergar mais, lutaremos com armas tecnológicas aos que pretendem deitar-nos abaixo.
Saída da estratégia que em boa hora lançámos há uns anos atrás através do Portugal Tecnológico, o nosso País constituiu um antídoto formidável para dar uma luta sem quartel aos mercados e aos grandes especuladores.
Combatê-los-emos de frente no seu próprio terreno, no mercado.
Tal como Jesus disse, venceremos e não viraremos a cara à luta.
Com a ajuda de todos os portugueses este é o Portugal que queremos para o futuro, formado pelo símbolo de liderança do Governo, Jesus e Portugal Tecnológico: um trio sempre vencedor.

Bebida uma pequena garrafa de água de um só fôlego, o Primeiro desce do palanque, abandona a sala com a comitiva que o acompanhava à chegada e nos minutos seguintes o som das sirenes dos polícias batedores vai-se esbatendo até se restabelecer o som ambiente tranquilo do interior do hotel.

----------

As equipas de televisão recolhem aos camiões estúdio itinerantes e os convivas da mesa entreolham-se e falam com mais à vontade uns para os outros.

Jorge Jesus retoma umas palavras:

- Bem, o vencer no futuro que vinha no postal do convite é uma coisa a que estamos habituados na nossa casa, só não sei ainda bem para que é exactamente toda esta excitação, vejo todos muito convencidos da nossa vitória como se fossem favas contadas.

Virando-se para o Chefe das Finanças ao seu lado, lembra-se de lhe fazer um pedido:

- Chefe, já agora, tenho uma conta num Banco bloqueada que não consigo movimentar, lembrei-me de lhe pedir…

O Chefe interrompe sem mais delongas:

- Obrigado pelo seu apoio, caro Jorge, são pessoas da sua fibra que precisamos para conseguirmos recuperar.
Os meus agradecimentos pela sua presença.
E ao senhor Padre Melícias o meu obrigado pelo apoio presencial e espiritual que nos momentos difíceis do nosso País empresta a estas cerimónias por parte da Igreja neste belo cenário…

O agora visado não se faz rogado:

- Com a graça de Deus, meus filhos, vamos recuperar, estou certo disso.
Desde os meus tempos da Santa Casa da Misericórdia que repito incessantemente que temos de ter fé no próximo.
Às pessoas humildes que vinham ter comigo para saber como poderiam ganhar no totobola e totoloto eu dizia que ganhar vem da insistência e da esperança de algum dia a sorte nos poder sorrir.
Já dizia o Senhor na sua infinita sabedoria que blá, blá, blá…

Só faltava o Cem intervir e justificar cuidadosamente a sua enigmática presença perante JJ e o representante da Igreja, escondendo as armas do combate do futuro mas tendo de abrir um pouco o jogo:

- Bem, cá estou presente como não poderia deixar de contribuir para um Portugal diferente no futuro mas acho que ainda ninguém explicou o básico do que vai ser feito.
O Primeiro no seu discurso atacou forte e feio os grandes especuladores, mas será que lhe explicaram que os vão combater recorrendo a outro especulador no outro lado da barreira?! Não será isto um paradoxo lesivo da imagem do que se quer fazer passar?

O Chefe das Finanças já tinha uma justificação preparada para esta possível contradição:

- Cem, obrigado pela sua compreensão mas perceberá que não podemos dizer toda a verdade nua e crua às pessoas.
Não se esqueça que a política é a arte de fazer parecer que tudo é feito em nome do bem-estar dos cidadãos com transparência sem que se conheçam os métodos dos bastidores.
Um bom político trabalha para os resultados e deve ignorar intencional e oficialmente os meios de os atingir.

Jesus interrompe mais uma vez:

- Que raio estão para aí a falar? Especuladores? Mas hoje não era para falarmos do futuro do Benfica e das nossas vitórias?
Ah, Chefe, já me ía esquecendo outra vez, tenho uma conta bloqueada…

O Chefe das Finanças não lhe dá tempo para ele próprio proceder a um discurso eloquente, atalhando de imediato:

- Obrigado pela vossa presença.
A campanha “Vencer no futuro” que agora vamos iniciar no novo ano será um marco histórico comparável aos Descobrimentos. No passado a glória e o orgulho de Portugal, no futuro seremos o deslumbre e teremos a admiração do mundo!
Ninguém esperará que um pequeno País como o nosso venha a ter a coragem de se abalançar a tamanho cometimento, somos uma nação que na sua História inovou e correu riscos para se tornar grande.
O Governo está convencido que será atingido um feito único no Portugal Tecnológico do amanhã.
Se tudo correr como esperamos dentro de 20 anos os nossos rácios serão comparáveis aos da Alemanha, Estados Unidos e China. Voltaremos a ser um grande país como nos tempos áureos da 2ª dinastia do Infante Dom Henrique e Dom João II.
O destino de Portugal, meus senhores, está nas vossas mãos.

O entusiasmo declamador do Chefe, seguido de um silêncio de alguns segundos que a todos deixaram um pouco estupefactos pelo seu conteúdo histórico de raiz camoniana a que faltou apenas a intervenção dos deuses romanos, é mais uma vez interrompido por JJ:

- Mas ó Chefe, acha que se o Benfica ganhar a Champions, como espero que um dia venha a acontecer, vamos conseguir isso tudo? Eu cá para mim se calhar juntava também a formação dumas dezenas de Cristianos Ronaldos nos nossos escalões mais jovens e vendia-os depois pelo preço do CR7 ao Real Madrid. Aí o Governo já podia cobrar impostos ao nosso glorioso para conseguir uma boa maquia…
Chefe, já agora, a minha conta…

O Chefe das Finanças atalhou com alguma compreensão:

- Certo, Jesus, deu aí umas boas dicas para o futuro, o meu obrigado em nome do Governo. Viva o Benfica!
Mais uma vez o Governo reitera que conta convosco nesta caminhada conjunta para vencermos no futuro e atingir a glória…

Respirou um pouco e acrescentou em voz claramente mais baixa, menos convencido que anteriormente ou como se outra verdade o tivesse atingido como um raio repentino:

- …ou o desastre!

O Padre Melícias abençoou os presentes em jeito de despedida, ainda um pouco atarantado com a nova responsabilidade espiritual de que foi incumbido de patrocinar a salvação de Portugal, tendo rematado:

- Bem, converso com Deus todas as noites mas confesso que nunca assisti a tamanha profissão de fé no futuro angelical do destino do nosso amado País.
Será que arranjámos uma forma infalível de descobrir petróleo na nossa costa? Ou descobrimos uma fórmula secreta para acertar nos números do totoloto?

O Chefe das Finanças olha para o relógio, tinha mais que fazer do que continuar a aturar os simpáticos mas chatos artolas do convívio no hotel, dá por encerrada a cerimónia numa resposta enigmática:

- Quase, senhor Padre, quase isso. Um dia mais tarde, se tudo correr bem, saberá!




[ Continua ]
Editado pela última vez por Cem pt em 1/1/2011 10:45, num total de 4 vezes.
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por tiopatinhas » 23/12/2010 10:42

Pura e simplesmente espectacular :!: :!: Parabéns :!: :!:
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por ETranquilo » 22/12/2010 17:57

um espectáculo, Cem !

Parabéns.

sem comentários.
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por FilRib » 22/12/2010 17:34

Fantástico!
 
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por Elias » 22/12/2010 17:07

:lol: :clap:
 
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Episódio 2 - O plano B

por Cem pt » 22/12/2010 16:37

O telefone acabou de tocar.

- Cem, bom dia, daqui fala do Secretariado do Ministério das Finanças, vai falar o Chefe. Um momento, por favor…

- …Bom dia, você é mesmo o Cem? Aquele que anda pelo site do Panelão em que desancam sempre a dizer mal de nós?... Pois, sabe?! Os nossos serviços secretos estiveram a indagar e chegámos à conclusão que você tem aí uma arma poderosa para combater e salvar a nossa Dívida Pública a longo prazo.
Disponibilizamos-lhe a partir de 1 de Janeiro de 2011 mil milhões de Euros iniciais numa conta do Estado para investir como quiser. O dinheiro não pode ser levantado, é dos contribuintes portugueses. Só você pode dar ordens para pôr aquilo a mexer. A conta tem o nome de código “Salve Portugal!”.

- Olhe que isso é uma grande responsabilidade. Imagine que a coisa dá para o torto e que a massaroca dessa conta desce em vez de subir…

- Oh Cem, não se preocupe, isto só vale 2 submarinos, se o saldo fosse à vida é como se os submarinos se tivessem afundado ou perdido no meio do oceano! Ainda temos os 2 verdadeiros de reserva.

- Ok, já agora outra coisa: vocês não têm receio de que a salvação do País esteja nas mãos de um perigoso especulador? Já viram o que vai dizer a Esquerda com o BE e o PC? Vai cair o Carmo e a Trindade, vocês arriscam-se a criar uma grande escandaleira.

- Eh pá, Cem, não se preocupe, desde que a massa final seja maior a longo prazo está tudo bem. Mas de preferência veja lá se começa a dar lucro desde cedo para aguentarmos os cavalos, temos de dar finalmente uma grande alegria ao nosso Primeiro para podemos dizer nas televisões que vão começar a aparecer os primeiros frutos do Portugal Tecnológico porque até agora isto só tem sido tristezas atrás de desilusões. Garantimos entretanto que os nossos deputados vão defender essa causa…

- Ah bom, então se isso é para salvar Portugal, aceito o desafio, mas fica o reparo que vocês não apoiaram este projecto tecnológico em lado nenhum nem a política me interessa para nada, só faço isto pelo patriotismo!
Já agora outra coisa, exijo aqui outra condição: o Governo não pode arranjar desculpas para mexer nessa conta de salvação de Portugal, dê ela lucro ou prejuízo, senão o efeito de capitalização vai todo à vida a prazo. Bem sei que vocês estão muito aflitos de massa e a emitir umas dezenas de milhares de milhões de Euros por ano para renovar a Dívida e pagar os juros dos encargos anteriores assumidos…

-Oh Cem, claro que concordamos, a massa é para ser multiplicada. Mas se precisarmos de uns poucos de milhões para não baixarmos mais salários dos nossos funcionários e duns financiamentos do Estado de onde em onde para pôr o país a andar ou acudir a mais umas emergências, você não se importa pois não?...

- Nem pense nisso, ou sim à interdição de vocês tirarem de lá a massa ou então sopas, arranjem outro…

- Muito bem, não tiramos de lá um Euro que seja nos próximos 20 anos. Pode avançar, gerir a conta de “Salvação Nacional” está a seu cargo. Vamos falando de vez em quando para acompanhar, olhe que Portugal está nas suas mãos! Mas por favor confirme se logo a seguir ao Natal o dinheiro da nossa esperança já está na tal conta secreta porque caso contrário não consegue dar ordens logo no arranque do ano novo.

- Ok, poderei confirmar mas vocês é que me deviam dar essa indicação. Vamos lá a ver o que vai sair dali, em Janeiro espero que as coisas comecem a piar mais fino mas não posso garantir nada! Diga-me entretanto uma coisa, dentro do Governo está tudo de acordo com estas manobras da grande especulação? E o Alegre? E os jornais? Tenho grandes dúvidas porque esta negociata que vocês querem fazer arrisca-se a falhar rotundamente se não houver apoio popular.

- Cem, não se preocupe, basta o Primeiro concordar e o resto do pessoal diz ámen.
Quanto ao Alegre é fácil, vai-se torcer todo mas a táctica é não lhe passarmos “cavaco”, está tudo controlado.
Em relação aos jornais confesso que o que temos mais medo é dos semanários mas a gente depois arranja umas peixeiradas e umas providências cautelares para desviar as atenções.
Quanto à sua preocupação do apoio popular também já pensámos nisso, temos uma óptima solução para pôr o povo do nosso lado neste mega-projecto.

- Como?!

- Está tudo planeado.
Para isso vamos de recorrer à táctica do costume: o futebol!
Não temos agora o Figo mas vamos pedir ao Jesus que elogie o nosso mega-fundo “Salve Portugal!” para pormos pelo menos 6 milhões de tugas a dizer bem deste projecto nacional único no mundo.
Estamos a pensar apresentá-lo em Fátima com a presença do padre Melícias…

- Ah bom, mudando de assunto, os chinocas vão ou não comprar parte ou a totalidade da nossa dívida? Os jornais dizem que sim, para que querem então vocês continuar com este plano maluco do Fundo?…

- Bem, oficialmente sim, mas aqui para nós aquilo está envolto num grande mistério, não são de confiar.
Deixaram aquela mensagem final que a nossa polícia secreta está a tentar desvendar, mas creio que os chineses estão de facto muito à frente dos nossos agentes secretos.
Até agora a interpretação do SIS é que temos o “feeling” que os pássaros da primavera devem ser as águias do Barnabé a rondar o relvado da Luz onde há muitas ervas molhadas e muito dinheiro a rolar.
Acho que vão comprar a nossa dívida mas também antigamente diziam que iam comprar o glorioso e até agora, viste-lo!
Depois há uma parte intrigante do provérbio chinês que fala em água a entrar no buraco, nós pensamos que seja uma maneira simbólica de se referirem ao Roberto que mete água na baliza. Como o guarda-redes foi muito caro pode significar que é muito dinheiro a entrar em Portugal…mas também pode significar um grande negócio falhado como um buraco sem fundo tipo BPN, estamos ainda confusos mas não divulgue isto porque é segredo!

- ?! Benfica? Águias? Ervas? Agentes secretos? Vocês estão malucos? Não percebi patavina, que raio tem isso a ver com o “mega hedge fund”?

- Cem, esqueça, isso são conversas doutro rosário, a mensagem que lhe queremos passar é que Portugal está nas suas mãos, salve-nos!

- Vocês metem-me em cada assado, não estou a gostar, ainda por cima com futebóis pelo meio já estou a ver os guardas e a sargentona espia aqui do Panelão a apagar isto tudo…





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por carf2007 » 14/12/2010 15:40

Muito Bom !! :clap:

Mas por favor corrige o "Benvindos" para "Bem-vindos"
"Sofremos muito com o pouco que nos falta e gozamos pouco o muito que temos." Shakespeare
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por Ulisses Pereira » 14/12/2010 15:11

Cinco estlelas, Cem. ;)

Um glande ablaço,
Ulisses
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por Ulrich » 14/12/2010 14:50

Viva Cem,
Finalmente descobri :idea: :
O Cem é o alter-ego do Fernando Sobral :P

Próximo episódio desta "sitcom" já!

Abraços
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por mais_um » 14/12/2010 14:13

:lol: :lol: :lol: :lol:
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Salvando Portugal?!

por Cem pt » 14/12/2010 13:51

Uma história de ficção onde a única realidade é a futura evolução virtual das performances dos activos da carteira “Salve Portugal!” em função das cotações que vierem a ocorrer




Pequim, 9H da cinzenta e sombria manhã de 13 de Dezembro.

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Uma delegação portuguesa de alto nível com dois tradutores entrando na sala de reuniões descomunal do Banco da China, com vistas dando para as traseiras do Palácio do Povo e com quilómetros de betão de torres alinhadas a perder de vista em todas as direcções.

De forma quase automática muitos olharam para aquele espectáculo inolvidável, perdendo a vista numa bruma de um nevoeiro poluído de areia quase irrespirável no exterior do imponente edifício onde o ar condicionado central disfarçava o fervilhar aparentemente caótico mas organizado da grande metrópole .

Nem demorou 5 minutos, cerca de 20 chineses em impecáveis fatos estilo Dior bem ocidentais irrompem salão adentro, cumprimentando em uníssono com uma vénia oriental os dignitários portugueses presentes já sentados do lado das janelas do enorme salão situado no espectacular último 84º andar panorâmico do edifício sede do Banco central.

Na enorme mesa, entre cinzeiros debruados a jade verde coral e decorados com figuras de bambu, espalhados por todos os lugares distribuíam-se esferográficas de tinta de Nanquim com caderninhos de A5 de capa plástica transparente encimados por uma listra vermelha que juntava as insígnias das estrelas da bandeira chinesa a rodear a sigla ocidentalizada do Banco da China, como que a procurar lembrar aos presentes que, apesar das aparências exteriores, quem estava no poder era o Partido Comunista do Povo.

Com 2 tradutores de cada lado da mesa e outros 2 que tomaram lugar num dos cantos da sala para, através dos “headphones” disponíveis em cada cadeira, poderem reportar em inglês e chinês as conversações de alto nível que iriam ter lugar, deu-se início à reunião logo que umas chinesas com excelente apresentação entraram no salão e serviram num ritual estudado, certamente outrora muitas vezes repetido, a ronda do chá chinês com bolinhos de soja a todos os presentes.

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Introduziu as falas o Chefe da delegação chinesa:

- Bem-vindos à China, em nome do Povo espelamos que a vossa visita seja plofícua e benéfica para ambos os povos amigos seculales. Leplesento o govelno centlal com delegaçao do camalada Hu Jin Tao e estao aqui plesentes ao meu lado o Secletálio Gelal do Banco do Povo (Banco da China), o leplesentante do Povo (PCC) e muitos Dilectoles de Administlaçao de 15 dos maioles Bancos de capital totalmente chinês. Passamos a ouvil o que tem a dizel o povo do Poltugal.

O Chefe da delegação lusa toma a palavra:

- Obrigado pela recepção, vimos aqui de boa fé e não de calças na mão oferecer-vos um negócio da China excepcional: em vez de vocês continuarem a comprar biliões de dólares em obrigações americanas a taxas de juro ridículas, comprem em 2011 obrigações tugas que oferecem mais de 6% a 10 anos. Esperamos no ano que vem emitir perto de 50.000.000.000 de Euros que reservamos integralmente para vocês, juramos que não damos isto a mais ninguém. Papel de grande qualidade e com garantia do nosso Primeiro de que vamos pagar integralmente a dívida.

- Obligado, mas vocês não tinham já prometido ao senhol Lula que o Blasil ía compral mais de metade da dívida a emitil pol vocês no plóximo ano? O Senhol Dom Dualte também estava envolvido no negócio em contacto com um futulo ministlo que quel fical com senholita Dilma, Poltugal semple bem infolmado…

- Bem, sabe, o Lula é um tipo bacano que gosta de aparecer nas fotos e TV a dar as mãos a todos, é como o Chavez com las duas manos a ser um mãos largas com grandes negócios connosco, pela frente está tudo um mar de rosas mas por trás não andam nem desandam, já agora temos também aqui uns Magalhães para vocês…

- Obligado, já estamos selvidos. Esses PCs são feitos com peças que embalcamos em contentoles para Poltugal.

- Bem, então vamos ao que interessa. Compram ou não compram a nossa dívida do ano que vem, carago?!

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Nesta altura os chineses pediram para conferenciar por uns instantes na sala ao lado.

Passados uns minutos entram de novo na sala e o tradutor da delegação chinesa resume a posição oficial do seu país:

- Senholes poltugueses, quando o pássalo canta na plimavela as minhocas saem das tocas e as folmigas tlanspoltam elvas de chá com água gotejante pala o bulaco! Em nome da nossa delegação e do Povo chinês, o nosso obligado. Tenham um lesto de boa estadia e boa viagem.

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O Chefe coçava a cabeça, os seus cabelos cada vez mais brancos não enganavam quem ultimamente só tinha lidado com preocupações crescentes e más notícias.

- Bolas, lá estão eles com estes trocadilhos que não entendo nada. Ainda bem que não fui para os Negócios Estrangeiros. Lá na minha terra o que gosto mesmo é de pão pão queijo queijo. Senhor embaixador, o que acha? Traduza-me lá aquelas gírias diplomáticas, vão ou não comprar a nossa dívida?

- Chefe, eles aqui funcionam sempre com estas mensagens sibilinas confucianas. Senão nos mandaram àquele sítio é porque é bom sinal. Aposto que nos vão ajudar.

- Bem, não sei, estou muito confuso mas aos jornalistas que estão à nossa espera temos de ser mais positivos porque senão o Primeiro que está agora a falar para o Financial Times despede-me na próxima remodelação.

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Saída para o hotel e aeroporto, passando pela imperdível ida à Muralha da China e ao Restaurante Black Swan para degustar o famoso e crocante pato à Pequim.

O representante dos boys presente no alegre convívio sentiu a sua ferramenta de trabalho tocar, só esperava que não fosse o próprio Primeiro em pessoa, actualmente tinham ordens para utilizar as telecomunicações com o máximo de cuidados para evitar mais escutas e parar com as escandaleiras:

- Chefe, tenho aqui ao telemóvel os chatos dos nossos jornalistas, o que quer que lhes diga?

- Olhe, como não diria melhor o meu antigo amigo Pinheiro de Azevedo, mande-os à bard…

- Calma, Chefe, eu trato disso. Meus amigos, a reunião com o Governo Chinês foi um sucesso. Se compram a nossa dívida? Oh meus amigos, então se eu disse que foi um sucesso é porque tudo se conjuga para que tal se venha a verificar. Não se esqueçam que passarinhos e insectos na primavera existem em grande quantidade para amealhar para nós…, humm, esqueçam, está tudo a correr nos conformes, podem dar a boa nova aí em Portugal.

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Em pleno voo de regresso o Chefe convoca o grupo de crise dos seus Secretários, já estavam habituados a muitas reuniões e treinados a tirar fotos de telemóvel uns aos outros dos tempos das negociações sobre o Orçamento de Estado.

No final o Chefe mostra-se algo agastado e um tanto pessimista, desta vez com o avião a fazer um desvio para uma pequena escala em Timor para ter mais uma conversação técnica secreta, ou melhor, para continuar com mais umas pedinchices que lhe foram encomendadas pelo Primeiro:

- Meus senhores, cá para mim fomos mais uma vez gozados. Estes chineses deram-nos mas é uma grande tanga igual ao samba do Lula, eles é que ficam bem na fotografia e eu sou mandado pelo Primeiro aos países deles de mão estendida a fazer figura de urso. Começo a estar farto, até já me chamam o Mendigo dos Cantos. Continuamos com o nosso grande problema por resolver. Vamos passar ao plano B. Contactem lá esse tal de Cem para ver se resolvemos este imbróglio. Que fique tudo muito secreto, se o nosso Primeiro sabe que vai haver novo caso com o dinheiro dos nossos contribuintes então está tudo perdido e a oposição não nos vai largar a perna.



[Continua]
Editado pela última vez por Cem pt em 1/1/2011 10:43, num total de 3 vezes.
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Citações que me assentam bem:


Sucesso é a habilidade de ir de falhanço em falhanço sem perda de entusiasmo – Winston Churchill

Há milhões de maneiras de ganhar dinheiro nos mercados. O problema é que é muito difícil encontrá-las - Jack Schwager

No soy monedita de oro pa caerle bien a todos - Hugo Chávez


O day trader trabalha para se ajustar ao mercado. O mercado trabalha para o trend trader! - Jay Brown / Commodity Research Bureau
 
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