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Caldeirão da Bolsa

7 de Dezembro - cerco aos bancos?

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por migluso » 7/11/2010 4:30

bossas Escreveu:A leverage não é o cerne da questão. O cerne da questão é a taxa de juro - o preço do tempo - e o equilíbrio entre antecipações de consumo (investimento) e adiamentos desse consumo (poupanças).


Ora nem mais. A alavancagem não atingiria níveis excessivos derivados da manipulação da taxa de juro.

As perdas das bolhas quando estas arrebentassem (penso que poderiam existir bolhas a nível micro económico em determinados sectores específicos - a acção humana é imprevisível), teriam que ser assumidas pelos depositantes/credores dos bancos, pois foram estes que alimentaram a bolha. E não pelos depositantes puros.

Neste caso apenas existiria circulação do dinheiro entre ganhadores e perdedores.
No sistema actual, mesmo quem não joga perde, por causa da desvalorização através da inflação ou mesmo por causa da falência do seu banco.
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por Automech » 7/11/2010 4:22

migluso Escreveu:Só 3 malucos é que são capazes de discutir um tema como este às 3 da manhã de um sábado. Ainda por cima num tópico com um título destes...LOL


Agora é que me vou deitar. Nem um mocho aguenta até tão tarde :mrgreen:
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por migluso » 7/11/2010 4:16

AutoMech Escreveu:Confesso que este tópico já me queimou uns quantos neurónios (dos poucos que ainda restam), lol


Mas é interessante não é? :)
O conceito e o significado de dinheiro é um tema muito complexo, sem dúvida.

Neste momento estou com dúvidas numa coisa que já escrevi. É se a compra de obrigações da república por estrangeiros ou depósitos de estrangeiros provoca aumento da massa monetária. Amanhã faço uma pesquisa para ver se consigo esclarecer este ponto.

Só 3 malucos é que são capazes de discutir um tema como este às 3 da manhã de um sábado. Ainda por cima num tópico com um título destes...LOL
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por bossas » 7/11/2010 4:06

AutoMech Escreveu:
bossas Escreveu:Sim, reafirmo, uma das vantagens da reserva a 100% é precisamente o evitar a adulteração da taxa de juro, evitar o boom, o consequente malinvestment e o bust.


É uma opinião que respeito mas com a qual não concordo, como já disse várias vezes neste tópico.

bossas Escreveu:Como deste o exemplo da bolha das tulipas, e nessa altura já havia reserva fraccional, terás de arranjar um exemplo duma bolha que tenha existido antes de haver reserva fraccional. Eu não conheço nenhuma.


Não terei não, porque também não está totalmente provada a associação do leverage às bolhas. Existem indicios disso mas também existem sinais em sentido contrário.

Podes ver na http://en.wikipedia.org/wiki/Economic_b ... ble_causes o parágrafo.



While there is no clear agreement on what causes bubbles, there is evidence[citation needed] to suggest that they are not caused by bounded rationality or assumptions about the irrationality of others, as assumed by greater fool theory. It has also been shown that bubbles appear even when market participants are well-capable of pricing assets correctly.[6] Further, it has been shown that bubbles appear even when speculation is not possible[5] or when over-confidence is absent.[6]


Tenho pena que o estudo "Nonspeculative Bubbles in Experimental Asset Markets: Lack of Common Knowledge of Rationality Vs. Actual Irrationality" não esteja acessivel ao público sem pagar.

Mas para que não me acuses de tendencial, nessa mesma página está o seguinte:

Recent computer-generated agency models suggest excessive leverage could be a key factor in causing financial bubbles.[14]


Ou seja, pode ser ou pode não ser, por isso tanto poderia ser eu a ter de te provar como tu a mim.


Ok, duas opiniões distintas. Mas algumas dessas citações são, no mínimo, engraçadas. A fool teory remete para a irracionalidade dos agentes, refere a capacidade de atribuir preços correctamente e - a que supostamente funcionaria a favor da posição que defendo cita a leverage.

Curiosamente, o melhor caso que cita a ligação das bolhas e do sistema fraccional - o livro que acho o migluso linkou umas páginas atrás - não se centra em nada disso.

A questão de fundo é que criar crédito não é bom. Se fosse, então o socas devia fazer 5 TGVs. O crédito tem de ser baseado em poupança. Quando não é, o aumento da massa monetária altera a taxa de juro. Quando aforrdores e investidores se encontram para acertar o juro, este é artificialmente mais baixo (isto é um facto em fraccional com ou sem banco central). Isto leva ao boom, e ao malinvestment, em que projectos não lucrativos se iniciam e, quando faltam as poupanças que deveriam suportar o crédito, os produtos não são escoados, é tarde demais. Vem o bust.

Pode-se ser capaz de atribuir correctamente preços aos bens, se o meio de troca for adulterado isso não serve de nada.

Pode-se agir o mais racionalmente possível. Mas quando os estímulos e sinais do mercado são artificialmente adulterados, a acção mais racional perante esses sinais estará destinada ao fracasso.

A leverage não é o cerne da questão. O cerne da questão é a taxa de juro - o preço do tempo - e o equilíbrio entre antecipações de consumo (investimento) e adiamentos desse consumo (poupanças).

Estes são os principais argumentos onde sustento a minha opinião, e pelos quais não posso concordar contigo. De facto, gostaria que desses uma vista de olhos naquele livro, porque não terias de levar com as minhas imprecisões técnicas de há pouco, e o debate seria muito mais claro. Lá está tudo explicado, com precisão, e sem erros...

Agora vou mesmo. Até amanhã.
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por Automech » 7/11/2010 4:00

migluso Escreveu:
AutoMech Escreveu:A compra pelo FED do activo hipoteca não resulta, assim, na criação de moeda.

Apenas serve para o restabelecimento do rácio de solvabilidade que, de outra forma teria de ser feito com novos fundos (de deposito ou capital).


Então não resulta? Como não havia capital, teve que ser criado, imprimindo dinheiro.

bossas,
tenta abrir com outro brower. eu no chrome também não consigo, teve que ser no explorer

EDIT: AutoMech, o dinheiro poderá voltar a sair do sistema à medida que as hipotecas forem sendo pagas. Mas como o valor estimado delas são cêntimos do dólar, imagina-se o dinheiro que entrou e que vai permanecer no sistema.


Não ligues, claro que há criação. Deve ser o adiantado da hora.

Confesso que este tópico já me queimou uns quantos neurónios (dos poucos que ainda restam), lol
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por bossas » 7/11/2010 3:46

migluso Escreveu:
bossas Escreveu:Faço a mesma pergunta que fiz ao migluso: como é que o sistema bancário distingue entre os 100 euros originais e em reserva, dos 400 e tal entretanto criados? Que eu saiba as notas são iguais.


Separando entre depósitos e empréstimos. Os 400 seriam empréstimos, portanto não seriam boa moeda para circular. Funcionariam como obrigações.
Os 100 circulariam e seriam generalizadamente aceites como meio de troca.


A minha questão foi formulada com base no erro de simpatia que estava a fazer e que o desenho do AutoMech esclareceu...

Quanto à resposta, "my point exactly" - hard money e notas de crédito. Distintas, transparentes e claras...
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por Automech » 7/11/2010 3:43

bossas Escreveu:
Faço a mesma pergunta que fiz ao migluso: como é que o sistema bancário distingue entre os 100 euros originais e em reserva, dos 400 e tal entretanto criados? Que eu saiba as notas são iguais.


É irrelevante, até porque, a não ser os 1.000 iniciais que existiam fisicamente como notas, nos outros 400 estamos a falar de moeda escritural.


bossas Escreveu:Argumentar que a moeda impressa não aumenta (que aumenta necessáriamente) é irrelevante.


Claro que é irrelevante.

bossas Escreveu:Eu não quero saber quantos papelinhos é que andam a circular no mundo. O que me importa é saber as dívidas que tenho de pagar.


Eu expliquei atrás (talvez não tenhas visto ainda) que a massa monetária pode chegar a 5000 a partir de um depósito 1.000 (e as dívidas a 4000).

bossas Escreveu:Sim, reafirmo, uma das vantagens da reserva a 100% é precisamente o evitar a adulteração da taxa de juro, evitar o boom, o consequente malinvestment e o bust.


É uma opinião que respeito mas com a qual não concordo, como já disse várias vezes neste tópico.

bossas Escreveu:Como deste o exemplo da bolha das tulipas, e nessa altura já havia reserva fraccional, terás de arranjar um exemplo duma bolha que tenha existido antes de haver reserva fraccional. Eu não conheço nenhuma.


Não terei não, porque também não está totalmente provada a associação do leverage às bolhas. Existem indicios disso mas também existem sinais em sentido contrário.

Podes ver na http://en.wikipedia.org/wiki/Economic_b ... ble_causes o parágrafo.



While there is no clear agreement on what causes bubbles, there is evidence[citation needed] to suggest that they are not caused by bounded rationality or assumptions about the irrationality of others, as assumed by greater fool theory. It has also been shown that bubbles appear even when market participants are well-capable of pricing assets correctly.[6] Further, it has been shown that bubbles appear even when speculation is not possible[5] or when over-confidence is absent.[6]


Tenho pena que o estudo "Nonspeculative Bubbles in Experimental Asset Markets: Lack of Common Knowledge of Rationality Vs. Actual Irrationality" não esteja acessivel ao público sem pagar.

Mas para que não me acuses de tendencial, nessa mesma página está o seguinte:

Recent computer-generated agency models suggest excessive leverage could be a key factor in causing financial bubbles.[14]


Ou seja, pode ser ou pode não ser, por isso tanto poderia ser eu a ter de te provar como tu a mim.
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por bossas » 7/11/2010 3:40

AutoMech Escreveu:
bossas Escreveu:
Essa é mesmo a questão. Sem padrão-ouro, a moeda de reserva não se diferencia da de crédito em nada. Mesmo que não conte para a M1 (não sei) pode não haver criação de moeda, mas há criação de dívida com esses 500 introduzidos no sistema.


Os 500 são já a dívida total, depois de tudo multiplicado.

Não interessa se o empréstimo é depositado no mesmo banco ou não.

Há um depósito de 1.000. O banco empresta 800 para comprar uma casa, que são entregues a um construtor.

O construtor deposita os 800 (nesse banco ou noutro).

O banco empresta 640 também para outra casa.

Outro construtor (para só falarmos em construtores) deposita os 640 (nesse banco ou num terceiro, não interessa).

O banco empresta 640 empresta 512.

Os primeiros 20 níveis depois de um depósito de 1.000 são assim:

1000.0
Empréstimo e depósito de 800.0
Empréstimo e depósito de 640.0
512.0
409.6
327.7
262.1
209.7
167.8
134.2
107.4
85.9
68.7
55.0
44.0
35.2
28.1
22.5
18.0
14.4

No fim destas 20 vezes temos uma massa monetária de 4942.35 a aproximar-se dos 5.000 teóricos que é o MÁXIMO a que os 1.000 podem chegar com a reserva de 20%.

Não existe nova multiplicação destes 4942.35

No fim temos depósitos de 5.000 e empréstimos de 4.000.

Já não há a possibilidade de fazer mais empréstimos porque a multiplicação acabou.


Isto foi quase um desenho, mas funcionou.

Estava a fazer um erro de simpatia. As novas criações estão dentro da esfera da primeira, e não fora... É um processo decrescente.

Bah, explica-me como se fosse uma criança de 10 anos...

Deve ser da hora...

boa noite a ambos
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por migluso » 7/11/2010 3:38

bossas Escreveu:Faço a mesma pergunta que fiz ao migluso: como é que o sistema bancário distingue entre os 100 euros originais e em reserva, dos 400 e tal entretanto criados? Que eu saiba as notas são iguais.


Separando entre depósitos e empréstimos. Os 400 seriam empréstimos, portanto não seriam boa moeda para circular. Funcionariam como obrigações.
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por migluso » 7/11/2010 3:26

AutoMech Escreveu:A compra pelo FED do activo hipoteca não resulta, assim, na criação de moeda.

Apenas serve para o restabelecimento do rácio de solvabilidade que, de outra forma teria de ser feito com novos fundos (de deposito ou capital).


Então não resulta? Como não havia capital, teve que ser criado, imprimindo dinheiro.

bossas,
tenta abrir com outro brower. eu no chrome também não consigo, teve que ser no explorer

EDIT: AutoMech, o dinheiro poderá voltar a sair do sistema à medida que as hipotecas forem sendo pagas. Mas como o valor estimado delas são cêntimos do dólar, imagina-se o dinheiro que entrou e que vai permanecer no sistema.
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por Automech » 7/11/2010 3:21

bossas Escreveu:
Essa é mesmo a questão. Sem padrão-ouro, a moeda de reserva não se diferencia da de crédito em nada. Mesmo que não conte para a M1 (não sei) pode não haver criação de moeda, mas há criação de dívida com esses 500 introduzidos no sistema.


Os 500 são já a dívida total, depois de tudo multiplicado.

Não interessa se o empréstimo é depositado no mesmo banco ou não.

Há um depósito de 1.000. O banco empresta 800 para comprar uma casa, que são entregues a um construtor.

O construtor deposita os 800 (nesse banco ou noutro).

O banco empresta 640 também para outra casa.

Outro construtor (para só falarmos em construtores) deposita os 640 (nesse banco ou num terceiro, não interessa).

O banco empresta 640 empresta 512.

Os primeiros 20 níveis depois de um depósito de 1.000 são assim:

1000.0
Empréstimo e depósito de 800.0
Empréstimo e depósito de 640.0
512.0
409.6
327.7
262.1
209.7
167.8
134.2
107.4
85.9
68.7
55.0
44.0
35.2
28.1
22.5
18.0
14.4

No fim destas 20 vezes temos uma massa monetária de 4942.35 a aproximar-se dos 5.000 teóricos que é o MÁXIMO a que os 1.000 podem chegar com a reserva de 20%.

Não existe nova multiplicação destes 4942.35

No fim temos depósitos de 5.000 e empréstimos de 4.000.

Já não há a possibilidade de fazer mais empréstimos porque a multiplicação acabou.
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por migluso » 7/11/2010 3:15

bossas Escreveu:
E esses 80+64, etc, que são créditos que cada um faz para comprar casas e carros, onde é que o construtor da casa e o vendedor do carro vão pôr o dinheiro? Debaixo do colchão? Ou no banco (A, B, C ou D é igual)?

Quanto a opinião de fundo, estamos de acordo com os 100%, mas eu defendo um padrão-ouro, para que a mesma segurança se aplique universalmente.


O cliente X depositou no banco A 100. O banco A empresta 80 ao cliente Y e garante 100 de depósito ao cliente X quando só tem 20 no cofre.
O cliente Y compra um carro. O stand deposita 80 no banco B. O banco B empresta 64 ao cliente Z e garante 80 ao concessionário quando só tem 16 no cofre. O cliente Z compra um televisor. A loja deposita 64 no banco C que empresta 51,2 ao cliente W e garante 64 à loja quando só tem 12,8 no cofre, etc...

No fim do processo, 100 (inicial)+80+64+51,2+...=500. Isto num exemplo de um depósito inicial de 100 e reservas de 20%.

Eu também defendo uma hard currency, ou um cesto delas, ou uma taxa fixa de crescimento da massa monetária, como Friedman chegou a propor.

EDIT: Importante seria ser um sistema de reservas 100%, onde as diferentes funções dos bancos estivessem claramente divididas e onde as forças de mercado definissem a quantidade e o preço do crédito.

cumps... vou xonar... :)
Editado pela última vez por migluso em 7/11/2010 3:33, num total de 2 vezes.
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por bossas » 7/11/2010 3:09

AutoMech Escreveu:
bossas Escreveu:
Não é numa operação, mas 11. Ou sejá, não é tão directo, nem exponencial, mas o resultado final é o mesmo.


Não é o mesmo, não. Porque começa com 100 e acaba com 500.

Estes 500 não reiniciam novo processo infinitamente. São o ponto final de chegada se a multiplicação for toda feita.

É só usar a formula do multiplicador que o Migluso já deixou ou usar uma folha de Excel simples, começando por 100, 80, 64, 51.2, 40.96, 32.768.

A partir de um certo nível já pouco temos a ser depositado (na casa dos cêntimos) e consequentemente, pouco está a ser emprestado.

Somando tudo dá 500.

Os 500 são, portanto, o final e não vão dar origem a 2.500 e depois a 12.500, etc. Isso não.


Faço a mesma pergunta que fiz ao migluso: como é que o sistema bancário distingue entre os 100 euros originais e em reserva, dos 400 e tal entretanto criados? Que eu saiba as notas são iguais.

Argumentar que a moeda impressa não aumenta (que aumenta necessáriamente) é irrelevante. Eu não quero saber quantos papelinhos é que andam a circular no mundo. O que me importa é saber as dívidas que tenho de pagar.

Não percebo: no mesmo link que mandaram estão lá os quadros da massa monetária e do papel em circulação onde estes dados são referidos...


AutoMech Escreveu:
bossas Escreveu:Se leres o que eu disse, é exactamente o oposto: por altura da bolha das tulipas já existia reserva fraccional.


Sim, mas estás a querer associar a ocorrência da bolha das tulipas à existência da reserva fraccional.

No teu comentário, logo no início, escreveste
bossas Escreveu:Sim, claro... A maior desvantagem é não deixar criar bolhas artificiais, nem deixar aos governos a manipulação das taxas de juro. Limitação do crescimento económico? Então antes de Brenton <Woods a economia não crescia???!!!


Dá a sensação que a bolha das tulipas não teria existido.


Sim, reafirmo, uma das vantagens da reserva a 100% é precisamente o evitar a adulteração da taxa de juro, evitar o boom, o consequente malinvestment e o bust.

Como deste o exemplo da bolha das tulipas, e nessa altura já havia reserva fraccional, terás de arranjar um exemplo duma bolha que tenha existido antes de haver reserva fraccional. Eu não conheço nenhuma.
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por Automech » 7/11/2010 3:08

migluso Escreveu:
AutoMech Escreveu:
Mas nesta parece-me que não há criação de moeda. É 'apenas' a reposição da solvabilidade.


http://www.clevelandfed.org/research/da ... /index.cfm

Uma imagem vale mais do que mil palavras. :wink:

Muito desse dinheiro poderia não ter entrado no sistema, tendo ficado nos balanços dos bancos para reporem os níveis de liquidez e rácios de capital. A multiplicação da massa monetária poderá, ainda, não se ter verificado, pelo menos para já, mas que ele (o dinheiro) foi criado, penso não restar dúvidas.


Mas tu referiste nessa compra pelo FED uma situação de falta de sovabilidade das instituições, donde eu interpretei que isso seria porque a hipotecas estavam em incumprimento ou porque houve levantamentos (para dar dois exemplos) e, logo, obrigavam a um aumento de reservas para repor o rácio de solvabilidade (que podia ser feito, por exemplo, com captação de novos depósitos ou com aumento de capital).

A compra pelo FED do activo hipoteca não resulta, assim, na criação de moeda.

Apenas serve para o restabelecimento do rácio de solvabilidade que, de outra forma teria de ser feito com novos fundos (de deposito ou capital).
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por Automech » 7/11/2010 2:58

bossas Escreveu:
Não é numa operação, mas 11. Ou sejá, não é tão directo, nem exponencial, mas o resultado final é o mesmo.


Não é o mesmo, não. Porque começa com 100 e acaba com 500.

Estes 500 não reiniciam novo processo infinitamente. São o ponto final de chegada se a multiplicação for toda feita.

É só usar a formula do multiplicador que o Migluso já deixou ou usar uma folha de Excel simples, começando por 100, 80, 64, 51.2, 40.96, 32.768.

A partir de um certo nível já pouco temos a ser depositado (na casa dos cêntimos) e consequentemente, pouco está a ser emprestado.

Somando tudo dá 500.

Os 500 são, portanto, o final e não vão dar origem a 2.500 e depois a 12.500, etc. Isso não.


bossas Escreveu:Se leres o que eu disse, é exactamente o oposto: por altura da bolha das tulipas já existia reserva fraccional.


Sim, mas estás a querer associar a ocorrência da bolha das tulipas à existência da reserva fraccional.

No teu comentário, logo no início, escreveste
bossas Escreveu:Sim, claro... A maior desvantagem é não deixar criar bolhas artificiais, nem deixar aos governos a manipulação das taxas de juro. Limitação do crescimento económico? Então antes de Brenton <Woods a economia não crescia???!!!


Dá a sensação que a bolha das tulipas não teria existido.
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por bossas » 7/11/2010 2:55

migluso Escreveu:
AutoMech Escreveu:
Mas nesta parece-me que não há criação de moeda. É 'apenas' a reposição da solvabilidade.


http://www.clevelandfed.org/research/da ... /index.cfm

Uma imagem vale mais do que mil palavras. :wink:

Muito desse dinheiro poderia não ter entrado no sistema, tendo ficado nos balanços dos bancos para reporem os níveis de liquidez e rácios de capital. A multiplicação da massa monetária poderá, ainda, não se ter verificado, pelo menos para já, mas que ele (o dinheiro) foi criado, penso não restar dúvidas.


Não consigo ver a imagem :(

A criação directa de moeda parece-me que até já foi assumida pelos próprios.
Editado pela última vez por bossas em 7/11/2010 2:59, num total de 1 vez.
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por bossas » 7/11/2010 2:52

migluso Escreveu:
bossas Escreveu:
E esses 500 são depositados noutros bancos e válidos para constituir reserva de outros créditos. Isto porque não existe diferença entre hard e fiat money - é tudo papel e igual. por isso os processos são sucessórios.

O QE não é a unica forma de criação de dinheiro. Os bancos tb emitem. A % de reserva é o limite a que estão obrigados.

É impressão minha, ou já não estás com a mesma opinião do inicio? (Ou fui eu que li mal o que escreveste lá atrás, sobre o que achavas do sistema de reserva)?


A banco A tem 100. Cria 80 que são depositados no banco B. o banco B cria 64 que são depositados no banco C. Isto com reservas de 20%, o processo acaba quando o somatório der 500. O processo acaba aí.

No sistema actual, para se iniciar um novo processo, o banco central tem que emitir nova moeda.

Eu mantenho a opinião de início. Defendo o princípio do mercado e reservas 100%. Não necessariamente o padrão-ouro.


E esses 80+64, etc, que são créditos que cada um faz para comprar casas e carros, onde é que o construtor da casa e o vendedor do carro vão pôr o dinheiro? Debaixo do colchão? Ou no banco (A, B, C ou D é igual)?

Essa é mesmo a questão. Sem padrão-ouro, a moeda de reserva não se diferencia da de crédito em nada. Mesmo que não conte para a M1 (não sei) pode não haver criação de moeda, mas há criação de dívida com esses 500 introduzidos no sistema.

É precisamente a inexistência desta diferenciação (que seria natural se uma fosse moedas de ouro e outra notas de banco) que faz com que haja uma diferenciação entre depósitos e empréstimos. Hoje é o dólar que suporta todas as moedas e é o dólar que suporta o dólar.

Não vejo como pode o processo parar, sem que a moeda criada a partir da reserva fraccional seja diferenciada da moeda "original" (os 100 que serviram de reserva) para que não seja feita nova emissão com base nela.

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por migluso » 7/11/2010 2:50

AutoMech Escreveu:
Mas nesta parece-me que não há criação de moeda. É 'apenas' a reposição da solvabilidade.


http://www.clevelandfed.org/research/da ... /index.cfm

Uma imagem vale mais do que mil palavras. :wink:

Muito desse dinheiro poderia não ter entrado no sistema, tendo ficado nos balanços dos bancos para reporem os níveis de liquidez e rácios de capital. A multiplicação da massa monetária poderá, ainda, não se ter verificado, pelo menos para já, mas que ele (o dinheiro) foi criado, penso não restar dúvidas.
Editado pela última vez por migluso em 7/11/2010 2:54, num total de 1 vez.
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por Automech » 7/11/2010 2:48

migluso Escreveu:
Sim, em qualquer empréstimo há risco.
Mas a questão aqui é de princípio. As pessoas sabiam que estavam a incorrer em risco e não seriam iludidas com a questão da garantia de depósitos. É uma questão de transparência.
Quem não quiser incorrer em risco e pretender depositar 10 mil ou 20 mil euros deveria poder fazê-lo. É uma questão de justiça social, pois no sistema actual só os ricos podem efectivamente depositar bens (e sim, na minha opinião o dinheiro deve ser visto como um bem para melhor ser entendido).


Sim, aqui concordo contigo que isso não está acessível ao comum dos mortais.

migluso Escreveu:Funcionaria como tentei explicar atrás. Eu imagino que um sistema como o do exemplo que dei, no que concerne aos níveis de crédito no mercado, seria o equivalente a ter um sistema de reservas com um intervalo suficientemente alargado, flexível e elástico, que a cada momento se ajustaria às forças de mercado.


Temos visões diferentes mas isso já está amplamente discutido :wink:
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por Automech » 7/11/2010 2:43

migluso Escreveu:Nesta crise, a Fed imprimiu dinheiro para comprar de tudo, especialmente mortgage backed securities directamente ao bancos comerciais.
Ou seja, as MBS passaram para o balanço da Fed e cash para o balanço dos bancos comerciais, que puderam assim repor os níveis de solvabilidade exigidos.


Mas nesta parece-me que não há criação de moeda. É 'apenas' a reposição da solvabilidade.
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por migluso » 7/11/2010 2:38

bossas Escreveu:
E esses 500 são depositados noutros bancos e válidos para constituir reserva de outros créditos. Isto porque não existe diferença entre hard e fiat money - é tudo papel e igual. por isso os processos são sucessórios.

O QE não é a unica forma de criação de dinheiro. Os bancos tb emitem. A % de reserva é o limite a que estão obrigados.

É impressão minha, ou já não estás com a mesma opinião do inicio? (Ou fui eu que li mal o que escreveste lá atrás, sobre o que achavas do sistema de reserva)?


A banco A tem 100. Cria 80 que são depositados no banco B. o banco B cria 64 que são depositados no banco C. Isto com reservas de 20%, o processo acaba quando o somatório der 500. O processo acaba aí.

No sistema actual, para se iniciar um novo processo, o banco central tem que emitir nova moeda.

Eu mantenho a opinião de início. Defendo o princípio do mercado e reservas 100%. Não necessariamente o padrão-ouro.
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por bossas » 7/11/2010 2:31

migluso Escreveu:
bossas Escreveu:
Nesse caso, como é que o sistema faz a distinção entre os 100 e os 400?


Não sei se percebi a questão. Mas vou tentar responder. Os 100 foram criados pelo banco central, através da compra de treasuries.
Os 400 foram criados pelos bancos comerciais, emprestando-os a clientes, que por sua vez apresentam garantias aos bancos.
O sistema não faz a distinção. Por isso é que se formos ao banco, pensamos que temos lá 500 e afinal só existem 100. O resto está "investido" em casas, carros, obrigações do tesouro, etc...


E esses 500 são depositados noutros bancos e válidos para constituir reserva de outros créditos. Isto porque não existe diferença entre hard e fiat money - é tudo papel e igual. por isso os processos são sucessórios.

O QE não é a unica forma de criação de dinheiro. Os bancos tb emitem. A % de reserva é o limite a que estão obrigados.

É impressão minha, ou já não estás com a mesma opinião do inicio? (Ou fui eu que li mal o que escreveste lá atrás, sobre o que achavas do sistema de reserva)?

Ou reformulando a pergunta: não defendes a reserva de 100% (ou o fim da fraccional)? E porque?
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por migluso » 7/11/2010 2:26

bossas Escreveu:
Nesse caso, como é que o sistema faz a distinção entre os 100 e os 400?


Não sei se percebi a questão. Mas vou tentar responder. Os 100 foram criados pelo banco central, através da compra de treasuries.
Os 400 foram criados pelos bancos comerciais, emprestando-os a clientes, que por sua vez apresentam garantias aos bancos.
O sistema não faz a distinção. Por isso é que se formos ao banco, pensamos que temos lá 500 e afinal só existem 100. O resto está "investido" em casas, carros, obrigações do tesouro, etc...
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por bossas » 7/11/2010 2:22

migluso Escreveu:
bossas Escreveu:
Exacto. Não sei se a minha quote em cima quer dizer alguma coisa, ou se me estás a dirigir alguma questão, mas concordo com o que afirmas.

Acrescento apenas que esses 500, fruto desses 100, vão entrar no sistema bancário sem distinção dos 1ºs 100 (é tudo fiat money) e iniciam um novo processo. A tabela é infinitamente reprodutivel (mais lentamente do que a minha ideia inicial)


Não bossas. Um novo processo só é iniciado, em condições normais, com emissão de treasuries.


Nesse caso, como é que o sistema faz a distinção entre os 100 e os 400?

EDIT:

Acima, o que descreves é o QE. Isso são condições anormais. Normalmente a emissão de títulos ocorre em leilão e o BC apenas intervem como "manipulador".
Editado pela última vez por bossas em 7/11/2010 2:27, num total de 1 vez.
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por migluso » 7/11/2010 2:19

bossas Escreveu:
Exacto. Não sei se a minha quote em cima quer dizer alguma coisa, ou se me estás a dirigir alguma questão, mas concordo com o que afirmas.

Acrescento apenas que esses 500, fruto desses 100, vão entrar no sistema bancário sem distinção dos 1ºs 100 (é tudo fiat money) e iniciam um novo processo. A tabela é infinitamente reprodutivel (mais lentamente do que a minha ideia inicial)


Não bossas. Um novo processo só é iniciado, em condições normais, com emissão de treasuries.

EDIT: ou depósitos de estrangeiros, por exemplo
Editado pela última vez por migluso em 7/11/2010 2:22, num total de 1 vez.
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