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Caldeirão da Bolsa

Onde acaba o poder do Grupo Espírito Santo?

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por mais_um » 8/3/2010 13:06

A familia Espirito Santo sempre viveu na sombra do poder (não foi a unica), por muito que os saudosistas do antigo regime queiram negar... :mrgreen:


http://www.sabado.pt/Multimedia/FOTOS/- ... arios.aspx

SALAZAR E OS MILIONÁRIOS


Prólogo

Os encontros de domingo à noite
Primeira metade da década de 50. Oito da noite de domingo. Era esse habitualmente o momento reservado para os dois homens mais poderosos do país discutirem grande parte do destino de Portugal. No Palácio de São Bento ou no Forte do Estoril, António de Oliveira Salazar, então à beira dos 60 anos e a meio dos seus 40 anos no poder, recebia Ricardo Espírito Santo, onze anos mais novo.
Além de dirigir o Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa (BESCL), o banqueiro liderava a petrolífera Sacor, que esteve na origem da Galp, e controlava a seguradora Tranquilidade e as Sociedades Agrícolas do Cassequel e do Incomati, em Angola e Moçambique. As suas várias áreas de influência ajudam a explicar como se transformou
num conselheiro especial de Salazar para todos os assuntos relacionados com economia, política, diplomacia e artes — e acabou por se tornar também um dos melhores amigos do presidente do Conselho.
Era muitas vezes Maria da Conceição, a protegida a que Salazar deu a alcunha de Micas, que abria a porta de São Bento a Ricardo Espírito Santo: «Tenho hora marcada», dizia-lhe ao entrar, como se precisasse de justificar a sua presença.

O presidente do banco cumprimentava Micas com um beijinho e oferecia-lhe com muita frequência bonecas, chocolates e até amêndoas na Páscoa. Ricardo Espírito Santo estacionava o carro no parque da residência oficial, pendurava o sobretudo no bengaleiro junto à porta de entrada e, se Salazar ainda estivesse ocupado, aguardava na pequena biblioteca junto ao gabinete do presidente do Conselho, no rés-do-chão. Mas raramente tinha de esperar. As conversas entre os dois podiam decorrer no gabinete ou enquanto passeavam pelos jardins de São Bento. Quando terminavam, o ditador acompanhava o amigo até à saída.
Estes encontros semanais entre os dois homens ficaram registados no diário que Salazar mantinha: um livro de capa vermelha e letras douradas onde resumia a sua rotina e indicava os principais assuntos abordados em cada audiência. A 14 de Maio de 1950, por exemplo, recebeu Ricardo Espírito Santo entre as 20h e as 20h45 e anotou à frente:
«Sua viagem e férias, saúde, alguma coisa de negócios».
Salazar só saiu de Portugal três vezes — foi a Paris na juventude e deslocou-se duas vezes à fronteira para se encontrar com Francisco Franco, o ditador espanhol. Aproveitava por isso os relatos das deslocações dos outros para satisfazer a sua curiosidade sobre o mundo. E Ricardo Espírito Santo todos os anos fazia longas viagens para tratar de negócios (do banco ou da empresa de petróleos), por motivos de saúde (frequentava termas), de férias (era praticante habitual de esqui e golfe) ou em busca de peças de arte nos antiquários e nos leilões. Foi esse o principal tópico que Salazar fixou no dia 17 de Dezembro de 1950, depois do encontro de uma hora e meia, das 19h30 às 21h00: «Dr. Ric. Espírito Santo - compras que fez em Roma de objectos de arte».
A situação da Sacor, criada pelo Estado em 1938 para intervir no mercado dos combustíveis, era discutida na maior parte dos encontros.
As entradas nas agendas de 1953 e 1954 revelam que falaram de «vencimentos dos administradores», de «conversas com ministro da Economia sobre terrenos de que a Sacor precisa» e de «como distribuir 37 500 contos a colocar entre portugueses [num aumento de capital]».
As relações com o romeno Martin Sain, o principal accionista da empresa de petróleo, eram alvo de grande atenção do presidente do Conselho. Além de abordarem os temas importantes da Economia como o plano de fomento ou o estado do mercado de capitais, é difícil encontrar um grande investimento que não tenha sido escrutinado e, mais do que isso, aprovado, nestes encontros rotineiros de domingo à noite. Analisaram a criação da TAP em 1953, a lapidagem de diamantes em Portugal, o apoio à empresa de Siderurgia, que António Champalimaud começou a negociar com o Governo em 1952, e a fundação da sociedade de milionários que iria financiar aquilo a que Salazar chamava «o novo grande hotel de Lisboa» — o Ritz, que só seria inaugurado em 1959, quatro anos depois da morte do banqueiro.
A folha de 3 de Março de 1953 revela que Salazar recebeu Ricardo Espírito Santo e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Cunha, às sete e meia da tarde e que discutiram a prenda que o governante deveria oferecer a Franco, no encontro seguinte com o generalíssimo espanhol. Uma hora depois, o ministro saiu mas o banqueiro ficou. Durante mais uma hora, até às 21h30, relatou a Salazar os bastidores da inauguração
do seu museu de artes decorativas, cuja cerimónia decorrera nessa semana, intencionalmente a 28 de Abril, para homenagear o presidente do Conselho no seu dia de aniversário.
O costume estava tão enraizado que quando o ditador cancelou um dos encontros semanais, em 1951, Ricardo Espírito Santo manifestou por carta a sua grande tristeza. «Tenho muita pena de não ir aí hoje, a nossa conversa dominical é para mim o maior prazer da semana, mas obedeço na esperança de que serei compensado.» E, em Abril do ano seguinte, quando, por estar na Suíça, foi o empresário a não poder comparecer, enviou outra mensagem. Sugeria que Salazar recebesse Mário de Sousa, administrador do Banco Fonsecas, Santos & Viana, para discutir novas medidas relacionadas com as exportações, mas frisava a importância que atribuía a estes encontros: «Eu agradeço (e não lhe levo a mal!) se lhe dispensar meia horazita de um fim de tarde de domingo, desses fins de tarde que eu tanto aprecio e que quase sempre são o melhor prémio para mim, de uma semana de trabalho! Como vê nem de longe o deixo em paz!
Despediu-se com um post-scriptum que comprovava a sua intimidade com António Ferro, embaixador em Berna e antigo responsável pelos serviços de propaganda nacional, e com as duas mulheres que viviam na casa do ditador — a governanta e a pupila: «P.S. — Peço o favor [de] dar minhas lembranças a dona Maria, e Maria Antónia. O Ferro gostou muito da carta de vossa excelência.»
Quando estava fora do país, o banqueiro esforçava-se por manter a comunicação de domingo com o governante, que anotava estas chamadas no diário com igual deferência: «Pelo telefone, vários e dr. Ric. Esp. Santo».
Em 1954, Ricardo Espírito Santo acompanhou o presidente da República, Craveiro Lopes, numa viagem de barco a Angola e São Tomé e Príncipe. Esteve fora sete domingos: apenas num não conseguiu enviar telegramas dirigidos a «sua excelência o presidente do Conselho» e assinados, simplesmente, Ricardo. Nos seis que enviou, a falta que sentia dos encontros com o ditador foi sempre manifestada de forma crescente: «Sigo bem mas com saudades», escreveu no segundo, a 31 de Maio; a 20 de Junho, manifestava-se «cheio de saudades»; na mensagem do domingo seguinte lia-se: «As saudades são cada vez mais maiores»; e no último notava-se o alívio por estar quase a regressar: «Vou mais contente a pensar que se os deuses nos forem propícios estarei aí
no próximo domingo e poderei matar as saudades que já pesam no meu coração. Gostei muito de o ouvir e espero que este já o encontrará no forte.»
Neste telegrama, Salazar anotou a azul a instrução: «Saber quando chega o barco». Um funcionário responderia a lápis: «Chega domingo, dia 11 [de Julho], ao meio-dia». E foi nesse domingo às 19h15 que se reencontraram, no forte de Santo António, no Estoril. Até às 21h00, Salazar recolheu informações sobre o negócio do açúcar e «outros assuntos de África», e, claro, quis saber tudo sobre o que ficou descrito no diário como uma «viagem formidável».


PARTE I
SALAZAR E O DINHEIRO

O universo restrito do presidente do Conselho

A agenda de contactos em 1954
As pequenas agendas de bolso manuscritas são preciosos indicadores sobre os relacionamentos de Salazar. A de 1954, por exemplo, tem cerca de cem entradas, entre telefones e moradas. Muitas são de mulheres: das senhoras com quem teve envolvimentos amorosos — Christine Garnier, namorada da altura, Mercedes de Castro Feijó, Ernestina Afonso de Barros e Felizmina Oliveira, a primeira namorada, que lhe
enviava relatórios a denunciar os inimigos do regime em Viseu; das amigas com quem se correspondia ou que eram visitas habituais da casa, entre as quais Jenny Aragão Teixeira, Fernanda Jardim e Arminda Lacerda; e ainda uma dezena de meninas austríacas que chegaram a conhecer e a corresponder-se com Salazar e que pertenciam a um grupo de 5 mil crianças acolhidas por famílias portuguesas depois da II Guerra.
Está na agenda a Presidência da República, o Patriarcado (sem referências ao seu amigo cardeal Cerejeira, mas com menção do padre Carneiro Mesquita, que rezava missa na Residência Oficial), D. Duarte de Bragança (pai de D. Duarte Pio), os ministros da Defesa, da Presidência, dos Negócios Estrangeiros, os embaixadores mais próximos (Marcelo Mathias e José Nosolini), o seu amigo Mário Figueiredo, Álvaro de Sousa, do Banco de Portugal, Duarte Amaral (delegado do Governo na Sacor e pai de Freitas do Amaral) e, claro, os números 60 483, para ligar a Ricardo Espírito Santo em Lisboa, e 143, para Cascais.
O banqueiro surgia também na restrita lista de datas de aniversário anotadas, onde era aliás o único homem, a que se juntavam cinco mulheres - Christine Garnier, as infantas D. Maria Antónia e D. Filipa, Maria Luiza Salvação Barreto e Minda, diminutivo de Arminda Lacerda.

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por DareDevil » 8/3/2010 12:38

BULIM123 Escreveu:Por isso é que o belmiro, nao consegui a OPA a PT, está tudo dito.

então nesse caso agradeço ao BES :)

O Belmiro está bem com a óptimus, faça dela uma grande empresa, o que ele queria fazer com a PT seria um desastre na minha humilde opinião (e aparentemente na opinião dos principais accionistas da altura).
Editado pela última vez por DareDevil em 8/3/2010 14:28, num total de 1 vez.
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por MERCW125 » 8/3/2010 11:55

Por isso é que o belmiro, nao consegui a OPA a PT, está tudo dito.
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por DareDevil » 8/3/2010 11:50

O que se passou com o caso dos Sobreiros não mostra uma imagem muito agradável.
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por Lion_Heart » 8/3/2010 11:46

Ora aqui esta um verdadeiro polvo.

O GES é um dos grupos que simplesmente "mexe" os cordelinhos do Poder e que o 25 de Abril foi uma grande treta.

O exemplo de que este País é só para alguns.
" Richard's prowess and courage in battle earned him the nickname Coeur De Lion ("heart of the lion")"

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Onde acaba o poder do Grupo Espírito Santo?

por Lion_Heart » 8/3/2010 11:44

Onde acaba o poder do Grupo Espírito Santo?
Espalhado por vinte países e presente no capital de mais de 400 empresas. É este o retrato do Grupo Espírito Santo (GES), traçado hoje num trabalho de investigação pelo "Público", onde se conclui que o grupo liderado por Ricardo Salgado vale mais de 5% do PIB (Produto Interno Bruto).

Celso Filipe
cfilipe@negocios.pt


Espalhado por vinte países e presente no capital de mais de 400 empresas. É este o retrato do Grupo Espírito Santo (GES), traçado hoje num trabalho de investigação pelo “Público”, onde se conclui que o grupo liderado por Ricardo Salgado vale mais de 5% do PIB (Produto Interno Bruto).

O jornal conclui que o GES “teve uma palavra a dizer em todos os negócios do país na última década, ao ponto de se poder dizer que a sua esfera de influência é hoje maior do que no tempo do Estado Novo.”

Entre os amigos e ex-colaboradores do GES que estão em lugares de destaque contam-se Manuel Pinho /ex-ministro da Economia do PS), Nuno Vasconcelos (presidente da Ongoing), Ângelo Correia (ex-ministro da Administração Interna do PSD e presidente da Fomentinvest), Durão Barroso (antigo primeiro-ministro e presidente da Comissão Europeia), António Mexia (ex-ministro das Obras Públicas do PSD e líder da EDP) e Freitas do Amaral (fundador do CDS e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros do PS).

“Pessoas ligadas ao BES, e o próprio Ricardo Salgado, não se revêem na ideia de que o grupo tem um poder excessivo. E ficam mesmo indignados quando os acusam de excesso de influência”, escreve o “Público”

in www.negocios.pt
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