Trend 2010 - história recente e o futuro próximo
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Trend 2010 - história recente e o futuro próximo
Saudações de Ano Novo a todos os amigos do Caldeirão.
Como é habitual, cá estamos para o habitual exercício de fim de ano, tentando antever as tendências para o ano seguinte.
Como preâmbulo, algumas notas, que se justificam à medida que completamos a primeira década do novo século. Já estão aí os "anos dez".
A primeira é para as memórias da década: alguns ainda se lembram do paraíso onde estávamos há dez anos. O mundo caminhava para a paz e para o desenvolvimento, liderado pela América de Clinton. As crises financeiras da década passavam ao lado dos países desenvolvidos, quanto muito afetavam os mercados durante uns meses. Em grande parte da década, até o petróleo ficou quase de borla. Os fabulosos anos noventa terminavam com os mercados a darem dinheiro a todos. No "reveillon" que marcava o advento do ano 2000, só se trabalhava por fortunas. A PT Multimédia prometia enriquecer os sortudos que tinham "apanhado" uns quantos papéis na IPO - seguramente pagariam o reveillon caribenho ou o Audi. É nessa euforia que começava a década.
Mal sabíamos todos, que viria aí o contrário do que se prometia - uma verdadeira década perdida ao nível socio-económico para uma boa parte do mundo desenvolvido. Mais para uns do que para outros, mas ainda assim uma década, no mínimo, complexa, difícil.
Quando falamos de mercados financeiros, ainda mais evidente se torna o fim da euforia. E não seria necessário esperar mais do que uns dias para assistirmos ao final da fabulosa bolha do Nasdaq, originando um terrível "bear market" nos mercados acionistas que iria até Outubro 2002 - Março 2003. O medo de uma implosão ainda maior nos mercados (e do efeito de atentados como o terrível 9/11) levaria a uma série de medidas (baixa de juros reais até ao negativo) por parte das autoridades monetárias globais, lideradas pelos EUA, como de costume, que resolveria alguns problemas e acabaria por conter uma anunciada recessão, mas que, como vimos depois, provocaria uma série de novas "bolhas", lideradas pela infame bolha do crédito (não se pode falar por exemplo em bolha do imobiliário sem falar na verdadeira razão para a mesma) que ainda resistiria sem problemas até 2007, no meio de uma nova euforia, mas que levaria a uma série de falhas no sistema bancário, como todos sabemos, assim que os juros de mercado começaram a subir, uma vez que os calotes dispararam. Foi um período de uma elevada liquidez que elevou os valores em dólar de ativos, desde ações, obrigações (todos os tipos), imóveis, divisas e, sobretudo, matérias primas de base, sendo estas do melhor investimento que se fez na década, o que causaria um regresso a uma procura por ativos de todo olvidados durante as duas décadas anteriores.
E agora? Após 2008, viu-se algo nunca visto. O medo (ou pânico) aumentou ao ponto de os investidores apostarem apenas em títulos soberanos. De tal forma que levaram ao limite do possível o grande "bull market" obrigacionista que já vinha desde 1982 e que se julgava terminado antes. As ações perderam terreno, bem como todos os ativos que antes haviam beneficiado da loucura. O dinheiro passou a ser rei e senhor num quadro de brutal destruição de valor. O crédito ficou em paralisia e a economia e o comércio / serviços mundiais amplamente afetado.
Como os decisores políticos têm horror ao que pode acontecer num quadro de uma crise social (quem não teria?), nada como apostar nas velhas fórmulas. E desta feita, foram radicais como nunca. Por um lado, vimos os Bancos Centrais a tomar medidas impossíveis ao nível da chamada "janela de liquidez". Era preciso salvar o essencial da Banca, ou enfrentar uma corrida aos Bancos por parte da população, com consequências que não podemos hoje imaginar. Por outro lado, os Estados, aproveitando a deixa, emitiram recordes históricos de dívida pública igualmente com a intenção de gerar liquidez direta nas Economias, através de programas de investimento ou de intervenção social. Nesse sentido, gerou-se uma pescadinha de rabo na boca. Os Bancos tomaram recursos dos Bancos Centrais, mas não os cediam, num claro sinal de desconfiança generalizada. E para dar melhor aspeto ao balanço, adquiriam apenas títulos teoricamente de risco zero, os títulos e bilhetes do Tesouro. Indiretamente, as facilidades monetárias foram parar às mãos do Estado, pois só este poderia, em tempo de crise, fazer um papel que os privados normalmente fazem: investir. Mas esta é a grande recessão e mais do que tudo, não se sabe ainda a real extensão dos benefícios gerados por tamanho aumento dos gastos públicos ou sequer como voltaremos a um "status" mais normal. Como já defendi inúmeras vezes, um défice não é um problema, mas o tamanho conta. E aqui, não é já só essa discussão: é um verdadeiro buraco. Mas isso será o problema, creio, de toda uma nova década. No atual cenário, fazer futurologia de longo prazo é incrivelmente perigoso.
Para já, o que conta, é o efeito imediato da intervenção nos mercados. E, para já, a liquidez nova, pelo menos, causou uma recuperação / normalização dos mercados, levando-os de alguma forma à tendência pré-crise financeira. E é neste estado de coisas onde nos encontramos neste momento com o ano novo a começar.
Não poderia deixar de recordar uma antevisão feita num dos últimos anos. Todas estas crises acabam por ter uma consequência lógica. Uma brutal transferência de riqueza dos consumidores / gastadores para os produtores / poupadores. Essencialmente, uma mudança do eixo do poder económico-financeiro do Ocidente para o Oriente. Apesar de algum ceticismo, essa perspetiva já é real e muito clara. Também assistimos à recuperação e reemergência de nações a sul do Equador. Assumir sacrifícios, por vezes duros, sempre resulta. Semear para mais tarde colher. Neste particular, a política reformista Chinesa é a grande machadada da década que findou. E deverá ser tão ou mais evidente nos novos tempos que aí estão. Por muito que custe, será um exemplo a seguir e, claro, a imitar, se a ideia é desenvolvimento económico com solidez.
Bem, e em relação a 2010 ? Alegria, Mundial de Futebol, muita água nas barragens para consumir, ou dias cinzentos como o tempo destes dias que correm?
O que parece bem evidente é o facto de podermos contar com duas correntes em conflito.
Por um lado, temos os que acreditam que, pior ou melhor, as Economias globais, lideradas pela China, vão ter sustentação de longo prazo. Até os EUA vão voltar a crescer assim como a UE, embora menos. Para ajudar à festa, grandes produtores de "commodities" e os BRIC aparecerão em grande forma. Será possível evitar o colapso de Nações e de instituições. A partir daí, partiríamos para uma década de crescimento moderado, mas mais sustentado, portanto, já não seria mais uma década perdida. Um mundo com mais e melhor tecnologia e novos negócios. Esses poderão gerar os novos empregos que substituirão os empregos perdidos. Aos poucos, as contas públicas voltariam ao tão necessário rigor e o sistema financeiro ficaria igualmente bem ancorado num mundo com superior supervisão.
Por outro lado, temos os que discordam abertamente de tal otimismo. Para eles, o grande buraco nas contas públicas vai ser atacado e os chamados "pacotes de incentivo" vão sendo reduzidos. Até os juros vão começar a subir, primeiro os determinados pelos mercados e depois os que são controlados pelas autoridades monetárias, situação que deverá travar a recuperação económica logo à saída da reta de partida. O consumidor continuaria fragilizado, o desemprego continuaria a pesar negativamente e a Banca voltaria a revelar fragilidades no seu balanço. As empresas privadas, na sua maioria, não deveriam, assim, consolidar os seus negócios. Com uma atividade económica tão trémula, as receitas dos Estados ainda ficariam mais frágeis, obrigando-se a mais cortes orçamentais, sob pena de atingirem um ponto de rutura, o que poderia ser grave, devido ao retorno da desconfiança e do medo nos mercados.
Estas são, entre outras, as grandes perspetivas para o Ano Novo. Hoje, existem já dados encorajadores em relação à melhoria da situação. Afinal, os estímulos governamentais e os mecanismos de emergência dos Bancos Centrais, devolveram parte da confiança perdida. Mas a realidade é que, nesta fase, é prematuro falar de sustentação ou de desilusão. Os dados recentes não são garantia de algo ou do seu oposto. Num quadro recessivo desta natureza, futurologia é mais do que ousadia.
Que fazer, então? Acredito que, entre as variadas hipóteses com que nos defrontamos em inúmeros comentários, as duas possibilidades acima aparentam maior viabilidade. Até prova em contrário, trabalho com as perspetivas que descrevi, pensando sempre em ajustar a estratégia à realidade que se for desenhando. Assim sendo, vamos ver o que pode isto tudo significar para os ativos que gostamos de analisar, desde o imobiliário até à renda fixa, passando por divisas e títulos mobiliários de grande volume de negócios.
Sobre o imobiliário, bastam umas linhas: nos países onde se formaram enormes "bolhas", não há sinais de recuperação sérios. As vendas podem até recuperar ligeiramente devido à queda dos preços anteriores e a alguma retoma do crédito, mas as existências são enormes e podem ainda aumentar, porque há sinais de que há ainda muita gente em incumprimento em relação às hipotecas, levando a mais e mais processos de cessação dos contratos. Mais casas vazias e pouca procura. Um mal generalizado. Em suma, não é por esse caminho que vamos a algum lado.
Vamos então começar com uma pequena charada: olhem rapidamente, por favor, só para o primeiro gráfico dos vários que estão abaixo, e logo depois devem continuar aqui a leitura.
Muito bem. Que vos parece? Um grande bull market que deu um estouro e que logo provocou um forte "bear". Baseando-se neste gráfico, hoje, quem iria entrar longo? A tendência é para entrada curta até prova em contrário. Mas, se olharem de novo, verificarão que algo não está bem.
Não se preocupem, é só algo que já se fez muito no Caldeirão, um gráfico anónimo, invertido, que causa sempre polémica entre "touros e ursos". A propósito, estes gráficos todos referem-se ao final de 2009, não incluindo nada das primeiras movimentações de 2010.
Se olharmos agora para o gráfico seguinte, aí está o dito na posição certa e bem identificado como o todo poderoso SP 500 ou SPX, um gráfico semanal que confere alguma confiança para quem está longo, continuando a subir, apenas com naturais correções de permeio.
Perante as duas correntes em conflito, como vimos acima, qual pode ser o comportamento deste e de outros índices acionistas no novo Ano? Curiosamente, o mercado acionista pode ser sempre beneficiado. Em caso de indicadores positivos, embora fracos, o mercado pode continuar em alta, alimentado pela manutenção de elevada liquidez e juros ainda baixos. Com os lucros das empresas em suave recuperação, graças aos processos de reestruturação, não haveria que temer um P/E elevado. As Bolsas podem terminar 2010 com ganhos. No cenário mais pessimista, a volatilidade voltaria em força. Mas também novos "pacotes" de recuperação e mais medidas de emergência (o que se traduz em liquidez). Com altos e baixos, o mercado pode ainda assim, não perder os ganhos acumulados e terminar positivo. É um pouco (passe as diferenças de estilo) como diz Marc Faber, sempre polémico, mas que não tem dúvidas que o mercado acionista até pode triplicar de valor (em USD) nos anos seguintes, devido ao excesso de moeda - uma típica inflação de ativos. Eu diria que o mercado tem grandes possibilidades de começar bem o ano perante a dinâmica de recuperação das principais economias, mas só mais para a Primavera, teremos visibilidade sobre o rumo de médio longo. Temos que ter em conta que o mercado descontou e desconta ainda melhores tempos que aí virão, ou pelo menos assim esperam os principais "players". Há quem defenda que a crise ainda nem começou e que iremos conhecer outra Grande Depressão. Nesse caso, toda a análise atual perderia o seu valor e este como os outros índices acionistas, voltariam seguramente a valores de há vinte atrás. Um cenário arrepiante.
E daqui saltamos para o gráfico seguinte, que nos mostra a mais famosa Obrigação do Tesouro (OT), o título do Tesouro norte-americano a 10 anos. O gráfico revela a evolução do valor de mercado, não dos juros, sendo que estes evoluem inversamente ao valor de mercado, daí que um gráfico com os juros, seria sempre invertido em relação a este. Para a análise em causa, este serve melhor. Além de tudo, mostra-nos um prazo de 15 anos em velas mensais, o que elimina distorções de muito curto prazo. Este ativo representa bem o que se passou com a chamada renda fixa no mundo desenvolvido, ou no chamado mundo ocidental. Conheceu um "bull market" muito longo, desde 1982, quando a inflação global entrou num período de queda, interrompido apenas por correções, sobretudo quando a Reserva Federal tentava arrefecer a Economia, em períodos de maior prosperidade. Normalmente, os "peaks" de alta, mostram momentos em que renda fixa se tornava o "refugio" dos investidores contra crises setoriais. Dizia-se até que o topo de 1998/9 seria o fim do "bull" e o topo para muitos anos, já que a Economia do novo milénio seria um "milagre" que obrigaria a juros mais elevados. Daí a queda até ao princípio do ano 2000 ter sido apontado como a confirmação dessa teoria. Mal sabiam os investidores que os tempos seguintes seriam de volatilidade neste mercado e que o "bull" ainda estava bem vivo, por conta das crises que se seguiriam. Repare-se como o mau período económico (e acionista) pós-bolha Nasdaq, corresponde a um grande momento para a renda fixa - para algum lado o capital teria de se dirigir. Mais uma vez se vaticinou o fim desse "bull market". Até que chegou 2007 e tudo o que sabemos. O pânico do "credit crunch" levou estes papéis para a estratosfera, para valores inimagináveis, culminando num "blowout top" no auge da crise em finais de 2008, permitindo juros de mercado espantosamente baixos e até (?) negativos nos papéis de prazos muito curtos, só possível num cenário de profunda crise financeira, com forte desconfiança, até entre os Bancos. Mas isso é história recente, não necessita de mais detalhes.
Que poderemos esperar destes ativos. Aqui, a questão é mais simples. Sim, até os mercados financeiros têm alguns momentos de simplicidade. Com a manutenção da recuperação económica e posterior solidez, os juros vão aumentar. Com elevados défices públicos, os juros vão aumentar. Mesmo que os preços ao consumidor se comportem melhor do que o esperado, os juros vão aumentar. Quer nos prazos mais curtos, quer os determinados pelo mercado, que é o que aqui importa. Neste caso, estar do lado curto nestes papéis, é um trade mais do que óbvio. Mesmo com volatilidade à mistura. No atual estado de coisas, não há outra perspetiva mais realista.
Claro que, ainda temos o cenário oposto. As Economias perdem força e a crise financeira volta aos telejornais. Volta a extrema liquidez, mas também a desconfiança aos mercados. Nesse caso, nada impede que o título do Tesouro a 10 anos (ou os outros), seja muito procurado, retomando assim um teimoso e persistente "bull market". Poderia até ir a máximos nunca vistos nestas últimas décadas, mas seria mau sinal para a Economia e para o emprego. Em suma, um "trade" com potencial, lá mais para a frente.
E agora, com o gráfico do GOLD ao nosso dispor, vamos falar do Ouro e até das restantes "commodities". Não se deve analisar um indíce de matérias primas como um todo, devido às características muito especifícas de cada uma. Há fatores que condicionam a formação de preços que vai muito para lá de um simples mercado internacional de compra e venda. Há fatores naturais, políticos, etc... que nos podem distorcer as contas. Por isso, elas não fecharam a última década com igual grau de valorização (longe disso) e nem sequer sobem ou descem em simultâneo. Mas, muitas delas, foram "trades" da década, mesmo com períodos de fraqueza de permeio. E se o petróleo é um caso em que fica muito longe do seu máximo histórico especulativo, há casos, como o chumbo ou o açucar que acabam por ter uma época muito muito positiva. E nesse particular, o gráfico do Ouro, define bem o que quero dizer. Olhando para ele, observamos bem a tendência de alta, com algumas correções. Atingiu o valor mágico de 1.000 USD ainda em 2008, mas acabaria afetado pela crise financeira. Recorde-se que as "commodities" respondem à forte procura dos países em acelerado desenvolvimento, mas sobretudo à queda histórica do USD. E em cenário de crise, a fuga de muitos ativos foi evidente, dando-se prioridade à "segurança" do USD e da renda fixa soberana. Quando os mercados começaram a recuperar e o ambiente financeiro a estabilizar, os grandes "players" assumiram ativos de risco, como sabemos. E se o mercado acionista atingia um fundo só em Março 09, o Ouro já recuperava seriamente desde Dezembro, o que significa uma rápida reação à nova "onda" de extrema liquidez nos mercados, sendo um dos ativos que melhor simboliza essa situação. Ir dos 700 aos 1.200 USD é uma corrida com significado a que ninguém poderia ficar indiferente. Para muitos, essa corrida, já nem dependeria da depreciação em geral do USD (com razão, visto o USD index ter perdido pouco), mas sim da manutenção da liquidez em alta e de juros reais historicamente baixos ou mesmo negativos.
Nessa perspetiva, este ativo já não deverá, no novo Ano, alcançar percentagens de ganho tão elevadas, a não ser que os Estados sejam obrigados à manutenção das chamadas políticas de reinflacionamento da esfera financeira global. Quanto maior forem as fragilidades sistémicas na esfera económico-financeira, mais poderão os especuladores apostar em condições favoráveis de liquidez por um período muito maior de tempo. Nesse caso, nada deveria impedir o Ouro de alcançar (mesmo entre correções) valores superiores a 1.350 - 1.450 USD, para não falar em valores muito mais especulativos. E se o USD recuperar, "forçando" a queda do Ouro, até valores mais baixos, como os 900 - 1.000 USD, isso pode ser visto como uma oportunidade de compra para os próximos anos. Este "bull market" já vai longo, mas enquanto os juros reais forem baixos ou até negativos, enquanto a massa monetária continuar em expansão e o USD fragilizado (excesso de oferta), o Ouro pode continuar a brilhar.
E agora, e agora e agora, o Forex. No mercado cambial, tivemos um ano com dois períodos diferentes. Até Março, uma réplica da crise do Outono anterior, que levou os investidores a procurarem "refugio" no chamado baixo risco, o que, goste-se ou não, ainda vai significando recomprar os dólares vendidos e trocar ativos de risco por títulos do Tesouro dos países do G-7, como já vimos. Resta saber até quando tudo isto será considerado de "risco zero", mas isso são contas de outro rosário.
A verdade é que, após Março, voltámos ao antigo "bear market" do USD. Começou bem o ano, mas a seguir perdeu mais do que ganhou, terminando a perder pouco face às principais divisas e mais face às chamadas "divisas emergentes" ou "das commodities", o que por vezes significa a mesma coisa, sinalizando o tal regresso ao risco e ao "trade" mais especulativo. Como se vê, os mercados estão interligados, pelo que não gosto de uma análise isolada dos mesmos, mas sim em profundidade.
E isto serve para repetir uma ideia já gasta, mas ainda válida. O "bear market" do dólar norte-americano continua válido. Já leva uns oito anos, pelo que parece cansado, mas há que lembrar que anteriores movimentos semelhantes duraram até dez anos, pelo que esta atual tendência de longo prazo pode-se manter. Até porque, apesar de períodos de grande depreciação, também ocorreram períodos de forte recuperação, tal é a característica do fx. Assim, e aproveito para começar já a falar do par EUR/USD, este está apenas em valores que já estavam aí há dois anos. No longo prazo, não há algo que se possa classificar como "mercado nervoso". Tudo em ordem. Além disso, estamos apenas a uns 10% do máximo histórico do par atingido em 2008. Perto do topo, portanto. Em 2009, os melhores momentos foram a queda de 1.44 até 1.24, a qual foi relativamente rápida e, melhor ainda, a valorização do par, de 1.24xx até 1.51xx, a qual levou mais de seis meses a se desenvolver, o que até confere mais credibilidade ao movimento. Mais uma vez, a melhoria da percepção em relação ao risco, contribuiu para tal em sintonia com os restantes mercados. Em relação ao famoso "efeito Janeiro". Mais uma vez, neste par, ele acaba mais por se definir em Fevereiro, como aconteceu. Acabou por ser aí o mínimo do ano, em contraste com os que acreditavam que desta vez Janeiro (primeiros dias) marcaria o máximo anual do par. Os "ursos" seriam desmentidos pela realidade só em pleno Verão, quando o par não só atingiu como passou os 1.44 e ainda foi tocar acima de 1.51 como sabemos hoje. Aí, assistimos ao início de uma normal recuperação do USD, alimentada pela ideia de que a elevação (futura) dos juros nos EUA seria superior à da Europa, beneficiando o dólar. Isto para não falar das contas públicas de países da zona Euro. Neste caso, creio que tal só poderá ser prejudicial à moeda única se não existir um mecanismo de suporte comum em caso de um país (tipo Grécia) falhar pagamentos ou não reduzir o défice. Até agora, tudo indica que os grandes, como a França e a Alemanha, deverão suportar os pequenos. O perigo pode vir dos "médios" como a Espanha, que poderão induzir ao pânico. Mas mesmo este país ainda tem meios próprios para acudir à crise das contas do Estado. Uma subida do IVA e combustíveis ao preço dos vizinhos deverão ser um caminho a seguir.
Nesse quadro, e para o EUR/USD, temos agora no ar uma certa "neutralidade", com hipótese até de uma pequena valorização do USD. Se for o caso, entrar longo no par entre 1.35 - 1.40 pode significar uma boa hipótese de base para o arranque até à fase final do "bull market" do par, desafiando o máximo anterior e tocando o máximo histórico, podendo este ser ultrapassado lá para 2011. Dependendo da velocidade do movimento, este bull market de longo prazo deverá terminar entre 9 a 24 meses, provavelmente acima de 1.70 - e há que ter em atenção a dois fatores, sendo o primeiro o normal esgotar do movimento e o segundo, uma possível intervenção concertada dos Bancos Centrais. Só posso neste momento admitir o fim prematuro deste bull market, caso a Economia recupere por si só e uma possível elevação de juros e redução da liquidez se tornasse inofensiva no longo prazo. Um mundo em que a América mostrasse uma força há muito não vista, reduzindo o défice rapidamente. É possível, sim, mas não creio que a dita recuperação ocorra sem escolhos pelo meio. E assim, ainda estou "bull" de longo prazo neste par.
Obrigado a todos, podem participar e debater aqui estas matérias
djovarius
Como é habitual, cá estamos para o habitual exercício de fim de ano, tentando antever as tendências para o ano seguinte.
Como preâmbulo, algumas notas, que se justificam à medida que completamos a primeira década do novo século. Já estão aí os "anos dez".
A primeira é para as memórias da década: alguns ainda se lembram do paraíso onde estávamos há dez anos. O mundo caminhava para a paz e para o desenvolvimento, liderado pela América de Clinton. As crises financeiras da década passavam ao lado dos países desenvolvidos, quanto muito afetavam os mercados durante uns meses. Em grande parte da década, até o petróleo ficou quase de borla. Os fabulosos anos noventa terminavam com os mercados a darem dinheiro a todos. No "reveillon" que marcava o advento do ano 2000, só se trabalhava por fortunas. A PT Multimédia prometia enriquecer os sortudos que tinham "apanhado" uns quantos papéis na IPO - seguramente pagariam o reveillon caribenho ou o Audi. É nessa euforia que começava a década.
Mal sabíamos todos, que viria aí o contrário do que se prometia - uma verdadeira década perdida ao nível socio-económico para uma boa parte do mundo desenvolvido. Mais para uns do que para outros, mas ainda assim uma década, no mínimo, complexa, difícil.
Quando falamos de mercados financeiros, ainda mais evidente se torna o fim da euforia. E não seria necessário esperar mais do que uns dias para assistirmos ao final da fabulosa bolha do Nasdaq, originando um terrível "bear market" nos mercados acionistas que iria até Outubro 2002 - Março 2003. O medo de uma implosão ainda maior nos mercados (e do efeito de atentados como o terrível 9/11) levaria a uma série de medidas (baixa de juros reais até ao negativo) por parte das autoridades monetárias globais, lideradas pelos EUA, como de costume, que resolveria alguns problemas e acabaria por conter uma anunciada recessão, mas que, como vimos depois, provocaria uma série de novas "bolhas", lideradas pela infame bolha do crédito (não se pode falar por exemplo em bolha do imobiliário sem falar na verdadeira razão para a mesma) que ainda resistiria sem problemas até 2007, no meio de uma nova euforia, mas que levaria a uma série de falhas no sistema bancário, como todos sabemos, assim que os juros de mercado começaram a subir, uma vez que os calotes dispararam. Foi um período de uma elevada liquidez que elevou os valores em dólar de ativos, desde ações, obrigações (todos os tipos), imóveis, divisas e, sobretudo, matérias primas de base, sendo estas do melhor investimento que se fez na década, o que causaria um regresso a uma procura por ativos de todo olvidados durante as duas décadas anteriores.
E agora? Após 2008, viu-se algo nunca visto. O medo (ou pânico) aumentou ao ponto de os investidores apostarem apenas em títulos soberanos. De tal forma que levaram ao limite do possível o grande "bull market" obrigacionista que já vinha desde 1982 e que se julgava terminado antes. As ações perderam terreno, bem como todos os ativos que antes haviam beneficiado da loucura. O dinheiro passou a ser rei e senhor num quadro de brutal destruição de valor. O crédito ficou em paralisia e a economia e o comércio / serviços mundiais amplamente afetado.
Como os decisores políticos têm horror ao que pode acontecer num quadro de uma crise social (quem não teria?), nada como apostar nas velhas fórmulas. E desta feita, foram radicais como nunca. Por um lado, vimos os Bancos Centrais a tomar medidas impossíveis ao nível da chamada "janela de liquidez". Era preciso salvar o essencial da Banca, ou enfrentar uma corrida aos Bancos por parte da população, com consequências que não podemos hoje imaginar. Por outro lado, os Estados, aproveitando a deixa, emitiram recordes históricos de dívida pública igualmente com a intenção de gerar liquidez direta nas Economias, através de programas de investimento ou de intervenção social. Nesse sentido, gerou-se uma pescadinha de rabo na boca. Os Bancos tomaram recursos dos Bancos Centrais, mas não os cediam, num claro sinal de desconfiança generalizada. E para dar melhor aspeto ao balanço, adquiriam apenas títulos teoricamente de risco zero, os títulos e bilhetes do Tesouro. Indiretamente, as facilidades monetárias foram parar às mãos do Estado, pois só este poderia, em tempo de crise, fazer um papel que os privados normalmente fazem: investir. Mas esta é a grande recessão e mais do que tudo, não se sabe ainda a real extensão dos benefícios gerados por tamanho aumento dos gastos públicos ou sequer como voltaremos a um "status" mais normal. Como já defendi inúmeras vezes, um défice não é um problema, mas o tamanho conta. E aqui, não é já só essa discussão: é um verdadeiro buraco. Mas isso será o problema, creio, de toda uma nova década. No atual cenário, fazer futurologia de longo prazo é incrivelmente perigoso.
Para já, o que conta, é o efeito imediato da intervenção nos mercados. E, para já, a liquidez nova, pelo menos, causou uma recuperação / normalização dos mercados, levando-os de alguma forma à tendência pré-crise financeira. E é neste estado de coisas onde nos encontramos neste momento com o ano novo a começar.
Não poderia deixar de recordar uma antevisão feita num dos últimos anos. Todas estas crises acabam por ter uma consequência lógica. Uma brutal transferência de riqueza dos consumidores / gastadores para os produtores / poupadores. Essencialmente, uma mudança do eixo do poder económico-financeiro do Ocidente para o Oriente. Apesar de algum ceticismo, essa perspetiva já é real e muito clara. Também assistimos à recuperação e reemergência de nações a sul do Equador. Assumir sacrifícios, por vezes duros, sempre resulta. Semear para mais tarde colher. Neste particular, a política reformista Chinesa é a grande machadada da década que findou. E deverá ser tão ou mais evidente nos novos tempos que aí estão. Por muito que custe, será um exemplo a seguir e, claro, a imitar, se a ideia é desenvolvimento económico com solidez.
Bem, e em relação a 2010 ? Alegria, Mundial de Futebol, muita água nas barragens para consumir, ou dias cinzentos como o tempo destes dias que correm?
O que parece bem evidente é o facto de podermos contar com duas correntes em conflito.
Por um lado, temos os que acreditam que, pior ou melhor, as Economias globais, lideradas pela China, vão ter sustentação de longo prazo. Até os EUA vão voltar a crescer assim como a UE, embora menos. Para ajudar à festa, grandes produtores de "commodities" e os BRIC aparecerão em grande forma. Será possível evitar o colapso de Nações e de instituições. A partir daí, partiríamos para uma década de crescimento moderado, mas mais sustentado, portanto, já não seria mais uma década perdida. Um mundo com mais e melhor tecnologia e novos negócios. Esses poderão gerar os novos empregos que substituirão os empregos perdidos. Aos poucos, as contas públicas voltariam ao tão necessário rigor e o sistema financeiro ficaria igualmente bem ancorado num mundo com superior supervisão.
Por outro lado, temos os que discordam abertamente de tal otimismo. Para eles, o grande buraco nas contas públicas vai ser atacado e os chamados "pacotes de incentivo" vão sendo reduzidos. Até os juros vão começar a subir, primeiro os determinados pelos mercados e depois os que são controlados pelas autoridades monetárias, situação que deverá travar a recuperação económica logo à saída da reta de partida. O consumidor continuaria fragilizado, o desemprego continuaria a pesar negativamente e a Banca voltaria a revelar fragilidades no seu balanço. As empresas privadas, na sua maioria, não deveriam, assim, consolidar os seus negócios. Com uma atividade económica tão trémula, as receitas dos Estados ainda ficariam mais frágeis, obrigando-se a mais cortes orçamentais, sob pena de atingirem um ponto de rutura, o que poderia ser grave, devido ao retorno da desconfiança e do medo nos mercados.
Estas são, entre outras, as grandes perspetivas para o Ano Novo. Hoje, existem já dados encorajadores em relação à melhoria da situação. Afinal, os estímulos governamentais e os mecanismos de emergência dos Bancos Centrais, devolveram parte da confiança perdida. Mas a realidade é que, nesta fase, é prematuro falar de sustentação ou de desilusão. Os dados recentes não são garantia de algo ou do seu oposto. Num quadro recessivo desta natureza, futurologia é mais do que ousadia.
Que fazer, então? Acredito que, entre as variadas hipóteses com que nos defrontamos em inúmeros comentários, as duas possibilidades acima aparentam maior viabilidade. Até prova em contrário, trabalho com as perspetivas que descrevi, pensando sempre em ajustar a estratégia à realidade que se for desenhando. Assim sendo, vamos ver o que pode isto tudo significar para os ativos que gostamos de analisar, desde o imobiliário até à renda fixa, passando por divisas e títulos mobiliários de grande volume de negócios.
Sobre o imobiliário, bastam umas linhas: nos países onde se formaram enormes "bolhas", não há sinais de recuperação sérios. As vendas podem até recuperar ligeiramente devido à queda dos preços anteriores e a alguma retoma do crédito, mas as existências são enormes e podem ainda aumentar, porque há sinais de que há ainda muita gente em incumprimento em relação às hipotecas, levando a mais e mais processos de cessação dos contratos. Mais casas vazias e pouca procura. Um mal generalizado. Em suma, não é por esse caminho que vamos a algum lado.
Vamos então começar com uma pequena charada: olhem rapidamente, por favor, só para o primeiro gráfico dos vários que estão abaixo, e logo depois devem continuar aqui a leitura.
Muito bem. Que vos parece? Um grande bull market que deu um estouro e que logo provocou um forte "bear". Baseando-se neste gráfico, hoje, quem iria entrar longo? A tendência é para entrada curta até prova em contrário. Mas, se olharem de novo, verificarão que algo não está bem.
Não se preocupem, é só algo que já se fez muito no Caldeirão, um gráfico anónimo, invertido, que causa sempre polémica entre "touros e ursos". A propósito, estes gráficos todos referem-se ao final de 2009, não incluindo nada das primeiras movimentações de 2010.
Se olharmos agora para o gráfico seguinte, aí está o dito na posição certa e bem identificado como o todo poderoso SP 500 ou SPX, um gráfico semanal que confere alguma confiança para quem está longo, continuando a subir, apenas com naturais correções de permeio.
Perante as duas correntes em conflito, como vimos acima, qual pode ser o comportamento deste e de outros índices acionistas no novo Ano? Curiosamente, o mercado acionista pode ser sempre beneficiado. Em caso de indicadores positivos, embora fracos, o mercado pode continuar em alta, alimentado pela manutenção de elevada liquidez e juros ainda baixos. Com os lucros das empresas em suave recuperação, graças aos processos de reestruturação, não haveria que temer um P/E elevado. As Bolsas podem terminar 2010 com ganhos. No cenário mais pessimista, a volatilidade voltaria em força. Mas também novos "pacotes" de recuperação e mais medidas de emergência (o que se traduz em liquidez). Com altos e baixos, o mercado pode ainda assim, não perder os ganhos acumulados e terminar positivo. É um pouco (passe as diferenças de estilo) como diz Marc Faber, sempre polémico, mas que não tem dúvidas que o mercado acionista até pode triplicar de valor (em USD) nos anos seguintes, devido ao excesso de moeda - uma típica inflação de ativos. Eu diria que o mercado tem grandes possibilidades de começar bem o ano perante a dinâmica de recuperação das principais economias, mas só mais para a Primavera, teremos visibilidade sobre o rumo de médio longo. Temos que ter em conta que o mercado descontou e desconta ainda melhores tempos que aí virão, ou pelo menos assim esperam os principais "players". Há quem defenda que a crise ainda nem começou e que iremos conhecer outra Grande Depressão. Nesse caso, toda a análise atual perderia o seu valor e este como os outros índices acionistas, voltariam seguramente a valores de há vinte atrás. Um cenário arrepiante.
E daqui saltamos para o gráfico seguinte, que nos mostra a mais famosa Obrigação do Tesouro (OT), o título do Tesouro norte-americano a 10 anos. O gráfico revela a evolução do valor de mercado, não dos juros, sendo que estes evoluem inversamente ao valor de mercado, daí que um gráfico com os juros, seria sempre invertido em relação a este. Para a análise em causa, este serve melhor. Além de tudo, mostra-nos um prazo de 15 anos em velas mensais, o que elimina distorções de muito curto prazo. Este ativo representa bem o que se passou com a chamada renda fixa no mundo desenvolvido, ou no chamado mundo ocidental. Conheceu um "bull market" muito longo, desde 1982, quando a inflação global entrou num período de queda, interrompido apenas por correções, sobretudo quando a Reserva Federal tentava arrefecer a Economia, em períodos de maior prosperidade. Normalmente, os "peaks" de alta, mostram momentos em que renda fixa se tornava o "refugio" dos investidores contra crises setoriais. Dizia-se até que o topo de 1998/9 seria o fim do "bull" e o topo para muitos anos, já que a Economia do novo milénio seria um "milagre" que obrigaria a juros mais elevados. Daí a queda até ao princípio do ano 2000 ter sido apontado como a confirmação dessa teoria. Mal sabiam os investidores que os tempos seguintes seriam de volatilidade neste mercado e que o "bull" ainda estava bem vivo, por conta das crises que se seguiriam. Repare-se como o mau período económico (e acionista) pós-bolha Nasdaq, corresponde a um grande momento para a renda fixa - para algum lado o capital teria de se dirigir. Mais uma vez se vaticinou o fim desse "bull market". Até que chegou 2007 e tudo o que sabemos. O pânico do "credit crunch" levou estes papéis para a estratosfera, para valores inimagináveis, culminando num "blowout top" no auge da crise em finais de 2008, permitindo juros de mercado espantosamente baixos e até (?) negativos nos papéis de prazos muito curtos, só possível num cenário de profunda crise financeira, com forte desconfiança, até entre os Bancos. Mas isso é história recente, não necessita de mais detalhes.
Que poderemos esperar destes ativos. Aqui, a questão é mais simples. Sim, até os mercados financeiros têm alguns momentos de simplicidade. Com a manutenção da recuperação económica e posterior solidez, os juros vão aumentar. Com elevados défices públicos, os juros vão aumentar. Mesmo que os preços ao consumidor se comportem melhor do que o esperado, os juros vão aumentar. Quer nos prazos mais curtos, quer os determinados pelo mercado, que é o que aqui importa. Neste caso, estar do lado curto nestes papéis, é um trade mais do que óbvio. Mesmo com volatilidade à mistura. No atual estado de coisas, não há outra perspetiva mais realista.
Claro que, ainda temos o cenário oposto. As Economias perdem força e a crise financeira volta aos telejornais. Volta a extrema liquidez, mas também a desconfiança aos mercados. Nesse caso, nada impede que o título do Tesouro a 10 anos (ou os outros), seja muito procurado, retomando assim um teimoso e persistente "bull market". Poderia até ir a máximos nunca vistos nestas últimas décadas, mas seria mau sinal para a Economia e para o emprego. Em suma, um "trade" com potencial, lá mais para a frente.
E agora, com o gráfico do GOLD ao nosso dispor, vamos falar do Ouro e até das restantes "commodities". Não se deve analisar um indíce de matérias primas como um todo, devido às características muito especifícas de cada uma. Há fatores que condicionam a formação de preços que vai muito para lá de um simples mercado internacional de compra e venda. Há fatores naturais, políticos, etc... que nos podem distorcer as contas. Por isso, elas não fecharam a última década com igual grau de valorização (longe disso) e nem sequer sobem ou descem em simultâneo. Mas, muitas delas, foram "trades" da década, mesmo com períodos de fraqueza de permeio. E se o petróleo é um caso em que fica muito longe do seu máximo histórico especulativo, há casos, como o chumbo ou o açucar que acabam por ter uma época muito muito positiva. E nesse particular, o gráfico do Ouro, define bem o que quero dizer. Olhando para ele, observamos bem a tendência de alta, com algumas correções. Atingiu o valor mágico de 1.000 USD ainda em 2008, mas acabaria afetado pela crise financeira. Recorde-se que as "commodities" respondem à forte procura dos países em acelerado desenvolvimento, mas sobretudo à queda histórica do USD. E em cenário de crise, a fuga de muitos ativos foi evidente, dando-se prioridade à "segurança" do USD e da renda fixa soberana. Quando os mercados começaram a recuperar e o ambiente financeiro a estabilizar, os grandes "players" assumiram ativos de risco, como sabemos. E se o mercado acionista atingia um fundo só em Março 09, o Ouro já recuperava seriamente desde Dezembro, o que significa uma rápida reação à nova "onda" de extrema liquidez nos mercados, sendo um dos ativos que melhor simboliza essa situação. Ir dos 700 aos 1.200 USD é uma corrida com significado a que ninguém poderia ficar indiferente. Para muitos, essa corrida, já nem dependeria da depreciação em geral do USD (com razão, visto o USD index ter perdido pouco), mas sim da manutenção da liquidez em alta e de juros reais historicamente baixos ou mesmo negativos.
Nessa perspetiva, este ativo já não deverá, no novo Ano, alcançar percentagens de ganho tão elevadas, a não ser que os Estados sejam obrigados à manutenção das chamadas políticas de reinflacionamento da esfera financeira global. Quanto maior forem as fragilidades sistémicas na esfera económico-financeira, mais poderão os especuladores apostar em condições favoráveis de liquidez por um período muito maior de tempo. Nesse caso, nada deveria impedir o Ouro de alcançar (mesmo entre correções) valores superiores a 1.350 - 1.450 USD, para não falar em valores muito mais especulativos. E se o USD recuperar, "forçando" a queda do Ouro, até valores mais baixos, como os 900 - 1.000 USD, isso pode ser visto como uma oportunidade de compra para os próximos anos. Este "bull market" já vai longo, mas enquanto os juros reais forem baixos ou até negativos, enquanto a massa monetária continuar em expansão e o USD fragilizado (excesso de oferta), o Ouro pode continuar a brilhar.
E agora, e agora e agora, o Forex. No mercado cambial, tivemos um ano com dois períodos diferentes. Até Março, uma réplica da crise do Outono anterior, que levou os investidores a procurarem "refugio" no chamado baixo risco, o que, goste-se ou não, ainda vai significando recomprar os dólares vendidos e trocar ativos de risco por títulos do Tesouro dos países do G-7, como já vimos. Resta saber até quando tudo isto será considerado de "risco zero", mas isso são contas de outro rosário.
A verdade é que, após Março, voltámos ao antigo "bear market" do USD. Começou bem o ano, mas a seguir perdeu mais do que ganhou, terminando a perder pouco face às principais divisas e mais face às chamadas "divisas emergentes" ou "das commodities", o que por vezes significa a mesma coisa, sinalizando o tal regresso ao risco e ao "trade" mais especulativo. Como se vê, os mercados estão interligados, pelo que não gosto de uma análise isolada dos mesmos, mas sim em profundidade.
E isto serve para repetir uma ideia já gasta, mas ainda válida. O "bear market" do dólar norte-americano continua válido. Já leva uns oito anos, pelo que parece cansado, mas há que lembrar que anteriores movimentos semelhantes duraram até dez anos, pelo que esta atual tendência de longo prazo pode-se manter. Até porque, apesar de períodos de grande depreciação, também ocorreram períodos de forte recuperação, tal é a característica do fx. Assim, e aproveito para começar já a falar do par EUR/USD, este está apenas em valores que já estavam aí há dois anos. No longo prazo, não há algo que se possa classificar como "mercado nervoso". Tudo em ordem. Além disso, estamos apenas a uns 10% do máximo histórico do par atingido em 2008. Perto do topo, portanto. Em 2009, os melhores momentos foram a queda de 1.44 até 1.24, a qual foi relativamente rápida e, melhor ainda, a valorização do par, de 1.24xx até 1.51xx, a qual levou mais de seis meses a se desenvolver, o que até confere mais credibilidade ao movimento. Mais uma vez, a melhoria da percepção em relação ao risco, contribuiu para tal em sintonia com os restantes mercados. Em relação ao famoso "efeito Janeiro". Mais uma vez, neste par, ele acaba mais por se definir em Fevereiro, como aconteceu. Acabou por ser aí o mínimo do ano, em contraste com os que acreditavam que desta vez Janeiro (primeiros dias) marcaria o máximo anual do par. Os "ursos" seriam desmentidos pela realidade só em pleno Verão, quando o par não só atingiu como passou os 1.44 e ainda foi tocar acima de 1.51 como sabemos hoje. Aí, assistimos ao início de uma normal recuperação do USD, alimentada pela ideia de que a elevação (futura) dos juros nos EUA seria superior à da Europa, beneficiando o dólar. Isto para não falar das contas públicas de países da zona Euro. Neste caso, creio que tal só poderá ser prejudicial à moeda única se não existir um mecanismo de suporte comum em caso de um país (tipo Grécia) falhar pagamentos ou não reduzir o défice. Até agora, tudo indica que os grandes, como a França e a Alemanha, deverão suportar os pequenos. O perigo pode vir dos "médios" como a Espanha, que poderão induzir ao pânico. Mas mesmo este país ainda tem meios próprios para acudir à crise das contas do Estado. Uma subida do IVA e combustíveis ao preço dos vizinhos deverão ser um caminho a seguir.
Nesse quadro, e para o EUR/USD, temos agora no ar uma certa "neutralidade", com hipótese até de uma pequena valorização do USD. Se for o caso, entrar longo no par entre 1.35 - 1.40 pode significar uma boa hipótese de base para o arranque até à fase final do "bull market" do par, desafiando o máximo anterior e tocando o máximo histórico, podendo este ser ultrapassado lá para 2011. Dependendo da velocidade do movimento, este bull market de longo prazo deverá terminar entre 9 a 24 meses, provavelmente acima de 1.70 - e há que ter em atenção a dois fatores, sendo o primeiro o normal esgotar do movimento e o segundo, uma possível intervenção concertada dos Bancos Centrais. Só posso neste momento admitir o fim prematuro deste bull market, caso a Economia recupere por si só e uma possível elevação de juros e redução da liquidez se tornasse inofensiva no longo prazo. Um mundo em que a América mostrasse uma força há muito não vista, reduzindo o défice rapidamente. É possível, sim, mas não creio que a dita recuperação ocorra sem escolhos pelo meio. E assim, ainda estou "bull" de longo prazo neste par.
Obrigado a todos, podem participar e debater aqui estas matérias
djovarius
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