"TAP não sobrevive se se mantiver pública", garante Pinto Luz

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Decidi fazer um comentário sobre a situação da política, em termos ideológicos, à margem dos resultados eleitorais que hoje ficamos a conhecer em Portugal.


A esquerda está à deriva na Europa, é verdade. Mas o neoliberalismo está à deriva na América do Norte, ou não? Vejo pessoal muito certo das melhores opções quando no tempo que corre é mais que óbvio que não temos nenhuma ideologia que se possa afirmar melhor do que outra. A ideologia neoliberal veio preencher um vazio ideológico, depois da implosão de todas as outras, e rapidamente se alastrou ao mundo, e também na Europa, mas será que serve os interesses da humanidade?

Neste momento vivemos no mundo uma situação de descrédito da política e dos políticos. Existe uma demasiada utilização do marketing e uma subserviência a interesses económicos que fazem diminuir a diferença entre os partidos políticos. Na minha opinião o neoliberalismo é a negação da politica convencional por um lado, abre caminho ao populismo por outro, e continuará a diminuir a importância da existência de uma "política de convicção".

Isto para mim levanta questões importantes quanto à própria existência do ser humano e ao que nos identifica como tal. Quando deixamos de seguir as nossas convicções e nos entregamos a um sistema que premeia apenas o economicismo, onde o dinheiro é lei, obrigando a que cada um se desenrasque como pode, duvido muito que exista estabilidade por muito tempo. Uma parte disso é o que estamos agora a sofrer, e por certo que marcará também o futuro dos próximos anos.


Eu concordo com algumas ideias do neoliberalismo mas ninguém ainda me conseguiu convencer que nos moldes em que está seja um sistema consistente. Quando parece claro que este sistema promove exclusão social, grande desigualdade de salários e de educação, sistemas de saúde pouco eficientes, altas taxas de criminalidade e prisão, fico com bastante receio do que isso pode significar em conjunto com as instabilidades económicas que parecem inevitáveis. Temos casos e casos, e o caso da Suécia poderia ser considerado um pouco diferente, mas, é exactamente isso que quero dizer, temos que ter muita atenção no que fazemos. E aí aparece de novo a necessidade de uma política com convicção, e se calhar já não estamos a pensar em neoliberalismo.

E se pensarmos no que significa, em termos ideológicos, ser de esquerda, sai qualquer coisa assim:

Ser de Esquerda hoje, a meu ver, para um europeu, não é só ter um passado coerente, antifascista, anticolonialista, a favor dos Direitos Humanos e da igualdade entre homens e mulheres; é ser a favor de uma democracia económica e social (e não de uma "democracia liberal"); é lutar contra as desigualdades sociais; ser a favor de uma Europa Política e Social, capaz de ser solidária com todas as outras Regiões do Mundo onde se sofre; e a favor das grandes causas da defesa do Ambiente, dos Direitos Humanos e da igualdade de todos os seres humanos, independentemente do sexo, opção sexual, raça, religião ou condição social; é ser pelo primado da política sobre a economia, da ética, contra a mistura explosiva do negocismo e da política; é ser tolerante e aceitar o outro, como diferente de nós, partidário do multiculturalismo e da laicidade, ou seja, a favor da separação do Estado e das Igrejas; a favor de um sistema capaz de corrigir as desigualdades, de um Estado de Direito, interveniente, mormente no campo da saúde, da justiça, do ensino, do conhecimento e do aproveitamento dos melhores.

(Mário Soares)

Mas não é isto que geralmente identificamos como humano? Eu fico ansiosamente à espera que se consiga fazer a ligação de uma Esquerda moderna com o sistema neoliberal. Julgo que o crescimento económico e a igualdade não são de todo inconciliáveis.

Abraço