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Caldeirão da Bolsa

E se o Papa escrevesse no Caldeirão de Bolsa

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por Quimporta » 31/8/2009 11:26

Para além de líder espiritual, um Papa (seja qual for o "nick") é também chefe do Estado Soberano do Vaticano. Como tal essas ditas análises que falas não são as notas ao orçamento de Estado de mil nove e carqueija lá do sítio?


RP
Percebi do teu comentário o tom de graça.

Mas o Vaticano, ao que pude apurar, parece que faz mesmo orçamentos "de estado", embora com algumas particularidades.
Para começar, não se chama orçamento "de estado" mas "da Cidade do Vaticano". O Vaticano tem a sua inspiração nas antigas Cidades-Estado da península itálica. Ainda sobra outra dessas Cidades-Estado, que é S. Marino.

Juridicamente o Vaticano não é a mesma coisa que a Santa Sé, que em si não exerce o Poder Temporal. (posso estar a cometer alguma imprecisão…). O Papa delega grande parte da gestão Temporal em especialistas e as contas do Vaticano têm tido altos e baixos. Sendo que a componente da territorialidade é apenas simbólica (0,44 Km2), uma cidade-estado para o Papa tem o seu sentido como forma de evitar a sujeição da autoridade religiosa do Papa ao poder político. Há exemplos de apropriação grave, como no caso da Igreja Ortodoxa com o Regime Soviético, tão grave como a usurpação inversa. :twisted:

As regras para isso estão definidas na "Nova Lei Fundamental da Cidade do Vaticano", aprovada pelo JP2 em 2000.

http://www.vatican.va/vatican_city_stat ... cv_po.html

O regime é monárquico, embora o Chefe de Estado seja Eleito. O que é muito singular :!: Monarquia e representatividade eleitoral encontram aqui uma harmonia que bem podia ser um modelo a estudar pela causa monárquica. A eleição do Chefe de Estado existente neste Estado é praticamente pioneira na história. Contudo os eleitores não provêm do próprio estado, mas potencialmente de todo o Mundo, sendo escolhidos pelo Monarca anterior.
O Poder é assumidamente exercido em Autocracia, não existindo qualquer divisão de poderes (apenas delegação e algumas regras). A explicação é que o verdadeiro poder vem de Deus e não do Povo, que o delegou em S. Pedro e seus sucessores. Creio que o Poder aqui referido é o Poder Espiritual e não Temporal.

Antes que os administradores do fórum (e bem..) mostrem um “off tópic” amarelo acrescento um comentário financeiro. O Vaticano tem um banco central, aderiu ao Euro em 2002, e emite moeda, desde que não ultrapasse 1 milhão de euros anuais. :cry: Ainda não tem bolsa, mas acho que também não admite empresas privadas, o que até parece um contra-senso relativamente às orientações económico-sociais dos diversos Papas… Recorre frequentemente ao out-sourcing, com acontece com a Alitalia.

Vive essencialmente de donativos e do Turismo, sendo nesse aspecto muito parecido com Portugal… :lol:
As tentativas de diversificar os investimentos no exterior deram muito mau resultado (Banco Ambrosiano, enfim…), e o Papa JP2 praticamente acabou com isso. :oops:

Muito louvável é a medida de 2007 que torna o Vaticano o primeiro estado do Mundo neutro em relação ao Carbono. http://www.physorg.com/news103554442.html

Fonte: wikipedia e outras do mesmo género.

Abraço,
Quim
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por Quimporta » 29/8/2009 9:35

Bento16, se por acaso leres isto aceita como humilde sugestão este Avatar...
Fica bem :wink:
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por Razao_Pura » 28/8/2009 16:44

Para além de líder espiritual, um Papa (seja qual for o "nick") é também chefe do Estado Soberano do Vaticano. Como tal essas ditas análises que falas não são as notas ao orçamento de Estado de mil nove e carqueija lá do sítio?
Trade the trend.
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E se o Papa escrevesse no Caldeirão de Bolsa

por Quimporta » 28/8/2009 16:37

Por aí pela net pode ler-se a notícia de que Ratzinger apresentou um documento em 1985 “intitulado Market Economy and Ethics, onde defendia que o declino ao nível da ética poderia levar ao colapso das leis do mercado”. Ora, diz a notícia, que estas proféticas palavras já previam a crise que se haveria de instalar.

Em Julho de 2009, já sob o nick de Bento16, publicou uma encíclica que se diz sobre os mercados e, coincidência ou não, até agora não aconteceu muito coisa.
A encíclica “Caritas in Veritate” , constou-se, defendia uma nova ordem política e financeira mundial. Lembro-me de ouvir isto na altura e pensar, ora finalmente há um que vem pôr ordem nisto. Mas não….

Ainda estou meio de férias, e pude vaguear um pouco no texto. Facilmente se nota que não é a “nova autoridade mundial para regular os mercados” o prato forte. Está lá escrito que desde 1891, um Papa com um nick Leão13 assumia “cumprir um dever próprio da sua missão quando reflectia sobre questões sociais do seu tempo“.

Desde então, mais ou menos uma vez por década, sai uma reflexão Papal de fundo sobre a actualidade económica e social do mundo, procurando alertar para os males que advirão se não andarmos todos mais encarreiradinhos.

Por exemplo, o Paulo6, já em 1967 “tinha uma visão articulada do desenvolvimento. Com o termo «desenvolvimento», queria indicar, antes de mais nada, o objectivo de fazer sair os povos da fome, da miséria, das doenças endémicas e do analfabetismo. Isto significava, do ponto de vista económico, a sua participação activa e em condições de igualdade no processo económico internacional; do ponto de vista social, a sua evolução para sociedades instruídas e solidárias; do ponto de vista político, a consolidação de regimes democráticos capazes de assegurar a liberdade e a paz”. Sábias palavras. Consta que o Estado Novo português embirrava então com o Vaticano..

- A primeira conclusão que tiro é que não tem sido a Igreja e o Papa a grande referência da economia e da política. Cada um no seu poleiro, ainda bem…

- A segunda é que, com a excepção absolutamente incontornável do papel do Papa polaco JP2 na queda dos muros e no fim da guerra fria, estas reflexões papais não têm servido para muito mais do que para a Igreja Romana vir, de vez em quando, alegar um frustrado “eu não dizia…”.

- A terceira conclusão é que a doutrina da Igreja assumiu a causa ambiental, mas aí não se pode dizer que tenha propriamente trazido uma grande novidade. Ficou apenas o registo.

- Relativamente aos mercados tudo o que se possa dizer sobre as “análises” de Bento16 é demais… Daí que continue à espera do regresso do Ulisses.

A grande vantagem que retirei do tempo que dediquei as estudar um pouco o que dizem os Papas sobre as questões sociais, e agora económicas, ambientais etc…, é a integração lúcida da componente humanista com a política e a economia, alternativa ao conflito permanente.

Não é o meu papel traduzir as palavras de Bento XVI, quem sou eu, e por isso não vou introduzir a discussão sobre nenhum dos assuntos abordados. Mas era pena deixar passar o assunto totalmente.

Fica para quem quiser comentar…
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