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Caldeirão da Bolsa

A racionalidade e os limtes da razão (era: neoliberalismo)

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por tmms » 30/1/2009 8:44

tmms Escreveu:
bossas Escreveu:Aliás, quem o faz arroga-se de uma superioridade moral e ética sem paralelo, como que para evitar que os verdadeiros conhecedores da Razão tomem consciência de que pensam, agem e produzem para "atingir a plenitude da felicidade" (usando uma expressão sua e certíssima).

Penso que não entendeu os fundamentos da dúvida que levantei. Eu não faço qualquer apologia à subjectividade, antes pelo contrário. Tenho plena consciência de que existem dois planos éticos, claramente distintos e antagónicos, onde cada ser humano se pode movimentar. Sei muito bem em qual deles me movimento, sempre me movimentei e sempre me movimentarei. Sobre esta matéria não há lugar à mínima subjectividade.

A natureza da dúvida que levantei reside em atitudes como a que expressou agora mesmo nesta frase: "os verdadeiros conhecedores da Razão".

Esta afirmação não colocará "os verdadeiros conhecedores da Razão" no mesmo patamar dos tais que o senhor diz, pejorativamente, se "arrogarem de uma superioridade moral e ética sem paralelo"?

E, ao fazer esse julgamento, não lhe parece evidente que acabou de perder a objectividade indispensável à análise da questão?

E que ao tropeçar tão facilmente na armadilha da objectividade acabou por revestir de valioso conteúdo a dúvida que eu inicialmente coloquei?

Um abraço,
Tiago
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por tmms » 30/1/2009 8:44

bossas Escreveu:
tmms Escreveu:Sinceramente não concordo com a sua frase “são os que invariavelmente ainda não encontraram a racionalidade do Homem, ou não a entendem, ou simplesmente a rejeitam.”

Na minha modesta opinião, penso que todos aqueles Homens que, individualmente, já percorreram pelo menos parte do caminho ao encontro da “racionalidade do Homem” (para simplificar e recorrendo-me da sua expressão) jamais a poderão rejeitar. Se tiveram a capacidade intelectual e a elevação ética para percorrer esse caminho então a aceitação constitui-se como um processo natural não havendo espaço sequer à hipótese de rejeição.

Penso, isso sim, que muitos Homens nem sequer entendem, ou equacionam sequer a existência, da dimensão que refere e que denomina “racionalidade do Homem”. Mas isto é uma questão com raízes demasiado profundas e qual tentarei abordar resumidamente no próximo ponto.


Estou de acordo, e a palavra "rejeitar" foi mal colocada. A Razão apenas pode ser desvirtuada por quem tenha feito o caminho do conhecimento e da ética, como disse, pelo que as mentes que a fazem, fazem-no também racionalmente e no seu próprio interesse. Mais correcto seria usar a expressão "negar-lhe a existência".

Aliás, quem o faz arroga-se de uma superioridade moral e ética sem paralelo, como que para evitar que os verdadeiros conhecedores da Razão tomem consciência de que pensam, agem e produzem para "atingir a plenitude da felicidade" (usando uma expressão sua e certíssima). É por isso que no código moral dos nossos dias não são raros os casos em que riqueza anda associada com culpa, e o sucesso é apregoado como um pecado.

Este quadro só pode ser manobrado e concebido, não por Homens que rejeitem a exixtência da Razão, mas por aqueles que a escondem, desvirtuam e a negam a outros e a usam em proveito próprio. Isto apenas é possível pelo que descreve no ponto seguinte - A EDUCAÇÂO - e que eu resumiria numa descrição romântizada: são as vítimas que tornam possível a injustiça.

Em matéria de educação, já escrevi e gravei o que tinha a dizer sobre o assunto. Não gosto de me repetir, principalmente quando ninguém quer ouvir. A Razão é intrínseca ao Homem mas não é automática. Aqueles que negam a sua aprendizagem, simplesmente ignoro. Digo apenas, porque a observação o merece - que concordo com o que afirmou, e que é pela via do conhecimento (que eu defino como a descoberta da Razão) que se educam os Homens a não se permitirem vitimizar.

Eu diria mesmo mais do que "o Estado (em termos gerais e da forma como estamos organizados) não confere ao ser humano os fundamentos necessários para que ele possa construir tal empreendimento". A verdade completa é que o estado NÂO PERMITE que o individuo procure esses fundamentos, porquanto o estado está na mão dos que adoptaram este código moral que denuncio.

tmms Escreveu:Por outro lado, e porque há sempre um outro lado, nós devemos ter a humildade para aceitar que a realidade é demasiado complexa e que, no limite, a nossa visão racional e operativa da mesma poderá ser, também ela, apenas mais uma visão dessa mesma realidade.


Cuidado! Há sempre outro lado... São dois: o certo, e o errado. No meio está o parasita e não o Homem. Mas aquilo que se pode aferir das suas palavras é a apologia da subjectividade, do relativo, dos relutantes em aplicar a racionalidade e isso é perigoso. Respeito quem está de um lado ou de outro, mas quem está no meio nega a natureza humana.

São os que se colocam na posição do "nim" que criam as condições para a irracionalidade que se vê à nossa volta. São eles que promovem a dúvida a que se refere quando afirma:

tmms Escreveu:E é precisamente no momento em que a nossa panóplia de instrumentos racionais de análise da realidade nos faz chegar à dúvida anterior, que eu julgo estar a chegar o momento em que a caminhada “ao encontro da racionalidade do Homem” entrará noutros domínios e jamais poderá ser continuada de uma forma exclusivamente individual. Mas isto são só suposições minhas, claro.


Por isso essa dúvida é artificial e irracional. Adoptar a Razão e a ética moral do interesse próprio é irradicá-la. Por isso não posso concordar quando afirma "estar a chegar o momento em que a caminhada “ao encontro da racionalidade do Homem” entrará noutros domínios e jamais poderá ser continuada de uma forma exclusivamente individual". É por uma ser a conclusão racional de outra que importa acabar com a primeira.

Tal como a caridade amula a justiça, também a humildade anula o sucesso. E o sucesso é próprio da Razão e da natureza humana.

Mas claro, isto também são só suposições minhas. É o meu código que só lamento não ter descoberto mais cedo e de forma natural, como devia.
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por tmms » 30/1/2009 8:44

tmms Escreveu:
bossas Escreveu:Da mesma forma, julgaria necessário esclarecer que os que refere como aqueles que "agora não se ouvem, há poucos meses atrás tenham vindo crucificar na praça pública os especuladores pelos milhões de mortes que ia ocorrer devido ao aumento do preço dos cereais." são os que invariavelmente ainda não encontraram a racionalidade do Homem, ou não a entendem, ou simplesmente a rejeitam.

Sinceramente não concordo com a sua frase “são os que invariavelmente ainda não encontraram a racionalidade do Homem, ou não a entendem, ou simplesmente a rejeitam.”

Na minha modesta opinião, penso que todos aqueles Homens que, individualmente, já percorreram pelo menos parte do caminho ao encontro da “racionalidade do Homem” (para simplificar e recorrendo-me da sua expressão) jamais a poderão rejeitar. Se tiveram a capacidade intelectual e a elevação ética para percorrer esse caminho então a aceitação constitui-se como um processo natural não havendo espaço sequer à hipótese de rejeição.

Penso, isso sim, que muitos Homens nem sequer entendem, ou equacionam sequer a existência, da dimensão que refere e que denomina “racionalidade do Homem”. Mas isto é uma questão com raízes demasiado profundas e qual tentarei abordar resumidamente no próximo ponto.

bossas Escreveu:Algo que também creio faltar urgentemente nesta análise séria é o facto de acrescentar à expressão "algo que é totalmente natural" a verdade dos factos: a irracionalidade dos estados em tentar inverter o que é produto da Razão e, por isso mesmo, natural.

Apraz-me que tenha classificado a minha análise de séria e boa. Mas, naturalmente, jamais teria a ousadia de com ela pretender abranger toda a complexa e intrincada realidade. Limitei-me a escrever um pequeno desabafo. Dito isto, concordo plenamente com o que acrescentou.

E, na continuação do que eu estava a escrever no ponto anterior, o seu comentário remete-me para o cerne da questão: educação. Socorrendo-me uma vez mais das suas palavras, “encontrar a racionalidade do Homem” só é possível através de um processo de crescimento intelectual e ético (e talvez também espiritual, não sei, por isso especulo). Este crescimento, por sua vez, só é viável quando os pilares que sustentarão a sua construção são sólidos.

E o facto objectivo é que o Estado (em termos gerais e da forma como estamos organizados) não confere ao ser humano os fundamentos necessários para que ele possa construir tal empreendimento. E, no limite, atingir a plenitude da felicidade que deve ser a missão de cada ser humano.

Mas, apesar do que acabei de afirmar, sou um optimista e muito crente na humanidade, como poderá verificar pela minha resposta ao próximo ponto.

bossas Escreveu:Gostaria também de afirmar que a constatação de que "muitas pessoas têm uma necessidade insaciável de procurar justificações" significa apenas que essas pessoas falham em ver a Razão dos acontecimentos. Quem a conhece não procura justificações ou culpados: apresenta soluções.

Olhando para a história, o mundo que temos hoje é infinitamente melhor do que tínhamos há uns séculos atrás. Não acredito em grandes revoluções e em mudanças radicais. Penso que a mudança se faz todos os dias. Basicamente, o meu texto inicial, a sua resposta a ele e este meu novo comentário são pequenos exemplos disso mesmo. A verdadeira mudança é lenta, interior, e têm de estar criadas predisposições endógenas no individuo (numa relativa maioria, bem entendido).

Tem toda a razão quando afirma que “essas pessoas falham em ver a razão dos acontecimentos”. Sim, é um facto. Elas falham, mas não por opção. Digamos que os instrumentos de análise de que elas dispõem (e elas não têm culpa disso) não lhes permite ver a realidade de outra forma.

Por outro lado, e porque há sempre um outro lado, nós devemos ter a humildade para aceitar que a realidade é demasiado complexa e que, no limite, a nossa visão racional e operativa da mesma poderá ser, também ela, apenas mais uma visão dessa mesma realidade.

E é precisamente no momento em que a nossa panóplia de instrumentos racionais de análise da realidade nos faz chegar à dúvida anterior, que eu julgo estar a chegar o momento em que a caminhada “ao encontro da racionalidade do Homem” entrará noutros domínios e jamais poderá ser continuada de uma forma exclusivamente individual. Mas isto são só suposições minhas, claro.

bossas Escreveu:Já percebi que muitas mentes deveriam "postar" mais em assuntos como este e que, "postando" exclusivamente em topicos de bolsa.”
Uma boa análise. Sinceramente gostava de ver mais "posts" como este.

Obrigado. Também gostei muito do seu texto.

Um abraço,
Tiago
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por tmms » 30/1/2009 8:43

bossas Escreveu:Uma boa análise.

Eu diria, em vez de "Em termos abstractos é sabido que em qualquer sistema, e até mesmo na própria natureza, cada acção tem uma reacção em sentido oposto" que em termos CONCRETOS a Razão é a natureza do Homem.

Da mesma forma, julgaria necessário esclarecer que os que refere como aqueles que "agora não se ouvem, há poucos meses atrás tenham vindo crucificar na praça pública os especuladores pelos milhões de mortes que ia ocorrer devido ao aumento do preço dos cereais." são os que invariavelmente ainda não encontraram a racionalidade do Homem, ou não a entendem, ou simplesmente a rejeitam.

Algo que também creio faltar urgentemente nesta análise séria é o facto de acrescentar à expressão "algo que é totalmente natural" a verdade dos factos: a irracionalidade dos estados em tentar inverter o que é produto da Razão e, por isso mesmo, natural.

Foi de facto a irracionalidade do estado e a sua sede de intervenção que nos colocou na rota que cruzámos. De outra forma, teriamos de ter como natural o sofrimento Homem e as falhas da Razão, coisa que recuso liminarmente.

O grave e estranho é que o principio continua a ser aplicado e at´+e apresentado como a unica solução para os problemas que enfrentamos. Logo, em vez de os resolver, irá agravá-los até que se mostre a copmpleta falência do princípio.

Gostaria também de afirmar que a constatação de que "muitas pessoas têm uma necessidade insaciável de procurar justificações" significa apenas que essas pessoas falham em ver a Razão dos acontecimentos. Quem a conhece não procura justificações ou culpados: apresenta soluções.

Posto isto, queria dizer que apesar de não ser tão assiduo no forum (venho apenas em vagas) já percebi que muitas mentes deveriam "postar" mais em assuntos como este e que, "postando" exclusivamente em topicos de bolsa estão a contribuir para que a Razão continue sem grandes adeptos e que os arautos do sofrimento e da necessidade passem as suas crenças com maior facilidade.

Não por caridade ou por interesse "comum", mas no seu interesse próprio deveriam levantar-se mais vezes e advogar a Razão com mais frequência. A eles é que se envia a factura dos necessitados. São os que pensam, agem, constroem e produzem que carregam os que não o fazem.

Sinceramente gostava de ver mais "posts" como este.
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por tmms » 30/1/2009 8:43

tmms Escreveu:Quem já me conhece sabe que sempre me limitei a escrever em tópicos directamente relacionados com os mercados financeiros. Contudo, e não sendo defensor de qualquer corrente ideológica, a recente e excessiva proliferação de mensagens deste teor obriga-me a emitir uma opinião.

Como já escrevi noutro tópico considero as crises tão naturais como as fases de pujante crescimento económico. Em termos abstractos é sabido que em qualquer sistema, e até mesmo na própria natureza, cada acção tem uma reacção em sentido oposto. Portanto, tal como o crescimento económico, as crises são ocorrências totalmente naturais e, portanto, desejáveis pois tendem a contribuir para o equilíbrio do sistema. Sem elas, pura e simplesmente, não havia crescimento.

Posto isto, confesso que me faz alguma confusão verificar que muitas pessoas têm uma necessidade insaciável de procurar justificações para algo que é totalmente natural e, em última análise, desejável. E, como para muitas destas pessoas a busca do injustificável não chega para saciar a sua ira alicerçada nos mais profundos dogmas, torna-se necessário encontrar culpados. Neste contexto, a identificação de culpados mais não é do que uma necessidade natural do culminar de uma visão dogmática da realidade. Só desta forma a realidade faz sentido para estas pessoas.

Penso que a natureza destas opiniões acerca do mundo e da vida em sociedade só poderá estar ancorada numa percepção de muito curto prazo. Só assim se compreende que estas mesmas pessoas, que agora não se ouvem, há poucos meses atrás tenham vindo crucificar na praça pública os especuladores pelos milhões de mortes que ia ocorrer devido ao aumento do preço dos cereais. Entretanto, o sistema vai tendendo para o seu equilíbrio natural e os picos, que só alarmam aqueles que vivem no e do imediatismo, tendem a ser, em termos médios, totalmente insignificantes no longo prazo, tal como eu defendi na altura.

Os picos passaram (como é natural) e já ninguém se lembra. Mas as acusações permanecem. Naquela altura os defensores dos mercados livres e, em especial os especuladores de futuros sobre matérias-primas, foram apelidados de criminosos e assassinos. Agora o alvo é outro, mais abrangente. O que nos vale é que amanhã, quando começar um novo ciclo de crescimento económico, vamos ter algum descanso pois as baterias da ira serão apontadas a outros alvos.

Um abraço,
Tiago
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A racionalidade e os limtes da razão (era: neoliberalismo)

por tmms » 30/1/2009 8:43

Bom dia a todos,

Visto que a minha análise ao comentário inicial do tópico «O neoliberalismo...» nos levou a divergir do tema inicial, tomo a liberdade de criar um tópico próprio.

Por momentos ainda ponderei se o tema seria off-topic mas, manifestamente, não é. Eu diria que estamos apenas debater os fundamentos teóricos do que muitos de nós defendem, no dia a dia, ao fazer a apologia da abordagem racional nos mercados financeiros. Ou, para dar outro exemplo prático, o esforço e persistência notáveis do Marco António em desmontar certas ideias preconcebidas que reinam na mente de muita gente.

As próximas seis mensagens que vou colocar são a troca de argumentos entre mim e o utilizador bossas no tópico anterior. Naturalmente que todos os interessados estão convidados a reforçar ou refutar os nossos argumentos.

Um abraço,
Tiago
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