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Caldeirão da Bolsa

Os desafios 2009 segundo 12 personalidades da vida económica

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por atomez » 4/1/2009 20:02

A situação vai piorar antes de piorar outra vez.

(este país está a tornar-se economicamente inviável)
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por RCF » 4/1/2009 19:48

Caros colegas do caldeirão, uma vez que este topico se refere aos desafios da economia, embora nesta discussão tal esteja restrito a 2009, gostaria de referir um sector que penso a longo prazo se virá a afirmar como uma das mais dinâmicas e importantes industrias de exportação Portuguesas, estou a falar do sector audio-visual.

Por regra não vejo televisão para recreação, vejo como parte da minha rotina de trabalho canais internacionais sobre a economia e mercados-normalmente a Bloomberg que me parece o melhor, mas como recreação não tenho o habito de ver televisão.
No entanto, por vezes em casa de amigos ou em locais públicos com televisão acabo por visionar alguma coisa e uma conclusão que começo a retirar é que a produção audio-visual Portuguesa (telenovelas e series) está com uma qualidade comercial muito boa, denotando uma evolução enorme em relação ao que se fazia há alguns anos atrás.

Penso que tal se deve a:
1- O primeiro e obvio factor a existência de televisões privadas o que veio introduzir concorrência no mercado;
2- A existência de um exemplo extremamente bem sucedido na area de produção audio-visual que nos é culturalmente proximo, estou a falar do Brazil;
3- A importação de técnicos qualificados no audio-visual que ao longo dos anos tem acrescentado valor ao sector em Portugal, mais uma vez estou a falar dos Brazileiros;
4- A ausência do estado do sector (note-se estou a falar da produção) o que permite que este funcione como um mercado aberto e concorrêncial que atinge o seu potencial natural;

Penso que se este sector se continuar a afirmar e crescer como o tem vindo a fazer (e tudo indica que sim, um sinal disso é por exemplo a decisão da Prisa de concentrar a sua produção audio-visual em Portugal-produção que terá como destino mercados na Europa, America-latina e Africa) veremos em Portugal este sector a representar uma forte industria de exportação, tal como representa no Brazil, e a trazer atrás de si um forte incremento de outras areas como, por exemplo, a do software.

Parece-me este um bom exemplo de como a economia é dinâmica (se a deixarem) e auto-reciclavel, gerando novas industrias bem sucedidas com potencial para atingirem um peso na economia suficiente para só por si serem um motor.

Cumprimentos,
RCF.
 
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Os desafios 2009 segundo 12 personalidades da vida económica

por Açor3 » 2/1/2009 11:40

Manter o emprego e resistir à crise são preocupações centrais
Os desafios de 2009 segundo 12 personalidades da vida económica
02.01.2009 - 08h57
António Carrapato

A manutenção do emprego e a resistência à crise são duas das tarefas prioritárias deste ano
A maioria das doze personalidades contactadas pelo PÚBLICO escolheu a falta de emprego. Mas não só. A crise internacional, a queda das exportações e a falta de crédito são outros três grandes temas que marcarão o ano.

António Borges, economista, presidente (não executivo) do Hedge Fund Standards Board, vice-presidente do PSD

Um ano perigoso

"O ano de 2009 anuncia-se como muito difícil para a economia mundial e particularmente perigoso para o nosso País. A crise financeira internacional, que se reflecte hoje em dificuldades acrescidas no recurso ao financiamento, poderá traduzir-se numa situação muito grave de ruptura para Portugal, se o País se vier a defrontar com uma incapacidade séria de financiar a economia. Dada a situação de deficit estrutural em que nos encontramos, essas dificuldades podem ter consequências verdadeiramente catastróficas para muitas empresas portuguesas.

Portugal tem desde há muitos anos um deficit externo que se tem vindo a agravar de ano para ano. Esse deficit resulta de um excesso de despesa interna em comparação com o que produzimos. Dir-se-ia que a despesa deveria estimular a produção e permitir um aumento do "output" e do emprego. Na realidade a capacidade de resposta da nossa economia está muito limitada pelo problema da competitividade. As dificuldades de muitas empresas no confronto com as suas concorrentes externas resultam de uma evolução muito negativa dos custos de produção, de um comportamento muito desfavorável da produtividade, de uma impossibilidade de evoluir para produtos e serviços de maior valor acrescentado, de um baixo nível de investimento verdadeiramente produtivo. Perante uma concorrência externa cada vez mais agressiva, Portugal tem vindo a perder posição nos mercados internacionais, o que se reflecte num deficit externo de características estruturais. Temos conseguido manter alguma capacidade de resistir a estas condições tão desfavoráveis recorrendo a um nível elevado de financiamento externo, o qual nos permite manter uma despesa muito acima do que seria normalmente o caso. Essa despesa ajuda os sectores protegidos da concorrência externa, mas não resolve, antes agrava o problema fundamental do País.

A crise internacional vem agora pôr a nu a fragilidade estrutural da economia e criar condições muito mais onerosas - para não dizer inviáveis - no que respeita à sustentabilidade da nossa situação. Por um lado, a recessão internacional torna as condições de concorrência ainda mais duras e efectivamente fecha muitos dos nossos mercados de exportação. Por outro lado, o recurso ao financiamento externo, essencialmente através do crédito à banca portuguesa e ao Estado, está muito mais difícil - mais caro, com o risco de se tornar inexistente.

O que é ainda mais preocupante nesta situação é a continuação de uma política económica que a agrava e que, eventualmente, tornará o problema irreversível. Quando seria necessário estimular a poupança, para se recuperar alguma capacidade de recapitalização das empresas, o Governo empenha-se em estimular a despesa e, em especial, o consumo privado. Quando seria necessário ajudar as empresas a recuperar competitividade, reduzindo custos e canalizando todo o investimento para ganhos de eficiência, o Governo gasta o dinheiro que não temos em obras de fachada que agravam a perda de competitividade. Quando se observam condições muito difíceis de acesso ao crédito, o Governo mobiliza todos os recursos para encobrir situações de falência total, para concretizar projectos que endividam ainda mais o País, para reforçar o controlo que tem sobre as empresas e a economia. Pretende-se com isso manter artificialmente o que já é manifestamente insustentável. Um dia será preciso pagar o preço de toda esta obstinação sem paralelo em nenhum País sensato e equilibrado.

Esse preço pode ter de ser pago já em 2009. A falência generalizada de um número crescente de empresas, o aumento em flecha do desemprego, a ausência de crédito para empresas realmente produtivas, o agravamento inevitável das contas públicas, a deterioração dramática da repartição de rendimentos, são consequências incontornáveis de um percurso cuja insensatez hoje já não deixa margem para dúvidas. E não há propaganda ou engenharia contabilística que permitam esconder esta realidade por muito mais tempo.

Muito provavelmente, 2009 será o ano em que o Engenheiro José Sócrates e os seus ministros se verão definitivamente confrontados com os resultados do que andaram a semear ao longo de todos estes anos".

António Carrapatoso, presidente da Vodafone Portugal

"Enquanto tivermos esta sociedade, continuaremos a empobrecer"

"A crise internacional de liquidez, a redução da procura externa e a menor confiança dos consumidores e investidores no futuro, afectarão severamente a nossa economia em 2009. Mas, o mais importante em 2009 será encontrarmos novos rumos para o futuro que nos permitam entrar num novo ciclo de crescimento significativo e sustentado. Nesse aspecto 2009 poderá ser um bom ano.

As políticas económicas decorrem de visões filosóficas e políticas sobre a sociedade, que estarão em debate em 2009 - ano de eleições europeias, autárquicas e legislativas. Dificilmente poderão existir políticas económicas acertadas e bem sucedidas, se elas não resultarem de uma visão consistente sobre o modo como se entende que a sociedade deve funcionar e ser organizada.

Portugal soma à actual crise internacional uma crise interna que há muito perdura. Esta assenta numa sociedade rígida pouco aberta, pouco transparente e pouco flexível, que vai perdendo competitividade relativa. Num Estado cada vez mais abrangente e interventor mas que falha nas suas atribuições fundamentais. Um Estado que permite uma elevada promiscuidade entre os poderes políticos e económicos e outros interesses corporativos, e que não promove os incentivos motivadores dos comportamentos mais adequados dos cidadãos e instituições.

Enquanto tivermos esta sociedade, continuaremos a empobrecer relativamente aos outros países, teremos maiores dificuldades em sair das crises internacionais e só o faremos mais tarde e com menor vitalidade.

Esforços desenvolvidos nos últimos tempos, nomeadamente na segurança social, educação e saúde, são meritórios - mas continuam a revelar uma natureza essencialmente pontual e de racionalização ou de contenção de custos, não se traduzindo em alterações estruturais integradas e significativas que de facto venham a alterar as coisas no futuro.

No ano de 2009 enfrentaremos problemas concretos de falta de crédito disponível, menor investimento privado e maior desemprego. Para além das medidas já tomadas a nível do Estado para facilitar a reposição do normal funcionamento dos mercados financeiros, outras ainda poderão ser tomadas para mitigar o sofrimento dos mais desfavorecidos, nomeadamente se o actual sistema de protecção social não for capaz de dar, por si só, uma resposta capaz e eficaz, como seria desejável. Mas não nos devemos iludir, acreditando que tudo se resolverá com um aumento substancial do investimento público em 2009 ou forçando o investimento privado. Ou os investimentos têm por detrás uma racionalidade económica e, então, em grande medida já deveriam estar a ser feitos, ou a sua concretização só irá agravar os nossos problemas no futuro. Claro que este é um terreno apetecível para muitos políticos. Quererão aparecer como salvadores da nossa sociedade, ao mesmo tempo que nela aumentam a sua capacidade de influência e controle, através de um reforço aparentemente justificado da intervenção de um Estado cujos activos gostam de manipular, nem sempre visando o interesse público mas antes os seus próprios objectivos político-partidários.

Em resumo: o nosso problema não é 2009. É de, até agora, não termos sido capazes de abraçar um verdadeiro projecto de transformação da nossa sociedade que nos permita criar mais qualidade de vida para os nossos cidadãos e construir um País de oportunidades para todos e não apenas para alguns..."

António Pires de Lima, presidente da Unicer

Simplesmente, resistir

"O grande desafio que se coloca às empresas portuguesas e à nossa economia em geral em 2009 é, na minha opinião, simples de enunciar: RESISTIR. Num cenário de depressão profunda nos EUA e na Europa os nossos principais mercados exportadores estão obviamente afectados: Espanha, Alemanha, EUA, Reino Unido conhecem já o sabor amargo da recessão. O mercado interno vive deprimido há anos e é de uma exiguidade tal que não permite alimentar ilusões; só sobreviverão a esta crise empresas de balanço sólido, com estruturas de custos racionalizadas e com uma gestão focada em assegurar o "cash" necessário a financiar a gestão corrente das suas operações. O desemprego é uma ameaça forte que pode multiplicar o efeito negativo no consumo. A economia portuguesa tem, nesta receita, vantagens competitivas. Há dez anos que vivemos em estagnação. Os empresários, gestores e trabalhadores portugueses estão, regra geral, habituados a sofrer aguentando as suas empresas nas circunstâncias mais adversas. Quantas empresas espanholas poderão dizer o mesmo? Creio que a economia portuguesa estará mais preparada para enfrentar a adversidade do que a generalidade das economias europeias que connosco concorrem. Tempos de dificuldades não são novidade para nós, portugueses. Mas para além das dificuldades estes tempos que se avizinham podem ser, também, tempos de oportunidades. Para as empresas que resistirem fortes oportunidades surgirão da fragilidade de muitas outras empresas, incapazes de assegurarem a sua sobrevivência nestes momentos difíceis. Este é um tempo de pouca liquidez, é certo. Mas quem tenha balanços sólidos e uma gestão orientada para o "cash" poderá agarrar oportunidades de aquisição a preços impensáveis há dois anos atrás. Há mais vida para além da crise."

Daniel Bessa, economista, ex-ministro da Economia

Combater desemprego sem enorme gasto público

"Um desafio é uma coisa muito exigente. Não é uma lista de ameaças. Não é uma lista de queixas. Não é um voto, piedoso, insensato ou fora da realidade. É um jogo, um campo de batalha (no caso, durante 365 dias), onde se entra com um objectivo difícil mais exequível, mas onde também se pode perder.

Desafio, da Economia Portuguesa (não do Estado Português, mas de todos nós), será chegar ao fim de 2009 sem um agravamento sensível da taxa de desemprego e sem que esse resultado seja conseguido à custa de um aumento desenfreado do gasto público, seja através do Estado seja através dos seus múltiplos braços e instrumentos, formais (transparentes) ou informais (menos transparentes). Depende, como disse, de todos nós; será (para mim, e no que depender de mim) um grande objectivo, bem difícil de realizar."

Fernando Ulrich, presidente do BPI

Não um, mas dois desafios

"Há dois grandes desafios. Um deles é a criação de emprego, que é o mais importante e o mais difícil, no actual quadro de crise. Depois, em segundo lugar há que conseguir o financiamento em condições adequadas da economia portuguesa, dado o défice da balança de transacções correntes e a necessidade de financiar o serviço da divida emitido no passado".

Fernando Ribeiro Mendes, professor do ISEG e ex-secretário de Estado da Segurança Social

Emprego e desemprego em tempo de crise

"O principal desafio da economia portuguesa em 2009 gira em torno da questão do emprego, porque esse tema e, sobretudo, o do desemprego, terão desenvolvimentos muito gravosos no próximo ano. Em consequência, vão estar no centro das preocupações dos cidadãos eleitores, no ciclo político que se iniciará brevemente.

As dimensões do desafio são múltiplas. Emprego e desemprego, em tempos de crise recessiva, que já não adianta exorcizar, vão pôr à prova quer a eficácia das políticas públicas, quer o engenho empreendedor dos actores económicos e sociais.

Em primeiro lugar, os limites do modelo exportador globalizado em que o país se fixou nos últimos anos vão ficar mais em evidência. As dificuldades estão a surgir nos segmentos empresariais em que o "upgrading" tecnológico e produtivo e a subida na cadeia de valor são mais consistentes, face à recessão global e ao maior proteccionismo das economias de destino das nossas exportações.

Depois, a controvérsia sobre os mega-investimentos públicos vai intensificar-se com as maiores restrições ao seu financiamento. A consolidação orçamental continuará a limitar o recurso ao financiamento público tradicional dos investimentos públicos pelos impostos, actuais ou antecipados pela dívida pública. As fórmulas de financiamento privado, que diferem os encargos públicos para as gerações futuras sob diversas modalidades de parceria público-privada, são a primeira vítima da crise internacional do crédito e dos elevadíssimos "spreads" que implicam. Neste contexto, o clamor pela reapreciação das opções actuais de investimento público aumentará e serão mais desejados os projectos de menor dimensão mas com incidência local mais visível no emprego.

Também as políticas sociais dos últimos anos, centradas prioritariamente na selectividade dos apoios concedidos e no incentivo ao emprego e à reinserção profissional de certos grupos-alvo, estarão sujeitas mais claramente à prova dos factos. Reduzir taxas contributivas e conceder outros apoios de forma muito selectiva, e mediante comprovação burocrática do cumprimento dos objectivos das políticas activas de emprego, convive mal com um problema de desemprego de larga escala.

Finalmente, os sistemas educativo e de formação profissional vão ser ainda mais criticamente julgados quanto aos reais sucessos e insucessos de adequação das habilitações e qualificações oferecidas relativamente às necessidades da actividade empresarial em mudança."

Francisco Murteira Nabo, bastonário da Ordem dos Economistas

Recuperar a confiança

"Nenhum país, por si só, tem meios para enfrentar com êxito esta primeira crise global, com consequências ainda difíceis de avaliar. Pode dizer-se que o tal "efeito dominó" de que falavam alguns teóricos da "globalização" se está a cumprir nestes dias.

Aliás, os últimos acontecimentos, nomeadamente o recente "escândalo Madoff", indiciam uma "nebulosidade" que faz temer o pior - e o pior é o desenvolvimento descontrolado da situação, o pior é, sobretudo, a persistência da desconfiança em relação ao sistema financeiro global.

As medidas clássicas, particularmente as de política monetária adoptadas pelos bancos centrais, não produzem efeitos: os mercados não reagem às constantes (e necessárias) reduções das taxas de juro. Os analistas recusam previsões, os agentes económicos continuam desalentados, o investimento mantém-se estagnado, enfim, a depressão/recessão é mais do que uma ameaça. Aqui como lá fora; em Portugal como no resto da Europa, nos EUA, enfim, no mundo inteiro.

Nesta perspectiva, para além da continuação das medidas de política monetária (as quais, embora insuficientes, não deixam de ser imprescindíveis), importa acelerar outras, nomeadamente, as que podem produzir efeitos a nível do emprego. E, importante, a manutenção do apoio às instituições financeiras - uma questão não raro tratada entre nós com simplismo e, mesmo, alguma demagogia.

Em Portugal, é preciso reconhecer, têm sido tomadas as medidas geralmente consideradas adequadas, sendo de realçar o plano aprovado em 14 de Dezembro, centrado precisamente no emprego. Mas outras poderão/deverão ser accionadas visando conseguir pôr a economia real a funcionar, ultrapassando os constrangimentos da falta de liquidez na economia, evitando a deflação.

Enfim, quer a nível mundial com as iniciativas do G20, quer a nível da União Europeia com o plano de recuperação económica envolvendo 200 mil milhões de euros, quer a nível de cada um dos países, regista-se um esforço notável visando o combate eficaz à primeira crise verdadeiramente global.

Espera-se que estas medidas não venham a ser "traídas" por novos escândalos, como o referido "caso Madoff". Espera-se que as previsões, a este propósito, do Nobel da Economia, Paul Krugman, não se confirmem... Porque só quando os agentes económicos e os consumidores acreditarem na solidez das instituições financeiras, na transparência dos mercados, a confiança será recuperada. Nessa altura, e só nessa altura, a crise será superada. A portuguesa e a mundial - ambas indissociavelmente ligadas".

Henrique Neto, presidente da Iberomoldes

O principal é sobreviver

"Para a generalidade dos empresários, o principal desafio é sobreviver. Para o conseguir, terão de reduzir custos e tentar vender. Estas são as duas prioridades das empresas no próximo ano para conseguirem sobreviver.

A crise internacional tornou a situação dramática, as empresas sofrem com os cancelamentos de encomendas e enfrentam dois grandes problemas: o financiamento à tesouraria e a redução do número de pessoas. Com a falta de encomendas que afecta a maior parte da indústria nacional, há empregados a mais.

Estou certo que o próximo ano vai trazer despedimentos e encerramentos de empresas. A grande característica deste tempo que estamos a viver é uma grande incerteza, existente em todos os sectores e que não vai passar tão rapidamente quanto seria desejável. Basta olhar para sector automóvel, onde as empresas estão sem trabalho quase nenhum e os níveis de encomenda são muitos baixos.

Neste caso em concreto, seria claramente necessária uma maior incorporação nacional na Autoeuropa. A indústria automóvel nacional teria menos problemas se comprasse mais peças em Portugal. No caso da Autoeuropa, por exemplo, a incorporação nacional passou de 50 por cento (com o Volkswagen Sharan) para apenas cinco por cento (com o Eos e o Scirocco).

No caso do sector exportador, que abrange a maior parte da nossa indústria, o que falta é financiamento. As empresas estão com problemas de tesouraria e o alongamento dos prazos de pagamento só agrava a situação. Deveria haver linhas de crédito à exportação por encomendas firmes. Seria uma forma de crédito de pouco risco para os bancos e criaria um apoio a tesouraria das empresas".

Miguel Athayde Marques, presidente da Euronext Lisboa

Não deixar as empresas enfraquecer e serem alvos fáceis

"O aprofundar da crise que se prevê para 2009 levará ao enfraquecimento das empresas, o que se reflectirá nos seus resultados e no seu valor. A desvalorização em Bolsa é já hoje uma realidade. Há quem diga mesmo que a quebra de valor já verificada é muitíssimo exagerada.

As maiores empresas portuguesas, em grande parte cotadas em Bolsa, dão um contributo fundamental para a criação de valor acrescentado nacional, contribuem significativamente para o PIB português, criam e mantêm empregos de alto valor, desenvolvem tecno-estruturas, fomentam capacidades de gestão, estimulam tecnologias e inovação, mantêm redes locais de fornecimento, incrementam exportações, repatriam (para Portugal) resultados obtidos nas áreas do mundo onde actuam, pagam aqui em Portugal os impostos que traduzem os resultados da sua dimensão multinacional.

Estas empresas são apetecíveis para os grandes líderes sectoriais a nível global. São empresas bem implantadas no mercado português mas com uma interessante carteira de negócios mundial. São exemplos a EDP, a PT, o BCP, a Brisa, a Cimpor a Galp, entre outras.

O grande desafio para 2009 reside em não deixar estas empresas (a espinha dorsal da economia portuguesa) enfraquecer ao ponto de elas se tornarem alvos fáceis de predadores na nova vaga de fusões e aquisições que se avizinha, talvez para finais de 2009 e provavelmente em 2010.

Pelo contrário, estas empresas deverão nessa altura apresentar-se fortes e capazes de crescerem, elas próprias, por aquisição. Dessa maneira, consolidarão os centros de decisão em Portugal, criadores essenciais de valor, e reforçarão a economia portuguesa".

Pedro Almeida Gonçalves, presidente da Soares da Costa

Criação de emprego

"Criar emprego de forma sustentada e duradoura deverá ser a preocupação prioritária e o desafio mais significativo que se colocará em 2009 aos agentes económicos. Gerar postos de trabalho, não de uma forma artificial ou subsidiada, mas correspondendo ao nascimento de novas actividades ou ao desenvolvimento das já existentes, pressupõe lançar as bases de uma efectiva recuperação da economia.

Fazê-lo num contexto global adverso, com evidentes sinais de contracção nas economias com as quais Portugal tem maior interdependência e sem o suporte do sector financeiro (ou até com dificuldades acrescidas resultantes da crise que neste ainda subsiste) revela-se uma tarefa no limiar do impossível.

Emprego sustentado e estável só aparece com investimento - público ou privado, com origem nacional ou externa. E se é verdade que, a prazo, caberá aos agentes privados serem os principais actores dessa dinâmica de investimento, tenho por seguro que nas condições concretas actuais se torna incontornável um papel actuante do Estado.

Com efeito, dificilmente existirá futuro se não forem ultrapassadas - numa lógica de desenvolvimento e não de pura sobrevivência - as dificuldades do presente; é nesse quadro que a actuação pública pode e deve não só criar factores positivos imediatos, como igualmente aproveitar para melhorar a rede de equipamentos públicos (de mobilidade, energéticos, educativos, científicos) e, sobretudo, transmitir ao sector privado sinais inequívocos de confiança e determinação, que induzam por sua vez decisões de investimento.

A criação de emprego requer igualmente uma nova forma de olhar e julgar o comportamento e o desempenho das empresas, menos superficial e obcecada por resultados imediatos, e mais atenta aos fundamentais do negócio, às decisões com potencial de retorno a prazo, à solidez dos indicadores operacionais, à gestão sustentável capaz de compatibilizar a maximização económica, com preocupações sociais e ambientais.

Requer-se dos empresários - com a indispensável compreensão e aceitação dos distintos "stakeholders" - uma perspectiva de desenvolvimento de médio prazo, apostando na qualificação dos recursos (particularmente os humanos), na busca de novos mercados e na pesquisa de novos produtos e serviços com mais valor acrescentado.

A determinação com que em 2009 se encare o desafio Emprego e o sucesso do que nesse sentido se vier a concretizar, marcará toda a diferença quando, daqui a um ano, nos prepararmos para olhar 2010."

Rogério Carapuça, presidente Novabase

Resistir à crise internacional

"O principal desafio da economia portuguesa em 2009 será resistir aos efeitos da crise financeira internacional. Os efeitos desta crise estão agora a chegar à economia e constituem desafios especialmente difíceis para as empresas portuguesas. A maior parte das nossas empresas são PME com estruturas financeiras débeis. Ora, o crédito está a tornar-se mais caro e escasso e o nível de risco de muitas destas empresas é elevado, pelo que muitas delas terão pela frente um ano difícil. Acresce ainda a grande dependência externa da nossa economia, sobretudo de países onde a recessão é já uma realidade. O pessimismo está instalado e o consumo privado em retracção. Más notícias para a economia portuguesa, na qual o grande desafio de fundo - o da produtividade - está ainda por atacar. Este cenário é um teste à capacidade de sobrevivência das empresas, à flexibilidade e imaginação dos empresários e à sua capacidade de inovar. Mas esta batalha só pode ser ganha pelas empresas. Os governos vão procurar criar cenários mais favoráveis à recuperação, mas nada substitui o papel das empresas. E como sempre aconteceu, esta crise também passará, e os que lhe resistirem melhor, sairão desse processo muito mais fortes e mais competitivos. Algumas lições terão que ser tiradas. Muitas empresas não têm claro qual o seu código de valores empresariais por que se devem pautar: o que aceitam e o que não aceitam fazer. Muitas delas não têm um modelo de governo claro e transparente, que parta daqueles valores e garanta a sua aplicação. Muitas usaram as falhas de regulação, supervisão e fiscalização e, desprovidas dos mecanismos anteriormente referidos, ultrapassaram fronteiras impensáveis. Esta crise nasceu essencialmente disso. Falta de valores por parte de muitos empresários/empresas, falha de fiscalização/supervisão.

Esta crise também mostra a importância do papel dos Estados. Em tempo de bonança, garantindo os mecanismos de fiscalização, regulação e supervisão, baixando os custos de contexto para tornar a economia mais produtiva e formando as gerações futuras. Nos tempos difíceis, incentivando, apoiando e dando o exemplo de iniciativa e flexibilidade. Quer se queira quer não, os Estados e os governos dão sempre o exemplo. Se foram exigentes, as empresas e os cidadãos serão mais fortes. Se forem justos, a sociedade será mais justa, se forem prudentes, a sociedade mais confiante."

Vítor Bento, presidente da SIBS

Equilibrar curto e longo prazo

"Conseguir responder à crise internacional, sem agravar demasiado os desequilíbrios da crise interna que continuará connosco depois de aquela ser resolvida". Dito de outra forma: resolver as necessidades de curto prazo, sem sacrificar as de longo prazo."

Depoimentos recolhidos por Ana Brito, Ana Rita Faria, Ana Rute Silva, Cristina Ferreira, Luís Villalobos, Sérgio Aníbal e Vítor Costa, para o Suplemento de Economia de hoje
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