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Caldeirão da Bolsa

Que horas são no relógio dos investimentos?

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por ruicarlov » 22/1/2013 15:42

Há uns meses atrás fui assitir a uma conferência promovida pela APEFI, altertando para o possível curso da economia nos próximos 20 anos.
Foi aí que aprendi as teoria dos ciclos económicos, que eles puseram de outra forma: Primavera, Verão, Outono e Inverno, estando nós no Inverno (Reflação).
O pior é que segundo as previsões dele o Inverno ainda não acabou, havendo bastantes indícios de as coisas piorarem, atingindo talvez o seu climax por volta de 2015.
A recuperação só será para depois, e à custa do "fim do império americano" como maior potência mundial, emergindo talvez a China como a maior economia.
E estão longe de ser os únicos a falar do fim deste domínio americano.
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Re: Que horas são no relógio dos investimentos?

por monterrey » 21/1/2013 18:27

nnfranco Escreveu:Todos os dias temos sido confrontados com notícias sobre a inevitabilidade de uma recessão económica e com as quebras nos mercados accionistas.

Os tempos em que a economia global crescia a um ritmo sem precedentes, com baixa inflação e taxas de juro moderadas parecem agora longínquos, mas essa era a realidade até ao início de 2007.

A verdade é que, tal como as estações do ano se sucedem em ciclos de 1 ano (umas mais frias, outras mais quentes), tal como as fases do dia se sucedem em ciclos de 24 horas (umas com maior claridade, outras com mais escuridão), a economia não evolui em linha recta, mas sim com oscilações mais ou menos pronunciadas, alternando entre cenários “quentes e luminosos” e conjunturas “frias e escuras”.

Há muito que os economistas procuraram explicar e sistematizar estas oscilações. Conheceremos esta semana algumas destas teorias e analisaremos em que medida os investidores poderão adaptar a sua carteira a cada fase do ciclo económico.

A teoria dos ciclos económicos

Os ciclos económicos referem-se à verificação de “altos e baixos” nas principais variáveis económicas (produção, emprego, consumo, investimento, inflação, taxas de juro), os quais se tendem a repetir com intervalos de tempo relativamente regulares. Períodos de rápido crescimento alternam com períodos de estagnação ou declínio. Empresários, trabalhadores, consumidores e governantes tendem a ajustar as suas decisões às várias fases do ciclo.

Os primeiros estudos sobre os ciclos económicos enfocaram-se em séries de preços e taxas de juro. Considera-se que o primeiro economista a identificar estes padrões, de forma quantitativa, foi Lord Overstone em 1857.

Desde então, muitos economistas teorizaram sobre a existência de diversos tipos de ciclo, sendo de longe as contribuições mais importantes as de Juglar, Kitchin, Kondratieff e Kuznets:
• Em 1862, o economista francês Clement Juglar identificou ciclos de 7 a 11 anos, divididos em 4 períodos: prosperidade, crise, liquidação e recessão. A sua evolução está relacionada com os níveis de investimento, produtividade e confiança dos agentes económicos;
• Em 1923, o britânico Joseph Kitchin publicou a sua descoberta de ciclos de 40 meses, relacionados com o nível de aprovisionamento de mercadorias;
• Em 1925, o mais citado autor neste domínio, o economista russo Nikolai Kondratieff apresentou a sua teoria de ciclos de longo prazo (45 a 60 anos), baseados em alterações estruturais no paradigma industrial e tecnológico;
• Em 1930, o norte-americano Simon Kuznets identificou ciclos de preços no mercado imobiliário, resultantes da evolução do investimento em infraestruturas e de factores demográficos.

Como se explica a existência de ciclos económicos?

Existem explicações muito diversas, mas apresentamos de seguida as mais importantes:

1. Inovação

Schumpeter acreditava que as várias fases dos ciclos económicos resultavam principalmente da postura dos empresários face a 5 tipos de inovação: novos produtos, novos métodos de produção, novos mercados, novas fontes de matérias-primas e novas formas de organização empresarial. Ficou célebre a sua expressão “criação destrutiva”, a qual descreve o processo de nascimento de novas indústrias e o declínio das antigas. A fase descendente do ciclo estaria relacionada com o processo de imitação das inovações bem sucedidas, dando origem a excessos de produção.

De acordo com o paradigma Schumpeter-Freeman-Perez, assistimos até agora a 5 ondas longas desde a Revolução Industrial:
• 1771: Revolução Industrial
• 1829: Era do Vapor e dos Caminhos-de-Ferro
• 1875: Era do Aço, da Electricidade e da Engenharia Pesada
• 1908: Era do Petróleo, do Automóvel e da Produção em Massa
• 1971: Era da Informação e das Telecomunicações

2. Margens de lucro

A escola marxista, nomeadamente o economista judeu-alemão Ernst Mandel, defende que os ciclos são períodos históricos de acumulação de capital relacionados com mudanças significativas na margem de lucro das empresas.

3. Crédito

O papel do crédito e da especulação nos ciclos económicos foi explorado por economistas como Irving Fisher e Hyman Minsky. O ciclo ascendente inicia-se com um aumento da procura de bens produtivos (que resulta da redução de taxas de juro ou de estímulos orçamentais), o que conduz a um aumento do investimento e do crédito. À medida que aumenta o preço dos activos que servem de garantia a esses créditos, os credores utilizam critérios menos exigentes, aumentando o investimento especulativo. Invariavelmente, a rendibilidade do investimento fica abaixo das expectativas (devido ao aumento de taxas de juro ou ao excesso de produção face à procura). Os activos que serviam de garantia ao crédito começam a desvalorizar, iniciando-se uma fase de contracção de crédito, em que os credores começam a assumir perdas por créditos incobráveis. Os activos são vendidos a preços de “saldo” e aumenta o número de falências. A actividade creditícia fica bloqueada. Mesmo as empresas com negócios sólidos não conseguem obter crédito. Toda a actividade económica decresce de forma significativa. As autoridades têm que estimular a economia por via da redução de taxas de juro e de impostos, ou do aumento da despesa pública, reiniciando-se o ciclo ascendente.

Implicações para os investidores

As ondas longas de 45 a 60 anos não são muito úteis como base para decisões de investimento, por serem muito difíceis de prever e apresentarem grande irregularidade na sua duração e intensidade. Como afirmou o economista britânico John Maynard Keynes em 1923: «O longo prazo é um guia enganador para os assuntos correntes. No longo prazo, estaremos todos mortos».

Já nos ciclos mais curtos, como os de Juglar (7 a 11 anos), tendem a ser formados padrões de comportamento por parte das principais classes de activos e sectores de actividade, os quais têm desempenhos históricos que se tendem a adequar melhor a determinadas fases do ciclo económico, pelo menos em condições normais de funcionamento dos mercados.

O relógio dos investimentos

Um exemplo bem sucedido de aplicação de ciclos económicos a decisões de investimento é o do Relógio de Investimentos, desenvolvido pela equipa liderada por Trevor Greetham, responsável pela alocação de activos na Sociedade Gestora Fidelity International, e baseado na análise de séries nos últimos 33 anos.

Neste modelo, o ciclo económico é dividido em 4 períodos diferentes, em função dos níveis de inflação e crescimento económico verificados:

• Reflação: fase caracterizada pelo abrandamento económico e quebra da inflação, acompanhados de cortes agressivos das taxas de juro. Neste período, as obrigações tendem a ter um bom desempenho, uma vez que o seu preço tende a subir quando as taxas de juro descem;

• Recuperação: inicia-se quando os custos de financiamento mais baixos estimulam o crédito e o crescimento económico. Os lucros das empresas sobem, mas o excesso de capacidade na economia mantém a inflação sob controlo. Esta é a melhor fase para as acções;

• Sobreaquecimento: o significativo crescimento económico começa a criar desequilíbrios, devido à forte subida do preço dos activos e à subida da inflação, o que leva as autoridades a subirem as taxas de juro. Nesta fase, as matérias-primas tendem a ser um bom investimento;

• Estagflação: a economia começa a contrair, mas a inflação continua elevada. Nesta fase, que terá caracterizado os primeiros 10 meses de 2008, deverá ser aumentada a componente de liquidez na carteira, como activo de refúgio.


Fonte: Fidelity International
Que “horas” são no relógio dos investimentos?

A drástica redução nas expectativas sobre a inflação futura nos últimos 2 meses, levou Greetham a mover este mês os “ponteiros do relógio” para uma situação de Reflação, a qual é tradicionalmente acompanhada por cortes agressivos das taxas de juro.

Teoricamente, a classe de activos que mais beneficia neste cenário é o das obrigações do governo. Sendo as suas taxas fixas a longo prazo, a sua atractividade aumenta neste período, o que faz aumentar a sua procura e os seus preços.

Note-se que nem todas as economias estão na mesma fase do ciclo de redução de taxas de juro. Nos EUA, a fase expansionista da política monetária iniciou-se em Setembro de 2007, tendo a taxa de referência da Reserva Federal (Fed) sido reduzida de 5,25% para 1%, limitando o potencial de futuras descidas. Já na Zona Euro, este ciclo começou apenas em Outubro deste ano, com uma redução de 4,25% para 3,25%, existindo ainda ampla margem para novos cortes.

Também no mercado accionista, existem sectores que podem beneficiar de forma mais directa da redução de taxas de juro. É o caso do sector financeiro e do sector de consumo cíclico, ou ainda do imobiliário, ainda que a recuperação possa não ser imediata.

A vantagem de diversificar

Os modelos baseados em ciclos económicos podem ser vistos como uma ferramenta para melhorar as decisões de investimento, mas devemos ter o cuidado de os utilizar no âmbito de uma estratégia diversificada. Ou seja, o objectivo não é “pôr os ovos todos no mesmo cesto” em cada fase do ciclo, mas antes aumentar a exposição às classes de activos que poderão registar melhor desempenho, e reduzir as classes que poderão ter pior desempenho em cada fase, no sentido de suavizar os “altos e baixos” do mercado.

Até porque nem sempre é fácil identificar em que fase estamos do ciclo, nem sequer é garantido que o mesmo evolua sempre no mesmo sentido. Uma eventual subida dos preços do petróleo poderia levar-nos de volta à Estagflação. Por outro lado, nem todos os ciclos de prosperidade ou declínio se devem às mesmas causas. A recessão de 2008 é muito diferente das anteriores, pelo que devemos considerar os dados históricos com o devido distanciamento.

Aliás, a existência de ciclos na economia não é consensual entre os académicos. Por exemplo, o economista britânico Angus Maddison** defende que as grandes fases do desenvolvimento capitalista resultam de choques sistémicos e de políticas governamentais, que nada têm a ver com movimentos regulares em formato de onda.

Em conclusão ...

Tal como a nossa vida, a economia e os mercados não evoluem sempre no mesmo sentido, ao mesmo ritmo. Fases boas e más tendem a suceder-se, em intervalos mais ou menos regulares. A tendência natural para encontrarmos uma ordem naquilo que muitas vezes parece aleatório, registando padrões médios de comportamento, levou a criação de teorias sobre os ciclos da economia.

A teoria dos ciclos económicos não está isenta de erros. As crises do passado não são exactamente iguais à actual. O mundo está em permanente mutação. Mas acompanhar a evolução das principais variáveis económicas, como base conceptual, pode ajudar-nos a aumentar o sucesso das nossas decisões de investimento.

O relógio dos investimentos atrás apresentado aponta actualmente para uma fase de Reflação, o que pode justificar ajustamentos às carteiras, reduzindo progressivamente a exposição a depósitos, à medida que as taxas de juro vão baixando, e aumentando a exposição a obrigações e mesmo a acções, de forma selectiva.

Quando poderá ter início a fase de Recuperação? É impossível prever com exactidão, mas terão que estar reunidas pelo menos duas condições: o aumento dos níveis de emprego e a subida dos preços do imobiliário, em particular nos EUA.

* Joseph Schumpeter – “Business Cycles: A Theoretical, Historical and Statistical Analysis of the Capitalist Process” (1939).
** Angus Maddison – “Phases of Capitalist Development” (1982)
ActivoBank7


Fui buscar este artigo ao fundo do meu báu...será que é esta a hora tão esperada???
Eu começo a crer que sim :lol: 8-) :lol: 8-)
 
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por jlncc » 7/12/2008 14:37

A questão é, quando for a altura certa, deveremos apostar no sector financeiro? Pensava que sim mas o clínico fez-me pensar!

Se os bancos tiverem que vender propriedades que confiscaram abaixo do preço por que foram avaliadas, então sim, poderão ter enormes prejuízos.

E concordo com ele, ainda não é a altura certa.
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reflação

por Clinico » 7/12/2008 11:39

No final de contas, o que todos queremos saber é que horas são. E o que não vi aqui comentado foi exactamente isso.

Se para a recuperação é preciso resolver o problema do desemprego, do imobiliário e da liquidez bancária, então a minha humilde opinião é que ainda é muito cedo! CEDÍSSIMO! São 6 da manha e ainda falto muito para a meia noite....

Vamos a meio da reflação. Só no mês passado os EUA "criaram" mais de meio milhão de desempregados. Vamos ver os próximos meses. Não sei de números europeus.
O imobiliário, dito subprime e não só, entra nesta cadeia e não se pode resolver enquanto as taxas de juro não baixarem mais nem os bancos começarem a emprestar de novo. Por enquanto os bancos vão continuar a fazer leilões de apartamentos a preços de motos.
E depois vem o problema da liquidez bancária e de outras empresas, já muito discutido aqui. Pede~se emprestado sem fim, fabrica-se dinheiro sem fim!

Ainda é cedo. Cá para mim, ainda é MUITO cedo...

Abraços
Clinico
 
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Perdas em Bolsa.

por rk0r794 » 7/12/2008 11:11

Segundo a empresa espanhola (Expansion) as perdas "Más de 300.000 millones de euros. Es la deuda que acumulan las empresas de la bolsa española y representa el 62% de la capitalización bursátil del Índice General de la Bolsa de Madrid. El 80% de este montante lo concentran las compañías del Ibex. Sólo entre inmobiliarias y constructoras suman más de 110.000 millones de deuda".

No PSI qual o valor e percentagem das perdas das cotadas em bolsa?
A situação da TD será a mesma do que as empresas espanholas que operam no mesmo sector.
 
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por Pata-Hari » 7/12/2008 11:06

Tenho que concordar com o flying. Nem aspas, nem quote, nem chamada de atenção para os donos do texto.
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por newtrade » 7/12/2008 1:33

Concordo cem por cento ,no fim da crise penso que sao os que mais vão recuperar ,foram dos que foram mais penalizados ,o subprime fez lhes muita mossa .E agora é como a lei da selva só os mais fortes sobrevivem
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por jlncc » 7/12/2008 1:01

ninguém concorda/discorda?
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por jlncc » 5/12/2008 12:35

Ao ler o texto fez-me pensar que o sector financeiro em Portugal tem um enorme potencial, por várias razoes:


- a recente crise tem penalizado muito a cotação dos bancos (historicamente esta penalizaçao costuma ser excessiva)

- a injecção de dinheiro nos bancos beneficiou muito os bancos e nao as empresas.

- os bancos são como a gilette, são serviços indispensáveis (já ninguem guarda o dinheiro debaixo do colchao)

- um futuro desenvolvimento da crise poderá levar à falência os bancos menos sólidos mas os com um indice de solvabilidade mais elevado deverão aguentar-se, indo até aumentar os seus lucros exponencialmente quando isto acabar.


Agradecia as vossas opiniões.

Cumprimentos,
João
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Re: Que horas são no relógio dos investimentos?

por excentrico » 21/11/2008 17:00

nnfranco Escreveu:O relógio dos investimentos atrás apresentado aponta actualmente para uma fase de Reflação, o que pode justificar ajustamentos às carteiras, reduzindo progressivamente a exposição a depósitos, à medida que as taxas de juro vão baixando, e aumentando a exposição a obrigações e mesmo a acções, de forma selectiva.

Quando poderá ter início a fase de Recuperação? É impossível prever com exactidão, mas terão que estar reunidas pelo menos duas condições: o aumento dos níveis de emprego e a subida dos preços do imobiliário, em particular nos EUA.


Excelente texto no geral.
Eu já fui muito pessimista sobre o panorama mundial e respectivos mercados, no entanto, apesar de acreditar que ainda faltam cair alguns pesos pesados, acho que os sinais de uma possível recuperação comecem a surgir durante o primeiro semestre de 2009 em parte causado pela baixa de juros e suas consequências.

É certo que já se perdeu muito dinheiro, mas existe liquidez e muitos estão a aguardar por sinais positivos do mercado para entrar, eu próprio estou 100% líquido e devo começar a fazer compras “moderadas” ainda este ano sem entrar em loucuras e muito selectivo.

Fiquem bem,
excentrico
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por Flying Turtle » 21/11/2008 13:52

Eu ontem tinha levantado também a questão da divulgação da fonte e depois chamaram-me a atenção para que ela de facto estava lá. Por isso pedi desculpa e solicitei que o meu post fosse apagado.

Permito-me no entanto notar que, não só neste caso, a divulgação da fonte não é feita de uma forma clara. Por exemplo, neste caso não existe qualquer indicação de que se trata de uma citação, nem sequer umas aspas, a fonte não é revelada como tal e, ainda por cima (ou por baixo), acaba por ficar "escondida" no restante texto. De tal forma que todos, ou quase, nem reparam na respectiva menção.

Eu considero que o respeito pelos autores é, para além dos aspectos legais aplicáveis, um acto de civilidade: Roubar um texto em versão electrónica é a coisa mais simples do mundo: Basta fazer "CTR/C - CTRL/V" e já está. Pois então, precisamente por ser tão fácil é que existe uma obrigação moral "adicional" de respeitar a propriedade alheia. Neste sentido, entendo que as citações devem estar claramente identificadas, não só indicando o autor e a obra (quando é o caso), mas ainda oferecendo sempre que possível o link ou outros meios para verificar a fonte citada.

E, convenhamos, aqui no Caldeirão é ainda uma minoria que observa tais preceitos.

FT
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por Conquistador » 21/11/2008 13:30

"Mea culpa" caro nnfranco.
A referência está no fim do texto...
:oops:
Cumprimentos,
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por Conquistador » 21/11/2008 13:29

Bom texto.
Não é um excerto da última newsletter do Activobank7?
É que excepção feita às recomendações de mercado feitas pelo banco, o texto é absolutamente igual :shock:
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por Capitão Nemo » 21/11/2008 0:23

Muito bom este artigo que merece um lugar de destaque no Caldeirão.

Os meus agradecimentos ao NNFranco.
Cumprimentos,

Cap. Nemo
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Re

por Cem pt » 20/11/2008 16:00

Interessantes as teorias dos ciclos de mercado segundo as quais tudo na vida está sujeito a swings de altos e baixos.
Os mercados não são excepção por reflectirem ou procurarem antecipar a existência dessas oscilações na Economia real.
No caso particular das ondas de Kondratiev, que segundo consta foi mandado para um gulag para ser fuzilado por ordens de Estaline por se ter recusado a prever a hegemonia do comunismo soviético sobre o capitalismo, existe um artigo muito recente na TASC, a maior revista mundial sobre Análise Técnica, onde pela sua teoria das ondas "k-waves" previa (apesar de ter morrido na primeira metade do século passado) que iria existir um período recessivo da Economia mundial entre 2007 a 2012!
Mero acaso?

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Que horas são no relógio dos investimentos?

por nnfranco » 20/11/2008 15:00

Todos os dias temos sido confrontados com notícias sobre a inevitabilidade de uma recessão económica e com as quebras nos mercados accionistas.

Os tempos em que a economia global crescia a um ritmo sem precedentes, com baixa inflação e taxas de juro moderadas parecem agora longínquos, mas essa era a realidade até ao início de 2007.

A verdade é que, tal como as estações do ano se sucedem em ciclos de 1 ano (umas mais frias, outras mais quentes), tal como as fases do dia se sucedem em ciclos de 24 horas (umas com maior claridade, outras com mais escuridão), a economia não evolui em linha recta, mas sim com oscilações mais ou menos pronunciadas, alternando entre cenários “quentes e luminosos” e conjunturas “frias e escuras”.

Há muito que os economistas procuraram explicar e sistematizar estas oscilações. Conheceremos esta semana algumas destas teorias e analisaremos em que medida os investidores poderão adaptar a sua carteira a cada fase do ciclo económico.

A teoria dos ciclos económicos

Os ciclos económicos referem-se à verificação de “altos e baixos” nas principais variáveis económicas (produção, emprego, consumo, investimento, inflação, taxas de juro), os quais se tendem a repetir com intervalos de tempo relativamente regulares. Períodos de rápido crescimento alternam com períodos de estagnação ou declínio. Empresários, trabalhadores, consumidores e governantes tendem a ajustar as suas decisões às várias fases do ciclo.

Os primeiros estudos sobre os ciclos económicos enfocaram-se em séries de preços e taxas de juro. Considera-se que o primeiro economista a identificar estes padrões, de forma quantitativa, foi Lord Overstone em 1857.

Desde então, muitos economistas teorizaram sobre a existência de diversos tipos de ciclo, sendo de longe as contribuições mais importantes as de Juglar, Kitchin, Kondratieff e Kuznets:
• Em 1862, o economista francês Clement Juglar identificou ciclos de 7 a 11 anos, divididos em 4 períodos: prosperidade, crise, liquidação e recessão. A sua evolução está relacionada com os níveis de investimento, produtividade e confiança dos agentes económicos;
• Em 1923, o britânico Joseph Kitchin publicou a sua descoberta de ciclos de 40 meses, relacionados com o nível de aprovisionamento de mercadorias;
• Em 1925, o mais citado autor neste domínio, o economista russo Nikolai Kondratieff apresentou a sua teoria de ciclos de longo prazo (45 a 60 anos), baseados em alterações estruturais no paradigma industrial e tecnológico;
• Em 1930, o norte-americano Simon Kuznets identificou ciclos de preços no mercado imobiliário, resultantes da evolução do investimento em infraestruturas e de factores demográficos.

Como se explica a existência de ciclos económicos?

Existem explicações muito diversas, mas apresentamos de seguida as mais importantes:

1. Inovação

Schumpeter acreditava que as várias fases dos ciclos económicos resultavam principalmente da postura dos empresários face a 5 tipos de inovação: novos produtos, novos métodos de produção, novos mercados, novas fontes de matérias-primas e novas formas de organização empresarial. Ficou célebre a sua expressão “criação destrutiva”, a qual descreve o processo de nascimento de novas indústrias e o declínio das antigas. A fase descendente do ciclo estaria relacionada com o processo de imitação das inovações bem sucedidas, dando origem a excessos de produção.

De acordo com o paradigma Schumpeter-Freeman-Perez, assistimos até agora a 5 ondas longas desde a Revolução Industrial:
• 1771: Revolução Industrial
• 1829: Era do Vapor e dos Caminhos-de-Ferro
• 1875: Era do Aço, da Electricidade e da Engenharia Pesada
• 1908: Era do Petróleo, do Automóvel e da Produção em Massa
• 1971: Era da Informação e das Telecomunicações

2. Margens de lucro

A escola marxista, nomeadamente o economista judeu-alemão Ernst Mandel, defende que os ciclos são períodos históricos de acumulação de capital relacionados com mudanças significativas na margem de lucro das empresas.

3. Crédito

O papel do crédito e da especulação nos ciclos económicos foi explorado por economistas como Irving Fisher e Hyman Minsky. O ciclo ascendente inicia-se com um aumento da procura de bens produtivos (que resulta da redução de taxas de juro ou de estímulos orçamentais), o que conduz a um aumento do investimento e do crédito. À medida que aumenta o preço dos activos que servem de garantia a esses créditos, os credores utilizam critérios menos exigentes, aumentando o investimento especulativo. Invariavelmente, a rendibilidade do investimento fica abaixo das expectativas (devido ao aumento de taxas de juro ou ao excesso de produção face à procura). Os activos que serviam de garantia ao crédito começam a desvalorizar, iniciando-se uma fase de contracção de crédito, em que os credores começam a assumir perdas por créditos incobráveis. Os activos são vendidos a preços de “saldo” e aumenta o número de falências. A actividade creditícia fica bloqueada. Mesmo as empresas com negócios sólidos não conseguem obter crédito. Toda a actividade económica decresce de forma significativa. As autoridades têm que estimular a economia por via da redução de taxas de juro e de impostos, ou do aumento da despesa pública, reiniciando-se o ciclo ascendente.

Implicações para os investidores

As ondas longas de 45 a 60 anos não são muito úteis como base para decisões de investimento, por serem muito difíceis de prever e apresentarem grande irregularidade na sua duração e intensidade. Como afirmou o economista britânico John Maynard Keynes em 1923: «O longo prazo é um guia enganador para os assuntos correntes. No longo prazo, estaremos todos mortos».

Já nos ciclos mais curtos, como os de Juglar (7 a 11 anos), tendem a ser formados padrões de comportamento por parte das principais classes de activos e sectores de actividade, os quais têm desempenhos históricos que se tendem a adequar melhor a determinadas fases do ciclo económico, pelo menos em condições normais de funcionamento dos mercados.

O relógio dos investimentos

Um exemplo bem sucedido de aplicação de ciclos económicos a decisões de investimento é o do Relógio de Investimentos, desenvolvido pela equipa liderada por Trevor Greetham, responsável pela alocação de activos na Sociedade Gestora Fidelity International, e baseado na análise de séries nos últimos 33 anos.

Neste modelo, o ciclo económico é dividido em 4 períodos diferentes, em função dos níveis de inflação e crescimento económico verificados:

• Reflação: fase caracterizada pelo abrandamento económico e quebra da inflação, acompanhados de cortes agressivos das taxas de juro. Neste período, as obrigações tendem a ter um bom desempenho, uma vez que o seu preço tende a subir quando as taxas de juro descem;

• Recuperação: inicia-se quando os custos de financiamento mais baixos estimulam o crédito e o crescimento económico. Os lucros das empresas sobem, mas o excesso de capacidade na economia mantém a inflação sob controlo. Esta é a melhor fase para as acções;

• Sobreaquecimento: o significativo crescimento económico começa a criar desequilíbrios, devido à forte subida do preço dos activos e à subida da inflação, o que leva as autoridades a subirem as taxas de juro. Nesta fase, as matérias-primas tendem a ser um bom investimento;

• Estagflação: a economia começa a contrair, mas a inflação continua elevada. Nesta fase, que terá caracterizado os primeiros 10 meses de 2008, deverá ser aumentada a componente de liquidez na carteira, como activo de refúgio.


Fonte: Fidelity International
Que “horas” são no relógio dos investimentos?

A drástica redução nas expectativas sobre a inflação futura nos últimos 2 meses, levou Greetham a mover este mês os “ponteiros do relógio” para uma situação de Reflação, a qual é tradicionalmente acompanhada por cortes agressivos das taxas de juro.

Teoricamente, a classe de activos que mais beneficia neste cenário é o das obrigações do governo. Sendo as suas taxas fixas a longo prazo, a sua atractividade aumenta neste período, o que faz aumentar a sua procura e os seus preços.

Note-se que nem todas as economias estão na mesma fase do ciclo de redução de taxas de juro. Nos EUA, a fase expansionista da política monetária iniciou-se em Setembro de 2007, tendo a taxa de referência da Reserva Federal (Fed) sido reduzida de 5,25% para 1%, limitando o potencial de futuras descidas. Já na Zona Euro, este ciclo começou apenas em Outubro deste ano, com uma redução de 4,25% para 3,25%, existindo ainda ampla margem para novos cortes.

Também no mercado accionista, existem sectores que podem beneficiar de forma mais directa da redução de taxas de juro. É o caso do sector financeiro e do sector de consumo cíclico, ou ainda do imobiliário, ainda que a recuperação possa não ser imediata.

A vantagem de diversificar

Os modelos baseados em ciclos económicos podem ser vistos como uma ferramenta para melhorar as decisões de investimento, mas devemos ter o cuidado de os utilizar no âmbito de uma estratégia diversificada. Ou seja, o objectivo não é “pôr os ovos todos no mesmo cesto” em cada fase do ciclo, mas antes aumentar a exposição às classes de activos que poderão registar melhor desempenho, e reduzir as classes que poderão ter pior desempenho em cada fase, no sentido de suavizar os “altos e baixos” do mercado.

Até porque nem sempre é fácil identificar em que fase estamos do ciclo, nem sequer é garantido que o mesmo evolua sempre no mesmo sentido. Uma eventual subida dos preços do petróleo poderia levar-nos de volta à Estagflação. Por outro lado, nem todos os ciclos de prosperidade ou declínio se devem às mesmas causas. A recessão de 2008 é muito diferente das anteriores, pelo que devemos considerar os dados históricos com o devido distanciamento.

Aliás, a existência de ciclos na economia não é consensual entre os académicos. Por exemplo, o economista britânico Angus Maddison** defende que as grandes fases do desenvolvimento capitalista resultam de choques sistémicos e de políticas governamentais, que nada têm a ver com movimentos regulares em formato de onda.

Em conclusão ...

Tal como a nossa vida, a economia e os mercados não evoluem sempre no mesmo sentido, ao mesmo ritmo. Fases boas e más tendem a suceder-se, em intervalos mais ou menos regulares. A tendência natural para encontrarmos uma ordem naquilo que muitas vezes parece aleatório, registando padrões médios de comportamento, levou a criação de teorias sobre os ciclos da economia.

A teoria dos ciclos económicos não está isenta de erros. As crises do passado não são exactamente iguais à actual. O mundo está em permanente mutação. Mas acompanhar a evolução das principais variáveis económicas, como base conceptual, pode ajudar-nos a aumentar o sucesso das nossas decisões de investimento.

O relógio dos investimentos atrás apresentado aponta actualmente para uma fase de Reflação, o que pode justificar ajustamentos às carteiras, reduzindo progressivamente a exposição a depósitos, à medida que as taxas de juro vão baixando, e aumentando a exposição a obrigações e mesmo a acções, de forma selectiva.

Quando poderá ter início a fase de Recuperação? É impossível prever com exactidão, mas terão que estar reunidas pelo menos duas condições: o aumento dos níveis de emprego e a subida dos preços do imobiliário, em particular nos EUA.

* Joseph Schumpeter – “Business Cycles: A Theoretical, Historical and Statistical Analysis of the Capitalist Process” (1939).
** Angus Maddison – “Phases of Capitalist Development” (1982)
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