Abrandamento global
1 Mensagem
|Página 1 de 1
Abrandamento global
Análise BPI 2008-10-15 10:13
Abrandamento global
Durante o último ano assistimos à deterioração aguda das condições nos mercados financeiros. Numa economia global, e assente em complexas ligações entre os vários mercados, a ausência de um sistema financeiro sólido trará inevitáveis retrocessos no crescimento da economia real. As previsões de crescimento do FMI para 2009 mostram-nos, assim, um forte abrandamento da economia mundial, em particular nas economias avançadas.
João Sousa, do Departamento de Estudos Económicos e Financeiros do BPI
A existência de um sistema bancário sólido e concorrencial permite um mais fácil acesso ao crédito por parte de famílias e empresas servindo assim de motor de crescimento das economias. Mais, uma vez que muitas famílias e empresas dependem do financiamento no desenvolvimento das suas actividades e que a disponibilidade de conceder crédito é superior (inferior) em períodos de maior (menor) crescimento económico, o sector bancário assume um papel pró-cíclico nas economias. Com o agudizar da crise financeira, a possibilidade da existência de um ciclo vicioso, em que os bancos ao restringir o crédito provocam o abrandamento da actividade, que por sua vez leva à deterioração da qualidade do crédito e consequente restrição nas condições de acesso ao financiamento, é elevada.
É neste contexto que o FMI apresenta as suas previsões de Outono para 2009. O crescimento mundial deverá desacelerar de 3.9%, em 2008, para 3%, em 2009, nível de crescimento considerado pelo próprio FMI recessivo no seu World Economic Outlook de Abril. As economias avançadas são aquelas que deverão sofrer um maior abrandamento. Com uma maior exposição à crise nos mercados financeiros devido à sua origem no mercado norte-americano e também pela maior sofisticação e interacção dos seus sistemas financeiros, os efeitos da crise sentir-se-ão de forma mais contundente nestas economias fruto da escassez de crédito que moderará o crescimento do consumo e do investimento. Por seu lado, o crescimento das economias emergentes irá abrandar embora continue a conduzir o crescimento global.
Assim, o FMI prevê uma desaceleração da economia norte-americana de 1.6%, em 2008, para 0.1%, em 2009, 0.7 décimas abaixo das previsões de Julho. O crescimento da economia norte-americana foi suportado no primeiro semestre pelo contributo da procura externa líquida e pelo consumo, fruto da desvalorização do dólar e dos cheques fiscais enviados às famílias. O esbater dos efeitos dos cheques fiscais e a inversão da tendência do dólar bem como o agudizar das condições de acesso ao crédito irão levar a uma forte desaceleração da economia nos próximos trimestres, não sendo excluída a hipótese de contracção. O início da recuperação do sector imobiliário, ainda que ténue, na segunda metade de 2009, deverá levar a uma recuperação moderada da economia.
Na zona euro, a desaceleração da actividade no segundo trimestre de 2008 levou à primeira contracção em cadeia do produto desde a sua constituição. Mais, nova contracção no terceiro trimestre não está excluída o que levaria a zona euro a entrar em recessão técnica. A queda do investimento motivada pelo acesso mais restrito ao crédito, pelo período de elevada incerteza e por uma esperada redução da procura, e a queda do consumo, determinada pela erosão do poder de compra em virtude da subida dos preços energéticos e alimentares, estão na origem desta quebra. O crescimento deverá situar-se em 1.3%, em 2008, e decair para 0.2%, em 2009, uma revisão em baixa de 1 ponto percentual. Tal como nos EUA, o final de 2008 e o início de 2009 deverá corresponder ao período de maior abrandamento esperando-se o início da recuperação na segunda metade de 2009 após um alívio das condições adversas nos mercados de crédito e a recuperação do mercado imobiliário em países como Espanha e Irlanda.
A economia do Reino Unido atravessa o seu pior momento em mais de uma década fruto não só da crise financeira mas também de uma forte contracção do seu sector imobiliário. O FMI estima que a economia cresça 1%, em 2008, e contraia 0.1%, em 2009, uma revisão em baixa de 1.8 pontos percentuais.
Em Portugal, o cenário aponta para um crescimento de 0.6%, este ano, e de 0.1%, em 2009, 1.2 pontos percentuais abaixo da estimativa de Julho. A recuperação ténue do crescimento português até 2007 assentou no crescimento das exportações o qual perdeu o seu fulgor em resultado do abrandamento da procura externa. Era esperada uma recuperação do investimento que no actual contexto de elevada incerteza e de difícil acesso ao crédito não se irá verificar. Mais, o consumo privado não se deverá revelar dinâmico em consequência do elevado nível de endividamento e do fraco poder de compra.
A recuperação das economias após uma crise no sistema bancário é mais lenta em resultado dos mecanismos de transmissão da política monetária não funcionarem como esperado. Assim, o crescimento das economias deverá acelerar de forma moderada em 2010 tendo como suporte, por um lado, uma melhoria nas condições de acesso ao crédito e, por outro lado, o alívio nos preços dos bens energéticos e alimentares, que deverá proporcionar uma aceleração do consumo.
http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/ ... 75356.html
Abrandamento global
Durante o último ano assistimos à deterioração aguda das condições nos mercados financeiros. Numa economia global, e assente em complexas ligações entre os vários mercados, a ausência de um sistema financeiro sólido trará inevitáveis retrocessos no crescimento da economia real. As previsões de crescimento do FMI para 2009 mostram-nos, assim, um forte abrandamento da economia mundial, em particular nas economias avançadas.
João Sousa, do Departamento de Estudos Económicos e Financeiros do BPI
A existência de um sistema bancário sólido e concorrencial permite um mais fácil acesso ao crédito por parte de famílias e empresas servindo assim de motor de crescimento das economias. Mais, uma vez que muitas famílias e empresas dependem do financiamento no desenvolvimento das suas actividades e que a disponibilidade de conceder crédito é superior (inferior) em períodos de maior (menor) crescimento económico, o sector bancário assume um papel pró-cíclico nas economias. Com o agudizar da crise financeira, a possibilidade da existência de um ciclo vicioso, em que os bancos ao restringir o crédito provocam o abrandamento da actividade, que por sua vez leva à deterioração da qualidade do crédito e consequente restrição nas condições de acesso ao financiamento, é elevada.
É neste contexto que o FMI apresenta as suas previsões de Outono para 2009. O crescimento mundial deverá desacelerar de 3.9%, em 2008, para 3%, em 2009, nível de crescimento considerado pelo próprio FMI recessivo no seu World Economic Outlook de Abril. As economias avançadas são aquelas que deverão sofrer um maior abrandamento. Com uma maior exposição à crise nos mercados financeiros devido à sua origem no mercado norte-americano e também pela maior sofisticação e interacção dos seus sistemas financeiros, os efeitos da crise sentir-se-ão de forma mais contundente nestas economias fruto da escassez de crédito que moderará o crescimento do consumo e do investimento. Por seu lado, o crescimento das economias emergentes irá abrandar embora continue a conduzir o crescimento global.
Assim, o FMI prevê uma desaceleração da economia norte-americana de 1.6%, em 2008, para 0.1%, em 2009, 0.7 décimas abaixo das previsões de Julho. O crescimento da economia norte-americana foi suportado no primeiro semestre pelo contributo da procura externa líquida e pelo consumo, fruto da desvalorização do dólar e dos cheques fiscais enviados às famílias. O esbater dos efeitos dos cheques fiscais e a inversão da tendência do dólar bem como o agudizar das condições de acesso ao crédito irão levar a uma forte desaceleração da economia nos próximos trimestres, não sendo excluída a hipótese de contracção. O início da recuperação do sector imobiliário, ainda que ténue, na segunda metade de 2009, deverá levar a uma recuperação moderada da economia.
Na zona euro, a desaceleração da actividade no segundo trimestre de 2008 levou à primeira contracção em cadeia do produto desde a sua constituição. Mais, nova contracção no terceiro trimestre não está excluída o que levaria a zona euro a entrar em recessão técnica. A queda do investimento motivada pelo acesso mais restrito ao crédito, pelo período de elevada incerteza e por uma esperada redução da procura, e a queda do consumo, determinada pela erosão do poder de compra em virtude da subida dos preços energéticos e alimentares, estão na origem desta quebra. O crescimento deverá situar-se em 1.3%, em 2008, e decair para 0.2%, em 2009, uma revisão em baixa de 1 ponto percentual. Tal como nos EUA, o final de 2008 e o início de 2009 deverá corresponder ao período de maior abrandamento esperando-se o início da recuperação na segunda metade de 2009 após um alívio das condições adversas nos mercados de crédito e a recuperação do mercado imobiliário em países como Espanha e Irlanda.
A economia do Reino Unido atravessa o seu pior momento em mais de uma década fruto não só da crise financeira mas também de uma forte contracção do seu sector imobiliário. O FMI estima que a economia cresça 1%, em 2008, e contraia 0.1%, em 2009, uma revisão em baixa de 1.8 pontos percentuais.
Em Portugal, o cenário aponta para um crescimento de 0.6%, este ano, e de 0.1%, em 2009, 1.2 pontos percentuais abaixo da estimativa de Julho. A recuperação ténue do crescimento português até 2007 assentou no crescimento das exportações o qual perdeu o seu fulgor em resultado do abrandamento da procura externa. Era esperada uma recuperação do investimento que no actual contexto de elevada incerteza e de difícil acesso ao crédito não se irá verificar. Mais, o consumo privado não se deverá revelar dinâmico em consequência do elevado nível de endividamento e do fraco poder de compra.
A recuperação das economias após uma crise no sistema bancário é mais lenta em resultado dos mecanismos de transmissão da política monetária não funcionarem como esperado. Assim, o crescimento das economias deverá acelerar de forma moderada em 2010 tendo como suporte, por um lado, uma melhoria nas condições de acesso ao crédito e, por outro lado, o alívio nos preços dos bens energéticos e alimentares, que deverá proporcionar uma aceleração do consumo.
http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/ ... 75356.html
As decisões fáceis podem fazer-nos parecer bons,mas tomar decisões difíceis e assumi-las faz-nos melhores.
- Mensagens: 1700
- Registado: 26/11/2004 23:00
- Localização: Belém-Lisboa
1 Mensagem
|Página 1 de 1
Quem está ligado:
Utilizadores a ver este Fórum: PXYC e 50 visitantes