Nobuo Tanaka, director executivo da AIE
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Nobuo Tanaka, director executivo da AIE
Entrevista: Nobuo Tanaka, Director executivo da Agência Internacional da Energia 2008-07-03 00:05
“É preciso construir 32 centrais nucleares por ano até 2050”
Para se emancipar do petróleo o mundo precisa de construir 32 centrais nucleares e 17 mil eólicas novas por ano até 2050, diz a AIE.
Luís Reis Ribeiro em Madrid
Nobuo Tanaka, que lidera a AIE, a instituição da OCDE para a área da energia, defende que para travar o aquecimento global é preciso reduzir drasticamente a dependência face ao crude e investir muito nas energias renováveis, nuclear e na eficiência. A entrevista decorreu esta terça-feira em Madrid, à margem do 19º Congresso Mundial do Petróleo. Nesse mesmo dia o barril de petróleo fechou num novo recorde histórico, acima dos 140 dólares.
Mesmo com muito investimento e inovação, o petróleo deverá ser a energia dominante até 2050, diz a AIE. Não era de esperar que o perfil energético global evoluísse de outra maneira?
Para as emissões de dióxido de carbono (CO2) caírem 50% em 2050 face aos níveis actuais precisamos do plano mais ambicioso e exigente. Só esse cenário permite manter a temperatura da Terra nos níveis actuais.
O que é preciso para tirar a primazia ao petróleo?
Investir muito e haver uma cooperação sem precedentes entre países. É preciso um forte investimento em eficiência, na descarbonização e produção de energia eléctrica usando armazenamento de CO2, energias renováveis, etc. Precisamos de investir em novas tecnologias para os transportes, como os carros movidos a hidrogénio, por exemplo. Tudo isto custará 45 biliões de dólares adicionais até 2050. Teríamos de construir, por ano, 32 reactores nucleares novos em todo o mundo, 55 centrais de captura de carbono, 17 mil torres eólicas... Se o conseguíssemos, a procura de petróleo cairia em 27% e reduziríamos as emissões de carbono.
É possível fazer tudo isso?
É possível, mas difícil de implementar. Implica grandes desafios para os governos, empresas e pessoas.
Então, será muito complicado o mundo deixar de ser dependente de petróleo nas próximas décadas?
O outro cenário [onde o petróleo continua a ser a fonte de energia dominante] é mais fácil de implementar, mas não ajuda a reduzir os efeitos das emissões de CO2. Mantém tudo na mesma.
Não é expectável que, nesse cenário, voltemos a ter a mesma falta de acordo entre produtores e consumidores de petróleo e que os preços voltem a disparar?
O futuro terá de passar sempre por um modelo de elevada cooperação entre produtores e consumidores - especialmente os emergentes, como a China e a Índia. Qualquer cenário – controlar ou reduzir as emissões de CO2 – implica, numa fase inicial, um aumento das necessidades energéticas, que devem cair numa segunda etapa.
Os preços do crude vão continuar altos?
Nos próximos cinco anos, diria que sim. O forte crescimento dos países não-OCDE e a fraca expansão da oferta da OPEP vão deixar o mercado numa situação de grande aperto e isso tenderá a reflectir-se nos preços. Isto são os fundamentais do mercado. Paralelamente, as notícias sobre conflitos ou acidentes naturais servem apenas para especular e amplificar a volatilidade dos preços.
Com a China e Índia na OCDE/AIE o equilíbrio energético global será mais fácil de atingir?
A entrada da China e Índia fará toda a diferença. Será mais fácil comunicar com o mercado. Os últimos cálculos da AIE dizem que, em 2015, as economias em desenvolvimento [não-OCDE], onde estão os emergentes, vão consumir tanto ou mais petróleo do que os países desenvolvidos [OCDE]. Para tornar a oferta de energia segura é preciso haver acção colectiva na constituição de reservas petrolíferas estratégicas. Sem cooperação não podemos influenciar o mercado.
O que terá mais peso na redução do consumo nos países da OCDE: os ganhos de eficiência ou o crescimento mais baixo?
Os dois são importantes. Teremos ganhos de eficiência e menor intensidade no uso da energia, mas o declínio do crescimento desempenhará também o seu papel. Por outro lado, as economias emergentes vão continuar a crescer a um ritmo robusto, com maior consumo ‘per capita’, o que prova que os preços do petróleo não terão um impacto real.
Mas são cada vez mais dependentes de petróleo. Como é que vão conseguir evitar esse impacto?
Porque têm sistemas de subsídios e ao controlo de preços. A procura por petróleo continuará a subir, sustentada pelos emergentes, e isso acabará por ser bom para o mundo como um todo. Mas precisamos é de ver mais eficiência, mais energias limpas, mais sistemas de captura de CO2. Na AIE temos uma noção muito clara sobre o que tem ser feito. Falta passar à prática. Nesse sentido, esta terceira crise petrolífera é a oportunidade ideal para estes países mudarem o seu rumo.
Galp precisa de investir muito para ter retorno
A Galp tem fortes interesses no Brasil, onde terão sido descobertos importantes recursos petrolíferos. É um investimento seguro?
A Galp é uma companhia forte e boa. As reservas do Brasil estão localizadas num ‘off-shore’ de águas muito profundas e, como tal, requerem investimentos importantes. Quer pela natureza da sua localização, quer pela exigência financeira, e assumindo que não surgem outros elementos que tornem o processo mais complexo, consideramos que levará algum tempo até dar resultados.
Quanto?
Neste momento preferimos não incluir esse petróleo nas nossas previsões de médio prazo [até 2013, inclusive] relativamente à oferta. O Brasil é um ‘player’ muito importante fora do universo OPEP, mas para o potencial se tornar realidade queremos ver mais investimento.
É verdade que o petróleo da Arábia Saudita está a acabar?
Não sabemos. Não temos dados relativamente às reservas. Os únicos dados fiáveis referem-se aos países não-OPEP. Quando os analisámos descobrimos que o declínio das reservas é muito pior do que pensávamos. A análise detalhada das reservas da OPEP será publicada em Novembro.
Quanto é que os países produtores ainda vão ter de investir na área do petróleo?
Seja qual for o cenário, precisamos, de certeza, de investimentos enormes nos países produtores até porque, em muitos deles, a procura será cada vez mais forte. O nosso futuro depende disso.
Os preços altos tornam viáveis investimentos menos convencionais, como no Brasil e no Canadá?
Ajuda bastante. Achamos que o preço do petróleo está demasiado alto, mas tem esse lado: dá fortes incentivos à exploração e produção de petróleos menos convencionais, como o das águas ultra-profundas do Brasil ou as areias do Canadá.
http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/ ... 41797.html
“É preciso construir 32 centrais nucleares por ano até 2050”
Para se emancipar do petróleo o mundo precisa de construir 32 centrais nucleares e 17 mil eólicas novas por ano até 2050, diz a AIE.
Luís Reis Ribeiro em Madrid
Nobuo Tanaka, que lidera a AIE, a instituição da OCDE para a área da energia, defende que para travar o aquecimento global é preciso reduzir drasticamente a dependência face ao crude e investir muito nas energias renováveis, nuclear e na eficiência. A entrevista decorreu esta terça-feira em Madrid, à margem do 19º Congresso Mundial do Petróleo. Nesse mesmo dia o barril de petróleo fechou num novo recorde histórico, acima dos 140 dólares.
Mesmo com muito investimento e inovação, o petróleo deverá ser a energia dominante até 2050, diz a AIE. Não era de esperar que o perfil energético global evoluísse de outra maneira?
Para as emissões de dióxido de carbono (CO2) caírem 50% em 2050 face aos níveis actuais precisamos do plano mais ambicioso e exigente. Só esse cenário permite manter a temperatura da Terra nos níveis actuais.
O que é preciso para tirar a primazia ao petróleo?
Investir muito e haver uma cooperação sem precedentes entre países. É preciso um forte investimento em eficiência, na descarbonização e produção de energia eléctrica usando armazenamento de CO2, energias renováveis, etc. Precisamos de investir em novas tecnologias para os transportes, como os carros movidos a hidrogénio, por exemplo. Tudo isto custará 45 biliões de dólares adicionais até 2050. Teríamos de construir, por ano, 32 reactores nucleares novos em todo o mundo, 55 centrais de captura de carbono, 17 mil torres eólicas... Se o conseguíssemos, a procura de petróleo cairia em 27% e reduziríamos as emissões de carbono.
É possível fazer tudo isso?
É possível, mas difícil de implementar. Implica grandes desafios para os governos, empresas e pessoas.
Então, será muito complicado o mundo deixar de ser dependente de petróleo nas próximas décadas?
O outro cenário [onde o petróleo continua a ser a fonte de energia dominante] é mais fácil de implementar, mas não ajuda a reduzir os efeitos das emissões de CO2. Mantém tudo na mesma.
Não é expectável que, nesse cenário, voltemos a ter a mesma falta de acordo entre produtores e consumidores de petróleo e que os preços voltem a disparar?
O futuro terá de passar sempre por um modelo de elevada cooperação entre produtores e consumidores - especialmente os emergentes, como a China e a Índia. Qualquer cenário – controlar ou reduzir as emissões de CO2 – implica, numa fase inicial, um aumento das necessidades energéticas, que devem cair numa segunda etapa.
Os preços do crude vão continuar altos?
Nos próximos cinco anos, diria que sim. O forte crescimento dos países não-OCDE e a fraca expansão da oferta da OPEP vão deixar o mercado numa situação de grande aperto e isso tenderá a reflectir-se nos preços. Isto são os fundamentais do mercado. Paralelamente, as notícias sobre conflitos ou acidentes naturais servem apenas para especular e amplificar a volatilidade dos preços.
Com a China e Índia na OCDE/AIE o equilíbrio energético global será mais fácil de atingir?
A entrada da China e Índia fará toda a diferença. Será mais fácil comunicar com o mercado. Os últimos cálculos da AIE dizem que, em 2015, as economias em desenvolvimento [não-OCDE], onde estão os emergentes, vão consumir tanto ou mais petróleo do que os países desenvolvidos [OCDE]. Para tornar a oferta de energia segura é preciso haver acção colectiva na constituição de reservas petrolíferas estratégicas. Sem cooperação não podemos influenciar o mercado.
O que terá mais peso na redução do consumo nos países da OCDE: os ganhos de eficiência ou o crescimento mais baixo?
Os dois são importantes. Teremos ganhos de eficiência e menor intensidade no uso da energia, mas o declínio do crescimento desempenhará também o seu papel. Por outro lado, as economias emergentes vão continuar a crescer a um ritmo robusto, com maior consumo ‘per capita’, o que prova que os preços do petróleo não terão um impacto real.
Mas são cada vez mais dependentes de petróleo. Como é que vão conseguir evitar esse impacto?
Porque têm sistemas de subsídios e ao controlo de preços. A procura por petróleo continuará a subir, sustentada pelos emergentes, e isso acabará por ser bom para o mundo como um todo. Mas precisamos é de ver mais eficiência, mais energias limpas, mais sistemas de captura de CO2. Na AIE temos uma noção muito clara sobre o que tem ser feito. Falta passar à prática. Nesse sentido, esta terceira crise petrolífera é a oportunidade ideal para estes países mudarem o seu rumo.
Galp precisa de investir muito para ter retorno
A Galp tem fortes interesses no Brasil, onde terão sido descobertos importantes recursos petrolíferos. É um investimento seguro?
A Galp é uma companhia forte e boa. As reservas do Brasil estão localizadas num ‘off-shore’ de águas muito profundas e, como tal, requerem investimentos importantes. Quer pela natureza da sua localização, quer pela exigência financeira, e assumindo que não surgem outros elementos que tornem o processo mais complexo, consideramos que levará algum tempo até dar resultados.
Quanto?
Neste momento preferimos não incluir esse petróleo nas nossas previsões de médio prazo [até 2013, inclusive] relativamente à oferta. O Brasil é um ‘player’ muito importante fora do universo OPEP, mas para o potencial se tornar realidade queremos ver mais investimento.
É verdade que o petróleo da Arábia Saudita está a acabar?
Não sabemos. Não temos dados relativamente às reservas. Os únicos dados fiáveis referem-se aos países não-OPEP. Quando os analisámos descobrimos que o declínio das reservas é muito pior do que pensávamos. A análise detalhada das reservas da OPEP será publicada em Novembro.
Quanto é que os países produtores ainda vão ter de investir na área do petróleo?
Seja qual for o cenário, precisamos, de certeza, de investimentos enormes nos países produtores até porque, em muitos deles, a procura será cada vez mais forte. O nosso futuro depende disso.
Os preços altos tornam viáveis investimentos menos convencionais, como no Brasil e no Canadá?
Ajuda bastante. Achamos que o preço do petróleo está demasiado alto, mas tem esse lado: dá fortes incentivos à exploração e produção de petróleos menos convencionais, como o das águas ultra-profundas do Brasil ou as areias do Canadá.
http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/ ... 41797.html
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