Cuba - socialismo o muerte
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De uns dizerem bem e outros mal
Recordo-me de uma frase do Otelo:
Se tivesse estudado mais poderia ser o Fidel da Europa
E, numa revista de Coragem da época o Fidel respondia
Se tivesse estudado menos poderia ter sido o Otelo da América Latina
Se tivesse estudado mais poderia ser o Fidel da Europa
E, numa revista de Coragem da época o Fidel respondia
Se tivesse estudado menos poderia ter sido o Otelo da América Latina
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Estive quatro vezes em Cuba. Conheço bem toda a ilha. Quando cheguei a Havana, pela primeira vez, tive a sensação de ter andado umas boas dezenas de anos para trás. A cidade sem varandas ou com as janelas sempre abertas, farrusca e movimentada, tem o fulgor próprio da decadência. Do telhado do hotel, o "skyline" é extraordinário. Parece que o tempo parou com a "revolução". Trata-se de um povo doce, primeiro usado como "colónia" norte-americana para casinos e sexo e, depois da descida da Sierra, como marioneta de uma feroz e sibilina ditadura. É certo que os níveis de literacia em Cuba nos fazem corar de vergonha, tal como a assistência médica. Fidel apostou na alfabetização dos cubanos e na escolaridade obrigatória. Praticamente sem recursos, senão os próprios desde o desmembramento da galáxia soviética, acossada pelo embargo do poderoso vizinho, a ilha sobrevive como pode. A hipocrisia da ditadura "castrista" deixa circular o dólar americano no turismo e obriga os seus concidadãos a usarem a moeda local e a "libreta" (senhas) para comer. Depois, anda tudo trocado. Engenheiros ou médicos que são guias turísticos ou motoristas de táxi, por exemplo. Ouve-se sempre um elogio magoado ou fingido a Fidel e quando se pergunta mais qualquer coisa, devolvem-nos silêncio. Daqui partem muitos burgessos em busca de sexo fácil, comercializado em nome da necessidade. Qualquer pançudo ou frustrado sexual, por um par de dólares, consegue milagres de uma tristeza infinita. Nem se pergunta pela idade. Já tem mamocas - ou boa pila, consoante os gostos-, serve. Isto vem a propósito disto. Do sr. Saramago espera-se sempre o pior. Numa passagem de ano, lembro-me de o ver na televisão oficial a acenar "às massas" ao lado do ditador. Anos volvidos, o "nobel" lá "percebeu" que havia um "problema" com as liberdades em Cuba e amuou vagamente. Durou pouco. Ele e o sociólogo coimbrão Boaventura - que se tem servido, na sua carreira académica, dos EUA que tanto exacra, - assinaram uma inevitável petição, apascentada pelo ministério da Cultura cubano, para "defesa" da "soberania" da ilha - contra os EUA, naturalmente -, atento o estado dos intestinos de Fidel Castro. Como boa ditadura que se preza, o regime guarda prudente silêncio sobre esta matéria e o jovem regente de setenta e cinco anos, Raúl, não dá sinal de si. Segredos de Estado, dizem eles. É pena que os "intelectuais" que constam da lista - não falta sequer a velhinha Angela Davis - não se preocupem mais com os cubanos e menos com o regime execrável que todo o "bem pensante" das "esquerdas" bajulou, nem que fosse uma vez na vida. Cuba gerou nomes grandes da literatura latino-americana - que Fidel exilou, proibiu ou "suicidou"- e que eu nunca vi o sr. Saramago citar: Lezama Lima, Cabrera Infante, Reinaldo Arenas, Virgilio Piñera ou outros. Recordo um vôo até à velha capital, Santiago de Cuba, ao lado de uma alemã que vivia na Argentina e que me contava velhas histórias do continente. Vista de cima, Cuba é simplesmente a ilha mais bonita do Caribe. Merecia melhor sorte.
posted by João Gonçalves at 9.8.06
http://portugaldospequeninos.blogspot.c ... sorte.html
Cuba - socialismo o muerte
Quinta-feira, Agosto 10
socialismo o muerte
estive em cuba em 1991, em trabalho para a grande reportagem. só me mandaram por 4 dias e não saí de havana e arredores. estava a decorrer o não sei quantos congresso do pc cubano e fui como turista porque não me davam visto como jornalista.
achei havana lindíssima, de uma beleza melancólica e apodrecida. entristeceu-me a miséria do povo, reduzido a pedinte sistemático ante os estrangeiros, as gineteras adolescentes alinhadas, à escolha, à porta das discotecas, e lá dentro aos cachos à volta dos turistas barrigudos, as filas de mulheres e homens de olhos sombrios em fila ao sol, à porta da mercearia, na mira de uma distribuição de frango, os pacotes racionados de feijão preto, o grande armazém empoeirado com vestidos de noiva onde só se entrava com senhas especiais, o homem que me pôs a mão no ombro e me disse, devagar, 'é uma bela ilha, mas não se pode viver aqui. não vê que não temos nada?'.
comoveu-me a senhora de oitenta anos a quem ofereci os três sabonetes lux que tinha levado na mala por me terem dito que o sabão estava racionado e que se agarrou a mim a chorar, sob um retrato de che guevara colado nas paredes descascadas da sala, a desejar-me 'tudo de bom para ti, hija mia', como se lhe tivesse dado a lua.
comoveram-me os intelectuais 'do contra' que falaram comigo numa tarde de domingo, com uma gravidade cansada, da 'situação'. um mês depois um deles, uma poetisa, seria presa, arrastada pelos cabelos escada abaixo.
enfureceu-me a brigada de polícias que prendeu um cubano que jantara comigo na bodeguita del medio, o restaurante 'de hemingway', por ter jantado comigo. era, explicaram-me, um 'subversivo' porque um cubano não podia dar-se com turistas.
espantou-me a cenografia imobilista, romântico-irónica do país, os cartazes enormes de louvor a fidel e à revolução espalhados nas ruas, as belas notas encarnadas com a efígie de che guevara, os automóveis e as motos anos 50 remendados com arames, os slogans decapados pelo humor negro dos cubanos -- socialismo ou muerte? muerte, porque socialismo no lo hay.
escrevi sobre tudo isso um texto, hasta la victoria nunca, publicado em outubro de 1991. choveram cartas e críticas de pessoas que me garantiam que não podia ter visto o que tinha visto. umas nunca tinham ido a cuba. outras tinham lá ido e visto exactamente o contrário. o fenómeno não é de hoje nem específico de cuba.
a propósito, ler o joão do portugal dos pequeninos ( http://portugaldospequeninos.blogspot.c ... sorte.html ) e o tiago do kontratempos ( www.kontratempos.blogspot.com ) sobre cuba. desculpem lá, o maczinho não linka.
Fernanda Câncio
http://gloriafacil.blogspot.com/2006/08 ... uerte.html
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