Caldeirão da Bolsa

O estranho caso do preço das acções da Google

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por JOGO2006MARKITOS » 25/7/2006 1:07

Fiz um caso de estudo da Google na faculdade, portanto vou dar o meu input:

1º - Têm tecnologia de vanguarda (no pagerank e na cache) que mais ninguém tem até 2011.
2º - Têm um negócio de publicidade com 2 alvos distintos, o anunciante que compra hits e o administrador de websites que vende espaço na sua página de modo a aparecerem links para anunciantes. A Google é uma espécie de intermediário, compra espaço barato, vende hits caríssimos.
3º - Está a entrar no mercado da orientação geográfica com o Google Earth e parcerias com marcas de automóveis, agências imobiliárias, etc.
4º - Têm forte implementação no mercado de servidores de busca feitos à medida para grandes intranets empresariais.
5º - Estão a desenvolver aplicações de busca para um mercado potencialmente explosivo, telemoveis e PDAs.
6º - Têm mais de 20 serviços entre os quais Froogle, Gmail e Google Desktop que fixam e fidelizam MILHÕES de utilizadores em todo o mundo.
7º - Existem rumores que vão criar um e-Marketplace para competir com o eBay.

São estes os 7 pontos que definem os melhores pontos-forte desta empresa.
 
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por Comentador » 24/7/2006 19:31

Caro CAFLX,

A sua última resposta tem uma lógica aceitável para um caso geral, teórico, mas falha o alvo que estamos verdadeiramente a discutir.

Ora sabendo nós que altos PER´s significam que há uma expectativa de crescimento dos lucros a um nível muito mais elevado do que a média da generalidade das empresas e mesmo do sector, não podemos querer impôr níveis rígidos de PER´s para essas empresas. Nem estar a raciocinar em termos de país, seja dos EUA ou outro qualquer.

Só temos que nos preocupar se acreditamos num determinado nível de crescimento de lucros de uma empresa específica, que como é o caso da Google, não tem nada a ver com a empresa média dos EUA.

Na nossa discussão, não é o crescimento dos países, seja ele qual for que interessa, mas sim o crescimento de empresas específicas e, no caso da Google, objectivamente especiais e fora do comum. É por isso que nós as estudamos.

Não se esqueçam de uma coisa: o crescimento actual dos lucros da Google (Y/Y) é de quase 100% ao ano e eu, no estudo, reduzi-o para 30%. Pode-se não se acreditar na sutentabilidade desse crescimemento, eu posso aceitar isso, mas não porque o PER da Google tenha de ser 15 ou outro valor redondo do género.

Um abraço
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por Ulisses Pereira » 24/7/2006 18:30

Eu não me estou a referir à Google em concreto. Como sabes, não sou especialista em questões fundamentais nem ambiciono sê-lo, por isso não me pronunciie sobre essa matéria da Google. O que digo é que, em algumas circunstâncias comprar uma acção com um PER de 40 não é um erro, sobretudo se achares que a este preço, daqui a um nao o seu PER seja de 5.

Um abraço,
Ulisses
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por CAFLX » 24/7/2006 16:52

Ulisses, permite-me discordar da tua opinião um PER de 35/40 não é aceitavel nem em economias com crescimentos de 10% ano ano.

Se a Índia que é a Índia tinha PERs de 17 e todos já alertavam para uma correcção (que se materializou em Maio/Junho em cerca de 30-40%).

Porque devo achar que a google está barata? Está num país com taxas de crescimento de 3,5% com tendência a baixar, onde a o sector tecnologico está sobre pressão, onde os profit warnings se multiplicam, onde o factor "guerra" e stress-médio oriente está mais activo.

Para mim a google não merece mais que um PER de 15! Logo será uma questão de tempo para que o mercado dê razão a alguns fundamentalistas como eu!

Abraço
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por pvg80713 » 24/7/2006 15:41

2011 é depois de amanha. Mas mesmo que fosse muito longe, não há razão nenhuma para acreditar e pagar Per's muito elevados. É preciso muita fé para acreditar que a e-bay valha mais que todas as livrarias do mundo, o mesmo que para pagar a uma Google que :
O principal serviço que fornece é gratuito !!!!!!
Quem paga dinheiro à Google, ou seja outras empresas e anunciantes de uma forma geral, podem mudar de fornecedor num só segundo.
Se fosse assim tão bom, o mercado de anuncios, as televisoes com cobertura mundial, facturavam ( e ganhavam) mais dinheiro que a Google e não é verdade.
A grande maioria dos media com cobertura mundial não ganha muito dinheiro.
 
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por Ulisses Pereira » 24/7/2006 13:11

CAFLX, assumires um PER médio do S&P de 10 pode ser razoável, uma vez que é um índice representativo de toda a economia. Mas um PER de 10 para algumas acções significa que estão caras e para outras que estão baratas. Fará sentido para uma empresa que há já muito atingiu a sua fase de maturidade e que há largos anos apresenta uma taxa de crescimento na casa dos 5/6% ter um PER de 10? E uma empresa que continua a crescer com taxas perto dos 100%, não estará tentadora com um PER de 10?

Por isso, se estivermos a analisar a Goosle de um ponto de vista fundamental, teremos que nos centrar numa análise mais dinâmica como tem sido feito na maior parte dos posts deste tópico tentando perceber o futuro da empresa e até que ponto conseguirá continuar a crescer a um ritmo tão forte.

Um abraço,
Ulisses
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por Flying Turtle » 24/7/2006 12:36

Os negócios associados aos conteúdos, em particular nas TIC e mais especificamente na Internet, são determinantemente influenciados pela chamada "economia de rede", de onde ressaltam as externalidades e os feedbacks positivos.

Neste contexto, os drivers para a competitividade destes negócios surgem associados à capacidade de alargar rápida e sustentadamente o número de utilizadores (o que conduz à emergência de "standards" - e consequentemente monopólios - globais) e à capacidade de inovar de forma sustentada, numa lógica de escalabilidade e de sistemática antecipação aos competidores.

Foi assim que a Microsoft ganhou a guerra com a Apple (não possuindo, nem de longe, o melhor produto de um ponto de vista técnico ou tecnológico), e foi também assim que a Adobe estabeleceu os "pdf" como o standard universal para a partilha e difusão de documentos, independentemente da respectiva plataforma de criação.

Também no caso da Google, estes elementos serão provavelmente mais importantes do que a detenção da utilização exclusiva da patente. É claro que esta ajuda, mas a patente, sem o demais, nunca teria permitido os desenvolvimentos a que temos assistido.

Outro exemplo interessante é a recente partilha de utilizadores entre os Instant Messengers da Yahoo (Yahoo Messenger with Voice) e da Microsoft (Live Messenger), adicionando-se as respectivas comunidades de uma forma transparente em qualquer das plataformas. A intenção, óbvia, é ganhar a corrida ao IM da AOL e aos emergents Skype e Google Messenger. Neste caso, no entanto, a integração transparente a baixo custo, ou nalguns casos mesmo gratuita, para fora das respectivas comunidades (designadamente para as diversas redes telefónicas), constitui um elemento de extensão da rede (e de crescimento dos negócios) a não descurar.

Enfim, no mínimo uma história muito interessante de seguir e estudar!

Umm abraço
FT
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Inovação

por Comentador » 24/7/2006 12:14

Caro Camaleão,

Obrigado pela excelente informação.

É realmente assim, a patente do Page Rank, de que os fundadores da Google têm uma licença exclusiva até 2011, passa depois a ser não exclusiva.

No seu plano estratégico, a Google considera a Microsot e a Yahoo como os seus concorrentes principais.

Em empresas deste género, o cerne da questão é a capacidade de crescimento sustentado e isso só se consegue com uma aposta total na inovação. Será aqui que residirá a diferença entre quem cresce mais ou menos e entre quem domina (mais ou menos) o mercado.

Um abraço
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por pvg80713 » 24/7/2006 12:06

O Windows foi criado pela Apple nos mac e quem ganhou a massa foi o Gates... Existem programas tão bons como a Microsoft e grátis. Eu já deletei o Microsoft Office que tinha pirateado e ja instalei legalmente o OpenOficce.Org que é igual e grátis. Os lucros da Microsoft vão sofrer um revez quando o governo EUA acabar com a cartelização Microsoft. A yahoo ja foi e pode renascer a Altavista já nem sei o que lhe aconteceu mas pode voltar.
O que noz diz o Tim Hartford ou mesmo o senhor Buffet é que o 'monopólio de utilizadores' da Google pode ser quebrado...
 
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por Camaleão » 24/7/2006 10:25

O algoritmo principal do motor de busca da Google - “page rank”, que mede a importância de um site de acordo com o número e importância de referências por outros sites - é patenteado, e a patente pertence á universidade de Stanford, onde Page, um dos fundadores da Google, estudava quando inventou o algoritmo.

Não tenho tempo de fazer uma pesquisa aprofundada, mas aparentemente a Google tem direitos exclusivos de explorar a patente até 2011. Assim motores de busca concorrentes teriam que descobrir um algoritmo ainda melhor, o que não é fácil. Em outras palavras, penso que a Google ainda será o motor dominante durante vários anos. Abaixo duas referências:

http://patft.uspto.gov/netacgi/nph-Pars ... =6,285,999

http://contracts.onecle.com/google/stan ... 0.13.shtml
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por pvg80713 » 24/7/2006 9:35

Mas a questão é que eu não acredito que esses lucros continuem ao longo dos próximos anos.
O modelo de negócio da Google pode ser copiado, melhorado por outros etc etc...
Nao me admirava que a Yahoo voltasse a melhorar, oferecer mais valor etc etc.
Que o motor de busca fosse copiado e aparecesse uma nova companhia com ex-funcionários etc etc.
E a accão vai voltar muito abaixo... nao vejo porque nao......
 
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por CAFLX » 24/7/2006 9:14

Ahhhh ok... analisei mal os números (estava a fazer os 2,29 como lucro anual) afinal a google SÓ tem um PER de 35-40. ou seja a cotação está pelo menos 3x acima do rasoável. Bem... já a atira para a casa dos 100USD por título como preço justo.
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por Comentador » 23/7/2006 23:39

Caro CAFLX,

Como é que uma empresa como a Google que tem um lucro por acção de $2.02, no 1º. trim/06 e de $2.39 no 2º tri/06, e que portanto terá um lucro por acção potencial em 2006 à roda dos $10.00 pode ter um preço justo de $36/39?

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por CAFLX » 23/7/2006 22:45

No dia em que sairam os resultados da google... calculei-lhe um PER de 159... digamos que aceitavel seria 1/10 desse per... logo valores para a google de 36-39 seriam os mais "justos" para os resultados que apresenta.
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Ateu

por pvg80713 » 23/7/2006 18:54

Sou Ateu, Graças a Deus !
É que se eu não fosse completamente Ateu e não achasse misteriosos os caminhos do Senhor teria que hoje abrir um tópico sobre Google.
Mas não vai ser preciso porque este tópico já está aberto.
Estou a ler o livro O Economista Disfarçado.
E lá fala-se de Google, Diz porque esta subiu e a Yahoo desceu.
Não diz qual a previsao para o fututo da Google.

Bastantes tempo a trás eu escrevi aqui que achava que a Google voltaria 39 USD ou menos. Obviamente ninguem ligou nenhuma......
Acho bem.....
O Ulisses Ferreira, ou nome parecido, teve o incomodo de me recomendar que afirmaçoes destas deviam ser justificadas.
Pois bem Ulisses, aqui vai, eu nao tinha justificação nessa altura.

Pois é, nem tenho agora.
Mas lendo O Economista Disfarçado permito-me voltar a acreditar que a Google não ten nada que nao possa se copiado e mesmo a Microsoft só tem uma Cintura Verde que a permite manter-se rica.
Nenhuma destas empresas tem o Monopólio de Utilizadores que Warren Buffett sempre preconizou.
Portanto ou mudam ou o preço abaixo de 30 USD vai aparecer, em menos de ????????? 10 anos.
 
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por Comentador » 23/7/2006 17:19

Como saíram os dados do 2º. trimestre, terá algum interesse fazer uma actualização do valor das acções, com base no modelo que utilizei.

Antes disso, a correcção de uma óbvia gralha do meu texto: as receitas de 2005 foram de 6,1 biliões de dólares (este dado foi utilizado pelo seu valor correcto, mas não entrou propriamente na avaliação - aqui só me interessa o lucro líquido).

Dado que o lucro líquido do segundo trimestre foi de 721 milhões de dólares, o que corresponde a um acréscimo de 110% face ao registado em igual período do ano passado, será essa a nova base de partida.

Mantendo-se todos os outros pressupostos que admiti, e actualizando pequenos pormenores, o valor tendencial de cada acção da Google passaria a ser de 309 dólares.

Cumprimentos
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por Comentador » 17/5/2006 23:21

Caro castelbranco,

Estou de acordo com a sua análise.

A divergência entre o Histograma quando comparado com o MACD e preços (primeiro no semanal e depois no diário)já fazia prever a descida que está acontecer desde Janeiro. Eu penso que essa descida está longe de ter ficado completa, embora não acredite que se concretize de forma linear.

No seu gráfico não se nota muito bem, mas há dois gaps que o mercado pode querer fechar e que estão muito mais abaixo: um na zona de 345-360 e o outro na de 310-330.

Pode levar tempo, mas a não ser que algo de excepcional aconteça, parece que o destino está traçado.

Cumprimentos
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por castelbranco » 17/5/2006 11:14

Ora viva companheiros

a minha analise á google é puramente tecnica como já devem calcular.

em termos de ondas ciclicas ela completou a quinta no inicio deste ano, neste momento encaminha-se para uma zona de suporte que se situa na zona dos 360dolares, o que se houver quebra será mais um sinal de fraqueza do titulo, entretanto as medias moveis estão igualmente a aplanar a indicar fraqueza
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por rnbc » 17/5/2006 10:53

Como investidores temos uma excelente solução para esse desfasamento entre o valor previsto por nós e aceite pelo mercado: comprar.

Geralmente concordo com a análise, mas nota que o negócio do google comporta riscos grandes de perda de quota. Tal como o google apareceu outros podem aparecer. Lembra-te que o google entrou num mercado já cheio e ganhou. O mesmo lhes pode acontecer a eles... é um mercado muito pouco cativo.

Entretanto tenciono manter-me investido neles a longo prazo, embora com pouco dinheiro.
However elegant the method we should occasionally look at the results.
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Mais uma achega

por Recolector » 17/5/2006 10:44

Na minha opinião pura e simplesmente não é possível estabelecer um tecto para a valorização das acções da Google, desde que : 1- A Economia sobre a Internet se mantenha em expansão e 2- A Google se mantenha no dominio da tecnologia de busca.

Apesar da dimensão já atingida pelos lucros da Google, a Internet é tão vasta que comporta o crescimento futuro da Google, pois a própria internet mantém um crescimento constante.

Convém relembrar que o negócio core da Google é o da busca. O motor de busca da Google é um motor de busca COMERCIAL. Para a análise da Google apenas nos deve interessar a Internet comercial (os negócios na Internet).

A grande mais valia da Google advém da qualidade (relevância) do seu tráfego comercial.

Antes da Google e afins, as empresas presentes na Net compravam tráfego indiscriminado, nomeadamente através da compra de espaço em portais (o simples facto de a empresa poder mostrar um contrato atestando que podia dispor de um certo espaço num portal ((visibilidade ao grande público)) era suficiente para a valorizar enormemente em bolsa). No presente as empresas só pagam (à Google, Yahoo, etc.) o tráfego que chega efectivamente aos seus servidores.
ATENÇÃO que já se estuda o novo paradigma (3ª geração) de refinamento de tráfego (será viável ?) no qual as empresas só pagam o tráfego que resulte efectivamente em compras :shock:

Conclusão :
Isolando o crescimento em cada ano da actividade economica na Internet, podemos utilizar esse crescimento para determinar o que será um bom crescimento dos lucros da Google nesse ano.
Quem tenha posições longas na Google, deve monitorizar regularmente para verificar se a 3ª geração (pagamento só após vendas) tem viabilidade e caso tenha confirmar se a Google controla essa tecnologia ou se esta vai ser melhor aproveitada por um concorrente.
Lei da Gravidade, revisitada :
1º Tudo o que subiu, cai por si.
2º Tudo o que caiu, só sobe se impulsionado.
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O estranho caso do preço das acções da Google

por Comentador » 17/5/2006 9:12

Longe vão os tempos em que as empresas da Internet eram analisadas “de outra maneira”, através de planos de negócios literalmente virtuais onde quase só existiam potencialidades. Não admira que as cotações estratosféricas de muitas dessas empresas, em determinada altura, tenham caído no chão.

Mas, em poucos anos, a situação mudou radicalmente. Existem inúmeras empresas ligadas à Internet e às tecnologias com ela relacionadas que são sólidas e altamente rentáveis e cuja avaliação é efectuada da mesma forma que qualquer outra empresa. Efectivamente, as cotações das respectivas acções sofrem o mesmo crivo de análise dos investidores sujeitando-se às normais exigências do mercado de capitais.

Se quisermos, no entanto, eleger uma empresa dessa área de negócio que simbolize tudo o que a Internet prometia e ainda o muito que alcançou e virá ainda a ser disponibilizado através de constante inovação, deparamos com um nome extraordinário que toda a gente conhece - Google.

Eu tenho de confessar que, sem antes me ter debruçado sobre o assunto, tendia a considerar de certa forma despropositado o nível de preços que foi sendo atingindo pelas acções da Google. De uma forma superficial, parecia-me que continuaria, talvez sub-reptícia, aquela ideia de sobrevalorizar os negócios futuros, arrastando com isso o primado do potencial sobre o real.

Presentemente, tenciono afastar ideias mais empíricas e passar a raciocinar com base num estudo da situação, utilizando para o efeito alguns simples instrumentos técnicos de avaliação.

Deste modo, pretendo dar a minha modesta opinião sobre o que penso ser o valor tendencial desta empresa, que considero de certa forma uma máquina de produzir lucros e que está numa fase de crescimento espectacular.

Antes, quero só referir que têm sido relevantes as disparidades de opiniões dos analistas de mercado sobre a definição de um objectivo para o valor das acções desta empresa. Como exemplo, esses especialistas ou apontam uma queda das suas acções para menos de 200 dólares (revista Barron´s de Fevereiro passado), ou indicam a zona 400-600 como defensável (Mary Meeker do Morgan Stanley) ou chegam mesmo a considerar 2000 como um aceitável valor de longo prazo (Mark Stahlman of Caris & Co).

Já agora é bom referir que na altura da sua entrada na Bolsa, em Agosto de 2004, o preço de 85 dólares da sua IPO causou calafrios pois muita gente pensou tratar-se de um valor exagerado. No entanto, depois de fazer um máximo a 475 dólares, já em Janeiro deste ano, as acções da Google negoceiam agora ao nível de 371.

Pessoalmente, para poder perceber o valor da empresa (e poder eventualmente negociar as suas acções) tinha de efectuar um exercício como este, pois cotações a este nível de preços implicam, pelo montante do investimento associado, que cada um faça ou disponha de estudos que considere suficientes. Neste caso, não me basta o normal exame dos relatórios trimestrais e o acompanhamento técnico dos indicadores gráficos, preciso de ir um pouco mais longe e fazer mesmo a avaliação da empresa, abdicando no entanto do esquema demasiado simplificado do método dos múltiplos.

Vamos então à minha avaliação da empresa, de uma forma muito sucinta e simples, com o objectivo de obter um intervalo credível para o preço das acções no horizonte de cerca de um ano. Depois o mercado – soberano e implacável – dirá o que melhor entender, antecipando, atrasando ou mesmo desprezando a previsão que vou fazer.

Em primeiro lugar, devo referir que se trata de uma empresa que, no final de 2005, teve receitas de mais de 86,1 biliões de dólares e um lucro líquido de quase 1,5 biliões. Desde 2001 a 2005 o crescimento das vendas foi de 409% (2002), 234% (2003), 118% (2004) e 92% (2005). Paralelamente, o crescimento do lucro líquido também tem vindo a registar sustentabilidade de ano para ano: 6% (2003), 278% (2004), 267% (2005).

Os lucros líquidos do 1º. trimestre de 2006, no montante de 592,3 milhões de dólares, foram excelentes e superaram largamente qualquer dos trimestres do ano passado. Vou-me servir deste dado como base de partida.

O método de avaliação que vou utilizar é o do Discounted cash-flow (DCF). É bom salientar que o ritmo de crescimento sustentado da Google é o verdadeiro cerne da questão no que toca ao cálculo do seu valor. Dito por outras palavras, a empresa valerá tanto mais quanto conseguir uma elevada taxa de crescimento dos lucros em todos os anos considerados. Pelo contrário, se o aumento continuado dos lucros - mais propriamente denominados lucros supranormais - afrouxarem de forma relevante o valor da empresa cai logo de forma brutal.

Ou seja, a Google terá muito valor se continuar a ter sempre crescimentos anuais muito altos, que poderão até ser, em média, um pouco inferiores aos acima indicados que são superlativos. Mas perderá muito valor se a sua taxa de crescimento for nos próximos anos simplesmente razoável, baixando para níveis mais “normais” (por exemplo, para 20%, o que seria já muito desfavorável).

Embora a empresa tenha ultrapassado sucessivamnete todas as expectativas, há duas condicionantes de sinal contrário que são muito sensíveis e que não permitem muitas certezas. Por um lado, a capacidade de inovação e criatividade da Google são assinaláveis ao mesmo tempo que a transposição de todos os seus novos negócios para o mercado têm sido levados a cabo com uma visão estratégica e um sentido de obtenção de lucros verdadeiramente excepcionais. Por outro lado, mais tarde ou mais cedo, a verdadeira e dura concorrência (liderada pela Microsoft, mas não só) vai apertar e de que maneira, e não custará antever que vão existir estragos de certa envergadura.

Há outro aspecto importante para a apreciação do valor da empresa. A Google não distribui dividendos e tem a intenção expressa de, no futuro, continuar a adoptar uma política de retenção da totalidade dos seus lucros. Isso é um factor muito positivo.

Embora o crescimento da Google tenha sido exponencial vou estabelecer que o mesmo estabiliza, em média, no patamar mais reduzido e talvez sustentável de 30% ao ano. Por outro lado, vou considerar uma projecção a 10 anos, o que com aquele tipo de crescimento em cada um dos anos terá sempre de se considerar muito bom. Vou efectuar a actualização dos cash- flows anuais a uma taxa de 12%, que comporta já um elevado factor de risco – superior em 7% ao das aplicações sem risco - que considero suficiente para o tipo de empresa e sector em causa. Por fim, acrescentarei o valor residual de acordo com as técnicas normais para o efeito e deduzirei o valor do passivo que é reduzido, pouco mais do que simbólico.

Aplicando o meu modelo, chego ao valor de 283 dólares que, de acordo com os pressupostos utilizados, constitui para mim o valor tendencial de mercado de cada acção da Google.

Esta avaliação vale o que vale e nunca será contraditório que a cotação esteja agora bastante mais elevada. A variação do preço das acções, por vezes muito ampla, é uma característica normal dos mercados financeiros e só há que aproveitar as oportunidades que se nos deparam. De qualquer modo, com base nesta minha estimativa, já estarei em condições de ter um conhecimento de base sobre o que pode valer a Google, e poderei balizar o meu trading de forma mais satisfatória, com base num cenário em que conheço os pressupostos que estão em causa.

Não posso também deixar de sublinhar que esta foi uma clarificação que, pessoalmente, gostei de empreender. Quando li as duas últimas valorizações do Jim Cramer, que é um analista muito batido e um profissional com audição mundial, fiquei a achar que alguma coisa não batia certo, ou então eu tinha realmente muita falta de informação. Com efeito, ele fez em primeiro lugar uma avaliação da Google de 350 dólares por acção, no último trimestre do ano passado, e fez depois uma outra de 600, somente cerca de seis meses depois, após a publicação dos últimos dados da empresa.

Mais uma vez, tomei consciência de uma verdade simples: é essencial conhecer opiniões alheias seleccionadas, incluindo as do Cramer, mas nada substitui o nosso próprio trabalho e o dever de pensarmos pela nossa cabeça.

Bons negócios a todos.

Um abraço
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