Caldeirão da Bolsa

anatomia de um silêncio

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por MP » 31/10/2005 0:41

Jack escreveu:
Sugiro um livro, (curiosamente, ou não...) incluído na bibliografia relativa ao tema Globalização da prova escrita de cultura geral na última candidatura de acesso ao CEJ, do autor americano Noam Chomsky:

Neoliberalismo e ordem global - crítica do lucro

Obrigado pela sugestão.

A meu ver, um livro indispensável para quem está farto de sentir que os políticos nos tomam por parvos...

Como é óbvio só depois de ler poderei emitir a minha opinião.
 
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por Jack » 30/10/2005 18:50

MP Escreveu:Quando numa curta intervenção atrás referi que não era este o local mais apropriado para o debate destes assuntos, filo pela única razão de me parecer que os administradores deste fórum cultivam esse tipo de atitude.

Para mim, o sentimento que me acompanha, que de resto, por aquilo que me apercebo, é comum a uma parte significativa da população, é a de que há muitas matérias que são escamoteadas na nossa sociedade, ora isto deixa-me perplexo quando em todos os cantos se enche a boca com a palavra democracia…

Ao serviço de quem está a nossa comunicação social?!..., quais os verdadeiros interesses que os movem?!..., quais as limitações que lhes são impostas?!..., etc, etc, etc.


Sugiro um livro, (curiosamente, ou não...) incluído na bibliografia relativa ao tema Globalização da prova escrita de cultura geral na última candidatura de acesso ao CEJ, do autor americano Noam Chomsky:

:arrow: Neoliberalismo e ordem global - crítica do lucro

Lá, entre outras "pérolas", encontrará a razão pela qual a "Demoracia" é tão velha como a "propaganda", ou se preferir, "comunicação social", e que uma não existe sem o domínio da outra.

A meu ver, um livro indispensável para quem está farto de sentir que os políticos nos tomam por parvos...
 
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por MP » 30/10/2005 18:16

Boas tardes,

Depois de um bom repasto aliado a um Domingo cinzento, que convida a estar dentro de portas, nada melhor que uma visita ao Caldeirão para uma saudável actualização acerca do mundo de capitais mas também de variados Off Topic versando assuntos da actualidade.

Como podem constatar, não sou tão interventivo como desejaria, por uma razão fundamental – a consciência de não reunir conhecimentos suficientemente sólidos para poder expressar de uma forma mais assídua o que me vai na alma.

Quando numa curta intervenção atrás referi que não era este o local mais apropriado para o debate destes assuntos, filo pela única razão de me parecer que os administradores deste fórum cultivam esse tipo de atitude.

Para mim, o sentimento que me acompanha, que de resto, por aquilo que me apercebo, é comum a uma parte significativa da população, é a de que há muitas matérias que são escamoteadas na nossa sociedade, ora isto deixa-me perplexo quando em todos os cantos se enche a boca com a palavra democracia…

Ao serviço de quem está a nossa comunicação social?!..., quais os verdadeiros interesses que os movem?!..., quais as limitações que lhes são impostas?!..., etc, etc, etc.

Precisamos da coragem de muitos Drs. António Marinho, para que essa palavra democracia, o seja de facto, e, não sirva apenas para uns quantos debaixo da “capa” da mesma estarem sobejamente de “barriga cheia”.

Que a sociedade desperte rapidamente para por a nu este flagelo da democracia instalada!!!...


Cumprimentos a todos
 
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por Jameson » 30/10/2005 17:16

30.10.05
Coincidências, certamente

Ao longo dos últimos tempos, Joaquim Vieira, o então director da revista «Grande Reportagem» tinha vindo a relembrar várias questões polémicas e nunca muito claras relativas ao período macaense de Soares e de uma série de dirigentes das actuais cúpulas socialistas.

Pois não é que foi liminar e imediatamente despedido na passada semana? E a própria revista será extinta no próximo mês de Dezembro?

Sabendo o que ainda é o Grupo Lusomundo, tenho a certeza que tal assunto não merecerá muito mais do que umas cinco linhas nos outros orgãos de informação, dando apenas conta do encerramento de mais uma publicação, mas não questionando os motivos do despedimento ou do encerramento da publicação.

Nota: o que é feito dos desenvolvimentos, por parte do «Público», relativo aos alegados contactos entre Fátima Felgueiras e os dirigentes do PS, prometido por José Manuel Fernandes para depois das autárquicas?

Gabriel at 15:36


http://ablasfemia.blogspot.com/2005/10/ ... mente.html
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por ptmasters » 30/10/2005 15:21

WHITE CANDLE Escreveu:nao consigo perceber o porquê deste local nao ser o mais apropriado.

este tipo de informaçao interessa a toda a gente. pelo menos deve... nao acho que se possa ver esta informaçao como campanha eleitoral. afinal vamos vendo informaçao aqui postada virada para ambos os lados e cores. muitas vezes colocadas pelos mesmo membros, o que mostra bem a intençao de informar e nao manipular.

depois, onde deveriamos colocar estas poucas informaçoes vergonhasas? no jornal "O Crime",... deve tambem estar cheio. acho muito bem que se coloque aqui, pois muitos como eu, tem este local como muito informativo a varios niveis. um verdadeiro serviço publico.

depois, sendo um local onde se fala de bolsa, directa e indirectamente este tipo de informaçao, toca na economia portuguesa.

afinal, existe uma "certa" correlaçao entre a economia e os mercados...

cumps.


subscrevo inteiramente

1 ab
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por WHITE CANDLE » 30/10/2005 13:43

nao consigo perceber o porquê deste local nao ser o mais apropriado.

este tipo de informaçao interessa a toda a gente. pelo menos deve... nao acho que se possa ver esta informaçao como campanha eleitoral. afinal vamos vendo informaçao aqui postada virada para ambos os lados e cores. muitas vezes colocadas pelos mesmo membros, o que mostra bem a intençao de informar e nao manipular.

depois, onde deveriamos colocar estas poucas informaçoes vergonhasas? no jornal "O Crime",... deve tambem estar cheio. acho muito bem que se coloque aqui, pois muitos como eu, tem este local como muito informativo a varios niveis. um verdadeiro serviço publico.

depois, sendo um local onde se fala de bolsa, directa e indirectamente este tipo de informaçao, toca na economia portuguesa.

afinal, existe uma "certa" correlaçao entre a economia e os mercados...

cumps.
White Candle
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por Jack » 30/10/2005 13:40

Acrescenta Mateus no livro que o grupo de Soares queria ligar-se a Ho e à Interfina (uma empresa portuguesa arregimentada por Almeida Santos) no gigantesco projecto de assoreamento e desenvolvimento urbanístico da baía da Praia Grande, em Macau, lançado ainda por Melancia, e onde estavam “previstos lucros de milhões de contos”.


Até aqui, nada de novo...

Esse projecto na baía da Praia Grande é a Nam Vam. Para se ter uma pequena noção da dimensão do que foi essa obra, só para executar a obra até ao piso térreo, foram 40 milhões de contos. Foi uma obra enorme.

A Interfina tinha (e tem) como testa de ferro, Ferro Ribeiro. A mesma que adquiriu a Construções Técnicas (responsável pela obra até ao piso térreo da Nam Vam) e esquartelou-a. A Construções Técnicas na altura era uma empresa de construção civil à dimensão comparável à Teixeira Duarte em termos de dimensão e significado, comparativamente. E foi esquartejada e vendida toda aos bocados para Ferro Ribeiro como testa de ferro a Almeida Santos e outros do PS lucrarem.

Deixo um post no ClubeInvest, com a EDP em fundo de conversa, quando se falou no interesse de Stanley Ho em mais 5% da EDP;

Jornal de Negócios a 18 de Maio Escreveu:Stanley Ho pretende reforçar até 5% no capital social da EDP até ao final do presente ano. Actualmente, o dono da Estoril-Sol detém menos de 2% do capital da eléctrica portuguesa."

Partes do qu foi comentado na altura:

Fico com a sensação que esta notícia é verdadeira. Mas não é benéfica ao evoluir da cotação. Por mais estranho que possa parecer, neste caso, dizer a verdade pode não ajudar. Fico com a ideia que o Tio Stanley devia pensar melhor a sua estratégia de falar à imprensa sobre a EDP.

Vou começar pelo óbvio. Ferro Ribeiro tem excelentes relações com o PS. Portanto, não é de estranhar que o aparecimento de um governo PS o faça "voltar". Seria interessante (já que ultimamente o tema "influências" anda na moda) ver o percurso dele e as coincidências de contactos pessoais de largos anos, ainda do tempo das ex-colónias, com o pai dele e o Almeida Santos.

Dito isto, pode-se assumir que ele terá formas "rápidas" de saber como anda a evoluir o processo das energias em Portugal. Quando vem cá para fora esta notícia, poderei concluir que pelo menos até ao final do ano o governo não vai decidir nada. Isto não é lá muito bom...

(...)

Vem dizer aos media que quer aumentar para 5%. Se realmente quer, que o faça, não venha dizer que vai fazer. Ou será que não sabe que ao dizer que quer aumentar para 5% (mas acrescentando que só o fará lá para o final do ano, estando agora em Maio) o que realmente está a provocar é uma desvalorização da cotação?
É que se quer aumentar para 5% (o que implica dizer que acha que está num bom negócio e que a prazo ainda será melhor dado que quer aumentar posição) significaria que as cotações subissem e na altura em realmente aumentasse para 5% estaria a pagar mais do que agora. Portanto só se pode concluir que quer-se desfazer da posição ou inflacionar a cotação (de uma forma infantil...).

Ou então o que disse é tudo verdade e mostra que não sabe passar informações ao mercado porque as suas declarações têm resultados opostos ao que declara. Parece-me que o Ferro Ribeiro tentou emendar esta percepção ao declarar a sociedade que vai ser criada para transmitir credibilidade à operação. Enfim... o Tio Stanley aqui meteu a pata na poça ao dizer a verdade. E o Ferro Ribeiro tentou emendar a coisa...

Resumindo e baralhando, é de continuar a acompanhar esta novela dado que com estas notícias poder-se-á descrutinar o evoluir do processo das energias em Portugal. E pelos vistos, até ao final do ano não vai haver notícias.


Posteriormente...

Diário Económico a 23 de Maio Escreveu:
"Stanley Ho e asiáticos querem comprar até 10% da eléctrica

Ana Maria Gonçalves e Luís Villalobos


Os dois empresários reforçarão, até Julho, para 5%. O objectivo é integrar o núcleo duro de accionistas.

Um grupo de investidores da República Popular da China está preparar a aquisição de 5% da EDP, numa estratégia de investimento em Portugal sugerida por Stanley Ho e por Jorge Ferro Ribeiro, que, por sua vez, irão atingir 5% da eléctrica nacional até Julho."


Agora pergunto, estas declarações e posterior não acção do que foi afirmado (se se tivesse concretizado em Julho, concerteza teriamos sabido por comunicado da EDP), não merecerá atenção por parte da CMVM dado que estas afirmações poderão ser interpretadas como tentativas de manipulação de mercado?
 
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por Jameson » 30/10/2005 12:43

2005-10-27 - 02:45:00
Joaquim Vieira despedido

Imagem

Joaquim Vieira, director da ‘Grande Reportagem’, detida pelo grupo Controlinveste, foi ontem despedido.
O jornalista, que terá de sair até sexta-feira, foi, igualmente, informado de que a revista será fechada até Dezembro. As razões de tais medidas são desconhecidas.

Recorde-se que Vieira tem vindo a escrever sobre o polémico livro de Rui Mateus, onde se aludia a ligações do PS de Soares ao caso Emáudio.
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por tava3 » 3/10/2005 19:06

Parece que chegamos à mesma conclusao, no segundo ponto.

:wink:
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por MP » 3/10/2005 19:02

Lá vai isto descambar...

Se for por uma boa causa acho que vale a pena, somente ressalvo o facto de não ser este o local apropriado.
 
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por manitas de plata » 3/10/2005 18:55

Jameson Escreveu:besides, o Cavaco já ganhou com maioria, sem ainda ser sequer candidato...campanha eleitoral se calhar até é contraprucedente


Querias talvez dizer, contraproducente? :)
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por tava3 » 3/10/2005 18:54

Lá vai isto descambar...

:roll:
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por Incognitus » 3/10/2005 18:53

É informação bem relevante.

Foi fantástico como separaram esse processo entre "corrompedores" e "corruptos", e depois chegaram à conclusão que existiram corrompedores mas não existiram corruptos.

E este É o melhor momento para este género de informação ser relembrada. Para que se saiba o ponto a que Portugal chegou, há uns anos atrás, e do qual ainda não melhorou.
"Nem tudo o que pode ser contado conta, e nem tudo o que conta pode ser contado.", Albert Einstein

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Desmascarar...

por MP » 3/10/2005 18:47

Eu nunca percebi, ou se calhar até percebo!..., a razão pela qual essa "gentinha" não é desmacarada de uma vez por todas, para que assim deixem de enganar uma parte da humanidade...!

E mais não digo...
 
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por Jameson » 3/10/2005 18:39

besides, o Cavaco já ganhou com maioria, sem ainda ser sequer candidato...campanha eleitoral se calhar até é contraprucedente
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por tava3 » 3/10/2005 18:31

Chamem-lhe o que quiserem mas nesta altura...
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por Jameson » 3/10/2005 18:28

isto não é campanha eleitoral, é informação
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por tava3 » 3/10/2005 18:27

Este nao é o local ideal para fazer campanha eleitoral!
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anatomia de um silêncio

por Jameson » 3/10/2005 16:57

anatomia de um silêncio

Em Portugal não se investiga, insinua-se, em Portugal nunca há factos apenas suspeitas, também nunca há inocentes, apenas quem não foi declarado culpado.

Joaquim Vieira, jornalista conceituado, que dispensa apresentações, ex-número dois do Expresso, tem publicado na Grande Reportagem uma série de textos bastante ácidos sobre Mário Soares. Ora a Grande Reportagem, distribuída semanalmente com o JN e DN, não é exactamente um qualquer pasquim ao nível d' O Crime, do Semanário ou um qualquer jornal de vão de escada, pelo que as reflexões de Joaquim Vieira mereceriam outra atenção.

Atente-se pois no que diz Vieira, que cita profusamente um livro - real, publicado - de Rui Mateus, personagem também real, numa série de artigos sugestivamente entitulada "O Polvo"...


Parte 1
publicado a 3 de Setembro de 2005, na Grande Reportagem nº 243.

Além da brigada do reumático que é agora a sua comissão, outra faceta distingue a candidatura de Mário Soares a Belém das anteriores: surge após a edição de Contos Proibidos - Memórias de um PS desconhecido, do seu ex-companheiro de partido Rui Mateus.

O livro, que noutra democracia europeia daria escândalo e inquérito judicial, veio a público nos últimos meses do segundo mandato presidencial de Soares e foi ignorado pelos poderes da República. Em síntese, que diz Mateus? Que, após ganhar as primeiras presidenciais, 1986, Soares fundou com alguns amigos políticos um grupo empresarial destinado a usar os fundos financeiros remanescentes da campanha. Que a esse grupo competia canalizar apoios monetários antes dirigidos ao PS, tanto mais que Soares detestava quem lhe sucedeu no partido, Vítor Constâncio (um anti-soarista), e procurava uma dócil alternativa a essa liderança.

Que um dos objectivos da recolha de dinheiros era para financiar a reeleição de Soares. Que, não podendo presidir ao grupo por razões óbvias, Soares colocou os amigos como testas-de-ferro, embora reunisse amiúde com eles para orientar a estratégia das empresas, tanto em Belém como nas suas residências particulares. Que, no exercício do seu “magistério de influência” (palavras suas noutro contexto), convocou alguns magnatas internacinais – Rupert Murdoch, Sílvio Berlusconi, Robert Maxwell e Stanley Ho – para o visitarem na Presidência da República e se associarem ao grupo, a troco de avultadas quantias que pagariam para facilitação dos seus investimentos em Portugal.

Note-se que o “Presidente de todos os portugueses” não convidou os empresários a investir na economia nacional, mas apenas no seu grupo, apesar dos contribuintes suportarem despesas de estada. Que moral tem um país para criticar Avelino Ferreira Torres, Isaltino Morais, Valentim Loureiro ou Fátima Felgueiras se acha normal uma candidatura presidencial manchada por estas revelações? E que foi feito dos negócios do Presidente Soares? Pela relevância do tema, ficará para próximo desenvolvimento.




Parte 2
publicado a 10 de Setembro de 2005, na Grande Reportagem nº 244.

A rede de negócios que Soares dirigiu enquanto Presidente foi sedeada na empresa Emaudio, agrupando um núcleo de próximos seus, dos quais António Almeida Santos, eterna ponte entre política e vida económica, Carlos Melancia, seu ex-ministro, e o próprio filho, João. A figura central era Rui Mateus, que detinha 60 mil acções da Fundação de Relações Internacionais (subtraída por Soares à influência do PS após abandonar a sua liderança), as quais eram do Presidente mas de que fizera o outro fiel depositário na sua permanência em Belém – relata Mateus em Contos Proibidos.

Soares controlaria assim a Emaudio pelo seu principal testa-de-ferro no grupo empresarial. Diz Mateus que o Presidente queria investir nos média: daí o convite inicial para Sílvio Berlusconi (o grande senhor da TV italiana, mas ainda longe de conquistar o governo) visitar Belém. Acordou-se a sua entrada com 40% numa empresa em que o grupo de Soares reteria o resto, mas tudo se gorou por divergências no investimento. Soares tentou então a sorte com Rupert Murdoch, que chegou a Lisboa munido de um memorando interno sobre a associação a “amigos íntimos e apoiantes do Presidente Soares”, com vista a “garantir o controlo de interesses nos média favoráveis ao Presidente Soares e, assumimos, apoiar a sua reeleição”. Interpôs-se porém outro magnata, Robert Maxwell, arqui-rival de Murdoch, que invocou em Belém credenciais socialistas. Soares daria ordem para se fazer o negócio com este. O empresário inglês passou a enviar à Emaudio 30 mil euros mensais. Apesar de os projectos tardarem, a equipa de Soares garantira o seu “mensalão”.

Só há quatro anos foi criminalizado o tráfico de influências em Portugal, com a adesão à Convenção Penal Europeia contra a Corrupção. Mas a ética política é um valor permanente, e as suas violações não prescrevem. Daí a actualidade destes factos, com a recandidatura de Soares. O então Presidente ficaria aliás nervoso com a entrada em cena das autoridades judiciais – episódio a merecer análise própria.



Parte 3
publicado a 17 de Setembro de 2005, na Grande Reportagem nº 245.

A empresa Emaudio, dirigida na sombra pelo Presidente Soares, arrancou pouco após a sua eleição e, segundo Rui Mateus em Contos Proibidos, contava “com muitas dezenas de milhares de contos “oferecidos” por (Robert) Maxwell (…), consideráveis valores oriundos do “ex-MASP” e uma importante contribuição de uma empresa próxima de Almeida Santos.” Ao nomear governador de Macau um homem da Emaudio, Carlos Melancia, Soares permite juntar no território administração pública e negócios privados. Acena-se a Maxwell a entrega da estação pública de TV local, com a promessa de fabulosas receitas publicitárias. Mas, face a dificuldades técnicas, o inglês, tido por Mateus como “um dos grandes vigaristas internacionais”, recua.

O esquema vem a público, e Soares acusa os gestores da Emaudio de lhe causarem perda de popularidade, anuncia-lhes alterações ao projecto e exige a Mateus as acções de que é depositário e permitem controlar a empresa. O testa-de-ferro, fiel soarista, será cilindrado – tal como há semanas sucedeu noutro contexto a Manuel Alegre. Mas antes resiste, recusando devolver as acções e esperando a reformulação do negócio. E, quando uma empresa reclama por não ter contrapartida dos 50 mil contos (250 mil euros) pagos para obter um contrato na construção do novo aeroporto de Macau, Mateus propõe o envio do fax a Melancia exigindo a devolução da verba.

O Governador cala-se. Almeida Santos leva a mensagem a Soares, que também se cala. Então Mateus dá o documento a’O Independente, daqui nascendo o “escândalo do fax de Macau”. Em plena visita de Estado a Marrocos, ao saber que o Ministério Público está a revistar a sede da Emaudio, o Presidente envia de urgência a Lisboa Almeida Santos (membro da sua comitiva) para minimizar os estragos. Mas o processo é inevitável. Se Melancia acaba absolvido, Mateus e colegas são condenados como corruptores. Uma das revelações mais curiosas do seu livro é que o suborno (sob o eufemismo de “dádiva pública”) não se destinou de facto a Melancia mas “à Emaudio ou a quem o Presidente da República decidisse”. Quem afinal devia ser réu?



Os factos nem parecem muito difíceis de confirmar, ou desmentir, e no entanto é mais fácil - mais confortável - ignorá-los, não se confia na justiça ou porque não se acredita que funcione em tempo útil, ou por que se tem medo que funcione, em vida, e as dúvidas, os boatos, os rumores, a 'fama' persistem. E é assim, passo a passo, que lentamente se vai destruíndo de vez a confiança dos portugueses nas instituições. Por incúria, por medo, por desleixo, até por arrogância, porventura de fantasmas e até... da própria sombra.

N.A. Como adenda, e perdoem-me o sarcasmo que é preciso por as coisas no seu devido lugar, talvez conviesse meditar no generoso silêncio dedicado ao conteúdo destes artigos de Vieira, e ao livro de Mateus, por parte de alguns dos e(ste)ticistas do regime quando comparado com a, também ela generosa, campanha em curso contra alguns 'antros' 'anónimos' de pensamento livre e desalinhado... Ou, será que as coisas já evoluiram tanto, tanto, que agora só existem depois de serem tratadas em blog ? É que a Grande Reportagem tem uma tiragem superior a 100 000 exemplares, nós ainda não... Entretanto, por essas e por outras, do Brasil até gozam... Como adenda suplementar convém frisar que o problema não é novo, ou sequer isolado, antes é estrutural e crónico. Atente-se na GALP e nas maravilhas que por lá se passa(ra)m. No mínimo, os factos - 'estranhos' - mereceriam uma investigação apurada, judicial e jornalística, no entanto...


O Polvo, Parte 4

publicado a 24 de Setembro de 2005, na Grande Reportagem nº 246.

por Joaquim Vieira.

Ao investigar o caso de corrupção na base do “fax de Macau”, o Ministério Público entreviu a dimensão da rede dos negócios então dirigidos pelo Presidente Soares desde Belém. A investigação foi encabeçada por António Rodrigues Maximiano, Procurador-geral adjunto da República, que a dada altura se confrontou com a eventualidade de inquirir o próprio Soares.

Questão demasiado sensível, que Maximiano colocou ao então Procurador-geral da República, Narciso da Cunha Rodrigues. Dar esse passo era abrir a Caixa de Pandora, implicando uma investigação ao financiamento dos partidos políticos, não só do PS mas também do PSD – há quase uma década repartindo os governos entre si. A previsão era catastrófica: operação “mãos limpas” à italiana, colapso do regime, república dos Juízes.

Cunha Rodrigues, envolvido em conciliábulos com Soares em Belém, optou pela versão mínima: deixar de fora o Presidente e limitar o caso a apurar se o Governador de Macau, Carlos Melancia, recebera um suborno de 250 mil euros.

Entretanto, já Robert Maxwel abandonara a parceria com o grupo empresarial de Soares, explicando a decisão em carta ao próprio Presidente. Mas logo a seguir surge Stanley Ho a querer associar-se ao grupo soarista, intenção que segundo relata Rui Mateus em Contos Proibidos, o magnata dos casinos de Macau lhe comunica “após consulta ao Presidente da República, que ele sintomaticamente apelida de boss.

Só que Mateus cai em desgraça, e Ho negociará o seu apoio com o próprio Soares, durante uma “presidência aberta” que este efectua na Guarda. Acrescenta Mateus no livro que o grupo de Soares queria ligar-se a Ho e à Interfina (uma empresa portuguesa arregimentada por Almeida Santos) no gigantesco projecto de assoreamento e desenvolvimento urbanístico da baía da Praia Grande, em Macau, lançado ainda por Melancia, e onde estavam “previstos lucros de milhões de contos”.

Com estas operações, esclarece ainda Mateus, o Presidente fortalecia uma nova instituição: a Fundação Mário Soares. Inverosímil? Nada foi desmentido pelos envolvidos, nem nunca será.



O Polvo,Parte 5, conclusão
publicado a 1 de Outubro de 2005, na Grande Reportagem nº 247.

por Joaquim Vieira.

As revelações de Rui Mateus sobre os negócios do Presidente Soares, em Contos Proibidos, tiveram impacto político nulo e nenhuns efeitos. Em vez de investigar práticas porventura ílicitas de um Chefe de Estado, os jornalistas preferiram crucificar o autor pela “traição” a Soares (uma tese académica elaborada por Estrela Serrano, ex-assessora de imprensa em Belém, revelou as estratégias de sedução do Presidente sobre uma comunicação social que sempre o tratou com indulgência.)

Da parte dos soaristas, imperou a lei do silêncio: comentar o tema era dar o flanco a uma fragilidade imprevisível. Quando o livro saiu, a RTP procurou um dos visados para um frente-a-frente com Mateus – todos recusaram. A omertá mantém-se: o desejo dos apoiantes de Soares é varrer para debaixo do tapete esta história (i)moral da III República, e o próprio, se interrogado sobre o assunto, dirá que não fala sobre minudências, mas sobre os grandes problemas da Nação.

Com a questão esquecida, Soares terminou em glória uma histórica carreira política, mas o anúncio da sua recandidatura veio acordar velhos fantasmas. O mandatário, Vasco Vieira de Almeida, foi o autor do acordo entre a Emaudio e Robert Maxwell. Na cerimónia do Altis, viram-se figuras centrais dos negócios soaristas, como Almeida Santos ou Ílidio Pinho, que o Presidente fizera aliar a Maxwell. Dos notáveis próximos da candidatura do “pai da pátria”, há também homens da administração de Macau sob a tutela de Soares, como António Vitorino e Jorge Coelho, actuais eminências pardas do PS, ou Carlos Monjardino, conselheiro para a gestão dos fundos soaristas e presidente de uma fundação formada com os dinheiros de Stanley Ho.

Outros ex-“macaenses” influentes são o ministro da Justiça Alberto Costa, que, como director do Gabinete da Justiça do território, interveio para minorar os estragos entre o soarismo e a Emaudio, ou o presidente da CGD por nomeação de Sócrates, que o Governador Melancia pôs à frente das obras do aeroporto de Macau.

Será o Polvo apenas uma teoria de conspiração?


E depois, Macau, sempre Macau.


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