Caldeirão da Bolsa

MANIFESTO: O investimento público não faz milagres

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por jepm » 28/7/2005 12:50

Caro Valves,
valves Escreveu:Boas tardes em relação ao Aeroporto da Ota 100 % de acordo de que é totalmente desnecessário agora em relação ao TGV já não me parece uma obra assim tão descabida o TGV vai tornar bastante mais rapido a ligação Norte/Sul vai melhorar a capacidade de mobilidade de pessoas e bens para alem de a ligação a espanha e á Europa ficar mais rapida. Agora é preciso ver que estes 2 investimentos são necessários o sector privado por si só não consegue puxar a economia e se a economia não crescer acima de 2% o que será impossivel sem os tais investimentos que foram referidos simplesmente o desemprego não vai decrescer ...

Um abraço

Vasco


Em relação ao TGV há que distinguir entre a ligação Lisboa-Madrid (que a meu ver, faz sentido, na perspectiva de uma linha europeia de alta velocidade, desde que permita também o transporte de mercadorias) e as restantes ligações (Porto-Lisboa, Porto-Vigo, Aveiro-Madrid, ...).

Estas restantes ligações não me parecem muito interessantes para o País, visto que:
+ Porto - Lisboa - o Alfa, com a linha quadruplicada (duas linhas para regionais e inter-regionais e, duas linhas para alfas, intercidades e outros que necessitem de ser rápidos) para a qual já se gastou e se está a gastar muito dinheiro, não deveria demorar mais de 2h15 - o Alfa já hoje faz 180-190 km/h em muitos troços da linha. O TGV demorará 1h30 - 1h45, i.e., ganha-se 30 a 45 minutos. Valerá a pena o investimento adicional necessário ?

+ Porto - Vigo - provavelmente resolve-se com a melhoria da linha, de modo a poderem ser utilizados Alfas e Intercidades [suponho que os custos sejam significativamente menores],

+ Aveiro - Madrid - em minha opinião é necessário modernizar a linha da Beira Alta, mas isso poderá ser feito sem necessidade de TGV (precisamos de uma linha para passageiros e mercadorias) [suponho que os custos sejam significativamente menores]

Bons negócios,

jepm
 
Mensagens: 69
Registado: 4/11/2002 22:33

por pedrom » 28/7/2005 11:08

Sou contra qualquer uma das obras, pois acho que as mesmas vão empenhar o nosso pais.

Chamo a atenção que se acontecer o mesmo que tem acontecido em todas as grandes obras públicas o custos das mesmas pode ser multiplicado por 4X.....culpados no final??? não vão existir!!!
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 2317
Registado: 29/7/2004 19:55
Localização: Ourém

por JCS » 28/7/2005 10:53

Continuo com a minha. "Não há dinheiro, não há vícios", adiava-se para quando houvesse saúde financeira em Portugal (assim nem daqui a uma ou duas décadas). Não se admite gastarem-se Biliões em obras megalómanas e os bombeiros por exemplo não terem veículos à altura para apagar um mísero fogo (poderia estar aqui um dia inteiro a dar exemplos). Há muitissimo a fazer antes de TGV's e OTA's, pelo que considero isto uma desgovernação. Penso que o futuro me dará razão (até porque não é a 1ª vez que estes senhores fazem coisas destas). Ficarei contente se estiver enganado...

Cumprimentos

JCS
---Tudo o que for por mim escrito expressa apenas a minha opinião pessoal e não é uma recomendação de investimento de qualquer tipo---
https://twitter.com/JCSTrendTrading
"We can confidently predict yesterdays price. Everything else is unknown."
"Every trade is a test"
"Price is the aggregation of everyone's expectations"
"I don't define a good trade as a trade that makes money. I define a good trade as a trade where I did the right thing". (Trend Follower Kevin Bruce, $5000 to $100.000.000 in 25 years).
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 4582
Registado: 15/7/2003 14:59
Localização: Lisboa

por pedras11 » 27/7/2005 21:46

valves Escreveu:Boas tardes em relação ao Aeroporto da Ota 100 % de acordo de que é totalmente desnecessário agora em relação ao TGV já não me parece uma obra assim tão descabida o TGV vai tornar bastante mais rapido a ligação Norte/Sul vai melhorar a capacidade de mobilidade de pessoas e bens para alem de a ligação a espanha e á Europa ficar mais rapida. Agora é preciso ver que estes 2 investimentos são necessários o sector privado por si só não consegue puxar a economia e se a economia não crescer acima de 2% o que será impossivel sem os tais investimentos que foram referidos simplesmente o desemprego não vai decrescer ...

Um abraço

Vasco


No que diz respeito á ligação Porto-Vigo( se existir), para os habitantes dos arredores do Porto a viagem via TGV ainda ficará mais longa e despendiosa.

Sou contra ambos os projectos. Quem não tem cão, caça com gato. :lol:
"O desprezo pelo dinheiro é frequente, sobretudo naqueles que não o possuem"

Fonte: "La Philosophie de G. C."
Autor: Courteline , Georges

Site porreiro para jogar (carregar em Arcade) : www.gamespt.net
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 2337
Registado: 31/10/2004 1:09
Localização: gemunda

por pjrm » 27/7/2005 21:40

Caro Pedrinho,

As suas histórias não podiam ser mais verdadeiras. E olhe que a camada jovem vai pelo mesmo caminho. As Js (JSD e JS) foram tomadas por aqueles que menos competências tinham. Muitos foram meus colegas. Os que tinham potencial e honestidade começaram a trabalhar e tornaram-se em elementos produtivos da sociedade. Aqueles que se destacavam pela falta de competências, quer em termos intelectuais quer em termos de honestidade, juntaram-me a um partido político. Por isso acho que vamos mesmo precisar da dita revolução porque senão a coisa não vai lá.
 
Mensagens: 11
Registado: 5/2/2005 21:17

por alexandre7ias » 27/7/2005 19:51

Jameson Escreveu:as autárquicas têm um peso importante, depois das eleições acredito que ponham portagens nas SCUT (ou pelo menos em parte delas) e deixam estes 2 projectos em águas de bacalhau...


Não acredito nisso...mas era bom que assim fosse, para ver se o pessoal acorda.
Recentemente foi a Lisboa e utilizei a ponte Vasco da Gama ( Gama que palavra maravilhosa ), tanto para um lado como para o outro, mas só paguei uma vez. Ora se utilizei a mesma ponte, porque não paguei as duas vezes? (era epoca de saldos, mas não penso que fosse por isso)



Não são mais que "caprichos" socialistas (como sempre). Quando estiverem feitas as obras seremos nós a pagá-las e não se vislumbra saída deste triste fado enquanto tivermos eleitores com a memória curta


Tambem concordo, mas quem as vai pagar no nosso vizinho (e o investimento é varias vezes superior ao nosso). Pelo menos temos a possibilidade de poder passar para o outro lado mais rapidamente, mas tambem quando estiver construido já não havera muita gente (Só se for para as férias).
O Sol brilha todos os dias, os humanos é que não!
Android Mobile
Imagem
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 3732
Registado: 24/2/2005 19:41
Localização: Maia

por valves » 27/7/2005 19:31

Boas tardes em relação ao Aeroporto da Ota 100 % de acordo de que é totalmente desnecessário agora em relação ao TGV já não me parece uma obra assim tão descabida o TGV vai tornar bastante mais rapido a ligação Norte/Sul vai melhorar a capacidade de mobilidade de pessoas e bens para alem de a ligação a espanha e á Europa ficar mais rapida. Agora é preciso ver que estes 2 investimentos são necessários o sector privado por si só não consegue puxar a economia e se a economia não crescer acima de 2% o que será impossivel sem os tais investimentos que foram referidos simplesmente o desemprego não vai decrescer ...

Um abraço

Vasco
Aqui no Caldeirão no Longo Prazo estamos todos ricos ... no longuissimo prazo os nossos filhos estarão ainda mais ricos ...
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 2861
Registado: 17/4/2004 15:36

por JCS » 27/7/2005 12:51

Pedrinho Escreveu:Caro JCS, isto como se diz na gíria "está entregue à bicharada" é preciso portanto um insecticida muito forte, e se calhar só uma revolta popular o vai conseguir (infelizmente).


:mrgreen:
:mrgreen:
---Tudo o que for por mim escrito expressa apenas a minha opinião pessoal e não é uma recomendação de investimento de qualquer tipo---
https://twitter.com/JCSTrendTrading
"We can confidently predict yesterdays price. Everything else is unknown."
"Every trade is a test"
"Price is the aggregation of everyone's expectations"
"I don't define a good trade as a trade that makes money. I define a good trade as a trade where I did the right thing". (Trend Follower Kevin Bruce, $5000 to $100.000.000 in 25 years).
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 4582
Registado: 15/7/2003 14:59
Localização: Lisboa

por Pedrinho » 27/7/2005 12:30

JCS Escreveu:Não são mais que "caprichos" socialistas (como sempre). Quando estiverem feitas as obras seremos nós a pagá-las e não se vislumbra saída deste triste fado enquanto tivermos eleitores com a memória curta. Ainda nem se sabe como se irão pagar os €700 milhões/ano (durante 25 anos!) das SCUT's que estas rosinhas arranjaram e já falam em gastar €25 biliões na situação actual. Quantos ás SCUT's sabemos que não convém pôr portagens antes das autárquicas (no orçamento de 2006 logo se verá).
Que se fizessem quando houvesse saúde financeira para tal.
Os próximos serão os piores quando forem obrigados a ir à carteira dos portugueses para pagar a noção de desenvolvimento que este 1º ministro tem (caprichos e mais caprichos)...

Apetece-me emigrar...

JCS


Olha JCS, não se trata de ser Socialista ou de outro partido, o que este país precisava era de uma "formatação" começando pela classe politica que se aproveitou do 25 de Abril, para saquear e encher os bolsos à custa do sacrifício do "povo".
Recordo-me muito bem do Sócrates, quando estudava na secundária S. Pedro em V. Real, era um "peneirento" e passava a via a jogar damas num extinto café (excelsior), era teimoso como uma "burra" com ideias demasiadas "fixas", tem as suas virtudes eu sei mas também pontos negativos. Temos outro caso o Ascêncio Simões (Adm. Interna), foi levado também ao colo durante estes 20 anos pela classe politica, durante anos nunca conseguiu ser presidente da câmara de V. Real, e porquê? Porque as pessoas locais conheciam bem a falta de competência, nunca tinha feito nada na vida, inclusive teve dificuldades em acabar o secundário, mas a classe politica lá se encarregou de o fazer e até lhe deu há pouco tempo o mestrado :lol: para poder usar o DR. :shock:
Mas a mim o que mais me preocupa são depois passado algum tempo estes políticos surgirem como sócios de empresas que nem sei como surgiram ou de onde vieram, administradores de outras, enfim eu pergunto-me onde tinham eles dinheiro para as abrir :wink: se nunca fizeram nada na vida profissionalmente.
Os nossos políticos não passam de figuras públicas fabricadas com a ajuda dos média, ainda esta semana me perguntava: Mas afinal quem foi Manuel Alegre e que fez ele pelo País, para ser candidato a P.R.?
Infelizmente recordo-me de Cavaco Silva (homem sabedor) e do seus "homens", quase todos eles, com as garras de fora para poderem sacar o máximo a este país (muitos deles passaram em poucos anos a serem donos de grandes empresas ou administradores com ordenados equiparados aos países mais ricos), e Cavaco apercebeu-se disso, viu que este país estava e está entregue a "legislação" que é feita de e para interesses de alguns e não para o País, quem não se lembra de Dias Loureiro e a história dos concursos que as suas empresas ganhavam?
Caro JCS, isto como se diz na gíria "está entregue à bicharada" é preciso portanto um insecticida muito forte, e se calhar só uma revolta popular o vai conseguir (infelizmente).
 
Mensagens: 54
Registado: 4/12/2002 19:08
Localização: Norte

Pois..

por GRodri » 27/7/2005 12:13

Pois....ainda por cima vi em qualquer lado que a linha TGV prevista para passar pelo novo aeroporto da Ota já não se vai efectuar.....vai de Lisboa para Madrid sem por lá passar, nem perto!.....cada vez me dá mais vontade de emigrar!

Abraço

Gordon Gekko
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 245
Registado: 7/5/2005 21:41
Localização: USA

por Jameson » 27/7/2005 11:58

as autárquicas têm um peso importante, depois das eleições acredito que ponham portagens nas SCUT (ou pelo menos em parte delas) e deixam estes 2 projectos em águas de bacalhau...
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 1009
Registado: 1/5/2005 20:31

por JCS » 27/7/2005 11:50

Não são mais que "caprichos" socialistas (como sempre). Quando estiverem feitas as obras seremos nós a pagá-las e não se vislumbra saída deste triste fado enquanto tivermos eleitores com a memória curta. Ainda nem se sabe como se irão pagar os €700 milhões/ano (durante 25 anos!) das SCUT's que estas rosinhas arranjaram e já falam em gastar €25 biliões na situação actual. Quantos ás SCUT's sabemos que não convém pôr portagens antes das autárquicas (no orçamento de 2006 logo se verá).
Que se fizessem quando houvesse saúde financeira para tal.
Os próximos serão os piores quando forem obrigados a ir à carteira dos portugueses para pagar a noção de desenvolvimento que este 1º ministro tem (caprichos e mais caprichos)...

Apetece-me emigrar...

JCS
---Tudo o que for por mim escrito expressa apenas a minha opinião pessoal e não é uma recomendação de investimento de qualquer tipo---
https://twitter.com/JCSTrendTrading
"We can confidently predict yesterdays price. Everything else is unknown."
"Every trade is a test"
"Price is the aggregation of everyone's expectations"
"I don't define a good trade as a trade that makes money. I define a good trade as a trade where I did the right thing". (Trend Follower Kevin Bruce, $5000 to $100.000.000 in 25 years).
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 4582
Registado: 15/7/2003 14:59
Localização: Lisboa

por Jameson » 27/7/2005 11:44

não te esqueças daquela solução também bastante popular na América Latina para esconder os problemas: entrar em guerra com os vizinhos 8-)
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 1009
Registado: 1/5/2005 20:31

por UmPataconcio » 27/7/2005 11:28

O problema é que isto já parece o modelo de desenvolvimento de países de terceiro mundo.

Quando o país está mal devido ao défice, divida publica, excesso de impostos (sobretudo indirectos) e ao brutal peso do estado no pib, a solução é endividar ainda mais o país e agravar o peso do estado... obras publicas em massa...

Ou seja, atirar a batata quente ao ar e deixar para o governo seguinte a preocupação com a factura que virá... e que vai sendo progressivamente maior...

Vamos lá ver para onde isto vai...
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 98
Registado: 23/6/2005 6:22
Localização: coimbra

O Estado portugues

por vmerck » 27/7/2005 9:32

de tantos economistas ter , e não consegue ter uma politica minimamente adequada a realidade das situações, sinal claro q os votos estão muito a frente do país.Conseguem F...R o Pais so para caçar + alguns votos
O Estado gasta qd devia poupar(forte crescimento economico) , uma vez q os privados estão a consumire a investir, o aumento da despesa do Estado trara inflação .Qd a economia esta numa fase má o Estado deveria investir, gastar aquilo q amealhou na fase boa, subtituindo-se aos privados, sendo então um bom contra-balanço da economia e injectando assim massa monetaria na economia , reparem q esta injecção de liquidez não traz inflação.
Esta regra é basica a nivel econmico, mas os nossos fazem precisamente o contrario. Onde tiraram eles os cursos e sobretudo para q os tiraram?....
 
Mensagens: 1453
Registado: 2/12/2002 0:22
Localização: viseu

por Jameson » 27/7/2005 9:18

Quatro pactos e manifestos mas a crise continua...

carla aguiar

Quanto maior é a crise económica e distante a luz ao fundo do túnel, mais proliferam os "manifestos" e "compromissos", encabeçados por empresários, economistas e especialistas, que lançam diagnósticos e receitas para a recuperação, sempre com polémica assegurada. Uns vão parar, mais cedo ou mais tarde, ao Governo, outros não estão interessados.

Os últimos três anos têm sido férteis em contributos da chamada "sociedade civil". Depois do sinal de alerta da Sedes, em 2000, chamando a atenção para a inversão do ciclo prolongado de crescimento económico, assistiu-se a três vagas de fundo deste acordar das elites para os problemas do País, que vai agora a caminho da sua quarta versão, a propósito do plano de investimentos públicos.

Em Novembro de 2002 surgiu o chamado "Manifesto dos 40" , reunindo 40 notáveis para traçar diagnósticos e recomendações para as áreas das finanças públicas, educação e conceito estratégico nacional. Uma iniciativa que lançou e alimentou uma polémica durante meses e acabou por se tornar mais conhecida pela defesa dos chamados centros de decisão nacional, por oposição ao crescente domínio dos espanhóis.

Seguiu-se o chamado Pacto para a Reforma das Finanças Públicas, menos mediático e nacionalista e mais consensual, apelando para a necessidade de políticas reformistas de fundo, quando já perspectivava a crise orçamental.

Em Fevereiro de 2004 foi a vez de a autodenominada "nova geração" de decisores se juntar em torno de um amplo documento intitulado "Compromisso Portugal", que reuniu 300 pessoas no Convento do Beato. Em causa estava a discussão de um novo modelo económico de desenvolvimento, menos agarrado às "vantagens" da mão- -de-obra barata e mais apostado nas vantagens da especialização, inovação e reforma do Estado.

Agora, já em era socialista, as atenções voltam-se para os critérios do investimento público. O que permanece das iniciativas são alguns nomes, como António Carrapatoso e Nogueira Leite.
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 1009
Registado: 1/5/2005 20:31

MANIFESTO: O investimento público não faz milagres

por Jameson » 27/7/2005 9:16

O investimento público não faz milagres

"Parece ter emergido uma corrente de pensamento que acredita que a superação da crise pode estar no investimento em obras públicas, sobretudo se envolvendo grandiosos projectos convenientemente apelidados de estruturantes." "Porque a situação é séria e o País não pode, sem grandes custos, embarcar em mais experiências fantasistas, importa dizer (...) quea sua eventual concretização poderá ser desastrosa para o País."


Tem sido por demais reconhecido que Portugal vive uma profunda crise. Face à sua capacidade de gerar riqueza, a economia tem um excesso de despesa, quer ao nível das finanças públicas, quer ao nível da sociedade em geral. Tais excessos estão traduzidos, nomeadamente, nos persistentes défices das contas do Estado e das contas externas do País. Por outro lado, é notória a perda de capacidade competitiva da economia portuguesa, tal como dão conta o défice externo, o crescimento medíocre dos últimos cinco anos (e perspectivas para os próximos) e o crescente desemprego.

Este preocupante cenário requer uma urgente e dedicada concentração de esforços visando apropriadas medidas de contenção orçamental (com uma estrita selectividade das despesas públicas), de incentivo económico a favor dos sectores produtores de bens transaccionáveis, de promoção da eficiência económica (nomeadamente através da redução das ineficiências geradas pelo próprio Estado) e de uma moderação da despesa colectiva. Mas face a tal cenário parece ter emergido uma corrente de pensamento que acredita que a superação da crise pode estar no investimento em obras públicas, sobretudo se envolvendo grandiosos projectos convenientemente apelidados de estruturantes.

Porque a situação é séria e o País não pode, sem pesados custos, embarcar em mais experiências fantasistas, importa dizer, de forma muito clara, que essa ideia é errada e a sua eventual concretização poderá ser desastrosa para o País. O investimento público pode ter virtudes e pode ser um importante elemento estimulador do desenvolvimento. Mas não é, nas presentes circunstâncias da economia e das finanças públicas, o caso do investimento físico, sobretudo se dirigido a obras cujo mérito não tenha sequer sido devidamente demonstrado por estudos publicamente divulgados, credíveis e contraditáveis.

Primeiro, porque, numa situação de excesso de despesa, mais investimento em obras públicas irá favorecer sobretudo as economias de onde importamos, sem efeito sensível na capacidade produtiva da economia portuguesa, agravando o défice externo (pois só há financiamento parcial de fundos comunitários). Segundo, porque o tipo de emprego mobilizado pela construção pouco efeito terá na absorção do desemprego fabril gerado pela perda de competitividade da nossa indústria e mobilizará sobretudo a imigração. Terceiro, porque tais investimentos irão agravar ainda mais o desequilíbrio das contas públicas, seja pela despesa directa, seja pelos custos de exploração futura, seja, como aconteceu nas SCUTS, pelas inevitáveis garantias para assegurar a mobilização do sector privado. Pelo menos! Por fim, porque os portugueses não poderão compreender que lhes estejam a ser pedidos sacrifícios com impacto no seu nível de vida, quando o Estado se dispõe a gastar dinheiro em projectos sem comprovada rendibilidade económica e social.

Porque o momento é grave; porque continuar com tergiversações à volta do essencial (onde se inclui a reforma do próprio Estado), apenas ajudará o País a afundar-se numa senda de definhamento; e porque é altura de a própria sociedade civil se deixar dos brandos costumes do conformismo e dizer o que tem que ser dito; os signatários entendem dar este seu contributo à reflexão da sociedade e dos poderes políticos.
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 1009
Registado: 1/5/2005 20:31


Quem está ligado:
Utilizadores a ver este Fórum: Ano nimus, Burbano, Google [Bot], Google Adsense [Bot], Goya777, icemetal, m-m, malakas, Mavericks7, Mr.Warrior, MR32, nbms2012, nunorpsilva, O Magriço, OffTheRecord, PAULOJOAO, Phil2014, PMP69, SerCyc, serdom, Shimazaki_2, Simplório, tami, VALHALLA, yggy e 954 visitantes