Caldeirão da Bolsa

O gestor que adora quebrar consensos

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por R_Martins » 20/6/2005 19:29

Grande espertalhão este, David Bavarez...
«... tem, à sua responsabilidade, mais de 1300 milhões de euros investidos em acções europeias.»
Nossa Senhora dos Aflitos. Eu manipulava o PSI 20, todos os dias, ou seja, para alegria de muitos colegas do Caldeirão, a Pararede já a tinha mandado aos € 140. Pois 140 euros, e todos a rir-mos de contentes. Sei que os divorcios iriam aumentar, mas...


«... eu ignoro completamente os índices e tento escolher apenas aquelas 30 a 40 acções momentaneamente “mal entendidas” pelo mercado.” »
Diz tudo este marmelo: «as mal entendidas» Pois, quais deviam ser, então?... que gracinha.
R. Martins
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por fitas » 20/6/2005 17:11

Não há dúvida, que homem de grande visão. Daria um grande mestre...mais falta a guita não é!!! Contudo é interessante auscultar estes ensinamentos, pode ser que também nós lá chegaremos.
 
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O gestor que adora quebrar consensos

por marafado » 20/6/2005 16:59

O gestor que adora quebrar consensos

David Bavarez tem, à sua responsabilidade, mais de 1300 milhões de euros investidos em acções europeias. Bem mais do que custaram os 10 estádios do Euro 2004. A regra de ouro para o especialista estrela da Fidelity, a maior entre as gestoras de fundos internacionais, é ir contra a corrente para descobrir aquilo que o resto do mundo não está a ver. Numa conferência em Londres, abriu o livro e divulgou os quatro critérios que utiliza para detectar as boas oportunidades de investimento. .

17-06-2005, Mafalda Anjos

David Bavarez é um homem que transpira autoconfiança. Quando fala, este homem magro e de baixa estatura consegue encher uma sala e captar a plena atenção da plateia. Ao contrário de muitos dos seus colegas de profissão, este é um gestor de fundos que não teme comprometer-se. Apresenta, sem rodeios, enorme convicção e pouca modéstia, a sua estratégia e apostas de investimento, num estilo que faz lembrar José Mourinho. E tal como o treinador do Chelsea é uma referência no mundo do futebol, David Bavarez também já o é na área da gestão de activos, onde muitos o situam entre os melhores gestores da Europa da nova geração.
Aos 39 anos, David Bavarez é responsável por dois dos mais importantes fundos europeus da Fidelity, a maior gestora de activos do mundo que ganhou ainda esta semana, pelo quinto ano sucessivo, o prémio Thomson Extel na categoria de melhor gestora pan-europeia de fundos de investimento. É ele o gestor do FF European Agressive e do Fidelity Europe Fund. Ambos os fundos são produtos com excelentes rentabilidades nas suas classes em todos os prazos, de puro “stockpicking” e muito concentrados (o gestor só investe em 30 a 40 títulos, quando a média dos fundos anda acima das 100 acções), onde o sucesso do investimento está na escolha das empresas certas, na hora certa. Numa apresentação em Londres organizada pela Fidelity, David Bavarez fez luz sobre como é que consegue detectar estas “pechinchas” num mercado para onde olham diariamente milhares de analistas e gestores de fundos do mundo inteiro.
Ousar quebrar consensos e ir contra a corrente é a sua regra de ouro. “Há oportunidades para conseguir muito bons retornos nas acções europeias, mas é necessário olhar de maneira muito diferente para o mercado e quebrar com o que são as posições e estratégias do consenso dos investidores”, explica David Bavarez. E concretiza:
“ Enquanto estes olham para o muito curto prazo, eu estou preocupado com o longo prazo. As minhas apostas de investimento são, pelo menos, a três anos. Enquanto a maioria dos investidores olha para as directivas que as equipas de gestão das empresas dão, eu olho para aquilo que realmente fazem. Enquanto o consenso dos investidores dá primazia aos resultados por acção apresentado (EPS ou earnings per share), eu olho para o cash flow das empresas. Este é o dinheiro que verdadeiramente dispõem, e não aquele que estão a tentar mostrar ao mercado. E, por último, enquanto o consenso se limita a seguir um índice, eu ignoro completamente os índices e tento escolher apenas aquelas 30 a 40 acções momentaneamente “mal entendidas” pelo mercado.”


Quatro dicas para detectar as boas oportunidades
Num mercado como o da gestão de activos, o segredo está em antecipar os movimentos dos concorrentes. “Quando olho para uma empresa e procuro encontrar aspectos que o mercado não tenha valorizado no seu negócio. Quantifico a importância desses aspectos e decido, ou não, comprar a acção. Se entro no papel, espero até que o mercado faça a mesma descoberta. Assim que o fazem, ligo para a empresa e vejo se há algum factor que justifique uma nova avaliação. Se não houver, perdi a minha vantagem competitiva face ao mercado e está na hora de eu sair e realizar mais-valias”, esclarece.
Mas afinal, onde é que David Bavarez vai encontrar as suas histórias de investimento num mundo em que há milhares de investidores a olhar para as mesmas empresas? A resposta está na ponta da língua para David Bavarez. “Encontrando algo que o resto do mundo não está a ver”. O que é fácil de dizer, mais difícil é de fazer. No entanto, há quatro critérios principais para os quais David olha para descobrir boas oportunidades de investimento e todos têm de ver com momentos de mudança nas empresas.
Em primeiro lugar, sempre que há uma mudança no ambiente em torno na empresa podem conseguir-se excelentes oportunidades de entrada. “Quando há uma mudança importante na regulação de um país ou se um determinado sector, por exemplo, eu estou interessado”, diz o gestor.
Outro momento onde detecta oportunidades é sempre que existe uma mudança na equipa de gestão ou na estratégia de uma empresa. “A beleza ou o desastre da Europa é que nos cinco maiores países europeus, metade dos CEO estão nesta posição há menos de dois anos. Para mim, isto é absolutamente espantoso. Em muitas grandes empresas europeias, não se conhece a estratégia do management, ou ainda não tiveram tempo de a implementar, porque é impossível de o fazer em um ou dois anos”. Veja-se o sector das telecoms, por exemplo. “Na France Telecoms, Telecom Itália ou na Portugal Telecom, ninguém tem uma estratégia. Estamos a falar de empresas enormes, e nalguns casos, as maiores empresas nos seus países de origem. Estas são empresas que fazem enorme quantidade de dinheiro, mas a equipa de gestão não faz qualquer ideia do que fazer com ele. É preocupante...”, afirma.
Um terceiro aspecto ao qual o gestor aconselha estar atento são as mudanças no sentimento dos investidores. O mercado é feito de pessoas que diariamente compram e vendem as acções, e estas pessoas estão em permanente mudança. E o mercado accionista, porque é feito por pessoas, exagera tanto no sentido ascendente como descendente e é importante conseguir antecipar e tirar partido destes movimentos. “Eu estou interessado é naqueles momentos de mudança de sentimento em relação a um país, um sector ou uma empresa”, afirma. O caso alemão é paradigmático. Em 2002, todos os investidores estavam cépticos em ralação à Alemanha e a regra era dizer que não se devia pôr dinheiro naquele país. “Depois chegou o Schroeder com o seu pacote de reformas, e era um ‘must’ investir em fosse qual fosse a empresa, desde que fosse alemã”, refere.
Por último, há outra situação onde costuma encontrar ideias de investimento e que tem de ver com as alterações nas técnicas de valorização das empresas por parte das casas de investimento ou dos investidores.
A italiana Pirelli Real Estate é um exemplo interessante da forma como David Bavarez chega às suas histórias de investimento e que se enquadra neste último critério. Ao ler o jornal de economia francês “Les Echos”, David Bavarez descobriu que com 35 anos, 25% dos italianos ainda vivem na casa dos seus pais. “A primeira coisa que pensei foi: como é que vou conseguir fazer dinheiro daqui?”. Se se fizer a assumpção que estas pessoas vão deixar a casa dos pais mais tarde ou mais cedo, o potencial para o crescimento do mercado imobiliário das cidades italianas é enorme. Descobriu que o mercado imobiliário italiano é dos mais ineficientes do mundo, com enorme procura e muito pouca oferta. Quando investigou o mercado, chegou à conclusão que a Pirelli Real Estate era a empresa melhor colocada neste segmento. “Gostei imediatamente, porque tal como eu, imaginei que havia muitos gestores que pensavam que a empresa se dedicava apenas a fazer pneus”, explica. E depois de investigar a empresa verifiquei que tinha um ROE de 25%, quando a média do sector anda na casa dos 10%. E o mais interessante é que descobri que, vistas bem as coisas, afinal o seu modelo de negócio não era de uma companhia de imobiliário mas de uma gestora de fundos, que vive das comissões que cobra por limpar os prédios dos inquilinos com rendas antigas e desactualizadas e substitui-los por novos inquilinos com rendas muito mais elevadas. Se se olhar para o seu modelo de negócio desta perspectiva, era evidente para mim que a empresa estava subavaliada pelo mercado. As acções da empresa dispararam entretanto mais de 60% desde a entrada de David Bavarez no papel, em Julho de 2004.
Outro exemplo da forma de investir referido por David Bavarez é o caso da espanhola Antena 3. O gestor diz que está particularmente atento ao que chama de anomalias nos preços dos serviços ou produtos das empresas. É o caso da publicidade em televisão, o mercado onde os preços mais oscilam de país para país. Em Espanha, um país com boa situação económica e enorme propensão para o consumo por parte da população, há dois anos atrás o preço por minuto da publicidade era dos mais baratos da Europa, menos de metade os preços praticados em França ou no Reino Unido. A prazo, esta situação tinha de ser alterada, pelo menos a prazo, e foi o que aconteceu. David Bavarez apostou na Antena 3, a segunda maior cadeia de televisão em Espanha, e a empresa acabou por aumentar os seus preços em 25% num curto espaço de tempo.
Um dos factores mais importantes do sucesso da estratégia de investimento de David Bavarez é o acesso directo às equipas de gestão, que lhe permite conhecer por dentro as estratégias que adoptam e confrontar os gestores. O gestor tem normalmente reuniões com duas empresas diferentes por dia. “Temos facilmente acesso aos mais altos níveis da administração, e no caso da Antena 3, como tomámos uma posição significativa na empresa, fizemos chegar a mensagem de que tinham margem para aumentar os preços da publicidade que estavam a praticar. Naturalmente que ficaram muito interessados em nos ouvir”, conta David.
E desenganem-se os que pensam que David Bavarez só investe em small caps arriscadas e sectores estranhos. “Não é preciso investir em empresas suíças no meio da floresta que nunca ninguém ouviu falar”, contesta. Há oportunidades interessantes em todas as indústrias, mesmo com milhares de analistas e gestores de fundos a olhar para elas. É só preciso descobrir onde estão os gaps entre a percepção do mercado e a realidade das empresas.

* A jornalista viajou a convite
da Fidelity Investments

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