Caldeirão da Bolsa

Preços dos combustíveis, seca e frio pressionam tarifas de e

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por marafado » 4/3/2005 1:14

04-03-2005
Acções com o pior desempenho da Europa

Indefinição estratégica ofusca bons resultados da EDP
A EDP apresentou a maior subida dos resultados entre as principais utilities rivais, mas regista a pior performance bolsista. A indefinição do que será o futuro com Sócrates à frente do governo está a penalizar a acção.





04-03-2005

Sonae.Com revista em baixa depois das contas
A semana foi frutífera em resultados, e várias empresas da família Sonae já anunciaram as contas relativas 2004. A Sonae.Com reportou um lucro líquido atribuível de 18 milhões de euros, contra um prejuízo de 19,2 milhões de euros registados no ano anterior. O BPI veio esta semana, depois da apresentação dos resultados da Sonae.Com rever a recomendação de “comprar” para “acumular”, mantendo o preço-alvo para o final de 2005 de 4,85 euros por acção.





04-03-2005
COFINA recua mais de 8% em cinco sessões

Altri quase duplica de valor desde a estreia
Na semana em que a Altri se estreou, as duas cotadas que antes compunham o universo Cofina tiveram destinos diferentes em bolsa. Enquanto a nova Cofina, que reúne os activos de media, corrigiu 8,36%, a Altri, que ficou com os activos industriais, disparou mais de 90%. As duas novas empresas agregadas valem agora mais 21 milhões de euros que o velho grupo.





04-03-2005
Análise de Bolsa

Euronext Lisboa regressa a terreno positivo
Depois de na semana passada ter entrado numa cadeia de quedas sucessivas, nas últimas cinco sessões até ontem o PSI-20 conseguiu recuperar algum terreno, avançando uns tímidos 0,25%. Os últimos dias foram dominados pela apresentação das contas de 2004 de dois pesos pesados da Euronext Lisbon: a EDP e a Portugal Telecom.
 
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por marafado » 4/3/2005 1:13

Entrevista a Luís Mira Amaral

“Se Sócrates mostrar a mesma coragem nos dossiers
de governação, temos homem!”
Antigo ministro da Indústria de Cavaco Silva, Luís Mira Amaral afirma que “se Sócrates mostrar a mesma coragem nos dossiers de governação que mostrou na co--incineração, em que tinha razão, temos homem!”. Não acredita na morte política antecipada de Santana Lopes e prefere Marques Mendes na liderança do PSD por ter experiência parlamentar. Considera que Bagão Félix não tinha estofo para ministro das Finanças, mas também não defende Manuela Ferreira Leite e menos ainda Carlos Tavares.

04-03-2005, Lígia Simões e Filomena Lança

Ficou surpreendido com a derrota do PSD nas eleições legislativas?
Não. As eleições para o Parlamento Europeu já deram um sinal do descontentamento face ao PSD e se Durão Barroso não fizesse uma remodelação governamental, ele próprio ia ter um mau resultado. Depois entrou Santana Lopes, que tinha um défice de legitimidade e de credibilidade. Arranjou um ministro das Finanças que foi um desastre e agravou o problema, com a sociedade civil e os empresários a porem em causa o Governo. Quando o Presidente da República decidiu dissolver a Assembleia, estava-se a ver que íamos ter um resultado deste tipo. Contrariamente às expectativas de Paulo Portas não houve transferência de votos do PSD para o CDS, o que mostra que há um eleitorado do PSD que é do centro e, com a política de Bagão Félix de atacar a classe média, Sócrates estava a ‘pescar’ nesse eleitorado e essa transferência foi para o PS. Em todo o caso, o descontentamento já vinha de trás e Santana não é o único culpado.

Quando começou e a que se deveu o declínio do PSD?
Durão Barroso herdou uma situação difícil, exigia-se um ministro das Finanças que o fosse verdadeiramente e o que tivemos foi apenas um ministério da contabilidade pública. Era preciso travar o crescimento da despesa, Manuela Ferreira Leite conseguiu passar de 10% para 3% ao ano e tiro-lhe o chapéu por isso. Mas depois percebeu-se que era incapaz de perceber as reformas estruturais que era preciso fazer. Apenas congelar os vencimentos dos funcionários e cortar no investimento não é sustentável numa legislatura de quatro anos. Havia toda uma fase de gestão microeconómica da administração pública e aí precisava-se de um general de economia e finanças e não de uma senhora que só sabe de contabilidade pública.

As críticas estendem-se a Carlos Tavares?
Sim. Não tinha capacidade de comunicação com os empresários, nem a empatia necessária. O resultado era uma senhora que só tinha a visão obcessiva do défice e que não sabia fazer mais que aquilo, e um ministro da Economia com dificuldade de comunicação com os empresários. Algumas das coisas que ele queria até faziam sentido, mas na vida e na política é preciso saber vender. Isto gerava um vazio e ia caindo sobre um Governo que tinha herdado uma situação difícil, mas não estava a conseguir fazer as reformas estruturais necessárias para dar a volta ao texto.

Durão Barroso não conseguiu resolver isso?
Ele teve um choque com o resultado das europeias. Estou convencido que até então não tinha bem consciência do desagrado do País. E na noite das eleições confessou “eu percebi-vos, e algo tem de mudar”. Mas estava de tal modo ligado àquela dupla, que duvido que tivesse capacidade e à-vontade para a mudar.

Isso contribuiu para a decisão de ir presidir à Comissão Europeia (CE)?
Humanamente compreendo-o. Ser convidado para o lugar de presidente da CE é algo muito difícil de resistir. Mas devia haver um código de ética e conduta da União Europeia (UE), para nunca se convidar para presidente um primeiro-ministro em exercício. Para nós é extremamente agradável abrir o “Financial Times” e ver José Manuel Barroso, um português, à frente da CE. Mas não tenhamos dúvidas: não é por ser presidente da CE que ele pode favorecer Portugal. Não esperemos quaisquer benefícios directos.

Já na vida política interna, a sua saída teve muitas consequências.
É evidente. Santana Lopes não era o líder eleito do PSD e as pessoas não estavam a vê-lo no perfil de primeiro-ministro. Assisti a vários ciclos políticos e desta vez os ataques não eram pontuais, começou-se logo a pôr em causa a sua credibilidade e ele já partiu numa situação de desvantagem. Tinha alguns excelentes ministros, como Álvaro Barreto, Aguiar Branco ou Luís Filipe Pereira, mas foi manifestamente infeliz nas Finanças. Aí tinha precisado de um ministro à prova de bala, um tipo muito forte, de forma a que quando o primeiro-ministro claudicasse as pessoas vissem nele um pilar do Governo. Bagão Félix mostrou não ter estofo psíquico nem moral para o lugar. Era errático, faltava-lhe força anímica. E Santana Lopes cometeu um erro estratégico: não se entrega a pasta das Finanças, o grande centro do poder, ao partido minoritário. Depois pagou. O PSD nunca devia ter aceite a abolição dos incentivos fiscais - quem os subscreve são aqueles que pagam impostos e têm algumas poupanças de parte, toda uma classe média.

Que espaço terá Santana Lopes na vida política do PSD?
Ele é imprevisível. Já mostrou uma grande capacidade de regeneração. Quando concorreu à câmara da Figueira estava na mó de baixo do partido e deu a volta, ganho. Depois ganhou Lisboa… É um animal político, com grande coragem, grandes capacidades de tribuno e de orador. É fabuloso para discursar às massas. Faltaram as qualidades de rigor e de seriedade exigíveis a um primeiro-ministro. Repare-se que Lisboa votou nele para a Câmara e nas últimas eleições deu-lhe um péssimo resultado. O que mostra que as pessoas até simpatizam com algum comportamento irreverente ou de vida mais alegre num presidente da câmara, mas para primeiro-ministro querem outro registo. No entanto, não subestimemos Santana Lopes. Não o vejo voltar a primeiro-ministro, mas não o considero morto para a política.

Temos o PSD a atravessar uma grave crise de identidade…
Isto pode ser uma ocasião muito útil para uma profunda regeneração do PSD, que tem de perceber o que se passou e voltar a fazer política com competência técnica e sentido de Estado. Vai para a oposição e não para o Governo e é no grupo parlamentar que tem o seu palco e o seu centro de poder para fazer oposição. Por isso, quem vier a dirigir o PSD tem de ter um perfil parlamentar.

Das actuais duas candidaturas, qual acha que daria melhor contributo para o PSD?
Nesses termos, inclino-me para Marques Mendes. Aguiar Branco tem também grandes qualidades para liderar o processo de regeneração do PSD e fez um excelente lugar como ministro da Justiça. Entre os dois, Marques Mendes tem, no entanto, maior experiência parlamentar. Não há uma solução perfeita. Mas não vou apoiar nenhum, porque não me vou meter na vida partidária.

E não equaciona um regresso à política?
Nunca se pode dizer desta água não beberei, mas não tenho a mínima intenção de voltar. Regressei à actividade privada e sinto-me bem. Só estaria disponível para voltar à vida política com uma pessoa que fosse minha amiga, com quem partilhasse cumplicidades, emoções e desafios.

Aconselhou recentemente cautela na aceitação de cargos no sector público. Isso é uma manifestação de desilusão ou um aviso sério?
Um aviso sério. Veja o meu caso: Estava muito bem no sector privado, no BPI, um grupo financeiro prestigiado, e em várias outras empresas. O Governo convidou-me para vice-presidente da CGD, pedindo a minha ajuda para a estabilizar. Aceitei esse convite, posso dizer que fui ganhar menos e depois fui enganado e enxovalhado pela maioria que agora vai sair. Ora, quem não se sente não é filho de boa gente. Tenho de dizer a qualquer amigo meu que esteja muito bem no sector privado e que seja convidado para o público: “‘vejam lá com quem é que se metem e tenham cuidado”. Eu não precisava da CGD, nem sequer em termos de reforma, que tinha assegurada pelo BPI. Não fiz nada de ilegal, pelo contrário, tudo o que fiz até hoje foi dentro da mais estrita legalidade, nem foram criadas nenhumas leis especiais para mim. Portanto a minha reacção é perfeitamente humana...

Terá sido também emotiva...
A minha reacção na altura foi até bastante diplomática. Vejam--se as declarações muito mais desabridas de Henrique Chaves quando saiu do Governo. Sinto--me magoado, porque não precisava de ter ido para a CGD, fui apenas ajudar um Governo que mo pediu e acabei enxovalhado na praça pública, apesar de ter sido eticamente irrepreensível. Não sei se sabem que andei dois anos, a pedido do Governo, a ir a Joanesburgo e a Maputo para resolver o problema de Cahora Bassa, consegui tarifas de mercado que todos consideravam impossíveis, e não recebi um tostão do Governo. Tenho trabalhado para o meu país por vontade e por querer dar o meu contributo e não mereço o comportamento que Bagão Félix teve comigo. Com o que obtive das tarifas de Cahora Bassa, se tivesse cobrado o trabalho de banqueiro de investimento que fiz, o que tinha recebido seria perfeitamente… como é que ele [Bagão Félix] dizia?... ‘escandaloso’. E não recebi nada. Continuo à disposição do meu país, mas através de outros intermediários, dos empresários e das associações empresariais. Não da classe política. E sabem de quem recebi grandes manifestações de solidariedade e de apreço que não esperava? De pessoas do PS - nem foi do PSD. Foram os três meses mais difíceis da minha vida.

Na última campanha eleitoral considera que o PS teve um discurso sério e realista?
Os programas dos dois partidos foram melhores do que as suas campanhas. Tinham alguns pontos em comum, como as preocupações com o controlo da despesa pública, com a sustentabilidade da segurança social ou o problema da idade da reforma. Não enveredaram pela conversa fácil de, numa lógica Keynesiana, aumentar o investimento público para dinamizar a economia. Ambos até se puseram do lado da oferta, um com o choque tecnológico, outro com o choque de gestão. Só que nos primeiros tempos a campanha eleitoral foi muito marcada por ataques pessoais que me desgostaram e em que se perdeu demasiado tempo.

O que espera de José Sócrates como primeiro-ministro?
Se Sócrates mostrar a mesma coragem nos dossiers de governação que mostrou na co-incineração, em que tinha razão, temos homem!



Recurso ao fundo de pensões da CGD é uma manobra

Concorda com a decisão de transferência do fundo de pensões da CGD para a CGA?
Não concordo. É uma cosmética para Bruxelas. É uma manobra contabilística que não resolve o problema do défice em si e põe em causa o terceiro pilar da segurança social. É um golpe nos mecanismos de capitalização dos fundos de pensões. Se o Eurostat conhecer uma coisa que aprendemos na banca, que é a gestão de activos e passivos, não aprovará esta operação
.
O que é que está em causa?
Quando se tem um fundo de pensões é constituído um activo para responder pelas responsabilidades das pensões das pessoas. Ora, quando o fundo da CGD é transferido para a CGA, vai não só o activo como também todo o passivo correspondente, que são as responsabilidades pelas pessoas. Em termos líquidos, o resultado é zero.

A apresentação das novas orientações estratégicas - o denominado projecto líder - de alguma forma dá continuidade ao trabalho que desencadeou enquanto presidente do banco estatal?
Ainda é cedo para falar sobre a CGD. Impus a mim próprio um período de nojo. Agora quanto a isso posso dizer para lerem a estratégia que anunciei quando era presidente executivo da CGD e terão a resposta. Em termos empresariais eu tinha uma proposta de valor para a Caixa. O accionista de então decidiu não aceitar a minha proposta. Tomou as decisões que entendeu...

E não faz nenhum comentário à quebra de 30% nos lucros da CGD?
Na reunião de quadros de 15 de Julho, expliquei que, não havendo resultados extraordinários em 2004, era de esperar um resultado líquido inferior na CGD.

Na contagem decrescente para a criação do Mibel, considera que este mercado trará a curto prazo a desejada convergência de preços entre Portugal e Espanha?
Em Março de 2004, já tinha alertado que o Mibel tinha dois grandes problemas: não havia suficientes linhas de interligação - situação que foi, entretanto, melhorada - e em Espanha os preços são definidos pelo Governo enquanto em Portugal são definidos pelo regulador, para além de haver descontos para os grandes consumidores no país vizinho, contrariamente ao que acontece em Portugal. Portanto, enquanto não houver harmonização de preços, não se pode falar de um verdadeiro Mibel.

Nós vamos integrar um mercado, com as empresas mais competitivas da Europa, que são as espanholas, e onde se praticam os preços mais baixos da Europa. O salto para Portugal não será mais dificil, principalmente quando foi vetada a integração do gás na EDP, que visava tornar a eléctrica nacional mais competitiva?
As centrais da EDP são perfeitamente competitivas com as centrais espanholas. Isto é, a EDP tem produção perfeitamente competitiva. Do lado da distribuição, costuma dizer-se que a portuguesa é menos eficiente que a espanhola, e é verdade. Mas tem de se compreender o seguinte: as redes em Espanha servem regiões mais concentradas e mais ricas, pelo que essas redes fornecem mais energia. Só que a rede da EDP é insubstituível. Anteriormente, a EDP Distribuição tinha duas funções: transporte e comercialização. Com a liberalização, a EDP Distribuição mantém a função transporte de energia e pode pedir a função de comercialização de energia de outro produtor.

Com o Governo PS tudo indica que vai ser ajustado o modelo de restruturação do sector energético, no sentido de uma restruturação menos patrimonial e mais de mercado?
Pelo programa do PS, penso que não vão para a frente com a ideia de juntar o gás na EDP. Vão manter a Galp como está e vão jogar numa maior liberalização e concorrência no mercado. A EDP entrará no gás, mas não compra a GDP. Mas, por outro lado, do ponto de vista da Petrocer, o contrato promessa que celebrou com o Estado mantém-se válido.

Parece-lhe o melhor caminho?
Sempre fui adepto da liberalização e da concorrência. Aliás, fui o primeiro em Portugal que defendeu a liberalização do sector eléctrico.



“A austeridade ainda mal começou”
Mira Amaral defende que a situação conjuntural da economia portuguesa de excesso de consumo em relação à nossa oferta levará a uma fase de ajustamento em que o nível de vida dos portugueses terá de baixar. Se houver coragem, diz, as melhorias far-se-ão sentir dentro de três anos. Até lá a austeridade vai continuar.
Parece-lhe credível a promessa do PS de criação de 150 mil postos de trabalho?
Os cromossomas socialistas não resistem a dizer que vão combater a pobreza, a desigualdade e criar emprego… Não me preocupa que digam coisas dessas se depois tiverem coragem para fazer reformas estruturais na linha como o chanceler Schroëder ou Felipe Gonzalez. Numa pequena economia aberta como a nossa, é difícil quantificar o número de empregos. Quando se libertarem as amarras, através do conjunto de reformas estruturais, os empregos virão por si. Já acho realistas medidas como a colocação de 1000 licenciados em Engenharia e Gestão em PME. Mas vamos continuar a assistir à destruição maciça de emprego em sectores tradicionais do vestuário e calçado, porque o efeito China vai começar a sentir-se. Portanto, se o PS fala em 150 mil postos de trabalho líquidos? Tenho dúvidas.

O próximo Ministro das Finanças não terá uma tarefa fácil pela frente...
Temos um problema muito grave de finanças públicas. O défice público estrutural continua teimosamente acima dos 4%, há quem fale em 5% e isso significa que já não vai com panaceias como o congelamento de salários. Há que fazer microeconomia na administração pública.

De que forma?
Se há serviços que não são necessários, deviam ser extintos, os funcionários iam para casa, até com o ordenado por inteiro, e depois logo se discutia com os sindicatos o que se lhes fazia, mas só o facto de não se ocuparem edifícios, gastar água e luz… já se poupava. Há que ter a coragem de extinguir serviços e de, nalguns sectores, meter pessoas qualificadas. Em áreas em que o Estado tem de negociar concessões com o sector privado, o défice técnico é dramático. Há que fazer o que as empresas fazem: reciclar quem tem menos qualificações e contratar técnicos qualificados. Mas só o ministro das Finanças não resolve isto: o esforço tem de passar também pela Saúde e pela Educação.

As pessoas qualificadas são caras. Veja-se o caso de Paulo Macedo….
Paulo Macedo é um excelente gestor do BCP, com provas dadas, e face aos proveitos que está a conseguir para a máquina fiscal, devo dizer que os cinco mil contos que ganha por mês são peanuts. Repugna-me a campanha que foi feita em seu redor. É uma visão miserabilista e demagógica. Nos casos em que o Estado precisa de bons gestores do sector privado, não pode pensar que eles vão, pondo a família a viver pior.

Qual deverá ser a primeira medida de José Sócrates no Governo?
O Governo vai ter de ir a Bruxelas explicar a situação orçamental e dizer claramente que não consegue satisfazer o compromisso de 3% do défice neste ano nem no próximo. Também deve apresentar um programa plurianual de redução da despesa pública corrente, sufragado pelo Governo e pelo principal partido da oposição, que permita às finanças públicas entrarem nos carris num prazo de 10 anos.

A despesa pública só estará controlada dentro de 10 anos?
Estou convencido que levará mais que duas legislaturas, daí a importância do acordo entre PS e PSD. Há aqui um problema de rigidez da despesa pública, quer pelos vencimentos dos funcionários públicos, quer pelas transferências correntes, que não muda de um dia para o outro. Daí que um programa plurianual sério tenha de ser discutido com uma oposição responsável. Não se consegue fazer isto apenas com um partido com maioria absoluta. É preciso um acordo para se fazerem alterações legislativas no Parlamento. PS e PSD têm de ter juízo porque são os partidos que vão alternar no Governo. Apelo, por isso, a um pacto de responsabilidade entre os dois.

A austeridade económica vai continuar a ser a palavra chave nos próximos tempos?
Os responsáveis políticos que disseram que a austeridade tinha acabado não tinham consciência do que estava a acontecer…

… o PS omitiu na campanha eleitoral que vem aí tempos difíceis.
Foi omitido na campanha de todos os partidos. E não falaram nisso porque os portugueses não estão conscientes da situação. Ninguém lhes explicou ainda que estamos com um sério problema de excesso de consumo em relação à oferta. Isto é, não produzimos para aquilo que consumimos e não temos produtividade para os níveis salariais reais que temos. Logo temos de aumentar a nossa produtividade. Mas, como isso não se consegue de um dia para o outro, vamos passar por uma fase em que o nível de vida e de consumo dos portugueses vai ter de baixar. Moral da história: a austeridade ainda mal começou.

E quantos anos de austeridade teremos pela frente?
Se começarem a ser feitas as reformas estruturais, acho que ao fim de dois ou três anos as pessoas começarão a sentir algum desafogo. O facto de irmos conviver com um défice elevado nos próximos anos não significa que vamos parar de viver. Agora, temos é de ter consciência do problema e solucioná-lo. Se começarmos a ver a máquina da administração pública e a justiça a melhorar, menos burocracia, os mercados de trabalho e arrendamento a funcionarem melhor, isso significará que pode ser libertado o potencial produtivo da nossa economia, criarem-se novas empresas e os portugueses terem um estado de espírito mais optimista.

O nosso padrão de oferta terá, então, de ser alterado?
Todos os relatórios de competitividade que tenho lido batem na questão da qualidade dos nossos recursos humanos e no ritmo de inovação das empresas. Estas são áreas onde é urgente melhorar. A inovação não é só tecnológica, é de modelos de negócio e de processos… E tudo isso se pode fazer com pouco dinheiro. É mais um problema de software do que de hardware. O que tem faltado é mais vontade política e reformadora. O problema português não vai ser resolvido pelos macroeconomistas clássicos, mas com políticos esclarecidos que façam as reformas estruturais, e empresários, gestores e trabalhadores que tenham capacidade para fazer produtos com valor acrescentado.



“Impostos do vício podem ser aumentados”

Quais são os principais erros que aponta ao OE de Bagão?
É preciso perceber a situação conjuntural da economia portuguesa. Após a entrada do euro, as taxas de juro aproximaram-se das europeias e deixaram de ter a função de regulação da procura. Verificou-se, por isso, uma explosão do consumo público e privado e uma diminuição drástica da poupança. Estamos com um problema em que é preciso estimular a oferta e a poupança e não o consumo.

E o OE/05 vai contra esses estímulos…
Quando se baixa o IRS aumenta, obviamente, o rendimento disponível e o estímulo ao consumo. É um sinal errado em relação à situação conjuntural da economia. Se havia alguma margem de manobra para diminuir impostos devia ser o IRC, para estimular o investimento e a oferta. Não se devia baixar o IRS para estimular o consumo ao mesmo tempo que se cortavam incentivos fiscais que eram os estimuladores da poupança.

O OE rectificativo poderá significar o primeiro sinal socialista de querer inverter essa situação conjuntural…
Deve haver alguma estabilidade e este ano não é aconselhável mexer nos incentivos fiscais. Vão ser necessários cortes na despesa, mesmo que impopulares, nomeadamente a extinção de alguns serviços públicos.

E do lado da receita? qual é a margem de manobra que tem o novo Governo?
É desejável baixar o IRC, por razões de competitividade fiscal das empresas face a outros países, o que torna mais difícil aumentar este imposto. O IVA subiu de 17% para 19% e duvido que se possa aumentar mais. Resta como possibilidade algum aumento dos designados impostos do vício. Se tiver de haver aumentos de impostos, é menos gravoso para a economia portuguesa mexer nos impostos do álcool, tabaco e gasolina.
 
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por marafado » 4/3/2005 1:12

Política monetária

As expectativas apontam para que o BCE mantenha as taxas de juro estáveis durante o primeiro semestre.

04-03-2005, Carlos Firme

A globalmente considerada economia da zona euro tem mostrado nos últimos trimestres sinais desanimadores, não confirmando a tendência de recuperação há muito esperada. Estes sinais são comuns aos principais países e genericamente mostram a procura interna, particularmente o consumo e investimento privados, não sustenta o crescimento e onde a procura externa tem vindo a ser progressivamente afectada pela valorização do euro face ao dólar.
Em consequência, as principais organizações económicas internacionais preparam-se, nos exercícios de previsão da Primavera, para baixar as estimativas de crescimento da zona euro para 2005 e para 2006.
Atendendo aos números divulgados pelo Eurostat, conclui-se que Alemanha, Grécia, Holanda, Itália (… e provavelmente Portugal, embora os dados ainda não estejam disponíveis) apresentaram taxas de crescimento negativas no 4º trimestre, sendo que no caso alemão a economia está praticamente em recessão técnica após ter registado um crescimento de nulo no 3º trimestre.
Neste cenário, e atendendo a que a inflação permanece relativamente estável junto dos objectivos do BCE e é previsível que aí permaneça nos próximos tempos, as expectativas apontam para que o BCE mantenha as taxas de juro estáveis durante o primeiro semestre.
No entanto, a política monetária é fortemente expansionista, com as taxas de juro reais negativas desde Abril de 2004. A taxa de referência encontra-se em 2% desde Maio de 2003 e estes níveis historicamente baixos durante muito tempo criaram um excesso de liquidez que está a passar para activos financeiros e reais. Os dados mais recentes mostram uma aceleração no crescimento do agregado monetário M3 e do crédito, estando o crédito hipotecário a crescer acima de 10%. Os preços das casas em vários países europeus (particularmente Espanha, França, Irlanda) subiram de forma assinalável e os investidores têm pressionado os preços de outros activos como divida pública de longo prazo, divida de empresas, de mercados emergentes e outros activos com risco.
A inflação no preço dos activos pode ter consequências nefastas que não devem ser subestimadas, nomeadamente a distorção dos preços relativos que conduz a uma má afectação dos recursos (particularmente a uma menor poupança e um excesso de investimento em habitação) com consequências no potencial de crescimento a médio prazo. Mas também podem conduzir a crises financeiras graves quando “bolhas” rebentam, podendo provocar a deflação (vide caso japonês). A preocupação com estes factores deverá levar o BCE a subir as taxas de juro ao longo do segundo semestre, retirando os 50 bp de descida que efectuou em Maio de 2003.
Por seu turno, nos EUA, o crescimento parece continuar a ritmo assinalável, se bem que deve ter abrandado para taxas próximas do crescimento tendencial ou potencial. No recente relatório sobre o estado da economia ao Congresso norte-americano, Greenspan utilizou um tom optimista quanto à evolução da economia e dos riscos que esta enfrenta, considerando que as expectativas de inflação se encontram bem “ancoradas”. No entanto não deixou de referir que o comportamento das taxas de juro de longo prazo permanece um mistério, dado que não acompanharam a subida das taxas de curto prazo que foram impulsionadas pela subida das taxas directoras do Fed, de 1% para 2,5%.
Assim, nada neste momento faz supor que se altere a trajectória recente da política monetária, com subidas de 25 pb em cada reunião. O mercado antecipa que as taxas de juro possam atingir os 3,5% até Agosto e aí se mantenham até ao final do ano, mas é provável que, dada: i) a natureza expansionista da política monetária; ii) o excesso de liquidez; e iii) o excesso de tomada de risco por parte dos investidores; o Fed possa subir as taxas para perto dos 4%. Esta maior subida que o antecipado poderá levar à subida das taxas de juro de longo prazo e eliminar parte das distorções existentes na curva de rendimentos, não compatíveis com a actual situação cíclica da economia norte-americana.
 
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Preços dos combustíveis, seca e frio pressionam tarifas de e

por marafado » 4/3/2005 1:10

Preços dos combustíveis, seca e frio pressionam tarifas de energia
O aumento do preço dos combustíveis, combinado com os baixos níveis de pluviosidade e a vaga de frio, deverá levar a uma revisão tarifária extraordinária na segunda metade do ano. Tudo devido ao agravamento dos custos de produção de energia eléctrica.

04-03-2005, Lígia Simões

Em ano de seca e frio, é maior o recurso às centrais térmicas. Com a menor produção de energia a partir de centrais hidroléctricas, assiste-se ao agravamento dos custos médios de produção eléctrica face a 2004, devido ao aumento dos preços dos combustíveis utilizados nas centrais térmicas. Desde o início do ano, estes custos elevam-se já, em termos acumulados, a 40 milhões de euros. A factura vai ser paga pelos seis milhões de clientes domésticos, antecipando-se uma revisão tarifária extraordinária, a partir de Outubro (data em que se inicia o ano hidrológico) caso se prolongue a situação de seca. Na melhor das hipóteses, as tarifas e preços de energia só sofrerão um aumento em Janeiro de 2006, aquando da revisão anual efectuada pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE). Mas, para isso, terão de se verificar alterações drásticas no mix seca, fraca pluviosidade e evolução de preços de combustíveis.
“É razoável esperar um aumento das tarifas induzidas pelo agravamento dos combustíveis”, afirmou ao “Semanário Económico” José Penedos, presidente da Rede Eléctrica Nacional (REN), avançando com uma estimativa de agravamento do custo médio de produção eléctrica de 10% face a igual período de 2004. Tendo em conta que este custo ascende a valores da ordem dos 2.500 milhões de euros/ano, o agravamento da ordem dos 10% sobre valores mensais de 208 milhões de euros, dá um aumento, por mês, do custo médio de produção eléctrica de 20,8 milhões de euros.
“ A manter-se o perfil de hidraulicidade dos últimos dois meses, podemos chegar a um agravamento de custo de produção de energia eléctrica da ordem dos 20 milhões de euros/mês. Uma factura que se deve exclusivamente ao aumento dos combustíveis”, avança José Penedos, recordando que a energia produzida a partir das centrais hidroeléctricas é mais barata do que a que advém das centrais térmicas a carvão ou a ciclo combinado a gás.
Além dos consumidores domésticos, também os clientes de Muito Alta Tensão, Alta Tensão e Média Tensão poderão ver a sua factura de electricidade agravada nos ajustes trimestrais que a ERSE efectua por via da alteração dos custos variáveis de produção de electricidade.
Fonte da ERSE afirma que “não está prevista, no momento, uma revisão tarifária extraordinária”, salientando que só há aumento de tarifas quando há aumento de combustíveis. Instada a comentar o impacto nas tarifas decorrente do agravamento do custo médio da produção de energia, a mesma fonte realça que o fundo de hidraulicidade, dotado em 375 milhões de euros, serve para corrigir o maior recurso às centrais térmicas, em época de seca. Este fundo, segundo José Penedos, diz respeito à hidraulicidade, pelo que não pode cobrir o impacto total, nomeadamente flutuações do preço do petróleo.

Vaga de frio leva a consumos recorde
A potência de ponta do consumo nacional atingiu na passada terça-feira (1 de Março), pelas 19h45, o seu valor mais alto de sempre, com 8414 MW. Prevê-se que o valor venha a ser superior nos próximos dias dado que a vaga de frio parece com tendência para se manter ou, até, agravar.
Se, entretanto, os dias se tornarem mais escuros (significa menos horas de sol e maior recurso à electricidade), o agravamento será maior. José Penedos realça, porém, ser possível, em alturas que se registem picos no consumo, satisfazer a procura apenas com a produção nacional.
Penedos recorda que em Março de 2006 está prevista a entrada em serviço de um grupo térmico com a potência de 400 MW na central do Ribatejo, que reforçará a capacidade de produção nacional.
O crescimento de consumo entre períodos homólogos dos dois invernos foi de 9% no conjunto Janeiro/Fevereiro de 2005 relativamente a Janeiro/Fevereiro de 2004, de 2,9 entre 2004 e 2003 e de 8,1 entre 2003 e 2002. Desde 1995, o consumo de electricidade tem subido a taxas anuais quase sempre acima dos 5,5 % (5,9% de 2004 para 2003 e 5,7% de 2003 para 2002).

Coeficiente de hidraulicidade em queda
“ O ano que estamos a viver é seco e o nível das albufeiras reflecte-o necessariamente”, afirma José Penedos.
No entanto, segundo este responsável, com excepção de alguns casos pontuais, o armazenamento existente não é o mais baixo dos últimos dez anos. Segundo dados da REN, o actual nível de armazenamento hidroeléctrico é de 37,7%, para um máximo de 2575GWh. Em 1999 atingiu-se um armazenamento global de 29,7%. O coeficiente de hidraulicidade (indicador que avalia se determinado período foi seco ou húmido) foi de 0,21 em Fevereiro de 2005, de 0,22 em Janeiro de 2005 e de 0,84 em Dezembro de 2004, o que mostra bem a carência de chuva. Em ano “normal” este coeficiente deveria ser 1.
José Penedos salienta, no entanto, que a dependência do abastecimento de energia eléctrica relativamente às albufeiras tem-se reduzido progressivamente nos últimos anos, nomeadamente com os valores actuais da capacidade de interligação com Espanha e as centrais térmicas a gás de ciclo combinado da Tapada do Outeiro e do Ribatejo (total aprox. de 1800 MW). Estima-se que a energia produtível a partir de centrais hídricas em regime seco represente apenas 12,5% do consumo de energia eléctrica global do país. Em regime normal as centrais hídricas contribuem com 30% a 40%. Em Janeiro deste ano assistiu-se a um maior recurso à produção térmica com 3041 GW, contra 1981 GW, em Janeiro de 2004, ou seja, mais 54% devido à época de seca, o que contribui para um agravamento nos custos médios de produção eléctrica. Isto porque, os produtores de electricidade, com a EDP à cabeça, ao recorrerem às centrais a gás, fuel e carvão, contam, à partida, com preços dos combustíveis superiores em relação aos que vigoravam em igual período do ano passado.



REN descarta falhas de abastecimento
“Não se prevêem falhas no abastecimento, até porque Portugal dispõe de um conjunto diversificado e equilibrado de tipos de geradores (hídricos, térmicos a carvão, a fuel e a gás natural)”. É desta forma que José Penedos, presidente da REN, descarta eventuais quebras de fornecimento de energia eléctrica. Uma hipótese que só poderá ocorrer “no acumular de coincidências negativas fora do normal”.
“ Neste momento, Portugal não está a importar energia por razões de carência”, avança o presidente da REN. A potência disponível em Portugal é superior a 11000 MW. A potência instalada em Portugal ascende a 11751 MW, mas, dependendo das condições climatéricas, dificilmente poderão ser alcançados na totalidade, quer por falta de vento, quer de água nas mini-hídricas. Enquanto que o consumo máximo verificado só chegou a 8414 MW. É por esta razão que Portugal, no dia 1 de Março, pôde apoiar Espanha com 300 MW nas horas de ponta da manhã e mais 500 MW na parte da tarde. Recorde-se que a Rede Elétrica de España anunciou, na terça-feira, cortes no fornecimento de electricidade a alguns clientes, devido ao tempo frio que se fez sentir no país que provocou um aumento da procura, associado à indisponibilidade de geradores de uma central nuclear que se encontra em manutenção.
 
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