Caldeirão da Bolsa

Os dias tristes

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

Os dias tristes

por luiz22 » 8/2/2005 0:04

04-02-2005, João Vieira Pereira



A Euronext Lisboa é hoje uma micro bolsa. Dois ou três títulos influenciam drasticamente o seu comportamento e fazem parte do seu índice empresas com pouca ou nenhuma volatilidade. A sua evolução não reflecte, nem a economia, nem o desempenho das principais bolsas, característica de um mercado de capitais de um país emergente e não de uma bolsa de uma economia desenvolvida. O capitalismo popular morreu e dificilmente irá voltar aos anos loucos do final de década de 90. Os investidores institucionais olham apenas de vez em quando para os títulos portugueses. E grandes empresas nacionais teimam em afastar-se do mercado de capitais, por desconfiança ou ignorância. Estes são os dias tristes do nossa bolsa.
O recente desempenho do índice não pode ser visto como um novo “boom” bolsista, e necessita ser analisado à luz da realidade nacional. Comparar Lisboa com Paris, Londres ou Frankfurt é puro provincianismo. E dizer que as eleições são capazes de influenciar positivamente o desempenho da bolsa é autismo. Mais imprudente é ainda antecipar a nova retoma económica só porque o índice ultrapassou a barreira psicológica dos 8.000 pontos.
A praça lisboeta está a subir porque as cotadas deverão apresentar bons resultados, porque se avizinham grandes negócios e porque algumas empresas assumiram no passado recente uma estratégia correcta de racionalização. Se alguém tem de estar de parabéns e ser elogiado são as empresas que, no meio de uma crise económica e com a economia europeia a marcar passo, têm sido um exemplo de sucesso. Mais. Com o País mergulhado numa crise política profunda têm conseguido ignorar o poder político e manter o rumo traçado. Longe vão os tempos em que o Governo gritava Brasil e os empresários seguiam a ordem. Hoje os “os cães ladram e a caravana passa”.
Uma receita que faz cada vez mais sentido à medida que se aproxima a data de 20 de Fevereiro. Quando se pensa ser impossível que a política possa ir mais baixo, desce-se um degrau na escada do descrédito. Só que desta vez foi um trambolhão. A última moda dos ataques fortuitos à vida pessoal tornou uma má campanha numa novela para esquecer. O distanciamento da economia em relação a este período eleitoral é, para já, o único ponto positivo.
Estas são as verdadeiras boas notícias que se podem retirar da recente alta bolsista. Aprender a ignorar os políticos tornou-se uma condição estruturante para a nossa economia. Aos empresários portugueses devia ser administrada uma espécie de vacina de prescrição contra a política. Um carimbo obrigatório no boletim individual de saúde.
Era tudo mais fácil se as empresas prosseguissem o seu caminho natural. Se diminuíssem a sua dependência face ao Estado e se virassem para o mercado.
 
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