Excesso de Concentração Pode "Tramar" Grupos Portu
Custos e Proveitos
Falam, Falam, Falam...
Por JOSÉ MANUEL ROCHA
Segunda-feira, 07 de Fevereiro de 2005
Esta semana, dois jornais económicos noticiaram com destaque - num deles deu mesmo direito a chamada de primeira página - que a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) estava a investigar, juntamente com congéneres europeias, as operações com obrigações de dívida pública realizadas pelo Citigroup a 2 de Agosto de 2004, que desestabilizaram o mercado europeu.
Como portugueses, é motivo para nos sentirmos orgulhosos. A nossa CMVM está atenta e vigilante e não quer ficar à margem de um processo que tresanda a esturro, embora o banco norte-americano afirme que o procedimento não foi intencional. O que aconteceu de facto é que, com esta operação, o Citigroup realizou, num dia, mais-valias de 17 milhões de euros.
Pena é que a CMVM não revele tanto empenho em fazer o trabalho de casa e em dar uma resposta mais activa a uma série de acontecimentos que afectam, necessariamente, a transparência do mercado financeiro português - que é suposto a comissão garantir.
Em casa de ferreiro, espeto de pau, será caso para dizer.
Porque, de facto, há coisas estranhas que vão acontecendo e a gente não vê os vê fazer nada, como diria o Ricardo Araújo Pereira, do "Gato Fedorento" (programa de humor da SIC Radical).
Tomemos o exemplo da Lusomundo Media, do grupo Portugal Telecom (PT). Há uns tempos, na sequência de declarações várias (até de governantes) de que não era razoável um grupo de telecomunicações deter uma tão significativa posição nos media, começou a correr a informação de que a PT tinha intenção de vender activos da Lusomundo.
A dado momento, o presidente da PT disse mesmo, em público, que a companhia preferia vender a Lusomundo em bloco e que as propostas deveriam ser apresentadas até 14 de Fevereiro. Nesse mesmo dia, a PT Multimédia comunicou ao mercado que não havia decisão tomada sobre os activos da Lusomundo nem data marcada para decidir o que fazer com tais activos.
O que acontece de seguida? Começam a posicionar-se candidatos, alinham-se propostas e, na semana passada, o BES Investimento revela que já recebeu dossiês de sete candidatos. Como? Sem a PT Multimédia ter decidido vender? Ou então, sem sequer comunicar que ia vender? O BESI avançou sem mandato? Ou foi a PT Multimédia que não comunicou a decisão ao mercado? Aguarda-se resposta da CMVM, porque os investidores têm direito a informação cabal e a uma política de transparência no mercado. Entretanto, os títulos da telefónica andaram animados na plataforma de negociação da Euronext.
O mesmo se poderá dizer da Pararede, que, numa conferência de imprensa na passada quinta-feira, avançou informação relevante sobre o desempenho de 2004, mesmo antes das contas estarem aprovadas. As acções da empresa chegaram a subir sete por cento na sexta-feira, mas tudo se resolveu com um simples esclarecimento colocado no site da CMVM. A comissão não pode mesmo fazer mais nada? Se não, por que é que não se muda a legislação?
Num mercado sensível como é a bolsa de valores, a regulação é fundamental e a transparência é imprescindível.
Falam, Falam, Falam...
Por JOSÉ MANUEL ROCHA
Segunda-feira, 07 de Fevereiro de 2005
Esta semana, dois jornais económicos noticiaram com destaque - num deles deu mesmo direito a chamada de primeira página - que a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) estava a investigar, juntamente com congéneres europeias, as operações com obrigações de dívida pública realizadas pelo Citigroup a 2 de Agosto de 2004, que desestabilizaram o mercado europeu.
Como portugueses, é motivo para nos sentirmos orgulhosos. A nossa CMVM está atenta e vigilante e não quer ficar à margem de um processo que tresanda a esturro, embora o banco norte-americano afirme que o procedimento não foi intencional. O que aconteceu de facto é que, com esta operação, o Citigroup realizou, num dia, mais-valias de 17 milhões de euros.
Pena é que a CMVM não revele tanto empenho em fazer o trabalho de casa e em dar uma resposta mais activa a uma série de acontecimentos que afectam, necessariamente, a transparência do mercado financeiro português - que é suposto a comissão garantir.
Em casa de ferreiro, espeto de pau, será caso para dizer.
Porque, de facto, há coisas estranhas que vão acontecendo e a gente não vê os vê fazer nada, como diria o Ricardo Araújo Pereira, do "Gato Fedorento" (programa de humor da SIC Radical).
Tomemos o exemplo da Lusomundo Media, do grupo Portugal Telecom (PT). Há uns tempos, na sequência de declarações várias (até de governantes) de que não era razoável um grupo de telecomunicações deter uma tão significativa posição nos media, começou a correr a informação de que a PT tinha intenção de vender activos da Lusomundo.
A dado momento, o presidente da PT disse mesmo, em público, que a companhia preferia vender a Lusomundo em bloco e que as propostas deveriam ser apresentadas até 14 de Fevereiro. Nesse mesmo dia, a PT Multimédia comunicou ao mercado que não havia decisão tomada sobre os activos da Lusomundo nem data marcada para decidir o que fazer com tais activos.
O que acontece de seguida? Começam a posicionar-se candidatos, alinham-se propostas e, na semana passada, o BES Investimento revela que já recebeu dossiês de sete candidatos. Como? Sem a PT Multimédia ter decidido vender? Ou então, sem sequer comunicar que ia vender? O BESI avançou sem mandato? Ou foi a PT Multimédia que não comunicou a decisão ao mercado? Aguarda-se resposta da CMVM, porque os investidores têm direito a informação cabal e a uma política de transparência no mercado. Entretanto, os títulos da telefónica andaram animados na plataforma de negociação da Euronext.
O mesmo se poderá dizer da Pararede, que, numa conferência de imprensa na passada quinta-feira, avançou informação relevante sobre o desempenho de 2004, mesmo antes das contas estarem aprovadas. As acções da empresa chegaram a subir sete por cento na sexta-feira, mas tudo se resolveu com um simples esclarecimento colocado no site da CMVM. A comissão não pode mesmo fazer mais nada? Se não, por que é que não se muda a legislação?
Num mercado sensível como é a bolsa de valores, a regulação é fundamental e a transparência é imprescindível.
- Mensagens: 3433
- Registado: 5/10/2004 16:59
Repartição dos ganhos da inovação
Todos Lucram com as Novas Tecnologias
Segunda-feira, 07 de Fevereiro de 2005
Só uma pequena fracção dos banefícios da inovação ficam com as empresas que a introduzem. A parte de leão vai para a sociedade sob a forma de ganhos de produtividade individual, empresarial, nacional e internacional
Pedro Conceição*
A grande maioria das inovações tecnológicas beneficia tanto as pessoas ou empresas que inovam, como a sociedade no seu conjunto. Isto é, a inovação traz ganhos individuais mas também ganhos sociais: quem inova não se apropria integralmente dos benefícios associados à inovação que introduziu. Se pensarmos na popularização dos computadores pessoais, por exemplo, sabemos que empresas como a IBM e a Apple, que foram pioneiras, beneficiaram enormemente. Mas não é arriscado dizer que os benefícios socias - em ganhos de produtividade individual, empresarial e nacional - foram com certeza muito superiores aos que estas empresas inovadoras puderam capturar para si próprias. A forma mais habitual de quantificar os benefícios individuais e sociais consiste em medir as taxas de retorno do investimento em investigação e em actividades de inovação para quem inova e para a sociedade. Tipicamente, as taxas de retorno sociais são elevadas - muitas vezes, muito superiores às taxas de retorno individuais.
O facto de haver benefícios sociais não implica que a inovação não seja proveitosa para os agentes privados. Há inúmeras pessoas e empresas nas economias contemporâneas envolvidas constantemente em investigação e em actividades orientadas para a introdução de inovação. Isto quer dizer, portanto, que a inovação é lucrativa e, presumivelmente, mais lucrativa do que outras alternativas à afectação de recursos. Ou seja, independentemente das taxas de retorno sociais, as privadas parecem ser suficientes para estimular pelo menos alguma inovação.
Retorno para os inovadores, para o país de origem...
Mas os ganhos individuais e sociais da inovação podem também ser vistos de outra forma. Em vez de se considerarem taxas de retorno privadas e sociais, se se considerar a totalidade dos ganhos da inovação, de que forma é que estes se repartem entre quem inova e a sociedade no seu conjunto? Esta pergunta é importante porque a sua resposta permite-nos ir mais longe do que saber que a inovação tem taxas de retorno sociais que são muitas vezes superiories às individuais. Permite-nos quantificar as externalidades (ou "spillovers" sociais) associados à inovação. Se as externalidades forem importantes, isso poderá implicar que empresas num mercado competitivo sub-investem (do ponto de vista do óptimo social) em inovação.
Mas responder a esta pergunta é não só importante, mas também extremamente difícil - porque é complicado medir externalidades que, por definição, não têm um preço (valor) observável no mercado. E, de facto, não tinha sido feito até ao economista William Nordhaus ter apresentado recentemente estimativas para a economia norte-americana (William D. Nordhaus, 2004, "Schumpeterian Profits in the American Economy: Theory and Measurement", NBER Working Paper No. 10433). Nordhaus centrou a sua análise naquilo a que chamou "ganhos Schumpeterianos", isto é, benefícios que se podem atribuir exclusivamente à inovação. Do ponto de vista das empresas, os "lucros Schumpeterianos" correspondem aos lucros extra que resultam de uma forma pura da inovação, acima daqueles que seriam esperados a partir de uma taxa de investimento típica, com um ajustamento para um factor de risco razoável.
A análise de Nordhaus mostra que a repartição dos ganhos da inovação tem beneficiado esmagadoramente a sociedade norte-americana, e que as empresas só têm capturado uma pequena fracção dos benefícios da inovação. Excluindo o sector agrícola, e para o período compreendido entre 1948 e 2001, apenas 2,2 por cento dos ganhos da inovação foram apropriados pelas empresas. Isto não quer dizer que as empresas não tiveram motivação para inovar - claramente, isso não aconteceu, talvez porque uma pequena percentagem de um ganho total muito elevado implique que, ainda assim, investir em inovação continua a compensar quando se consideram outras alternativas para afectar recursos. Mas as estimativas de Nordhaus são de tal forma esmagadoras, que com externalidades desta magnitude, se tem que considerar seriamente as políticas públicas para estimular os investimentos em inovação tecnológica.
... E para o Mundo
Uma pergunta a fazer face aos números apresentados por Nordhaus é óbvia: se as externalidades são tão fortes, será que ficam circunscritas aos Estados Unidos da América (EUA)? E, visto de outro ponto de vista, se as externalidades internacionais são importantes, até que ponto é que os EUA têm beneficiado dos esforços em inovação feitos noutros países? Por coincidência, um artigo de Dezembro de 2004 de Peter Kleenow e Andrés Rodriguez-Clare apresenta uma estimativa do valor das externalidades internacionais - isto é, entre países - associadas à inovação ("Externalities and Growth", NBER Working Paper No. 11009). Como seria (agora) de esperar, o impacte das externalidades é enorme. Na ausência de externalidades internacionais, o produto interno bruto (PIB) global seria apenas seis por cento do que é hoje em dia: em vez dos actuais 50 biliões ("trillion", na designação norte Americana) de dólares, seria de apenas 3 billiões de dólares - ou o nível de rendimento mundial de há aproximadamente 100 anos atrás.
Quer isto dizer que um país pode não investir em inovação e contar apenas que as externalidades lhe caiam do céu? Não, por duas razões.
Em primeiro lugar porque para beneficiar das externalidades o país tem que estar envolvido ("engaged" na designação original dos autores) com a comunidade internacional. As externalidades internacionais não se propagam para um país que se decida isolar completamente, e transmitem-se tanto melhor e mais rapidamente quanto mais envolvido o país estiver e mais preparado estiver para acolher e utilizar novo conhecimento, o que, por sua vez, depende dos investimentos que fizer em inovação.
Em segundo lugar, porque as diferenças entre países nos níveis de produtividade (e de riqueza) estão fortemente dependentes dos níveis de investimento em inovação e em capital humano em cada país. O facto de as externalidades internacionais serem elevadas implica que o conhecimento se difunde com facilidade tendo como consequência que a taxa de crescimento económico "estacionária" (isto é, em equílibrio) e longo prazo seja igual para todos os países - já que é o novo conhecimento que gera o crescimento da produtividade. Mas os níveis permanecerão dependentes dos investimentos que cada país fizer em inovação - pelo que para aumentar a produtividade e a riqueza, só aumentando o nível de investimento em inovação e em capital humano.
Para resumir, só uma pequena fracção dos ganhos da inovação são apropriáveis pelas empresas ou países que introduzem a inovação. A consequência, sobre a qual em Portugal faríamos bem em reflectir, é a necessidade de implementar políticas públicas que aumentem e estimulem o crescimento do investimento em actividades orientadas para a inovação. Disso dependerá não apenas aproximarmo-nos do que seria o óptimo social de investimento em inovação em Portugal, mas também aproveitar todo o conhecimento que vem de fora. Não o fazer corresponderá a uma dupla perda: não só do nosso potencial, mas também do aproveitamento do conhecimento dos outros que nos é dado de graça.
*Professor Auxiliar do Instituto Superior Técnico - Universidade Técnica de Lisboa
Colaboração INTELI - Inteligência em Inovação
Todos Lucram com as Novas Tecnologias
Segunda-feira, 07 de Fevereiro de 2005
Só uma pequena fracção dos banefícios da inovação ficam com as empresas que a introduzem. A parte de leão vai para a sociedade sob a forma de ganhos de produtividade individual, empresarial, nacional e internacional
Pedro Conceição*
A grande maioria das inovações tecnológicas beneficia tanto as pessoas ou empresas que inovam, como a sociedade no seu conjunto. Isto é, a inovação traz ganhos individuais mas também ganhos sociais: quem inova não se apropria integralmente dos benefícios associados à inovação que introduziu. Se pensarmos na popularização dos computadores pessoais, por exemplo, sabemos que empresas como a IBM e a Apple, que foram pioneiras, beneficiaram enormemente. Mas não é arriscado dizer que os benefícios socias - em ganhos de produtividade individual, empresarial e nacional - foram com certeza muito superiores aos que estas empresas inovadoras puderam capturar para si próprias. A forma mais habitual de quantificar os benefícios individuais e sociais consiste em medir as taxas de retorno do investimento em investigação e em actividades de inovação para quem inova e para a sociedade. Tipicamente, as taxas de retorno sociais são elevadas - muitas vezes, muito superiores às taxas de retorno individuais.
O facto de haver benefícios sociais não implica que a inovação não seja proveitosa para os agentes privados. Há inúmeras pessoas e empresas nas economias contemporâneas envolvidas constantemente em investigação e em actividades orientadas para a introdução de inovação. Isto quer dizer, portanto, que a inovação é lucrativa e, presumivelmente, mais lucrativa do que outras alternativas à afectação de recursos. Ou seja, independentemente das taxas de retorno sociais, as privadas parecem ser suficientes para estimular pelo menos alguma inovação.
Retorno para os inovadores, para o país de origem...
Mas os ganhos individuais e sociais da inovação podem também ser vistos de outra forma. Em vez de se considerarem taxas de retorno privadas e sociais, se se considerar a totalidade dos ganhos da inovação, de que forma é que estes se repartem entre quem inova e a sociedade no seu conjunto? Esta pergunta é importante porque a sua resposta permite-nos ir mais longe do que saber que a inovação tem taxas de retorno sociais que são muitas vezes superiories às individuais. Permite-nos quantificar as externalidades (ou "spillovers" sociais) associados à inovação. Se as externalidades forem importantes, isso poderá implicar que empresas num mercado competitivo sub-investem (do ponto de vista do óptimo social) em inovação.
Mas responder a esta pergunta é não só importante, mas também extremamente difícil - porque é complicado medir externalidades que, por definição, não têm um preço (valor) observável no mercado. E, de facto, não tinha sido feito até ao economista William Nordhaus ter apresentado recentemente estimativas para a economia norte-americana (William D. Nordhaus, 2004, "Schumpeterian Profits in the American Economy: Theory and Measurement", NBER Working Paper No. 10433). Nordhaus centrou a sua análise naquilo a que chamou "ganhos Schumpeterianos", isto é, benefícios que se podem atribuir exclusivamente à inovação. Do ponto de vista das empresas, os "lucros Schumpeterianos" correspondem aos lucros extra que resultam de uma forma pura da inovação, acima daqueles que seriam esperados a partir de uma taxa de investimento típica, com um ajustamento para um factor de risco razoável.
A análise de Nordhaus mostra que a repartição dos ganhos da inovação tem beneficiado esmagadoramente a sociedade norte-americana, e que as empresas só têm capturado uma pequena fracção dos benefícios da inovação. Excluindo o sector agrícola, e para o período compreendido entre 1948 e 2001, apenas 2,2 por cento dos ganhos da inovação foram apropriados pelas empresas. Isto não quer dizer que as empresas não tiveram motivação para inovar - claramente, isso não aconteceu, talvez porque uma pequena percentagem de um ganho total muito elevado implique que, ainda assim, investir em inovação continua a compensar quando se consideram outras alternativas para afectar recursos. Mas as estimativas de Nordhaus são de tal forma esmagadoras, que com externalidades desta magnitude, se tem que considerar seriamente as políticas públicas para estimular os investimentos em inovação tecnológica.
... E para o Mundo
Uma pergunta a fazer face aos números apresentados por Nordhaus é óbvia: se as externalidades são tão fortes, será que ficam circunscritas aos Estados Unidos da América (EUA)? E, visto de outro ponto de vista, se as externalidades internacionais são importantes, até que ponto é que os EUA têm beneficiado dos esforços em inovação feitos noutros países? Por coincidência, um artigo de Dezembro de 2004 de Peter Kleenow e Andrés Rodriguez-Clare apresenta uma estimativa do valor das externalidades internacionais - isto é, entre países - associadas à inovação ("Externalities and Growth", NBER Working Paper No. 11009). Como seria (agora) de esperar, o impacte das externalidades é enorme. Na ausência de externalidades internacionais, o produto interno bruto (PIB) global seria apenas seis por cento do que é hoje em dia: em vez dos actuais 50 biliões ("trillion", na designação norte Americana) de dólares, seria de apenas 3 billiões de dólares - ou o nível de rendimento mundial de há aproximadamente 100 anos atrás.
Quer isto dizer que um país pode não investir em inovação e contar apenas que as externalidades lhe caiam do céu? Não, por duas razões.
Em primeiro lugar porque para beneficiar das externalidades o país tem que estar envolvido ("engaged" na designação original dos autores) com a comunidade internacional. As externalidades internacionais não se propagam para um país que se decida isolar completamente, e transmitem-se tanto melhor e mais rapidamente quanto mais envolvido o país estiver e mais preparado estiver para acolher e utilizar novo conhecimento, o que, por sua vez, depende dos investimentos que fizer em inovação.
Em segundo lugar, porque as diferenças entre países nos níveis de produtividade (e de riqueza) estão fortemente dependentes dos níveis de investimento em inovação e em capital humano em cada país. O facto de as externalidades internacionais serem elevadas implica que o conhecimento se difunde com facilidade tendo como consequência que a taxa de crescimento económico "estacionária" (isto é, em equílibrio) e longo prazo seja igual para todos os países - já que é o novo conhecimento que gera o crescimento da produtividade. Mas os níveis permanecerão dependentes dos investimentos que cada país fizer em inovação - pelo que para aumentar a produtividade e a riqueza, só aumentando o nível de investimento em inovação e em capital humano.
Para resumir, só uma pequena fracção dos ganhos da inovação são apropriáveis pelas empresas ou países que introduzem a inovação. A consequência, sobre a qual em Portugal faríamos bem em reflectir, é a necessidade de implementar políticas públicas que aumentem e estimulem o crescimento do investimento em actividades orientadas para a inovação. Disso dependerá não apenas aproximarmo-nos do que seria o óptimo social de investimento em inovação em Portugal, mas também aproveitar todo o conhecimento que vem de fora. Não o fazer corresponderá a uma dupla perda: não só do nosso potencial, mas também do aproveitamento do conhecimento dos outros que nos é dado de graça.
*Professor Auxiliar do Instituto Superior Técnico - Universidade Técnica de Lisboa
Colaboração INTELI - Inteligência em Inovação
- Mensagens: 3433
- Registado: 5/10/2004 16:59
BES foi a empresa com mais retorno em Portugal em 2004
Patrocínios ao Futebol Têm Garantia de Sucesso
Segunda-feira, 07 de Fevereiro de 2005
O desporto, liderado pelo futebol, é o sector que mais atrai os patrocínios das empresas em todo o mundo. As empresas de telecomunicações e as marcas de roupa desportiva lideram os investimentos. Em Portugal, é a banca que mais lucra com a exposição mediática do futebol
Dulce Furtado
O Banco Português de Investimento foi o banco oficial do Euro 2004, estatuto ganho através da celebração de um contrato de patrocínio com a entidade organizadora do evento. Mas a voz da banca que se ouviu mais alto no evento foi a do Banco Espírito Santo - "sponsor" oficial da selecção portuguesa de futebol - que, numa estratégia de comunicação consolidada desde 2002, ganhou um relevo no sector que lhe atribuiu um reconhecimento praticamente intuitivo de ligação profunda ao futebol e em particular ao campeonato europeu disputado em Portugal no ano passado.
Um estudo do impacto das campanhas feito pelo próprio BES revelou que 58 por cento das pessoas apontavam que era este o banco oficial do Euro 2004 - só 24 por cento o identificavam como patrocinador da selecção. Os resultados da estratégia de marketing do BES para o futebol não se fizeram esperar: o banco alcançou em 2004 um retorno mediático na ordem dos 69 milhões de euros, muito para lá dos 18 milhões conseguidos pelo BPI, de acordo com o estudo "Retorno Mediático em Sponsorship", recentemente divulgado pela empresa Memorandum (do grupo Observer).
Esta pesquisa mediu o quanto uma marca - ou nome de empresa - foi mediatizada nos meios de comunicação social em 2004 graças a contratos de patrocínio, calculando o quanto lhe teria custado essa exposição se tivesse sido obtida através da compra publicitária (a preços de tabela) de tempo e/ou espaço nas televisões, rádios, jornais e revistas. O que significa que o BES poupou vários milhões de euros que teria de ter gasto a comprar publicidade para conseguir o mesmo grau de exposição mediática que obteve através dos contratos de "sponsorização" no futebol que tinham em curso no ano passado - com o FC Porto, Benfica e Sporting, com a SuperLiga e com a selecção portuguesa.
Tendo sido o BES, como marca individualmente considerada, aquela que mais retorno mediático alcançou na "sponsorização" do futebol ao longo de 2004 (69 milhões de euros), já numa análise de grupo foram a Portugal Telecom e a TMN que conseguiram a maior fatia (49 e 42 milhões de euros respectivamente).
Fonte oficial desta operadora de telecomunicações referiu ao PÚBLICO que "o futebol é a actividade que mais investimentos capta em termos de contratualizações anuais de patrocínios da PT" e que "estes retornos são os expectáveis para os investimentos feitos" - que terão de ser, necessariamente, valores na ordem das centenas de milhares de euros: a PT é "sponsor" principal e oficial do Sporting e do FC Porto e, segundo o PÚBLICO apurou, também o será muito em breve do Benfica. A PT já tem uma bancada no novo Estádio da Luz e o PÚBLICO sabe que estará prestes a finalizar o negócio também para a Bancada Centenário.
"Os resultados de um patrocínio são visivelmente melhores quando a marca faz passar a sua mensagem através de uma estratégia consolidada, em que a 'sponsorização' é apoiada por diversos outros suportes de associação da empresa ao futebol", referiu ao PÚBLICO Uriel de Oliveira, responsável pela pesquisa da Memorandum. "O patrocínio continua a ser a forma mais eficaz de transportar para uma marca os valores emocionais daquilo a que se liga por meio da 'sponsorização', e sem dúvida nenhuma o futebol continua a ser a actividade que mais capta a motivação de investimento publicitário sob a forma de patrocínio, mesmo considerando todo o leque de actividades para lá do desporto", defendeu ainda Uriel de Oliveira.
Desporto campeão dos patrocínios
Esta ideia é válida tanto localmente como a nível mundial. O futebol mantém-se com continuada proeminência no mercado global de marketing, tendo sido a actividade desportiva que maior fluxo de "sponsorização" captou em 2004 - 1563 milhões de dólares, com o futebol americano na segunda posição do "ranking" (1005 milhões de dólares). Estes dados foram divulgados no estudo anual do The World Sponsorship Monitor (TWSM), a base de dados elaborada pela empresa de análise de mercados Sports Marketing Surveys, a qual publicou na passada semana a pesquisa sobre 2004. E isto num panorama em que o desporto se continua a assumir como o maior destino dos investimentos mundiais em patrocínios considerando todo o tipo de actividades que são "sponsorizadas" pelas empresas (78 por cento em 2004, 77 em 2003 e 80 em 2002).
A nível global de todo o tipo de "sponsorizações" feitas no ano passado, foi o sector das telecomunicações que mais investiu: as telecoms fizeram contratos de patrocínio no valor total de 815,6 milhões de dólares em 2004, seguidas pela indústria de roupa desportiva, que investiu um total de 761,4 milhões de dólares. Mas, se olharmos para o futebol apenas, é a indústria de roupa desportiva que se destaca no "ranking", com mais de 582,3 milhões de dólares postos em patrocínios a nível mundial, seguindo-se as companhias áreas (187,1 milhões de dólares), as petrolíferas (124,5), a banca (123,4) e o sector das telecomunicações (111,7).
O relatório anual do TWSM não divulga em pormenor os valores que foram investidos no Euro 2004: à parte da Carlsberg, que anunciou ter gasto 23,740 milhões de dólares em patrocínio no Campeonato Europeu de futebol, "nunca foi revelado quanto é que a maior parte das empresas aplicaram exactamente, mas sabemos que foi um valor acima dos dez milhões de dólares cada uma", explicou ao PÚBLICO o editor do relatório, William Fenton
Patrocínios ao Futebol Têm Garantia de Sucesso
Segunda-feira, 07 de Fevereiro de 2005
O desporto, liderado pelo futebol, é o sector que mais atrai os patrocínios das empresas em todo o mundo. As empresas de telecomunicações e as marcas de roupa desportiva lideram os investimentos. Em Portugal, é a banca que mais lucra com a exposição mediática do futebol
Dulce Furtado
O Banco Português de Investimento foi o banco oficial do Euro 2004, estatuto ganho através da celebração de um contrato de patrocínio com a entidade organizadora do evento. Mas a voz da banca que se ouviu mais alto no evento foi a do Banco Espírito Santo - "sponsor" oficial da selecção portuguesa de futebol - que, numa estratégia de comunicação consolidada desde 2002, ganhou um relevo no sector que lhe atribuiu um reconhecimento praticamente intuitivo de ligação profunda ao futebol e em particular ao campeonato europeu disputado em Portugal no ano passado.
Um estudo do impacto das campanhas feito pelo próprio BES revelou que 58 por cento das pessoas apontavam que era este o banco oficial do Euro 2004 - só 24 por cento o identificavam como patrocinador da selecção. Os resultados da estratégia de marketing do BES para o futebol não se fizeram esperar: o banco alcançou em 2004 um retorno mediático na ordem dos 69 milhões de euros, muito para lá dos 18 milhões conseguidos pelo BPI, de acordo com o estudo "Retorno Mediático em Sponsorship", recentemente divulgado pela empresa Memorandum (do grupo Observer).
Esta pesquisa mediu o quanto uma marca - ou nome de empresa - foi mediatizada nos meios de comunicação social em 2004 graças a contratos de patrocínio, calculando o quanto lhe teria custado essa exposição se tivesse sido obtida através da compra publicitária (a preços de tabela) de tempo e/ou espaço nas televisões, rádios, jornais e revistas. O que significa que o BES poupou vários milhões de euros que teria de ter gasto a comprar publicidade para conseguir o mesmo grau de exposição mediática que obteve através dos contratos de "sponsorização" no futebol que tinham em curso no ano passado - com o FC Porto, Benfica e Sporting, com a SuperLiga e com a selecção portuguesa.
Tendo sido o BES, como marca individualmente considerada, aquela que mais retorno mediático alcançou na "sponsorização" do futebol ao longo de 2004 (69 milhões de euros), já numa análise de grupo foram a Portugal Telecom e a TMN que conseguiram a maior fatia (49 e 42 milhões de euros respectivamente).
Fonte oficial desta operadora de telecomunicações referiu ao PÚBLICO que "o futebol é a actividade que mais investimentos capta em termos de contratualizações anuais de patrocínios da PT" e que "estes retornos são os expectáveis para os investimentos feitos" - que terão de ser, necessariamente, valores na ordem das centenas de milhares de euros: a PT é "sponsor" principal e oficial do Sporting e do FC Porto e, segundo o PÚBLICO apurou, também o será muito em breve do Benfica. A PT já tem uma bancada no novo Estádio da Luz e o PÚBLICO sabe que estará prestes a finalizar o negócio também para a Bancada Centenário.
"Os resultados de um patrocínio são visivelmente melhores quando a marca faz passar a sua mensagem através de uma estratégia consolidada, em que a 'sponsorização' é apoiada por diversos outros suportes de associação da empresa ao futebol", referiu ao PÚBLICO Uriel de Oliveira, responsável pela pesquisa da Memorandum. "O patrocínio continua a ser a forma mais eficaz de transportar para uma marca os valores emocionais daquilo a que se liga por meio da 'sponsorização', e sem dúvida nenhuma o futebol continua a ser a actividade que mais capta a motivação de investimento publicitário sob a forma de patrocínio, mesmo considerando todo o leque de actividades para lá do desporto", defendeu ainda Uriel de Oliveira.
Desporto campeão dos patrocínios
Esta ideia é válida tanto localmente como a nível mundial. O futebol mantém-se com continuada proeminência no mercado global de marketing, tendo sido a actividade desportiva que maior fluxo de "sponsorização" captou em 2004 - 1563 milhões de dólares, com o futebol americano na segunda posição do "ranking" (1005 milhões de dólares). Estes dados foram divulgados no estudo anual do The World Sponsorship Monitor (TWSM), a base de dados elaborada pela empresa de análise de mercados Sports Marketing Surveys, a qual publicou na passada semana a pesquisa sobre 2004. E isto num panorama em que o desporto se continua a assumir como o maior destino dos investimentos mundiais em patrocínios considerando todo o tipo de actividades que são "sponsorizadas" pelas empresas (78 por cento em 2004, 77 em 2003 e 80 em 2002).
A nível global de todo o tipo de "sponsorizações" feitas no ano passado, foi o sector das telecomunicações que mais investiu: as telecoms fizeram contratos de patrocínio no valor total de 815,6 milhões de dólares em 2004, seguidas pela indústria de roupa desportiva, que investiu um total de 761,4 milhões de dólares. Mas, se olharmos para o futebol apenas, é a indústria de roupa desportiva que se destaca no "ranking", com mais de 582,3 milhões de dólares postos em patrocínios a nível mundial, seguindo-se as companhias áreas (187,1 milhões de dólares), as petrolíferas (124,5), a banca (123,4) e o sector das telecomunicações (111,7).
O relatório anual do TWSM não divulga em pormenor os valores que foram investidos no Euro 2004: à parte da Carlsberg, que anunciou ter gasto 23,740 milhões de dólares em patrocínio no Campeonato Europeu de futebol, "nunca foi revelado quanto é que a maior parte das empresas aplicaram exactamente, mas sabemos que foi um valor acima dos dez milhões de dólares cada uma", explicou ao PÚBLICO o editor do relatório, William Fenton
- Mensagens: 3433
- Registado: 5/10/2004 16:59
EUA
Segunda-feira, 07 de Fevereiro de 2005
Nos EUA, foram criados 146 mil novos empregos, em Janeiro, significativamente abaixo das expectativas médias dos analistas, que esperavam a criação de cerca de 200 mil. Apesar disto, a taxa de desemprego caiu de 5,4 para 5,2 por cento da população activa e o 'outlook' para 2005 aponta para a continuação do aumento gradual do emprego, com o decréscimo que se tem vindo a verificar no crescimento da produtividade, combinado com a robustez da procura privada e a subida dos níveis de confiança empresarial, principalmente depois das eleições americanas. Paralelamente, a economia americana já recuperou em número as perdas de postos de trabalho que aconteceram desde o início da recessão de 2001. Refira-se que a economia norte-americana cresceu 3,1 por cento, em termos anualizados, no quarto trimestre de 2004, o que representa uma valor ligeiramente aquém do que era esperado (3,5 por cento). Apesar de tudo, com este registo, os Estados Unidos verificaram um crescimento de 4,4 por cento, o que constitui o melhor resultado dos últimos cinco anos.
Alemanha
Na Alemanha, o desemprego aumentou em 227 mil indivíduos em Janeiro, sobretudo devido a uma alteração do método estatístico de contabilização deste indicador. A chamada reforma Hartz IV passou a incluir como desempregados as pessoas que recebem subsídios de desemprego mas que estão em condições de entrar no mercado de trabalho. Assim, e mesmo que os números de Janeiro não possam ser comparados à série anterior, a realidade é que o desemprego tem vindo a aumentar pelo 12º mês consecutivo, levando a taxa de desemprego para 11,4 por cento da população activa. Paralelamente, na Zona Euro, observou-se uma melhoria nos índices de confiança empresarial (excepto na componente de emprego), apesar da tendência de apreciação do euro face ao dólar. Também uma política monetária significativamente acomodatícia por parte do BCE (que manteve inalterada a taxa de juro de referência em dois por cento) revela que a Zona Euro não deverá alterar o seu padrão de crescimento, em 2005, assente sobretudo no sector externo da economia.
Brasil
No Brasil, foram divulgadas as minutas da última reunião do comité de política monetária (Copom) do Banco Central do Brasil, onde foi decidida a subida da taxa Selic de 17,75 para 18,25 por cento. De um modo global, o tom evidenciado aponta para um maior acento tónico nas preocupações da inflação, o que poderá indiciar a continuação de uma política agressiva em termos de taxas de juro. De facto, os índices de preços no consumidor mostraram nova aceleração em Dezembro, reflectindo a maior elevação dos preços dos bens não sujeitos a fiscalização e a manutenção, em patamar elevado, da variação de preços condicionados, não obstante a inflação no conjunto de 2004 se ter mantido dentro do intervalo previsto pelo banco central. Assim, é de admitir que as autoridades monetárias procedam pelo menos por mais uma vez a uma nova subida da taxa Selic (em 25 pontos base), já em Fevereiro, não estando excluída a ocorrência de um novo agravamento em meses futuros.
China
A economia chinesa cresceu 9,5 por cento em termos homólogos, no último trimestre do ano, depois de um acréscimo de 9,1 por cento no trimestre anterior. Esta aceleração da actividade poderá estar correlacionada com a tendência crescente do excedente comercial, que atingiu um recorde de 11 mil milhões de dólares em Dezembro, culminando um ano de forte expansão do sector externo. Também as vendas a retalho registaram uma forte aceleração nos últimos meses, bem como os números do investimento, não obstante as medidas tomadas pelo Governo para controlar o sobreaquecimento em alguns sectores de actividade. Estes números, aliados às pressões inflacionistas existentes (os preços dos bens de consumo finais registaram um crescimento de 3,9 por cento em 2004) poderão fazer reavivar o debate em torno da reavaliação da moeda chinesa, contributo que se considera importante para corrigir os desequilíbrios de que padece a economia mundial.
Segunda-feira, 07 de Fevereiro de 2005
Nos EUA, foram criados 146 mil novos empregos, em Janeiro, significativamente abaixo das expectativas médias dos analistas, que esperavam a criação de cerca de 200 mil. Apesar disto, a taxa de desemprego caiu de 5,4 para 5,2 por cento da população activa e o 'outlook' para 2005 aponta para a continuação do aumento gradual do emprego, com o decréscimo que se tem vindo a verificar no crescimento da produtividade, combinado com a robustez da procura privada e a subida dos níveis de confiança empresarial, principalmente depois das eleições americanas. Paralelamente, a economia americana já recuperou em número as perdas de postos de trabalho que aconteceram desde o início da recessão de 2001. Refira-se que a economia norte-americana cresceu 3,1 por cento, em termos anualizados, no quarto trimestre de 2004, o que representa uma valor ligeiramente aquém do que era esperado (3,5 por cento). Apesar de tudo, com este registo, os Estados Unidos verificaram um crescimento de 4,4 por cento, o que constitui o melhor resultado dos últimos cinco anos.
Alemanha
Na Alemanha, o desemprego aumentou em 227 mil indivíduos em Janeiro, sobretudo devido a uma alteração do método estatístico de contabilização deste indicador. A chamada reforma Hartz IV passou a incluir como desempregados as pessoas que recebem subsídios de desemprego mas que estão em condições de entrar no mercado de trabalho. Assim, e mesmo que os números de Janeiro não possam ser comparados à série anterior, a realidade é que o desemprego tem vindo a aumentar pelo 12º mês consecutivo, levando a taxa de desemprego para 11,4 por cento da população activa. Paralelamente, na Zona Euro, observou-se uma melhoria nos índices de confiança empresarial (excepto na componente de emprego), apesar da tendência de apreciação do euro face ao dólar. Também uma política monetária significativamente acomodatícia por parte do BCE (que manteve inalterada a taxa de juro de referência em dois por cento) revela que a Zona Euro não deverá alterar o seu padrão de crescimento, em 2005, assente sobretudo no sector externo da economia.
Brasil
No Brasil, foram divulgadas as minutas da última reunião do comité de política monetária (Copom) do Banco Central do Brasil, onde foi decidida a subida da taxa Selic de 17,75 para 18,25 por cento. De um modo global, o tom evidenciado aponta para um maior acento tónico nas preocupações da inflação, o que poderá indiciar a continuação de uma política agressiva em termos de taxas de juro. De facto, os índices de preços no consumidor mostraram nova aceleração em Dezembro, reflectindo a maior elevação dos preços dos bens não sujeitos a fiscalização e a manutenção, em patamar elevado, da variação de preços condicionados, não obstante a inflação no conjunto de 2004 se ter mantido dentro do intervalo previsto pelo banco central. Assim, é de admitir que as autoridades monetárias procedam pelo menos por mais uma vez a uma nova subida da taxa Selic (em 25 pontos base), já em Fevereiro, não estando excluída a ocorrência de um novo agravamento em meses futuros.
China
A economia chinesa cresceu 9,5 por cento em termos homólogos, no último trimestre do ano, depois de um acréscimo de 9,1 por cento no trimestre anterior. Esta aceleração da actividade poderá estar correlacionada com a tendência crescente do excedente comercial, que atingiu um recorde de 11 mil milhões de dólares em Dezembro, culminando um ano de forte expansão do sector externo. Também as vendas a retalho registaram uma forte aceleração nos últimos meses, bem como os números do investimento, não obstante as medidas tomadas pelo Governo para controlar o sobreaquecimento em alguns sectores de actividade. Estes números, aliados às pressões inflacionistas existentes (os preços dos bens de consumo finais registaram um crescimento de 3,9 por cento em 2004) poderão fazer reavivar o debate em torno da reavaliação da moeda chinesa, contributo que se considera importante para corrigir os desequilíbrios de que padece a economia mundial.
- Mensagens: 3433
- Registado: 5/10/2004 16:59
Deutsche Bank
Sistema Monetário Internacional Está Perante Uma Encruzilhada
Por PÚBLICO/LUSA
Segunda-feira, 07 de Fevereiro de 2005
O economista-chefe do Deutsche Bank, Norbert Walter, considerou na sexta-feira que o sistema monetário internacional está colocado entre um corte de taxas pelo Banco Central Europeu (BCE) e a construção de uma alternativa. Walter entende, em artigo disponível no endereço electrónico da instituição, que a variação das taxas de câmbio pode destruir decisões de investimento, o trabalho de uma vida inteira de inventores e os esforços negociais dos representantes de empregadores e empregados.
Apesar desta importância, os esforços dos estudiosos têm gerado poucos resultados construtivos para a previsão da variação destas taxas no médio prazo, contrasta. As reacções possíveis, no quadro do actual sistema, enuncia de forma interrogativa, são entregar-se a uma resignação fatalista, cobrir os riscos cambiais com recurso a instrumentos financeiros ou disseminar saber-fazer, trabalho e capital em todos os mercados internacionais relevantes para a produção e vendas da empresa.
Ou então, se aquela for a abordagem errada, como também admite, há que começar a pensar em alternativas ao sistema global de taxas de câmbio. Walter pormenoriza que o dólar tem sido ao longo de décadas uma "fonte notória de preocupações", ao ter flutuações que representam um desvio de cerca de 30 por cento do seu valor de equilíbrio, "o que é mais do quíntuplo do que seria requerido pelas divergências acumuladas de preços e custos".
Um dos problemas das flutuações cambiais é que se reflectem no preço dos activos, por exemplo imobiliários, conduzindo à formação de bolhas especulativas e aos problemas subsequentes quando estas esvaziam.
O economista-chefe do Deutsche Bank situa os limites da evolução futura entre a consideração de uma alternativa ao actual sistema monetário internacional e uma descida da taxa de juros por parte do BCE, de forma a "prevenir uma desvalorização exagerada" do dólar.
Greenspan defende dólar fraco
O presidente da Reserva Federal norte-americana, Alan Greenspan, disse também na sexta-feira que a queda do dólar face ao euro e a restrição fiscal por parte do governo dos Estados Unidos poderão brevemente levar a uma redução do défice corrente.
"Poderemos estar a aproximar-nos de um ponto, se já não estamos lá, em que os exportadores para os Estados Unidos, caso o dólar caia mais, poderão escolher não absorver mais reduções nas margens de lucro", disse Greenspan numa conferência em Londres, citado pela Bloomberg.
As "pressões de mercado parecem decididas a estabilizar e no longo prazo a, possivelmente, fazer cair o défice corrente dos Estados Unidos [que no trimestre atingiu um valor recorde de 164,7 mil milhões de dólares, ou 127,4 mil milhões de euros] e as suas necessidades de financiamento", referiu o presidente da Fed. "Alguns poderes na economia doméstica norte-americana parecem estar a encaminhar-se na mesma direcção", acrescentou.
Uma dessas forças "é a crescente pressão para baixar o défice orçamental, o qual reduziria a pressão para fazer empréstimos ao estrangeiro", adiantou Greenspan. A "voz da contenção fiscal, que dificilmente se ouvia há um ano atrás, voltou pelo menos a subir de tom", revelou.
Sistema Monetário Internacional Está Perante Uma Encruzilhada
Por PÚBLICO/LUSA
Segunda-feira, 07 de Fevereiro de 2005
O economista-chefe do Deutsche Bank, Norbert Walter, considerou na sexta-feira que o sistema monetário internacional está colocado entre um corte de taxas pelo Banco Central Europeu (BCE) e a construção de uma alternativa. Walter entende, em artigo disponível no endereço electrónico da instituição, que a variação das taxas de câmbio pode destruir decisões de investimento, o trabalho de uma vida inteira de inventores e os esforços negociais dos representantes de empregadores e empregados.
Apesar desta importância, os esforços dos estudiosos têm gerado poucos resultados construtivos para a previsão da variação destas taxas no médio prazo, contrasta. As reacções possíveis, no quadro do actual sistema, enuncia de forma interrogativa, são entregar-se a uma resignação fatalista, cobrir os riscos cambiais com recurso a instrumentos financeiros ou disseminar saber-fazer, trabalho e capital em todos os mercados internacionais relevantes para a produção e vendas da empresa.
Ou então, se aquela for a abordagem errada, como também admite, há que começar a pensar em alternativas ao sistema global de taxas de câmbio. Walter pormenoriza que o dólar tem sido ao longo de décadas uma "fonte notória de preocupações", ao ter flutuações que representam um desvio de cerca de 30 por cento do seu valor de equilíbrio, "o que é mais do quíntuplo do que seria requerido pelas divergências acumuladas de preços e custos".
Um dos problemas das flutuações cambiais é que se reflectem no preço dos activos, por exemplo imobiliários, conduzindo à formação de bolhas especulativas e aos problemas subsequentes quando estas esvaziam.
O economista-chefe do Deutsche Bank situa os limites da evolução futura entre a consideração de uma alternativa ao actual sistema monetário internacional e uma descida da taxa de juros por parte do BCE, de forma a "prevenir uma desvalorização exagerada" do dólar.
Greenspan defende dólar fraco
O presidente da Reserva Federal norte-americana, Alan Greenspan, disse também na sexta-feira que a queda do dólar face ao euro e a restrição fiscal por parte do governo dos Estados Unidos poderão brevemente levar a uma redução do défice corrente.
"Poderemos estar a aproximar-nos de um ponto, se já não estamos lá, em que os exportadores para os Estados Unidos, caso o dólar caia mais, poderão escolher não absorver mais reduções nas margens de lucro", disse Greenspan numa conferência em Londres, citado pela Bloomberg.
As "pressões de mercado parecem decididas a estabilizar e no longo prazo a, possivelmente, fazer cair o défice corrente dos Estados Unidos [que no trimestre atingiu um valor recorde de 164,7 mil milhões de dólares, ou 127,4 mil milhões de euros] e as suas necessidades de financiamento", referiu o presidente da Fed. "Alguns poderes na economia doméstica norte-americana parecem estar a encaminhar-se na mesma direcção", acrescentou.
Uma dessas forças "é a crescente pressão para baixar o défice orçamental, o qual reduziria a pressão para fazer empréstimos ao estrangeiro", adiantou Greenspan. A "voz da contenção fiscal, que dificilmente se ouvia há um ano atrás, voltou pelo menos a subir de tom", revelou.
- Mensagens: 3433
- Registado: 5/10/2004 16:59
Governo desdramatiza resultado de estudo da DIHK
Alemanha Deslocaliza Actividades de I&D
Segunda-feira, 07 de Fevereiro de 2005
Um estudo da confederação alemã das Câmaras de Comércio e Indústria revela que 15 por cento das empresas já têm centros de investigação e desenvolvimento no estrangeiro e mais 17 por cento tencionam fazê-lo nos próximos anos. A Alemanha investe em I&D nove mil milhões de euros por ano
Helena Ferro de Gouveia, Frankfurt
Más notícias para o Governo de Berlim em pleno ano dedicado ao génio da Física Albert Einstein: as empresas alemãs estão não apenas a deslocalizar a produção, mas também as suas actividades de investigação e desenvolvimento (I&D).
De acordo com um estudo efectuado pela DIHK, a confederação alemã das Câmaras de Comércio e Indústria, abrangendo um universo de 1554 empresas, 15 por cento destas dispõe já de centros de I&D no exterior da Alemanha e 17 por cento tencionam fazê-lo nos próximos três anos. Deste último grupo, cerca de dois quartos são sociedades com mais de mil empregados ou de 250 a 999 assalariados. O estudo indica ainda que os investimentos externos alemães na área da I&D são maioritariamente feitos nos antigos quinze países da União Europeia (47 por cento), seguindo-se os países da Europa Central e Leste (31 por cento) e em percentagens iguais Ásia e a América do Norte (28 por cento). Os salários elevados praticados na Alemanha são um dos principais motivos apontados pelos empresários para justificar esta deslocalização; outras razões indicadas são a proximidade dos locais de produção e do cliente e um horário laboral mais flexível.
A tendência revelada pelo estudo é considerada perigosa pelo presidente da DIHK, Ludwig Georg Braun, que teme uma espiral de "off-shoring". "A Alemanha está perder o seu atractivo como país de investigação", afirmou Braun durante a apresentação do relatório em Berlim. Na análise do jornal económico "Handelsblatt", é há muito notório que a Alemanha "tem vindo a perder massa produtiva a favor de países onde os custos salariais são mais reduzidos". O mesmo tem vindo a suceder noutros grandes países industrializados, mas a hipótese de perder o "know-how" é considerada "uma ameaça" ao bem-estar social e a "política que lutar contra esta tendência", defende o jornal.
Governo aposta no investimento
Todavia, a ministra alemã da Ciência, Edelgard Bulmahn, desdramatiza o documento, não o considerando "motivo para preocupação". Como prova da atractividade germânica enquanto local de investigação, o Ministério da Ciência cita os investimentos recentes realizados pela General Electrics em Garching (perto de Munique, Baviera), da Intel em Braunschweig (Baixa-Saxónia) e da Lucent Technologies em Nuremberga (Baviera). Também a Associação alemã de Mecenas para a Ciência avalia de forma crítica o relatório, afirmando que "a situação não é tão dramática quanto o estudo sugere". Segundo esta organização, as empresas germânicas investiram no exterior na área de I&D, em 2001 (estes dados são recolhidos bianualmente e ainda não está disponível a informação de 2003), 11,9 mil milhões de euros - no mesmo período de tempo empresas estrangeiras insistiram na Alemanha 10,4 mil milhões de euros. O estudo da DIHK diz que 30 por cento das empresas interrogadas tencionam aumentar o volume dos seus investimentos na Alemanha e 49 por cento mantê-lo constante, "o que dificilmente pode ser avaliado de forma negativa", comenta o Ministério da Ciência alemão.
Pela parte do Governo social-democrata, liderado pelo chanceler Gerhard Schroeder, tem havido um esforço no sentido aumentar o investimento no domínio da I&D. Embora a Alemanha ainda esteja abaixo da meta de investimentos em I&D de três por cento do PIB estabelecida pela "Agenda de Lisboa", no período de cinco anos, de 1998 a 2003, a dotação orçamental destinada à investigação passou de mil milhões para nove mil milhões de euros, o que representa 2,52 por cento do PIB. Sectores como a Biotecnologia, Nanotecnologia, Tecnologia Laser e Tecnologias da Informação representaram em 2003, segundo dados do Ministério da Ciência, 14,9 por cento das exportações germânicas, o que confere à Alemanha o segundo lugar a nível mundial em matéria de exportação de conhecimento, depois dos Estados Unidos, com 19,4 por cento. Também o número de patentes alemãs com relevância mundial (127) só é ultrapassado pelas 164 do Japão.
Alemanha Deslocaliza Actividades de I&D
Segunda-feira, 07 de Fevereiro de 2005
Um estudo da confederação alemã das Câmaras de Comércio e Indústria revela que 15 por cento das empresas já têm centros de investigação e desenvolvimento no estrangeiro e mais 17 por cento tencionam fazê-lo nos próximos anos. A Alemanha investe em I&D nove mil milhões de euros por ano
Helena Ferro de Gouveia, Frankfurt
Más notícias para o Governo de Berlim em pleno ano dedicado ao génio da Física Albert Einstein: as empresas alemãs estão não apenas a deslocalizar a produção, mas também as suas actividades de investigação e desenvolvimento (I&D).
De acordo com um estudo efectuado pela DIHK, a confederação alemã das Câmaras de Comércio e Indústria, abrangendo um universo de 1554 empresas, 15 por cento destas dispõe já de centros de I&D no exterior da Alemanha e 17 por cento tencionam fazê-lo nos próximos três anos. Deste último grupo, cerca de dois quartos são sociedades com mais de mil empregados ou de 250 a 999 assalariados. O estudo indica ainda que os investimentos externos alemães na área da I&D são maioritariamente feitos nos antigos quinze países da União Europeia (47 por cento), seguindo-se os países da Europa Central e Leste (31 por cento) e em percentagens iguais Ásia e a América do Norte (28 por cento). Os salários elevados praticados na Alemanha são um dos principais motivos apontados pelos empresários para justificar esta deslocalização; outras razões indicadas são a proximidade dos locais de produção e do cliente e um horário laboral mais flexível.
A tendência revelada pelo estudo é considerada perigosa pelo presidente da DIHK, Ludwig Georg Braun, que teme uma espiral de "off-shoring". "A Alemanha está perder o seu atractivo como país de investigação", afirmou Braun durante a apresentação do relatório em Berlim. Na análise do jornal económico "Handelsblatt", é há muito notório que a Alemanha "tem vindo a perder massa produtiva a favor de países onde os custos salariais são mais reduzidos". O mesmo tem vindo a suceder noutros grandes países industrializados, mas a hipótese de perder o "know-how" é considerada "uma ameaça" ao bem-estar social e a "política que lutar contra esta tendência", defende o jornal.
Governo aposta no investimento
Todavia, a ministra alemã da Ciência, Edelgard Bulmahn, desdramatiza o documento, não o considerando "motivo para preocupação". Como prova da atractividade germânica enquanto local de investigação, o Ministério da Ciência cita os investimentos recentes realizados pela General Electrics em Garching (perto de Munique, Baviera), da Intel em Braunschweig (Baixa-Saxónia) e da Lucent Technologies em Nuremberga (Baviera). Também a Associação alemã de Mecenas para a Ciência avalia de forma crítica o relatório, afirmando que "a situação não é tão dramática quanto o estudo sugere". Segundo esta organização, as empresas germânicas investiram no exterior na área de I&D, em 2001 (estes dados são recolhidos bianualmente e ainda não está disponível a informação de 2003), 11,9 mil milhões de euros - no mesmo período de tempo empresas estrangeiras insistiram na Alemanha 10,4 mil milhões de euros. O estudo da DIHK diz que 30 por cento das empresas interrogadas tencionam aumentar o volume dos seus investimentos na Alemanha e 49 por cento mantê-lo constante, "o que dificilmente pode ser avaliado de forma negativa", comenta o Ministério da Ciência alemão.
Pela parte do Governo social-democrata, liderado pelo chanceler Gerhard Schroeder, tem havido um esforço no sentido aumentar o investimento no domínio da I&D. Embora a Alemanha ainda esteja abaixo da meta de investimentos em I&D de três por cento do PIB estabelecida pela "Agenda de Lisboa", no período de cinco anos, de 1998 a 2003, a dotação orçamental destinada à investigação passou de mil milhões para nove mil milhões de euros, o que representa 2,52 por cento do PIB. Sectores como a Biotecnologia, Nanotecnologia, Tecnologia Laser e Tecnologias da Informação representaram em 2003, segundo dados do Ministério da Ciência, 14,9 por cento das exportações germânicas, o que confere à Alemanha o segundo lugar a nível mundial em matéria de exportação de conhecimento, depois dos Estados Unidos, com 19,4 por cento. Também o número de patentes alemãs com relevância mundial (127) só é ultrapassado pelas 164 do Japão.
- Mensagens: 3433
- Registado: 5/10/2004 16:59
Personagem: José Manuel Durão Barroso
Segunda-feira, 07 de Fevereiro de 2005
Com o relançamento da Estratégia de Lisboa para o reforço da competitividade da economia europeia, Durão Barroso conseguiu na semana passada realizar as aspirações de qualquer membro da Comissão Europeia: conquistar os elogios e um espaço de destaque no "Financial Times", o jornal tido como a "bíblia" da eurocracia, e que continua a ser o "confessionário" privilegiado dos políticos europeus. Enquanto a imprensa francesa, alemã ou italiana tem sobretudo assinalado as dificuldades de arranque da nova Comissão, a cacofonia que reina entre os comissários, as guerras de poder entre alguns ou os amuos de outros, o FT destaca "a mensagem poderosa, clara e que se impunha há muito tempo" do presidente da Comissão. Além de terem notado, irritados, que Barroso preferiu explicar as suas ideias na matéria primeiro ao FT e só depois ao Parlamento Europeu, muitos eurodeputados perderam as dúvidas: o tom laudatório do jornal do mundo dos negócios de Londres constitui a prova acabada da "deriva liberal" da nova Comissão, liderada pelo português José Manuel Barroso.
Frase
"Em termos de grupo, já fomos prejudicados uma vez por atender ao interesse nacional (...) não temos intenção de ser prejudicados de novo", Ricardo Salgado, presidente do BES, sobre o futuro da TAP e da Portugália.
Revista da semana: Bloqueio nas Finanças
Provavelmente, já lhe aconteceu, no passado recente, deslocar-se a uma repartição de Finanças para regularizar uma qualquer situação fiscal e regressar a casa porque o sistema não deu resposta. Infelizmente, o problema tem meses. Um bloqueio numa aplicação informática impede que os serviços acedam ao cadastro de muitos contribuintes. O caso agrava-se nos últimos dias de cada mês, quando se esgotam prazos para pagamento dos compromissos com o Estado. E o pior é que ninguém sabe se os contribuintes que acabaram por ficar relapsos sem culpa própria não vão ainda sofrer penalizações pelo facto.
Governo adia Galp
O Ministério das Actividades Económicas decidiu não prorrogar a validade do contrato com a Petrocer para a venda a este consórcio de uma posição de 40,79 por cento do capital da Galpenergia. O prazo para formalizar o acordo terminava na segunda-feira, mas Álvaro Barreto optou por não tomar qualquer iniciativa adicional no sentido de o prolongar no tempo. A Petrocer entende que continua a assistir-lhe o direito de preferência na tomada da referida posição, mas acrescenta que não dará início a nenhuma batalha jurídica para o efeito. Os consórcios derrotados no concurso realizado sob a égide do ex-ministro Carlos Tavares acham que o processo tem que regressar à estaca zero. É uma batata quente para o Governo que sair das eleições do próximo dia 20.
Bolsa em alta
A bolsa portuguesa está a surpreender meio mundo, com um desempenho que fica claramente acima das suas congéneres europeias (subiram menos) e muito mais ainda se a comparação for feita com as praças norte-americanas, que acumulam perdas significativas. Com a situação económica ainda débil e a recuperação de alguns sectores longe de satisfazer, os analistas inclinam-se a pensar que é a força de alguns títulos que está a alimentar esta vaga, não se tratando, por isso, de um movimento sustentado. BCP, Cofina, PT e Sonaecom são alguns dos papéis que, por circunstâncias especiais, têm alavancado a animação bolsista. E, nos três últimos casos, tudo por causa da venda dos activos da Lusomundo Media. Para o Comercial Português contribuíram os bons resultados e o anúncio de um novo presidente, que claramente surpreendeu o mercado.
Segunda-feira, 07 de Fevereiro de 2005
Com o relançamento da Estratégia de Lisboa para o reforço da competitividade da economia europeia, Durão Barroso conseguiu na semana passada realizar as aspirações de qualquer membro da Comissão Europeia: conquistar os elogios e um espaço de destaque no "Financial Times", o jornal tido como a "bíblia" da eurocracia, e que continua a ser o "confessionário" privilegiado dos políticos europeus. Enquanto a imprensa francesa, alemã ou italiana tem sobretudo assinalado as dificuldades de arranque da nova Comissão, a cacofonia que reina entre os comissários, as guerras de poder entre alguns ou os amuos de outros, o FT destaca "a mensagem poderosa, clara e que se impunha há muito tempo" do presidente da Comissão. Além de terem notado, irritados, que Barroso preferiu explicar as suas ideias na matéria primeiro ao FT e só depois ao Parlamento Europeu, muitos eurodeputados perderam as dúvidas: o tom laudatório do jornal do mundo dos negócios de Londres constitui a prova acabada da "deriva liberal" da nova Comissão, liderada pelo português José Manuel Barroso.
Frase
"Em termos de grupo, já fomos prejudicados uma vez por atender ao interesse nacional (...) não temos intenção de ser prejudicados de novo", Ricardo Salgado, presidente do BES, sobre o futuro da TAP e da Portugália.
Revista da semana: Bloqueio nas Finanças
Provavelmente, já lhe aconteceu, no passado recente, deslocar-se a uma repartição de Finanças para regularizar uma qualquer situação fiscal e regressar a casa porque o sistema não deu resposta. Infelizmente, o problema tem meses. Um bloqueio numa aplicação informática impede que os serviços acedam ao cadastro de muitos contribuintes. O caso agrava-se nos últimos dias de cada mês, quando se esgotam prazos para pagamento dos compromissos com o Estado. E o pior é que ninguém sabe se os contribuintes que acabaram por ficar relapsos sem culpa própria não vão ainda sofrer penalizações pelo facto.
Governo adia Galp
O Ministério das Actividades Económicas decidiu não prorrogar a validade do contrato com a Petrocer para a venda a este consórcio de uma posição de 40,79 por cento do capital da Galpenergia. O prazo para formalizar o acordo terminava na segunda-feira, mas Álvaro Barreto optou por não tomar qualquer iniciativa adicional no sentido de o prolongar no tempo. A Petrocer entende que continua a assistir-lhe o direito de preferência na tomada da referida posição, mas acrescenta que não dará início a nenhuma batalha jurídica para o efeito. Os consórcios derrotados no concurso realizado sob a égide do ex-ministro Carlos Tavares acham que o processo tem que regressar à estaca zero. É uma batata quente para o Governo que sair das eleições do próximo dia 20.
Bolsa em alta
A bolsa portuguesa está a surpreender meio mundo, com um desempenho que fica claramente acima das suas congéneres europeias (subiram menos) e muito mais ainda se a comparação for feita com as praças norte-americanas, que acumulam perdas significativas. Com a situação económica ainda débil e a recuperação de alguns sectores longe de satisfazer, os analistas inclinam-se a pensar que é a força de alguns títulos que está a alimentar esta vaga, não se tratando, por isso, de um movimento sustentado. BCP, Cofina, PT e Sonaecom são alguns dos papéis que, por circunstâncias especiais, têm alavancado a animação bolsista. E, nos três últimos casos, tudo por causa da venda dos activos da Lusomundo Media. Para o Comercial Português contribuíram os bons resultados e o anúncio de um novo presidente, que claramente surpreendeu o mercado.
- Mensagens: 3433
- Registado: 5/10/2004 16:59
Cronologia
Reestruturação Falhada
Segunda-feira, 07 de Fevereiro de 2005
2004, 1 de Abril - Carlos Tavares abre um concurso limitado para a compra de uma participação entre 33,3 por cento e 47,3 por cento e convida quatro interessados: Carlyle, grupo José de Mello, Viacer e CVC Capital.
26 de Abril - Candidatos entregam propostas para a Galp. Ferreira de Oliveira é a cara do consórcio Petrocer, que integra o grupo de accionistas da Unicer (BPI, Violas e Arsopi). A Carlyle lidera o consórcio Luso-Oil (BES, Fomentinvest, Fundação Oriente e Riopele), cujo rosto é o ex-ministro social-democrata Ângelo Correia. O grupo Mello, com o economista António Nogueira Leite como porta-voz, concorre sem alianças.
1 de Junho - O Governo anuncia que o "comité de sábios", formado por João Morais Leitão, Eduardo Catroga e José Luís Sapateiro, seleccionou para o primeiro lugar "ex-aequo" as propostas dos grupos portugueses Petrocer e José de Mello. A Carlyle e a CVC ficam fora da corrida.
30 de Junho - Recomendação final dos sábios é a de que a Parpública "escolha a proponente Petrocer para adquirir a mencionada participação no capital social da Galp".
9 de Julho - Notificação do projecto de integração da GDP na EDP chega a Bruxelas.
3 de Agosto - Após três adiamentos, a Petrocer e Estado assinam contrato promessa de compra e venda de 40,79 por cento do capital da Galpenergia. A concretização do negócio fica dependente da saída da ENI da Galp e da venda da respectiva posição de 33,34 por cento à Parpública. Validade do contrato vai até 1 de Fevereiro de 2005.
13 de Agosto - CE abre uma investigação aprofundada à operação EDP/GDP.
5 de Setembro - Álvaro Barreto é recebido por Mario Monti em Bruxelas. Leva um pacote de oito medidas para atenuar as reservas da CE. Entre elas, está a passagem dos activos de transporte e de armazenamento da GDP para a REN, a substancial redução da posição accionista do Estado nesta empresa e a antecipação da liberalização do mercado de gás natural.
15 de Novembro - Grupo José de Mello interpõe recurso junto do Tribunal Administrativo e pede anulação da venda da Galp à Petrocer
8 de Dezembro - Comissão Europeia presidida por Durão Barroso chumba a operação. A CE impusera que a EDP vendesse a central do Carregado e as suas participações nas distribuidoras regionais Lisboagás e Portgás. A empresa recusara.
22 de Dezembro - Depois do chumbo de Bruxelas, Álvaro Barreto e o presidente executivo da Eni reúnem-se em Lisboa, para negociar o adiamento da "call option" dos italianos na Galp.
29 de Dezembro. Em entrevista ao PÚBLICO, o ministro confirma querer estender o mesmo adiamento ao contrato com a Petrocer.
2005, 19 de Janeiro - Governo e Eni chegam a acordo e o prazo para uma decisão passa de 1 de Fevereiro para 1 de Outubro. O presidente do Petrocer, Ferreira de Oliveira, "espera que o Governo prolongue o período de validade do contrato".
25 de Janeiro - Portugueses da Luso-Oil interpõem providência cautelar contra o prolongamento do contrato com a Petrocer.
28 de Janeiro. Parpública e Eni assinam prolongamento do contrato.
1 de Fevereiro. Ministério das Actividades Económicas anuncia que não há prolongamento para a Petrocer. Esta promete reclamar, junto do próximo Governo, o direito à compra de 40,79 por cento da Galp
Reestruturação Falhada
Segunda-feira, 07 de Fevereiro de 2005
2004, 1 de Abril - Carlos Tavares abre um concurso limitado para a compra de uma participação entre 33,3 por cento e 47,3 por cento e convida quatro interessados: Carlyle, grupo José de Mello, Viacer e CVC Capital.
26 de Abril - Candidatos entregam propostas para a Galp. Ferreira de Oliveira é a cara do consórcio Petrocer, que integra o grupo de accionistas da Unicer (BPI, Violas e Arsopi). A Carlyle lidera o consórcio Luso-Oil (BES, Fomentinvest, Fundação Oriente e Riopele), cujo rosto é o ex-ministro social-democrata Ângelo Correia. O grupo Mello, com o economista António Nogueira Leite como porta-voz, concorre sem alianças.
1 de Junho - O Governo anuncia que o "comité de sábios", formado por João Morais Leitão, Eduardo Catroga e José Luís Sapateiro, seleccionou para o primeiro lugar "ex-aequo" as propostas dos grupos portugueses Petrocer e José de Mello. A Carlyle e a CVC ficam fora da corrida.
30 de Junho - Recomendação final dos sábios é a de que a Parpública "escolha a proponente Petrocer para adquirir a mencionada participação no capital social da Galp".
9 de Julho - Notificação do projecto de integração da GDP na EDP chega a Bruxelas.
3 de Agosto - Após três adiamentos, a Petrocer e Estado assinam contrato promessa de compra e venda de 40,79 por cento do capital da Galpenergia. A concretização do negócio fica dependente da saída da ENI da Galp e da venda da respectiva posição de 33,34 por cento à Parpública. Validade do contrato vai até 1 de Fevereiro de 2005.
13 de Agosto - CE abre uma investigação aprofundada à operação EDP/GDP.
5 de Setembro - Álvaro Barreto é recebido por Mario Monti em Bruxelas. Leva um pacote de oito medidas para atenuar as reservas da CE. Entre elas, está a passagem dos activos de transporte e de armazenamento da GDP para a REN, a substancial redução da posição accionista do Estado nesta empresa e a antecipação da liberalização do mercado de gás natural.
15 de Novembro - Grupo José de Mello interpõe recurso junto do Tribunal Administrativo e pede anulação da venda da Galp à Petrocer
8 de Dezembro - Comissão Europeia presidida por Durão Barroso chumba a operação. A CE impusera que a EDP vendesse a central do Carregado e as suas participações nas distribuidoras regionais Lisboagás e Portgás. A empresa recusara.
22 de Dezembro - Depois do chumbo de Bruxelas, Álvaro Barreto e o presidente executivo da Eni reúnem-se em Lisboa, para negociar o adiamento da "call option" dos italianos na Galp.
29 de Dezembro. Em entrevista ao PÚBLICO, o ministro confirma querer estender o mesmo adiamento ao contrato com a Petrocer.
2005, 19 de Janeiro - Governo e Eni chegam a acordo e o prazo para uma decisão passa de 1 de Fevereiro para 1 de Outubro. O presidente do Petrocer, Ferreira de Oliveira, "espera que o Governo prolongue o período de validade do contrato".
25 de Janeiro - Portugueses da Luso-Oil interpõem providência cautelar contra o prolongamento do contrato com a Petrocer.
28 de Janeiro. Parpública e Eni assinam prolongamento do contrato.
1 de Fevereiro. Ministério das Actividades Económicas anuncia que não há prolongamento para a Petrocer. Esta promete reclamar, junto do próximo Governo, o direito à compra de 40,79 por cento da Galp
- Mensagens: 3433
- Registado: 5/10/2004 16:59
Terceira alteração em dez anos
Novo Governo, Novo Modelo Energético
Segunda-feira, 07 de Fevereiro de 2005
A fúria de mudança dos ministros, os desafios do MIBEL e a obrigação de encontrar, nos próximos oito meses, uma solução para evitar que a Galpenergia vá parar a mãos italianas apontam para uma nova organização empresarial do sector
Lurdes Ferreira
A terceira reestruturação do sector energético - quarta para o petróleo - no espaço de pouco mais de uma década ainda não é visível, mas está prometida.
O chumbo de Bruxelas à junção dos negócios da electricidade e gás natural, a medida empresarial mais emblemática da meia legislatura do Governo de Durão Barroso e do seu ministro Carlos Tavares, abriu caminho a um novo desenho para o sector. O actual Governo, através de Álvaro Barreto, tentou iniciá-lo mas a dissolução do Parlamento retirou-lhe as plenas competências para o efeito.
Os programas eleitorais dos dois maiores partidos nada referem em concreto quanto a novos planos, embora ambos citem a necessidade de dar condições de competitividade e concorrência às empresas do sector e de concretizar o Mibel. Há alguns dias, o líder socialista, António Sócrates, foi mais claro ao anunciar que vai "avançar para a reestruturação do sector", caso ganhe as eleições.
Quatro razões reforçam a convicção de mais uma reestruturação para o sector. Primeira: o Estado acordou com a ENI o terceiro adiamento da opção de compra de acções da Galp Energia que pode dar teoricamente aos italianos a maioria do capital da "holding", devendo encontrar até Outubro uma solução para o problema. Segunda: a busca dessa solução nos próximos oito meses implicará, necessariamente, alterações na organização empresarial do sector, cuja versão minimalista será a simples saída da ENI do mercado português e a venda dos seus 33,34 por cento na Galp a uma outra entidade. Terceira: a aproximação do mercado ibérico de energia eléctrica (Mibel), embora atrasado face ao calendário inicial, obriga as empresas portuguesas do sector a prepararem-se para um mercado aberto, no qual as suas concorrentes espanholas jogam com maior fôlego financeiro. Quarta: sucessivos governos mostraram que não resistem à tentação de mais uma reestruturação, quando confrontados com um sector estratégico e no qual o Estado detém ainda um peso significativo.
A primeira grande arrumação do sector deu-se no final da década de 80 e início de 90 protagonizada pela Petrogal, era Cavaco Silva primeiro-ministro, Mira Amaral ministro da Indústria e Ribeiro da Silva secretário de Estado da Energia. A abertura antecipada do sector dos combustíveis fez recear que o sector não resistisse, para o que se construiu um núcleo accionista privado, a Petrocontrol. Não foi fácil, mas foi conseguido. Faltava um parceiro estratégico internacional à Petrogal, mas as tentativas - a mais séria foi com a Saudi Aramco - não resultaram.
No final da década de 90, o Governo de António Guterres, com Pina Moura à frente da Economia, anunciou a segunda grande mudança. Sob o argumento de que era preciso dar dimensão ibérica aos negócios da energia em Portugal, e com o apoio do então presidente da GDP, António Mexia, Pina Moura criou a Galp SGPS, a holding em que se juntaram o petróleo (Petrogal) e o gás natural (GDP e Transgás). Prometia para mais tarde uma aliança estratégica com a EDP.
Mercado ibérico foi pretexto para novo modelo
Para a nova super-holding, Pina Moura procurou parceiros internacionais. A decisão recaiu sobre os italianos da Eni e os espanhóis da Iberdrola. Entraram no capital da Galp no início de 2000. A Eni gerou uma polémica de meses, tendo implicado a saída dos accionistas portugueses que Mira Amaral conseguira reunir uma década antes. A Iberdrola é hoje a entidade à qual Pina Moura está profissionalmente ligado.
No final, a parceria entre a Galp e a Eni acabou também por nunca funcionar e o acordo parassocial que permite à ENI ter mais de 50 por cento da Galp, continua, até hoje, a condicionar qualquer solução.
Com a chegada do PSD e de Durão Barroso ao Governo, em 2002, o seu ministro da Economia, Carlos Tavares, preparou uma nova reestruturação do sector. A dimensão ibérica, os compromissos do Mibel encetados pelo seu antecessor, Braga da Cruz, e o fracasso da parceria com a Eni, eram as razões apresentadas. Convidou João Talone a desenhar um plano, o qual foi apresentado no início de 2003.
Tavares e Talone, ambos homens da banca, propunham um modelo radicalmente diferente, que visava sobretudo dar "músculo" à EDP: o negócio do gás natural saía da Galp e passava para a EDP, as redes de transporte da Transgás passavam para a Rede Electrica Nacional (REN) e a Galp voltava a ser apenas petrolífera, com a promessa de que lhe seriam encontrados novos parceiros estratégicos e que o capital privado português deveria voltar à empresa. Para concretizar o plano, João Talone foi nomeado presidente executivo da EDP, cargo que continua a exercer.
Foi, entretanto, aberto um concurso limitado para a compra de uma posição de referência no capital da Galp, cuja vitória foi dada ao consórcio Petrocer (BPI, grupos Violas e Arsopi) por uma "comissão de sábios". O BPI, que reclamava uma participação mais activa no sector energético desde 1999, conseguira-a, e para Ferreira de Oliveira era a perspectiva de regresso ao mundo dos petróleos.
Embora a concretização de todo o plano dependesse do crivo das autoridades comunitárias, o Governo relativizou o seu peso de início. Em Dezembro, a Comissão Europeia, da qual Durão Barroso é agora presidente (e Carlos Tavares um dos seus conselheiros), chumba o projecto. O "castelo" da reestruturação cai num momento em que o país tem um governo demissionário, sem a plenitude de competências.
As divergências dentro do Governo sobre o que deixar como herança ao seu sucessor acentuaram-se nas últimas semanas. Os ministros entenderam-se quanto aos compromissos com a Eni, tendo o Estado obtido um novo acordo de adiamento da opção de compra dos italianos para mais capital da Galp, mas não quanto à Petrocer. Esta esperou por uma prorrogação de prazos do seu contrato com o Estado, mas não a obteve. Os concorrentes preteridos recorreram ao tribunal, a Petrocer muniu-se de pareceres mas diz que não quer uma guerra jurídica. O imbróglio espera pelo próximo Governo.
Novo Governo, Novo Modelo Energético
Segunda-feira, 07 de Fevereiro de 2005
A fúria de mudança dos ministros, os desafios do MIBEL e a obrigação de encontrar, nos próximos oito meses, uma solução para evitar que a Galpenergia vá parar a mãos italianas apontam para uma nova organização empresarial do sector
Lurdes Ferreira
A terceira reestruturação do sector energético - quarta para o petróleo - no espaço de pouco mais de uma década ainda não é visível, mas está prometida.
O chumbo de Bruxelas à junção dos negócios da electricidade e gás natural, a medida empresarial mais emblemática da meia legislatura do Governo de Durão Barroso e do seu ministro Carlos Tavares, abriu caminho a um novo desenho para o sector. O actual Governo, através de Álvaro Barreto, tentou iniciá-lo mas a dissolução do Parlamento retirou-lhe as plenas competências para o efeito.
Os programas eleitorais dos dois maiores partidos nada referem em concreto quanto a novos planos, embora ambos citem a necessidade de dar condições de competitividade e concorrência às empresas do sector e de concretizar o Mibel. Há alguns dias, o líder socialista, António Sócrates, foi mais claro ao anunciar que vai "avançar para a reestruturação do sector", caso ganhe as eleições.
Quatro razões reforçam a convicção de mais uma reestruturação para o sector. Primeira: o Estado acordou com a ENI o terceiro adiamento da opção de compra de acções da Galp Energia que pode dar teoricamente aos italianos a maioria do capital da "holding", devendo encontrar até Outubro uma solução para o problema. Segunda: a busca dessa solução nos próximos oito meses implicará, necessariamente, alterações na organização empresarial do sector, cuja versão minimalista será a simples saída da ENI do mercado português e a venda dos seus 33,34 por cento na Galp a uma outra entidade. Terceira: a aproximação do mercado ibérico de energia eléctrica (Mibel), embora atrasado face ao calendário inicial, obriga as empresas portuguesas do sector a prepararem-se para um mercado aberto, no qual as suas concorrentes espanholas jogam com maior fôlego financeiro. Quarta: sucessivos governos mostraram que não resistem à tentação de mais uma reestruturação, quando confrontados com um sector estratégico e no qual o Estado detém ainda um peso significativo.
A primeira grande arrumação do sector deu-se no final da década de 80 e início de 90 protagonizada pela Petrogal, era Cavaco Silva primeiro-ministro, Mira Amaral ministro da Indústria e Ribeiro da Silva secretário de Estado da Energia. A abertura antecipada do sector dos combustíveis fez recear que o sector não resistisse, para o que se construiu um núcleo accionista privado, a Petrocontrol. Não foi fácil, mas foi conseguido. Faltava um parceiro estratégico internacional à Petrogal, mas as tentativas - a mais séria foi com a Saudi Aramco - não resultaram.
No final da década de 90, o Governo de António Guterres, com Pina Moura à frente da Economia, anunciou a segunda grande mudança. Sob o argumento de que era preciso dar dimensão ibérica aos negócios da energia em Portugal, e com o apoio do então presidente da GDP, António Mexia, Pina Moura criou a Galp SGPS, a holding em que se juntaram o petróleo (Petrogal) e o gás natural (GDP e Transgás). Prometia para mais tarde uma aliança estratégica com a EDP.
Mercado ibérico foi pretexto para novo modelo
Para a nova super-holding, Pina Moura procurou parceiros internacionais. A decisão recaiu sobre os italianos da Eni e os espanhóis da Iberdrola. Entraram no capital da Galp no início de 2000. A Eni gerou uma polémica de meses, tendo implicado a saída dos accionistas portugueses que Mira Amaral conseguira reunir uma década antes. A Iberdrola é hoje a entidade à qual Pina Moura está profissionalmente ligado.
No final, a parceria entre a Galp e a Eni acabou também por nunca funcionar e o acordo parassocial que permite à ENI ter mais de 50 por cento da Galp, continua, até hoje, a condicionar qualquer solução.
Com a chegada do PSD e de Durão Barroso ao Governo, em 2002, o seu ministro da Economia, Carlos Tavares, preparou uma nova reestruturação do sector. A dimensão ibérica, os compromissos do Mibel encetados pelo seu antecessor, Braga da Cruz, e o fracasso da parceria com a Eni, eram as razões apresentadas. Convidou João Talone a desenhar um plano, o qual foi apresentado no início de 2003.
Tavares e Talone, ambos homens da banca, propunham um modelo radicalmente diferente, que visava sobretudo dar "músculo" à EDP: o negócio do gás natural saía da Galp e passava para a EDP, as redes de transporte da Transgás passavam para a Rede Electrica Nacional (REN) e a Galp voltava a ser apenas petrolífera, com a promessa de que lhe seriam encontrados novos parceiros estratégicos e que o capital privado português deveria voltar à empresa. Para concretizar o plano, João Talone foi nomeado presidente executivo da EDP, cargo que continua a exercer.
Foi, entretanto, aberto um concurso limitado para a compra de uma posição de referência no capital da Galp, cuja vitória foi dada ao consórcio Petrocer (BPI, grupos Violas e Arsopi) por uma "comissão de sábios". O BPI, que reclamava uma participação mais activa no sector energético desde 1999, conseguira-a, e para Ferreira de Oliveira era a perspectiva de regresso ao mundo dos petróleos.
Embora a concretização de todo o plano dependesse do crivo das autoridades comunitárias, o Governo relativizou o seu peso de início. Em Dezembro, a Comissão Europeia, da qual Durão Barroso é agora presidente (e Carlos Tavares um dos seus conselheiros), chumba o projecto. O "castelo" da reestruturação cai num momento em que o país tem um governo demissionário, sem a plenitude de competências.
As divergências dentro do Governo sobre o que deixar como herança ao seu sucessor acentuaram-se nas últimas semanas. Os ministros entenderam-se quanto aos compromissos com a Eni, tendo o Estado obtido um novo acordo de adiamento da opção de compra dos italianos para mais capital da Galp, mas não quanto à Petrocer. Esta esperou por uma prorrogação de prazos do seu contrato com o Estado, mas não a obteve. Os concorrentes preteridos recorreram ao tribunal, a Petrocer muniu-se de pareceres mas diz que não quer uma guerra jurídica. O imbróglio espera pelo próximo Governo.
- Mensagens: 3433
- Registado: 5/10/2004 16:59
Metade não declarou lucros no ano passado
Quase Dois Terços das Empresas Continuam Sem Pagar IRC
Segunda-feira, 07 de Fevereiro de 2005
Percentagem de firmas portuguesas que não pagam imposto sobre os lucros subiu de 62 por cento em 1994 para 64 por cento em 2003
J.R.A.
Os valores do IRC relativos aos anos de 2001 a 2003, recentemente divulgados pela administração fiscal, revelam um situação bastante semelhante à verificada dez anos atrás. Se em 1994, havia 205 mil sociedades, dez anos depois o seu número cresceu para 331 mil. Mas, apesar disso, o peso de empresas sem actividade manteve-se semelhante - ao redor dos nove por cento. Mas a esse grupo, e para 2003, deverá se juntar outro tanto, já que, pela primeira vez, onze por cento das sociedades não tinham facturação.
Das empresas com actividade, pouco se alterou o que se passava. Em 1994, 52 por cento ou 96422 empresas apresentaram lucros, mas quase outro tanto (48 por cento ou 90.387) declararam prejuízos. Em 2003, a percentagem de empresas que apresentaram lucros baixou para 51 por cento ou 169.727 empresas e das restantes 38 por cento ou 124.514 declararam prejuízos e 11 por cento ou 37287 resultados nulos.
Considerando o IRC liquidado, conclui-se que, em 1994, 62 por cento ou 116.320 empresas não pagaram imposto sobre os lucros, percentagem que subiu para 64 por cento ou 212.079 empresas no ano passado. Essa situação foi atenuada, recentemente, por 17 por cento das sociedades pagaram "pagamento especial por conta", mas a estatística de base revela que o ambiente de evasão é o mesmo.
Sinal claro disso é o facto de a receita em IRC continuar dependente de um número reduzido de empresas. Entre 1993 e 1995, cerca de 92 por cento das empresas pagava cinco por cento da receita global de IRC. Em 2003, 94 por cento das empresas entregaram 7 por cento da receita. Por outro lado, cerca de 1,3 por cento das sociedades (as maiores) pagaram 83 por cento do IRC em 1994 e, passados dez anos, ainda entregavam 78 por cento do total.
Ao fim de dez anos, são os mesmos sectores que mais contribuem para a receita global do IRC e que, de alguma forma (juntamente com a legislação), se reflecte na discrepância de taxas efectivas de imposto. Os mesmos sectores já assinalados em 1995 como sendo os de forte evasão continuam no topo. Alojamento e restauração paga anualmente em média 1337 euros de imposto.
Em 1995, os responsáveis escreviam que a concentração de receita "torna imprevisível e preocupante a sua evolução futura". "Impõe-se tomar medidas que acautelem a evolução do IRC, pelo aumento significativo do número de contribuintes efectivos deste imposto e que conduzam a uma mais equitativa distribuição da carga fiscal", referiam os responsáveis do IRC há cerca de dez anos atrás.
Quase Dois Terços das Empresas Continuam Sem Pagar IRC
Segunda-feira, 07 de Fevereiro de 2005
Percentagem de firmas portuguesas que não pagam imposto sobre os lucros subiu de 62 por cento em 1994 para 64 por cento em 2003
J.R.A.
Os valores do IRC relativos aos anos de 2001 a 2003, recentemente divulgados pela administração fiscal, revelam um situação bastante semelhante à verificada dez anos atrás. Se em 1994, havia 205 mil sociedades, dez anos depois o seu número cresceu para 331 mil. Mas, apesar disso, o peso de empresas sem actividade manteve-se semelhante - ao redor dos nove por cento. Mas a esse grupo, e para 2003, deverá se juntar outro tanto, já que, pela primeira vez, onze por cento das sociedades não tinham facturação.
Das empresas com actividade, pouco se alterou o que se passava. Em 1994, 52 por cento ou 96422 empresas apresentaram lucros, mas quase outro tanto (48 por cento ou 90.387) declararam prejuízos. Em 2003, a percentagem de empresas que apresentaram lucros baixou para 51 por cento ou 169.727 empresas e das restantes 38 por cento ou 124.514 declararam prejuízos e 11 por cento ou 37287 resultados nulos.
Considerando o IRC liquidado, conclui-se que, em 1994, 62 por cento ou 116.320 empresas não pagaram imposto sobre os lucros, percentagem que subiu para 64 por cento ou 212.079 empresas no ano passado. Essa situação foi atenuada, recentemente, por 17 por cento das sociedades pagaram "pagamento especial por conta", mas a estatística de base revela que o ambiente de evasão é o mesmo.
Sinal claro disso é o facto de a receita em IRC continuar dependente de um número reduzido de empresas. Entre 1993 e 1995, cerca de 92 por cento das empresas pagava cinco por cento da receita global de IRC. Em 2003, 94 por cento das empresas entregaram 7 por cento da receita. Por outro lado, cerca de 1,3 por cento das sociedades (as maiores) pagaram 83 por cento do IRC em 1994 e, passados dez anos, ainda entregavam 78 por cento do total.
Ao fim de dez anos, são os mesmos sectores que mais contribuem para a receita global do IRC e que, de alguma forma (juntamente com a legislação), se reflecte na discrepância de taxas efectivas de imposto. Os mesmos sectores já assinalados em 1995 como sendo os de forte evasão continuam no topo. Alojamento e restauração paga anualmente em média 1337 euros de imposto.
Em 1995, os responsáveis escreviam que a concentração de receita "torna imprevisível e preocupante a sua evolução futura". "Impõe-se tomar medidas que acautelem a evolução do IRC, pelo aumento significativo do número de contribuintes efectivos deste imposto e que conduzam a uma mais equitativa distribuição da carga fiscal", referiam os responsáveis do IRC há cerca de dez anos atrás.
- Mensagens: 3433
- Registado: 5/10/2004 16:59
Por causa de indícios de fuga ao IRC
Fisco Aperta Cerco a Construtores e Promotores
Segunda-feira, 07 de Fevereiro de 2005
Os serviços tributários receberam instruções para proceder, até final de Fevereiro, à avaliação dos mais de 100 mil imóveis vendidos no ano passado por forma a detectar eventuais situações de subfacturação
João ramos de Almeida
O sector da construção e dos promotores imobiliários arrisca-se a pagar mais IRC em 2004. A administração fiscal está a apressar as avaliações dos mais de cem mil imóveis vendidos nesse exercício e, em caso de discrepância dos valores declaradas nas vendas de imóveis, a diferença deverá entrar na contabilidade dos vendedores para o exercício de 2004.
Os serviços tributários receberam instruções para proceder, até final de Fevereiro, à avaliação dos imóveis que foram vendidos durante o exercício. O curto prazo fixado destina-se a que os valores encontrados possam ser notificados aos ex-proprietários, a tempo de serem tidos em conta na declaração de rendimentos modelo 22 de IRC, a entregar em Maio. O seu efeito poderá, como admite um responsável da Associação de Empresas de Construção de Obras Públicas (AECOPS), apanhar as empresas em situação de fragilidade.
Trata-se de um tema sensível que mesmo as associações do sector têm relutância em abordar. As associações não comentam, mas o sector da construção de habitações e o da promoção imobiliária é, consensualmente, conhecido por uma continuada subfacturação das suas empresas, conseguida através de um interesse mútuo entre o vendedor e o comprador em reduzir o valor da transacção.
A aplicação de mecanismos expeditos que aproximem os valores declarados dos praticados no mercado é elogiada pelas associações. Mas, por outro lado, salienta-se que a subfacturação também se verifica pela cadeia de sucessivas subfacturações desde a aquisição do terreno até fornecedores ou intervenientes até ao produto final.
Imposto liquidado em 2003 abaixo da média nacional
Os dados do IRC, divulgados recentemente pela Direcção-Geral dos Impostos (DGCI) mostram que estas duas actividades estão entre os sectores com os valores médios de IRC (receita líquida de IRC por declaração entregue) abaixo da média nacional.
Apesar de se encontraram entre os dez sectores maiores contribuintes para a receita global de IRC, os valores médios de imposto por contribuinte são baixos. Cada empresa de construção pagou, em 2003, cerca de 5.378 euros, enquanto as ligadas ao sector imobiliário pagaram 6.665 euros. A média nacional situou-se um pouco mais acima - 8.400 euros - um valor que, na prática, revela uma evasão em larga escala que - como é visível nos números passados - se arrasta há mais de uma década (ver texto nesta página).
A reforma da tributação do património tentou desarticular aquele interesse mútuo entre vendedor e comprador. Partindo dos primeiros estudos efectuados ainda no final da década de 90, foi empreendida num tempo recorde a informatização das matrizes prediais (ainda fortemente desactualizadas), procedeu-se à sua correcção monetária (através da inflação acumulada), ligou-se as repartições de Finanças aos notários e criou-se uma fórmula de avaliação automática dos imóveis vendidos.
A fórmula que vai ser agora aplicada pela primeira vez, entra em conta nomeadamente com a área, localização, uso, idade, conforto. Foi elaborado um levantamento nacional das zonas homogéneas de valor imobiliário ("zonamento"). O produto final visa encontrar valores que possam ficar entre 80 a 90 por cento dos respectivos valores de mercado e, consequentemente conseguir uma receita de IRC das entidades vendedoras mais próxima da real e repercutir-se no futuro imposto municipal sobre imóveis (IMI, ex-contribuição autárquica). O resultado e as aplicações informáticas associadas são elogiados por parte de dirigentes da administração fiscal. Já as associações do sector suscitam questões sobre algumas das parcelas da fórmula milagrosa (ver texto nesta página).
Fisco Aperta Cerco a Construtores e Promotores
Segunda-feira, 07 de Fevereiro de 2005
Os serviços tributários receberam instruções para proceder, até final de Fevereiro, à avaliação dos mais de 100 mil imóveis vendidos no ano passado por forma a detectar eventuais situações de subfacturação
João ramos de Almeida
O sector da construção e dos promotores imobiliários arrisca-se a pagar mais IRC em 2004. A administração fiscal está a apressar as avaliações dos mais de cem mil imóveis vendidos nesse exercício e, em caso de discrepância dos valores declaradas nas vendas de imóveis, a diferença deverá entrar na contabilidade dos vendedores para o exercício de 2004.
Os serviços tributários receberam instruções para proceder, até final de Fevereiro, à avaliação dos imóveis que foram vendidos durante o exercício. O curto prazo fixado destina-se a que os valores encontrados possam ser notificados aos ex-proprietários, a tempo de serem tidos em conta na declaração de rendimentos modelo 22 de IRC, a entregar em Maio. O seu efeito poderá, como admite um responsável da Associação de Empresas de Construção de Obras Públicas (AECOPS), apanhar as empresas em situação de fragilidade.
Trata-se de um tema sensível que mesmo as associações do sector têm relutância em abordar. As associações não comentam, mas o sector da construção de habitações e o da promoção imobiliária é, consensualmente, conhecido por uma continuada subfacturação das suas empresas, conseguida através de um interesse mútuo entre o vendedor e o comprador em reduzir o valor da transacção.
A aplicação de mecanismos expeditos que aproximem os valores declarados dos praticados no mercado é elogiada pelas associações. Mas, por outro lado, salienta-se que a subfacturação também se verifica pela cadeia de sucessivas subfacturações desde a aquisição do terreno até fornecedores ou intervenientes até ao produto final.
Imposto liquidado em 2003 abaixo da média nacional
Os dados do IRC, divulgados recentemente pela Direcção-Geral dos Impostos (DGCI) mostram que estas duas actividades estão entre os sectores com os valores médios de IRC (receita líquida de IRC por declaração entregue) abaixo da média nacional.
Apesar de se encontraram entre os dez sectores maiores contribuintes para a receita global de IRC, os valores médios de imposto por contribuinte são baixos. Cada empresa de construção pagou, em 2003, cerca de 5.378 euros, enquanto as ligadas ao sector imobiliário pagaram 6.665 euros. A média nacional situou-se um pouco mais acima - 8.400 euros - um valor que, na prática, revela uma evasão em larga escala que - como é visível nos números passados - se arrasta há mais de uma década (ver texto nesta página).
A reforma da tributação do património tentou desarticular aquele interesse mútuo entre vendedor e comprador. Partindo dos primeiros estudos efectuados ainda no final da década de 90, foi empreendida num tempo recorde a informatização das matrizes prediais (ainda fortemente desactualizadas), procedeu-se à sua correcção monetária (através da inflação acumulada), ligou-se as repartições de Finanças aos notários e criou-se uma fórmula de avaliação automática dos imóveis vendidos.
A fórmula que vai ser agora aplicada pela primeira vez, entra em conta nomeadamente com a área, localização, uso, idade, conforto. Foi elaborado um levantamento nacional das zonas homogéneas de valor imobiliário ("zonamento"). O produto final visa encontrar valores que possam ficar entre 80 a 90 por cento dos respectivos valores de mercado e, consequentemente conseguir uma receita de IRC das entidades vendedoras mais próxima da real e repercutir-se no futuro imposto municipal sobre imóveis (IMI, ex-contribuição autárquica). O resultado e as aplicações informáticas associadas são elogiados por parte de dirigentes da administração fiscal. Já as associações do sector suscitam questões sobre algumas das parcelas da fórmula milagrosa (ver texto nesta página).
- Mensagens: 3433
- Registado: 5/10/2004 16:59
Cotadas
Por COFINA E SONAECOM "GANHAM A CORRIDA" NA BOLSA
Segunda-feira, 07 de Fevereiro de 2005
As duas cotadas registaram valorizações de dois dígitos em parte graças à especulação em torno do negócio da Lusomundo
A.C.
Os grandes vencedores da "corrida" à compra da Lusomundo Media (LM) são para já, pelo menos no que diz respeito ao desempenho em bolsa, a Cofina e a Sonaecom, cujas acções dispararam nas últimas semanas, acumulando ganhos superiores a dois digítos, graças, em boa parte, à especulação a que se tem assistido no mercado em torno deste negócio. Há entre as empresas cotadas na bolsa de Lisboa quatro sociedades interessadas na LM, três das quais apresentaram já á PT uma proposta não vinculativa: Cofina, Sonaecom e Media Capital. A Impresa deverá, nesta fase, ficar de fora.
A Cofina, empresa liderada por Paulo Fernandes, accionista da LM com uma participação de 19,1 por cento e um dos grupos mais activos na manifestação de interesse em relação à Lusomundo, acumula uma valorização no último mês superior a 22 por cento. É certo que a revisão em alta do preço-alvo da Cofina por algumas casas de investimento nacionais para os títulos da "holding" de Paulo Fernandes, efectuada na sequência da cisão do grupo [em indústria e media] , tem dado também um forte contributo para a galopante valorização. Porém, não é negligente o impacto nesta subida da aposta da Cofina no negócio da LM.
A Sonaecom, que se tem mostrado muito atractiva para os investidores, acumulou no último mês um ganho de 14,74 por cento. Valorização a que não são alheios igualmente factores externos ao interesse na LM, nomeadamente a perspectiva de melhoria de resultados e a assumpção de um novo "élan" conseguido na sequência da apresentação de novos produtos na área das telecomunicações.
Media Capital no vermelho
Menos interessante tem sido o desempenho da Impresa, o que não é de estranhar: não só foi um dos títulos que mais subiu em 2004, especialmente na recta final do ano, com está a preparar-se para assimilar o elevado investimento _ 152 milhões de euros - que fez para a compra da totalidade do capital da SIC. Além disso, a "holding" de Pinto Balsemão não será, nesta fase, candidata à compra da LM, embora se admita que mais tarde ela irá negociar com o vencedor a compra de activos isoladamente. Assim, a Impresa acumula no último mês um ganho de apenas 1,03 por cento. Mais decepcionante é o comportamento da Media Capital, que terá feito uma proposta de compra para os activos da LM sozinha, depois de se ter admitido que ía à corrida com os espanhóis da Vocento. A proprietária da TVI apresenta uma desvalorização de 0,92 por cento no último mês.
Já o potencial vendedor, a PT Multimédia, tem tido um desempenho muito "modesto". Apesar de haver uma verdadeira corrida à LM, a PTM viu as suas acções subirem apenas 8,11 por cento no último mês, o que não é uma valorização surpreendente face à demostração de interesse a que temos assistido. Muito provavelmente, a PTM estará a ser travada pela possibilidade, bastante provável, de vir a realizar uma menos-valias considerável com a venda da LM, admitem analistas. É que o grupo foi comprado em 2000, na altura da euforia das novas tecnologias e de enchimento da "bolha" bolsista, e, por isso, custou 438 milhões de euros à PTM. Valor que no actual contexto não será atingido, dado que não se prevê que o encaixe da PTM vá muito além dos 200 a 250 milhões de euros. É preciso, todavia, não esquecer que os 438 milhões de euros incluem os cinemas da Lusomundo, que agora estão fora da nova "sub-holding" LM. No entanto, não se admite que seja uma área que valha muito, dado que o grupo tem apenas o direito de comercialização dos filmes e não as salas onde os exibe.
Por COFINA E SONAECOM "GANHAM A CORRIDA" NA BOLSA
Segunda-feira, 07 de Fevereiro de 2005
As duas cotadas registaram valorizações de dois dígitos em parte graças à especulação em torno do negócio da Lusomundo
A.C.
Os grandes vencedores da "corrida" à compra da Lusomundo Media (LM) são para já, pelo menos no que diz respeito ao desempenho em bolsa, a Cofina e a Sonaecom, cujas acções dispararam nas últimas semanas, acumulando ganhos superiores a dois digítos, graças, em boa parte, à especulação a que se tem assistido no mercado em torno deste negócio. Há entre as empresas cotadas na bolsa de Lisboa quatro sociedades interessadas na LM, três das quais apresentaram já á PT uma proposta não vinculativa: Cofina, Sonaecom e Media Capital. A Impresa deverá, nesta fase, ficar de fora.
A Cofina, empresa liderada por Paulo Fernandes, accionista da LM com uma participação de 19,1 por cento e um dos grupos mais activos na manifestação de interesse em relação à Lusomundo, acumula uma valorização no último mês superior a 22 por cento. É certo que a revisão em alta do preço-alvo da Cofina por algumas casas de investimento nacionais para os títulos da "holding" de Paulo Fernandes, efectuada na sequência da cisão do grupo [em indústria e media] , tem dado também um forte contributo para a galopante valorização. Porém, não é negligente o impacto nesta subida da aposta da Cofina no negócio da LM.
A Sonaecom, que se tem mostrado muito atractiva para os investidores, acumulou no último mês um ganho de 14,74 por cento. Valorização a que não são alheios igualmente factores externos ao interesse na LM, nomeadamente a perspectiva de melhoria de resultados e a assumpção de um novo "élan" conseguido na sequência da apresentação de novos produtos na área das telecomunicações.
Media Capital no vermelho
Menos interessante tem sido o desempenho da Impresa, o que não é de estranhar: não só foi um dos títulos que mais subiu em 2004, especialmente na recta final do ano, com está a preparar-se para assimilar o elevado investimento _ 152 milhões de euros - que fez para a compra da totalidade do capital da SIC. Além disso, a "holding" de Pinto Balsemão não será, nesta fase, candidata à compra da LM, embora se admita que mais tarde ela irá negociar com o vencedor a compra de activos isoladamente. Assim, a Impresa acumula no último mês um ganho de apenas 1,03 por cento. Mais decepcionante é o comportamento da Media Capital, que terá feito uma proposta de compra para os activos da LM sozinha, depois de se ter admitido que ía à corrida com os espanhóis da Vocento. A proprietária da TVI apresenta uma desvalorização de 0,92 por cento no último mês.
Já o potencial vendedor, a PT Multimédia, tem tido um desempenho muito "modesto". Apesar de haver uma verdadeira corrida à LM, a PTM viu as suas acções subirem apenas 8,11 por cento no último mês, o que não é uma valorização surpreendente face à demostração de interesse a que temos assistido. Muito provavelmente, a PTM estará a ser travada pela possibilidade, bastante provável, de vir a realizar uma menos-valias considerável com a venda da LM, admitem analistas. É que o grupo foi comprado em 2000, na altura da euforia das novas tecnologias e de enchimento da "bolha" bolsista, e, por isso, custou 438 milhões de euros à PTM. Valor que no actual contexto não será atingido, dado que não se prevê que o encaixe da PTM vá muito além dos 200 a 250 milhões de euros. É preciso, todavia, não esquecer que os 438 milhões de euros incluem os cinemas da Lusomundo, que agora estão fora da nova "sub-holding" LM. No entanto, não se admite que seja uma área que valha muito, dado que o grupo tem apenas o direito de comercialização dos filmes e não as salas onde os exibe.
- Mensagens: 3433
- Registado: 5/10/2004 16:59
Negócio
Dúvidas Sobre o Pacote Que Está à Venda
Segunda-feira, 07 de Fevereiro de 2005
PT ainda não esclareceu se pretende alienar apenas a Lusomundo Media ou a totalidade da Lusomundo Serviços, a "holding" que controla a primeira
A.C.
Várias são as dúvidas que se levantam no mercado sobre o negócio da venda de activos de "media" do grupo Portugal Telecom (PT): não só a operadora não esclareceu se irá ou não sair do sector, como falta ainda saber se, no caso de alienação, estamos a falar apenas da Lusomundo Media (LM) ou da Lusomundo Serviços, que a controla.
A imprensa tem avançado com a possibilidade da Portugal Telecom vender venda da Lusomundo Media, mas o que na realidade o que poderá estar em cima da mesa é a alienação da Lusomundo Serviços, já que é esta "holding" que controla 74,97 por cento da Lusomundo Media e as restantes participações do grupo PT na área da impressão (Gráfica Funchalense), e da distribuição (Vasp). A Vasp, refira-se, é uma empresa controlada em partes iguais (33,33%) pela Lusomundo Serviços, Impresa e Cofina.
Fontes ligadas ao sector defendem que do ponto de vista negocial não faz sentido vender os órgãos de comunicação social, sem alienar também os activos ligados à distribuição e à impressão. Ou seja, a PT não terá interesse em vender os órgãos noticiosos e manter em carteira a área gráfica e de distribuição. Além disso, consideram as mesmas fontes, para quem compra também é mais interessante adquirir a Lusomundo Serviços, já que a participação da Cofina - 19,1 por cento - nos activos de "media" da PT está integrada na LM. O que quer dizer que quem comprar a "holding" terá uma intervenção mais ténue por parte de Paulo Fernandes ao nível dos órgãos de cúpula. Isto, porque o presidente da Cofina já fez saber publicamente que não venderá a sua posição se não sair vencedor do negócio.
Incertezas à parte face ao modelo da venda, o negócio tem sido criticado no mercado de capitais por falta de transparência da PT Multimédia. Questionada pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a empresa continua a afirmar que não tomou ainda qualquer decisão face à manutenção ou saída do sector. Isto apesar de terem sido já entregues propostas de compra e o presidente da PT, Horta e Costa, ter avançado com a data de 14 Fevereiro para a entrega das ofertas definitivas. A confusão em torno do negócio agravou-se com o esclarecimento feito pela PTM na última sexta-feira, onde a empresa faz referência a cinco propostas, depois do BESI ter dito na quarta-feira que tinham sido entregues sete propostas.
Dúvidas Sobre o Pacote Que Está à Venda
Segunda-feira, 07 de Fevereiro de 2005
PT ainda não esclareceu se pretende alienar apenas a Lusomundo Media ou a totalidade da Lusomundo Serviços, a "holding" que controla a primeira
A.C.
Várias são as dúvidas que se levantam no mercado sobre o negócio da venda de activos de "media" do grupo Portugal Telecom (PT): não só a operadora não esclareceu se irá ou não sair do sector, como falta ainda saber se, no caso de alienação, estamos a falar apenas da Lusomundo Media (LM) ou da Lusomundo Serviços, que a controla.
A imprensa tem avançado com a possibilidade da Portugal Telecom vender venda da Lusomundo Media, mas o que na realidade o que poderá estar em cima da mesa é a alienação da Lusomundo Serviços, já que é esta "holding" que controla 74,97 por cento da Lusomundo Media e as restantes participações do grupo PT na área da impressão (Gráfica Funchalense), e da distribuição (Vasp). A Vasp, refira-se, é uma empresa controlada em partes iguais (33,33%) pela Lusomundo Serviços, Impresa e Cofina.
Fontes ligadas ao sector defendem que do ponto de vista negocial não faz sentido vender os órgãos de comunicação social, sem alienar também os activos ligados à distribuição e à impressão. Ou seja, a PT não terá interesse em vender os órgãos noticiosos e manter em carteira a área gráfica e de distribuição. Além disso, consideram as mesmas fontes, para quem compra também é mais interessante adquirir a Lusomundo Serviços, já que a participação da Cofina - 19,1 por cento - nos activos de "media" da PT está integrada na LM. O que quer dizer que quem comprar a "holding" terá uma intervenção mais ténue por parte de Paulo Fernandes ao nível dos órgãos de cúpula. Isto, porque o presidente da Cofina já fez saber publicamente que não venderá a sua posição se não sair vencedor do negócio.
Incertezas à parte face ao modelo da venda, o negócio tem sido criticado no mercado de capitais por falta de transparência da PT Multimédia. Questionada pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a empresa continua a afirmar que não tomou ainda qualquer decisão face à manutenção ou saída do sector. Isto apesar de terem sido já entregues propostas de compra e o presidente da PT, Horta e Costa, ter avançado com a data de 14 Fevereiro para a entrega das ofertas definitivas. A confusão em torno do negócio agravou-se com o esclarecimento feito pela PTM na última sexta-feira, onde a empresa faz referência a cinco propostas, depois do BESI ter dito na quarta-feira que tinham sido entregues sete propostas.
- Mensagens: 3433
- Registado: 5/10/2004 16:59
Candidatos
Armada Espanhola
Segunda-feira, 07 de Fevereiro de 2005
M.L.
O grupo espanhol Recoletos é, por enquanto, o único a concorrer em consórcio com uma entidade portuguesa, neste caso liderada por João Pereira Coutinho. E é igualmente aquele que melhor conhece o mercado de "media" português, detendo o "Diário Económico" e o "Semanário Económico". Em Espanha, o grupo detém diversas publicações, como os diários desportivo "Marca", o económico "Expansión" e o de saúde "Diario Médico", e está também presente na Argentina, Chile e EUA. Detém uma rádio e uma licença para a televisão digital terrestre. Em 2003 teve um volume de negócios de 245,43 milhões de euros. Um grupo de gestores lançou uma OPA sobre a totalidade do capital por 941 milhões de euros, em que a britânica Pearson tem uma quota de 79 por cento.
Outro candidato à compra da Lusomundo Media é um dos maiores grupos espanhóis de "media": a Prisa. É seu o "El País" e o económico "Cinco Días", bem como muitos títulos de imprensa e rádios regionais, e jornais nacionais na América Latina; participa no capital da rede de canais de televisão espanhola Sogecable (23%), e tem produção, distribuição e exibição de cinema. Entre janeiro e Setembro de 2004 facturou 1.092 milhões de euros, obtendo um lucro líquido de 76 milhões de euros.
O Vocento, antigo Correo, é um grupo multimédia cujos jornais diários vendem mais de 800 mil exemplares. O grupo, que controla, entre outros, o diário nacional "ABC", está presente no capital da cadeia de televisão Tele5 e tem interesses noutros meios e países, sobretudo na América do Sul. A "holding" agrupa mais de cem empresas e emprega cerca de 3000 trabalhadores e em 2003 teve lucros líquidos de 183,6 milhões de euros
Armada Espanhola
Segunda-feira, 07 de Fevereiro de 2005
M.L.
O grupo espanhol Recoletos é, por enquanto, o único a concorrer em consórcio com uma entidade portuguesa, neste caso liderada por João Pereira Coutinho. E é igualmente aquele que melhor conhece o mercado de "media" português, detendo o "Diário Económico" e o "Semanário Económico". Em Espanha, o grupo detém diversas publicações, como os diários desportivo "Marca", o económico "Expansión" e o de saúde "Diario Médico", e está também presente na Argentina, Chile e EUA. Detém uma rádio e uma licença para a televisão digital terrestre. Em 2003 teve um volume de negócios de 245,43 milhões de euros. Um grupo de gestores lançou uma OPA sobre a totalidade do capital por 941 milhões de euros, em que a britânica Pearson tem uma quota de 79 por cento.
Outro candidato à compra da Lusomundo Media é um dos maiores grupos espanhóis de "media": a Prisa. É seu o "El País" e o económico "Cinco Días", bem como muitos títulos de imprensa e rádios regionais, e jornais nacionais na América Latina; participa no capital da rede de canais de televisão espanhola Sogecable (23%), e tem produção, distribuição e exibição de cinema. Entre janeiro e Setembro de 2004 facturou 1.092 milhões de euros, obtendo um lucro líquido de 76 milhões de euros.
O Vocento, antigo Correo, é um grupo multimédia cujos jornais diários vendem mais de 800 mil exemplares. O grupo, que controla, entre outros, o diário nacional "ABC", está presente no capital da cadeia de televisão Tele5 e tem interesses noutros meios e países, sobretudo na América do Sul. A "holding" agrupa mais de cem empresas e emprega cerca de 3000 trabalhadores e em 2003 teve lucros líquidos de 183,6 milhões de euros
- Mensagens: 3433
- Registado: 5/10/2004 16:59
Reguladores
Decisão em Cascata
Segunda-feira, 07 de Fevereiro de 2005
Negócio será apreciado em primeiro lugar pela AACS. Se disser não o negócio não avança. Se disser sim a bola passa para a Autoridade da Concorrência
A.C./M.L.
Escolhido o vencedor pelo grupo PT, o negócio da venda da Lusomundo Media (LM) terá ainda de passar pelo crivo decisivo dos reguladores, a Alta Autoridade para a Comunicação Social (AACS) e a Autoridade da Concorrência (AC), cuja aprovação de ambos é imprescindível para que a operação possa ser concluída.
A AACS, a quem cabe apreciar o negócio em primeiro lugar, dará um parecer prévio que é vinculativo caso seja negativo. Ou seja se disser não a venda não se poderá efectivar, mesmo que a Concorrência a autorize. Mas se o parecer da AACS for favorável ao negócio, ainda assim, a AC poderá reprová-lo. Terá, contudo, que dar uma justificação diferente da da entidade reguladora da comunicação social, afirmou ao PÚBLICO o jurista Sebastião Lima Rego, membro da instituição.
Segundo o regime jurídico da concorrência, revisto em Junho de 2003, que altera também a Lei de Imprensa, as decisões da AC sobre operações de concentração que incluam empresas jornalísticas ou noticiosas estão sujeitas a parecer prévio vinculativo da AACS, "o qual será negativo quando estiver comprovadamente em causa a livre expressão e confronto das diversas correntes de opinião".
"A AACS analisará o negócio do ponto de vista da liberdade de imprensa, de opinião, de possibilidade de circulação de ideias", diz Lima Rego, acrescentando que, no entanto, "para chegar a alguma conclusão será preciso sindicar critérios económicos e financeiros, aparentemente fora do âmbito da sua acção, mas que numa situação destas podem ter efeitos perversos no mercado". Por exemplo, um dos factores a analisar será a quota de publicidade: "Se houver uma fatia do mercado publicitário muito elevada numa só mão, isso irá asfixiar a restante imprensa e, consequentemente, impedir a livre circulação de ideias", exemplifica o jurista.
Do lado da AC há três cenários possíveis: a aprovação, a não aprovação e a aprovação "com remédios", ou seja, sujeita a condições. É neste cenários que os grupos portugueses estarão a depositar a sua fé.
Decisão em Cascata
Segunda-feira, 07 de Fevereiro de 2005
Negócio será apreciado em primeiro lugar pela AACS. Se disser não o negócio não avança. Se disser sim a bola passa para a Autoridade da Concorrência
A.C./M.L.
Escolhido o vencedor pelo grupo PT, o negócio da venda da Lusomundo Media (LM) terá ainda de passar pelo crivo decisivo dos reguladores, a Alta Autoridade para a Comunicação Social (AACS) e a Autoridade da Concorrência (AC), cuja aprovação de ambos é imprescindível para que a operação possa ser concluída.
A AACS, a quem cabe apreciar o negócio em primeiro lugar, dará um parecer prévio que é vinculativo caso seja negativo. Ou seja se disser não a venda não se poderá efectivar, mesmo que a Concorrência a autorize. Mas se o parecer da AACS for favorável ao negócio, ainda assim, a AC poderá reprová-lo. Terá, contudo, que dar uma justificação diferente da da entidade reguladora da comunicação social, afirmou ao PÚBLICO o jurista Sebastião Lima Rego, membro da instituição.
Segundo o regime jurídico da concorrência, revisto em Junho de 2003, que altera também a Lei de Imprensa, as decisões da AC sobre operações de concentração que incluam empresas jornalísticas ou noticiosas estão sujeitas a parecer prévio vinculativo da AACS, "o qual será negativo quando estiver comprovadamente em causa a livre expressão e confronto das diversas correntes de opinião".
"A AACS analisará o negócio do ponto de vista da liberdade de imprensa, de opinião, de possibilidade de circulação de ideias", diz Lima Rego, acrescentando que, no entanto, "para chegar a alguma conclusão será preciso sindicar critérios económicos e financeiros, aparentemente fora do âmbito da sua acção, mas que numa situação destas podem ter efeitos perversos no mercado". Por exemplo, um dos factores a analisar será a quota de publicidade: "Se houver uma fatia do mercado publicitário muito elevada numa só mão, isso irá asfixiar a restante imprensa e, consequentemente, impedir a livre circulação de ideias", exemplifica o jurista.
Do lado da AC há três cenários possíveis: a aprovação, a não aprovação e a aprovação "com remédios", ou seja, sujeita a condições. É neste cenários que os grupos portugueses estarão a depositar a sua fé.
- Mensagens: 3433
- Registado: 5/10/2004 16:59
Excesso de Concentração Pode "Tramar" Grupos Portu
Encontrei e li uma série de artigos muito interessantes e por isso acho mais que justificada a abertura de um nvo tópico para a sua trancrição.
Um abraço
---------------------------------------------
Excesso de Concentração Pode "Tramar" Grupos Portugueses EM DESTAQUE
Segunda-feira, 07 de Fevereiro de 2005
Enquanto, a PT não esclarece se vende, o que vende, como vende e a quem vende, traçam-se cenários e hipóteses. O desfecho do negócio é imprevisível e, para já, os vencedores são alguns dos candidatos cotados em bolsa
Anabela Campos e Maria Lopes
Há vários "candidatos" à compra da Lusomundo Media (LM), sete aparentemente, e os bastidores do negócio estão activos como há muito não se assistia em Portugal. Mas o desfecho da operação é para já muito imprevisível e poderá encontrar-se longe de estar concluído: tudo devido à elevada concentração do sector e aos alegados problemas de concorrência. Um dado que deverá baralhar as "cartas" do jogo e colocar alguns candidatos, à partida favoritos, fora da corrida, ou pelo menos pô-los perante um nó difícil de desatar.
Abel Mateus, presidente da Autoridade da Concorrência (AC), alertou para este obstáculo à saída de um encontro com o Presidente da República, onde discutiram a concentração dos "media" e a venda da LM - assunto que tem vindo a ganhar crescente dimensão política. Face ao actual nível de concentração, a alienação da Lusomundo "é uma operação complexa e preocupante" do ponto de vista da concorrência, afirmou Abel Mateus, que está a estudar exaustivamente o assunto desde há alguns meses - nas mais variadas vertentes: circulação, distribuição, publicidade, classificados - depois de concluir que não há em Portugal análises aprofundadas sobre o sector, nem especialistas sobre a matéria.
Perante a convicção de que o sector já está demasiado concentrado, e face à possibilidade, admitida publicamente por vários responsáveis da Portugal Telecom (PT) de que o grupo LM será vendido globalmente e não por partes, poderemos encontrar-nos frente a um cenário que exclui a compra de títulos com o histórico "Diário de Notícias" ou a rádio TSF por parte de qualquer dos actuais grupos de "media" portugueses.
Para a PT - detentora desde o início de 2001 do grupo Lusomundo - também não será fácil defender politicamente a venda de um activo da dimensão e importância do LM a uma entidade estrangeira. É preciso não esquecer que há três espanhóis na corrida, e para já, ao que foi possível apurar, apenas um deles, a Recoletos - dona do "Diário Económico" e "Semanário Económico" -, está a concorrer em parceria com um grupo nacional: a SCG do empresário João Pereira Coutinho. Não é fácil antever um vencedor, mas dentro do sector, e perante os problemas de concorrência que se poderão vir a levantar, há fontes a admitir que o consórcio SGC/Recoletos estará entre os favoritos.
O desfile de "candidatos", cuja manifestação de interesse através de declarações à imprensa chegou a ultrapassar as duas dezenas, poderá ainda não ter chegado ao fim, mas sabe-se agora, pela boca do assessor financeiro da operação, o Banco Espírito Santo Investimento (BESI), que foram apresentadas até ao dia 31 de Janeiro sete propostas não-vinculativas, visando a compra do grupo na globalidade.
Três portugueses, dois espanhóis e uma parceria ibérica
O BESI não avançou nomes, porém, ao que foi possível apurar, estarão em cima da mesa propostas dos portugueses Cofina, Sonaecom, Media Capital e Olivedesportos, do consórcio SCG/Recoletos (dominado, segundo fonte oficial da SGC, pelo empresário Pereira Coutinho) e dos espanhóis Vocento e Prisa. Esta foi, ainda assim, apenas a primeira fase da operação: as propostas definitivas serão entregues até ao dia 14 de Fevereiro e até lá haverá eventualmente candidaturas a ficar pelo caminho e apresentar-se-ão novos consórcios.
Um olhar focado sobre cada um dos grupos concorrentes, nomeadamente os exclusivamente portugueses, permite antever que serão levantados problemas de concentração, nomeadamente ao nível da publicidade, da distribuição e dos classificados. Se entre os portugueses existem grupos como a Sonaecom, que detém apenas um jornal diário (PÚBLICO), parte de uma rádio e um servidor de Internet (Clix); ou a Olivedesportos, que controla parte de um canal da TV Cabo e um diário desportivo, outros há que têm uma presença muito forte no sector: a Cofina e a Media Capital.
A "holding" de Paulo Fernandes tem três diários ("Correio da Manhã", "Jornal de Negócios" e "Record"), várias revistas , um servidor de Internet e um terço de da distribuidora Vasp, com partilha com a Impresa e a Lusomundo Media. Com a compra, a Cofina concentraria 38,6 por cento da facturação de publicidade na imprensa (tendo em conta os valores da MediaMonitor de 2004) e 84 por cento da circulação paga de sete diários (excluindo os desportivos). E também reuniria 66,66% da Vasp. Para contornar tais dificuldades, Paulo Fernandes já fez saber publicamente que está disposto a seguir todas as imposições da Autoridade da Concorrência - que poderão passar pela venda de alguns activos.
Já a "holding" de Paes do Amaral controla uma televisão, várias rádios e revistas, um servidor de Internet e uma empresa de produção audiovisual. O cenário complica-se para a Media Capital se a Lusomundo for vendida em bloco: o grupo da TVI já detém o máximo de licenças de rádio que a lei permite, pelo que não poderia incorporar a TSF no seu património - a menos que o negócio seja feito depois de aprovada uma nova Lei da Rádio que, como propôs Morais Sarmento, alargaria o limite de cinco para dez participações em rádios para cada pessoa ou empresa. Caso pudesse comprar a TSF, a Media Capital ficaria com um "share" de audiências radiofónicas de mais de 30 por cento e uma quota de publicidade de 59,6 por cento, de acordo com dados da MediaMonitor.
A SGC não tem activos nos "media", mas a Recoletos detém dois jornais económicos, um diário e um semanário. Ficam de fora a Vocento e a Prisa, que apesar de serem dois dos maiores grupos espanhóis, nada detêm em Portugal. Ou seja, são os únicos concorrentes que à partida não têm problemas de concorrência.
A Impresa, de Francisco Balsemão, apesar de ter sido das primeiras a manifestar publicamente interesse pela compra da LM, acabou por se afastar do processo porque pretendia apenas alguns dos activos e não o grupo em bloco.
Mas a questão da concentração é bem mais complexa do que apenas problemas de concorrência ao nível das quotas de mercado de publicidade e distribuição. Versa também sobre temas como a "defesa da diversidade cultural e a formação da opinião pública", situação para a qual Abel Mateus chamou igualmente a atenção, e que poderá levantar dificuldaddes que terão de ser equacionadas pelos reguladores depois de escolhido o vencedor.
Um abraço
---------------------------------------------
Excesso de Concentração Pode "Tramar" Grupos Portugueses EM DESTAQUE
Segunda-feira, 07 de Fevereiro de 2005
Enquanto, a PT não esclarece se vende, o que vende, como vende e a quem vende, traçam-se cenários e hipóteses. O desfecho do negócio é imprevisível e, para já, os vencedores são alguns dos candidatos cotados em bolsa
Anabela Campos e Maria Lopes
Há vários "candidatos" à compra da Lusomundo Media (LM), sete aparentemente, e os bastidores do negócio estão activos como há muito não se assistia em Portugal. Mas o desfecho da operação é para já muito imprevisível e poderá encontrar-se longe de estar concluído: tudo devido à elevada concentração do sector e aos alegados problemas de concorrência. Um dado que deverá baralhar as "cartas" do jogo e colocar alguns candidatos, à partida favoritos, fora da corrida, ou pelo menos pô-los perante um nó difícil de desatar.
Abel Mateus, presidente da Autoridade da Concorrência (AC), alertou para este obstáculo à saída de um encontro com o Presidente da República, onde discutiram a concentração dos "media" e a venda da LM - assunto que tem vindo a ganhar crescente dimensão política. Face ao actual nível de concentração, a alienação da Lusomundo "é uma operação complexa e preocupante" do ponto de vista da concorrência, afirmou Abel Mateus, que está a estudar exaustivamente o assunto desde há alguns meses - nas mais variadas vertentes: circulação, distribuição, publicidade, classificados - depois de concluir que não há em Portugal análises aprofundadas sobre o sector, nem especialistas sobre a matéria.
Perante a convicção de que o sector já está demasiado concentrado, e face à possibilidade, admitida publicamente por vários responsáveis da Portugal Telecom (PT) de que o grupo LM será vendido globalmente e não por partes, poderemos encontrar-nos frente a um cenário que exclui a compra de títulos com o histórico "Diário de Notícias" ou a rádio TSF por parte de qualquer dos actuais grupos de "media" portugueses.
Para a PT - detentora desde o início de 2001 do grupo Lusomundo - também não será fácil defender politicamente a venda de um activo da dimensão e importância do LM a uma entidade estrangeira. É preciso não esquecer que há três espanhóis na corrida, e para já, ao que foi possível apurar, apenas um deles, a Recoletos - dona do "Diário Económico" e "Semanário Económico" -, está a concorrer em parceria com um grupo nacional: a SCG do empresário João Pereira Coutinho. Não é fácil antever um vencedor, mas dentro do sector, e perante os problemas de concorrência que se poderão vir a levantar, há fontes a admitir que o consórcio SGC/Recoletos estará entre os favoritos.
O desfile de "candidatos", cuja manifestação de interesse através de declarações à imprensa chegou a ultrapassar as duas dezenas, poderá ainda não ter chegado ao fim, mas sabe-se agora, pela boca do assessor financeiro da operação, o Banco Espírito Santo Investimento (BESI), que foram apresentadas até ao dia 31 de Janeiro sete propostas não-vinculativas, visando a compra do grupo na globalidade.
Três portugueses, dois espanhóis e uma parceria ibérica
O BESI não avançou nomes, porém, ao que foi possível apurar, estarão em cima da mesa propostas dos portugueses Cofina, Sonaecom, Media Capital e Olivedesportos, do consórcio SCG/Recoletos (dominado, segundo fonte oficial da SGC, pelo empresário Pereira Coutinho) e dos espanhóis Vocento e Prisa. Esta foi, ainda assim, apenas a primeira fase da operação: as propostas definitivas serão entregues até ao dia 14 de Fevereiro e até lá haverá eventualmente candidaturas a ficar pelo caminho e apresentar-se-ão novos consórcios.
Um olhar focado sobre cada um dos grupos concorrentes, nomeadamente os exclusivamente portugueses, permite antever que serão levantados problemas de concentração, nomeadamente ao nível da publicidade, da distribuição e dos classificados. Se entre os portugueses existem grupos como a Sonaecom, que detém apenas um jornal diário (PÚBLICO), parte de uma rádio e um servidor de Internet (Clix); ou a Olivedesportos, que controla parte de um canal da TV Cabo e um diário desportivo, outros há que têm uma presença muito forte no sector: a Cofina e a Media Capital.
A "holding" de Paulo Fernandes tem três diários ("Correio da Manhã", "Jornal de Negócios" e "Record"), várias revistas , um servidor de Internet e um terço de da distribuidora Vasp, com partilha com a Impresa e a Lusomundo Media. Com a compra, a Cofina concentraria 38,6 por cento da facturação de publicidade na imprensa (tendo em conta os valores da MediaMonitor de 2004) e 84 por cento da circulação paga de sete diários (excluindo os desportivos). E também reuniria 66,66% da Vasp. Para contornar tais dificuldades, Paulo Fernandes já fez saber publicamente que está disposto a seguir todas as imposições da Autoridade da Concorrência - que poderão passar pela venda de alguns activos.
Já a "holding" de Paes do Amaral controla uma televisão, várias rádios e revistas, um servidor de Internet e uma empresa de produção audiovisual. O cenário complica-se para a Media Capital se a Lusomundo for vendida em bloco: o grupo da TVI já detém o máximo de licenças de rádio que a lei permite, pelo que não poderia incorporar a TSF no seu património - a menos que o negócio seja feito depois de aprovada uma nova Lei da Rádio que, como propôs Morais Sarmento, alargaria o limite de cinco para dez participações em rádios para cada pessoa ou empresa. Caso pudesse comprar a TSF, a Media Capital ficaria com um "share" de audiências radiofónicas de mais de 30 por cento e uma quota de publicidade de 59,6 por cento, de acordo com dados da MediaMonitor.
A SGC não tem activos nos "media", mas a Recoletos detém dois jornais económicos, um diário e um semanário. Ficam de fora a Vocento e a Prisa, que apesar de serem dois dos maiores grupos espanhóis, nada detêm em Portugal. Ou seja, são os únicos concorrentes que à partida não têm problemas de concorrência.
A Impresa, de Francisco Balsemão, apesar de ter sido das primeiras a manifestar publicamente interesse pela compra da LM, acabou por se afastar do processo porque pretendia apenas alguns dos activos e não o grupo em bloco.
Mas a questão da concentração é bem mais complexa do que apenas problemas de concorrência ao nível das quotas de mercado de publicidade e distribuição. Versa também sobre temas como a "defesa da diversidade cultural e a formação da opinião pública", situação para a qual Abel Mateus chamou igualmente a atenção, e que poderá levantar dificuldaddes que terão de ser equacionadas pelos reguladores depois de escolhido o vencedor.
- Mensagens: 3433
- Registado: 5/10/2004 16:59
Quem está ligado: