Caldeirão da Bolsa

Ahold: Recuperação ou ilusão

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Ahold: Recuperação ou ilusão

por Visitante » 7/2/2005 12:37

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2005-02-04 16:05
Análise Fundamental
Ahold: Recuperação ou ilusão

O comportamento das acções da Ahold desde o início deste ano é, no mínimo, estranho. No mês em que o Tribunal de Amesterdão iniciou uma nova investigação à empresa pelas fraudes contabilísticas de há dois anos, e que envolveram a falsificação de documentos com vista a inflacionar os resultados do grupo, o valor dos títulos em bolsa já subiu 11,58%.




O paradoxo torna proporções maiores, quando se olham para os últimos resultados da empresa. No ano passado, as vendas recuaram 7,4% e a administração liderada por Aders Moberg justificou este recuou com a desvalorização do dólar. É que 42% da facturação da empresa vem dos Estados Unidos e a queda da nota verde deflaciona o valor das vendas. «Isto pode justificar a quebra, mas a verdade é que em 2004, o ano contabilístico teve 53 semanas e em 2003 foram contabilizadas só 52 semanas. Houve aqui um efeito calendário que a administração aproveitou», alerta Volker Bosse, analista na HVB Equity Research. Afinal o que se passa com esta empresa?



A Ahold é o quarto maior retalhista do mundo e diversifica a actividade pela Europa, Estados Unidos e América Latina. A oferta está concentrada em bens alimentares e cada unidade da empresa opera, em cada país, sob uma marca própria. Em Portugal, por exemplo, a Ahold está presente através da Jerónimo Martins, onde detém uma participação de 49% na Jerónimo Martins Retalho, a unidade que controla os supermercados Pingo Doce e os hipermercados Feira Nova. A saída de Portugal chegou a ser equacionada há dois anos, altura em que os títulos da Ahold tombaram 60%, fruto do escândalo contabilístico e da alegada gestão fraudulenta de nove responsáveis da empresa holandesa.

Contudo, a companhia decidiu manter a posição no grupo de Alexandre Soares dos Santos, até porque a Jerónimo Martins Retalho apresentou, nesse ano de 2003, resultados positivos. Mesmo assim, a saída do nosso País continua a ser equacionada pela empresa que já alienou as redes de retalho que detinha em Espanha para encaixar 2,5 mil milhões de euros.




«A boa performance das acções da Ahold pode ser explicada pelas perspectivas que a empresa apresenta para este ano. O pior já passou e a recuperação macroeconómica ainda não está reflectida no preço dos títulos», defende Stefaan Genoe, analista da Petercam. Na mesma linha de raciocínio está Jaime Vazquez, analista do banco de investimento norte-americano JP Morgan: «A administração mostrou confiança, ao anunciar que quer atingir uma margem de lucro de 5% e um crescimento de 5% nas vendas em 2005».

Parte da força da Ahold vem, segundo os analistas, da unidade holandesa Albert Heijn, que no ano passado registou um aumento superior a 2% nas vendas. «A estratégia de corte nos preços foi um sucesso. Surpreendeu os concorrentes e não sacrificou as margens, uma vez que a empresa acompanhou esta política com um corte de custos de 2%», analisa Jaime Vazquez. O problema desta estratégia de baixa de preços é que, a médio prazo, não é sustentável. «As vendas no quarto trimestre subiram apenas 0,7%, depois de terem disparado 3,1% no terceiro trimestre do ano passado. E se olharmos para o crescimento no volume das vendas, concluímos que também este desacelerou», avisa James Grzinic, analista do Dresdner Kleinwort.

Mas o maior problema da Ahold está mesmo do outro lado do Atlântico. A facturação nos Estados Unidos é corrida, trimestre após trimestre, pela desvalorização do dólar e num futuro próximo mais más notícias virão. «Estimamos que as vendas devam cair 16,2% este ano e que recuperem apenas 2,1% em 2006», profetiza Volker Bosse. O analista assenta o seu prognóstico na mais que provável venda das unidades norte-americanas BI-LO e Bruno's que, em conjunto, representaram 4,4 mil milhões de euros de facturação em 2003. James Grzinic argumenta mesmo que a operação nos Estados Unidos é o calcanhar de Aquiles da Ahold. «Se olharmos para os cash flows da Stop & Shop [rede de supermercados presente em estações de serviço norte-americanas] e da Giant Landover [empresa direccionada para alimentação, farmácia e produtos de beleza] verificamos que os Estados Unidos têm sido um país desencorajador para a empresa».

Se os analistas mais pessimistas tiverem razão, as acções da Ahold andam inflacionadas por falsas expectativas e a quebra será tão vertiginosa quanto a subida. Se os mais optimistas tiverem razão, então Aders Moberg deve começar a prestar boas contas aos accionistas e a sustentar a subida do título. Mas tenha em atenção a um dado importante. Nos últimos quatro anos as acções desvalorizaram sempre e as perdas acumuladas neste período ascendem a 114,47%. É verdade que performances passadas não significam performances futuras e alguns analistas começam a dizer que «Este ano é que é!». Mas também é verdade que a queda nos títulos da Ahold atesta bem a capacidade que a empresa tem para decepcionar o mercado.

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