Caldeirão da Bolsa

Rentabilidades de Carteiras

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

Rentabilidades de Carteiras

por JAS » 16/12/2004 20:05

O objectivo de um trader é ganhar dinheiro.
Para medirmos a sua performance bolsista é comum olharmos apenas para a rentabilidade que “ele diz que tem” sem analisarmos a sua formula de cálculo.

E a conclusão a que se chega é que há muitas fórmulas e muitas maneiras de as apresentar...

E essencialmente fazem-se sempre duas perguntas:
- Tem englobada a influência de serem capitais próprios ou alheios?
- Mede apenas a performance do conjunto dos diversos trades?

Vamos tentar sintetizar a importância destas questões.


Tem englobada a influência de serem capitais próprios ou alheios?

Em termos de performance bolsista parece-me um disparate fazer a distinção entre capitais próprios ou alheios.
Um determinado trade não é melhor ou pior por causa disso.
O trade em si gera resultados, positivos ou negativos, e em termos de performance bolsista o que interessa medir é a globalidade dos resultados dos trades sem outros factores externos.

Exemplo:
Se um trader tem 10.000 euros de capital próprio e 20.000 euros de capital alheio o que nos interessa medir é o resultado dos trades que ele fez com os 30.000 euros.
Esse é o único valor objectivo.
Se utilizássemos o valor do capital próprio obteríamos rentabilidades diferentes para um idêntico conjunto de trades, conforme o capital próprio fosse maior ou menor, e portanto não estaríamos a medir a performance bolsista mas outra coisa qualquer.
(estaríamos a medir a rentabilidade dos capitais próprios afectos à bolsa mas isso também tem pouco interesse. Quando obtemos um empréstimo até é possível dizer que o capital próprio que metemos na bolsa é zero pelo que a rentabilidade dos capitais próprios só faz sentido na sua globalidade).


Mede apenas a performance do conjunto dos diversos trades?

Abstraindo-nos de comissões fixas a rentabilidade de um trade, medida em percentagem, é idêntica quer ele seja feito com 100 ou com 1000 acções.
Mas no conjunto de uma carteira, devido à ponderação dos vários trades, isso assume importância na rentabilidade global e, sendo assim, não a podemos abstrair.

Por outro lado, para a mesma decisão de investir em determinado título, existem diversas formas de o fazer e que, vendo bem, até podem representar exactamente a mesma quantidade desses títulos.
Se à primeira vista poderíamos pensar que todos teriam os mesmos lucros não é bem assim...

Isto porque podem ser utilizadas acções ou outros produtos representativos dessas acções.
Assim, se vários traders decidem adquirir posições longas, entrando e saindo no mesmo momento, os lucros gerados podem ser muito diferentes conforme o produto escolhido.
E, consequentemente, as suas rentabilidades em termos de performance bolsista podem variar significativamente.

E é aqui que entramos na interessante discussão da alavancagem.

Para simplificar, vamos apenas falar de acções, warrants e contas-margem e das diferenças que daí resultam.

Exemplo:
Tomemos um título qualquer cujas acções valem 10 euros e que sobe para 10,50.
Consideremos que os investidores têm 10.000 euros para investir.

Acções
Compram-se 1.000 acções e o lucro é de 500 euros.
Rentabilidade 5%.

Warrants
Existirão muitos, com maturidades, strikes e paridades diferentes, com preços que poderiam ser entre 0,5 a 2,50.
Comprando 20.000 a 0,50, eles sobem para 1,00 se a paridade for 1:1, e duplicamos o capital obtendo uma rentabilidade de 100%.
Comprando 4.000 dos de 2,50, eles sobem para 3,00, e obtemos uma rentabilidade de 20%.

Contas-margem
Aqui o que varia é o número de acções que podemos comprar com os 10.000 euros
(isto para simplificar pois também poderemos comprar warrants, futuros, etc, etc)
Utilizando uma alavancagem de 4 poderíamos utilizar 40.000 euros, e comprando 4.000 acções obtinha-se um lucro de 2.000 euros. Rentabilidade de 5% ou de 20%?

Nos 2 primeiros casos não há qualquer dúvida quanto à forma de calcular a Rentabilidade, pois esta será obtida por (resultados / investimento), e existe uma igualdade entre capital e investimento.

No caso das contas-margens, o problema complica-se...

Na discussão que por aqui houve na semana passada foi defendido que se devia usar o capital próprio da conta para calcular a rentabilidade e não o capital alavancado.

A justificação principal era de que esse era o capital que o investidor efectivamente arriscava e que não podia perder mais do que esse.

Já vimos, lendo as letras pequeninas dos contratos, que o investidor pode, na realidade, perder mais do que o capital próprio dessas contas.

Mas por aí apenas concluiríamos que, tal como nos trades de futuros, as contas só se podiam fazer após ser fechado o trade perdedor e se saber qual o reforço de capital que se tornou necessário.

Para mim o principal problema de se utilizar o valor do capital próprio ( e não do capital alavancado) tem a ver com a existência de factores externos...
Nós não estaríamos a medir apenas a performance bolsista...
Nós estaríamos também a medir a capacidade financeira do investidor!

Exemplo:
O investidor A contacta a corretora para abrir uma conta-margem com capital próprio de 50.000 euros e dão-lhe o contrato tipo.
Esse contrato tipo permite alavancagens até, por exemplo, 10X.

O investidor B faz a mesma coisa mas diz que tem 2 milhões de euros.
Vocês têm alguma dúvida que ele consegue impor as suas condições?
E que consegue que lhe dêem alavancagens muito maiores se o quiser?


Os investidores A e B podem fazer os mesmos trades donde deviam resultar performances bolsistas exactamente iguais.
Um faz os trades com alavancagem 10x e o outro faz com alavancagem 20x, por exemplo.

O investidor B, fazendo as contas em termos de capital próprio, obtém uma rentabilidade dupla da obtida pelo investidor A.
Isso traduz verdadeiramente a sua performance bolsista ou está também a evidenciar a sua capacidade financeira?

Parece-me que a resposta è obvia...

(De notar que num caso de empréstimo o investidor B também conseguiria um endividamento maior e se fizessemos as contas apenas com o capital próprio também obteríamos uma rentabilidade dupla. Situação similar...)

Portanto, para concluir, eu continuo a preferir comparar as rentabilidades dos capitais realmente investidos (total=próprio+alheio) e continuo a não gostar desse artifício dos capitais próprios...

O capital total em jogo é o único valor realmente objectivo.

JAS

P.S. - Cada um calcule como quiser, eu sei fazer as contas para comparar.
Mas não convém baralhar quem não sabe.
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 6499
Registado: 5/11/2002 0:05
Localização: Lisboa

Anterior

Quem está ligado:
Utilizadores a ver este Fórum: Google Adsense [Bot], PAULOJOAO e 154 visitantes