A falácia dos combustíveis - Protecção contra flutuações
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Re: A falácia dos combustíveis - Protecção contra flutuações
Eu Escreveu:Quando o crude e a matéria prima baixa, os impostos aumentam. É uma maneira de aproveitar o menor impacto que o público sente porque quase nem dá por isso. Quando o crude, ou o dollar, sobem então não mexem muito nos impostos para não assustar tanto.
Devo ser bruxo!
Governo vai actualizar imposto sobre os combustíveis
As pessoas são tão ingénuas e tão agarradas aos seus interesses imediatos que um vigarista hábil consegue sempre que um grande número delas se deixe enganar.
Niccolò Machiavelli
http://www.facebook.com/atomez
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Re: A falácia dos combustíveis - Protecção contra flutuações
Grande Cem, há que tempos!
Tens toda a razão no teu reparo, foi uma falha da minha parte em termos do que queria indicar com esse valor. Os 25 dólares representam o break-even para a economia Saudita em finais de 2014 e não o custo de extracção.
Um abraço

Tens toda a razão no teu reparo, foi uma falha da minha parte em termos do que queria indicar com esse valor. Os 25 dólares representam o break-even para a economia Saudita em finais de 2014 e não o custo de extracção.
Um abraço
Surfar a Tendência - Análises técnicas, oportunidades, sugestões de investimento e artigos didácticos
Re: A falácia dos combustíveis - Protecção contra flutuações
Desculpem lá, mas acho que para um particular fica mais barato e mt mais simples ir à bomba abastecer.
Cumpts.
Cumpts.
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Re: A falácia dos combustíveis - Protecção contra flutuações
Excelente post, Tiago, aliás na linha da grande qualidade a que nos tens habituado no passado.
Há só um ponto que necessita de um pequeno ajuste quando te referes aos valores de custo de extraçao do break-even na Arábia Saudita, que eventualmente estarao mais próximos dos 10 $Usd por barril (intervalo de 8 a 12, segundo os experts) do que dos 25 $Usd que apontas, já que se tratam de ramas captadas maioritariamente quase à superfície a menos de 20 metros de profundidade do solo, mas isto nem sequer afeta a magnífica explicaçao sobre as formaçao dos preços e a forma correta de proceder ao hedging de cobertura que é o cerne da questao que muito bem expuseste.
Abraço.
Há só um ponto que necessita de um pequeno ajuste quando te referes aos valores de custo de extraçao do break-even na Arábia Saudita, que eventualmente estarao mais próximos dos 10 $Usd por barril (intervalo de 8 a 12, segundo os experts) do que dos 25 $Usd que apontas, já que se tratam de ramas captadas maioritariamente quase à superfície a menos de 20 metros de profundidade do solo, mas isto nem sequer afeta a magnífica explicaçao sobre as formaçao dos preços e a forma correta de proceder ao hedging de cobertura que é o cerne da questao que muito bem expuseste.
Abraço.
O autor não assume responsabilidades por acções tomadas por quem quer que seja nem providencia conselhos de investimento. O autor não faz promessas nem oferece garantias nem sugestões, limita-se a transmitir a sua opinião pessoal. Cada um assume os seus riscos, incluindo os que possam resultar em perdas.
Citações que me assentam bem:
Sucesso é a habilidade de ir de falhanço em falhanço sem perda de entusiasmo – Winston Churchill
Há milhões de maneiras de ganhar dinheiro nos mercados. O problema é que é muito difícil encontrá-las - Jack Schwager
No soy monedita de oro pa caerle bien a todos - Hugo Chávez
O day trader trabalha para se ajustar ao mercado. O mercado trabalha para o trend trader! - Jay Brown / Commodity Research Bureau
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Sucesso é a habilidade de ir de falhanço em falhanço sem perda de entusiasmo – Winston Churchill
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Re: A falácia dos combustíveis - Protecção contra flutuações
Dialmedia Escreveu:Tópico muito pertinente do tiagopt2, com o qual me identifico bem pois já pensei seriamente no assunto.
Há muitas famílias com 2 ou mais viaturas a gastarem vários milhares de euros por ano em combustíveis e, por outro lado, o preço do petróleo está em mínimos de há largos anos. Faz todo o sentido começar a pensar em comprar posições longas para beneficiarem "ad eternum" destes preços baixos.
O principal risco desta estratégia é uma queda do oil face ao preço de compra (uma ida aos 10$ por exemplo) e simultaneamente uma redução significativa do consumo de combustível, e/ou o fecho prematuro da posição, o que faria com que a perda no investimento possivelmente não fosse compensada com a poupança no gasto com combustível. Nos restantes cenários o saldo líquido é neutro (excluindo comissões) ou de ganho para o investidor.
Cumps.
Faltou-me responder ao teu comentário, Dialmedia. Teria de haver sempre um timing temporal para o hedging, nem que fosse para permitir o cálculo e fazer ajustes à realidade (eventual desuso total do petróleo (o que é impossível nos próximos 10 anos, na minha opinião) e estrutura de preços (percentagem de impostos, por exemplo). Na minha opinião, o máximo seriam os 24 meses de cobertura. Enquanto o preço caísse, mesmo que chegasse a 1 dólar (a zero não chegará), a tua posição estaria igualmente protegida porque apenas pagarias em bomba o equivalente a essa flutuação. Claro que, para funcionar, e definido o limite temporal, não poderia ser feito um fecho precoce. Repito, no entanto, que a manutenção e ajuste periódicos do tamanho da posição são tão importantes como o mecanismo de hedging. Se eu começo o ano com uma protecção para 1000 litros, ao final de meio ano já gastei 500. Só já preciso de fazer protecção para os 500 remanescentes, e não para os 1000 iniciais.
Abraço
Surfar a Tendência - Análises técnicas, oportunidades, sugestões de investimento e artigos didácticos
Re: A falácia dos combustíveis - Protecção contra flutuações
Obrigado pelos vossos comentários, e por terem lido até ao fim
(estiquei-me um bocadinho na dimensão)
Alguns contra-comentários:
- De facto a ideia não é apanhar o fundo, mas sim (como disse o Marco) evitar que se esse fundo aconteça não nos afecte de sobremaneira. De qualquer forma, eu ainda sou do tempo em que se dizia que o petróleo ia a 10 dólares e não tardou nos 100. E que o Dax valia 1000 pontos. E que o Banif valia 10 cêntimos... Diz-se muita coisa nos mercados financeiros, mas eles têm uma grande capacidade de ignorar os analistas e mostrarem vontade própria. Não quero com isto dizer que tal cenário se repita no petróleo, mas não vou arriscar uma parte do orçamento familiar se tal acontecer. Se mostrar sinais de inversão, avanço com o hedging.
- Como disse o Atomez, grande parte do problema são os aumentos de impostos que acompanham a diminuição da matéria-prima. Desses não nos conseguimos escapar, é ponto assente. Ainda assim, seríamos duplamente penalizados por uma subida de preço da matéria-prima. Fazendo hedging, reduzimos pelo menos o número de variáveis móveis.
- A questão do custo do hedging tem surgido repetidamente. Acabei por negligenciá-la por esquecimento, porque inicialmente não a considerei uma variável de grande relevo e depois acabou por ficar à parte. A verdade é que de facto algumas corretoras cobram até 20 vezes mais do que eu pago (cerca de 2€/mês para os valores em causa), e isso faz com que a equação se altere totalmente. Se o custo da cobertura, em vez de 2€, for 30 ou 40€, então obviamente esqueçam! Talvez seja pertinente aprofundar esta questão....
- Como refere o Alquimista, é verdade que se pode fazer o mesmo tipo de cobertura para diversas outras variáveis. E deve, na minha opinião, quando elas representam uma parte importante do orçamento familiar. É o caso das taxas de juro, por exemplo. Acredito que não se faça mais vezes porque as pessoas na generalidade não tenham a mais pálida ideia de que tal é possível. Faz-me lembrar aqueles programas de mineração de Ouro da Discovery em que eles esperam até ao fim da época para saberem se tiveram lucro ou prejuízo, por não saberem a que preço vão conseguir vender o ouro. É de loucos!! Poderiam desde logo, antes de iniciarem a mineração, fixar em mercado de futuros o preço do ouro que vão vender durante toda a época utilizando uma estimativa conservadora. Infelizmente, ainda se acredita que os mercados financeiros são uma roleta e pouco mais que isso.
Abraços!

Alguns contra-comentários:
- De facto a ideia não é apanhar o fundo, mas sim (como disse o Marco) evitar que se esse fundo aconteça não nos afecte de sobremaneira. De qualquer forma, eu ainda sou do tempo em que se dizia que o petróleo ia a 10 dólares e não tardou nos 100. E que o Dax valia 1000 pontos. E que o Banif valia 10 cêntimos... Diz-se muita coisa nos mercados financeiros, mas eles têm uma grande capacidade de ignorar os analistas e mostrarem vontade própria. Não quero com isto dizer que tal cenário se repita no petróleo, mas não vou arriscar uma parte do orçamento familiar se tal acontecer. Se mostrar sinais de inversão, avanço com o hedging.
- Como disse o Atomez, grande parte do problema são os aumentos de impostos que acompanham a diminuição da matéria-prima. Desses não nos conseguimos escapar, é ponto assente. Ainda assim, seríamos duplamente penalizados por uma subida de preço da matéria-prima. Fazendo hedging, reduzimos pelo menos o número de variáveis móveis.
- A questão do custo do hedging tem surgido repetidamente. Acabei por negligenciá-la por esquecimento, porque inicialmente não a considerei uma variável de grande relevo e depois acabou por ficar à parte. A verdade é que de facto algumas corretoras cobram até 20 vezes mais do que eu pago (cerca de 2€/mês para os valores em causa), e isso faz com que a equação se altere totalmente. Se o custo da cobertura, em vez de 2€, for 30 ou 40€, então obviamente esqueçam! Talvez seja pertinente aprofundar esta questão....
- Como refere o Alquimista, é verdade que se pode fazer o mesmo tipo de cobertura para diversas outras variáveis. E deve, na minha opinião, quando elas representam uma parte importante do orçamento familiar. É o caso das taxas de juro, por exemplo. Acredito que não se faça mais vezes porque as pessoas na generalidade não tenham a mais pálida ideia de que tal é possível. Faz-me lembrar aqueles programas de mineração de Ouro da Discovery em que eles esperam até ao fim da época para saberem se tiveram lucro ou prejuízo, por não saberem a que preço vão conseguir vender o ouro. É de loucos!! Poderiam desde logo, antes de iniciarem a mineração, fixar em mercado de futuros o preço do ouro que vão vender durante toda a época utilizando uma estimativa conservadora. Infelizmente, ainda se acredita que os mercados financeiros são uma roleta e pouco mais que isso.
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Re: A falácia dos combustíveis - Protecção contra flutuações
O melhor hedge é o carro eléctrico (bem...mas a energia também sobe, logo...). Ou então andar a pé, de bicicleta ou de transporte público, se possível.
"Ever tried. Ever failed. No matter. Try again. Fail again. Fail better." - Samuel Becket
Pára de dar crédito fácil ao que lês e ouves, escuta o que o preço está a fazer e olha para o que te rodeia. - O Alquimista
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Re: A falácia dos combustíveis - Protecção contra flutuações
Muito interessante, mas não serve de nada. É que tudo isso só serve para isolar as variações do preço da matéria prima, mas isso é quase irrelevante.
É que, como se vê, o que o consumidor final (nós todos) paga na bomba são sobretudo impostos! Mais de 60% do total pago são impostos. As bombas de combustível são autênticos cobradores de impostos da AT!
E os impostos como é que vão variar? Resposta muito simples: vão subir.
Quando o crude e a matéria prima baixa, os impostos aumentam. É uma maneira de aproveitar o menor impacto que o público sente porque quase nem dá por isso. Quando o crude, ou o dollar, sobem então não mexem muito nos impostos para não assustar tanto.
Quando o preço da matéria prima e do produto final descem isso até é mau para o estado porque, embora o ISP seja fixo, o IVA é uma percentagem do valor da venda total e portanto a recolha de IVA baixa. E isso tem que ser compensado! Em parte poderá ser compensado pelo aumento de consumo, mas os cofres da AT não podem passar por um deréscimo da recolha de impostos.
Para além disso, com a atual escândalo da vigarice dos testes de emissões poluentes dos motores a gasóleo a carga fiscal deste (na Europa) que era mais baixa que a gasolina vai ter de aumentar para desincentivar o seu consumo...
É que, como se vê, o que o consumidor final (nós todos) paga na bomba são sobretudo impostos! Mais de 60% do total pago são impostos. As bombas de combustível são autênticos cobradores de impostos da AT!
E os impostos como é que vão variar? Resposta muito simples: vão subir.
Quando o crude e a matéria prima baixa, os impostos aumentam. É uma maneira de aproveitar o menor impacto que o público sente porque quase nem dá por isso. Quando o crude, ou o dollar, sobem então não mexem muito nos impostos para não assustar tanto.
Quando o preço da matéria prima e do produto final descem isso até é mau para o estado porque, embora o ISP seja fixo, o IVA é uma percentagem do valor da venda total e portanto a recolha de IVA baixa. E isso tem que ser compensado! Em parte poderá ser compensado pelo aumento de consumo, mas os cofres da AT não podem passar por um deréscimo da recolha de impostos.
Para além disso, com a atual escândalo da vigarice dos testes de emissões poluentes dos motores a gasóleo a carga fiscal deste (na Europa) que era mais baixa que a gasolina vai ter de aumentar para desincentivar o seu consumo...
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Re: A falácia dos combustíveis - Protecção contra flutuações
Não creio que a ideia dele fosse apanhar o fundo mas fazer hedging mesmo (o que envolve custos, claro).
Já agora, a cobertura não é "ad eternum" como refere o Dialmedial, é para o montante considerado/coberto pela posição complementar do hedge. Neste caso estamos a falar de consumo, não de duas posições que se cancelam à partida na abertura, portanto basicamente o que o consumidor tem de fazer é estimar o consumo para um dado período que pretende cobrir... para ser ad eternum teria de entrar com uma posição enorme que cobrisse o consumo para o resto da vida (o que não é sequer determinável)..
Já agora, a cobertura não é "ad eternum" como refere o Dialmedial, é para o montante considerado/coberto pela posição complementar do hedge. Neste caso estamos a falar de consumo, não de duas posições que se cancelam à partida na abertura, portanto basicamente o que o consumidor tem de fazer é estimar o consumo para um dado período que pretende cobrir... para ser ad eternum teria de entrar com uma posição enorme que cobrisse o consumo para o resto da vida (o que não é sequer determinável)..
FLOP - Fundamental Laws Of Profit
1. Mais vale perder um ganho que ganhar uma perda, a menos que se cumpra a Segunda Lei.
2. A expectativa de ganho deve superar a expectativa de perda, onde a expectativa mede a
__.amplitude média do ganho/perda contra a respectiva probabilidade.
3. A Primeira Lei não é mesmo necessária mas com Três Leis isto fica definitivamente mais giro.
Re: A falácia dos combustíveis - Protecção contra flutuações
Já agora também se pode fazer o mesmo no trigo, no milho, no gado, na inflação, etc..
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Re: A falácia dos combustíveis - Protecção contra flutuações
Tópico muito pertinente do tiagopt2, com o qual me identifico bem pois já pensei seriamente no assunto.
Há muitas famílias com 2 ou mais viaturas a gastarem vários milhares de euros por ano em combustíveis e, por outro lado, o preço do petróleo está em mínimos de há largos anos. Faz todo o sentido começar a pensar em comprar posições longas para beneficiarem "ad eternum" destes preços baixos.
O principal risco desta estratégia é uma queda do oil face ao preço de compra (uma ida aos 10$ por exemplo) e simultaneamente uma redução significativa do consumo de combustível, e/ou o fecho prematuro da posição, o que faria com que a perda no investimento possivelmente não fosse compensada com a poupança no gasto com combustível. Nos restantes cenários o saldo líquido é neutro (excluindo comissões) ou de ganho para o investidor.
Cumps.
Há muitas famílias com 2 ou mais viaturas a gastarem vários milhares de euros por ano em combustíveis e, por outro lado, o preço do petróleo está em mínimos de há largos anos. Faz todo o sentido começar a pensar em comprar posições longas para beneficiarem "ad eternum" destes preços baixos.
O principal risco desta estratégia é uma queda do oil face ao preço de compra (uma ida aos 10$ por exemplo) e simultaneamente uma redução significativa do consumo de combustível, e/ou o fecho prematuro da posição, o que faria com que a perda no investimento possivelmente não fosse compensada com a poupança no gasto com combustível. Nos restantes cenários o saldo líquido é neutro (excluindo comissões) ou de ganho para o investidor.
Cumps.
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Re: A falácia dos combustíveis - Protecção contra flutuações
Posso estar com o olfacto afectado, mas cheira-me que ultimamente anda muita gente a tentar apanhar o fundo do petróleo, ora com teorias sobre oferta e procura, conflitos regionais, ondas para aqui e para acolá, divergências assim e assado. Uma coisa é certa: alguém o conseguirá, por sorte ou competência.
Quanto ao fundo da questão: falta analisar o custo da operação em si (que se agrava se for usado cfd) e do hedging.
Quanto ao fundo da questão: falta analisar o custo da operação em si (que se agrava se for usado cfd) e do hedging.
"Ever tried. Ever failed. No matter. Try again. Fail again. Fail better." - Samuel Becket
Pára de dar crédito fácil ao que lês e ouves, escuta o que o preço está a fazer e olha para o que te rodeia. - O Alquimista
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Re: A falácia dos combustíveis - Protecção contra flutuações
Excelente post Tiago
Gostei principalmente dos pontos
1 - Os mercados financeiros como "seguro" contra flutuações
3 - Como pode então o comum cidadão recorrer a este processo?
nunca tinha pensado nisto.
Cumprimentos

Gostei principalmente dos pontos
1 - Os mercados financeiros como "seguro" contra flutuações
3 - Como pode então o comum cidadão recorrer a este processo?
nunca tinha pensado nisto.
Cumprimentos
"Quando a música acaba, apagam-se as luzes." The Door's
A falácia dos combustíveis - Protecção contra flutuações
Porque não desce mais o preço em bomba?
Muito se tem falado do preço dos combustíveis e da falta de acompanhamento do preço em bomba no que ao movimento do petróleo nos mercados internacionais diz respeito. Decidi, por isso, e por acreditar que estamos a aproximar-nos de um mínimo no preço em bomba, escrever uma série de três artigos sobre o tema.
- O primeiro, este, tentará explicar como se forma o preço em bomba e por que motivo este preço se poderá estar a aproximar de um mínimo.
- O segundo tentará explicar ao comum cidadão como poderá proteger-se de uma eventual subida no preço dos combustíveis, e como comprar desde já sem sair de casa o equivalente ao seu consumo de gasóleo ou gasolina para o resto do ano.
- O terceiro analisará do ponto de vista técnico a matéria-prima, para ajudar a seleccionar de forma mais precisa o melhor ponto de entrada para o fazer.
Vou tentar ser o menos técnico e maçudo possível, pelo que peço desde já desculpa por algumas imprecisões que derivarão de simplificações conceptuais.
A formação do preço dos combustíveis
Começando pelo início, os combustíveis europeus de uma forma geral são absurdamente afectados pelos impostos governamentais. Segundo dados da Entidade Nacional para o Mercado dos Combustíveis (fonte governamental), na última quinzena de Dezembro o preço médio de referência para o gasóleo era de 89,3 cêntimos (em alguns locais o preço atingiu os 84 cêntimos em bombas de marca branca). Destes 89,3 cêntimos, apenas 27,1 diziam respeito ao preço do combustível (entretanto os combustíveis subiram ligeiramente, mas utilizemos este dado oficial para exemplos de cálculo). A esmagadora maioria do restante foi derivado a impostos (quase 60 cêntimos).
Cenário semelhante ocorreu na gasolina, com valor de referência nos 1,14 euros e com apenas 29 cêntimos atribuídos à matéria-prima. Queiram reparar que a diferença de preço entre gasóleo e gasolina não está relacionada de sobremaneira com a matéria-prima. A diferença vem dos mais 20 cêntimos de ISP que este combustível paga! A termo comparativo, o ISP em 2008 era de 28 cêntimos por litro de gasóleo. Se este imposto se tivesse mantido inalterado, o preço do gasóleo em bomba rondaria hoje os 67 cêntimos por litro!
Por que motivo acredito que podemos estar próximos de um valor mínimo no que a preço em bomba diz respeito?
Ora, foquemo-nos na parte variável do preço. Destes 27,1 cêntimos nem tudo é matéria-prima. Uma parte importante é devida a custos fixos de refinação. Imaginemos, para exercício, que o custo do petróleo cai mais 50% e que metade desta margem é devida a um custo fixo que ronda os 10 cêntimos por litro. Dos 17,1 cêntimos remanescentes, uma queda de 50% apenas faria diminuir em 8 cêntimos o custo do combustível em bomba. É assim improvável que o preço do gasóleo em bomba quebre em baixa a fasquia dos 80 cêntimos em Portugal sem que exista uma decisão política de diminuir impostos (o que também é improvável). Esperar cenários de queda superiores a 50% do petróleo a partir do ponto actual não é também muito realista. Ao contrário do que acontece, por exemplo, com as acções, o valor das matérias-primas tem um drawdown máximo finito. Ou seja, a menos que caia completamente em desuso não pode cair até zero. O limite teórico será o nível de break-even (nem perda nem ganho) dos seus produtores com um custo de extracção mais baixo. Recordo que um dos países do Mundo com um custo de exploração mais baixo da matéria-prima é a Arábia Saudita. À medida que o valor de custo para a economia Saudita se aproxima do seu break-even (ronda os 25 dólares), a cooperação e o alinhamento com a OPEP tenderá a aumentar de forma a que não entrem todos em prejuízo. Mesmo considerando os níveis absurdamente elevados de reservas de combustíveis actualmente existentes e o abrandamento da economia Chinesa, um revés é sempre possível. Recordo, como se fosse necessário, que as maiores inversões nos mercados financeiros se dão quando todos acreditam que tal não é possível de acontecer.
O impacto potencial de uma eventual subida nos combustíveis
Analisando então o cenário teórico de subida, nesse caso o risco para o consumidor seria significativamente superior. Caso, por exemplo, regressássemos a valores de Maio de 2015 no que ao preço do Diesel em mercado internacional (em euros) diz respeito, o custo em bomba repercutir-se-ia em mais 20 (+ 4 de IVA) cêntimos por litro de gasóleo. O mesmo exercício para a gasolina, que subiria 15 (+3 de IVA) cêntimos por litro. Para quem faz em média 90 quilómetros por dia, isto representaria um acréscimo de custo que rondaria os 500€ anuais. Torna-se assim, para aqueles que acreditam que o preço não continuará a descer por muito mais tempo, absolutamente fundamental tentar minimizar o impacto potencial desta subida. Como? Adquirindo no inicio do ano o equivalente a todo o gasóleo ou gasolina que se pretende consumir num determinado período de tempo. Assim, qualquer que seja a flutuação do preço em bomba, não haverá impactos na nossa carteira! Como o poderemos então fazer sem comprar um depósito caseiro de 2000 litros, e recorrendo em vez disso à ajuda dos mercados financeiros?
E se pudesse garantir o actual preço do combustível para o resto do ano?
A flutuação do preço do petróleo é uma das maiores dores de cabeça para quem depende de automóvel próprio para se deslocar diariamente. Estima-se que o gasto dos Portugueses com combustíveis ronde os 5-10% do orçamento familiar, sendo este impacto mais sentido nos agregados com rendimentos inferiores. A oscilação dos preços em bomba representa assim um alívio orçamental em momentos como o actual, e uma pressão extra nos picos de valorização. Ora, como tive oportunidade de defender e explicar acima, acredito que possamos estar a aproximar-nos de um valor mínimo no preço em bomba. O ritmo de descidas semelhantes à de 4 cêntimos ocorrida ontem poderá inverter-se nas próximas semanas, à medida que a OPEP alinha a estratégia de estabilização de preço com os produtores. Se assim for, seria fantástico que nos pudéssemos proteger convenientemente, e aproveitar a oportunidade de adquirir o combustível de que iremos necessitar durante o resto do ano a preços próximos dos actuais. Boas notícias, é possível (se estiver com pressa, salte já para o ponto 3)! À primeira vista é um processo complexo, mas a poupança potencial situar-se-à em redor dos 500€ para o agregado comum, pelo que vale a pena fazer uma leitura aprofundada.
1 - Os mercados financeiros como "seguro" contra flutuações
Ao contrário do que se pensa e conta, os mercados financeiros não existem para que os especuladores sem coração ganhem rios de dinheiro à custa de bens essenciais. Uma parte dos mercados financeiros, o mercado de futuros, tem como princípio fundamental precisamente a defesa e fixação de preços para um momento futuro. Imaginem uma empresa de transportes que firma um contrato no início de Janeiro para o transporte de 1000 cargas durante o ano, ao preço de 100€ por carga. No início de Janeiro, o custo de combustível por carga representa 50€. Os restantes custos representam mais 40€. Resta uma margem de lucro de 10€. E se os combustíveis começam a subir, e em vez de 50€ por carga passam a representar 65€? A empresa passaria automaticamente a ter um prejuízo de 5€ por carga, o que é inadmissível. O que é feito é "comprar" desde logo em Janeiro o equivalente ao combustível necessário para o resto do período de contrato no mercado de futuros (através de um contrato de futuros), impedindo que essa variável se torne um embaraço. Se o preço em bomba diminuir entretanto, o contrato de futuros diminui de valor mas o gasto em bomba é menor. Se o preço em bomba subir e o gasto com combustíveis aumentar, o contrato de futuros aumenta também de valor em igual proporção. O objectivo é precisamente neutralizar quaisquer flutuações no preço ao longo do período de contrato. Não há actualmente empresas profissionais dignas dessa designação que não se protejam de antemão de tais flutuações. Ao iniciar-se um negócio, as variáveis em jogo deverão ser reduzidas ao core do negócio. Quanto menor for a quantidade de variáveis, menos arriscado se torna o negócio. E exemplos semelhantes existem também para empresas de construção, de agricultura, etc, etc... Por curiosidade, este processo tem a designação de mecanismo de hedging. Aprofundemos então a forma de utilizar esse mecanismo.
2 - As variáveis que compõem os preços de gasóleo e gasolina
Além das variáveis fixas que já foram analisadas no primeiro artigo (nomeadamente impostos, e custos de transporte e armazenamento), há duas variáveis de peso que requerem a nossa atenção. A matéria-prima e a moeda. Ou seja, o petróleo e o par euro/dólar. A flutuação de qualquer uma destas duas variáveis influi no preço em bomba. Devido à maior correlação com o preço em bomba, o ideal será deixar o crude/brent à parte e saltar para a protecção com a matéria-prima transformada: a gasolina e o diesel. Ambos são (à semelhança do que se passa com o petróleo) transaccionados no mercado de futuros, e a sua correlação com o preço em bomba é superior à da matéria-prima de base. Permite também que cada consumidor faça uma adaptação o mais próxima possível à sua realidade individual, personalizando-se assim o mecanismo de hedging para donos de automóveis a gasolina e a gasóleo. Por ser mais fácil encontrar para negociação o heating oil (gasóleo de aquecimento) do que o diesel, e dada a correlação de 95% entre ambos, utilizá-lo-emos em substituição do diesel nos exemplos. Quem tiver acesso à negociação de diesel deve utilizá-lo directamente.
3 - Como pode então o comum cidadão recorrer a este processo?
Em primeiro lugar, temos de conhecer as nossas necessidades. No meu caso pessoal, a combinação das viaturas do agregado familiar fazem um total de cerca de 180 quilómetros diários. A um consumo médio de 6,5 litros aos 100, o meu consumo de combustível ronda os 4270 litros por ano.
Em segundo lugar, temos de converter os litros para galões (unidade de negociação destes instrumentos financeiros). Correspondendo cada galão a 3,78 litros, teremos de comprar 1128 galões (basta multiplicar o número de litros por 0,2642) de combustível.
O terceiro passo implica ir ao mercado adquirir este número de galões através do CFD sobre o futuro da matéria-prima. O tamanho do contrato pode depender do nosso intermediário financeiro. Na Activtrades, cada contrato completo de gasóleo corresponde a 21 mil galões. Assim, teremos de comprar 0,05 contratos para obter os 1128 galões acima indicados (1128/21000). Para fazer o mesmo em relação à gasolina, basta fazer a adaptação dos valores (ver documento Excel abaixo).
Estes três passos representam os fundamentais do processo. Seguindo-os, conseguimos desde logo obter uma cobertura superior a 80% da flutuação.
O quarto passo é opcional, já que implica neutralizar as flutuações do dólar. Para valores acima de 1000 euros de investimento a protecção deve no entanto ser feita, já que aumenta a precisão do processo. Para valores abaixo dessa marca, não é possível fazer tal cobertura. Para o nosso exemplo, temos 1059 dólares de exposição a esta moeda. O valor de exposição representa a multiplicação do número de galões (1128) pela cotação actual do activo ($0,94). Se temos um activo que valoriza com a valorização do dólar, para efeitos de cobertura necessitamos de outro que desvalorize em igual proporção (e vice-versa). Teremos então de ir ao mercado de Forex abrir uma posição em EUR/USD, comprando o equivalente em Euros a esse valor de dólares. Correspondendo 1 euro a 1,09 dólares à data de hoje, necessitamos de comprar 970€. Como cada lote de EUR/USD corresponde a 100.000€, necessitamos então de comprar 0,01 lotes de EUR/USD para fazer uma cobertura aproximada ao valor total da nossa exposição
Com o passo anterior terminamos o processo de hedging. Falta ainda, no entanto, proceder à manutenção da posição. Esta posição tem de ir sendo ajustada a cada 2-3 meses, não só porque o contrato de gasóleo e gasolina vai fechando automaticamente mas sobretudo porque a regularidade do ajuste é directamente proporcional à flutuação de preço em bomba. De cada vez que se faz o reajuste, o número de litros até ao final do ano (ou até ao final do período que se pretenda cobrir) deverá ser recalculado para reajustar o processo à realidade. Se, por exemplo, nos primeiros 2 meses o preço em bomba subir 10%, a parte da posição que já não iremos reabrir já nos terá permitido ganhar esses 10% que pagamos a mais em bomba.
Para auxiliar os cálculos, desenvolvi um ficheiro de Excel que poderá ser transferido através do link abaixo.
Transferir ficheiro Excel (http://www.teoconsulting.pt/wp-content/uploads/2016/01/Hedging-Combust%C3%ADveis.xlsx)
Para finalizar, alguns pressupostos
- É importante ter a noção de que este mecanismo não é perfeito nem milimétrico. É, sim, um seguro por grosso que permite reduzir a esmagadora maioria da força da flutuação;
- Existe um valor mínimo em termos de necessidade de combustível para que este processo funcione. Este valor ronda os 800 litros de gasóleo e os 1400 de gasolina. Pode, no entanto, aumentar o número de dias de cobertura para compensar um consumo mais baixo;
- A oscilação do valor de IVA não é reflectida. Complicaria ainda mais os cálculos e a explicação, e o seu não englobamento acaba por ser um mal menor. Recordo que o grosso do imposto é relativo a ISP, e esse é um valor fixo;
- Cada gasolineira tem uma margem de lucro mais ou menos fixa (que pode representar uma flutuação de até 30 cêntimos por litro). Para que isto resulte, é importante que se abasteça sempre no mesmo local ou em locais com um preço mais baixo do que o local habitual.
Selecção do ponto de entrada
Depois da análise à composição do preço dos combustíveis em Portugal, e da explicação ao mecanismo de hedging à subida dos preços em bomba, termino com a análise aos preços do petróleo, gasolina e heating oil em busca de um ponto ideal para abrir a posição.
Crude
Começando pelo petróleo, o momento decisivo para o actual movimento de baixa foi a quebra em baixa dos 40 dólares. A partir desse ponto, não mais este activo conseguiu esboçar uma reacção. Não existem para já, no gráfico diário, quaisquer indícios que possam deixar adivinhar uma recuperação. A forte sobrevenda poderá de alguma forma puxar por um ressalto, mas isso está longe de ser suficiente para uma indicação de entrada. Referências de entrada longa no gráfico diário apenas nos 38,2 dólares, mas uma entrada acima dessa zona é já demasiado tardia para um mecanismo de hedging.
A linearidade descendente do gráfico diário contrasta, contudo, com o panorama no gráfico horário. Aqui, os 31,3 dólares são a referência de negociação para o curto prazo.
Gasolina
Como os cenários macro na gasolina e heating oil são semelhantes ao do petróleo, foquemo-nos no curto prazo com a leitura do gráfico horário. A partir de finais de Dezembro, a gasolina quebrou uma lateralização em baixa e acentuou um movimento descendente que ainda se mantém. Este padrão é bastante perceptível, por assentar numa sequência de lower-highs. Se no início do dia de hoje havia indícios que apontavam para uma eventual recuperação baseada num padrão de inversão, a activação do mesmo tem vindo a tardar e pode mesmo já não acontecer. Fica, ainda assim, a marca dos 1,08 dólares como grande referência de negociação. A sua quebra em alta significará com alguma probabilidade um ressalto que se poderá estender ao gráfico diário.
Heating Oil
No heating oil existem alguns dados de relevo adicionais que deverão ser salientados. Além de um padrão de inversão no gráfico horário, situado neste caso nos $0,95, existe um padrão no gráfico de 4 horas cuja activação ocorre na quebra em alta dos $0,987. Dada a superior relevância técnica deste segundo ponto, e considerando a pequena distância percentual entre ambas as referências, pessoalmente considerarei esta segunda como trigger para o meu negócio.
É, contudo, a pressão vendedora que se continua a fazer sentir neste activo. Enquanto escrevo, o suporte que demarca um rectângulo de continuação dá sinais de querer ceder. Se assim for, o movimento descendente poderá prevalecer durante mais algum tempo.
Notas finais
Apesar desta análise ao preço, recordo que o objectivo desta série de artigos não passa por ganhar dinheiro directamente com estes activos. O objectivo fundamental é bloquear as oscilações de preço do combustível em bomba. Obviamente que o ideal é fazer a neutralização o mais próximo possível de mínimos, mas fiquem desde já cientes que só por sorte se consegue encontrar mínimos. Ao contrário do que acontece com a aquisição de acções, por exemplo, neste caso pode compensar entrar um pouco mais cedo ao invés de esperar por um ponto de entrada mais robusto. O pior que pode acontecer é fixar-se o preço em bomba demasiado cedo, o que a partir de determinado ponto como já vimos poderá até compensar. Fica então assim fechada a série "combustíveis".
Muito se tem falado do preço dos combustíveis e da falta de acompanhamento do preço em bomba no que ao movimento do petróleo nos mercados internacionais diz respeito. Decidi, por isso, e por acreditar que estamos a aproximar-nos de um mínimo no preço em bomba, escrever uma série de três artigos sobre o tema.
- O primeiro, este, tentará explicar como se forma o preço em bomba e por que motivo este preço se poderá estar a aproximar de um mínimo.
- O segundo tentará explicar ao comum cidadão como poderá proteger-se de uma eventual subida no preço dos combustíveis, e como comprar desde já sem sair de casa o equivalente ao seu consumo de gasóleo ou gasolina para o resto do ano.
- O terceiro analisará do ponto de vista técnico a matéria-prima, para ajudar a seleccionar de forma mais precisa o melhor ponto de entrada para o fazer.
Vou tentar ser o menos técnico e maçudo possível, pelo que peço desde já desculpa por algumas imprecisões que derivarão de simplificações conceptuais.
A formação do preço dos combustíveis
Começando pelo início, os combustíveis europeus de uma forma geral são absurdamente afectados pelos impostos governamentais. Segundo dados da Entidade Nacional para o Mercado dos Combustíveis (fonte governamental), na última quinzena de Dezembro o preço médio de referência para o gasóleo era de 89,3 cêntimos (em alguns locais o preço atingiu os 84 cêntimos em bombas de marca branca). Destes 89,3 cêntimos, apenas 27,1 diziam respeito ao preço do combustível (entretanto os combustíveis subiram ligeiramente, mas utilizemos este dado oficial para exemplos de cálculo). A esmagadora maioria do restante foi derivado a impostos (quase 60 cêntimos).
Cenário semelhante ocorreu na gasolina, com valor de referência nos 1,14 euros e com apenas 29 cêntimos atribuídos à matéria-prima. Queiram reparar que a diferença de preço entre gasóleo e gasolina não está relacionada de sobremaneira com a matéria-prima. A diferença vem dos mais 20 cêntimos de ISP que este combustível paga! A termo comparativo, o ISP em 2008 era de 28 cêntimos por litro de gasóleo. Se este imposto se tivesse mantido inalterado, o preço do gasóleo em bomba rondaria hoje os 67 cêntimos por litro!
Por que motivo acredito que podemos estar próximos de um valor mínimo no que a preço em bomba diz respeito?
Ora, foquemo-nos na parte variável do preço. Destes 27,1 cêntimos nem tudo é matéria-prima. Uma parte importante é devida a custos fixos de refinação. Imaginemos, para exercício, que o custo do petróleo cai mais 50% e que metade desta margem é devida a um custo fixo que ronda os 10 cêntimos por litro. Dos 17,1 cêntimos remanescentes, uma queda de 50% apenas faria diminuir em 8 cêntimos o custo do combustível em bomba. É assim improvável que o preço do gasóleo em bomba quebre em baixa a fasquia dos 80 cêntimos em Portugal sem que exista uma decisão política de diminuir impostos (o que também é improvável). Esperar cenários de queda superiores a 50% do petróleo a partir do ponto actual não é também muito realista. Ao contrário do que acontece, por exemplo, com as acções, o valor das matérias-primas tem um drawdown máximo finito. Ou seja, a menos que caia completamente em desuso não pode cair até zero. O limite teórico será o nível de break-even (nem perda nem ganho) dos seus produtores com um custo de extracção mais baixo. Recordo que um dos países do Mundo com um custo de exploração mais baixo da matéria-prima é a Arábia Saudita. À medida que o valor de custo para a economia Saudita se aproxima do seu break-even (ronda os 25 dólares), a cooperação e o alinhamento com a OPEP tenderá a aumentar de forma a que não entrem todos em prejuízo. Mesmo considerando os níveis absurdamente elevados de reservas de combustíveis actualmente existentes e o abrandamento da economia Chinesa, um revés é sempre possível. Recordo, como se fosse necessário, que as maiores inversões nos mercados financeiros se dão quando todos acreditam que tal não é possível de acontecer.
O impacto potencial de uma eventual subida nos combustíveis
Analisando então o cenário teórico de subida, nesse caso o risco para o consumidor seria significativamente superior. Caso, por exemplo, regressássemos a valores de Maio de 2015 no que ao preço do Diesel em mercado internacional (em euros) diz respeito, o custo em bomba repercutir-se-ia em mais 20 (+ 4 de IVA) cêntimos por litro de gasóleo. O mesmo exercício para a gasolina, que subiria 15 (+3 de IVA) cêntimos por litro. Para quem faz em média 90 quilómetros por dia, isto representaria um acréscimo de custo que rondaria os 500€ anuais. Torna-se assim, para aqueles que acreditam que o preço não continuará a descer por muito mais tempo, absolutamente fundamental tentar minimizar o impacto potencial desta subida. Como? Adquirindo no inicio do ano o equivalente a todo o gasóleo ou gasolina que se pretende consumir num determinado período de tempo. Assim, qualquer que seja a flutuação do preço em bomba, não haverá impactos na nossa carteira! Como o poderemos então fazer sem comprar um depósito caseiro de 2000 litros, e recorrendo em vez disso à ajuda dos mercados financeiros?
E se pudesse garantir o actual preço do combustível para o resto do ano?
A flutuação do preço do petróleo é uma das maiores dores de cabeça para quem depende de automóvel próprio para se deslocar diariamente. Estima-se que o gasto dos Portugueses com combustíveis ronde os 5-10% do orçamento familiar, sendo este impacto mais sentido nos agregados com rendimentos inferiores. A oscilação dos preços em bomba representa assim um alívio orçamental em momentos como o actual, e uma pressão extra nos picos de valorização. Ora, como tive oportunidade de defender e explicar acima, acredito que possamos estar a aproximar-nos de um valor mínimo no preço em bomba. O ritmo de descidas semelhantes à de 4 cêntimos ocorrida ontem poderá inverter-se nas próximas semanas, à medida que a OPEP alinha a estratégia de estabilização de preço com os produtores. Se assim for, seria fantástico que nos pudéssemos proteger convenientemente, e aproveitar a oportunidade de adquirir o combustível de que iremos necessitar durante o resto do ano a preços próximos dos actuais. Boas notícias, é possível (se estiver com pressa, salte já para o ponto 3)! À primeira vista é um processo complexo, mas a poupança potencial situar-se-à em redor dos 500€ para o agregado comum, pelo que vale a pena fazer uma leitura aprofundada.
1 - Os mercados financeiros como "seguro" contra flutuações
Ao contrário do que se pensa e conta, os mercados financeiros não existem para que os especuladores sem coração ganhem rios de dinheiro à custa de bens essenciais. Uma parte dos mercados financeiros, o mercado de futuros, tem como princípio fundamental precisamente a defesa e fixação de preços para um momento futuro. Imaginem uma empresa de transportes que firma um contrato no início de Janeiro para o transporte de 1000 cargas durante o ano, ao preço de 100€ por carga. No início de Janeiro, o custo de combustível por carga representa 50€. Os restantes custos representam mais 40€. Resta uma margem de lucro de 10€. E se os combustíveis começam a subir, e em vez de 50€ por carga passam a representar 65€? A empresa passaria automaticamente a ter um prejuízo de 5€ por carga, o que é inadmissível. O que é feito é "comprar" desde logo em Janeiro o equivalente ao combustível necessário para o resto do período de contrato no mercado de futuros (através de um contrato de futuros), impedindo que essa variável se torne um embaraço. Se o preço em bomba diminuir entretanto, o contrato de futuros diminui de valor mas o gasto em bomba é menor. Se o preço em bomba subir e o gasto com combustíveis aumentar, o contrato de futuros aumenta também de valor em igual proporção. O objectivo é precisamente neutralizar quaisquer flutuações no preço ao longo do período de contrato. Não há actualmente empresas profissionais dignas dessa designação que não se protejam de antemão de tais flutuações. Ao iniciar-se um negócio, as variáveis em jogo deverão ser reduzidas ao core do negócio. Quanto menor for a quantidade de variáveis, menos arriscado se torna o negócio. E exemplos semelhantes existem também para empresas de construção, de agricultura, etc, etc... Por curiosidade, este processo tem a designação de mecanismo de hedging. Aprofundemos então a forma de utilizar esse mecanismo.
2 - As variáveis que compõem os preços de gasóleo e gasolina
Além das variáveis fixas que já foram analisadas no primeiro artigo (nomeadamente impostos, e custos de transporte e armazenamento), há duas variáveis de peso que requerem a nossa atenção. A matéria-prima e a moeda. Ou seja, o petróleo e o par euro/dólar. A flutuação de qualquer uma destas duas variáveis influi no preço em bomba. Devido à maior correlação com o preço em bomba, o ideal será deixar o crude/brent à parte e saltar para a protecção com a matéria-prima transformada: a gasolina e o diesel. Ambos são (à semelhança do que se passa com o petróleo) transaccionados no mercado de futuros, e a sua correlação com o preço em bomba é superior à da matéria-prima de base. Permite também que cada consumidor faça uma adaptação o mais próxima possível à sua realidade individual, personalizando-se assim o mecanismo de hedging para donos de automóveis a gasolina e a gasóleo. Por ser mais fácil encontrar para negociação o heating oil (gasóleo de aquecimento) do que o diesel, e dada a correlação de 95% entre ambos, utilizá-lo-emos em substituição do diesel nos exemplos. Quem tiver acesso à negociação de diesel deve utilizá-lo directamente.
3 - Como pode então o comum cidadão recorrer a este processo?
Em primeiro lugar, temos de conhecer as nossas necessidades. No meu caso pessoal, a combinação das viaturas do agregado familiar fazem um total de cerca de 180 quilómetros diários. A um consumo médio de 6,5 litros aos 100, o meu consumo de combustível ronda os 4270 litros por ano.
Em segundo lugar, temos de converter os litros para galões (unidade de negociação destes instrumentos financeiros). Correspondendo cada galão a 3,78 litros, teremos de comprar 1128 galões (basta multiplicar o número de litros por 0,2642) de combustível.
O terceiro passo implica ir ao mercado adquirir este número de galões através do CFD sobre o futuro da matéria-prima. O tamanho do contrato pode depender do nosso intermediário financeiro. Na Activtrades, cada contrato completo de gasóleo corresponde a 21 mil galões. Assim, teremos de comprar 0,05 contratos para obter os 1128 galões acima indicados (1128/21000). Para fazer o mesmo em relação à gasolina, basta fazer a adaptação dos valores (ver documento Excel abaixo).
Estes três passos representam os fundamentais do processo. Seguindo-os, conseguimos desde logo obter uma cobertura superior a 80% da flutuação.
O quarto passo é opcional, já que implica neutralizar as flutuações do dólar. Para valores acima de 1000 euros de investimento a protecção deve no entanto ser feita, já que aumenta a precisão do processo. Para valores abaixo dessa marca, não é possível fazer tal cobertura. Para o nosso exemplo, temos 1059 dólares de exposição a esta moeda. O valor de exposição representa a multiplicação do número de galões (1128) pela cotação actual do activo ($0,94). Se temos um activo que valoriza com a valorização do dólar, para efeitos de cobertura necessitamos de outro que desvalorize em igual proporção (e vice-versa). Teremos então de ir ao mercado de Forex abrir uma posição em EUR/USD, comprando o equivalente em Euros a esse valor de dólares. Correspondendo 1 euro a 1,09 dólares à data de hoje, necessitamos de comprar 970€. Como cada lote de EUR/USD corresponde a 100.000€, necessitamos então de comprar 0,01 lotes de EUR/USD para fazer uma cobertura aproximada ao valor total da nossa exposição
Com o passo anterior terminamos o processo de hedging. Falta ainda, no entanto, proceder à manutenção da posição. Esta posição tem de ir sendo ajustada a cada 2-3 meses, não só porque o contrato de gasóleo e gasolina vai fechando automaticamente mas sobretudo porque a regularidade do ajuste é directamente proporcional à flutuação de preço em bomba. De cada vez que se faz o reajuste, o número de litros até ao final do ano (ou até ao final do período que se pretenda cobrir) deverá ser recalculado para reajustar o processo à realidade. Se, por exemplo, nos primeiros 2 meses o preço em bomba subir 10%, a parte da posição que já não iremos reabrir já nos terá permitido ganhar esses 10% que pagamos a mais em bomba.
Para auxiliar os cálculos, desenvolvi um ficheiro de Excel que poderá ser transferido através do link abaixo.
Transferir ficheiro Excel (http://www.teoconsulting.pt/wp-content/uploads/2016/01/Hedging-Combust%C3%ADveis.xlsx)
Para finalizar, alguns pressupostos
- É importante ter a noção de que este mecanismo não é perfeito nem milimétrico. É, sim, um seguro por grosso que permite reduzir a esmagadora maioria da força da flutuação;
- Existe um valor mínimo em termos de necessidade de combustível para que este processo funcione. Este valor ronda os 800 litros de gasóleo e os 1400 de gasolina. Pode, no entanto, aumentar o número de dias de cobertura para compensar um consumo mais baixo;
- A oscilação do valor de IVA não é reflectida. Complicaria ainda mais os cálculos e a explicação, e o seu não englobamento acaba por ser um mal menor. Recordo que o grosso do imposto é relativo a ISP, e esse é um valor fixo;
- Cada gasolineira tem uma margem de lucro mais ou menos fixa (que pode representar uma flutuação de até 30 cêntimos por litro). Para que isto resulte, é importante que se abasteça sempre no mesmo local ou em locais com um preço mais baixo do que o local habitual.
Selecção do ponto de entrada
Depois da análise à composição do preço dos combustíveis em Portugal, e da explicação ao mecanismo de hedging à subida dos preços em bomba, termino com a análise aos preços do petróleo, gasolina e heating oil em busca de um ponto ideal para abrir a posição.
Crude
Começando pelo petróleo, o momento decisivo para o actual movimento de baixa foi a quebra em baixa dos 40 dólares. A partir desse ponto, não mais este activo conseguiu esboçar uma reacção. Não existem para já, no gráfico diário, quaisquer indícios que possam deixar adivinhar uma recuperação. A forte sobrevenda poderá de alguma forma puxar por um ressalto, mas isso está longe de ser suficiente para uma indicação de entrada. Referências de entrada longa no gráfico diário apenas nos 38,2 dólares, mas uma entrada acima dessa zona é já demasiado tardia para um mecanismo de hedging.
A linearidade descendente do gráfico diário contrasta, contudo, com o panorama no gráfico horário. Aqui, os 31,3 dólares são a referência de negociação para o curto prazo.
Gasolina
Como os cenários macro na gasolina e heating oil são semelhantes ao do petróleo, foquemo-nos no curto prazo com a leitura do gráfico horário. A partir de finais de Dezembro, a gasolina quebrou uma lateralização em baixa e acentuou um movimento descendente que ainda se mantém. Este padrão é bastante perceptível, por assentar numa sequência de lower-highs. Se no início do dia de hoje havia indícios que apontavam para uma eventual recuperação baseada num padrão de inversão, a activação do mesmo tem vindo a tardar e pode mesmo já não acontecer. Fica, ainda assim, a marca dos 1,08 dólares como grande referência de negociação. A sua quebra em alta significará com alguma probabilidade um ressalto que se poderá estender ao gráfico diário.
Heating Oil
No heating oil existem alguns dados de relevo adicionais que deverão ser salientados. Além de um padrão de inversão no gráfico horário, situado neste caso nos $0,95, existe um padrão no gráfico de 4 horas cuja activação ocorre na quebra em alta dos $0,987. Dada a superior relevância técnica deste segundo ponto, e considerando a pequena distância percentual entre ambas as referências, pessoalmente considerarei esta segunda como trigger para o meu negócio.
É, contudo, a pressão vendedora que se continua a fazer sentir neste activo. Enquanto escrevo, o suporte que demarca um rectângulo de continuação dá sinais de querer ceder. Se assim for, o movimento descendente poderá prevalecer durante mais algum tempo.
Notas finais
Apesar desta análise ao preço, recordo que o objectivo desta série de artigos não passa por ganhar dinheiro directamente com estes activos. O objectivo fundamental é bloquear as oscilações de preço do combustível em bomba. Obviamente que o ideal é fazer a neutralização o mais próximo possível de mínimos, mas fiquem desde já cientes que só por sorte se consegue encontrar mínimos. Ao contrário do que acontece com a aquisição de acções, por exemplo, neste caso pode compensar entrar um pouco mais cedo ao invés de esperar por um ponto de entrada mais robusto. O pior que pode acontecer é fixar-se o preço em bomba demasiado cedo, o que a partir de determinado ponto como já vimos poderá até compensar. Fica então assim fechada a série "combustíveis".
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