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Caldeirão da Bolsa

Apagar mais de metade da dívida com ajuda do BCE

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

Re: Apagar mais de metade da dívida com ajuda do BCE

por djovarius » 24/2/2014 17:22

Viva,

Muito boas questões.

Começando pelos chamados critérios de Maastricht: eram irrealistas, apesar de tudo, senão nem a Bélgica nem a Itália teriam entrado no EUR.
Aliás, devíamos ter tido um início de EUR menos abrangente e uma espécie de euro dos pobres para quem ainda estava em período de ajustamento estrutural, como o caso de vários dos países subscritores. Mas como dizia Jacques Delors, não podíamos cair numa Europa a 2 velocidades... erro tremendo de leitura económica, pois de tanto forçar, ainda acabamos por cair na Europa a mais velocidades !!
Além do mais, a Comissão adotava o chamado procedimento de défice excessivo, que se julgava suficiente para colmatar os erros. Ninguém previa a crise de 2001/2 e muito menos 2007/8 e as consequências posteriores.
É por isso que este programa confere sentido a quem exige rigor escrito na Lei e/ou mesmo na Constituição. Em boas condições, pode-se exigir. E todos os participantes teriam, sem exceção, de o fazer, para não cairmos novamente em incumprimento. Aliás, seria muito fácil nas atuais condições elaborar uma Lei qualquer de rigor orçamental para logo a seguir não cumpri-la devido ao excesso de capital e juros. Em suma, nas atuais condições, seria perder tempo a discutir e aprovar algo que não é exequível, seria pior do que as premissas do tempo de Maastricht, pois na época quase nenhum Estado tinha as contas públicas feitas num caco, como hoje.

Quanto à questão do pequeno aforrador. Passaria uma mensagem de responsabilidade. Não haveria um perigo tão grande de colapso do sistema, até porque os Estados teriam uma maior capacidade para criarem almofadas de emergência.
Por outro lado, a tal dívida velha (metade do total, recordo) também está nas mãos da Banca, em demasia até. Isso permitiria aos Bancos mudarem o foco da sua liquidez, não mais para a segurança da dívida pública, mas para aquilo que deve ser a sua função, crédito com responsabilidade, pois é disso que se trata neste projeto. Creio que com a diminuição do risco sistémico, os aforradores deixariam de se preocupar com os tais 100 mil euros por contribuinte.
Claro que isso tem custos: os depósitos a prazo teriam tendência a ter juros mais baixos. Mas, se pensarmos bem, na Banca dos países de risco zero, isso já é assim. Juros a 1% ao ano já são elevados. Mas também, com inflação a zero, que mais se poderia esperar ?
Creio que depois seria o mercado a trabalhar. Com um menor peso de dívida e também do Estado via carga fiscal, as Economias poderiam crescer de uma forma mais saudável, com mais investimento e emprego. Aos poucos, haveria mais procura por crédito, o qual custaria mais caro. Acabava o risco de deflação. Os próprios depósitos a prazo acabariam por ser mais bem remunerados. Voltaríamos a ter ciclos económicos mais normais.

Tudo isto, claro, só pode funcionar se a premissa de rigor acompanhar a operação de recompra de títulos. Depois do que vimos nos últimos 20 anos, nada que seja feitos às metades pode funcionar direito. Ou se faz bem ou nem vale a pena começar...

Abraço

dj
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Re: Apagar mais de metade da dívida com ajuda do BCE

por ghorez » 24/2/2014 16:31

djovarius Escreveu:Escusado será dizer que o que é pedido em troca é justo: com um "apoio" desta natureza, pode-se pedir aos Estados membros que cumpram rigorosamente as regras do défice. Há que criar uma cultura de responsabilidade para garantir que a "loucura" não volta.


Essa cultura de responsabilidade foi criada e subscrita por todos em 1999 através do PEC. Já passaram 15 anos, quantas vezes cumpriu Portugal? Que será diferente a partir de agora?

E outra coisa, ao inundares a zona euro com dinheiro, que mensagem passas ao pequeno aforrador averso ao risco e que tem as suas parcas poupanças em depósitos a prazo?
(mais uma vez é o mexilhão que paga... ainda por cima é a parte do mexilhão responsável e poupada) ...
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Re: Apagar mais de metade da dívida com ajuda do BCE

por djovarius » 24/2/2014 15:20

Boas,

Já passaram uns belos dias desde que surgiu este tópico, ao qual preferi não responder a quente.
Mas agora vos digo: nunca fui a favor deste tipo de situação, a qual configura(va) uma clara monetização da dívida, nem sequer era uma operação de limpeza de um défice limitado ao um período temporal.

Mas, hoje, confesso, depois de ler mais sobre o assunto, que não desgosto da ideia e da operação proposta. Depois do experimentalismo Japonês e também, nos tempos atuais, norte-americano, confesso que não mete mais medo a ninguém esse tipo de operação.
É verdade que se trata de novos Euros (no caso, 5 biliões da "nossa métrica, ou 5 trilhões no Br ou EUA), mas seriam esterilizados, pela emissão dos títulos perpétuos a cupão zero. É verdade que as novas "notas" (pode ser só um input informático) seriam dinheiro real para adquirir títulos antigos no mercado secundário. Só que, tal como nos casos Americano e Japonês, o dinheiro iria para as mãos dos atuais investidores, os quais acabariam por usar esses recursos em títulos de dívida soberana, ou outros. No caso, isso acabaria por causar uma queda das yields não só na zona Euro, mas, por arrasto, noutras regiões. Para não falar que muitos desses recursos, seriam usados para outro tipo de Obrigações e até para outros ativos. O Euro, acabaria por cair, mas não tanto como se pensa, o que seria uma vantagem para a Economia da zona Euro.
Como metade de toda a dívida passaria a pagar juros zero, isso seria na prática um perdão encapotado, mesmo sabendo-se que do ponto de vista escritural a dívida continuaria a existir. E daí ? Qual é o problema ? O problema só existiria se não houvesse algum tipo de esterilização dos novos recursos.
Ao contrário dos programas QE e do Japão e do atual OMT Europeu, não se ataca só o problema das "yields". Aqui, a diferença seria grande. Atacar-se-ia diretamente o volume da dívida, sendo essa transformação de metade da mesma em papéis sem juros a maior inovação.

Imagine-se um país como a Alemanha, ou mesmo a Austria ou Finlândia ou Holanda, entre mais uns poucos: ficariam com um ratio dívida/PIB igual ao atual, mas com um ratio dívida com custos /PIB a metade do atual. E é isso que causaria impacto positivo nos orçamentos anuais do futuro. No caso Alemão, passaria de 82 para 41% - isso seria excelente, quer em termos absolutos, quer no serviço anual da dívida, o qual passaria para valores inferiores a 1% do PIB, permitindo défice zero e até, em caso de superavit, um almofada financeira para futuras crises na Europa. Afinal, é mais fácil pedir solidariedade europeia aos "ricos" quando eles estão realmente afortunados.
Imagine-se agora a malta dos PIIGS. O acrónimo ainda faz sentido, com ou sem Troika.
No caso lusitano, temos um ratio dívida/PIB de 130% (maior será com as novas regras da UE). Passaríamos a um ratio dívida custosa/PIB pouco superior a 65%. Pergunta de fácil resposta: é ou não mais exequível assim um recuo para níveis de sustentabilidade ?? Claro que sim.
No orçamento anual, poderíamos até chegar a um défice real de apenas 2% graças às alterações no serviço da dívida. Não seria necessária mais austeridade e poderíamos aos poucos estabilizar as contas e até diminuir os impostos, como o IRC e o IRS. E assim voltar a crescer.

Escusado será dizer que o que é pedido em troca é justo: com um "apoio" desta natureza, pode-se pedir aos Estados membros que cumpram rigorosamente as regras do défice. Há que criar uma cultura de responsabilidade para garantir que a "loucura" não volta.

Enfim, depois do que vimos nas últimas décadas, creio que esta não é uma ideia nada descabida, ainda que se possa enquadrar num "experimentalismo". Mas é seguramente assim diferente dos programas atuais como o OMT.

Abraço

dj
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Re: Apagar mais de metade da dívida com ajuda do BCE

por MVP » 23/2/2014 3:13

Brunomanco Escreveu:E quem deter dívida perpétua de cupão 0 pode dá-la como garantia para pedir crédito?


Penso que não, primeiro porque seria o BCE a ficar com esta divida, e segundo porque ela não tem qualquer valor, isto porque se é perpetua não tem uma data de maturidade para reembolso do valor, e se não tem cupões não existe um retorno anual por a deter. É perdão de divida com um nome mais giro.
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Re: Apagar mais de metade da dívida com ajuda do BCE

por Sr_SNiper » 23/2/2014 1:35

São coisas diferentes, essas obrigações de cupão zero que falas, são emitidas por exemplo a 90%, na maturidade ganhas a diferença para os 100%, porque reembolso é ao par.
Outra coisa são obrigações emitidas a 100% com cupão zero que é a mesma coisa que nada.
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Re: Apagar mais de metade da dívida com ajuda do BCE

por Beruno » 23/2/2014 1:24

E quem deter dívida perpétua de cupão 0 pode dá-la como garantia para pedir crédito?
 
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Re: Apagar mais de metade da dívida com ajuda do BCE

por MVP » 23/2/2014 0:49

Obrigações de cupão zero e obrigações perpetuas com juro 0% são coisas diferentes. Obrigações de cupão zero são aquelas em que eu compro por um determinado valor e na data de maturidade recebo o valor dos juros incorporados, ou seja, simplesmente não há pagamento de juros anuais mas eles estão incorporados no valor que recebemos na maturidade. Perpetuas com juro 0% a meu ver é perdão de divida autentico.
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Re: Apagar mais de metade da dívida com ajuda do BCE

por Joca601 » 22/2/2014 23:31

Brunomanco Escreveu:Tenho visto nas bolsas alemãs algumas obrigaçoes de empresas de 0% coupon. e algumas sao emissoes a 30 anos. de facto nisso nao vejo mais nada do que proteçao do dinheiro ou trading perseguindo uma potencial valorizaçao do titulo


Obrigações de cupão 0%, de que empresas estás a falar? só pode ser de empresas impossiveis de falir. de qualquer forma se isso acontece é porque não há bancos que possam guardar o dinheiro dos investidores em total segurança ou seja, sem risco. estou curioso para saber que empresas conseguem emitir obrigações com cupão zero.
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Re: Apagar mais de metade da dívida com ajuda do BCE

por Beruno » 22/2/2014 20:59

Tenho visto nas bolsas alemãs algumas obrigaçoes de empresas de 0% coupon. e algumas sao emissoes a 30 anos. de facto nisso nao vejo mais nada do que proteçao do dinheiro ou trading perseguindo uma potencial valorizaçao do titulo
 
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Re: Apagar mais de metade da dívida com ajuda do BCE

por Joca601 » 22/2/2014 18:07

A Bancarrota de 1892

No que concerne às finanças públicas, pode dizer-se que Portugal se encontrava
num nível insustentável de endividamento, tendo mesmo em 1891 abandonado o
sistema de padrão-ouro e declarado uma moratória em relação à dívida externa. Um ano
mais tarde, em 1892, seria declarada a Bancarrota (ainda que parcial) do Estado
português3.

Evolução da dívida pública (1892-93 a 1912-13)

1892-1893 dívida em percentagem do PIB 72,67% do PIB
1899-1900 dívida em percentagem do PIB 65,26% do PIB
1906-1907 dívida em percentagem do PIB 57,30% do PIB
1912-1913 dívida em percentagem do PIB 54,34€ do PIB

informação retirada daqui:
http://www.iseg.utl.pt/aphes30/docs/pro ... ARTINS.pdf

o estado Português declarou bancarrota parcial em 1892 quando tinha uma divida equivalente a 72,67% do PIB devido à dificuldade de arcar com os compromissos de pagamento dos juros e amortizações.

actualmente temos uma divida equivalente a quase 130% do PIB, os tempos são outros e a divida é quase o dobro.
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Re: Apagar mais de metade da dívida com ajuda do BCE

por Dr Tretas » 16/2/2014 13:28

Também há a questão de a inflação ser muito baixa. O que interessa para o cálculo da dívida em percentagem do PIB é o crescimento nominal do PIB, ou seja, crescimento real (o que normalmente é anunciado na imprensa) + taxa de inflação.

Sem inflação nem crescimento, um país está tramado para conseguir reduzir o peso da dívida face ao PIB. Só mesmo com excedentes primários + redução dos juros para perto de zero. Ora, a primeira parcela depende da aplicação de austeridade, mas a segunda já depende da boa vontade (eu diria caridade) dos credores. Difícil...

Em resumo, para nos livrarmos da dívida precisamos de:

-inflação
-crecimento real do PIB
-excedente primário
-redução dos juros do serviço da dívida
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Re: Apagar mais de metade da dívida com ajuda do BCE

por Joca601 » 16/2/2014 11:05

Dr Tretas Escreveu:Para o comum dos mortais, esses papéis não têm valor apenas porque não têm curso legal enquanto moeda, ao contrário das notas de 20. Para um estado tem valor equivalente a dinheiro.

Consideremos 2 países, ambos com uma dívida de 100% do PIB.
O país A recebe um donativo de "dinheiro vivo" do BCE no valor de 40% do PIB, com o qual paga parte da dívida, ficando com 60% do PIB de dívida restante.
O país B tem direito a emitir 40% da dívida em perpétuas de cupão zero, que é comprada pelo BCE. Com a massa, compra 40% da dívida. Fica com 60% do PIB de dívida remunerada, e 40% de dívida perpétua ao BCE não remunerada.

Como as perpétuas nunca têm que ser reembolsadas nem pagam juros, nas contas nacionais equivalem a uma oferta de dinheiro. A situação dos países A e B são na prática equivalentes.

E já agora, temos o país C, também com 100% do PIB em dívida. Durante a crise, o BCE já comprou no mercado 40% da dívida de C. Na sua imensa generosidade, o BCE aceita trocar esses títulos por perpétuas de cupão zero. Mais uma vez, o mesmo resultado...

Enfim, tudo isto é uma palhaçada, este sistema está mesmo moribundo :|

P.S. O SLB foi pioneiro na emissão de obrigações perpétuas de cupão zero. Chamou-se "Operação Coração" :mrgreen:


O sistema não está moribundo, não é por acaso que estamos a sofrer com a austeridade. se a situação da divida perpétua sem juros fosse fácil de aplicar, ela já teria acontecido.
Os alemães seriam prejudicados comparativamente com os demais países do euro. inclusive, houve ou ainda há situações em que os alemães emitem divida com taxa de juro negativa. é caricato mas a alemanha ainda ganha ou ganhou com a sua própria dívida devido à segurança que proporciona ao investidor.

o problema do pagamento da divida nacional vai voltar a estar na ordem do dia, mais mês, menos mês, é uma certeza inequívoca e dificil de esconder ou fugir.
Outra certeza, para sairmos ou para pelo menos equilibramos este grave problema, o saldo orçamental tem de tender para zero.

Sei que os dados de crescimento do ultimo trimestre bateram as estimativas, mas não devemos esquecer que os funcionários publicos receberam o subsidio de férias em novembro, situação que obviamente alanvancou o crescimento.

Está tudo ansioso com o fim do programa da troika e eu não percebo o porquê. a segurança de um programa como o da troika é bem melhor do que não ter nada. parece-me que nem cautelar vamos ter.

serve para alertar para o eventual aparecimento de nuvens negras no horizonte.
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Re: Apagar mais de metade da dívida com ajuda do BCE

por Dr Tretas » 16/2/2014 3:36

Para o comum dos mortais, esses papéis não têm valor apenas porque não têm curso legal enquanto moeda, ao contrário das notas de 20. Para um estado tem valor equivalente a dinheiro.

Consideremos 2 países, ambos com uma dívida de 100% do PIB.
O país A recebe um donativo de "dinheiro vivo" do BCE no valor de 40% do PIB, com o qual paga parte da dívida, ficando com 60% do PIB de dívida restante.
O país B tem direito a emitir 40% da dívida em perpétuas de cupão zero, que é comprada pelo BCE. Com a massa, compra 40% da dívida. Fica com 60% do PIB de dívida remunerada, e 40% de dívida perpétua ao BCE não remunerada.

Como as perpétuas nunca têm que ser reembolsadas nem pagam juros, nas contas nacionais equivalem a uma oferta de dinheiro. A situação dos países A e B são na prática equivalentes.

E já agora, temos o país C, também com 100% do PIB em dívida. Durante a crise, o BCE já comprou no mercado 40% da dívida de C. Na sua imensa generosidade, o BCE aceita trocar esses títulos por perpétuas de cupão zero. Mais uma vez, o mesmo resultado...

Enfim, tudo isto é uma palhaçada, este sistema está mesmo moribundo :|

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Re: Apagar mais de metade da dívida com ajuda do BCE

por Sr_SNiper » 16/2/2014 0:09

Fica a pagar zero juros para sempre, lol parece-me que zero para sempre não é muito
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Re: Apagar mais de metade da dívida com ajuda do BCE

por Dialmedia » 15/2/2014 23:41

Se a ideia for como se pinta, o que iria acontecer era:

1) Portugal em substância continuava com a mesma dívida, a questão é que essa dívida não era reembolsada -> Portugal ficava a pagar juros "para sempre"
2) Em termos de tesouraria ai sim teria um forte impacto, pois o país reduziria drasticamente as emissões de dívida num ano, tornando mais fácil ir ao mercado e a juros mais baixos. Uma ou duas emissões de longo-prazo cobririam todas as necessidades de cash para um ano inteiro!
3) Mas o ponto acima só demonstra que Portugal continuaria com o seu problema crónico: Enquanto se gastar mais dinheiro que aquele que entra nos cofres do Estado, mais cedo ou mais tarde voltaria-se a ter que falar numa reestruturação de dívida. Isto seria apenas um empurrar para a frente com a barriga um problema com décadas.

Contudo, dado que Portugal actualmente tem saldo primário positivo (entra mais dinheiro do que aquele que se gasta ANTES de se pagar juros da dívida), esta medida poderia resolver ou atenuar significativamente o défice crónico se a essa dívida perpétua fosse associada uma taxa de juro muito reduzida (Ex: a actual taxa de referência do BCE, 0,25%). Esta taxa de juro poderia ser ajustada para cima/baixo consoante o crescimento do país e evolução dos preços da Zona Euro. O BCE ao controlar o custo da dívida dos países da Zona Euro ganhava indirectamente mais um mecanismo de controlo à inflação (embora o considere pouco eficiente no médio-prazo). Não estou, contudo, a vislumbrar unanimidade na adopção de tal política no seio dos países membros, mas acredito que mais cedo ou mais ainda para mais com a Grécia a não conseguir sair do buraco, que se venha a implementar algo semelhante daqui a uns tempos.

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Re: Apagar mais de metade da dívida com ajuda do BCE

por Sr_SNiper » 15/2/2014 22:57

Joca601 Escreveu:
Sr_SNiper Escreveu:Perpétua, nunca é reembolsada, basicamente é dar o guito por uma folha A4 branca que vale menos do que uma folha de jornal



Os autores recusam considerar esta reestruturação um perdão de dívida.

o académico diz que não é perdão de divida. se não é reembolsavel e não paga juros, só pode ser perdão de dívida, parece-me que o académico teve uma ideia sem miolo.

No perdão não recebes nada, aqui recebes umas folhas A4 em papel, teoricamente ele tem razão
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Re: Apagar mais de metade da dívida com ajuda do BCE

por Joca601 » 15/2/2014 22:43

Sr_SNiper Escreveu:Perpétua, nunca é reembolsada, basicamente é dar o guito por uma folha A4 branca que vale menos do que uma folha de jornal



Os autores recusam considerar esta reestruturação um perdão de dívida.

o académico diz que não é perdão de divida. se não é reembolsavel e não paga juros, só pode ser perdão de dívida, parece-me que o académico teve uma ideia sem miolo.
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Re: Apagar mais de metade da dívida com ajuda do BCE

por Sr_SNiper » 15/2/2014 22:35

Perpétua, nunca é reembolsada, basicamente é dar o guito por uma folha A4 branca que vale menos do que uma folha de jornal
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Re: Apagar mais de metade da dívida com ajuda do BCE

por Joca601 » 15/2/2014 22:16

Sr_SNiper Escreveu:
Dr Tretas Escreveu:Apenas uma forma encapotada de emitir dinheiro...

Afinal, se numa mão tiver uma "nota de 20 euros", e na outra um "título de dívida perpétua sem juros ao portador com valor nominal de 20 euros emitida pelo BCE", qual é a diferença? Para mim é a mesma coisa...

Ter dívida perpétua sem juros, é igual a nada, é teres 20 euros numa mão e zero euros na outra, porque essa emissão de dívida vale zero, e a liquidez será portanto zero, nem percebo como se pode falar do assunto...



Sniper, em algum momento no tempo essa divida tem de ser reembolsada. ou achas que vão colocar os titulos numa gaveta e deitar a chave fora?

também considero que é uma forma encapotada de emitir dinheiro, mas desconfio que os alemães não estão para aí virados... basta ver a reacção do TC Alemão ao mandar para o tribunal de justiça europeu o anuncio de compra de titulos de divida publica em mercado secundário pelo BCE. Os europeus do norte são contra a emissão de dinheiro, fazem exactamente o contrário dos americanos.
Editado pela última vez por Joca601 em 15/2/2014 22:37, num total de 1 vez.
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Re: Apagar mais de metade da dívida com ajuda do BCE

por Sr_SNiper » 15/2/2014 20:43

Dr Tretas Escreveu:Apenas uma forma encapotada de emitir dinheiro...

Afinal, se numa mão tiver uma "nota de 20 euros", e na outra um "título de dívida perpétua sem juros ao portador com valor nominal de 20 euros emitida pelo BCE", qual é a diferença? Para mim é a mesma coisa...

Ter dívida perpétua sem juros, é igual a nada, é teres 20 euros numa mão e zero euros na outra, porque essa emissão de dívida vale zero, e a liquidez será portanto zero, nem percebo como se pode falar do assunto...
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Re: Apagar mais de metade da dívida com ajuda do BCE

por Dr Tretas » 15/2/2014 20:36

Apenas uma forma encapotada de emitir dinheiro...

Afinal, se numa mão tiver uma "nota de 20 euros", e na outra um "título de dívida perpétua sem juros ao portador com valor nominal de 20 euros emitida pelo BCE", qual é a diferença? Para mim é a mesma coisa...
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Re: Apagar mais de metade da dívida com ajuda do BCE

por Sr_SNiper » 15/2/2014 20:02

Joca601 Escreveu: transformando-a de seguida em dívida perpétua sem juros.



Que brilhante ideia, epá... só mesmo um grande académico para se lembrar disto... Realmente estava arrumada a questão, aliás, até me pergunto porque é que o estados não fazem emissões de dívidas perpétuas sem juros em vez de cada vez que vão aos mercados, e pagarem cupões...
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Re: Apagar mais de metade da dívida com ajuda do BCE

por Opcard33 » 15/2/2014 13:04

Joca601 Escreveu:À medida que se aproxima o fim do programa da troika, mais convencido fico da reestruturação inevitável da dívida portuguesa.

sei que estamos em bull market e estas considerações não dão lá muito jeito. mas não vou escrever nada de novo e acho que todos aqui estão mais ou menos informados.

a divida portuguesa cresce todos os dias e todos os dias se torna mais dificil o seu pagamento. estamos cada vez mais numa espiral impossivel de inverter. contraímos divida para pagar divida antiga + juros + deficit. ou seja a cada dia que passa estamos pior. para inverter esta situação somente para o equilibrio, precisamos de taxas inferiores a 2%, com deficit a tender para zero e crescimento 2% ao ano.


Permita-me novamente discordar , acima de tudo separe o bull market das dívidas dos países é bem possível que nossa divida ainda possa subir uns pontos e o PS 20 continuará o seu caminho , o importante nisto é é o poder tomar medidas para inverter a situação os resultados mais cedo ou mais tarde vão aparecer , há muito que o mercado o sabe .

A maioria dos países sempre pode pagar as suas dívidas por maiores que sejam a história tem muitos exemplos .

Não esteja preocupada a nossa divida começará a descer brevemente , sabe é como a febre antes de descer sobe .
 
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Re: Apagar mais de metade da dívida com ajuda do BCE

por Joca601 » 15/2/2014 12:41

À medida que se aproxima o fim do programa da troika, mais convencido fico da reestruturação inevitável da dívida portuguesa.

sei que estamos em bull market e estas considerações não dão lá muito jeito. mas não vou escrever nada de novo e acho que todos aqui estão mais ou menos informados.

a divida portuguesa cresce todos os dias e todos os dias se torna mais dificil o seu pagamento. estamos cada vez mais numa espiral impossivel de inverter. contraímos divida para pagar divida antiga + juros + deficit. ou seja a cada dia que passa estamos pior. para inverter esta situação somente para o equilibrio, precisamos de taxas inferiores a 2%, com deficit a tender para zero e crescimento 2% ao ano.
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Re: Apagar mais de metade da dívida com ajuda do BCE

por Opcard33 » 15/2/2014 12:27

Joca601 Escreveu:A nova renegociação dos prazos dos empréstimos europeus à Grécia trouxe de volta o tema das reestruturações de dívida pública na zona euro.

é um tema que vai voltar à ribalta mais tarde ou mais cedo, as reestruturações vão ter que acontecer em grande parte dos países europeus, situação que beneficiaria de imediato o nosso país. talvez seja a unica saída visivel.

se os países do norte forem também beneficiados com corte da dívida, o plano tem pernas para andar. de resto é mais ou menos o ques USA fazem. na minha opinião, o perigo desta operação é o aparecimento de inflação galopante e depreciação do euro.



Não haverá inflação , pois os alemães obrigarão o BCE a uma esterilização dessa divida , nem o euro desvaloriza enquanto for a zona mundo com mairos excedentes comerciais , o euro só irá desvalorizar no dia em que a Alemanha o abandonar .

A proposta não tem nada de novo , há muito que é tema de conversa nos corredores do poder em Bruxelas a percentagem e que vai variando , am acontecer só depende dos povos "beneficiados" ganharem consciência política .
 
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