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Caldeirão da Bolsa

Para onde vamos?

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

Re: Para onde vamos?

por atomez » 29/1/2014 10:51

joao4702 Escreveu:Atomez,

Uma dúvida relativamente ao teu post.

Podes desenvolver um pouco a frase: "Já no lado protestante existe a "ética do trabalho" como forma de salvação que tem de ser conseguida neste mundo."

É que não percebi nada...

Quanto ao teu posto acho que tocas nos pontos fulcrais.

Existe uma "ética protestante do trabalho" que foi bem identificada por Max Weber, um dos fundadores da sociologia moderna, no livro de 1904 A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo (o livro está no link para quem quiser ler)

Muito por alto, até porque já nem me lembro dos detalhes, no protestantismo existe o conceito de "predestinação" ou "vocação" segundo o qual quando cada um de nós nasce tem uma missão atribuída por Deus e tem que trabalhar para a cumprir. A salvação depois da morte depende do grau de cumprimento dela. Cada um tem que cumprir o seu dever e esforçar-se e trabalhar para a conseguir.

O conceito de vocação foi, pois, introduzido no dogma central de todas as denominações protestantes e descartado pela divisão católica de preceitos éticos em praecepta et consilia. O único modo de vida aceitável por Deus não era o superar a moralidade mundana pelo ascetismo monástico, mas unicamente o cumprimento das obrigações impostas ao indivíduo pela sua posição no mundo. Esta era sua vocação.

Já o catolicismo é muito mais passivo, é preciso é cumprir as normas, ser obediente e bem comportado, aguentar as coisas más e desgraças sem lamentos e no fim ter-se-á a recompensa no outro mundo. Esta vida é um "vale de lágrimas", temos é que aguentar e depois logo se vê.

É um facto que os países protestantes tiveram e têm um desenvolvimento económico e social maior que os católicos. Há outros fatores com certeza a influenciar, como geografia, recursos naturais, clima, etc. mas basta comparar o grau de desenvolvimento de países que foram ex-colónias de Inglaterra, Holanda o Alemanha com ex-colónias de países latinos, Portugal e Espanha, para se ver a diferença. Isto mesmo em locais com as mesmas características, recursos, clima e durante o mesmo período de tempo. Basta ir por exº à fronteira entre o México e a California ou o Texas e olhar para um lado e para o outro e ver a diferença.

Outro exemplo: na atual crise do Euro todo os países protestantes estão em boa situação, todos os que são católicos estão em má situação. Até a Irlanda. Isto não é mera coincidência.
As pessoas são tão ingénuas e tão agarradas aos seus interesses imediatos que um vigarista hábil consegue sempre que um grande número delas se deixe enganar.
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Re: Para onde vamos?

por joao4702 » 28/1/2014 20:58

Atomez Escreveu:
Comentador Escreveu:Já agora, Atomez, como é possível que quase 10 séculos de história não tenham servido para nada no que respeita a criar uma cultura de trabalho, desenvolvimento e crescimento económico?

Bem, não sou sociólogo nem historiador, nem pretendo ser. Mas posso mandar uma bocas 8-)

Certamente não há uma razão única, posso avançar algumas.

-- A recolha de riqueza vinda de outras paragens e sua distribuição sempre foram realizadas por um poder central muito forte e cioso das suas prerrogativas. Quer a monarquia quer a república foram iguais. Isso criou uma camada privilegiada que vivia e vive à conta do poder central, defendendo com unhas e dentes qualquer mudança ou perda de "direitos adquiridos"

-- A religião católica. A mentalidade geral é de aguentar este "vale de lágrimas" porque a recompensa virá no outro mundo. Neste não vale a pena esforçarmo-nos por o mudar. Já no lado protestante existe a "ética do trabalho" como forma de salvação que tem de ser conseguida neste mundo

-- Os empreendedores e insatisfeitos foram para outras paragens, por cá ficaram os temerosos e submissos

-- Uma élite política, intelectual e empresarial receosa, pouco empreendedora, avessa à mudança, muito fechada que se defende entre si (com algumas raras exeções). Quase tipo uma mafia...

Acho que podia resumir tudo em 2 palavras -- liderança incompetente.


Atomez,

Uma dúvida relativamente ao teu post.

Podes desenvolver um pouco a frase: "Já no lado protestante existe a "ética do trabalho" como forma de salvação que tem de ser conseguida neste mundo."

É que não percebi nada...

Quanto ao teu posto acho que tocas nos pontos fulcrais.
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Re: Para onde vamos?

por joao4702 » 28/1/2014 20:52

Para onde vamos?
A resposta é simples, vamos até onde a nossa força nos fizer chegar.
Portugal somos nós.
Muitos perdem tempo com criticas e análises ao trabalho dos outros. Enquanto isso outros trabalham e se esforçam em andar pra frente.
Há coisas que estão mal, concerteza.
Portugal é submisso, subjugado e fala mal de si próprio.
Se Portugal não acreditar quem acreditará?
Eu diria que são fatores culturais, religiosos e morais, porque os modelos de gestão tendem a convergir em todo o lado.
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Re: Para onde vamos?

por atomez » 28/1/2014 20:18

Comentador Escreveu:Já agora, Atomez, como é possível que quase 10 séculos de história não tenham servido para nada no que respeita a criar uma cultura de trabalho, desenvolvimento e crescimento económico?

Bem, não sou sociólogo nem historiador, nem pretendo ser. Mas posso mandar uma bocas 8-)

Certamente não há uma razão única, posso avançar algumas.

-- A recolha de riqueza vinda de outras paragens e sua distribuição sempre foram realizadas por um poder central muito forte e cioso das suas prerrogativas. Quer a monarquia quer a república foram iguais. Isso criou uma camada privilegiada que vivia e vive à conta do poder central, defendendo com unhas e dentes qualquer mudança ou perda de "direitos adquiridos"

-- A religião católica. A mentalidade geral é de aguentar este "vale de lágrimas" porque a recompensa virá no outro mundo. Neste não vale a pena esforçarmo-nos por o mudar. Já no lado protestante existe a "ética do trabalho" como forma de salvação que tem de ser conseguida neste mundo

-- Os empreendedores e insatisfeitos foram para outras paragens, por cá ficaram os temerosos e submissos

-- Uma élite política, intelectual e empresarial receosa, pouco empreendedora, avessa à mudança, muito fechada que se defende entre si (com algumas raras exeções). Quase tipo uma mafia...

Acho que podia resumir tudo em 2 palavras -- liderança incompetente.
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Re: Para onde vamos?

por speedbird » 28/1/2014 15:36

Já agora e respondendo à pergunta do tópico:

Para onde vamos??

Bom , Portugal não vai a lugar nenhum.Vai ficar aqui na mesma , ou pior. As pessoas não sei para onde vão. E eu já fui há muito tempo , em 2006.Sou daqueles que vem nas férias.

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Re: Para onde vamos?

por Comentador » 28/1/2014 14:39

Nesta altura, venho aqui só para fazer um pequeno comentário ao texto do speedbird que gostei bastante de ler.

A sua opinião sobre o tema abre um ângulo interessante e importante de análise mas que estava subjacente nos meus posts, embora não desenvolvido. Não se esqueça que logo na primeira linha do meu post de abertura deste tópico eu refiro que "depois de décadas de ilusão e depois de negação, constatámos em 2010 que o País estava completamente falido".

Em qualquer caso, o texto é um grande valor acrescentado e vai às causas primárias do nosso atraso. A sua crua demonstração de uma realidade que persiste nos seus aspectos negativos leva-nos a ter que pensar de outro modo e a fazer as coisas de forma diferente.

Já agora, Atomez, como é possível que quase 10 séculos de história não tenham servido para nada no que respeita a criar uma cultura de trabalho, desenvolvimento e crescimento económico?

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Re: Para onde vamos?

por whitebala » 28/1/2014 12:43

Boas

foi hoje publicado documento sobre futuro dos investimentos estrategicos em Portugal



http://www.jornaldenegocios.pt/empresas ... _2020.html

Vamos a ver quando os Pinocrates ganharem as eleições em 2015 o que fazem ao documento...é que assim não há dinheiro para a 3ª autoestrada Lisboa Porto.

Agora a serio: concordo um pouco com a visão pouco optimista para Portugal. Sempre disse que aparentemente somos um povo de memoria curta o que permite que erros crassos de governação passado dois anos estejam esquecidos.
se vemos permanentemente no Canal Historia documentarios sobre o Hitler e as suas atrocidades, nos canais de economia deveriamos ver permantetemente as atrocidades que os Xuxialistas (boa palava!) e outros fizeram ao nosso pais.

Sobre o futuro creio que dar aos nossos filhos uma visão do mundo e poder relativizar a palhaçada que as vezes Portugal é será o melhor investimento a ser feito.

Mas sinceramente estou muito atento as sondagens pois caso o poder seja de novo tranferido para irresponsaveis será boa ideia em pensar noutro local para viver neste planeta.

Abraço
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Re: Para onde vamos?

por atomez » 28/1/2014 3:19

Este país, Portugal, tem um grave problema de fundo que vem de há uns 500 anos atrás.

É que se habituou a ir sacar riqueza a outros lados sem, relativamente, grande esforço nem grande investimento.

Riqueza essa que nunca serviu para ser investida no desenvolvimento interno do país, mas sim para se ir comprar o necessário e o desnecessário a outros países. Portugal, e também Espanha, estiveram na prática a financiar a revolução industrial no centro da Europa...

Primeiro foram as especiarias e o chá do Oriente após a descoberta do caminho marítimo (os árabes fizeram-nos um favor enorme com a tomada de Constantinopla e terem impedido as trocas comerciais da Europa com a China via terrestre, a famosa Rota da Seda)

Quando ingleses, holandeses e outros tomaram conta do negócio, foi a vez do ouro do Brasil e também o comércio de escravos.

Com a independência do Brasil, foi África, Angola e Moçambique, fontes de matérias primas e mercados exclusivos para produtos nacionais.

Em 1974 com a independência das colónias é que parecia ser o fim, mas abriu-se uma nova fonte -- a União Europeia, na altura CEE, com os seus fundos e subsídios.

Por volta de 2000 também isso acabou, mas eis que se abre uma nova fonte -- o Euro, com taxas de juros baixíssimas e fundos praticamente inesgotáveis.

A festa acabou em 2008...

Agora para onde vamos? Francamente não sei. Estou convencido que este país não tem viabilidade económica e vai ter de sobreviver como puder.
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Re: Para onde vamos?

por Sr_SNiper » 28/1/2014 2:41

speedbird Escreveu:
A Manuela Moura Guedes que com as suas entrevistas e o seu jornal denunciava a fraude que era este país foi corrida da TVI.

Se calhar foi corrida por fazer este tipo de entrevistas que faziam concorrência com as matinés e tiravam clientes dos cinemas

<iframe width="420" height="315" src="//www.youtube.com/embed/g4BwzPJIe14" frameborder="0" allowfullscreen></iframe>

http://www.youtube.com/watch?v=g4BwzPJIe14
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Re: Para onde vamos?

por speedbird » 28/1/2014 2:34

Comentador Escreveu:O grande problema de Portugal é a falta de crescimento económico. As razões são várias. O saldo orçamental tem sido sempre negativo desde 1975, com a dívida pública a agravar-se de ano para ano com os custos financeiros que se calculam. Os investimentos têm sido efectuados na sua grande maioria em sectores não reprodutivos ou de escasso valor acrescentado.
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Não , o grande problema de Portugal não é a falta de crescimento.Achar que é só a falta de crescimento é querer fazer omeletes sem ovos. Estou totalmente de acordo com o post do FDPC.
Para haver crescimento tem que haver condições para isso.E não há. O país não é atrativo para investir e o pouco que se gera é consumido pela classe política na forma de corrupção e má administração.

A somar a isso temos um povo preguiçoso, que não se quer chatear com nada, e sofre de negação.

Quando isto mudar , o país será naturalmente atrativo. E o investimento naturalmente aparecerá.

Ninguém quer investir o seu dinheiro em uma república das bananas. Ninguém quer investir o seu dinheiro em um país em que a justiça demora uma eternidade para resolver qualquer problema banal e que na maior parte das vezes acaba em acordo com prejuízo para aquele que tem razão , que acaba por aceitar o acordo porque sabe que os custos do processo e os seus resultados são sempre duvidosos , isso se não prescreverem antes , e é melhor aceitar qualquer coisa do que não ganhar nada e ainda ter que pagar os custos do processo. Tenho uma amiga que tem uma empresa e está sempre às voltas com calotes.Diz ela que há clientes que naturalmente deixam de o ser porque já os conhece e recusa-se a trabalhar com eles , mas que vivem de dar calotes. Contratam o serviço , não pagam e depois deixam ir a tribunal. Com o tempo que tudo leva , acabam por ter o serviço feito por 20 ou 30% do preço contratado porque ela acaba aceitando um acordo , ou o processo arrasta se por 12 anos e sem quaisquer garantias.

Em um país onde a classe política se vê acima do comum mortal , a tal ponto de um político vir para televisão dizer que não há cabimento um político andar de CLIO , é um país que tem políticos que além de não representarem o povo por se acreditarem muito acima deste , tampouco tem a mínima noção da situação económica do país . E se tem , estão se a marimbar.Ao melhor estilo republiqueta africana.

A somar a tudo isto temos um povo ignorante ,comodista , curto , que só reage quando a água lhe chega ao nariz. E não me venham dizer que não foram avisados !!!!!
Foram sim!! Todos os dias o Medina Carreira aparecia a explicar com números a situação atual. Ao melhor estilo tuga que tem a mania que sabe tudo sem estudar nada , chamavam o homem de profeta do apocalipse. Foi o que se viu.Afinal tinha razão.

A Manuela Moura Guedes que com as suas entrevistas e o seu jornal denunciava a fraude que era este país foi corrida da TVI. Mais uma vez o que este povinho medíocre conseguia absorver do seu trabalho era pensar se ela era bonita ou feia , tinha botox ou não e se ela era boa jornalista ou não. Ninguém nunca pensou que se ela estava a incomodar o poder é porque estava a por o dedo na ferida.É porque era boa jornalista. Ninguém nunca pensou que se ela denunciava tudo aquilo e não tinha processos por calúnias e difamações, processos estes que os nossos corruptos cheios de melindres adoram , era porque estava muito bem respaldada por um trabalho investigativo , coisa que a esmagadora maioria dos nossos jornalistas não fazem. Não passam de papagaios , que vão para o ecran reproduzir o que leram na Reuters e na Lusa.E ninguém pensou que se ela foi demitida , é porque incomodava mesmo muito a máfia.

E agora , no presente momento, este povinho continua tão cego , surdo , curto e tacanho como sempre . Não aprendeu nada com a crise. A maioria das pessoas não entende que o país faliu !! Não há dinheiro !!! O aumento de impostos foi necessário apenas porque é a maneira mais rápida de angariar dinheiro. Não estou aqui a defender o governo. Sou completamente apartidário.Também acho que o governo tem apenas remediado o problema da maneira mais fácil, que é o aumento de impostos. As reformas estruturais estão todas por fazer.Mas mesmo que as tivesse feito , esta situação pela qual estamos a passar , teríamaos que a passar na mesma porque as reformas e seus resultados levam tempo e os nossos credores , conhecendo nos bem , querem o dinheiro de imediato e garantias ou fecham a torneira. Já se deram conta à muito que não somos de confiança.Assim como os investidores.

Tudo isto dito , as últimas sondagens mostram que se as eleições fossem hoje , mesmo representado na patética figura do josé seguro ,o PS , aquele do BPN , TGVs, aeroportos ,Sócrates ,freeport, PEC 1,2,3,4 e falência do estado , ganhava outra vez !!!! Somos tão patéticos como esse seguro que por aí anda a mandar bocas. Isto significa que um povo patético só pode mesmo ser representado por gente patética !!

Portanto meus amigos , o futuro é negro. A vida tal como está neste país agora mesmo , vai ficar por mais 10 anos pelo menos.Pode depois melhorar um pouco. Até que se absorva toda essa massa de desempregados ,de acordo com uma lei imutável, que é a da oferta e da procura , muitos anos se vão passar antes que alguém veja um empregador a oferecer mais do que um salário mínimo, ou pouco mais. Pode ajudar um pouco , se as pessoas continuarem a emigrar aos 100 mil por ano. Mas não vejo um futuro brilhante.

Mandem os vossos filhos estudar no exterior.Lá eles vão ter noção da mediocridade do seu país ,vão criar uma rede de conhecimentos que os ajudará a arranjar empregos no exterior nas suas profissões ,a ganhar decentemente, vão crescer a ser mais profissionais ,e talvez um dia , se continuarem a achar que que Portugal é um excelente país para passar férias , que o é , talvez voltem , como empreendedores ,para jogar golf , ou para a reforma.

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Editado pela última vez por speedbird em 28/1/2014 2:41, num total de 1 vez.
 
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Re: Para onde vamos?

por Comentador » 27/1/2014 18:11

Um grande abraço, djovarius, meu amigo, um dos grandes "artífices" do Caldeirão!

Muito obrigado pelas suas palavras generosas. Já estava bem acompanhado neste tópico e, agora, ainda estou bastante melhor. Pensei neste tópico como um registo dos meus pensamentos à volta do sentido que tem ser português, das nossas potencialidades e objectivos mas também dos erros e práticas absurdas que ainda se mantêm. De uma maneira envolvente e simples, espero abordar vários ângulos desta nossa caminhada pessoal que se integra no passo a passo do nosso país.

A minha intenção é fazer deste tópico um local de continuidade para um tema que julgo muito importante e desafiante. Quem não gostará de debater "para onde vamos"?

E claro que participarei regularmente mas espero muitas outras participações. E claro que este tópico não descambará, tenho grande confiança nisso!

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Re: Para onde vamos?

por djovarius » 27/1/2014 17:45

Caro comentador,

Finalmente um tópico de qualidade de um genial participante. Espero que este tópico não descamba.

Concordo com o que foi dito. A falta de crescimento é um problema, como lamentável a persistência de elevados défices. Eu até sou daqueles que diz que um défice pode ser melhor do que um superavit (num país em desenvolvimento), mas o TAMANHO conta. Pelos vistos, não contou.
Não quero ser pessimista, mas num país (e a Europa deixa fazer) que tinha de fazer reformas estruturais, sobretudo ao nível do Estado e das Administrações, pouco mais fez do que reformas conjunturais.
Estamos agora mais bem preparados para as futuras crises ??
Será que a crise está a acabar ou ainda agora acaba de começar ??

É complexo e não é de admirar a desorientação generalizada sobre os melhores caminhos a tomar.
É mais fácil a sociedade civil se reconfigurar e se habituar à nova realidade do que os poderes públicos o fazerem...

Abraço

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Re: Para onde vamos?

por luisfm80 » 27/1/2014 16:40

O problema de portugal é que ainda não cortou nas gorduras como deve ser. Quem se reformou na FP entre 1998 e 2010, sabe bem que ganha quase o triplo daquilo que descontou por mês p a reforma. Conheço vários reformados da FP que descontavam cerca de 1000 euros mês p a sua reforma já no fim da carreira e quando se aposentaram, ficaram a ganhar 3000 euros. Para ajudar à festa mts deles reformaram-se com 52/55 anos de idade.
As autarquias é outra vergonha é só boys e girls, principalmente nas (des)governadas pelo PS, conheço várias autarquias com menos de 5000 habitantes com mais de 200 (trabalhadores) parasitas que passam todo o dia na CM sem fazer nada.
Só com esta gentiaga toda que vive à custa de quem trabalha a sério, não admira que os xuxalistas ganhem as eleições.
 
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Re: Para onde vamos?

por Comentador » 27/1/2014 15:28

Depois de ter escrito os posts anteriores, apetece-me acalmar um pouco, ser menos negativo e olhar para as coisas num outro plano: o da a vida corrente no seu dia-a-dia. Já repararam que não temos precisado de todas aquelas auto-estradas que contribuíram para a nossa desgraça financeira? Claro que eu digo que não temos precisado porque quase ninguém passa por lá. Por outro lado, não nos podemos esquecer que o mundo é global e que qualquer coisa que aconteça na Patagónia nos atingirá de uma maneira ou de outra. Efectivamente, passei um fim de semana tranquilo e nem dei atenção a noticiários e não querem lá ver que na 6ª. feira a crise da Argentina pode muito bem ter voltado, quando até estava com uns indicadres de recuperação tão engraçados?

Há, no entanto, uma coisa que eu ainda não consegui absorver ou entender ou apreender. Deve ser porque fico em estado de choque cada vez que a oiço - a crise da Banca ainda não passou e continua a ter o apoio dos governos. Li hoje a notícia que a Europa gastou um décimo da sua riqueza para salvar bancos. Já estou a perceber melhor para onde foram os 20% que me cortaram a mais nos últimos tempos. E será que muito desse dinheiro está a ir para a especulação financeira diminuindo a parcela que as empresas necessitam?

Também dava um livro os tópicos que entusiasmam o nosso Portugal. Alguns exemplos: a) Baixará o IRS 0,5% em 2015? b) Quem terá pior resultado nas próximas eleições - Passos ou Seguro? c) E o mais importante: quem é que decide o que nos acontece pos-troika: o Eurogrupo, Angela Merkel ou o BCE? Nova pergunta: alguém se vai lembrar de que essa é uma decisão que devia pertencer ao Governo de um Portugal Soberano?

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Re: Para onde vamos?

por Comentador » 20/1/2014 19:53

O grande problema de Portugal é a falta de crescimento económico. As razões são várias. O saldo orçamental tem sido sempre negativo desde 1975, com a dívida pública a agravar-se de ano para ano com os custos financeiros que se calculam. Os investimentos têm sido efectuados na sua grande maioria em sectores não reprodutivos ou de escasso valor acrescentado.

Olhando-se para o gráfico que a seguir apresento, ficamos com uma sensação de frustração e de oportunidades perdidas. É notório o "limite" de 2% de crescimento do PIB, que só por vezes temos conseguido atingir, comportando-se esse valor como uma resistência muito forte que é o reflexo da nossa incapacidade. É isto que é preciso alterar mas não certamente com as políticas actuais nem com as dos governos anteriores. É indispensável um plano de acção levado a sério, onde o peso do Estado tenha de diminuir grandemente. Uma estratégia de crescimento económico e não de aumento da máquina e dos tentáculos do Estado.

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Re: Para onde vamos?

por FDPC » 19/1/2014 21:02

Noutro dia questionei-me sobre o quão de repente o PSI20 que parecia estagnado veio a gerar novos máximos em diversos títulos.
Primeiros algumas cotadas, no dia seguinte alguma correção e posteriormente outras e umas a puxar as outras prá cima. Questionei-me também se toda essa valorização iria a traduzir em novos postos de trabalho, pois afinal, qual o verdadeiro valor que uma empresa possui com + 20/40/80% de valorização dos seus títulos, de seu próprio patrimônio, não for traduzida em postos de trabalho? Já vi casos em outras terras que exatamente pelo fato de grandes valorizações numa semana e na seguinte essa mesma empresa mete 50 funcionários no olho da rua.

De fato os direitos adquiridos neste últimos 30/35 anos em Portugal pela classe trabalhadora, esses mesmos da classe média a que o Comentador se refere, além de termos perdidos diversos desses direitos ainda com o encargo de pagar dividas que nunca contraímos e nem tão pouco foi a nós perguntado se estávamos dispostos a contrair tais obrigações. Porque entrei no mercado financeiro a 6 meses atrás? Por que fiz algumas contas com um horizonte temporal baseado na minha perspectiva de vida. Tendo como base a vida média de 75 anos (bem, se fosse assim tão linear até me tranquilizava, mas minha mãe tem 90 anos, meu tio faleceu com 102 anos, minha avó aos 91 anos)mas tendo então os 75 anos como horizonte seriam precisos mais 20 anos para que eu os alcance os tais 75 anos.

Com esse raciocínio do período temporal de 20 anos, e cortes e perdas de 1.700/2.000 euros por ano, na pensão (não estou reformado, mas minha mulher está) o sistema veio retirar-nos no presente nossa renda futura. Esse valor que se arredonda aos 40.000 euros se investidos mensalmente os 150/200 euros dos cortes, poderia chegar ao final desses 20 anos com 60 000 euros aproximadamente.

Os nórdicos e a postura do homem político, suas funções governativas naturais de qualquer Governo, a sociedade, os seus cidadãos e uma legislação adequada e mais justa, não permite que o homem politico ou o funcionário publico de alto staff e no topo da pirâmide governativa, faço uso em proveito próprio de bens que a ele não pertencem, mas atuam como se proprietários deles o seja.
Mas é a legislação que assim está construída, e os cidadãos e a sociedade assim o permitem. Observa-se os recentes fatos na Islândia,
os maus administradores foram considerados atos de crime publico e penalizados. Os deputados Suecos, não possuem viaturas oficiais ou choffers que lhe abrem as portas, além de todo o protocolo tradicionalista de requinte decadente. Não são estas despesas futeis da máquina do estado que salvariam este Estado da bancarrota, não, é mais complexo do que isto.

Esse comportamento e essa legislação perniciosa com a economia do Estado, reflete-se na dimensão dele mesmo, na burocracia e até na tomada de atitudes e descisões. Não é apenas uma revisão constituicional, inevitável e necessária, que vai mudar esses fatos.
Se não são dados instrumentos intelectuais a população, nós não conseguiremos reagir, reacionar, e continuar-se-á o mesmo protocolo decadente. Um circulo vicioso sem esperança de rompimento. (eu não gosto de usar termos como carneirada, mas estamos próximos disso).

Gostaria de ter acesso ao perfil dos 100 000 portugueses que saíram de Portugal recentemente, e também gostaria de perceber qual será o impacto que a retoma económica poderá vir a ter com a ausência destes 100 000 portugueses, cá da terra. Pouco ou nada poderemos fazer por esse cenário, mas vamos escrevendo umas opiniões aqui ou ali, e vamos navegando. Eu não tem nenhum otimismo nem esperança tão pouco que isso poderia mudar. É praticamente impossível, e em toda a comunidade ser latino é um preço bastante alto a pagar durante uma vida.

Apenas com os princípios básicos de formação da sociedade é que poderemos dar um salto qualitativo, para qualquer País: - educação, saúde, trabalho e uma legislação a favor do País, e não contra ele próprio.

Como é que eles costumam dizer em fim de discurso?
Tenho dito.
Por uma Politica Solidária a Migração, abaixo os muros da intolerância
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Re: Para onde vamos?

por Clinico » 19/1/2014 20:49

Krugman disse uma vez que, no matter what, as crises acabam por passar. Ao longo da história tem sido sempre assim: por ciclos.
A nossa história, incluída no que se passa na Europa, também acabará por passar.
Os que ficaram para trás, os que faliram, os que imigraram, ficarão apenas como resenha histórica.
Infelizmente é assim. Não importa que as bolsas antecipem a recuperação, e estão a antecipa-la. Muitos ficarão para trás.

Mas a crise, passa!
Abraço
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Para onde vamos?

por Comentador » 19/1/2014 19:38

Está a acontecer uma coisa muito interessante em Portugal. Depois de décadas de ilusão e depois de negação, constatámos em 2010 que o País estava completamente falido. Sabemos todos que para atacar o problema foi a classe média e média baixa que foi chamada a segurar o barco pois o governo entendeu não reestruturar e diminuir o denso aparelho do Estado e as suas ramificações públicas e privadas. É pois com o nosso parco dinheiro que estamos a recuperar, o que parecendo incrível é a mais pura das verdades.

E, neste processo, batemos no fundo e obviamente estamos agora a dar a volta muito devagar. É também nesta fase que existe uma tendência de melhoria nos indicadores do País e dos juros das nossas obrigações soberanas. É por isso também que quase todas as empresas do PSI20 estão em bull market com grande potencial de upside.

Claro que ninguém acredita que, sem receitas extraordinárias consigamos reduzir o défice do Orçamento do Estado abaixo de 3% do PIB. Já não falo na anulação da sobretaxa de IRS e da CES dos pensionistas. Estamos todos cientes que o nosso nível de vida piorou e veio para ficar.

Na minha perspectiva teremos pela frente uma série de títulos em bull market que alguns aproveitarão, uma melhoria de indicadores prometedora e, ao mesmo tempo, um Estado que está literalmente a viver à nossa custa. Ou seja, para gerir o nosso país não era necessário um aparelho tão denso, extenso e burocrático, um poder autárquico tão complexo e tanta legislação e decisões difíceis de aplicar e tão afastadas do que realmente precisamos.

Para mim, nunca foi tão certo dizer este cliché: para onde vamos, bolas?

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