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Caldeirão da Bolsa

Professores sem serviços mínimos, decisão Colégio Arbitral

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por Heisenberg » 13/6/2013 17:43

migluso Escreveu:Se existisse mercado na prestação de serviços de educação, este debate não estava a acontecer.

Eu leio os argumentos de um lado e de outro e, a maior parte, derivam da inexistência de mercado.

Antecipando já a resposta aos opositores da liberalização:
Sim, haveriam falhas, situações de injustiça, ineficiências, más escolas, maus professores, etc...
Mas tudo isso já não acontece hoje?

A vantagem, para além da defesa do princípio da liberdade que hoje, quer o aluno quer o professor não têm, é que o mercado é mais rápido a detectar as falhas do sistema e mais rápido a eliminá-las ou corrigi-las.

__________________________

Se os comentários que leio vão quase todos no sentido de "o prof. do privado está melhor do que o prof. do público", qual a razão para tanto ódio à privatização do ensino por parte da classe dos stores?


O mercado pressupõe a existência de clientes. Os clientes são aqueles que escolhem o prestador de serviços, ou seja, os pais. A maior parte dos pais não quer saber se o ensino prestado é de qualidade, mas apenas que os seus filhos tenham boas notas, que façam o exame na data marcada para não atrasar as férias e que entrem numa universidade à frente dos outros. Quase nenhum valoriza nada da formação que não tenha directamente a ver com estes objectivos. E isto são os mais ou menos informados, porque grande parte só está preocupado em ter um local não muito longe onde os depositar.

A questão que se põe é: devemos pôr o ensino de um país nas mãos das escolhas deste mercado, destes pais, ou devemos optar por uma credibilização e regulação geral do ensino independentemente das escolhas de pais menos informados? Quando se transpõe para tudo o pensamento de mercado, eu penso por exemplo no que aconteceu com as televisões, desde que entraram no mercado e se passaram a reger pelas preferências das maiorias. Não me importo muito porque não as vejo, mas se transpuser a mesma ideia para a escola, temo que toda ela se transforme em lixo para se adaptar aos seus clientes. Se a escola pode fazer a diferença ao não se reger por esse tipo de mentalidade, para quê deitar isso fora?

Por outro lado, também eu gostava de escolher livremente a melhor escola para a minha descendência, e acho que saberia aproveitar essa possibilidade. A um título puramente pessoal gostaria dessa ideia, mas tenho algum medo das consequências sociais disso.
 
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não se aplica...

por frigas » 13/6/2013 17:40

Dificilmente na vida tens melhor e mais barato... Ou tens professores mais capacitados e que por isso tendencialmente a ganhar mais, ou menos capacitados tendencialmente a ganhar menos...

A qualidade paga-se...


essa tese não se aplica no ensino público..
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Re: Frigas

por frigas » 13/6/2013 17:37

V1rotate Escreveu:
Iniciado Escreveu:Frigas , desculpa a pergunta...dedica se demasiado e depois sofre as consequências.
Podes dizer quais as consequências?
Mal aceite pelos colegas ou excesso de cansaço?


Normalmente os professores que demonstram maior dedicação/capacidade/qualidade são sobrecarregados com mais trabalho, ou seja, cargos(Diretor de Turma, Coordenador de Dep, etc), ou outros chegam à escola cumprem o horário e siga... :wink:


o V1 fez o favor de responder por mim....
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por goodmoney » 13/6/2013 17:36

pocoyo Escreveu:Basta criar o cheque ensino no valor do custo de cada ano de ensino publico e depois os pais escolhem onde meter os filhos. Se o publico for melhor e mais barato até vão conseguir aumentar o numero de turmas e de profs contratados.



Dificilmente na vida tens melhor e mais barato... Ou tens professores mais capacitados e que por isso tendencialmente a ganhar mais, ou menos capacitados tendencialmente a ganhar menos...

A qualidade paga-se...

Já para não falar dos métodos de aliciamento de alunos, aka, vem para aqui que sobes de 14 para 18...
 
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....

por frigas » 13/6/2013 17:34

crybaby Escreveu:Uma das razões que me leva a frequentar este fórum é que parto do princípio que um fórum de bolsa terá frequentadores mais letrados que a média... Ao ler este tópico, desenganei-me...

E eu, que ainda ontem estive a discutir com um professor, que eles tinham que se adaptar um pouco... :shock:

Agora chegar aqui e ver comparações entre ordenados de professores com 30 anos de carreira e a média do povo com a 4ª classe, epá, ainda é não ser minimamente sério.

Dizer que os professores só trabalham as horas em sala? É de quem nunca preparou uma apresentação em powerpoint que seja...

Dizer que a preparação de um professor é que a que qualquer um faz para o seu trabalho?

Sou militante do CDS, quase capitalista, mas não sou cego...

Temos um triste fim com esta mentalidade, vamos acabar todos nos 100 euros e 2 vales de refeição por 60 horas de trabalho...


:clap: :clap: :clap: :clap: :clap: :clap:
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por goodmoney » 13/6/2013 17:31

Uma das razões que me leva a frequentar este fórum é que parto do princípio que um fórum de bolsa terá frequentadores mais letrados que a média... Ao ler este tópico, desenganei-me...

E eu, que ainda ontem estive a discutir com um professor, que eles tinham que se adaptar um pouco... :shock:

Agora chegar aqui e ver comparações entre ordenados de professores com 30 anos de carreira e a média do povo com a 4ª classe, epá, ainda é não ser minimamente sério.

Dizer que os professores só trabalham as horas em sala? É de quem nunca preparou uma apresentação em powerpoint que seja...

Dizer que a preparação de um professor é que a que qualquer um faz para o seu trabalho?

Sou militante do CDS, quase capitalista, mas não sou cego...

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por pocoyo » 13/6/2013 17:16

Basta criar o cheque ensino no valor do custo de cada ano de ensino publico e depois os pais escolhem onde meter os filhos. Se o publico for melhor e mais barato até vão conseguir aumentar o numero de turmas e de profs contratados.
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por pocoyo » 13/6/2013 17:09

Quanto custa cada aluno ao estado? (no publico)
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Re: lá está a mania da perseguição...

por rollingsnowball » 13/6/2013 17:07

frigas Escreveu:
V1rotate Escreveu:Engraçado ninguém falar dos professores que recebem 3091€ para dar 14 horas de aulas por semana, dureza...


pode sempre falar de uma piloto da Tap ou de um médico também em fim de carreira com 7/8000€ no bucho!!ou de um jogador de futebol a ganhar 1.000.000€/mês.....não vá por ai.....

um médico em fim de carreira 7/8000€??? o salário para um horário de 35 horas (cumpridas na totalidade, embora acredite que hajam alguns que não as cumprem já que há disso em todas as áreas) é de à volta de 1600€ limpos (não sei o valor exacto já que não sou um deles). No novo acordo que entrará supostamente em vigor em 2015 será mais mas por 40 horas semanais. Isto para quem está na função pública e com 35 horas.
 
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V1 rotate

por Iniciado » 13/6/2013 16:54

Isso é uma situação que no privado normalmente é positivo para o funcionário (promoções , aumento de vencimento...etc).
Acho que na classe de profs não têm bneficio nenhum em ser DT....estou errado?
De qualquer maneira isso será uma injustiça que terão de resolver internamente...não acha?
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por Rosariom2014 » 13/6/2013 16:46

Sem dúvida.
 
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Re: Frigas

por V1rotate » 13/6/2013 16:44

Iniciado Escreveu:Frigas , desculpa a pergunta...dedica se demasiado e depois sofre as consequências.
Podes dizer quais as consequências?
Mal aceite pelos colegas ou excesso de cansaço?


Normalmente os professores que demonstram maior dedicação/capacidade/qualidade são sobrecarregados com mais trabalho, ou seja, cargos(Diretor de Turma, Coordenador de Dep, etc), ou outros chegam à escola cumprem o horário e siga... :wink:
 
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Re: professores vs alunos

por JMHP » 13/6/2013 16:40

AikyFriu Escreveu:
JMHP Escreveu:Apenas um mero conselho pessoal: Deixem-se de complexos, libertem-se dessa ideologia de guerra de classes e permanente insatisfação, aceitem os desafios e procurem a qualidade de serviço dentro dos meios disponíveis, não tenham medo em procurar alternativas e apresentar soluções para um melhor ensino para além das questões habituais dos direitos e financeiras.

Apresentem-se como solução e não como um problema cronico sem fim.


Se conhecesses o que se passa na escola saberias que é isso que a grande maioria dos professores tem feito.
Sem a carolice, o profissionalismo e a paixão dos professores como estaria agora o ensino?

Quanto ao resto concordo com o Artista. Não vale a pena continuar com o assunto.

A maioria não conhece nada do problema, mas inventa umas asneiras e insististe na sua "verdade".


Eu não nego que existam criticas exageradas em relação aos professores, assim como sei que dentro da classe nem todos os professores são tratados de forma igual.

Em relação à pergunta que coloca, devo-lhe dizer que hoje dos meus 41 anos de idade ainda me recordo de ouvir os mesmos argumentos dos meus professores desde tenra idade no ensino primário.

Já lá vão mais de 30 anos e passados estes anos todos, ainda ouvir os mesmos argumentos, a mesma forma de combate e o mesmo ruído nas ruas.... Dá que pensar. Se fosse professor, garanto-lhe que isso inquietava-me seriamente.
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Re: È uma .....

por migluso » 13/6/2013 16:29

Iniciado Escreveu:È uma classe que em 40 anos não houve um governo ou ministro da educação que aprovassem....


Uma classe que tem como líder espiritual o Mário Nogueira só aprova o que sai do comité. Mai nada... :twisted:
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Frigas

por Iniciado » 13/6/2013 16:27

Frigas , desculpa a pergunta...dedica se demasiado e depois sofre as consequências.
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Re: professores vs alunos

por AikyFriu » 13/6/2013 16:27

JMHP Escreveu:Apenas um mero conselho pessoal: Deixem-se de complexos, libertem-se dessa ideologia de guerra de classes e permanente insatisfação, aceitem os desafios e procurem a qualidade de serviço dentro dos meios disponíveis, não tenham medo em procurar alternativas e apresentar soluções para um melhor ensino para além das questões habituais dos direitos e financeiras.

Apresentem-se como solução e não como um problema cronico sem fim.


Se conhecesses o que se passa na escola saberias que é isso que a grande maioria dos professores tem feito.
Sem a carolice, o profissionalismo e a paixão dos professores como estaria agora o ensino?

Quanto ao resto concordo com o Artista. Não vale a pena continuar com o assunto.

A maioria não conhece nada do problema, mas inventa umas asneiras e insististe na sua "verdade".
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por migluso » 13/6/2013 16:26

Se existisse mercado na prestação de serviços de educação, este debate não estava a acontecer.

Eu leio os argumentos de um lado e de outro e, a maior parte, derivam da inexistência de mercado.

Antecipando já a resposta aos opositores da liberalização:
Sim, haveriam falhas, situações de injustiça, ineficiências, más escolas, maus professores, etc...
Mas tudo isso já não acontece hoje?

A vantagem, para além da defesa do princípio da liberdade que hoje, quer o aluno quer o professor não têm, é que o mercado é mais rápido a detectar as falhas do sistema e mais rápido a eliminá-las ou corrigi-las.

__________________________

Se os comentários que leio vão quase todos no sentido de "o prof. do privado está melhor do que o prof. do público", qual a razão para tanto ódio à privatização do ensino por parte da classe dos stores?
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acredita que é mesmo...

por frigas » 13/6/2013 16:19

V1rotate Escreveu:No conjunto dos docentes de um Agrupamento de Escolas, 10% são muito bons e dedicados, 80% são medianos, cumprem a sua função, e depois temos outros 10% que não valem um chavo.

Provavelmente a tua mulher pertence ao grupo dos 10% dedicados, deve ter alguma direção de turma, e/ou outros cargos, mas os restantes 90% não são assim, acredita ;)


dedica-se demasiado em meu entender...e depois sofre com as consequências...
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Re: professores vs alunos

por JMHP » 13/6/2013 16:18

frigas Escreveu:
JMHP Escreveu:
artista Escreveu:


Apresentem-se como solução e não como um problema cronico sem fim.


Como se pode apresentar como solução uma classe profissional que é tratada como um problema para o próprio governo e para a maioria da sociedade?


Se calhar a resposta tem de vir de dentro da própria classe... Adaptem-se e apresentem-se como solução, como muitos outros portugueses estão a procurar fazer. Provavelmente o melhor caminho será discutir e argumentar numa forma e discurso diferente. Certamente nessa altura começam a serem escutados de forma também diferente.
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lá está a mania da perseguição...

por frigas » 13/6/2013 16:16

V1rotate Escreveu:Engraçado ninguém falar dos professores que recebem 3091€ para dar 14 horas de aulas por semana, dureza...


pode sempre falar de uma piloto da Tap ou de um médico também em fim de carreira com 7/8000€ no bucho!!ou de um jogador de futebol a ganhar 1.000.000€/mês.....não vá por ai.....
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Re: professores vs alunos

por frigas » 13/6/2013 16:14

JMHP Escreveu:
artista Escreveu:


Apresentem-se como solução e não como um problema cronico sem fim.


Como se pode apresentar como solução uma classe profissional que é tratada como um problema para o próprio governo e para a maioria da sociedade?
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por Rosariom2014 » 13/6/2013 16:08

A greve dos professores e a qualidade da escola pública

A greve dos professores em tempo de avaliações tem gerado preocupação e incompreensão em alguma opinião pública e, sobretudo, junto dos encarregados de educação. Sou professor e também tenho uma filha adolescente a frequentar uma escola pública. Sou, portanto, sensível às preocupações manifestadas e, por isso, entendo que é fundamental que os professores se empenhem em desconstruir os mitos e o consequente ruído enganador sobre o assunto difundido pelo governo e pelos partidos que o sustentam, assim como pelos media e os seus opinantes encartados.

Se os professores não contestarem agora as medidas previstas para a escola pública pelo ministério de Educação de Nuno Crato, os resultados serão catastróficos, pois terão uma influência profundamente perniciosa sobre a qualidade de uma escola pública que se pretende democrática, inclusiva, humanista e exigente.

Segundo Crato e Passos Coelho, os professores terão de trabalhar mais horas letivas e/ou não letivas, sendo que tal decisão acarreta mais trabalho não apenas na escola mas também em casa. Sobre este assunto, importa enfatizar o seguinte facto: a maioria dos professores – as exceções relativas à negligência incompetente dos docentes existem em todas as profissões e apenas servem para confirmar a regra – trabalham hoje, na escola e em casa, muito para lá das tão apregoadas 40 horas.
No 3º ciclo do ensino básico e secundário – onde tenho lecionado – os professores cumprem 23 tempos letivos. Lecionar aulas, sobretudo nas disciplinas com maior conteúdo teórico, a turmas com mais de 20 alunos (e as turmas das escolas públicas de hoje só excecionalmente têm menos de 25 alunos), dotados com cada vez menor capacidade de concentração e menor disponibilidade para aprender, exige um esforço excecional de concentração contínua por parte dos professores. Concentração contínua para produzir um discurso científico inteligível; concentração contínua para fazer interações assertivas com os alunos; concentração contínua para orientar o comportamento de todos os alunos e criar um ambiente favorável ao processo ensino/aprendizagem. Poucos segundos de desconcentração podem redundar na perda irremediável do controlo da aula.

Ora, essa concentração, que — interessa aqui esclarecer — difere bastante da concentração que exige, por exemplo, um trabalho burocrático que, aliás, os professores também produzem em grande quantidade, na escola ou em casa, de dia ou de noite, nas escolas pública de hoje, torna-se particularmente extenuante. É preciso que a opinião pública não ignore que cinco ou mais tempos letivas diários já obrigam o professor a chegar a casa esgotado. Mais, enganam-se redondamente aqueles que pensam que o trabalho do professor terminou quando este abandona a sala de aulas ou a escola para regressar a casa – tal como, por exemplo, o trabalho do advogado ou do juiz não pode ser reduzido aos momentos em que estes juristas se encontram no tribunal.

Depois das aulas lecionadas existem as aulas para preparar e os testes para elaborar, com as suas matrizes, enunciados, critérios de correção e níveis de cotação. E, ao contrário do que muitos pensam, as aulas têm de ser preparadas todos os anos, porque os professores não lecionam sempre os mesmos níveis, porque as idiossincrasias das turmas obrigam os professores a alterar as suas estratégias pedagógicas, porque a ciência evolui, os programas mudam e é impreterível atualizar conhecimentos. Depois, há as centenas de testes para corrigir pelo menos em seis momentos de avaliação escrita anual. Depois, há as leituras de atualização e a formação científica e pedagógica que qualquer professor tem de fazer. Depois, há as reuniões de departamento, de área disciplinar, de conselho pedagógico, de conselho geral, de conselho de turma… Depois, há as atividade extra-letivas onde muitos professores se envolvem: preparação de visitas de estudo, elaboração de exposições, publicação de jornais e revistas escolares, organização de comunicações proferidas por personalidades convidadas e tantos outros projetos que envolvem muitos professores empenhados em fomentar o conhecimento e, por conseguinte, o sucesso educativo dos seus alunos. Depois, há o trabalho cada vez mais difícil e sensível dos diretores de turma, que envolve o contacto com os encarregados de educação e os colegas, bem como a aferição permanente do comportamento, aproveitamento e assiduidade dos alunos. Depois, há as provas intermédias, as provas de equivalência à frequência, os exames nacionais do 9º ano e do ensino secundário que é preciso preparar e corrigir. Depois há as avaliações que são feitas no final de cada período. Depois, há as matrículas que são feitas pelos professores. E, depois, há ainda o regresso a casa, que para muitos professores exige viagens quotidianas longas e desgastantes.

Todo este serviço público prestado aos alunos pelos professores é feito com entusiasmo, mas cada vez com mais dificuldades e desgaste físico e psicológico que, naturalmente, aumenta com a idade. Ora, num momento em que os professores estão já a trabalhar além das suas capacidades, em mega-agrupamentos babilónicos, onde em demasiados casos o ambiente é mau e tudo ou quase tudo funciona mal, é obsceno exigir mais horas de trabalho aos professores. Porque mais horas letivas lecionadas a turmas cada vez maiores vão, inevitavelmente, significar mais níveis, mais alunos, mais aulas para preparar, mais testes para fazer e corrigir, mais reuniões e burocracia para produzir. Enfim, trabalho acrescido significará, por um lado, para os professores com mais anos de serviço, trabalhar até à exaustão. Por conseguinte, tal decisão irá ter fatais repercussões sobre a qualidade do ensino oferecida aos alunos. Mas o trabalho acrescido concentrado num grupo restrito de professores, vai, por outro lado, significar para muitos outros professores – alguns com 15 ou mais anos de serviço — o desemprego.

Por tudo isso sustento que tal decisão há de ser insustentável para todos: para os alunos, para os encarregados de educação (a braços com problemas sociais cada vez mais complicados que decorrem da crise em que vivemos) e para os professores. São, sobretudo, estas as razões que levam milhares de professores a fazer greve.

Reparem que eu não mencionei o congelamento das carreiras, a diminuição dos salários, a perda efetiva dos subsídios de férias e de Natal ou o aumento dos impostos, que tornaram também a vida dos professores e de outras profissões cada vez mais insustentável. Não referi estes argumentos porque compreendo que é preciso fazer sacrifícios que, infelizmente, punem com doses mortais a classe média e o operariado, os funcionários públicos e os reformados, mas parecem inócuos sobre os banqueiros e financeiros, sobre os administradores oportunistas e os políticos incompetentes que geriram várias empresas públicas e privadas e o país nos últimos anos, os quais, ao contrário dos grupos sociais sacrificados, parecem gozar de um estranho estatuto de inimputabilidade em toda esta crise.

Muitos dos que têm acesso diário privilegiado aos media e nos dizem – quantas vezes de barriga cheia – que sem austeridade o pais mergulharia no caos, não nos explicam como será o país depois da austeridade cega agora aplicada. Não nos dizem, por exemplo, que a austeridade também mata agora e, sobretudo, hipoteca o futuro. Como poderá sobreviver um país com uma taxa de desemprego geral (porque a dos jovens é superior) de 18% e que seguramente não vai parar de aumentar? O que restará deste país no futuro: com os jovens licenciados a emigrar, com os melhores cientistas jovens nacionais a encontrarem abrigo em universidades e empresas estrangeiras, com a população a envelhecer e a diminuir e o interior a despovoar-se a um ritmo suicida? O que restará deste país no futuro com uma escola pública constituída por professores velhos, cansados, esgotados, a braços com alunos provenientes de famílias que enfrentam graves problemas sociais e com executivos impotentes para gerir escolas babilónicas e, por isso, incapazes de impor uma política educativa humanista, exigente e de proximidade? O que restará deste país no futuro gerido por políticos histriónicos ou pardacentos, que apenas estão interessados em governar o presente e pouco se preocupam em acautelar o futuro? O que restará deste país no futuro, quando já não existir futuro?!…

Luís Filipe Torgal
 
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por V1rotate » 13/6/2013 16:08

No conjunto dos docentes de um Agrupamento de Escolas, 10% são muito bons e dedicados, 80% são medianos, cumprem a sua função, e depois temos outros 10% que não valem um chavo.

Provavelmente a tua mulher pertence ao grupo dos 10% dedicados, deve ter alguma direção de turma, e/ou outros cargos, mas os restantes 90% não são assim, acredita ;)
 
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Re: professores vs alunos

por JMHP » 13/6/2013 16:06

artista Escreveu:
Demonstram um desconhecimento total do que estão a falar... se repararem, aqui no forum (aqui ou em outro lado), nunca falei de assuntos que não conheço bem, se encontrarem algum caso que desminta o que disse podem colocá-lo aqui! Se calhar deviam fazer o mesmo...

Eu por mim acabei a minha participação no debate... há pessoas que não sabem, não querem saber, mas têm ideias formadas sobre os assuntos e defenden-nas como se conhecessem alguma coisa do que estão a falar!


Oh Artista, não desesperes. Afinal de uma maneira geral este habito de falar e discutir de coisas que ignoramos é muito nosso, muito português.

Não somente na Educação, mas em todos os outros sectores da nossa sociedade em que o caso mais pragmático acontece com a politica e economia.

Todos parecem saber do que discutem depois de ler uns sites e uns quantos artigos na net, com base nisso criticam por vezes ferozmente, quem actua no terreno e tem as responsabilidades de executar e decidir.

Quanto aos professores apenas digo o mesmo que considero para outras classes de funcionários do Estado que se consideram injustiça-das pela opinião publica... O maior responsável pela vossa situação são vocês mesmo, afinal de contas cabe à vossa classe a responsabilidade de honrar e valorizar a vossa profissão. Se ao fim de 40 anos de permanente luta e greves, não estão bem e sentem-se mal amados, não será por mera coincidência que hoje são olhados com desconfiança pela sociedade.

Apenas um mero conselho pessoal: Deixem-se de complexos, libertem-se dessa ideologia de guerra de classes e permanente insatisfação, aceitem os desafios e procurem a qualidade de serviço dentro dos meios disponíveis, não tenham medo em procurar alternativas e apresentar soluções para um melhor ensino para além das questões habituais dos direitos e financeiras.

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nota-se!!!!

por frigas » 13/6/2013 15:59

V1rotate Escreveu:Tudo o que eu disse é mentira??

Infelizmente é uma realidade que eu conheço muito bem ;)


Nota-se pelos seus comentários que conhece bem...a realidade, mas só a sua, porque da dos outros sabe "zero"..

Eu trabalho sábados , domingos e feriados, e não tenho horário das 8h às 17h....mas não trocava o meu emprego com o da minha mulher..garanto!!!
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