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Caldeirão da Bolsa

Alguém sabe como se fixa um valor de contrato de swaps?

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por PMACS » 26/4/2013 18:24

Foi noticiado em alguma imprensa, que alguns destes Swaps estavam sujeitos á evolução da cotação do petróleo!
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― Confucius
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por VirtuaGod » 26/4/2013 18:22

K. Escreveu:Os gestores de algumas empresas parecem ter caido no conto do vigario dos vendedores de produtos estruturados, e em vez de fazer um Swap fizeram contratos que incluem opcoes dependentes da trajectoria das taxas de juro.[...]este episodio tem o aroma caracteristico dos produtos estruturados.


True... o problema é que está gerado uma situação de desinformação já habitual nos últimos anos no que diz respeito a produtos financeiros. Pelo que ouvi tb eram produtos estruturados, semelhantes ao que referes (ou até piores). O que de Swap só tem o nome. Foram Produtos Financeiros Complexos com caracter especulativo e não de hedging. E nem se tratou de

Cem pt Escreveu:parece que houve gestores de empresas públicas (o dinheiro não é deles!) que simplesmente, para além das operações de cobertura do risco das taxas de juro, compraram “swaps” adicionais para efeitos meramente especulativos


embora não duvide que isso tb tenha acontecido o cerne da questão era que os produtos vendidos não eram Swaps "Plain Vanilla" mas sim estruturados disfarçados de swaps que mais parecem apostas especulativas!

P.S. E eu fico sempre triste quando um bom produto financeiro tem o nome completamente arrastado pela lama quando jornalistas e população não conhece o conceito de hedging e estamos num ponto em que se alguém bem intencionado fosse apresentar um swap para hedging da Euribor (que está como sabemos em valores mínimos) a uma empresa devia sair de lá com umas marcas de chicote :cry:
Editado pela última vez por VirtuaGod em 26/4/2013 18:27, num total de 1 vez.
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por K. » 26/4/2013 18:19

Ha no entanto a possibilidade de recorrer aos tribunais e este episodio esta de certeza relacionado com as recentes nopticias sobre a restricao de venda de produtos complexos, que neste momento sao vendidos em balcoes de qualquer banco de retalho, a investidores sem perfil de risco nem capital apropriado.

Varias decisoes de tribunais na Europa tem contra os emissores dos produtos complexos. Neste caso tratam-se de empresas publicas. Se os produtos tinham de facto opcoes sobre taxas de juro, vai ser possivel arrastar o caso em tribunais varios anos, ou mesmo tornar o pagamento impossivel.

A prioridade para o governo no curto prazo vai ser evitar que estes valores sejam incluidos nas contas publicas. Sobre como o vao fazer, ja e demasiada especulacao para mim...
 
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por Berafo » 26/4/2013 18:19

Tão grave como a especulação, foi não agir no momento em que se percebeu que os contratos iriam ser ruinosos.

Se bem me lembro por essa altura (julgo que entre 2006 e 2008), antes de estoirar a "crise" era praticamente um dado adquirido que as taxas de juro deviriam ir visitar os 5%, 6%. Logo tornou-se apetecivel fazer estes contratos para garantir um pricing dos juros muito bom comparativamente com as expetativas.

O problema é que com a crise do subprime os juros vieram para 1%, e com isso a virou-se o feitiço contra o feiticeiro. Passaram a pagar bem mais do que deviam.
 
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por K. » 26/4/2013 18:11

Viva Cem,

nos jornais falam de Swaps, mas pelo que tenho ouvido, trata-se de algo bem mais complexo do que isso.

Os gestores de algumas empresas parecem ter caido no conto do vigario dos vendedores de produtos estruturados, e em vez de fazer um Swap fizeram contratos que incluem opcoes dependentes da trajectoria das taxas de juro.

Um exemplo de um produto estruturado deste tipo, envolvendo opcoes binarias seria o seguinte:

Supondo uma taxa Euribor em 2008 de 4%, um produto simples de fazer com uma opcao sobre taxas de juro do tipo binaria com um preco de exercicio em 1% seria algo do tipo:

"Emprestimo com taxa fixa garantida de 3% a menos que a Euribor esteja abaixo de 1%, caso em que a taxa fixa passaria para 10%"

Repare-se no efeito de cosmetica financeira do produto acima: Estando a empresa a proteger-se de uma subida de taxas de juro, numa altura em que as mesmas estao a 4%, aparece um vendedor habilidoso da Goldman Sachs (so para dar um exemplo) a garantir uma taxa mais baixa do que a actual, condicionada a uma hipotese que em teoria seria impossivel, pois a Euribor nunca tinha estado abaixo de 2%, como haveria de baixar do 1%?

Acontece que a Euribor esta abaixo de 1% ha bastante tempo...


Ha outras variantes possiveis, por exemplo, com a obrigacao do pagamento de um premio, e isto pode de facto levar a perdas de dimensao incontrolavel.

Vamos ver o que de facto aconteceu. Custa-me a acreditar em perdas de 3 mil milhoes com Swaps, e este episodio tem o aroma caracteristico dos produtos estruturados.

Um abraco,

K.
 
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por MarcoAntonio » 26/4/2013 18:06

habanero04 Escreveu:O problema é as taxas estarem baixas, porque se estivessem altas ninguém se preocupava com isso...


As taxas estarem baixas e existir uma grave crise de dívida soberana.

Mas isso não é razão para minimizar a questão. Se este é o pretexto, ou o catalizador, para fazer aquilo que já se devia ter feito há muito, que seja.

O que está aqui em causa é a especulação com dinheiros públicos, o que certamente não foi realizado com o total desconhecimento - e sem o óbvio aproveitamento - das contrapartes privadas que possibilitaram o negócio.

Na minha opinião, isto ultrapassa o campo da mera má gestão - ou gestão danosa - para entrar no campo da alta corrupção (os sintomas estão pelo menos lá).



Vamos ver o que sai daqui, mas esta é uma das muitas que estamos a pagar. E esta é mais uma onde a Banca, que volta que meia volta tanto se "queixa", está longe de sair com folha limpa, seja qual for o resultado final dos processos...

:?
Editado pela última vez por MarcoAntonio em 26/4/2013 18:22, num total de 1 vez.
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por pepi » 26/4/2013 17:41

AmigosdaBolsa Escreveu:Muito obrigado pelo esclarecimento Cem!!!
Um tópico muito oportuno. Posto isto tenho apenas uma questão nesta frase "...que simplesmente, para além das operações de cobertura do risco das taxas de juro, compraram “swaps” adicionais para efeitos meramente especulativos,..." não percebi a parte "...compraram "swaps" adicionais para efeitos meramente especulativos..." Podes ajudar?


Imagina que precisas de 100 M€ para financiar um projecto... mas em vez de contratares um swap sobre 100 M€, contratasses sobre 1.000 M€?!

Foi +/- isto que me contataram, mas estou a especular... aguardo com expectativa a comissão de inquérito.

Isto tem que dar prisão!

PS - Parabéns Cem pelo post!
 
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por Ulisses Pereira » 26/4/2013 17:38

AmigosdaBolsa, a questão aqui é que - ao que parece - umas empresas públicas contratualizaram os swaps de forma a servirem apenas na cobertura de risco da variação das taxas de juro (tal como o Cem referiu, uma medida economicamente racional e bem previdente), enquanto outros terão ido para lá desse valor, fazendo com que deixássemos de estar numa perspectiva de cobertura de risco ("Hedging") e sim na base da especulação.

Um abraço,
Ulisses
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por AmigosdaBolsa » 26/4/2013 17:33

Muito obrigado pelo esclarecimento Cem!!!
Um tópico muito oportuno. Posto isto tenho apenas uma questão nesta frase "...que simplesmente, para além das operações de cobertura do risco das taxas de juro, compraram “swaps” adicionais para efeitos meramente especulativos,..." não percebi a parte "...compraram "swaps" adicionais para efeitos meramente especulativos..." Podes ajudar?
 
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por habanero04 » 26/4/2013 17:31

O problema é as taxas estarem baixas, porque se estivessem altas ninguém se preocupava com isso...
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por Ulisses Pereira » 26/4/2013 17:19

5 estrelas o teu post, Cem.

Um abraço,
Ulisses
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Alguém sabe como se fixa um valor de contrato de swaps?

por Cem pt » 26/4/2013 17:01

Tenho visto recentemente muitos artigos na nossa imprensa sobre o tema dos “swaps”.

Provavelmente muita gente não saberá como aparecem, como funcionam e como são fixados os seus valores e, finalmente, como são contratados.

Uma vez que particularmente estive envolvido ao nível mais elevado na coordenação de vários negócios de PPP quando estive à frente do setor de “Project Finance” pelo lado dos investidores privados a negociar com o Estado e com a Banca algumas concessões no setor rodoviário, em que este tema veio à baila, gostaria de deixar aqui algumas “nuances”.

1) Porque aparecem e como funcionam os “swaps” nos contratos de financiamento a longo prazo?

R: A razão é muito simples, os Bancos quando entram nos negócios das Concessões, para financiar em cada um deles umas centenas largas de milhões de Euros, representando cerca de 80% a 90% do total do investimento do custo da construção através da parcela dos capitais alheios, vão exigir que a totalidade dos riscos do negócio em que se vão envolver passe na totalidade para o lado da Concessionária.

Esta razão é a grande diferença entre o “Project Finance” e o “Corporate Finance”, no primeiro caso os Bancos emprestam a massa pela avaliação específica das potencialidades virtuosas do negócio e a única contrapartida que pedem é ficar com as ações da Concessionária, simples papel sem valor real que os Bancos devolvem aos acionistas da Concessionária quando todo o empréstimo da dívida sénior ficar pago pela totalidade.

No “Corporate Finance” funciona o esquema dum empréstimo bancário normal, o Banco empresta dinheiro contra o valor de uma garantia, que pode ser bancária desde que assumida por outro Banco de rating satisfatório ou hipoteca de casa ou terreno avaliado por montante idêntico ao empréstimo. Ou seja, no “Corporate Finance” a preocupação dos Bancos com o risco do cliente não pagar deixa de ser um problema porque em caso das coisas correrem mal aciona a garantia e parte do problema fica resolvido.

Voltando à vaca fria, no “Project Finance” os Bancos assumem unicamente o risco do negócio concessionário a longo prazo não lhes conseguir remunerar a totalidade do capital que injetaram à partida no negócio, passando tudo o que lhes cheire a risco para o lado da Concessionária e seus acionistas.

Os acionistas terão então de assumir o risco da construção, obrigando a que o valor do orçamento inicial do contrato de construção e expropriações seja cumprido (se os custos forem superiores os acionistas terão de pôr do seu bolso o restante para pagar o excedente da construção e expropriações reais finais), idem para os valores fixados nos contratos de O&M (Operação e Manutenção), nas futuras grandes reparações, nos futuros alargamentos de via (se a circulação exceder os limites legais de tráfego médio diário anual) e nos custos fixos correntes da Concessionária.

Os acionistas assumem ainda o risco de tráfego nas receitas a menos que venham a obter, se os estudos de tráfego estiverem mais otimistas que a realidade que se vier a verificar, pelo que nesta eventualidade os Bancos obrigam nos contratos de financiamento a que os acionistas lhes prestem garantias adicionais de capitais de contingência que os acionistas terão de desembolsar para pagar a dívida sénior dos Bancos se a receita de portagens for insuficiente para cobrir essa futura remuneração de capital e juros.

O que tem isto a ver com os “swaps”? Pois, até agora nada!

Há porém um risco, que ainda não referi, o qual os Bancos não querem correr e que está envolvido nos contratos de financiamento a longo prazo e de elevados valores, pelo qual obrigam a que os clientes façam uma espécie de seguro para evitar que as consequências da sua ocorrência possam impedir que os Bancos venham a receber mais tarde a totalidade do capital e juros que contrataram com as concessionárias. Qual? O risco do indexante do empréstimo, neste caso a Euribor, disparar para valores em que a Concessionária jamais conseguiria pagar as suas obrigações de amortização total do empréstimo durante o prazo da concessão, em geral cerca de 30 anos.

E se os clientes não quiserem assumir o risco dessa flutuação do indexante e baterem o pé que pretendem um empréstimo a taxa variável? Nesse caso os Bancos desinteressam-se do negócio e dizem aos acionistas que ponham eles a totalidade dos capitais, inviabilizando o negócio. Porquê? Porque não há acionistas interessados em assumir riscos de várias centenas de milhões de Euros com o seu próprio dinheiro, provavelmente nem o terão, para garantir uma TIR (Taxa Interna de Rentabilidade que remunera os capitais próprios dos acionistas) anualizada entre os 8% aos 12%. Se algo correr mal, seja no custo mal calculado da construção, um atraso superior a um ano com as consequentes multas e receitas de tráfego que deixam de cobrar, valores de expropriações bem acima dos previstos, tráfego 20% abaixo das previsões, enfim, qualquer destas razões associadas nem que seja apenas em 2 dos casos referidos seria suficiente para trazer as TIR a níveis de rentabilidade abaixo de zero!

Quando os Bancos fazem o seu “pricing” do risco deste tipo de negócio tradicionalmente assumem uma matriz de risco que é materializada por um valor de “spread” acima do indexante, por exemplo 350 “basis points” + Euribor para um empréstimo supostamente de 500 milhões de Euros a 25 anos e com um período de carência de 5 anos (nos primeiros 5 anos a concessionária não paga juros nem capital), o que significa que a taxa de juro a pagar seria o valor da Euribor + 3,50% a pagar entre o 6º e o 25º ano a contar do início da concessão.

O drama dos Bancos e da contraparte que pede o empréstimo é não saber como vai estar a taxa Euribor por exemplo daqui a 22 anos. Para evitar que este indexante esteja em níveis muito elevados que impediriam a concessionária de honrar os seus compromissos de pagamentos futuros, os Bancos evitam esse risco obrigando a que os clientes transformem a taxa variável (porque a Euribor varia) em taxa fixa.

2) Como são fixados os valores dos “swaps” nos contratos de financiamento?

R: Pegando no valor do exemplo que dei atrás, para um empréstimo a ser pago entre o 6º e o 25º ano, vai-se calcular o valor médio ponderado do centro de gravidade dos diversos “swaps” da Euribor, valores que são conhecidos no mercado interbancário, para o período considerado.

Por exemplo, à data de hoje teríamos um valor próximo de 1,70% para o caso em questão. Logo, para já e antes de firmar um contrato de “swap” temos que o valor da taxa anual de contratação do empréstimo bancário já iria neste caso em: valor da taxa Euribor a 6 meses, porque os pagamentos dos empréstimos são semestrais (à data de hoje valeria próximo de 0,32%) + 1,70% do “swap” válido para a totalidade do período entre o 6º e o 25º ano do empréstimo + 3,50% do “spread” do risco do negócio, para além de outras comissões intermédias bancárias menos relevantes que não vou aqui referir para não confundir mais esta explicação que se requer a mais transparente possível.

3) Como é contratado um “swap”?

Então não referimos tudo sobre o “swap”? Não! Se é um facto que os Bancos obrigam a que o seu cliente assuma o contrato de compra do “swap”, para cobrir o risco de grandes subidas futuras da Euribor, falta ainda saber quem lhe vai vender esse contrato, cobrando para isso uma comissão.

Ou seja, ao valor de mercado OTC do “swap” referido de 1,70%, digo OTC (“over the counter”, por não ser regulamentado) porque não é acessível ao público em geral, mas sim “cozinhado” para cada período específico como se fosse um produto à medida num alfaiate, os Bancos e os clientes conhecem à partida apenas o valor “justo” praticado no mercado interbancário naquele dia para o período que pretendem contratar, resta saber quem é a entidade que está disposta a assumir a contraparte do risco deste negócio na venda do “swap” à entidade concessionária.

Para saber quem vai vender o “swap” ao cliente existe um leilão.

Para esse leilão é feita uma convocatória / convite “online” para a totalidade dos Bancos que pretendam participar, indicando por exemplo que vai ser entre as 15h e as 17h TMG no site de negociação da CGD.

No final do período de ofertas às 17h TMG desse dia o Banco que oferecer a taxa mais baixa ganha o negócio da venda desse “swap”, vamos supor por exemplo que a UBS ganhou o direito de vender o contrato de “swap” de 1,70% para o financiamento a 25 anos de 500 milhões de Euros da Concessão XYZ pelo valor total de 0,15%/ano do empréstimo remanescente.

Em resumo, na realidade para eliminar o risco de subidas anormais do indexante Euribor nas futuras taxas de juro, o cliente neste caso teria de pagar de juros todos os anos sobre o capital remanescente pelo empréstimo dos 500 milhões de Euros, uma taxa acumulada de:
- “Spread” do risco do negócio = 3,50%
- Euribor 6M atual = 0,32%
- “Swap” = 1,70%
- Comissão de compra do “swap” = 0,15%

Espero com este “post” ter dado uma foto aproximada que não passa cá para fora para o público em geral do que se passa neste mundo misterioso dos grandes negócios no campo do “Project Finance”.

----------

No caso do exemplo fictício em questão tratou-se de uma operação pura de “hedging” financeiro para cobrir o risco de futuras subidas da Euribor a longo prazo, uma boa prática de gestão em financiamentos a longo prazo. Os custos desta operação de cobertura de risco das taxas de juro são convenientemente assumidos no caso base do modelo financeiro do negócio como custo futuro obrigatório da concessionária e desse modo o risco da flutuação futura da taxa Euribor 6M, seja para os Bancos que emprestam capitais alheios seja para os acionistas que têm de gerir os seus capitais próprios, fica totalmente assegurado.

Por aquilo que alguns órgãos de informação têm referido parece que houve gestores de empresas públicas (o dinheiro não é deles!) que simplesmente, para além das operações de cobertura do risco das taxas de juro, compraram “swaps” adicionais para efeitos meramente especulativos, o que obviamente é condenável porque colocam em risco as empresas perante valores de obrigação de pagamentos acrescidos absurdos, que só seriam compensadores se os pudessem vender ainda num estágio cedo da sua maturidade, e durante a sua vigência, no mercado OTC por uma taxa superior de "swap" em relação à que foi negociada na compra.

Se para um especulador já é difícil adivinhar ou prever o que se pode passar daqui a poucas semanas ou meses, dar um tiro no escuro a várias dezenas de anos de distância num mercado obscuro manobrado pelos grandes Bancos é realmente jogar na roleta russa.

Mas enfim, há malucos para tudo e no final cá estaremos nós mais uma vez, os contribuintes, a pagar com os nossos impostos mais estas irresponsabilidades de alguns gestores públicos que nunca na vida serão chamados a assumir pessoalmente eventuais perdas!
Editado pela última vez por Cem pt em 27/4/2013 0:00, num total de 4 vezes.
O autor não assume responsabilidades por acções tomadas por quem quer que seja nem providencia conselhos de investimento. O autor não faz promessas nem oferece garantias nem sugestões, limita-se a transmitir a sua opinião pessoal. Cada um assume os seus riscos, incluindo os que possam resultar em perdas.


Citações que me assentam bem:


Sucesso é a habilidade de ir de falhanço em falhanço sem perda de entusiasmo – Winston Churchill

Há milhões de maneiras de ganhar dinheiro nos mercados. O problema é que é muito difícil encontrá-las - Jack Schwager

No soy monedita de oro pa caerle bien a todos - Hugo Chávez


O day trader trabalha para se ajustar ao mercado. O mercado trabalha para o trend trader! - Jay Brown / Commodity Research Bureau
 
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