Outros sites Medialivre
Caldeirão da Bolsa

OT - Alimente esta ideia

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por rmachado » 3/12/2012 14:25

paulop2009 Escreveu:Aqui fica uma perspectiva diferente e disruptiva sobre estas campanhas do Banco Alimentar. É que, feitas as contas, elas não são assim tão "fundamentais" pois valem apenas 10% do bolo que o Banco Alimentar distribui.

As declarações (muito infelizes) da Isabel Jonet sobre "os bifes" levaram a que se fizesse contas àquilo que verdadeiramente alimenta o banco alimentar: uma excelente cadeia logística de aproveitamento de "sobras".

http://bancocorrido.blogspot.com/2012/11/o-core-business-do-banco-alimentar-e.html

O core business do Banco Alimentar é evitar que se deteriorem os bifes que não comemos enquanto a carne é fresca

Em 2011 as campanhas de recolha em supermercados contribuiram apenas com 10% do valor dos produtos recolhidos pelo Banco Alimentar de Lisboa. A indústria agro-alimentar, reciclando os seus excedentes, doou 43%. A reciclagem de excedentes da UE contribuiu com 22%. O Mercado Abastecedor da Região de Lisboa (de novo, os excedentes) doou 11%. As retiradas de fruta pelo IFAP (ainda os excedentes) renderam 6%. Ou seja, ao todo, o escoamento de excedentes correspondeu a 82% do valor dos produtos distribuídos.
O Banco Alimentar precisa das campanhas de recolha em supermercados por boas razões de marketing e ao fazê-lo mantém ocupados os escuteiros e toda a rede de voluntários ligada à Igreja Católica, que enquanto estão à porta dos supermercados a estender-nos os saquinhos estão a contribuir à sua maneira para o bem comum e a ajudar-nos a - como em todos os actos de caridade - aliviar as consciências sem resolver nenhum problema estrutural.
Espero que sejam bem-aventurados os que contribuem nestas campanhas (eu costumo contribuir), mas não tenhams dúvidas de que core business do Banco Alimentar não é a nossa caridade, é evitar o escândalo da destruição de produtos alimentares no nosso país e na nossa Europa. É evitar que se deteriorem os bifes que não comemos enquanto a carne é fresca.
O Banco Alimentar faz de uma forma sofisticada e elegante o interface entre a oferta e a procura de alimentos que encontramos por vezes, de forma repugnante e brutal, à porta dos supermercados ou nos caixotes do lixo das nossas ruas.
Este tipo de instituições ocupa um lugar importante dado que, se parasse, simplesmente seriam destruídos mais alimentos e haveria mais alimentos à porta dos supermercados e no lixo com prejuízo para todos. A senhora Jonet dedica-se essencialmente à gestão de uma estrutura logística sem fins lucrativos de reciclagem das ineficiências da produção e da distribuição alimentar. O que comanda a sua actividade é a oferta (a disponibilidade) e não a procura (a necessidade).
Por isso, pessoalmente pouco me importa o que a senhora Jonet pensa da pobreza desde que gira a sua plataforma logística de modo a que os produtos sejam utilizados e distribuídos com equidade, mesmo se vão cair predominantemente numa rede confessional de distribuição. Mais vale a distribuição imperfeita do que a destruição perfeita.
Compreendo a irritação dos que se fartaram de enaltecer a senhora como campeã que nunca foi da luta contra a pobreza e penso que deveria arrepender-se os que acharam que a sua acção era promotora dos direitos humanos. Mereceria um prémio de São Vicente de Paula, mas uma distinção por direitos humanos da Assembleia da República? Que Deus ilumine melhor no futuro o juízo das senhoras e senhores deputados.
Os que endeusaram a senhora e o Banco Alimentar sentem-se agora enganados. Mas o engano era deles e se a Senhora Jonet é uma gestora eficiente desta logística não a substituam por uma ineficiente. Podem não querer dar para o Banco Alimentar este ano, mas esse é um assunto entre vós e as vossas boas consciências, que pouco beliscará a acção do Banco.
Por mim, prefiro dedicar a minha energia a perguntar-me o que posso fazer para que diminua este tipo de procura de bens alimentares enquanto a senhora Jonet escoa a oferta.


Acho bem que alguém apresente estas "contas", que de resto são públicas o que já por si é um sinal claro de transparência.

Acho tb alguma piada a crónica pq parece que quase culpa a Isable Jonet pelo fato de existirem excedentes, e que se o BA não existisse possivelmente iam... para o lixo, o que é ao que parece muito melhor depois de ler o texto.

É tb interessante dizer que "prefiro dedicar a minha energia a perguntar-me o que posso fazer para que diminua este tipo de procura de bens", mas se o raça da natureza assim de repente permite um excesso de fruta, o que se faz com ela? Ou de peixe? Ou de outro bem alimentar?
É que por muito que se faça para minimizar a procura de bens, excedentes existem sempre e sendo assim o que fazer?

Ps - E já agora onde gasta o autor a sua energia?
 
Mensagens: 2125
Registado: 24/8/2004 10:42
Localização: Carregado

por Lion_Heart » 3/12/2012 13:30

Foi uma boa campanha sem duvida e eu contribui como sempre.

Saliento apenas duas questões importantes:

A Isabel Jonet ainda não se ter demitido.

O Estado ladrão cobrar Iva nestas campanhas.
" Richard's prowess and courage in battle earned him the nickname Coeur De Lion ("heart of the lion")"

Lion_Heart
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 7051
Registado: 6/11/2002 22:32
Localização: Toquio

por Quimporta » 3/12/2012 12:51

elreidom Escreveu:Quanto à recolha à porta dos supermercados, é uma iniciativa útil para os resultados das empresas de distribuição. Ou eles abdicam da margem de lucro? E também para o próprio orçamento de estado... ou há isenção de impostos?


As empresas de distribuição não abdicam desses lucros, mas colaboram com o BA noutros momentos.
Nas 2 campanhas anuais facilitam p. ex. a troca de produtos doados inúteis para o BA (tipo ovos, vinho, frescos). E doam o bastante do que se aproxima do fim da validade.
"In God we trust. Everyone else, bring data" - M Bloomberg
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 2121
Registado: 9/5/2009 18:57
Localização: Região Autónoma dos Tripeiros

por Heisenberg » 3/12/2012 12:23

paulop2009 Escreveu:Aqui fica uma perspectiva diferente e disruptiva sobre estas campanhas do Banco Alimentar. É que, feitas as contas, elas não são assim tão "fundamentais" pois valem apenas 10% do bolo que o Banco Alimentar distribui.

As declarações (muito infelizes) da Isabel Jonet sobre "os bifes" levaram a que se fizesse contas àquilo que verdadeiramente alimenta o banco alimentar: uma excelente cadeia logística de aproveitamento de "sobras".

http://bancocorrido.blogspot.com/2012/11/o-core-business-do-banco-alimentar-e.html

O core business do Banco Alimentar é evitar que se deteriorem os bifes que não comemos enquanto a carne é fresca

Em 2011 as campanhas de recolha em supermercados contribuiram apenas com 10% do valor dos produtos recolhidos pelo Banco Alimentar de Lisboa. A indústria agro-alimentar, reciclando os seus excedentes, doou 43%. A reciclagem de excedentes da UE contribuiu com 22%. O Mercado Abastecedor da Região de Lisboa (de novo, os excedentes) doou 11%. As retiradas de fruta pelo IFAP (ainda os excedentes) renderam 6%. Ou seja, ao todo, o escoamento de excedentes correspondeu a 82% do valor dos produtos distribuídos.
O Banco Alimentar precisa das campanhas de recolha em supermercados por boas razões de marketing e ao fazê-lo mantém ocupados os escuteiros e toda a rede de voluntários ligada à Igreja Católica, que enquanto estão à porta dos supermercados a estender-nos os saquinhos estão a contribuir à sua maneira para o bem comum e a ajudar-nos a - como em todos os actos de caridade - aliviar as consciências sem resolver nenhum problema estrutural.
Espero que sejam bem-aventurados os que contribuem nestas campanhas (eu costumo contribuir), mas não tenhams dúvidas de que core business do Banco Alimentar não é a nossa caridade, é evitar o escândalo da destruição de produtos alimentares no nosso país e na nossa Europa. É evitar que se deteriorem os bifes que não comemos enquanto a carne é fresca.


Não sabia disto (nunca procurei informação), mas o facto de haver tão grande recolha de excedentes só me faz aplaudir o trabalho desta instituição e da sua presidente.

Quanto à recolha à porta dos supermercados, é uma iniciativa útil para os resultados das empresas de distribuição. Ou eles abdicam da margem de lucro? E também para o próprio orçamento de estado... ou há isenção de impostos? Preferia que não houvesse estes "grandes" a comer a fatia gorda daquilo que o povo dá com boa intenção. É que assim podia-se dar bem mais.
 
Mensagens: 357
Registado: 2/9/2011 12:01
Localização: 14

por Quimporta » 3/12/2012 11:57

A prova de que Portugal pode ser "um País pobre", mas não é "um pobre País".

Não acredito que esta mobilização seja uma resposta a coisa alguma do que se passou recentemente.
É apenas um resultado em linha com o que se tem sempre passado em anos anteriores, da conjugação de duas coisas: uma boa e bem gerida iniciativa, com o espírito solidário de muita, muita gente.

Como tópico de reflexão deixo uma pergunta: quanto gastaria o Estado dos impostos dos Portugueses para montar operação como esta?
Quanto custa pagar a 38 500 pessoas? Mais ao Presidente (provavelmente do calibre dos "da Misericórdia"), uns 3 vice-presidentes (no mínimo), etc, e as quase 3 000 toneladas de alimentos?

Isto se (um grande "SE") o Estado soubesse cumprir bem a sua missão, o que se fosse o caso, obviamente, não haveriam Bancos Alimentares.


Bancos Alimentares recolheram 2914 toneladas no fim-de-semana


"É extraordinário ver a adesão dos portugueses", disse Isabel Jonet, presidente da Federação Portuguesa de Bancos Alimentares Contra a Fome.

A campanha decorreu no sábado e domingo, nos supermercados do país, com o objetivo de recolher alimentos essenciais para pessoas carenciadas, nomeadamente farinha, leite, arroz, massa, óleo, azeite e vários tipos de enlatados.

Cerca de 38500 voluntários do continente e ilhas foram mobilizados para esta operação de recolha de alimentos em mais de 1600 estabelecimentos comerciais.

"Essas quantidades agora recolhidas e o número de portugueses que quiseram colaborar mostram bem como os portugueses são solidários, numa resposta clara de inconformismo e disponibilidade para ajudar a minorar carências e dificuldades daqueles que mais precisam", indicou a responsável.

De acordo com o Banco Alimentar, as 2914 toneladas de alimentos recolhidas serão distribuídas a partir da próxima semana a 2373 instituições de solidariedade social, para entrega a cerca de 373 mil pessoas carenciadas.

(...)

In: Jornal de Notícias.
"In God we trust. Everyone else, bring data" - M Bloomberg
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 2121
Registado: 9/5/2009 18:57
Localização: Região Autónoma dos Tripeiros

por Tridion » 1/12/2012 12:14

AutoMech alguns produtos de marca branca não são feitos em Portugal, por isso já que é para ser solidário que tal comprar produtos portugueses, mesmo que isso signifique mais algum dinheiro gasto, e dá-los ao banco alimentar. O valor em cadeia será maior.

No ano passado quando a Sicasal ardeu, e o dono disse que não despedia ninguém, só comprei salsichas sicasal para o BA. Assim não ajudei só aqueles que utilizam o BA, mesmo que essa opção me tenha custado mais um pouco.
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 1352
Registado: 13/5/2010 17:53
Localização: Lx

por Automech » 1/12/2012 0:04

Deixo aqui uma sugestão aos que vão contribuir: se comprarem produtos que estão com 75% de desconto no continente conseguem, com o mesmo valor, comprar bastante mais quantidade (OK, só recebem o dinheiro mais tarde em cartão, mas ainda assim vale a pena).
http://folhetos.continente.pt/online/20 ... Desconto2/

Aliás, uma coisa a que devia ser dada mais ênfase pelo próprio BA é na escolha dos produtos mais baratos. Para alguém que tem fome 1Kg de arroz é 1Kg de arroz. Tanto dá ser da marca E (0.74€) ou marca Cigala (1.15€). E com o mesmo valor de donativo, consegue-se alimentar mais pessoas.

E, note-se, não pensem que digo isto por achar que, "ah e tal, como são pobres comem qualquer coisa". Não. Digo isto porque eu próprio compro muitas marcas brancas cuja qualidade é excelente.

Uma coisa que acho deplorável, por exemplo, é o Continente convidar as pessoas a fazer doações para a Casa do Gil e depois apresentar marcas caríssimas. Por exemplo 1Kg de arroz para a Casa do Gil a 1,42€ quando têm o arroz marca E a 0,74€:
http://www.continente.pt/ProductDetailM ... ageIndex=1
Com o preço de 1Kg a pessoa comprava 2Kg

Aliás, muitos dos produtos dessa promoção do Continente / Casa do Gil são francamente muito mais caros do que os das marcas brancas.
http://www.continente.pt/CampaignSelect ... h=_Actuais

O Continente, neste aspecto específico, está a prestar um muito mau serviço à solidariedade e à própria Casa do Gil (mesmo que contribua, depois, de outra forma).
No man is rich enough to buy back his past - Oscar Wilde
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 9360
Registado: 4/6/2010 12:12
Localização: 16

por MAV8 » 30/11/2012 18:27

Razao_Pura Escreveu:Cada um por si e cada um por todos. Todos nós podemos fazer algo, ajudar quem está próximo. O Estado é o paizinho de todos mas não nos demitamos também nós, individuos, da nossa responsabilidade individual para com a sociedade, para com o próximo, para com os mais fracos ou enfraquecidos, só porque pagamos impostos e delegamos no Estado Social a nossa função societária.
Solidariedade pode ter muitas formas mas a mais gratificante é aquela em que agimos em nome próprio para ajudar alguém com quem nos cruzamos.

http://www.noticiasaominuto.com/mundo/24717/par-de-botas-torna-her%c3%b3i-um-pol%c3%adcia-de-nova-iorque

RP


Concordo com a ideia de ajudar o próximo - e os próximos são os meus familiares, amigos, vizinhos, se estes estiverem bem eu estarei bem também - quanto a doações para quem não conheço peço desculpa mas não faço, são demasiadas pessoas a viver indevidamente das doações que deveriam chegar aos verdadeiramente necessitados...

...Solidariedade a desconhecidos já faço sempre que pago impostos e segurança social - sistemas solidários - espero que quando chegar a minha vez sejam solidários comigo também, apesar de duvidar que venha a acontecer!
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 1894
Registado: 10/11/2006 10:43
Localização: Leiria

por A330-300 » 30/11/2012 18:21

Aí é que está.

Uns discutem se vão dar alguma coisa por causa do que disse a Isabel Jonet. Outros nunca dão nada.Outros dão só durante as campanhas.E alguns anónimos persistentes vão colaborando o ano todo, provendo o que é possível entre as campanhas. Afinal , fome e frio não se tem só duas vezes por ano.

Estamos a fazer muito em colaborar? Não , muito pouco.Muito pouco mesmo. Para que se tenha uma idéia, meia tonelada de comida para fazer sopas custa aproximadamente 200 euros.Estamos a falar de meia tonelada! Cebola,batatas,feijão,cenouras, azeite,curgetes,abóbora, alho francês,outros ingredientes, temperos e bananas para a sobremesa. Esta meia tonelada rende aproximadamente 1000 a 1100 sopas em um pote que leva quase 1 litro.

Demonstrados os ingredientes e valores , é com tranquilidade que digo que é muito fácil colaborar com 1 kg de qualquer coisa.Se for batatas não chega a 1 euro. Se todos colaborassem com 1 kg por semana acabava-se com muito sofrimento.

Não se engane nem se orgulhe quem colabora a pensar que está a fazer muito , porque a simples entrega de mantimentos é barata.Custa pouco dinheiro e pouco tempo.

Qual é a parte cara? O tempo. Tempo é vida.E é deste bem que a maioria das instituições carece.Falta voluntários para trabalhar.Falta regularidade nas contribuições e no trabalho.

É certo que as duas contribuições muitas vezes se complementam.Uns entram com a matéria prima e outros com a mão de obra.
Mas não há dúvida que tem muito mais valor aqueles que colaboram com tempo(vida) do que aqueles que colaboram com bens. Os primeiros fazem a verdadeira caridade , os outros , não fazem mais do que a sua obrigação.

A330
Editado pela última vez por A330-300 em 30/11/2012 20:09, num total de 1 vez.
 
Mensagens: 1503
Registado: 30/1/2005 12:51
Localização: Lx

por Razao_Pura » 30/11/2012 17:44

Cada um por si e cada um por todos. Todos nós podemos fazer algo, ajudar quem está próximo. O Estado é o paizinho de todos mas não nos demitamos também nós, individuos, da nossa responsabilidade individual para com a sociedade, para com o próximo, para com os mais fracos ou enfraquecidos, só porque pagamos impostos e delegamos no Estado Social a nossa função societária.
Solidariedade pode ter muitas formas mas a mais gratificante é aquela em que agimos em nome próprio para ajudar alguém com quem nos cruzamos.

http://www.noticiasaominuto.com/mundo/24717/par-de-botas-torna-her%c3%b3i-um-pol%c3%adcia-de-nova-iorque

RP
Trade the trend.
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 1673
Registado: 5/11/2002 19:00
Localização: 24

por Pata-Hari » 30/11/2012 14:26

Do Pedro Santos Guerreiro

Cada um por si
30 Novembro 2012, 00:01 por Pedro Santos Guerreiro | psg@negocios.pt


Como é que se redefine as funções do Estado, Celmira? Como se gera emprego feminino, Raquel? Como se alimenta pobres, Henrique? Como não se alimenta a pobreza, Miguel? Lasalete, como se gere a classe média que deixou de o ser?
Celmira Macedo (Leque), Raquel Santiago (Marias), Henrique Joaquim (Vida e Paz), Miguel Neves (Albergues Nocturnos) e Lasalete Piedade (Coração da Cidade) são algumas das pessoas com quem falámos nesta edição especial. Eles são empreendedores sociais. Têm muito a ensinar. Sobre as suas organizações. Sobre uma atitude.

Uma sociedade civil fraca vive numa cilada: pendura as suas responsabilidades no Estado ao mesmo tempo que é incapaz de exigir que ele saiba exercê-las melhor. Mas na sociedade civil fraca que somos há forças que contrariam esse vício, o da delegação das respostas e até das próprias perguntas. Olhemos além do Estado. Olhemos além das instituições consagradas e (justamente) já muito difundidas.

Nos movimentos bruscos e brutos que a sociedade portuguesa vive, a assistência à pobreza é uma "função do Estado" irremovível. Mas há também uma obrigação das empresas. Não é marketing. É Obrigação. Dever. Responsabilidade. E é investimento.

É preciso dar sacos cheios na campanha de Natal do Banco Alimentar Contra a Fome - dar o peixe. Mas é preciso também apoiar as instituições que trabalham para tirar pessoas da pobreza - dar a cana. Há projectos espantosos para quebrar o ciclo de pobreza. Quer ver?

Como se combate a auto-exclusão de crianças na escola? Com Beethoven. É o que faz a Orquestra Geração, que inventou um modelo de integração através da intervenção artística. Não é um concurso de talentos, é uma forma de agir comportamental que levou mais de 130 crianças a ir às aulas. O mesmo faz a Fundação Benfica, que não se limita a pôr miúdos desintegrados a dar chutos numa bola: integra professores, premeia a escolaridade subsequente. E tem resultados.

Quem contrata alguém com dentes podres? Parece uma pergunta estúpida. A resposta é chocante: um inquérito a directores de Recursos Humanos mostrou que poucos o fariam. É por isso que os Dentistas do Bem, em que 400 dentistas voluntários dão tratamento gratuito até à idade adulta, resolvem um problema de... empregabilidade. São já mais de mil as crianças em tratamento. E 400 heróis. Como heróis há entre os Doutores Palhaços e na Fundação Gil, que intervêm no campo da saúde infantil e na humanização do espaço hospitalar.

As melhores invenções sociais não estão em tecnologias revolucionárias, mas em recursos já existentes dotados de organização e de liderança. Sim, isso mesmo: gestão. Economia. Empreendedorismo. Investimento. Social.

Há coisas a mudar nesta sociedade que quer deixar de ser fraca. A própria forma como a comunicação social trata o assunto mostra uma cultura jornalística diferente. Não basta comovermo-nos, é preciso movermo-nos. É o caso, hoje, da parceria editorial entre o Negócios e Antena 1. Ou da revista Visão, que há uma semana publicou uma edição solidária. Ou do Jornal de Notícias, que este fim-de-semana dedicará a sua revista a empreendedores sociais.

Quando é que estes comportamentos se tornam endógenos? Aqui entra o Estado e as empresas. É preciso que o sector empresarial perceba que esta é a forma de intervenção que faz sentido, investindo dinheiro, mas também gestão, organização e inovação. E o Estado deve transportar estas boas práticas para as políticas públicas. Não custa mais dinheiro. Mas dá mais retorno.

A sociedade evolui remediando, mas também quebrando ciclos de pobreza. O Pedro e o Vítor têm um papel grande nisso, claro. Mas a Celmira, a Raquel, o Henrique, o Miguel e a Lasalete também. Pode dar-se e pode fazer-se. E isso também parte de nós. É parte de nós. Cada um de nós é parte da resposta. Cada por um si.



Avatar do Utilizador
Administrador Fórum
 
Mensagens: 20972
Registado: 25/10/2002 17:02
Localização: Lisboa

Re: Alimente esta ideia

por Camisa Roxa » 30/11/2012 13:26

Razao_Pura Escreveu:Bom Dia,

Gostava de deixar um apelo a todos para que, quem pode, faça um esforço de ajudar a alimentar quem passa fome. Especialmente as crianças filhos de pais desempregados a quem falta leite e carne para alimentar os filhos. Que mandam os filhos para a escola sem pequeno almoço e que não jantam.
Junto das Escolas e Centros de Dia, Junts de Freguesia informem-se de quem são as famílias mais carenciadas e ajudem-nos directamente com cabazes, com vales de hipemercado, com roupas quentes para o inverno. Criem redes de ajuda no vosso bairro....
Este ano que está a acabar não foi fácil, o que aí vem vai ser ainda mais difícil.
Sempre houve e vai haver pessoas carenciadas, sem abrigos, idosos abandonados. Mas nunca pensei chegar o dia em que a fome grassa no país de tal forma que as crianças não têm o que comer.
Um país que não cuida das suas crianças e dos seus velhos é um país fracassado como sociedade.

R.P.


Subscrevo!
Imagem
Free Minds and Free Markets
... forecasting exchange rates has a success rate no better than that of forecasting the outcome of a coin toss - Alan Greenspan (2004)
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 2475
Registado: 5/11/2002 11:27
Localização: Leiria

Alimente esta ideia

por Razao_Pura » 30/11/2012 13:09

Bom Dia,

Gostava de deixar um apelo a todos para que, quem pode, faça um esforço de ajudar a alimentar quem passa fome. Especialmente as crianças filhos de pais desempregados a quem falta leite e carne para alimentar os filhos. Que mandam os filhos para a escola sem pequeno almoço e que não jantam.
Junto das Escolas e Centros de Dia, Junts de Freguesia informem-se de quem são as famílias mais carenciadas e ajudem-nos directamente com cabazes, com vales de hipemercado, com roupas quentes para o inverno. Criem redes de ajuda no vosso bairro....
Este ano que está a acabar não foi fácil, o que aí vem vai ser ainda mais difícil.
Sempre houve e vai haver pessoas carenciadas, sem abrigos, idosos abandonados. Mas nunca pensei chegar o dia em que a fome grassa no país de tal forma que as crianças não têm o que comer.
Um país que não cuida das suas crianças e dos seus velhos é um país fracassado como sociedade.

R.P.
Trade the trend.
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 1673
Registado: 5/11/2002 19:00
Localização: 24

por Index70 » 30/11/2012 12:37

Eu vou participar, como faço sempre(neste caso não me interessam as politicas/ideológias ou opiniões sempre prontas a colocar defeitos ou virtudes em tudo o que é feito neste país).
Estou consciente de que o BA não é perfeito, mas muitas pessoas estariam pior se não existisse.
"O capitalismo é a exploração do homem pelo homem. O socialismo é o contrário." - Millôr Fernandes
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 7
Registado: 10/9/2012 20:33
Localização: 17

por paulop2009 » 30/11/2012 12:33

Camisa Roxa Escreveu:
paulop2009 Escreveu:Aqui fica uma perspectiva diferente e disruptiva sobre estas campanhas do Banco Alimentar. É que, feitas as contas, elas não são assim tão "fundamentais" pois valem apenas 10% do bolo que o Banco Alimentar distribui.

As declarações (muito infelizes) da Isabel Jonet sobre "os bifes" levaram a que se fizesse contas àquilo que verdadeiramente alimenta o banco alimentar: uma excelente cadeia logística de aproveitamento de "sobras".


esse post desse blogue é que é verdadeiramente infeliz!

Artigo de Gonçalo Portocarrero de Almada no Público do passado dia 26-11-2012.

OBVIAMENTE, DEMITA-SE!
Manifesto de um imaginário esquerdista ululante, presidente de um não menos imaginário Banco Alimentar a Favor da Fome

Sou a favor da demissão da Presidente do Banco Alimentar Contra a Fome pelas seguintes razões:

1º. Por causa do nome. Isabel é nome de rainha e, pior ainda, de santa: duas inconveniências numa só palavra! À frente de uma instituição social exige-se um nome laico e republicano. Em política, o que parece, é. Ainda por cima, a santa homónima fez o milagre errado: o que se quer é que as flores se convertam em pães, e não estes em rosas!

Se o nome próprio não ajuda, o apelido muito menos: Jonet! Soa francês e é parecido ao Junot, de tão má memória. Além disso, é queque, e os pobres precisam de pão e não de bolos. Uma estrangeirada não pode comandar uma legião de voluntários que, periodicamente, nos assalta à entrada dos supermercados. Os pobres querem francesinhas e não afrancesadas!

2º. Porque é presidente de um banco, ou seja, é banqueira! Portanto, faz parte da oligarquia que explora os pobres. Os bancos só ajudam quem não precisa e nunca serviram sopas aos pobres. Banqueira foi só uma, a do povo e mais nenhuma! E – note-se! – a D. Branca acabou na prisão! Nada de banco, a não ser o dos réus. O Banco Alimentar tem de passar a ser um sindicato e dar bifes, todos os dias, ao povo. Abaixo o Banco Alimentar e viva o Bitoque de Esquerda! Porque, afinal, se a banca é da direita, é da esquerda o monopólio do social.

3º. Porque fez umas declarações incríveis: foi à televisão dizer coisas sensatas e, pior ainda, verdadeiras! E se o governo dissesse toda a verdade sobre a crise, a oposição não prometesse o que sabe que não poderá dar e as centrais sindicais não aldrabassem sobre as greves?! Com verdades e bom senso não se vai a lado nenhum! Além disso, como muito bem explicou Orwell, a liberdade de pensamento e de expressão não servem para isso, nem são para todos!

4º. Porque é contra a fome. Mas um banqueiro não pode ser contra o dinheiro, nem a presidente do Banco Alimentar contra a fome! Até porque a fome é necessária: as revoluções fazem-se em jejum. Com a barriga farta, não há quem proteste! Os obesos não apedrejam polícias! As sopinhas do Banco Alimentar querem dar cabo da raiva proletária, em nome da resignação cristã, mas, com conformismo, fica entornado o caldo revolucionário. É preciso ler Marx – não o Groucho! – e aprender que o que faz falta é exasperar a malta, para que seja carne de canhão para a revolução.

5º. Porque é católica, o que é um insulto para a laicidade das instituições sociais. Há muito que os pobres foram nacionalizados, antes até dos bancos. Por sinal, capitães de Abril, porque raio é que o Alimentar ainda o não foi?! Já não há pobrezinhos paroquiais: agora são todos do Estado, são todos do povo, são nossos. Se a Igreja quer ter os seus próprios pobres, para promover bazares e canastas de senhoras bem, que os arranje à sua custa, mas os pobres nacionais não são de nenhuma religião, porque estão ao serviço das ambições políticas da esquerda! É que, se nos tiram os pobres, que nos resta?! Se já nem valores ou ideologia temos …

6º. Porque faz caridade. Para que, depois de um lauto banquete, já não lhe doa a consciência por ter comido à tripa forra, em uma hora, o que dava para alimentar, durante um mês, cem crianças. Mas esta caridade é a mordaça da hipocrisia que sufoca, na garganta do pobre, o grito da justiça. Quem quiser solidariedade social, que deixe de brincar à caridadezinha e pugne pelos direitos dos proletários. É verdade que o marxismo não trouxe a justiça social, nem encheu as barrigas dos explorados, mas encheu de arrogância moral uma certa esquerda que fez da pobreza, que não conhece senão como abstracção, a sua bandeira e a sua razão.

Concluindo e resumindo: que se demita a presidente do Banco Alimentar! Bem sei que, se o fizer, as dezenas de seus colaboradores, as centenas de voluntários, os milhares de dadores e as dezenas de milhares de pobres a quem ajuda, discreta e eficazmente, através de tantas instituições maioritariamente cristãs, ficarão a perder. Mas seria uma atitude muito politicamente correcta, que ganharia o aplauso de meia dúzia de sujeitos bem-pensantes, que nunca fizeram nada por quem tem fome.

Já agora … alimente esta ideia!


A tua intervenção é que está a "apatetar" a coisa. O que é muito infeliz também.

Nem eu nem o post do Paulo Pedroso se focam nas declarações da Jonet. Apenas refiro que essas declarações fizeram com que se debatesse o tema e se fizesse contas.

Acho que a Isbael Jonet é uma excelente gestora e lá deve continuar. Mas, que fique claro, as doações ao banco alimentar servem proporcionalmente mais aos corações dos dadores e á ocupação dos tempos livres dos escuteiros, do que servem às bocas dos pobres.
 
Mensagens: 858
Registado: 15/9/2010 15:02
Localização: 16

por Camisa Roxa » 30/11/2012 12:21

paulop2009 Escreveu:Aqui fica uma perspectiva diferente e disruptiva sobre estas campanhas do Banco Alimentar. É que, feitas as contas, elas não são assim tão "fundamentais" pois valem apenas 10% do bolo que o Banco Alimentar distribui.

As declarações (muito infelizes) da Isabel Jonet sobre "os bifes" levaram a que se fizesse contas àquilo que verdadeiramente alimenta o banco alimentar: uma excelente cadeia logística de aproveitamento de "sobras".


esse post desse blogue é que é verdadeiramente infeliz!

Artigo de Gonçalo Portocarrero de Almada no Público do passado dia 26-11-2012.

OBVIAMENTE, DEMITA-SE!
Manifesto de um imaginário esquerdista ululante, presidente de um não menos imaginário Banco Alimentar a Favor da Fome

Sou a favor da demissão da Presidente do Banco Alimentar Contra a Fome pelas seguintes razões:

1º. Por causa do nome. Isabel é nome de rainha e, pior ainda, de santa: duas inconveniências numa só palavra! À frente de uma instituição social exige-se um nome laico e republicano. Em política, o que parece, é. Ainda por cima, a santa homónima fez o milagre errado: o que se quer é que as flores se convertam em pães, e não estes em rosas!

Se o nome próprio não ajuda, o apelido muito menos: Jonet! Soa francês e é parecido ao Junot, de tão má memória. Além disso, é queque, e os pobres precisam de pão e não de bolos. Uma estrangeirada não pode comandar uma legião de voluntários que, periodicamente, nos assalta à entrada dos supermercados. Os pobres querem francesinhas e não afrancesadas!

2º. Porque é presidente de um banco, ou seja, é banqueira! Portanto, faz parte da oligarquia que explora os pobres. Os bancos só ajudam quem não precisa e nunca serviram sopas aos pobres. Banqueira foi só uma, a do povo e mais nenhuma! E – note-se! – a D. Branca acabou na prisão! Nada de banco, a não ser o dos réus. O Banco Alimentar tem de passar a ser um sindicato e dar bifes, todos os dias, ao povo. Abaixo o Banco Alimentar e viva o Bitoque de Esquerda! Porque, afinal, se a banca é da direita, é da esquerda o monopólio do social.

3º. Porque fez umas declarações incríveis: foi à televisão dizer coisas sensatas e, pior ainda, verdadeiras! E se o governo dissesse toda a verdade sobre a crise, a oposição não prometesse o que sabe que não poderá dar e as centrais sindicais não aldrabassem sobre as greves?! Com verdades e bom senso não se vai a lado nenhum! Além disso, como muito bem explicou Orwell, a liberdade de pensamento e de expressão não servem para isso, nem são para todos!

4º. Porque é contra a fome. Mas um banqueiro não pode ser contra o dinheiro, nem a presidente do Banco Alimentar contra a fome! Até porque a fome é necessária: as revoluções fazem-se em jejum. Com a barriga farta, não há quem proteste! Os obesos não apedrejam polícias! As sopinhas do Banco Alimentar querem dar cabo da raiva proletária, em nome da resignação cristã, mas, com conformismo, fica entornado o caldo revolucionário. É preciso ler Marx – não o Groucho! – e aprender que o que faz falta é exasperar a malta, para que seja carne de canhão para a revolução.

5º. Porque é católica, o que é um insulto para a laicidade das instituições sociais. Há muito que os pobres foram nacionalizados, antes até dos bancos. Por sinal, capitães de Abril, porque raio é que o Alimentar ainda o não foi?! Já não há pobrezinhos paroquiais: agora são todos do Estado, são todos do povo, são nossos. Se a Igreja quer ter os seus próprios pobres, para promover bazares e canastas de senhoras bem, que os arranje à sua custa, mas os pobres nacionais não são de nenhuma religião, porque estão ao serviço das ambições políticas da esquerda! É que, se nos tiram os pobres, que nos resta?! Se já nem valores ou ideologia temos …

6º. Porque faz caridade. Para que, depois de um lauto banquete, já não lhe doa a consciência por ter comido à tripa forra, em uma hora, o que dava para alimentar, durante um mês, cem crianças. Mas esta caridade é a mordaça da hipocrisia que sufoca, na garganta do pobre, o grito da justiça. Quem quiser solidariedade social, que deixe de brincar à caridadezinha e pugne pelos direitos dos proletários. É verdade que o marxismo não trouxe a justiça social, nem encheu as barrigas dos explorados, mas encheu de arrogância moral uma certa esquerda que fez da pobreza, que não conhece senão como abstracção, a sua bandeira e a sua razão.

Concluindo e resumindo: que se demita a presidente do Banco Alimentar! Bem sei que, se o fizer, as dezenas de seus colaboradores, as centenas de voluntários, os milhares de dadores e as dezenas de milhares de pobres a quem ajuda, discreta e eficazmente, através de tantas instituições maioritariamente cristãs, ficarão a perder. Mas seria uma atitude muito politicamente correcta, que ganharia o aplauso de meia dúzia de sujeitos bem-pensantes, que nunca fizeram nada por quem tem fome.

Já agora … alimente esta ideia!
Imagem
Free Minds and Free Markets
... forecasting exchange rates has a success rate no better than that of forecasting the outcome of a coin toss - Alan Greenspan (2004)
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 2475
Registado: 5/11/2002 11:27
Localização: Leiria

por paulop2009 » 30/11/2012 11:37

Aqui fica uma perspectiva diferente e disruptiva sobre estas campanhas do Banco Alimentar. É que, feitas as contas, elas não são assim tão "fundamentais" pois valem apenas 10% do bolo que o Banco Alimentar distribui.

As declarações (muito infelizes) da Isabel Jonet sobre "os bifes" levaram a que se fizesse contas àquilo que verdadeiramente alimenta o banco alimentar: uma excelente cadeia logística de aproveitamento de "sobras".

http://bancocorrido.blogspot.com/2012/11/o-core-business-do-banco-alimentar-e.html

O core business do Banco Alimentar é evitar que se deteriorem os bifes que não comemos enquanto a carne é fresca

Em 2011 as campanhas de recolha em supermercados contribuiram apenas com 10% do valor dos produtos recolhidos pelo Banco Alimentar de Lisboa. A indústria agro-alimentar, reciclando os seus excedentes, doou 43%. A reciclagem de excedentes da UE contribuiu com 22%. O Mercado Abastecedor da Região de Lisboa (de novo, os excedentes) doou 11%. As retiradas de fruta pelo IFAP (ainda os excedentes) renderam 6%. Ou seja, ao todo, o escoamento de excedentes correspondeu a 82% do valor dos produtos distribuídos.
O Banco Alimentar precisa das campanhas de recolha em supermercados por boas razões de marketing e ao fazê-lo mantém ocupados os escuteiros e toda a rede de voluntários ligada à Igreja Católica, que enquanto estão à porta dos supermercados a estender-nos os saquinhos estão a contribuir à sua maneira para o bem comum e a ajudar-nos a - como em todos os actos de caridade - aliviar as consciências sem resolver nenhum problema estrutural.
Espero que sejam bem-aventurados os que contribuem nestas campanhas (eu costumo contribuir), mas não tenhams dúvidas de que core business do Banco Alimentar não é a nossa caridade, é evitar o escândalo da destruição de produtos alimentares no nosso país e na nossa Europa. É evitar que se deteriorem os bifes que não comemos enquanto a carne é fresca.
O Banco Alimentar faz de uma forma sofisticada e elegante o interface entre a oferta e a procura de alimentos que encontramos por vezes, de forma repugnante e brutal, à porta dos supermercados ou nos caixotes do lixo das nossas ruas.
Este tipo de instituições ocupa um lugar importante dado que, se parasse, simplesmente seriam destruídos mais alimentos e haveria mais alimentos à porta dos supermercados e no lixo com prejuízo para todos. A senhora Jonet dedica-se essencialmente à gestão de uma estrutura logística sem fins lucrativos de reciclagem das ineficiências da produção e da distribuição alimentar. O que comanda a sua actividade é a oferta (a disponibilidade) e não a procura (a necessidade).
Por isso, pessoalmente pouco me importa o que a senhora Jonet pensa da pobreza desde que gira a sua plataforma logística de modo a que os produtos sejam utilizados e distribuídos com equidade, mesmo se vão cair predominantemente numa rede confessional de distribuição. Mais vale a distribuição imperfeita do que a destruição perfeita.
Compreendo a irritação dos que se fartaram de enaltecer a senhora como campeã que nunca foi da luta contra a pobreza e penso que deveria arrepender-se os que acharam que a sua acção era promotora dos direitos humanos. Mereceria um prémio de São Vicente de Paula, mas uma distinção por direitos humanos da Assembleia da República? Que Deus ilumine melhor no futuro o juízo das senhoras e senhores deputados.
Os que endeusaram a senhora e o Banco Alimentar sentem-se agora enganados. Mas o engano era deles e se a Senhora Jonet é uma gestora eficiente desta logística não a substituam por uma ineficiente. Podem não querer dar para o Banco Alimentar este ano, mas esse é um assunto entre vós e as vossas boas consciências, que pouco beliscará a acção do Banco.
Por mim, prefiro dedicar a minha energia a perguntar-me o que posso fazer para que diminua este tipo de procura de bens alimentares enquanto a senhora Jonet escoa a oferta.
 
Mensagens: 858
Registado: 15/9/2010 15:02
Localização: 16

OT - Alimente esta ideia

por Quimporta » 30/11/2012 9:47

Neste fim-de-semana decorrerá a segunda campanha anual de recolha de alimentos do Banco Alimentar Contra a Fome.

Mais do que nunca é fundamental o contributo possível de cada um, e os portugueses têm sido inexcedíveis no exemplo de generosidade, mesmo no meio da crise violentíssima que nos afeta.

A participação cívica numa missão como esta tem enormes virtualidades. O Banco Alimentar torna-se duas vezes por ano numa causa nacional a que muitos aderem com generosidade e entusiasmo, sem daí esperar qualquer benefício próprio.

É de novo altura de voltar a alimentar esta ideia.
Anexos
ba.jpg
ba.jpg (37.72 KiB) Visualizado 2041 vezes
"In God we trust. Everyone else, bring data" - M Bloomberg
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 2121
Registado: 9/5/2009 18:57
Localização: Região Autónoma dos Tripeiros


Quem está ligado:
Utilizadores a ver este Fórum: cali010201, Google [Bot], Kooc, latbal, nbms2012, PAULOJOAO, Shimazaki_2 e 397 visitantes