Artigos de Opinião do dia ...
Para mim o melhor artigo alguma vez escrito pelo PSG!!!



Não se negoceia com terroristas
20 Abril2011 | 11:32
Pedro Santos Guerreiro - psg@negocios.pt
Já esgotámos os adjectivos. Já percorremos substantivos. Sempre debalde: a farsa política continua. O FMI não está a negociar nada, está a entreter aqueles que julgam que têm poder. Mas já não têm. E, infelizmente, dizemos hoje: felizmente.
Hoje, o Governo vai apresentar a execução orçamental do primeiro trimestre. A melhor em muitos anos. Tão boa, aliás, que se a aplicasse a todo o ano, em 2011 teríamos superavit orçamental. Não um défice de 4,6%, como orçamentado; não um défice de 5,6%, como previu o FMI há poucas semanas, mas nada menos que superavit, lucro, mais receitas que despesas. Descobrimos a pedra filosofal!
A execução orçamental é tão boa que o Governo está a celebrá-la há quase uma semana, como um longo orgasmo tântrico. Mas será fingido? Não, não é fingido, mas é forçado. Porque esta consolidação orçamental levanta dúvidas. Não quanto ao composto de cortes drásticos a funcionários e serviços do Estado; mas quanto às contas que ficam por pagar.
O Orçamento do Estado tem uma certa alquimia: para o Tribunal de Contas, contam os compromissos; para Bruxelas, conta apenas o que se paga e recebe. Assim, basta um contabilista que acumule todas as facturas e nenhum dos recibos. Basta não pagar as contas e o défice melhora. Por pouco tempo, é claro. Mas só é preciso dois meses até às eleições. Dizê-lo não é ser cínico, é ter memória. Há ano e meio, o País foi às urnas com uma estimativa de défice falseada. Semanas depois, as contas públicas afinal eram outras. Escandalosamente piores. As mesmas pessoas, o mesmo assunto, o mesmo ilusionismo. Creia quem quiser.
Estes números decorrem quando já temos em Lisboa aqueles a quem pedimos socorro por não termos dinheiro para pagar sequer salários depois de Maio. O FMI vai recebendo as "forças políticas" e os "parceiros sociais" por respeito institucional. Mas chamar aos encontros "negociações" é de uma enorme generosidade. São pouco mais que audições.
Como é possível negociar com partidos que atiraram o País para uma crise política? Como, mesmo depois de pedir ajuda, continuam a jogar ao berlinde com o País? Dois exemplos: o Governo não responde sequer às perguntas do PSD sobre as contas públicas; o PSD não consegue impor até ao fim uma ideia de governação, recuando assim que é atacado pelo PS. São estes dois partidos que querem entender-se? Não, eles fazem malabarismo com navalhas.
Não há isentos de culpas, mas há uns mais culpados do que outros. O Governo, é claro, porque governou e porque persiste em prometer o que sabe que já não pode dar, o que já perdeu. A agenda do PSD, por tíbia que seja, é mais polémica e mais verosímil. Porque é uma agenda parecida com a do FMI, que é a agenda que vai vigorar. Mesmo que o PS ganhe as eleições.
A "troika" externa tem três dossiês: um com medidas de austeridade, outro para a sustentabilidade do sistema financeiro e o último com reformas estruturais. Os três estão já praticamente escritos e serão impostos em troca do empréstimo que ainda não está aprovado. E que sem acordo dos partidos não o será. O prazo é 15 de Maio, data do próximo Ecofin. Será preciso esperar pelas 20 horas da véspera? Para as assinaturas do documento, talvez sim. Para escrever o texto, não é preciso. É um texto com cortes de pensões, de salários, mais impostos, leis laborais, apoio aos bancos, mais concorrência e privatizações. O que Portugal não fez a bem fará à força. Com mais umas eleições pelo meio.
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Uma das críticas que se faz aos programas de ajustamento impostos pelo FMI e União Europeia à Grécia e Irlanda é a de que não serenou os mercados.
Prova disso é que as taxas de juro continuam elevadas. Este argumento tem sido utilizado para defender que o modelo para Portugal tem de ser diferente.
A ideia de que o modelo do FMI não serve é um equívoco. As taxas continuam elevadas porque os investidores receiam que os dois países, perante a gigantesca tarefa de por as contas públicas em ordem, optem por não pagar o que pediram emprestado. Por outras palavras, os investidores receiam que Grécia e Irlanda peçam uma reestruturação da dívida (não pagamento de parte do que se pediu emprestado ou alongamento do prazo, com redução de juros).
Esse receio, agravado pela indefinição política (a que se soma o receio de que as auditorias do FMI/BCE/Comissão descubram mais lixo sob o tapete do Ministério das Finanças), está agora a alastrar a Portugal. Daí o agravamento das nossas taxas de juro.
É por isso que não devíamos recear a divulgação do verdadeiro estado das nossas contas públicas. Os mercados podem não gostar do que temos para mostrar? Podem. Mas pior ainda é jurar que está tudo bem para daqui a uns meses virmos dizer que afinal a situação é mais grave (como está a acontecer a irlandeses e gregos). Ah! E ajudava muito que o Governo e o PSD assegurassem que "reestruturação de dívida" não está nos nossos planos.
PS - Silva Pereira diz esperar que impere o "bom senso" na Europa, face aos receios de que a Finlândia chumbe o nosso resgate. Mas ainda não percebeu que a falta de senso é nossa?
camilolourenco@gmail.com
Este Camilo Lourenço tambem é bom a escrever...
Um abraço,
The Mechanic
" Os que hesitam , são atropelados pela retaguarda" - Stendhal
"É óptimo não se exercer qualquer profissão, pois um homem livre não deve viver para servir outro "
- Aristoteles
http://theflyingmechanic.blogspot.com/
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pepi Escreveu:
(...)
Anulou-se meio TGV? A Mota-Engil processa. Anula-se o outro meio? Processa a Soares da Costa. Estão cobertas de razão. Mas os advogados mandam menos que os políticos. E os políticos têm de rever estes contratos com a mesma crueldade com que reviram os dos funcionários do Estado para lhes cortar salários.
(...)
Ou ainda com a mesma crueldade com que o Estado revê taxas de impostos e afins. É que eu não tenho contrato nenhum para acenar (nem para rasgar!) quando o Estado vem sobre o contribuinte e exige mais 1, 2 ou 3% do IVA para tapar o buraco criado nos contratos que dizem que não podem alterar!
Não fui eu que assinei tais contratos ruinosos. Porque tenho de ser eu a suportá-los e porque é que me é imposto que os suporte?
FLOP - Fundamental Laws Of Profit
1. Mais vale perder um ganho que ganhar uma perda, a menos que se cumpra a Segunda Lei.
2. A expectativa de ganho deve superar a expectativa de perda, onde a expectativa mede a
__.amplitude média do ganho/perda contra a respectiva probabilidade.
3. A Primeira Lei não é mesmo necessária mas com Três Leis isto fica definitivamente mais giro.
Privatizar já! Nacionalizar também!
19 Abril2011 | 11:17
Pedro Santos Guerreiro
Portugal vai ser privatizado. Todo? Não, o que der. Incluindo parte da Caixa Geral de Depósitos, baratinho.
E, no entanto, os bancos poderão ser parcialmente nacionalizados. Confuso? É para estar. A economia passou do ortodoxo para o paradoxo.
Está em marcha, há mais anos do que queremos reconhecer, uma venda acelerada de activos de Portugal. O Estado vende porque precisa, os portugueses não compram porque não têm como: são capitalistas sem capital. E assim caducou o tempo dos preconceitos (ou das convicções?). Defesa dos Centros de Decisão Nacional? Já não há: nem a defesa, nem os Centros. Já só falta perder uma coisa: as peneiras.
Fala-se de privatizações como se fossemos proprietários de impérios babilónicos. Não somos. Já vendemos ou hipotecámos e o que resta das nossas empresas não vale grande coisa - pronto, está dito. Não neste momento, em que Portugal tem "rating" de repulsa e o capital voa em bando daqui. Chega a ser enternecedor ouvir quem defende as "jóias da Coroa" com paixão. Anéis de amantes não são diamantes.
O problema não é querermos vender, é não quererem comprar. Temos uma fatia da EDP, a da Galp já está prometida, a TAP vai a caminho, a Águas de Portugal e a REN são a seguir... Se o Estado vendesse todas as suas empresas, descontando a dívida com que ficaria, receberia uns 12 mil milhões de euros. Daria para pagar as dívidas dos próximos três meses...
O Governo orçamentou receitas de privatizações de seis mil milhões de euros até 2013. A missão externa europeia e do FMI quer mais. Não pode ser por dinheiro, que é pouco. É por ideologia, que é muita. E boa.
A crise criou a percepção de que o Estado, afinal, é que é justo. Não é. O Estado foi uma concubina ingénua do sistema financeiro, que acabou traída pelo dissidente e a pagar as contas que ele deixou. Esse acerto de contas está por fazer. Mas nas empresas não financeiras, o Estado não trouxe boa--nova. Nem traz. Subvertendo a expressão: é melhor ter lucros privados que prejuízos públicos. Mas não é por isso. É porque a palavra "Estado" é máscara da palavra "Governo", atrás da qual está a palavra "partido".
As empresas públicas têm sido cobertores dos partidos, agências de contratação de "boys", veículos de dívida que financia terceiros. Em alguns casos, como a RTP e a TAP, a reestruturação financeira permitiu a emancipação mas quase sempre "contra" e não "com" os partidos. Mesmo noutras empresas já muito privadas, como PT, EDP e Galp, anda-se de ministro ao colo. E há melhor exemplo de escandalosa politização do que a CGD, financiadora de tantos falidos que ainda ontem se reuniram na AG do BCP?
Privatizar a Caixa é hoje um erro, pela vulnerabilidade. Mas só é um tabu para os que, aproveitando-se do temor português pelo lucro privado, impõem o prejuízo colectivo pela gestão danosa ou maldosa. Mas sim, hoje é um erro. E um paradoxo: os investidores não andam a correr atrás dos bancos portugueses, é ao contrário. E se a "troika" aumenta os rácios de capital e desce os de alavancagem à banca portuguesa, será necessário o Estado separar dinheiro para os bancos: nacionalizações, temporárias, parciais e retribuíveis, mas nacionalizações.
Privatizar empresas não é um comportamento desviante, faz bem à economia. Concorrência faz bem à economia. Desproteger faz bem à economia. Diz-se que o Estado pode fazer tão bem como os privados. É verdade. Olhe um: o Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Mas é caso raro.
É pena que privatizemos na penúria, estamos a preços de liquidação total. Os dedos do Estado vão ficar tão nus que a mão ficará quase invisível. Que use a outra mão para o que deve: regulação, fiscalização, punição dos faltosos. É para isso que o Estado existe, para garantir os direitos dos desprotegidos. Não foi por ter empresas que o conseguiu. Que seja agora. Que venda o corpo para recuperar a alma.
http://www.jornaldenegocios.pt/home.php ... &id=480099
No man is rich enough to buy back his past - Oscar Wilde
No final está o principal motivo pq o SOCAS evitou até à última chamar o FMI:
O tesourinho
15 Abril2011 | 11:15
Pedro Santos Guerreiro - psg@negocios.pt
O salário? Corta. A pensão? Reduz. O contrato? Rasga. O emprego? Despede. A dívida? Adia. O certificado? Já não certifica.
Todas as certezas se estão a relativizar. Afinal, até o ferro se liquidifica, é apenas uma questão de temperatura. E o calor está de estoirar termómetros.
A Europa não perdeu a cabeça porque não se pode perder o que já não se tem. E os portugueses já perceberam que, se querem cumprimentar os seus chefes, têm de começar a aprender nomes alemães. É preciso aprender mais este: Wolfgang Schaeuble. É o ministro das Finanças de Angela Merkel e, ontem, quebrou um tabu: admitiu a necessidade de reestruturar a dívida pública da Grécia. E assim incendiou os mercados.
Reestruturar a dívida é uma maneira educada de dizer que não se consegue pagá-la. Primeiro aumenta-se o prazo de pagamento (tal como muitos portugueses fizeram com o seu crédito à habitação). Depois... bom, depois há várias formas de fazer perdões de dívidas. Eis o tabu para a Grécia, para a Irlanda... e para Portugal: conseguiremos algum dia pagar o que devemos?
O que Schaeuble disse ontem não era impensável, era apenas indizível. As opiniões públicas europeias (como a alemã ou a finlandesa) não estão disponíveis para "hair cuts" (que na prática significam perdões de dívida) ou de empréstimos que subsidiam, pela baixa taxa de juro ou pelo elevado prazo, os países falhados. Mas esse é um cenário que temos pela frente.
Mesmo vendendo "tudo" o que temos, através de privatizações, e reduzindo drasticamente o consumo e o crédito da banca, precisamos de tempo para reduzir o volume de endividamento. Mesmo o empréstimo da missão externa é, ainda assim, um empréstimo. É preciso pagá-lo.
A necessidade eventual de rever as condições de resgate de certificados de Aforro e de Tesouro é, apenas, mais uma das medidas de excepção. O dramatismo actual leva a que tudo o que dávamos por adquirido seja posto em causa. Começou pelos salários no Estado, já se agendaram as pensões mas não se vai ficar apenas pelos que não têm poder de contestar.
Aprendemos no último ano que a austeridade também tem a uma cadeia alimentar: primeiro mastigam-se os mais fracos e apenas se rosna aos mais fortes. Os funcionários públicos, os trabalhadores por conta de outrem e os consumidores foram já a carne para canhão. Mas é preciso ir ao osso também dos lobbies e dos grupos de interesse.
Anulou-se meio TGV? A Mota-Engil processa. Anula-se o outro meio? Processa a Soares da Costa. Estão cobertas de razão. Mas os advogados mandam menos que os políticos. E os políticos têm de rever estes contratos com a mesma crueldade com que reviram os dos funcionários do Estado para lhes cortar salários.
O Estado deixa de ser paternalista mas continuará a agir como pai: um pai tirano. Com a mesma necessidade com que pedem ajuda para pagar as dívidas. Ou com a mesma urgência com que vão ter de rever as parcerias público-privadas. Rendibilidades de 12%?! Baixa para metade. Se não gostam, processem.
Os funcionários públicos, os pensionistas e os contribuintes não podem ser os únicos a pagar as facturas. É preciso entrar nos lobbies, económicos e políticos. Nas PPP. Nas empresas do Estado, nos institutos, nas fundações, nas empresas com monopólios protegidos. Sim, vamos chegar aos poisos de "boys" e aos financiadores dos partidos. Afinal, o FMI não é um saco de dinheiro nem um saco de pancada. Também está cá para isto.
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Quem assim escreve...
Bem-vindo, Poul Thomsen, trazei dinheiro para as nossas dívidas, mas sobretudo trazei pujança contra esta cagança e bom-senso para a nossa liderança. Os que cá estão endoideceram. Continuam a falar de um país que já não existe. E a que eles próprios ajudaram a cavar a sepultura, dançando agora sobre ela, sem pudor nem decência.
...tem as ideias bem arrumadas e mostra que não deve vassalagem a ninguém.
Excelente artigo PSG.
Cumprimentos
Figueiraa1
Bem-vindo, Poul Thomsen, trazei dinheiro para as nossas dívidas, mas sobretudo trazei pujança contra esta cagança e bom-senso para a nossa liderança. Os que cá estão endoideceram. Continuam a falar de um país que já não existe. E a que eles próprios ajudaram a cavar a sepultura, dançando agora sobre ela, sem pudor nem decência.
...tem as ideias bem arrumadas e mostra que não deve vassalagem a ninguém.
Excelente artigo PSG.
Cumprimentos
Figueiraa1
Lúcido como é hábito:
AutoMech Escreveu:Vergonha é não ter vergonha
12 Abril2011 | 10:57
Pedro Santos Guerreiro - psg@negocios.pt
Tem nome de jogador de futebol, é dinamarquês, aterra hoje em Lisboa e vem tratar-nos da saúde.
Poul Thomsen nunca foi eleito mas é ele quem vai governar os que nos vão governar. Devíamos estar assustados. Mas não estaremos afinal aliviados?
Bem-vindo, Poul Thomsen, trazei dinheiro para as nossas dívidas, mas sobretudo trazei pujança contra esta cagança e bom-senso para a nossa liderança. Os que cá estão endoideceram. Continuam a falar de um país que já não existe. E a que eles próprios ajudaram a cavar a sepultura, dançando agora sobre ela, sem pudor nem decência.
A comitiva que hoje aterra em Lisboa, de membros do FMI, BCE e Comissão Europeia, vem consumar o nosso fracasso. Cada degrau que pisem na descida do avião é uma chicotada no nosso orgulho, na nossa autonomia, no nossa autodeterminação. O País está hoje humilhado.
Em vez de uma marcha fúnebre, temos um cortejo de carnaval. José Sócrates conseguiu, dois dias depois de o País se ajoelhar, produzir o seu mais irreal discurso de sempre. O Congresso do PS encenou um triunfalismo que é ofensivo para um País intervencionado. Foi um delírio colectivo triste, um comício com o fanatismo de Vasco Gonçalves, uma propaganda alucinógena. Leni Riefenstahl, a cineasta de Hitler, ter-se-ia comovido.
Os políticos comportam-se como herdeiros que disputam as partilhas de fortuna nenhuma. É preciso um entendimento entre três partidos, que os vai vincular mesmo durante as eleições a medidas de austeridade, mas todas as pontes de contacto estão a ser dinamitadas. O Presidente da República faz de conta que não é nada com ele (imagine que era com Mário Soares: tem alguma dúvida de que já tinha posto esta gente na ordem?). José Sócrates fala de Passos Coelho como se tivesse acabado de lhe dar uma tareia em bilhar de mesa. Passos Coelho "contrata" Nobre para presidente da Assembleia da República e ainda alguém se vai lembrar de José Manuel Coelho na Madeira. Mas não há grande cuidado com a gravidade da situação financeira que atravessamos.
Os 80 ou 90 mil milhões de euros que vamos pedir ainda não estão garantidos. Há muitos países que estão enfurecidos e que falam de nós como de leprosos. As lideranças europeias são hoje fracas e pressionadas pelas suas opiniões públicas. Mesmo a senhora Merkel, que adoramos odiar, deu a cara por nós, em Berlim, nem há um mês. E nós? Desgovernamo-nos em declarações públicas como quem entra num restaurante cheio com uma metralhadora descontrolada na mão.
A principal razão pela qual a Europa nos quer ajudar não se chama Portugal, chama-se Espanha, chama-se euro. Essa é a nossa protecção. Já que não nos sabemos ajudar, ao menos ajudemo-los a ajudar-nos.
Poul Thomsen é, como Hamlet, dinamarquês e verá que há algo de podre neste reino. Portugal falhou. Entrou em bancarrota. Ficou sem dinheiro. Somos a chacota da Europa, nem na desgraça nos unimos. Portugal vai ser, segundo o FMI, o único país do mundo em recessão em 2012. E no entanto, os políticos, as elites, os governantes, agem sem tino. Não chegou terem atirado o País para eleições no pior momento possível. Agora nem para acordarem um pedido de ajuda se entendem.
O País não é todo um coliseu, há muitos sítios onde hoje o orgulho nacional se sente ferido. Na Beira Alta, onde há honra, é costume dizer-se uma frase que um dia Henrique Monteiro usou no "Expresso": vergonha é não ter vergonha. E ninguém pede desculpa a Portugal.
http://www.jornaldenegocios.pt/home.php ... &id=478981
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Vergonha é não ter vergonha
12 Abril2011 | 10:57
Pedro Santos Guerreiro - psg@negocios.pt
Tem nome de jogador de futebol, é dinamarquês, aterra hoje em Lisboa e vem tratar-nos da saúde.
Poul Thomsen nunca foi eleito mas é ele quem vai governar os que nos vão governar. Devíamos estar assustados. Mas não estaremos afinal aliviados?
Bem-vindo, Poul Thomsen, trazei dinheiro para as nossas dívidas, mas sobretudo trazei pujança contra esta cagança e bom-senso para a nossa liderança. Os que cá estão endoideceram. Continuam a falar de um país que já não existe. E a que eles próprios ajudaram a cavar a sepultura, dançando agora sobre ela, sem pudor nem decência.
A comitiva que hoje aterra em Lisboa, de membros do FMI, BCE e Comissão Europeia, vem consumar o nosso fracasso. Cada degrau que pisem na descida do avião é uma chicotada no nosso orgulho, na nossa autonomia, no nossa autodeterminação. O País está hoje humilhado.
Em vez de uma marcha fúnebre, temos um cortejo de carnaval. José Sócrates conseguiu, dois dias depois de o País se ajoelhar, produzir o seu mais irreal discurso de sempre. O Congresso do PS encenou um triunfalismo que é ofensivo para um País intervencionado. Foi um delírio colectivo triste, um comício com o fanatismo de Vasco Gonçalves, uma propaganda alucinógena. Leni Riefenstahl, a cineasta de Hitler, ter-se-ia comovido.
Os políticos comportam-se como herdeiros que disputam as partilhas de fortuna nenhuma. É preciso um entendimento entre três partidos, que os vai vincular mesmo durante as eleições a medidas de austeridade, mas todas as pontes de contacto estão a ser dinamitadas. O Presidente da República faz de conta que não é nada com ele (imagine que era com Mário Soares: tem alguma dúvida de que já tinha posto esta gente na ordem?). José Sócrates fala de Passos Coelho como se tivesse acabado de lhe dar uma tareia em bilhar de mesa. Passos Coelho "contrata" Nobre para presidente da Assembleia da República e ainda alguém se vai lembrar de José Manuel Coelho na Madeira. Mas não há grande cuidado com a gravidade da situação financeira que atravessamos.
Os 80 ou 90 mil milhões de euros que vamos pedir ainda não estão garantidos. Há muitos países que estão enfurecidos e que falam de nós como de leprosos. As lideranças europeias são hoje fracas e pressionadas pelas suas opiniões públicas. Mesmo a senhora Merkel, que adoramos odiar, deu a cara por nós, em Berlim, nem há um mês. E nós? Desgovernamo-nos em declarações públicas como quem entra num restaurante cheio com uma metralhadora descontrolada na mão.
A principal razão pela qual a Europa nos quer ajudar não se chama Portugal, chama-se Espanha, chama-se euro. Essa é a nossa protecção. Já que não nos sabemos ajudar, ao menos ajudemo-los a ajudar-nos.
Poul Thomsen é, como Hamlet, dinamarquês e verá que há algo de podre neste reino. Portugal falhou. Entrou em bancarrota. Ficou sem dinheiro. Somos a chacota da Europa, nem na desgraça nos unimos. Portugal vai ser, segundo o FMI, o único país do mundo em recessão em 2012. E no entanto, os políticos, as elites, os governantes, agem sem tino. Não chegou terem atirado o País para eleições no pior momento possível. Agora nem para acordarem um pedido de ajuda se entendem.
O País não é todo um coliseu, há muitos sítios onde hoje o orgulho nacional se sente ferido. Na Beira Alta, onde há honra, é costume dizer-se uma frase que um dia Henrique Monteiro usou no "Expresso": vergonha é não ter vergonha. E ninguém pede desculpa a Portugal.
http://www.jornaldenegocios.pt/home.php ... &id=478981
No man is rich enough to buy back his past - Oscar Wilde
Confesso que destesto os artigos do Dr. Braga de Matos.
Basicamente não se aprende nada.
É pena que tenha esse tipo de escrita.
Comprei o Ganhar em Bolsa e achei o livro bastante completo e ainda lá vou qdo preciso de tirar alguma dúvida, por isso este autor seria um dos que, à partida, apreciaria.
Já os do PSG têm sido fora de série na minha opinião, e mesmo o Camilo tem melhorado
Basicamente não se aprende nada.
É pena que tenha esse tipo de escrita.
Comprei o Ganhar em Bolsa e achei o livro bastante completo e ainda lá vou qdo preciso de tirar alguma dúvida, por isso este autor seria um dos que, à partida, apreciaria.
Já os do PSG têm sido fora de série na minha opinião, e mesmo o Camilo tem melhorado

The market gives; The market takes.
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IMO o Braga de Matos esta semana ficou uns bons furos abaixo do que é costume. Não gostei. Já o PSG está óptimo, como sempre. Obrigado pelos artigos Pepi.
Mec, boa malha essa de teres mudado o nome do tópico. É melhor ter um sitio para os arrumar, em vez de andarem por aí dispersos nos 234 tópicos de política e economia.
Mec, boa malha essa de teres mudado o nome do tópico. É melhor ter um sitio para os arrumar, em vez de andarem por aí dispersos nos 234 tópicos de política e economia.
No man is rich enough to buy back his past - Oscar Wilde
Aproveitando o mote, colo o artigo desta semana de Braga de Matos, o qual deveria ficar em vários tópicos:

O patriota
08 Abril2011 | 11:50
Fernando Braga de Matos
(Onde o autor adjectiva esse grande artista português, José Sócrates, que consegue praticar com grande proficiência vários números de representação, agora num dos papéis em que se exorbita, o de patriota, em ponto de excelência idêntico ao inexcedível de vítima).
A ordem do dia é evidentemente o pedido de ajuda externa ao Fundo de Estabilização Financeira e ao FMI e nem sei se do dia em que escrevo para o dia em que vou parar às bancas se passa ainda alguma coisa extraordinária, como mais um corte de "rating", agora da mercearia do Palácio de S. Bento (à Presidência da República, que é outra gente, ainda vendem fiado). Nem sei se percebo bem como se caiu nisto de supetão, ao ponto de daqui a uns dias não ir haver dinheiro para pagar compromissos do Estado, no exterior e entre muros, com a banca a recusar financiar a República para evitar activos tóxicos (ao fim e ao cabo, a função dela é proteger os depósitos e salvaguardar os interesses dos accionistas) e de aos trabalhadores dos transportes públicos nem valer a pena fazer a grevezinha do costume porque já só há vales. A provocação do PEC IV no modo como apareceu imposta, a ingenuidade do PSD apanhado em contra-pé e a inércia congelante do PR desencadearam o "gran finale", o foguete de fim de festas, mas a queda livre dum longo processo de desporto radical conduzido por Sócrates foi mesmo o pedido de ajuda à EU, na quarta-feira, como se alguém tivesse apertado o patriota Sócrates pelo gasganete.
Tudo isto envolve drama, a vida de milhões de pessoas, nem que seja na insegurança, incerteza e perplexidade em que vivem. Mas, com o patriota Sócrates e o Financial Ali aos microfones, os verdadeiros apreciadores ainda conseguem gozar altos momentos de Opera buffa, segundo a grande regra neoliberal que diz "antes rir que gastar no Xanax". Foi ver o Ali a jurar na sexta-feira que o governo não ia mexer uma palha em pedidos de ajuda externa e adiantar que só o PR tinha competência para tal - isto num momento de exuberância constitucionalista. E foi mais ainda ouvir o patriota jurar em entrevista, na segunda-feira, que FMI, por ele, nem vê-lo, acrescentando frases de grande empolgamento, quando não de fino recorte emocional como o seu "compromisso em evitar que Portugal peça ajuda externa". Mas, lágrimas nos olhos, essas jorraram-me quando afirmou, bélico: "Entre mim e o FMI estão 10.000.000 de portugueses". Aí achei que puxou da espada e matou o touro de um só golpe, entre aplausos em delírio, flores e mesmo cuequinhas de jovens militantes socialistas esvoaçando no ar.
Esta triste representação é a que temos tido há meses a fio, com o défice a subir, os juros sempre ascendentes e os PEC a avançarem ao ponto de haver gente a aprender algarismos romanos para saber como acompanhar os seguintes... mas com o PM sempre no registo bélico da resistência aos nazis, digo ao FMI. Várias vezes pôs-se como o "único" a continuar a lutar numa batalha pelo bom nome de Portugal. Mas nunca reparou que os moinhos são de vento, que o FMI e a CE são instituições a que pertencemos e para as quais contribuímos, até com dinheiro, e não só palavras piedosas.
Mas o patriotismo a sério era de outro teor: era ser competente como Zapatero, pondo em acção medidas firmes de combate ao défice oportunamente, e não recusá-las com vitupérios anti-direita; ou mais ousadamente, vendo o percurso inexorável dos juros, ultrapassando os fatídicos 7% que o Financial Ali tinha estabelecido como limite suportável, entrar em conversações atempadas com a EU. O prestígio de Portugal seria, sim, protegido numa mesa de negociações em que não estivesse estabelecida a pressão excessiva da urgência, ainda com domínio de opções e capacidade de contrapropostas e não como vai ser, "pega lá e é se queres".
Assim temos o patriota, pronto para uma fátua batalha, que dizia dantesca, se calhar ainda vestido de peles de animais ferozes (até pode ir nu, portanto), proferindo gritos de batalha escorridos na rouquidão do desaire, sempre a vitimizar-se, digno da comiseração da derrota em batalha que enfrentou de forma inepta e perdedora. Não dava para um Triunfo romano.
Mas eu sou patriota e recordo-me chocado da vil pedinchice à Dilma durante a luta "patriótica" do PM, com os repórteres em estado de excitação como os bobos em corte medieval, perguntando se viria ajuda do Brasil e ela respondendo " gringa": "no Banco do Brasil só com triple AAA".
São patriotas como este Sócrates que dão bom nome ao Conde Andeiro.
Advogado, autor de "Ganhar em Bolsa" (ed. D. Quixote), "Bolsa para Iniciados" e "Crónicas Politicamente Incorrectas" (ed. Presença). fbmatos1943@gmail.com
Assina esta coluna semanalmente à sexta-feira
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Resolvi mudar o titulo do tópico .
Artigos de opinião como os do PSG ou de outros , cuja opinião é de igual maneira bem formada , são de interesse geral e merecem um "sitio" .
Com boas opiniões ( e até más ), formamos e enriquecemos a nossa própria opinião .
.
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Budapeste
08 Abril2011 | 11:15
Pedro Santos Guerreiro - psg@negocios.pt
E agora, é só esperar pelo dinheiro? Apertamos os cintos, apartamos a sociedade, votamos para uma coligação e está feito? Não. É claro que não. Portugal não deixou de ser doido, apenas deixou de ter dinheiro para continuar a sê-lo.
Os donos do dinheiro sabem-no. A Comissão Europeia, o FMI e o BCE conhecem-nos hoje como as palmas das mãos com que assinam os cheques. Mas o dinheiro não é apenas deles, é dos contribuintes alemães, espanhóis, franceses que sentem hoje o mesmo que nós sentimos quando, no passado, mandámos a remessa portuguesa para a Grécia e a Irlanda: "Os nossos impostos para aqueles gajos?"
Hoje somos "aqueles gajos", os que falharam, os que não sabem trabalhar, os que querem viver do dinheiro do Estado, os que gastam sem produzir. É isto que dizem de nós os jornais estrangeiros de ontem, e de hoje, quando reflectem as opiniões públicas dos seus países. E é também por isso que aqueles que nos vão emprestar dinheiro para pagar aos credores não serão protectores, serão preceptores. Vamos obedecer.
Analisemos os próximos passos. O primeiro, essencial e urgente, é um acordo político entre PS, PSD e PP, o que convoca o Presidente da República. Não é porque achemos conveniente. É porque de outra forma o pedido de ajuda externa não é aceite pela União Europeia. Ponto final.
Os loucos que rasgaram ou deixaram rasgar a confiança externa no País no último mês com a crise política - Sócrates, Passos Coelho e Cavaco - têm de pegar nas canetas e assinar já um acordo.
Serão uns 90 mil milhões de euros, talvez para quatro anos, o que exige o compromisso de redução do défice orçamental. E mais ainda: objectivos estruturais, que delimitem já medidas de austeridade, de política económica para a competitividade e de desalavancagem da economia e do sistema financeiro.
Chegaremos, pois, a eleições com os três partidos que poderão governar comprometidos. E com a necessidade de um adiantamento daquele empréstimo (pois estaremos já "fora" do mercado), e que provavelmente será feito apenas pelo FMI: 25 mil milhões, que dão até ao final do ano.
Quem empresta 90 mil milhões de euros não joga à cabra-cega. O dinheiro servirá para refinanciar dívida pública e para introduzir liquidez na economia. Pondo, por exemplo, as empresas públicas a pagar à banca a sua dívida colossal. Com essa liquidez, a banca poderá depois fazer empréstimos. Muito menos do que no passado. Mas, ainda assim, empréstimos.
Tudo isto servirá apenas para começar a funcionar. Haverá um novo Governo que terá uma agenda forçosamente mais liberal, porque obediente à agenda de reformas estruturais de Bruxelas. E mais austeridade: mais impostos, menos apoios sociais, subsídios, pensões.
Todo este choque tem de ser para um bem. Para que Portugal deixe de ser Estado de sítio e passe a ser um sítio com Estado. Esta é uma oportunidade única para mudar de era, para um regime de estabilidade nominal, com espaço para o mérito e em que a melhoria do bem-estar (e dos salários) esteja assente na competividade. Isso implica outra forma de fazer política, económica e social. Isso é criar, enfim, um Estado moderno.
Como diz Ian McEwan em "Expiação", já não possuímos a coragem do nosso pessimismo. Queiramos nós o Estado que vamos ter: ele começa hoje na reunião dos ministros das Finanças, em Budapeste. É uma boa cidade: como escreveu Chico Buarque, é lá que está "a única língua que o diabo respeita".
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pepi Escreveu:Game over: perdemos, senhor engenheiro
05 Abril2011 | 09:08
Pedro Santos Guerreiro - psg@negocios.pt
[...]
Mas o único obstáculo é o Governo - e Sócrates não quer ficar com o ónus desse pedido. Se pudesse, pedia eu.
Este pedido de ajuda concertado entre PS, PSD, PP e Presidente tem a vantagem de descontaminar as eleições das promessas impossíveis. Ficará escrito aquilo a que o próximo Governo, seja qual for, está amarrado. Porque haverá um novo PEC - e será mais cruel.
Adiar o pedido de empréstimo é mergulhar o País na falta de dinheiro, salários em atraso, no medo das poupanças, na bancarrota, no incumprimento. Isso só acontecerá se formos governados por eunucos da política, habitantes da negação patológica. Até há dez dias, Sócrates era um resistente; agora é um desistente. Se não vê a realidade, será preciso interná-lo e fazer o que fizeram a Salazar, fingir que governa.
Portugal precisa de ajuda. É o fim de um sonho que afinal era pesadelo, mas não é o fim do mundo. Daqui a dias, os jacarandás florirão em Lisboa. Isso ninguém conseguirá estragar. Achamos nós.
Admitir uma derrota é uma tarefa dura, sobretudo se se lutou contra ela. Se o fez numa miragem, ainda é mais difícil de o fazer. É reconhecer a derrota e a falta de visão.
Não sei se Sócrates tem essa capacidade.
Ele acreditou que tinha poderes para seguir em frente, criando o mundo à medida do seu desejo, e que ninguém ou nada teria forças suficientes para impedir essa caminhada, mesmo que ela se apresentasse consecutivamente aos olhos de muitas pessoas bem esclarecidas como verdadeiro arrasto de irracionalidade.
Acabei de me auto-promover a Principiante!
Aaahhgrrr,... os meus dedos não estalam!!!
TAMBÉM QUERO SER RICO! Por onde começo? Estou disposto a deixar de trabalhar!
Aaahhgrrr,... os meus dedos não estalam!!!
TAMBÉM QUERO SER RICO! Por onde começo? Estou disposto a deixar de trabalhar!
AutoMech Escreveu:Mais um excelente texto do PSG, como é hábito.
Deprimente mas excelente...
É preciso agora ânimo e alguma esperança. Eu sempre dou o exemplo do Brasil que teve uma intervenção do FMI em 2001 (nem há 10 anos atrás) e agora vive uma fase de optimismo.
Tá que o Brasil teve uma moeda que desvalorizando permitiu animar exportações, e tem outras vantagens que nos fogem. Nós por outro lado temos um País pequeno e estou convencido que com medidas certas poderá estar em recuperação dentro de 4 ou 5 anos.
Há gente que não pode esperar tanto tempo, ou porque já está no limiar da miséria, ou porque já vendeu tudo o que podia vender, etc... E para esses, os tais 4/5 anos, poderão ser mais que uma eternidade.
Pedro Carriço
Game over: perdemos, senhor engenheiro
05 Abril2011 | 09:08
Pedro Santos Guerreiro - psg@negocios.pt
Ontem houve duas entrevistas na TV. Numa, a verdade; na outra, a fantasia.
Santos Ferreira, na TVI, deu em dez minutos um banho de realidade a Portugal. José Sócrates, na RTP, deu uma hora de banhada. O primeiro-ministro descolou da realidade, zarpou para dentro de um cubo caleidoscópico onde só ecoa a sua voz. Vê-se e dá pena. Pena de nós.
O piano não tem mais escalas graves para a situação. Estamos a ficar sem dinheiro. Sem dinheiro. A queda do Governo foi o haraquíri sem honra que aniquilou as exíguas hipóteses. É preciso comer cogumelos mágicos para achar que agora Portugal escapa sem ajuda externa.
Senhor primeiro-ministro: falhámos. Perdemos o jogo. Andámos meses a lutar contra a intervenção externa, acreditámos nisso, defendemo-lo, quase conseguimos. No final, perdemos. Demitir o Governo foi como calçar luvas de boxe para jogar mikado. Criminoso. Fatal. Imperdoável. "O interesse nacional foi sacrificado ao mais mesquinho interesse partidário", disse o senhor ontem. Nem mais. E há dez milhões de vítimas. Depois da crise insana, veio a chuva de descidas de "rating", a escalada dos juros, o escárnio externo para a nossa estupidez. Para a vossa estupidez.
Agora que falhámos, é preciso pedir ajuda. Não vale a pena subir esta escada rolante que desce. Como o Negócios hoje revela, são necessários 15 mil milhões até final de Junho. Muito mais do que se supunha: agora as empresas do Estado também estão na fila. E as autarquias. E se a coisa piora também estará a banca. Porque os "ratings" dos bancos estão a ser suportados pela Moody's, que ainda não os reviu. Mas se a indefinição dura, também este será cortado. E então tudo será pior. É por isso que, como também revelamos nesta edição, a banca portuguesa, que andou a servir de transmissão entre o Banco Central Europeu e o Estado, fechou a torneira à dívida pública portuguesa: ela tornou-se tóxica.
Esqueçamos as dezenas de milhares de milhões que temos em ouro, não as podemos vender. O nosso curso está traçado: é preciso um empréstimo intercalar pela Comissão Europeia, que será a calçadeira já para o pedido de ajuda ao Fundo Europeu de Estabilização Financeira, que o novo Governo terá de fazer no Verão e que significará a intervenção externa da União Europeia coordenada com o FMI.
Para que isso aconteça, só há um obstáculo: a política. A Comissão Europeia entende que o Governo é que tem o poder para pedir essa ajuda, mas com o apoio expresso dos demais partidos que podem constituir Governo depois de Junho: PSD e PP. Isto terá de envolver o patrocínio do Presidente da República. Mas o único obstáculo é o Governo - e Sócrates não quer ficar com o ónus desse pedido. Se pudesse, pedia eu.
Este pedido de ajuda concertado entre PS, PSD, PP e Presidente tem a vantagem de descontaminar as eleições das promessas impossíveis. Ficará escrito aquilo a que o próximo Governo, seja qual for, está amarrado. Porque haverá um novo PEC - e será mais cruel.
Adiar o pedido de empréstimo é mergulhar o País na falta de dinheiro, salários em atraso, no medo das poupanças, na bancarrota, no incumprimento. Isso só acontecerá se formos governados por eunucos da política, habitantes da negação patológica. Até há dez dias, Sócrates era um resistente; agora é um desistente. Se não vê a realidade, será preciso interná-lo e fazer o que fizeram a Salazar, fingir que governa.
Portugal precisa de ajuda. É o fim de um sonho que afinal era pesadelo, mas não é o fim do mundo. Daqui a dias, os jacarandás florirão em Lisboa. Isso ninguém conseguirá estragar. Achamos nós.
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Editorial de PSG no negócios:
Disparar contra os sobreviventes
30 Março2011 | 11:39
Pedro Santos Guerreiro - psg@negocios.pt
Quando ontem, em Londres, Ricardo Salgado acusou as agências de "ranting" de andar a "disparar contra os sobreviventes", poucas almas na S&P, Moody"s ou Fitch se terão inquietado. Mas é nas mãos destas agências que estamos. E estamos mal.
Para estas agências, a questão já não é se Portugal pede ou não ajuda externa, mas antes que essa ajuda perdurará para lá de 2013 e que, portanto, os credores privados também perderão dinheiro. Foi isso que, na prática, a Standard & Poor's veio dizer ontem de novo. Por isso, e não por cisma, a agência abate o nosso "rating" pela segunda vez em cinco dias.
O novo modelo de ajuda que a União Europeia está a negociar e que deverá estar aprovado no Verão só se aplica a depois de 2013. Além de continuar a incluir o FMI no processo de ajuda (o que choca alguns europeístas, que nisso vêem uma submissão da Comissão Europeia), nesta forma vingará a posição alemã de que os privados também perderão dinheiro, não apenas os Estados. Se um país como Portugal entrar em incumprimento, os investidores e instituições financeiras que tiverem emprestado dinheiro vão ter de perder algum. Ou seja, haverá, como escrevia ontem Paulo Pinho neste jornal, "reestruturações de dívida", ou "haircuts", expressões que querem dizer uma coisa: perdões de dívida.
É por causa deste enquadramento que os juros portugueses não mais descerão para os níveis dos da Alemanha. Com esta crise ficou claro que não há uma dívida europeia, mas dívidas de cada País. E Portugal não tem o risco alemão, tem o português - e é maior.
Neste momento, Portugal está quase "fora" do mercado. Tem sido financiado por golfejos do Banco Central Europeu, em parte através dos próprios bancos portugueses. Criou-se assim um paradoxo: os bancos portugueses são penalizados por serem... portugueses e por terem dívida... portuguesa. Isso não faz deles vítimas das circunstâncias. Mas este é o atestado de que até para os nossos bancos a dívida do Estado se está a tornar um activo tóxico. Ou se preferir, activos quase "junk": lixo.
Chegará o dia em que vamos questionar a bondade destas agências e mesmo o seu sentido ético, pois elas próprias condenam os aflitos. Para já, resta esta observação: de cada vez que uma agência de "rating" olha para Portugal, coloca-nos no centro do radar dos malditos.
Portugal tem dinheiro para pagar as dívidas de Abril e pode não ter para as dívidas que vencem em Junho, o que provavelmente atira o pedido de ajuda já para o próximo Governo. Como diz Maria João Rodrigues na entrevista nesta edição, mandar o País para eleições foi de uma infantilidade imperdoável, mas esse mal está feito. O mal menor terá de ser conseguido agora por um Governo de maioria depois destas eleições, mesmo que através de coligação. Se houver minorias, o Presidente da República não pode dizer o que disse nas últimas eleições: que tentou acordos mas não conseguiu. Tem de conseguir, é para isso que lá está.
Portugal tem três indicadores no painel de alertas: os "ratings", a taxa de juro e o sucesso de colocações de dívida. O dos "ratings" e o das taxas de juro já estão a piscar. Não é por acaso que a banca portuguesa está toda a mover-se: a Caixa a apresentar a sua "nova" administração, o BCP a aumentar capital, o BES a internacionalizar-se. Estamos a semanas de testes de stress. De eleições. E de precisar de dinheiro que não temos.
Não tarda, estamos a abrir páginas no Facebook contra as agências de "rating" e a fazer manifestações na Av. da Liberdade contra "os especuladores". Ainda veremos Francisco Louçã e Ricardo Salgado juntos ao magafone a entoar: "E os bancos, pá?"
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MarcoAntonio Escreveu:E pela mesmíssima razão, também não é nada que nos dê particular segurança!
Enfim, é mais tonelada, menos tonelada. Se tivessemos metade das reservas era a mesma coisa...
Era a mesma coisa se as condições fossem as actuais. O que te garante a ti que se mantenham no futuro? É para isso mesmo que serve um seguro, para nos precavermos contra situações inesperadas. Com base na história, o ouro é o melhor seguro monetário que uma nação pode ter, em caso de ocorrência de uma catástrofe global.
Official international reserves, the means of official international payments, formerly consisted only of gold, and occasionally silver
http://en.wikipedia.org/wiki/Foreign_exchange_reserves
Investors generally buy gold as a hedge or safe haven against any economic, political, social, or fiat currency crises (including investment market declines, burgeoning national debt, currency failure, inflation, war and social unrest)
In times of war, people fear that their assets may be seized and that the currency may become worthless. They see gold as a solid asset which will always buy food or transportation. Thus in times of great uncertainty, particularly when war is feared, the demand for gold rises
http://en.wikipedia.org/wiki/Gold_as_an ... tral_banks
"In a losing game such as trading, we shall start against the majority and assume we are wrong until proven correct!" - Phantom of the Pits
Fazendo um retrospectiva histórica, dos últimos 200 , a situação não é brilhante , um grande período de prosperidade e abundância de dinheiro foi entre 1780 e 1807, devendo em grande parte á exclusividade com o comercio com o Brasil , e Portugal ter sido plataforma do comercio Inglês .
Depois foi um descalabro , defaults no século XIX , o parlamento que Eça de Queiroz sempre criticou, os partidos não se entendiam . Com a república a situação não melhorou .
O estado novo , com Salazar , foi uma solução encontrada por uma geração cansada de instabilidade e de malucos , e faz uma aposta decisiva em Salazar, era muito popular ao contrário do que se diz.
Depois do 25A , voltam os herdeiros da I Republica , com consulado de Cavaco, acho o país estava a acreditar , mal sabiam que este estava a começar a cavar um grande buraco, e o país volta outra vez ao mesmo ciclo de antes do 28 de Maio de 1926.
O que estão a ver nestas guerrilhas partidárias ,insultos , lamentações , acusações . é um perfeito remake , do já o país tinha assistido .
O país tem solução , mas não pode ser esta gente está na politica, porque não contam a verdade e tem uma manada de vacas sagradas que tem de proteger .
A solução destes políticos, nos últimos anos é subir impostos , afinar a máquina fiscal, mesmo com todos os sacrifícios, até uma criança saberia fazer , não tem ciência.
Nos últimos anos houve loucuras, para um reforma contava os últimos melhores anos , F.P foram reformados antecipados ou com artifícios como conheço alguns , valeu tudo.
A única forma para resolver rapidamente o problema , é baixar pensões elevadas ( existem professores do liceu com reformas de 2.500 euros !!!) , e rescisão de contratos de muitos F.P., para ver se são produtivos, úteis na privada e ao país.
A loucura destes políticos oportunistas , engordaram o estado e autarquias com F.P e muitos deles a auferirem salários completamente desajustados com realidade económica do país. Mas porque foram estes que podiam inclinar um outro partido para vitória eleitoral .
Os que estão na privada , é que tem de pagar a crise , e são esses , que puxam esta carroça cada vez mais pesada .
Resumindo toda sabem como se resolve o problema, mas ninguém tem a coragem, devido ao jogo da politica .
Neste casos um autoritário até era benéfico , para se fazerem as reformas , sem estarem preocupados com a sua clientela politica , por isso mesmo , a Ferreira Leite , sem querer , disse ,que o país precisava, de um período de ditadura , porque ela sabe que estes políticos não se entendem.
Só os jovens , com outros movimentos , poderão resolver este problema histórico grave e circular , que este país não consegue sair nos últimos 200 anos.
Depois foi um descalabro , defaults no século XIX , o parlamento que Eça de Queiroz sempre criticou, os partidos não se entendiam . Com a república a situação não melhorou .
O estado novo , com Salazar , foi uma solução encontrada por uma geração cansada de instabilidade e de malucos , e faz uma aposta decisiva em Salazar, era muito popular ao contrário do que se diz.
Depois do 25A , voltam os herdeiros da I Republica , com consulado de Cavaco, acho o país estava a acreditar , mal sabiam que este estava a começar a cavar um grande buraco, e o país volta outra vez ao mesmo ciclo de antes do 28 de Maio de 1926.
O que estão a ver nestas guerrilhas partidárias ,insultos , lamentações , acusações . é um perfeito remake , do já o país tinha assistido .
O país tem solução , mas não pode ser esta gente está na politica, porque não contam a verdade e tem uma manada de vacas sagradas que tem de proteger .
A solução destes políticos, nos últimos anos é subir impostos , afinar a máquina fiscal, mesmo com todos os sacrifícios, até uma criança saberia fazer , não tem ciência.
Nos últimos anos houve loucuras, para um reforma contava os últimos melhores anos , F.P foram reformados antecipados ou com artifícios como conheço alguns , valeu tudo.
A única forma para resolver rapidamente o problema , é baixar pensões elevadas ( existem professores do liceu com reformas de 2.500 euros !!!) , e rescisão de contratos de muitos F.P., para ver se são produtivos, úteis na privada e ao país.
A loucura destes políticos oportunistas , engordaram o estado e autarquias com F.P e muitos deles a auferirem salários completamente desajustados com realidade económica do país. Mas porque foram estes que podiam inclinar um outro partido para vitória eleitoral .
Os que estão na privada , é que tem de pagar a crise , e são esses , que puxam esta carroça cada vez mais pesada .
Resumindo toda sabem como se resolve o problema, mas ninguém tem a coragem, devido ao jogo da politica .
Neste casos um autoritário até era benéfico , para se fazerem as reformas , sem estarem preocupados com a sua clientela politica , por isso mesmo , a Ferreira Leite , sem querer , disse ,que o país precisava, de um período de ditadura , porque ela sabe que estes políticos não se entendem.
Só os jovens , com outros movimentos , poderão resolver este problema histórico grave e circular , que este país não consegue sair nos últimos 200 anos.
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De notar ainda que quando se fala num valor de posição de investimento internacional (-185 551 milhões de Euro em Dez 2010 segundo o Banco de Portugal) fala-se de um valor (obtido da forma usual: Activos-Passivos) onde nos activos está incluído o ouro monetário ( 12 979 milhões de Euro em Dez de 2010 segundo o BP).
Caso se vendesse o ouro e se utilizasse a receita para saldar um passivo ....
deixariamos de ter um passivo mas tb deixariamos de ter um activo. A posição de investimento internacional não seria afectada ( ou qto muito apenas ligeiramente devido ao facto do ouro não estar contabilizado aos preços de mercado)
Caso se vendesse o ouro e se utilizasse a receita para saldar um passivo ....
deixariamos de ter um passivo mas tb deixariamos de ter um activo. A posição de investimento internacional não seria afectada ( ou qto muito apenas ligeiramente devido ao facto do ouro não estar contabilizado aos preços de mercado)
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"In my whole life, I have known no wise people over a broad subject matter area who didn't read all the time - none, zero" - Charlie Munger
"Entre os seres humanos, existe uma espécie de interacção que assenta não nos conhecimentos, nem sequer na falta de conhecimentos, mas no facto de não se saber quanto não se sabe ..." - John Kenneth Galbraith
"Entre os seres humanos, existe uma espécie de interacção que assenta não nos conhecimentos, nem sequer na falta de conhecimentos, mas no facto de não se saber quanto não se sabe ..." - John Kenneth Galbraith
A fraca produtividade é, entre outros que temos, um problema crónico. Dos quais não são 7% do PIB em Ouro que nos vão safar...
Eu não estou a dizer que devemos ir vender o Ouro a correr porque, como comecei logo por dizer, não vai resolver nada. E pela mesmíssima razão, também não é nada que nos dê particular segurança!
Enfim, é mais tonelada, menos tonelada. Se tivessemos metade das reservas era a mesma coisa...
Eu não estou a dizer que devemos ir vender o Ouro a correr porque, como comecei logo por dizer, não vai resolver nada. E pela mesmíssima razão, também não é nada que nos dê particular segurança!
Enfim, é mais tonelada, menos tonelada. Se tivessemos metade das reservas era a mesma coisa...
FLOP - Fundamental Laws Of Profit
1. Mais vale perder um ganho que ganhar uma perda, a menos que se cumpra a Segunda Lei.
2. A expectativa de ganho deve superar a expectativa de perda, onde a expectativa mede a
__.amplitude média do ganho/perda contra a respectiva probabilidade.
3. A Primeira Lei não é mesmo necessária mas com Três Leis isto fica definitivamente mais giro.
MarcoAntonio Escreveu:Lion, o que é que estás a querer dizer?
Estou a querer dizer que o Japão pode não ter ouro mas tem muita produtividade o que vai ajudar a recuperação.
E depois a produtividade Portuguesa é absolutamente RIDICULA. Vergonhosa mesmo.
" Richard's prowess and courage in battle earned him the nickname Coeur De Lion ("heart of the lion")"
Lion_Heart
Lion_Heart
Lion, o que é que estás a querer dizer?
FLOP - Fundamental Laws Of Profit
1. Mais vale perder um ganho que ganhar uma perda, a menos que se cumpra a Segunda Lei.
2. A expectativa de ganho deve superar a expectativa de perda, onde a expectativa mede a
__.amplitude média do ganho/perda contra a respectiva probabilidade.
3. A Primeira Lei não é mesmo necessária mas com Três Leis isto fica definitivamente mais giro.