Caldeirão da Bolsa

O discurso de Trichet

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por Pata-Hari » 4/11/2005 8:41

Estás a complicar um pouco. A regra é, na data do teu pagamento de juros o banco simplesmente vai verificar qual é a taxa euribor 6 meses do mercado nesse dia (corresponde a esse gráfico), e aplica o spread e o arredondamento ao valor.

O facto da taxa ser uma antecipação, não significa que é uma previsão. É efectivamente a maneira como o mercado está a pagar pela euribor de 6 meses. O preço é uma expectativa, sim, mas o mesmo se passa com todos preços de acções: o preço de hoje não passa de uma expectativa de valorização mas que é a que o mercado hoje considera correcta.
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por ptmasters » 3/11/2005 22:50

Boas Pata-Hari,

Não sei se não percebi, ou se não me fiz entender :oops: , mas cá vai.

O BCE estipula a taxa directora, no caso 2,00 %.
O mercado "tenta" antecipar os movimentos do BCE, no caso para a EURIBOR a 6M, que hoje situa-se nos 2,41%, é porque o mercado acredita que lá para Março o BCE possa já ter aumentado para 2,5% a euribor.
Para o banco, deverá ser a média da evolução da taxa euribor a aplicar aos seus clientes (certo?), tal como por exemplo deixo aqui imagem da evolução da euribor 6M nos últimos 12 meses (que assim a olho, diria que a média andaria à roda dos 2,18%).

Quando a CGD anuncia que as taxas variarão a partir de 3,0% (para clientes com spread 0,5%), é porque assume que a média da EURIBOR 6M nos próximos 6 meses deverá rondar os 2,5% (depois mais o spread de 0,5% para dar os 3,00%)?

Ou não seria mais correcto a taxa a aplicar ser a média dos últimos 6M (já por si só sempre superior à taxa directora) mais o respectivo spread?

É que se por mera hipótese o BCE não aumenta a taxa directora nos próximos meses, e a própria EURIBOR começar a descer por isso mesmo (sim, porque acredito que já amanhã vai cair fruto do discurso do Trichet), daqui a 6 meses verificaríamos que a média não tinha sido 2,5% e a CGD antecipadamente já andava a cobrar aos seus clientes essa taxa....

Ou seja, o que me parece, é que existe aqui uma "dupla antecipação": a do mercado, que irá produzir a evolução da taxa nos próximos meses de forma antecipando eventuais mexidas, e a da CGD, que assume que a taxa daqui a 6 meses [b]vai mesmo estar[b] nos 2,5% [b]a partir de agora[b]...

Bom, se calhar sou eu que estou a complicar....

Obrigado
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por Pata-Hari » 3/11/2005 22:48

Já agora (espreitei o artigo entretanto), quem decidiu subir as taxas não foi a cgd, é inacreditável ler-se isso! o que subiu foi a euribor a 6 meses (ou ao que for) e, com o arredondamento, isso implica uma subida na taxa aplicada ao crédito por via da subida da euribor e do arredondamento. A caixa não tem poder para decidir qual é a euribor nem de subir as taxas! só pode decidir como arredonda os empréstimos e que spread pratica. Aliás, isso são as condições que é importante verificar quando se assina a proposta e quando se comparam custos de empréstimos entre bancos diferentes.
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por Pata-Hari » 3/11/2005 22:23

Sem ter lido o artigo, PT, os créditos são normalmente indexados não à euribor mas à euribor a X meses que é superior à euribor do banco central (a spot). Ou seja, não faria sentido que a taxa para uma aplicação (um depósito a prazo, por exemplo) feita hoje e para hoje seja igual a uma taxa para um periodo mais longo. Explicando melhor, não faria sentido que se hoje fizesses um deposito a prazo a 10 anos a taxa não fosse superior a esses 2% porque a probabilidade que o mercado está a descontar é de que para uma aplicação a 10 anos a taxa média tenha sido Y (3 e tal% e não 2%) - aliás, essa curva, dito de um modo mais correcto é uma swap rate, é a curva de preços da troca de uma taxa variável por uma fixa, é quanto o mercado paga para fixar uma taxa em vez de a fazer variar.

No caso do crédito, o banco vai buscar a taxa que corresponde aos periodos em que pagas juros. Ou seja, se estás os juros dos proximos 3 meses, é normal que o banco vá buscar o valor a que o mercado acredita que terá sido remunerado durante esses três meses (ou seja, euribor 3 meses).

Fiz-me entender?
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por ptmasters » 3/11/2005 22:11

Pergunta:

Tendo o BCE mantido as taxas de juro de referência nos 2%, e estando a maioria dos contratos de crédito (no caso de à habitação) indexadas à Euribor a 3M e 6M, o que significou a notícia recentemente divulgada pela CGD em que anunciava que para os "novos contratos de crédito à habitação" haviam subido em 0,25%

Os juros já começaram a subir e os portugueses vão começar a pagar prestações mais elevadas quando contratarem um novo crédito para comprar casa. Segundo o «Diário de Notícias», ao fim de quase dois anos e meio sem alterações, a Caixa Geral de Depósitos (CGD) decidiu subir as taxas de juro para os novos contratos a realizar em Novembro em um quarto de ponto percentual.

Segundo o jornal, os juros a praticar pela instituição financeira estatal vão variar de um mínimo de 3% e um máximo de 4,5%, quer o cliente beneficie de um «spread» mínimo (0,5 pontos) ou da margem máxima (1,5 pontos). Nos últimos 29 meses, estes valores situaram-se entre os 2,75 e os 4,25%.

Esta é a consequência directa da subida registada pela Euribor a seis meses, o indexante mais usado no crédito à habitação, no último mês. Com efeito, em Outubro, o valor médio da Euribor a seis meses situou-se em 2,2720%, pelo que a CGD arredonda ao quarto de ponto percentual acima, ou seja, aos 2,50%, valor ao qual é posteriormente aplicado o «spread» aplicado aos novos contratos.

Para quem já possui um crédito à habitação e vê a sua taxa revista semestralmente, começará a sentir os efeitos da subida das taxas na próxima revisão, se esta tendência se mantiver. Só a título de exemplo, quem viu a sua taxa revista nos seis meses terminados em Outubro ainda beneficiou de uma ligeira descida da prestação. Mas quem for contratar o seu empréstimo a partir de hoje terá que desembolsar mais 4% de prestação do que pagaria se assinasse a sua escritura durante o mês de Outubro.

De acordo com uma simulação efectuada pelo «Diário de Notícias», tendo em conta um empréstimo de 150 mil euros, pago durante 44 anos, para um casal com um filho e um rendimento anual de 35 mil euros, se lhe fosse aplicada a taxa de juro mais elevada do mês passado (4,25%), ficaria a pagar 628,43 euros por mês.

Se o mesmo empréstimo for já contratado com os juros máximos fixados para Novembro (4,50%), o mesmo casal pagaria de prestação 652,99 euros.

A subida de juros decidida agora pela CGD indicia a inversão de um ciclo de baixas taxas de juro na Europa. Desde há seis décadas que os juros europeus não estavam a um nível tão baixo. Os principais banco de investimento e especialistas do sector estão convencidos que o Banco Central Europeu deverá aumentar as taxas de referência para o mercado até ao final deste ano, ou o mais tardar, no primeiro trimestre de 2006.


Para além do mais, indicam que as taxas variarão entre "um mínimo de 3% e um máximo de 4,5%, quer o cliente beneficie de um «spread» mínimo (0,5 pontos) ou da margem máxima (1,5 pontos). Nos últimos 29 meses, estes valores situaram-se entre os 2,75 e os 4,25%."

Ou seja, segundo as minhas contas, a CGD praticou durante este período em que a EURIBOR esteve nos 2%, no mínimo 2,75% para os clientes que tinham um spread mínimo de 0,5%? [2,00 % + 0,50 % + ??]

Alguém me podia explicar.

Obrigado
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por Pata-Hari » 3/11/2005 21:07

vm, a minha opinião (que parece ser a opinião geral) é de que o movimento de queda de tudo o que é taxa fixa é para manter (ou seja, que o ciclo de taxas terá mesmo investido). No entanto, também me parece que o movimento que estamos a assistir actualmente está já um pouco esticado e exagerado para um só movimento (tiveste no ultimo mês a maior correcção desde , se não estou em erro, fim de 2003!), e as expectativas são muito baseadas em indicadores de sentimento sem termos ainda assistido a valores "reais" de melhoria da economia europeia. A minha ideia seria de esperar por uma correcção da correcção e depois, possivelmente, sair de tudo (ou diminuir a exposição) a tudo o que seja muito exposto a taxa fixa. Estou a adivinhar que as novas eleições na alemanha, a instabilidade em França possam até ser catalizadores dessa correcção da queda.

Isto não invalida que esse tenha certamente sido uma excelente aplicação nos ultimos anos e que devas estar com muito boa rentabilidade!
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por vm » 3/11/2005 20:27

Europeias :(
 
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por Ulisses Pereira » 3/11/2005 15:29

Vm, obrigações americanas ou europeias?

Um abraço,
Ulisses
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por vm » 3/11/2005 15:23

Ulisses,
Tendo em conta esta inevitavel subida de juros, gostava de saber a tua opiniao: tenho uns fundos de obrigaçoes, que nos ultimos dias têm levado valentes tombos. Achas que será melhor despachar já agora ou esperar mais uns meses?
Sei que pode parecer um pouco ingenua esta pergunta, mas agora que estas subidas já estão descontadas, as quedas poderam acalmar, ou não?
 
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por djovarius » 3/11/2005 15:17

É a realidade.
Já que a Economia não reage a um juro real negativo, não há motivos para mantê-lo assim, arriscando a alimentar futura inflação em clima de fraco crescimento. Tanto mais que há muita liquidez.

São razões para acreditar num futuro e lento regresso a juros mais elevados, seja 2.5% ou mesmo 2.75% ao longo de 2006. Mais do que isso seria um exagero perante o quadro que podemos antever.

E hoje, temos a última aparição de Gspan perante o Congresso. Daqui a menos de uma hora.

Abraço

dj
Cuidado com o que desejas pois todo o Universo pode se conjugar para a sua realização.
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por Ulisses Pereira » 3/11/2005 15:09

O líder do BCE, na conferência de Imprensa que terminou agora, insistiu na ideia que, neste momento, não há ainda motivos para mexer nas taxas mas sublinhou que, a qualquer altura em que isso se justifique, o BCE irá agir. Pareceu, claramente, uma preparação dos mercados para uma subida de taxas.

Um abraço,
Ulisses Pereira, gestor de carteiras
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