Caldeirão da Bolsa

Avaliar os médicos

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Avaliar os médicos

por marafado » 28/8/2005 12:43

Avaliar os médicos

André Macedo


António vive nos Estados Unidos e sofre de fibrose quística, uma doença respiratória que pode reduzir drasticamente a esperança de vida.

Muitas pessoas morrem pouco depois da adolescência, às vezes até antes: vão tendo cada vez mais dificuldade em respirar, os pulmões ficam bloqueados até que, um dia, já não guardam espaço para receber oxigénio. O problema de António foi-lhe diagnosticado cedo e, desde essa altura, ele é seguido de perto por um médico que não o deixa desviar-se um milímetro do tratamento prescrito. António sabe que é muito importante seguir à risca as recomendações deste médico – foi por isso que os seus pais o escolheram entre centenas de outros.

Pelos vistos, a opção foi acertada. Os exames que faz regularmente provam que o seu estado de saúde é melhor do que os outros pacientes com a mesma doença e que são seguidos noutros hospitais. Não só a sua esperança de vida parece ter aumentado, como a sua qualidade de vida deu um salto extraordinário. Mas qual é o truque para a vantagem que António leva sobre os outros? Se o protocolo clínico (ou seja, a terapia usada) é, em traços largos, idêntica de hospital para hospital, onde estará a diferença?
Simples. O médico dele não se limita a aplicar a receita geral indicada nos manuais, faz muito mais do que isso, é mais exigente e procura melhorar os detalhes todos os dias, porque sabe que os grandes avanços só podem ser alcançados através das pequenas conquistas diárias. Ou seja, todos os seus pacientes seguem dietas mais rigorosas, cumprem mais exercícios de respiração, tomam religiosamente todos os medicamentos, mesmo quando as análises dizem que, naquele momento, não há problema nenhum. O controlo médico pode ser sufocante, mas o resultado é fantástico: às vezes, a capacidade pulmonar destes doentes é superior à das pessoas saudáveis.

Se aplicássemos aqui o critério de avaliação profissional que Sócrates quer justamente impôr aos funcionários públicos diríamos que o médico de António não é “bom” nem “muito bom”: ele é “excelente”. Acontece que, em Portugal, nunca o poderíamos saber. Ao contrário do que acontece nos Estados Unidos, por cá os hospitais e os médicos não são avaliados e a informação não circula. Ninguém pode saber com rigor – com os números em cima da mesa – qual o hospital que tem conseguido melhores resultados nas cirurgias ao cancro da próstata ou da mama ou do pulmão. Essa informação, apesar de vital, não existe. Em Portugal, os pais do António teriam de confiar no que se diz deste ou daquele médico, nunca poderiam fazer uma escolha fundamentada numa altura decisiva. E como não há transparência, todos os médicos são sempe os melhores. Ou seja, sabemos onde se come uma boa pizza ou qual é o carro mais veloz. Não sabemos quem nos pode salvar a vida. Temos uma ideia geral .

*Editor-executivo do Diário Económico
 
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