Caldeirão da Bolsa

A caminho dos $70 por barril... e Fed-Funds em 5%...?

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por ScrappeR » 12/8/2005 11:31

ontem enquanto voltava para o continente para meu pouco espanto aumentaram o preço da gasolina. Ainda não tenho opinião formada quanto ao barril a 70$ mas gostaria de ouvir as vossas opiniões. Por acaso têm sido uma semana intressante a custa do petroleo, segunda atingiu um maximo, terça tb, quarta tb, e quinta para variar tb. Por este andar Terça-feira/Quarta-feira está nos 70$.Quem sabe não ultrapassa isso. :-k
No mercado quase tudo é positivo até o panico,pois só é negativo o prejuizo.
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A caminho dos $70 por barril... e Fed-Funds em 5%...?

por luiz22 » 11/8/2005 21:30

A caminho dos $70 por barril... e Fed-Funds em 5%...?

Paula Carvalho, do Departamento de Estudos Económicos e Financeiros do BPI


Este seria um título impensável até há algumas semanas atrás. No entanto, o preço do crude voltou à ordem do dia, ao bater de novo valores (nominais) máximos históricos. Entretanto, o fulgor da economia dos EUA, reflectido em praticamente todos os indicadores, permite colocar a fasquia de elevação dos fed-funds bem acima dos 4%. Contrariamente à especulação não muito distante nos mercados financeiros.

Apesar da época do ano, esta tem sido certamente uma temporada cheia de novidades. A começar pelo anúncio de revalorização do iuan. Apesar da timidez do movimento, ao contribuir para reequilibrar o crescimento global e para a secagem da liquidez excedentária, veio reduzir os riscos de rotura do actual equilíbrio. E os efeitos não se fazem esperar sob a forma de regresso de algumas variáveis do mercado a níveis mais razoáveis. O esbatimento do puzzle do mercado de dívida constitui um exemplo. E porque não, a melhoria das perspectivas económicas globais, com uma quota-parte significativa na actual pressão sobre o crude ou na alteração das perspectivas do mercado para a Fed?

Relativamente ao petróleo, para além da procura actual e das perspectivas do seu fortalecimento futuro, as notícias mais recentes dão-nos conta de factores do lado da oferta que afectam dois dos maiores produtores mundiais, o Irão e a Arábia Saudita. Para além de suspeitarmos que o preço do barril de crude permanecerá pressionado, acima dos tradicionais 25 dólares por barril que constituíram quase a referência num horizonte não muito distante, é impossível prever a sua evolução futura. Por muito que este assunto esteja batido, é importante recordarmos aqui alguns pontos neste contexto. Em primeiro lugar, o efeito desta pressão altista poderá inclusive, ser benéfico, na medida em que vem relembrar aos países mais industrializados a excessiva dependência de uma fonte energética cuja oferta total é finita (ainda que as reservas conhecidas cheguem para os próximos 80 anos…), além de ser controlada/disponibilizada por países/zonas geográficas politicamente instáveis. Em segundo lugar, os efeitos económicos da actual crise petrolífera são bastante menos nefastos que em crises anteriores. Desta vez, os principais efeitos surgirão reflectidos nos lucros das empresas, que acomodam os acréscimos de custos dado o incipiente poder de imposição de preços; e numa menor escala, também ao nível das famílias, cuja factura energética aumenta, diminuindo o rendimento disponível. Ocorrem também transferências de riqueza dos países importadores para os exportadores líquidos, jogo cuja soma não é nula. De facto, segundo a OCDE, o resultado global traduz-se em perdas líquidas, pois em geral, os países exportadores líquidos são menos eficientes em termos económicos.

Ainda assim, comparativamente a crises petrolíferas anteriores, esta é uma nova realidade. Os efeitos contidos da recente crise, para além de derivarem da ausência de efeitos secundários sobre a forma de espiral inflacionista nos salários, resultam também do contexto económico mais favorável desta crise petrolífera por comparação com anteriores e que, de certa forma, compensou os efeitos do encarecimento do crude - por exemplo, as baixas taxas de juro de longo prazo e o facto de as economias estarem a crescer abaixo do seu potencial. Confirmando a maior resistência a este tipo de choques, no caso concreto da Zona Euro, a Comissão Europeia veio afirmar que a alteração do preço do barril de petróleo, desde a altura em que elaborou as previsões da Primavera, (preços spot e trajectória no mercado de futuros) se reflecte apenas numa redução da taxa de crescimento do PIB em 0.2% em 2005 e 0.1% em 2006, segundo simulações efectuadas. Aliás, esta é uma das justificações para a revisão em baixa do crescimento da UEM este ano, de 1.6% para 1.3%.

Quanto à Reserva Federal, a última reunição do Comité de Política Monetária da Reserva Federal (FOMC) não trouxe novidades. A taxa dos fed-funds está agora em 3,5% e a declaração posterior à reunião evidencia que a autoridade monetária continua confiante no desempenho da economia e na ausência de riscos significativos de inflação. Na calha estão evidentemente, novas subidas dos juros. Provavelmente até um nível moderadamente restritivo, ou seja, um pouco acima do habitualmente considerado neutral. Em suma, em meados de 2006 os fed funds deverão já superar os 4.5%. Existem riscos, não há dúvida. O enorme défice externo americano, que torna a economia dependente do financiamento exterior; os preços das casas, com um ritmo de crescimento frenético segundo padrões históricos; os preços do crude, pois os EUA são o maior importador mundial de crude e a economia tem uma intensidade energética elevada, ou seja, para produzir uma unidade de riqueza necessita de mais energia, em média, que outros blocos económicos como a Zona Euro ou o Japão; o elevado nível de endividamento das famílias e a poupança mínima, os quais funcionam como restrição activa a uma maior dinâmica do consumo; finalmente, o facto de muito do actual enquadramento favorável ser devido ao ambiente monetário e financeiro positivo - ou seja, às baixas taxas de juro, curtas e longas, e ao desempenho dos mercados de acções.

Mas apesar de todos estes factores de risco tão avassaladores, cada um capaz de abalar o equilíbrio económico, parece-nos que existe uma janela de oportunidade para um cenário de crescimento global mais sustentado, porque também mais equilibrado, mais partilhado entre os principais blocos económicos. A probabilidade de 2006 ser mais um ano de crescimento significativo a nível mundial, ainda que em abrandamento moderado, parece-nos nesta altura razoável. Sobretudo se os bancos centrais dos EUA e China continuarem a dar o seu contributo inestimável para a gradual correcção dos principais desequilíbrios globais.
As decisões fáceis podem fazer-nos parecer bons,mas tomar decisões difíceis e assumi-las faz-nos melhores.
 
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