Caldeirão da Bolsa

O único líder europeu

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

só tenho uma coisa a dizer - já não era sem tempo...

por UmPataconcio » 23/6/2005 6:59

Finalmente veio alguem acordar o sistema continental europeu... Tudo porque a velha europa julgou muito erradamente, que bastaria uma dívida pública reduzida, uma inflação controlada e reduzidos défices orçamentais dos estados membros para manter um crescimento sustentado, assim dizia o PEC...

Mas com a competitividade mundial actual esses eram pressupostos correctos... mas muito insuficientes, a atracção do investimento para a europa obriga a regimes fiscais competitivos e alguma flexibilidade laboral...

Como se já não fosse pouco o envelhecimento da população europeia, criando défices da SS, foi criminoso associar ainda uma insustentável situação despesista de subsidio-dependencia europeia...

Cada vez mais os incrementos das cargas fiscais sufocam qualquer tentativa de atrair investimento para a renovação da velha europa...

E o que é certo é que pequenos países como Portugal estão completamente a sabor da conjuntura economica dos paises mais decadentes da europa, sobretudo França, Alemanha e Itália, bem como das suas réplicas de menor dimensão... pois é com eles que temos mais transações comerciais...

Até que enfim que alguem se lembra de acordar os mortos... os suecos já se juntaram a Blair os irlandeses acham muita graça... nós por cá ainda temos de decidir se vamos construir uma estrada ou continuar a tapar buracos...

Disto ressalva apenas referir uma admirável destreza e muita inteligencia de Blair, o rapaz até tem pinta... e pode bem ser ele a dar o toque necessário ao início de mudanças, porque nada disto é novidade dentro dos países que precisam de mudança urgente, apenas precisam da coragem para o fazer...
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 98
Registado: 23/6/2005 6:22
Localização: coimbra

por zé povinho » 22/6/2005 19:40

muito boa reflexão que pode servir para nos ajudar a pensar sobre o assunto.

hoje é evidente que o Blair pretende mudar muita coisa, e ele já ontem avisou que o 1º e grande objectivo dele é alterar a PAC tão do agrado dos franceses, mesmo que para isso deixe de receber o tal "cheque inglês".

a ser verdade que queira começar por aí, não podia ter escolhido melhor e mais dificil objectivo.

para o conseguir atingir vai ter grandes guerras pela frente, mas o futuro da Europa enquanto CEE passa por vencer essa guerra.
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 1722
Registado: 4/11/2002 23:38

O único líder europeu

por luiz22 » 22/6/2005 19:26

2005-06-22 14:00
O único líder europeu

Domingos Amaral


Tony Blair, como não caiu na armadilha do euro tal como ela foi desenhada, retira agora os dividendos.

Não deixa de espantar o tom de surpresa, e mesmo de desilusão, com que os líderes europeus, e muita imprensa, acolheram a irredutível posição de força de Tony Blair na última cimeira europeia. Aparentemente, os europeus esperavam de Blair “altruísmo”, “cedências” e “espírito construtivo”, e ficaram horrorizados com a sua “intransigência negocial”. Pelos vistos, a ninguém passou pela cabeça um pequeno pormenor: Blair é o único governante forte na Europa, acabou de ser reeleito, e a sua economia, fora do euro e com algum petróleo, continua bem melhor que as anémicas França, Alemanha e Itália. Portanto, só Blair tem força e legitimidade próprias, além de autonomia económica, para obrigar a Europa a andar no sentido em que ele deseja. A sua força negocial, a capacidade de dizer não, vem daí, e só deve surpreender os desatentos.

Quase todos os outros governos, ou são de países demasiado pequenos para contarem, ou então estão frágeis, vítimas inglórias do actual paradoxo europeu. Alguns anos depois da entrada em vigor do euro e do Pacto de Estabilidade, é já bastante claro que, em nome de um sonho de prosperidade económica na Europa, se produziu um grave problema político. Na política, como na guerra, é preciso armas. Mas, submetidos às regras do regime monetário, sem taxa de juro nem taxa de câmbio, obrigados a manterem défices curtos mesmo em épocas de recessão, os governos da Europa estão desarmados, e vivem cheios de problemas, odiados pelas respectivas opiniões públicas, e a perderem sucessivas eleições.

A nossa rábula indígena do “défice”, que já consumiu Barroso, e que vai agora começar a consumir Sócrates, é apenas um dos muitos episódios que vão passando nos cinemas europeus. Sobe impostos, corta despesas, enfrenta sindicatos e grupos de pressão, desemprego a subir, povo na rua, recessão económica, a tristonha lengalenga é sempre a mesma. Os governos tentam “cumprir” o Pacto, não conseguem, prevaricam, depois voltam a tentar, sempre com as mesmas soluções e com os mesmos resultados: mais recessão e mais défice. A trituradora não pára, como não vai parar por cá, com mais IVA, mais crise, mais conflitos sociais.

França, Alemanha, Itália, Portugal, Holanda, Bélgica, Grécia, são governados aos solavancos, em permanentes “sacrifícios”. Os respectivos governos não têm força política e começam mesmo a perder legitimidade. Como se pode esperar então que tenham capacidade para mudar alguma coisa, ou no caso da França e da Alemanha, arrogar-se a mandar na Europa?
Blair sabe disso, e como não caiu na armadilha do euro tal como ela foi desenhada, retira agora os dividendos. O “não” da França e da Holanda, a debilidade de Schröder ou o “fracasso das negociações”, só vieram confirmar o óbvio: quanto mais forte o euro for, mais fracos são os governos nacionais. Retirar de cena Schröder, Berlusconi ou Chirac, o verdadeiro objectivo da famosa “pausa para reflexão na Europa”, não vai porém alterar o essencial: na Europa, só Blair manda, porque só Blair é independente, só ele tem armas políticas no coldre e balas na cartucheira.

É ele, aliás, que vai presidir à União. Porquê então dar ao senhor Juncker uma vitória, quando pode ser ele a brilhar nos próximos meses? Há quem lhe chame egoísmo, mas para mim é política dura e pura, sem pieguice ou sentimentalismos bacocos. O objectivo de Blair não é a Europa “federal”, rival dos Estados Unidos da América, com PAC, mercados de trabalho rígidos, e “direitos sociais” garantidos. Blair não quer o federalismo fiscal, nem um Pacto de Estabilidade que seja uma espada sobre a sua cabeça. Portanto, age em conformidade, mesmo que para isso tenha de ficar “mal visto”. Com Chirac e Schröder moribundos, a Europa é, para já, dele. Resta saber o que pretende fazer dela: mantê-la, mudá-la, ou dar-lhe o golpe de misericórdia, impondo a entrada da Turquia?
____

Domingos Amaral é director da revista Maxmen e assina esta coluna semanalmente à quarta-feira.
 
Mensagens: 1700
Registado: 26/11/2004 23:00
Localização: Belém-Lisboa


Quem está ligado:
Utilizadores a ver este Fórum: Bing [Bot], Burbano, Google [Bot], Google Adsense [Bot], PAULOJOAO e 595 visitantes