Caldeirão da Bolsa

IVA a 21% reforça risco de recessão

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por marafado » 30/5/2005 3:01

IVA, o terrível



A decisão do Governo de aumentar a taxa do IVA de 19% para 21%, incluída num pacote de medidas destinado a combater um défice orçamental que já vai em 6,83% do PIB, provocou um pequeno terramoto na Bolsa lisboeta - o índice PSI-20 fechou a semana com perdas de 2,06%, a maior descida semanal em mais de um mês, reflectindo fortes quebras nas acções das empresas retalhistas, as que vão ser mais penalizadas pela esperada retracção no consumo das famílias. A Jerónimo Martins, por exemplo, recuou 3,6%, enquanto a Sonae SGPS baixou 1,64%. A curva negativa foi ainda acentuada pelas fortes quebras da Portugal Telecom (-5,8%) e PT Multimedia (-3,66%), fruto do ajustamento do mercado ao facto de as acções deixarem de ter já direito a dividendos. As únicas empresas a escaparem à maré negra bolsista foram a Gescartão (+0,84%) e a Media Capital (+3,53%), esta última a bater recordes sucessivos - fechou a semana a 6,46 euros - sob o impulso de rumores de que poderá ser alvo de uma OPA hostil por parte de um investidor estrangeiro. O referendo à Constituição Europeia em França; a apresentação pelo ministro das Finanças, Luís Campos e Cunha, do Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC), amanhã, no Parlamento; e a reunião de quinta-feira do Banco Central Europeu para decidir se há ou não mexidas nas taxas de juro irão concentrar as atenções dos mercados no decorrer da semana que agora começa.
 
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por marafado » 30/5/2005 2:57

Eni não aprovou administração da Galp

Arquivo DN-Rodrigo Cabrita

Impasse. Galp à espera de decisões do Governo e dos italianos da Eni

A assembleia-geral da Galp, realizada na passada terça-feira, na qual foram aprovados os nomes propostos para o novo conselho de administração da empresa, não foi propriamente pacífica.

Para começar, os representantes do accionista privado de referência, os italianos da Eni, abstiveram-se de votar o novo conselho, sem fazer qualquer declaração de voto. Uma atitude lida pelos presentes como de não confronto directo com o Estado, mas também de ausência de solidariedade accionista.

As explicações para esta abstenção deverão ser dadas hoje, segunda-feira, pela Eni durante a primeira reunião do conselho de administração da empresa, no decurso da qual deverá ser nomeada a futura comissão executiva, garantiram ao DN representantes dos vários accionistas.

De acordo com as mesmas fontes, os italianos não estão nada satisfeitos com a atitude do Estado, em primeiro lugar porque não lhes foi dado a conhecer antes da assembleia alguns dos nomes que integravam a lista do novo conselho, presidido por Murteira Nabo, em segundo porque não concordavam com alguns deles, por virem de fora do sector, e por último porque gostariam que a futura comissão executiva tivesse um número mais reduzido de elementos, o que não deverá verificar-se.

Recorde-se que o novo conselho de administração deverá nomear hoje para presidente da comissão executiva Marques Gonçalves, um homem com carreira internacional feita na General Motors, a fabricante da marca Opel. Da comissão executiva deverão ainda fazer parte Rui Cartaxo, Giancarlo Rossi, Camillo Gloria, Palmeiro Ribeiro e Oliveira Fernandes.

A posição de inflexibilidade do Estado, nesta assembleia, poderá ainda ter contribuído para dificultar as negociações entre os dois grandes accionistas da empresa. Negociações essas que têm em vista definir a posição da Eni na Galp e num futuro modelo organizacional para o sector energético.

Aliás, as conversações entre a Eni e o Estado já estavam num impasse há umas semanas. Não só porque houve mudanças no conselho de administração da empresa em Itália, mas também por questões de preço, sublinham as mesmas fontes.

Recorde-se que o accionista italiano, que detém 33,34% do capital da petrolífera, tem o direito de comprar mais 10% de capital da empresa se não chegar a acordo com o Estado até Outubro. O acordo pode passar pela cedência da sua posição actual na holding Galp, para ficar com uma fatia significativa do negócio do gás, já que o Governo pretende dividir a empresa em duas, ficando uma delas com os negócios do petróleo e a outra com os do gás e da electricidade. Cada uma destas empresas pode vir a ser detida maioritariamente por parceiros diferentes.

Mas a assembleia geral não ficou marcada só pela abstenção da Eni. Também o representante da holding estatal Parpública se absteve de votar o louvor ao trabalho desenvolvido pela anterior administração, liderada por Ferreira do Amaral e Mário de Abreu.

Plácido Pires, na declaração de voto, explicou que não votava favoravelmente porque aquela administração nem sempre tinha sido cooperante com o accionista Estado.
 
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por marafado » 30/5/2005 2:56

Companhias chinesas apostam nas novas tecnologias



A estratégia de internacionalização do Governo chinês levou, em 2004, as companhias chinesas a investirem 26 500 milhões de euros em 7500 sociedades, em mais de uma centena de países. Uma marcha rumo ao estrangeiro que vai seguramente agitar as águas nos mais diversos mercados.

Um dos passos mais arrojados e mais mediáticos dados por uma companhia chinesa foi a compra da divisão de computadores pessoais da IBM pela Lenovo, que assim passa a controlar 7,2% do mercado mundial de PC. As norte-americanas HP (líder de mercado) e a Dell (segunda do ranking) terão de descobrir novos caminhos para manter as suas posições, já que o custo de produção de cada computador da Lenovo ronda os 275 dólares (menos 50 a 60 dólares que os concorrentes norte-americanos).

Também no domínio das tecnologias e das telecomunicações há outros nomes a registar. Um deles é o da Huavei, o único grupo privado de telecomunicações da China que actua como fornecedor de banda larga, telefonia sobre IP e sistemas ópticos. Fundado em 1988, o grupo Huavei facturou 4200 milhões de euros em 2004, dos quais 1900 milhões foram obtidos fora da China. O negócio internacional cresce a um ritmo de 117% ao ano.

Ainda no domínio das telecomunicações, é preciso não esquecer que a China tem duas empresas no top três mundial em número de clientes a China Mobile é a número um absoluta, com 204,2 milhões de assinantes (todos em território chinês). A China Unicom ocupa a terceira posição com 113 milhões de clientes, ainda assim distante da segunda classificada do ranking (a britânica Vodafone, 151,8 milhões).
 
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por marafado » 30/5/2005 2:55

Empresas portuguesas na China querem mais apoios
Governo não dá assistência suficiente, queixam-se os empresários

ncátia almeida

Os empresários portugueses com negócios na China afirmam que não estão a receber o apoio e a assistência do Governo de Portugal necessários ao bom desenvolvimento da entrada estratégica naquele mercado. Falta de informação, incentivos reduzidos, inexistência de actividades promocionais, fraco apoio logístico e dificuldades no acesso a linhas de crédito são as áreas onde as empresas requerem uma ajuda do Executivo.

Também num sentido lato, os empresários destacam a importância do apoio político junto do Governo chinês, uma vez que este tem ainda um papel muito interventor na economia e na decisão de muitas empresas chinesas.

Estas são algumas das conclusões de um inquérito feito pela secretária-geral da Câmara de Comércio Luso-Chinesa e que serão incluídos na sua tese de doutoramento, a ser apresentada brevemente na Universidade de Sevilha. Em declarações ao DN, Fernanda Ilhéu sustentou que o apoio requerido pelas empresas nacionais "vai além do dinheiro. Os empresários não se sentem acompanhados, têm pouca informação e não sabem em qual devem confiar. Não existem estímulos internos para escolher o mercado chinês. Por outro lado, outros governos, como o espanhol, têm tasks forces no terreno para ajudar as empresas, identificam oportunidades e criam fundos de apoio".

De facto, o apoio do Governo de Espanha tem aumentado significativamente. Depois de concluído o projecto de 2002-2005, o ministro da Indústria, Turismo e Comércio apresentou em Pequim, na sexta-feira, o novo 'Plano China', para o período 2005-2007, que conta com 690 milhões de euros. O objectivo é reforçar a presença das empresas do país vizinho na China e incentivar o investimento chinês em Espanha. Este plano contempla ainda instrumentos de apoio financeiro, através da negociação de um novo protocolo financeiro com a China, que será dotado com 500 milhões de euros. Para promover o investimento chinês em Espanha, o Governo impulsionará a linha de crédito China Fiex-Fonpyme, com uma dotação de 90 milhões de euros. O plano contempla ainda a promoção de Espanha como destino turístico.

"Também entre Portugal e a China foi criada uma linha de crédito, no Governo de Cavaco Silva, de 200 milhões de euros. Porém, esta linha não é utilizada por não ser competitiva", frisou Fernanda Ilhéu.

dificuldades. No inquérito realizado às 111 empresas que mantêm actividade regular na China (com uma taxa de resposta de 47%), Fernanda Ilhéu, que é também docente no ISEG, identificou outras dificuldades sentidas pelos portugueses, nomeadamente o mercado fragmentado, a alta competição e infra-estruturas pobres, especialmente na distribuição.

"A distribuição é um dos aspectos mais difíceis para vender no mercado chinês, mas espera-se que em 2006, o mercado de consumo seja finalmente aberto aos estrangeiros e o sector da distribuição possa ser bastante alargado".

Existem igualmente dificuldades em entender os parceiros locais, a cultura e a língua, "o que constitui um grande risco para a criação de joint-ventures". Fernanda Ilhéu sublinhou que "os empresários não conhecem os seus possíveis parceiros, tornando-se difícil saber quais os que têm credibilidade".

Além das dificuldades, as empresas nacionais deparam-se com riscos naquele mercado. Neste âmbito, foram apontadas a "falta de transparência do ambiente político legal, a falta de conhecimento das regras do jogo dos chineses para os estrangeiros, a dificuldade em obterem guanxi, ou seja, um conjunto de relacionamentos que abrem 'portas', através de uma 'rede' de contactos. Foi também destacada a corrupção e o desrespeito pela propriedade intelectual, apesar dos esforços do Governo".

Estes riscos e barreiras explicam o fraco compromisso das empresas portuguesas com o mercado chinês. "Só 25% das empresas da amostra têm um escritório na China e 72% fazem menos do que 5% do seu volume de vendas na China." Por seu lado, " a maioria dos escritórios, 61,5%, corresponde a uma mera representação comercial, sendo esta a forma legal com menos compromisso na China".

Uma pequena parte das empresas inquiridas "estão presentes na China apenas com IDE em fábricas e 30,8% têm fábricas e escritórios de representação".

Mas como são feitos os investimentos portugueses na China? Uma pequena parte (15,4%) são empresas 'autónomas' com 100% do capital; outras (30,8%) optam por joint-ventures (até há pouco tempo a única forma de entrar na China), 30,7% são escritórios de representação de bancos e as restantes correspondem a presenças em escritórios de agentes.

amostra. Da lista do ICEP de 309 empresas com negócios na China, Fernanda Ilhéu eliminou as que não estavam actualmente com actividades naquele país e as multinacionais. Restou uma amostra de 111 empresas. Responderam ao inquérito quase metade (46,8%).
 
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por marafado » 30/5/2005 2:54

Muitas oportunidades, poucos casos de sucesso...





muralha. Língua e cultura chinesa são obstáculos para as empresas

Apesar de existirem poucas organizações nacionais com actividade relevante em território chinês, não deixa de ser curioso constatar que, segundo as contas de Fernanda Ilhéu, já lá estão 111 companhias portuguesas. No entanto, olhando para a dimensão e tipo de operações em causa, a conclusão que ressalta é que a China é ainda um imenso mar desconhecido para a generalidade das nossas empresas.

"A chave do sucesso das organizações nacionais está em descobrirem nichos de mercado onde possam ser competitivas e depois procurar os parceiros locais certos", diz ao DN o embaixador português em Pequim, António Santana Carlos. Isto requer "tempo, paciência, investimento e muitas deslocações à China para acompanhar a evolução do negócio", mas os potenciais benefícios a colher neste gigantesco mercado consumidor compensam largamente os sacrifícios.

Mira Amaral, administrador da SPI - Sociedade Portuguesa de Inovação e um especialista no mercado chinês, diz que há essencialmente duas janelas de oportunidades para as empresas nacionais "Ou vão para a China à procura do mercado de consumo, para vender bens e serviços, ou então para estabelecerem lá uma plataforma manufactureira para a exportação".

A SPI possuiu uma delegação em Pequim que desenvolve projectos na área da ciência e tecnologia, na vertente da ligação entre a União Europeia e a China (com fundos comunitários), e também no apoio à internacionalização de empresas nacionais naquele país. Face ao tipo de projectos que a SPI tem em mãos, Mira Amaral diz que é principalmente no mercado de consumo que os portugueses estão a apostar, mas acrescenta que não deverá demorar muito tempo até surgirem mais investimentos virados para a produção.

Os sectores mais promissores já estão identificados vinho e bebidas, produtos alimentares, materiais de construção, cortiça, rochas ornamentais, cerâmica, componentes electrónicos, moldes, vestuário e calçado de marca e com elevada qualidade. Nesta altura, porém, os casos de sucesso portugueses na China ainda se contam quase exclusivamente pelos dedos de uma só mão. E quase todos com raízes em Macau. A Portugal Telecom, que tem uma subsidiária (PT Macau) naquele antigo território colonial português, tem reafirmado por diversas vezes a intenção de reforçar a sua posição na China, estando neste momento à procura de um parceiro local.

O Banco Espírito Santo também começou por Macau, onde possui uma filial, mas neste momento já tem uma representação em Xangai. O banco português tem intensificado a sua actividade no território, nomeadamente enquanto intermediário financeiro nas relações comerciais das companhias chinesas com África e América Latina.

A Efacec, por seu turno, tem um parceiro chinês no Norte da China, onde possui uma fábrica de produção de transformadores. Outra companhia com um trajecto bem sucedido no Oriente é o grupo Amorim, que tem aproveitado a presença em Macau para ir descobrindo oportunidades na China na área dos revestimentos de cortiça.

Além destas companhias, existem ainda muitas outras recém-chegadas (como a Vinocor, na área das rolhas de cortiça, ou a Metalcértima, que fabrica cerâmica e tijolos) ou em vias de internacionalização
 
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por marafado » 30/5/2005 2:54

Menos 17 500 postos de trabalho



A construção e obras públicas empregava no primeiro trimestre deste ano 539 900 pessoas, menos 17 500 trabalhadores (-3,1%) que nos primeiros três meses de 2004. No entanto, o peso da construção no emprego total baixou de 10,9% em 2004 para 10,6% no ano corrente. O inquérito mensal da Aecops/UE revela que o nível de actividade global do sector está a evoluir de forma menos negativa do que em 2004 (saldos médios de -31% e de -25% até Abril de 2004 e de 2005, respectivamente), devido ao comportamento menos desfavorável da componente de edifícios, pois a avaliação relativa ao ritmo de produção das obras públicas tem-se revelado mais desfavorável. Quanto ao futuro, as expectativas dos empresários mantêm-se pouco animadoras, quer quanto ao emprego quer à produção. Contudo, as opiniões emitidas durante os primeiros quatro meses do corrente ano foram já menos desfavoráveis do que as apuradas há um ano atrás (saldos médios de -25% e -12%, para as perspectivas de emprego e de produção, até Abril de 2004, contra -17% e -9%, em igual período de 2005).
 
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por marafado » 30/5/2005 2:53

Subida de impostos agrava crise económica
Crescimento previsto pela OCDE difícil de concretizar com subidas de impostos

nFernando Valdez

A actividade económica manteve- -se deprimida no primeiro trimestre, segundo o INE, e o indicador coincidente do Banco de Portugal aponta para uma manutenção da tendência descendente da economia em Abril.

A OCDE aponta para um crescimento da economia portuguesa de 0,7% em 2005, em abrandamento. Mas, conhecidas as medidas do Governo para a contenção do défice, nomeadamente de subida de impostos, a tendência será de agravamento da situação recessiva, tornando difícil que mesmo aquele modesto crescimento se concretize.

O aumento do IVA, alargando o diferencial face à Espanha, diminui a competitividade da economia portuguesa. O mesmo sucede com a subida do imposto sobre os combustíveis. O agravamento daqueles impostos e do que incide sobre o tabaco vão encarecer significativamente o custo de vida.

O novo discurso da tanga deverá afectar a confiança dos consumidores e dos agentes económicos. São conhecidos os efeitos devastadores do pessimismo de empresários e consumidores para a economia portuguesa em 2002/2003.

Os dados do IEFP confirmam a tendência de agravamento do desemprego e indicam que em Abril havia já 478 608 desempregados inscritos nos centros de emprego.

A síntese económica do INE revela que o investimento manteve uma tendência desfavorável até Abril, com o indicador de formação bruta de capital fixo (FBCF) a recuar fortemente naquele mês.

A produção da construção acentuou a queda no primeiro trimestre e as vendas de veículos comerciais tiveram uma evolução negativa em Abril, mês em que as vendas de bens, máquinas e equipamentos no comércio por grosso tiveram também um andamento desfavorável.

O único dado positivo será a tendência para um contributo menos negativo das exportações líquidas para a formação do PIB, que se verificou nos dois primeiros meses.

O INE assinala que os principais sectores de actividade económica continuaram a apresentar um fraco dinamismo no primeiro trimestre, com a produção da indústria transformadora e da construção a manterem-se em queda e os serviços em forte abrandamento, até atingirem uma quase estagnação.

O indicador coincidente do Banco de Portugal está em queda há 10 meses consecutivos e a sua variação homóloga situou-se em Abril em terreno negativo.
 
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por marafado » 30/5/2005 2:52

A Primavera do défice



ANuno Valério

Professor

do ISEG
Primavera de 2005 está a ser uma verdadeira repetição da Primavera de 2002 no que respeita à situação das finanças públicas.

Chegado ao poder um Governo apoiado numa nova maioria, o governador do Banco de Portugal é chamado a avaliar a situação das finanças públicas e conclui que o saldo negativo das respectivas contas é maior do que o anterior Governo anunciava e que é conveniente, quer por razões internas quer por razões de participação na união monetária europeia. Logo, torna-se necessário aumentar os impostos e conter as despesas.

A repetição tem, é claro, algumas diferenças.

Em 2002, a maioria recém-chegada ao Governo denunciara já na campanha eleitoral que a situação das finanças públicas era claramente pior (saldo negativo de 5 % do PIB) do que o Governo anunciava (saldo negativo de 3 % do PIB) e propusera como solução a redução de impostos (!).

Mudou depois de solução, como seria de esperar, apesar de a situação não ser tão má quanto denunciara (saldo negativo de 4% do PIB).

Em 2005, a maioria recém-chegada ao Governo denunciou na campanha eleitoral uma situação parecida com a de 2002, mas limitou-se a prometer que não aumentaria os impostos.

Como a situação afinal parece bem pior do que o denunciado (saldo negativo de 7 % do PIB), tem alguma margem de credibilidade para não cumprir a promessa.

Contra este aspecto positivo pesam dois aspectos bem mais negativos a situação em 2005 é realmente pior do que em 2002 e as medidas de correcção de 2002 parecem não ter surtido qualquer efeito. Logo, as medidas de correcção de 2005 terão de ser mais duras.

No imediato pouco mais há a fazer do que apertar ainda mais o torniquete fiscal para tentar que 2005 não seja tão mau como se prevê.

A médio prazo é preciso racionalizar efectivamente os serviços públicos, para que possam fazer o mesmo ou mais com menos despesa.

O fundamental, porém, não é que as medidas de correcção sejam brutais, o que até poderia ser social e mesmo economicamente contraproducente.

O fundamental é que as medidas de correcção sejam persistentemente mantidas e não sejam desbaratadas em orçamentos eleitoralistas como o aprovado para 2005. E (talvez o mais difícil) que sejam persistentemente mantidas não só enquanto durarem as dificuldades visíveis, mas sobretudo se houver (como seria desejável) uma recuperação económica europeia com efeitos positivos em Portugal.

Em rigor, o desejável seria tomar de imediato apenas as medidas de correcção mínimas indispensáveis, e quando esse momento chegar (e é de crer que mais cedo ou mais tarde chegará) não pôr fim às medidas de correcção, mas sim intensificá-las.

A realidade não será provavelmente tão boa quanto o que o parágrafo anterior sugere que poderia ser, porque o realismo político vai, quase de certeza, exigir um escalonamento temporal das medidas de correcção que não será o mais conveniente de um ponto de vista estritamente técnico.

Vale a pena, como contraponto, lembrar que o défice já está connosco há mais de quarenta anos (desde o início da guerra colonial), que já foi esporadicamente muito maior do que é hoje (10 % do PIB) e que não foi por isso que a economia portuguesa deixou de passar de um nível de vida que era há quarenta anos pouco maior que a média mundial, para um nível de vida que é hoje mais do dobro da média mundial. Sem que isto queira dizer que todos os erros são possíveis sem consequências negativas.

Não há muitos casos de países que tenham caído, aonde Portugal chegou, para a mediocridade económica, mas se isso acontecesse (e espera-se, naturalmente, que não aconteça) não seria o primeiro caso.
 
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por marafado » 30/5/2005 2:51

O álibi do Banco de Portugal



HJosé Filipe Correia Guedes

Professor

da Católica
á coisas que o comum dos mortais não con- segue compreender. Anunciam-se eleições e os partidos fazem promessas sedutoras ao eleitorado. Em 2002, o PSD prometeu a redução dos impostos ou um "choque fiscal"; nas últimas eleições, o PS prometeu que não iria aumentar os impostos, que iria eliminar as portagens das Scut, que iria aumentar as pensões dos idosos em situação de pobreza, que iria construir cinco novos hospitais e que iria fazer uma grande aposta na inovação e no conhecimento através de um "choque tecnológico".

Em ambos os casos as promessas convenceram o eleitorado. Contudo, quando se esperava que o novo inquilino de S. Bento começasse a governar de acordo com o programa recém-sufragado, eis que o Governo decide pedir ao Banco de Portugal um levantamento do estado das contas públicas com a seguinte argumentação nós, o novo Governo, não podemos confiar nas contas nem no orçamento deixado pelos nossos antecessores, pelo que, dado o nosso elevado sentido de Estado, precisamos de conhecer a verdadeira realidade orçamental para decidir como vamos governar. Este argumento parece razoável. Esta justificação parece prudente. O Presidente da República, que como todos sabemos é um homem sábio e ponderado, avaliza a iniciativa do Governo.

Depois é o que se sabe. Quando o relatório do Banco de Portugal é, finalmente, apresentado, os números são negros. A situação é muito pior do que se esperava! O País, afinal, está de tanga, sugere o relatório apresentado depois das eleições de 2002. Não, o País tem é já só uma parra a cobrir-lhe a nudez, consta do relatório mais recente, a divulgar nos próximos dias.

Os governantes aparecem, então, com um ar solene na televisão anunciando medidas impopulares para acudir ao estado calamitoso das contas públicas. As promessas eleitorais são ignoradas. Afinal os impostos terão de aumentar; afinal não podemos subir as pensões nem aumentar os funcionários públicos; afinal não podemos construir tantos hospitais como desejaríamos; afinal teremos de cobrar portagens nas Scut. Em vez do "choque fiscal" ou do "choque tecnológico", os eleitores sofrem um choque de desapontamento e descrença.

Foi uma atitude de responsabilidade pedir um apuramento da verdadeira dimensão dos problemas financeiros do Estado? O bom senso diz que sim. Deve um governante arrepiar caminho e faltar às suas promessas quando se depara com uma situação orçamental muito mais grave do que a esperada? O sentido de Estado aponta que sim.

Só que há um pormenor nesta história que é inconsistente com a aparente bondade da posição defendida pelos governantes. Porquê pedir o relatório ao Banco de Portugal apenas depois de realizadas as eleições, quando o partido do vencedor já está instalado no poder? Não deveria o relatório ser pedido no momento em que são convocadas as eleições, de modo aos partidos disporem de um retrato da verdadeira situação orçamental do Estado antes de fazerem as suas promessas eleitorais? Os eleitores teriam, desse modo, à sua disposição diferentes soluções oferecidas pelos partidos, para lidar com o grave desequilíbrio das finanças do Estado. Alguns partidos ofereceriam soluções baseadas em aumentos dos impostos; outros proporiam remédios orientados para a redução da despesa pública. Uns defenderiam cortes na educação; outros defenderiam cortes na saúde. E por aí fora. As medidas impopulares para combater o défice seriam, assim, escolhidas de uma forma democrática. As promessas eleitorais teriam mais hipóteses de ser efectivamente cumpridas e o eleitorado não seria sistematicamente defraudado nas suas expectativas. Poderia até ser o Presidente a solicitar o relatório ao Banco de Portugal, no momento em que dava o despacho de dissolução da Assembleia da República e convocava eleições gerais.

Como é que esta solução, de elementar bom senso, nunca foi apresentada nem debatida? Será que nunca ninguém se lembrou dela? Ou será que não convém à classe política? Será isto tudo, afinal, um jogo tácito entre os vários participantes, que traz vantagens à classe política e às suas clientelas? Será o relatório do Banco de Portugal, propositadamente, um álibi que permite aos governantes fazerem promessas demagógicas para ganhar eleições para, logo de seguida, se descartarem delas e governarem o País sem os impecilhos decorrentes de um contrato celebrado com o eleitorado?

Eu não sei qual é a resposta a esta questão. O que sei é que este modo de fazer política fere profundamente a credibilidade do regime democrático.
 
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por marafado » 30/5/2005 2:50

Excesso de oferta fez baixar rendas dos escritórios




negócio. Com 4487 m2 de área, o palácio Sotto Mayor está entre as dez maiores transacções de 2004

"O mercado de escritórios caracterizou-se em 2004 por um forte desequilíbrio entre a oferta disponível e os níveis de procura, o que criou alguma pressão 'negativa' sobre os valores das rendas, nomeadamente nas zonas onde a taxa de disponibilidade é mais elevada".

Esta é uma das conclusões do estudo Portugal Marketbeat Primavera 2005, da Cushman & Wakefield Healey & Baker.

Segundo a consultora imobiliária, este facto, bem como o factor qualidade dos imóveis mais recentes, levou a que inúmeras empresas mudassem de instalações, quer por questões financeiras quer por questões de gestão do próprio espaço. Essas mudanças dinamizaram o mercado, considera o estudo, permitindo uma absorção acima dos 160 000 m2, claramente superior às médias dos últimos anos. Esta procura funcionou como escape à pressão sobre os preços, permitindo alguma estabilidade de valores, que deverá manter-se em 2005.

Há ainda a registar a entrada no mercado de um número considerável de escritórios usados em edifícios mais antigos, uma vez que a maior parte das transacções realizadas em 2004 se prenderam com processos de consolidação das empresas e com a apetência por edifícios de melhor qualidade.

No entanto, refere o estudo, estes edifícios, a maioria localizados no centro de Lisboa, poderão vir a sofrer remodelações profundas que conduzam a alterações do uso, até mesmo para habitação.

A procura foi geralmente motivada pela intenção de melhorar a qualidade das instalações e/ou da localização, mas também pela racionalização de custos, refere.

Verificou-se também, ao longo de 2004, uma ligeira travagem no desenvolvimento de novos projectos "especulativos", o que poderá permitir, a manterem-se os níveis de absorção actuais, um ajustamento gradual da oferta à procura.

A concorrência entre edifícios demonstrou que os promotores têm capacidade para se adaptar às condições do mercado, quer através de estratégias de marketing mais agressivas quer por oferecerem aos inquilinos incentivos bastante apelativos.

O estudo prevê que, caso a evolução favorável dos indicadores económicos se mantenha, venha a assistir-se durante este ano à continuidade dos parâmetros que têm condicionado este mercado, podendo mesmo verificar-se que os promotores de maior sucesso tendam a ser menos flexíveis nos incentivos oferecidos aos inquilinos.

No final de 2004, a taxa de desocupação situou-se em 10,68%, que apesar de elevada é das mais baixas da Europa. Só Madrid, Barcelona, Roma e Paris registaram taxas de desocupação inferiores às de Lisboa. Amesterdão detém a taxa mais elevada, 20%, e Paris a mais reduzida, cerca de 6%.
 
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por marafado » 30/5/2005 2:49

Roquette investe 940 milhões de euros em Alqueva



nRoberto dores
nÉvora Arquivo DN-Nuno Costa

mudança. Projecto de turismo sustentado pode revolucionar o Alqueva

Um grande empreendimento turístico deverá em breve ter condições para avançar na região de Alqueva, pela mão da Sociedade Alentejana de Investimentos e Participações (SAIP) do Grupo Roquette. O investimento atinge os 940 milhões de euros e aponta para a criação de dois mil postos de trabalho. O Governo já anunciou o seu interesse em apoiar o projecto, inserindo-o entre as estruturas destinadas a estimular o emprego em Portugal. O empreendimento será realizado entre 10 a 12 anos, com o objectivo de transformar a região num novo destino turístico de "elevada qualidade", de acordo com os promotores.

O designado Parque Alqueva tem esbarrado com o Plano de Ordenamento das Albufeiras de Alqueva e Pedrógão (POAAP), que limita a construção numa faixa de 500 metros a partir das respectivas barragens. Mas o recente anúncio feito pelo primeiro-ministro sobre a "necessária revisão" do plano, na qual José Sócrates defende a conciliação entre património ambiental e vertente económica, abriu a porta aos objectivos da SAIP.

O administrador da sociedade, José Belmar da Costa, avançou ao DN que o Parque Alqueva ambiciona transformar-se numa grande operação de desenvolvimento regional, assente num "turismo que possa ser sustentável durante os próximos 50 ou 60 anos".

Admitindo que o empreendimento possa avançar assim que estejam resolvidas algumas situações relacionadas com o ordenamento, José Belmar da Costa afirma perceber as condicionantes impostas pelo POAAP, reconhecendo que aquando da sua elaboração - no tempo em que José Sócrates era ministro do Ambiente - não se podiam prever grandes operações.

"Mas os investimentos privados acontecem, e neste momento é necessário conjugar os actuais planos de ordenamento ou enquadramento jurídico com as intenções de investimento", sustenta o mesmo responsável. Isto para que "se possa fazer o equilíbrio social, ambiental e económico", acrescenta.

A SAIP prefere não avançar para já com pormenores sobre o novo parque, mas sabe-se que o projecto vai privilegiar oito componentes ligadas às vertentes turística, social e ambiental. Destacam-se a construção de várias unidades hoteleiras, a par de campos de golfe e outros espaços desportivos, que permitam uma taxa de ocupação durante o ano inteiro.

É nesse sentido que a qualificação profissional vai ser uma das grandes prioridades seguidas pelos investidores. Belmar da Costa alerta para a importância dos sectores público e privado "não estarem de costas voltadas", assumindo, inclusivamente, que "o privado não pode desenhar apenas e só numa expectativa económica".
 
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por marafado » 30/5/2005 2:48

o número
0,7%



É o crescimento económico previsto pela OCDE para Portugal em 2005.A previsão mais pessimista entre as organizações internacionais e que fica mesmo aquém das estimativas mais recentes do Banco de Portugal. Para aquela organização, a actividade no nosso país "caiu em recessão no segundo semestre de 2004", mas "deverá retomar progressivamente em 2005 e acelerar em 2006".
 
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por marafado » 30/5/2005 2:47

dito & feito

Gomes ficou surpreendido com convite

Ex-autarca do Porto diz que não esperava ir para a Galp


†Fernando Gomes afirmou, ao Correio da Manhã, que ficou "surpreendido" com a sua nomeação para a administração da Galp. E, logo a seguir, diz que manifestou ao Governo disponibilidade "para ocupar uma função de economista em qualquer empresa". Não se percebe, afinal, onde é que está a surpresa. O ex-autarca do Porto ofereceu os seus préstimos e o Executivo, do mesmo partido, fez-lhe a vontade.
 
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por marafado » 30/5/2005 2:46

Murteira Nabo não perde tempo a tomar posse

Ferreira do Amaral teve de se apressar a ceder cadeira


Minutos depois de ter sido aprovado o seu nome para chairman da Galp, Murteira Nabo entrava apressadamente na empresa para ocupar a cadeira que até aí tinha pertencido a Ferreira do Amaral. Aliás, quem estava ontem na reunião de accionistas diz que se cruzou com o novo chairman no corredor mal a assembleia tinha acabado. A sorte, dizem as más línguas, é que Ferreira do Amaral já tinha tudo arrumadinho
 
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por marafado » 30/5/2005 2:46

perfil
O consultor do Presidente



João Ferreira do Amaral, 58 anos, professor de Economia no ISEG, é um dos mais prestigiados economistas do País. Respeitado pelos seus pares, é autor de extensa bibliografia e documentos científicos. Ferreira do Amaral é ainda o consultor económico do Presidente da República, Jorge Sampaio. Foi dos raros economistas que, nos finais da década de 90, alertaram para alguns dos "perigos" da adesão de Portugal à união monetária. Produtividade e competitividade da economia portuguesa foram, desde sempre, os assuntos centrais das suas intervenções nos últimos anos. João Ferreira do Amaral destaca-se como um dos especialistas mais solicitados quando o tema é a macro- economia.
 
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por marafado » 30/5/2005 2:45

entrevista
João Ferreira do Amaral, economista

"É lírico pensar baixar despesas na Saúde"

O economista não começaria por aumentar o IVA para reduzir o défice. Não acredita na redução da despesa corrente e para a Saúde, a solução seria consignar receitas do IRS

nrudolfo rebêlo DN--Rodrigo Cabrita

desemprego. Para João Ferreira do Amaral, a taxa de desemprego vai aumentar mais um ponto percentual

O défice orçamental está nos 6,83% do PIB. Está surpreendido?

Não. Julgo que não surpreende ninguém... Era visível a desorçamentação e, por outro lado, havia as antecipações de receitas, que foram usadas em orçamentos anteriores.

Qual a sua opinião sobre o aumento do IVA de 19% para 21%?

Percebe-se que o objectivo é obter receita rapidamente, mas tem a desvantagem de penalizar os menores rendimentos. Provavelmente não haveria outra solução, embora eu preferisse um imposto directo para obviar o défice da Saúde, uma das áreas que pressiona directamente o défice orçamental. Mas percebo o aumento, dada a urgência das contas públicas.

Vejo que daria prioridade à subida de outros impostos...

Em termos imediatos, não começaria por aumentar o IVA. Primeiro iria ver a hipótese de criar uma taxa para a Saúde, e se isso não chegasse, então sim, em último caso subiria o IVA.

Não foi essa a opção do Governo. Aumento do IVA poderá ter um impacto negativo no crescimento da economia...

O impacto imediato será uma redução do consumo. As pessoas vão reduzir as despesas, o que provocará alguma desaceleração na economia. Mas, em qualquer caso, a redução do consumo é necessária para reequilibrar a balança de transacções correntes. Agora, sem dúvida, no imediato o aumento do IVA traduz-se no abrandamento da actividade económica.

A OCDE prevê um crescimento de 0,7% do PIB para 2005, quando a economia cresceu 1,0%. Qual a sua previsão?

O limite máximo de crescimento este ano será 1,0%... Se for atingido será muito bom. Acho que dificilmente teremos um crescimento significativo este ano. Nunca tivemos uma situação destas é o quinto ano consecutivo a divergir da União. Mas o pior é que o nosso crescimento potencial tem vindo a desacelerar.

O Governo optou por aumentar anualmente o preço da gasolina e do tabaco para pagar as Scut e a Saúde, respectivamente. O método é correcto?

Em relação à gasolina, é impopular, mas sou a favor. Agora a consignação de receitas do tabaco à Saúde... Preferia que entrassem como receitas gerais do Estado. Julgo que nesta matéria o modelo ideal seria consignar uma parte do IRS à Saúde...

Portanto, haveria duas taxas de IRS?

Não, seria o mesmo imposto; simplesmente uma parte seria consignada à Saúde (as despesas com a Saúde equivalem a 75% do IRS). Era, digamos, uma espécie de seguro para a Saúde e que, ao contrário dos seguros normais, é mais equitativo, porque o "prémio" seria em função da saúde das pessoas.

Um imposto com receitas directas para a Saúde...

É lírico pensar que conseguiremos baixar as despesas na Saúde... Acho que se deveria encarar isto com frontalidade na Saúde as despesas vão aumentar. E, por isso, dividiria o IRS em dois, dos quais a taxa de um tipo de IRS seria ajustada segundo as despesas da Saúde. Teria a vantagem de acabar com o défice de um dos sectores que mais pressiona o défice orçamental.

Está de acordo com um aumento do IRC?

Não vejo vantagens em aumentar o imposto. Não oferece grandes receitas e, ainda por cima, em geral, a situação das empresas é má. Mas também não teria descido o IRC, porque isso não deu qualquer motivação à actividade económica.

Mas a tendência na Europa é no sentido de baixar o imposto...

Não acho que o imposto seja muito elevado, porque com o planeamento fiscal há muitas deduções possíveis no imposto. Assim, a taxa efectiva do IRC acaba sempre por ser mais baixa. Agora, vale a pena rever o IRC, a prazo, e verificar se faz sentido a existência de tantas deduções... Nessa altura, talvez se possa alterar as taxas

O País está pior hoje do que na década de 80, quando era possível financiar o défice com emissão de moeda?

Sim, é mais difícil sustentar um défice de 7,0% do PIB sem recorrer ao financiamento monetário do que sustentar um défice de 13% ou 14% com o recurso à emissão de moeda...

Com défices deste tamanho, a dívida pública chegará aos 70% do PIB...

Sim, essa é a minha preocupação central... Quanto maior for o endividamento público, as condições financeiras na obtenção de empréstimos serão piores.

Pode reduzir-se ainda mais na despesa corrente primária?

Tenho dúvidas que se possa reduzir ainda mais as despesas correntes com pessoal. Mais uma vez, é lírico pensar-se que se pode reduzir a despesa pública. O que se pode é reduzir o crescimento da despesa. Mas há áreas em que vale a pena actuar. Muitos institutos raciocinam da seguinte maneira "Temos receitas, podemos gastar". Não deve ser assim, os institutos devem gastar apenas o necessário.

Para si, o aumento do desemprego é inevitável?

Sim, não tenho ilusões o desemprego crescerá um ponto percentual ou pelo menos meio ponto...

O desemprego poderá mesmo alcançar os dois dígitos...

Sim, se não houver uma aceleração do crescimento económico.

O aumento do endividamento das famílias...

A mistura de endividamento excessivo das famílias com o aumento do desemprego é socialmente muito perigosa, que pode levar à insolvência muitos agregados familiares.
 
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por marafado » 30/5/2005 2:44

Semana entre o défice e o PEC



O governador do Banco de Portugal , Vítor Constâncio, vai estar hoje à tarde na Comissão Parlamentar de Orçamento e Finanças para dar conta aos deputados dos resultados da Comissão, que determinou o défice público em 6,83%. Amanhã, caberá ao ministro das Finanças, Luís Campos e Cunha, explicar aos deputados da mesma Comissão a revisão do Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) que Portugal vai entregar a Bruxelas, e que condicionará a apreciação pela Comissão da instauração de um procedimento por défice excessivo. Hoje de manhã caberá a José Sócrates explicar as recentes medidas no âmbito da Concertação Social. Foi o primeiro- -ministro quem marcou, com carácter de urgência, esta reunião.
 
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por marafado » 30/5/2005 2:43

Estado pagará mais taxa social única

Integração de funcionários na Segurança Social aumentará a despesa


NOVO. Estado só paga TSU aos funcionários com contrato individual

A anunciada integração dos funcionários públicos na Segurança Social vai aumentar, a prazo, a despesa do Estado em contribuições.

Actualmente, o patrão Estado não contribui mensalmente para a protecção social da grande maioria dos seus empregados, limitando-se a cobrir anualmente o défice da Caixa Geral de Aposentações (CGA), que já superou os 3,6% do PIB. O Estado só cumpre as mesmas obrigações dos patrões privados em relação aos funcionários admitidos com contrato individual de trabalho, descontando os mesmos 23,75% do salário que os empregadores privados. Os funcionários com contrato individual de trabalho estimavam-se em cerca de 12 mil, há dois anos, havendo ainda um universo de cerca de 30 mil trabalhadores com contratos a termo e avenças.

À medida que for aumentando a percentagem de trabalhadores com contrato individual - como é intenção do Governo -, o encargo mensal do Estado vai crescer com o pagamento da taxa social única. O DN tentou saber junto do Ministério do Trabalho e da Segurança Social se já existe uma estimativa do aumento desta despesa, mas não obteve resposta. A evolução da despesa dependerá do ritmo de admissões, ou da rapidez da transição dos regimes. Por agora, o Governo quer apenas uma nova admissão por cada duas aposentações.

Apesar das alterações introduzidas em 1993, que equiparam a fórmula de cálculo das pensões dos funcionários contratados após aquela data à dos trabalhadores do sector privado, estes continuam (salvo se tiverem contrato individual) a descontar para a CGA (10% do salário contra 11% no privado), sem que o Estado assuma no imediato os respectivos encargos. E também não está a beneficiar de qualquer poupança, pois só em 2030 começará a pagar as pensões desses funcionários mais jovens.

Poupanças. Quanto ao anunciado aumento da idade de reforma, de seis meses por ano, já a partir de 2006 e ao longo de dez anos, José Sócrates disse estimar uma poupança de 230 milhões de euros já no próximo ano. Mas trata-se apenas de um adiamento gradual das responsabilidades. A alteração de fundo, e que permite maior redução na despesa, está a na revisão da fórmula de cálculo de formação das pensões, que será equiparada ao regime geral da Segurança Social, também para os funcionários que entraram antes de 1993.

Os funcionários deixarão de ver a sua pensão calculada com base no seu último salário, descontado apenas de 10% para a CGA, e será feito o cálculo à média da carreira contributiva. O processo será também gradual. O cálculo da pensão de quem ingressou na função pública antes de 1993 será calculado com base nas actuais regras até 31 de Dezembro deste ano e nas novas regras a partir daí. O ministro do Trabalho e da Segurança Social deu um exemplo "Quem esteja a dois anos da reforma terá 36 anos calculados de acordo com as expectativas que tinha e o restante pela nova fórmula. Se tiver três quartos da sua pensão no regime antigo e um quarto no novo, terá uma quebra de 5% na pensão. É irrelevante".
 
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por marafado » 30/5/2005 2:42

Orey Antunes reforça actividade em Angola e Moçambique

A aquisição da espanhola Agemasa potencia negócios no mercado ibérico

nhelder robalo Arquivo DN

Contas. A Orey Antunes encerrou o primeiro trimestre com um resultado líquido de 233 mil euros

A recente aquisição da espanhola Agemasa abre, segundo o presidente do conselho de administração da Orey Antunes, Duarte d'Orey, boas perspectivas para o resto do ano, potenciando os negócios no mercado ibérico. Mas é no mercado africano, em particular em Angola e Moçambique, que a empresa centra as atenções, apesar das dificuldades criadas por alguma instabilidade política.

"Angola é um país rico, que será sempre um grande importador, pois a maioria do que consome vem do exterior", explica Duarte d'Orey. O transporte de viaturas é neste país uma das principais áreas de negócios.

Também no mercado moçambicano, um país de serviços, os resultados são positivos. O forte incremento oriundo da China é outro dos factores que permitem animar este país africano, que tem vindo a sofrer com a instabilidade que se vive no vizinho Zimbabwe. "Mesmo assim, no porto da Beira, por exemplo, conseguimos fechar o trimestre com resultados positivos, contrariando o que vinha sucedendo até aqui", diz o empresário, que acredita que Moçambique tem condições para "voltar a ser o país que já foi no passado".

No mercado nacional não perspectiva, para já, grandes investimentos. Por um lado, devido ao esforço financeiro efectuado para a aquisição da Agemasa (9,5 milhões de euros) e , por outro, pela instabilidade que o sector portuário vive. Embora prefira não falar de política, Duarte d'Orey relembra que "são necessárias políticas de médio e longo prazo para o sector e não de três ou quatro anos".

A Orey Antunes fechou as contas do primeiro trimestre deste ano com lucros de 233 mil euros, depois de ter apresentado prejuízos de 69 mil euros nos primeiros três meses do ano passado.

As vendas registaram uma subida de cerca de 25,4%, as- cendendo a 15,1 milhões de euros, enquanto os resultados operacionais cresceram 676,3%, totalizando 350 mil euros. Os bons resultados trimestrais foram impulsionados pela aquisição da First Portuguese e pelo "esforço de redução de custos de estrutura".

Quanto ao futuro, o grupo aposta na área da navegação, enquanto o negócio das viagens e turismo pode ser vendido caso surja uma "boa proposta", como assume o gestor
 
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IVA a 21% reforça risco de recessão

por marafado » 30/5/2005 2:41

IVA a 21% reforça risco de recessão

Economistas alertam para o risco de forte aumento da fraude e da evasão fiscal

neva cabral
nRudolfo rebêlo DN-Natacha Cardoso

Consciência. José Sócrates admitiu no debate parlamentar desta semana que a subida de impostos tem alguns "efeitos recessivos"

Diogo Leite Campos recorda que é a própria Comissão Europeia que exige de Portugal medidas duras
A subida de dois pontos percentuais na taxa máxima do IVA, de 19% para 21%, poderá levar a economia a crescer abaixo de 1% ou mesmo à estagnação, dizem os economistas. E para 2006 há mesmo a hipótese do regresso à recessão.

O próprio primeiro-ministro admitiu ter consciência "dos efeitos recessivos do aumento de impostos", depois de anunciar na quarta-feira o agravamento do IVA, impostos sobre os combustíveis (ISP) e tabaco, num pacote de medidas destinado a combater o défice excessivo de 6,83% do PIB.

Para Guilherme d'Oliveira Martins, ex-ministro das Finanças, "não há medidas ideais. Eu próprio salientei há algumas semanas que o aumento de impostos tende a agravar a fraude e a evasão fiscais. Todos sabemos que o aumento da taxa normal do IVA contém um eventual risco recessivo. No entanto, é preciso considerar o mal menor". O actual deputado explica que "num prato da balança está o efeito de um aumento da taxa do IVA" e no outro "está o desequilíbrio orçamental. Ora, um défice orçamental elevado tem efeitos recessivos certos. Tinha de se escolher entre dois males".

O País pode perder competitividade com o aumento dos impostos indirectos? Para Oliveira Martins, não. "Tenho visto algumas considerações erradas sobre a perda de competitividade - esquecendo-se quem a invoca de que os produtos estrangeiros vendidos em Portugal são tributados pela taxa portuguesa". Por isso, diz o deputado, "considero essencial uma redução efectiva da despesa corrente primária até ao final do ano de 0,2 a 0,3 pontos do PIB. Em abstracto poderia ter-se reposto as taxas antigas do IRS, mas com o ano civil andado, a eficiência seria muito reduzida".

Acresce a tudo isto, diz o ex-ministro, o facto de se consignar esta receita adicional do IVA "à sustentabilidade dos sistemas de cobertura de riscos sociais", que favorece a capitalização e impede que a nova receita seja empregue em despesa não reprodutiva. "Tudo visto, é pois possível tecnicamente minorar os efeitos recessivos."

"Estou em total desacordo com o aumento do IVA", afirma Miguel Frasquilho, deputado do PSD. O economista apoia as medidas do lado da despesa propostas por José Sócrates, embora admita que "deveriam ser mais". No IVA "estava esgotada toda a margem de manobra desde o aumento de 17% para 19%", diz. Miguel Frasquilho sublinha ainda que com o clima de abrandamento "ninguém garante que exista um efeito positivo nas receitas" devido ao aumento do imposto.

Este ano, diz o deputado social --democrata, Portugal corre o risco de "crescimento próximo de zero" e para 2006 um "crescimento marginalmente positivo ou negativo".

Eduardo Catroga, ex-ministro das Finanças do PSD, não concorda com Frasquilho. "Todos sabemos que o aumento de impostos seria de evitar nesta fase de abrandamento da economia. Mas acredito que só se tomou a decisão em verdadeiro estado de necessidade." Catroga admite, no entanto, que o aumento dos impostos, "conciliado com o crescimento dos preços dos combustíveis", pode afectar a competitividade da economia. "O Governo tem um problema com a Comissão Europeia", afirma o ex-ministro, referindo-se ao défice orçamental, "mas também tem um problema com os mercados". No cômputo geral, o gestor e economista afirma que as medidas agora tomadas por Sócrates podem ter um efeito recessivo na economia no curto prazo, mas " a médio prazo, dois a três anos, terá um efeito positivo".

Eduardo Catroga lamenta apenas que o Executivo socialista não tenha tomado medidas na área de Justiça ou na burocracia do Estado, já que são "problemas que afectam a competitividade da economia portuguesa".

Também Octávio Teixeira, ex--líder parlamentar do PCP, considera que "a redução do consumo induzida pelo aumento do IVA é tendencialmente recessivo".

O economista considera, contudo, que será sempre difícil "quantificar o impacto desta medida em termos de PIB". E recorda que, quando a ex-ministra Manuela Ferreira Leite subiu o IVA de 17 para 19 %, o aumento acabou por se traduzir no primeiro ano por uma efectiva quebra na receita fiscal. Isto porque sempre que se aumenta a carga fiscal aumenta igualmente a fuga e evasão fiscal.

Segundo Octávio Teixeira "o IVA é, a nível nacional, o imposto em que se verifica potencialmente uma maior fuga ao fisco".

Diogo Leite Campos, fiscalista e autor da Lei Geral Tributária em vigor, considera que "só depois de se aplicar o aumento do imposto é que se pode verificar a tendência de um eventual impacto negativo no PIB". Segundo o fiscalista, também aquando da subida do IVA concretizada por Ferreira Leite não houve interesse em se "quantificar" o impacto no PIB.

Genericamente, frisa Diogo Leite Campos, sempre que se baixa o consumo por via do aumento da carga fiscal o PIB é afectado. No entanto, afirma, "a Comissão Europeia exige medidas duras, pelo que a alternativa seria aumentar o IRS e o IRC". O que, em seu entender, ainda "era mais penalizador".

Sobre as medidas anunciadas por José Sócrates, na despesa e na receita, Diogo Leite Campos refere que são " o mínimo que se podia fazer". Mas o fiscalista chama a atenção para o risco efectivo de se verificar um "aumento da fraude e evasão fiscal".
 
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