Caldeirão da Bolsa

Emoção não combina com investimento

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

Emoção não combina com investimento

por luiz22 » 7/3/2005 8:36

Emoção não combina com investimento


O optimismo ajuda a tornar as pessoas mais felizes. Mas os mercados não se compadecem com emoções e os investidores conseguem melhores resultados quando apelam à razão

Gonçalo Morna

Nos dias de hoje existem cada vez mais teorias e estudos que defendem a importância de as pessoas serem felizes e positivas na sua vida pessoal e profissional. Conhecidos psicólogos - como Martin Seligman, considerado o padrinho da psicologia positiva e autor do livro "Authentic happiness and learned optimism" - chegaram à conclusão, através dos seus estudos e análises, que as pessoas alegres e positivas têm uma esperança de vida mais elevada, são mais saudáveis, têm uma vida familiar melhor, são mais alegres no seu trabalho e vivem felizes com o que têm.
No entanto, as coisas mudam um pouco quando falamos da área dos investimentos pessoais. O facto de um determinado investidor ser feliz e positivo não significa necessariamente que isso lhe venha a trazer vantagens em termos do desempenho futuro dos seus investimentos. Estudos realizados nos últimos anos por economistas e psicólogos têm vindo a demonstrar que os investidores têm um comportamento irracional. O economista de Yale Robert Shiller, autor do livro "Irrational exuberance", e o psicólogo de Princeton Daniel Kahneman, vencedor do Prémio Nobel da Economia em 2002, têm vindo a analisar o comportamento irracional dos investidores. Uma prova recente deste tipo de comportamento foi a insanidade mostrada pelos investidores na década de 90 com os seus investimentos em empresas tecnológicas e a consequente bolha especulativa que se criou.
Está cada vez mais provado que um optimismo excessivo por parte dos investidores pode converter-se no seu inimigo número um. O excesso de confiança por parte dos investidores pode fazer com que eles pensem que são mais qualificados do que são na realidade, pode fazer com que interpretem mal os movimentos dos mercados financeiros. Muitos investidores excessivamente optimistas tornam-se pouco cuidadosos com a análise dos seus investimentos e muitas vezes tomam decisões com base em informações e análises pouco credíveis e, consequentemente, realizam maus investimentos, com retornos futuros indesejáveis.
Não é por acaso que a imagem de um investidor de sucesso aparece muitas vezes ligada a um carácter bastante racional e a um tipo de pessoas pouco sensíveis que conseguem, na maior parte das vezes, decidir com base na razão e não na emoção. Mas, mesmo estes investidores mais prudentes e menos emotivos, muitos deles até bastante conservadores, gostam de tomar alguns riscos nos mercados financeiros. Há cada vez mais investidores que utilizam simultaneamente dois tipos de estratégia: uma mais conservadora, tipo "buy and hold", em que os investimentos são realizados de acordo com o seu perfil de risco e são mantidos em carteira com uma perspectiva temporal longa; outra mais agressiva, mais direccionada para o "trading" diário e com uma perspectiva temporal mais curta.

Riscos limitados

Apesar de tanto os investidores mais racionais como os menos racionais muitas vezes gostarem destas estratégias mais arriscadas, a grande diferença é que os primeiros sabem exactamente o risco que estão a assumir quando apostam numa estratégia mais agressiva. Daniel Leemon, chefe de investimento da Schwab"s, confirmou que existe uma elevada percentagem dos seus clientes que aplicam cerca de 90 por cento dos seus investimentos em fundos com uma filosofia de longo prazo e apostam os restantes 10 por cento em investimentos directos, muitas vezes em acções tecnológicas de risco mais elevado, com uma perspectiva de "trading" diário.
Este tipo de atitude permite que os investidores tenham uma atitude global conservadora em relação ao risco e, ao mesmo tempo, possam "brincar" com uma pequena percentagem da sua carteira sabendo que, mesmo que as coisas corram mal, o impacto no seu património global será limitado. Já aqueles investidores emotivos, positivos e confiantes, que preferem alocar uma grande percentagem do seu património a investimentos mais arriscados e voláteis por acharem que no final tudo acaba por correr da melhor maneira, estão sujeitos muitas vezes a níveis de risco muito mais elevados do que imaginam.
Este tipo de investidores mais emotivos, em fases de fortes subidas dos mercados, pensam sempre que a valorização está longe de terminar e ficam à espera de acertar no ponto mais alto da subida para então venderem as suas posições. Os menos emotivos sabem que é impossível acertar no pico e preferem sair das suas posições quando o mercado está ainda na fase de subida.
 
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