Caldeirão da Bolsa

Off topic Salvem-nos dos nossos salvadores

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

É compreensivel

por Gargalhas » 12/1/2005 20:37

Esse exército de salvação nacional apercebeu-se que os seus interesses podem estar em perigo. O que eles pretendem não é salvar o país: é safarem-se a eles.

De facto, se os males e os remédios já são conhecidos há tanto tempo, porquê tanta pressa? Os rapazes que pululam na politica e nas televisões, engordados com grandes salários estão alançar o grito de alerta : vejam lá isso porque qualquer dia também nos atinge!

Andaram anos a reformar jovens com grandes salários e agora já querem aumentar a idade da reforma ou arranjar uma fórmula encapotada para antes da morte não haver reforma.........

Ninguém se preocupa em corrigir os erros do passado: para eles são direitos adquiridos, mas querem alterar os direitos dos outros!

Á medida que o pão for faltando para o povão,iremos assistir todos os dias ,nas poltronas das televisões, a ideias de cavalheiros "bem intencionados e sabedores" sobre a governação do país.

Ainda há-de chegar o dia em que um vizinho vai à televisão acusar o outro de não ter declarado ao fisco o euro que encontrou perdido nas calçadas da rua e que o cego deixou cair!

Com calma vamos lá!
Gargalhas
 

Off topic Salvem-nos dos nossos salvadores

por mcarvalho » 12/1/2005 15:02

fonte Bpi


Salvem-nos dos nossos salvadores

12/01/2005 14:01

Salvem-nos dos nossos salvadores
De súbito muita gente foi acometida da vontade de salvar Portugal. Alertas apocalípticos e receitas milagrosas ocupam as televisões e enchem agora as páginas dos jornais. Para justificar a necessidade desse grande projecto patriótico, faz-se um drama das finanças, da competitividade, da administração pública. Como se de coisa inusitada se tratasse, alguém finalmente tivesse feito bem todas as contas ou um funcionário mais atento percebesse, de repente, que a administração afinal não funciona bem. E no entanto, apesar de tamanho desassossego, nada de realmente significativo se passou nestes últimos tempos que não se conhecesse em pormenor desde há anos. De novo e recente caiu um governo medíocre. Coisa banal em democracia. De velho e conhecido, o país continua lento na evolução social, não consegue dedicar-se ao desenvolvimento económico e não tem suficiente pessoal político capaz. Para mais tem dificuldade em gastar menos, em parte por incompetência, em parte por necessidade, da mesma forma que não consegue chegar a acordo quanto ao rumo a tomar. Ou seja, trivial. Quando se é pobre tudo é mais caro e mais difícil.

Em Portugal não existe uma reflexão cordata e contínua sobre praticamente nenhum assunto político e ainda menos sobre a melhor forma de administrar o país. Age-se por impulsos, numa frequente oscilação entre o laxismo e o frenesim sem se passar por um mínimo de bom senso. Age-se também, sobretudo, por oportunismo, partidário ou económico, em exercícios de extremo alarme público para logo de seguida se deixar cair o assunto e se passar a outra coisa. Perde-se imenso tempo com temas menores. Nunca se tem tempo para tratar do que é realmente importante.

Falta objectivamente serenidade.

O exército de salvação nacional que por estes dias se tem vindo a constituir representa, afinal, mais um exemplo do tipo de política neurótica que por cá se pratica. De repente é preciso mudar o sistema eleitoral, fazer pactos de regime, adoptar medidas de excepção. Sem o qual, segundo se diz, nos arriscamos a naufragar.

Ora um país não pode andar permanentemente em tais aflições. Em vez da extravagância de pretender salvar a pátria, seria preferível que os políticos tentassem fazer algumas coisas consistentes, simples e bem. Eu por mim, que não espero muito, já ficaria satisfeito se conseguissem limpar a rua onde moro, tapar os buracos e plantar umas árvores. Estou certo que a grande maioria dos portugueses ficaria mais feliz se as escolas, os hospitais e os transportes funcionassem. Se o local de trabalho tivesse condições, ou seja, espaço, luz, bom ambiente e civilidade patronal. E se a qualidade de vida, o ambiente, as cidades fossem melhorando, mesmo que ligeira mas visivelmente.

Claro está que toda a gente também gostaria de ganhar mais. Mas a maioria das coisas que atormentam a vida dos portugueses não deriva tanto da falta de dinheiro, mas de competência. Muito daquilo que é realizado, é mal feito, fica inacabado ou obsoleto logo no momento da inauguração. Pensa-se sempre mais no interesse institucional, corporativo ou privado do que na qualidade de vida das pessoas. Para além de todos os anos se repetirem as mesmas cenas tristes e muitos assuntos voltarem invariavelmente à estaca zero.

Para além disso um país democrático como o nosso, livre e europeu, que tem naturalmente problemas, coisas a melhorar e outras a erradicar, não pode aceitar levianamente a declaração de calamidade extrema por tudo e por nada. Como se pode promover um país que declara estar à beira da catástrofe? Como se pode motivar os cidadãos quando se insiste que está tudo perdido?

Por isso, mais do que ser salvo o país precisa de recuperar alguma normalidade. A agitação partidária nestes últimos anos tem sido tremenda. O excesso de política continua a minar toda a convivência social. Do nada ou muito pouco criam-se tremendos dramas nacionais. Do insignificante nasce...
 
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