De facto tudo parece indicar que este projeto "a la Costa", com o beneplácito do PS (porque será que só os socialistas esfregam as mãos de contentes?), vai ser mais um sorvedouro como tem sido por exemplo a Tap, em que todos nós contribuintes vamos pagar isto com língua de palmo.
Ficam algumas perguntas que nunca vi respondidas e algumas delas inclusive nunca terão sido publicamente feitas:
- Porque motivo vai Portugal comparticipar num projeto de gasoduto especial (para gás natural e hidrogénio verde) se Portugal é importador de gás natural e o hidrogénio verde é ainda uma miragem que nem sequer se sabe se alguma vez irá substituir o gás natural, tendo em conta a evolução rápida de pesquisa em fontes de energias alternativas?
- O primeiro-ministro disse que o investimento de Portugal do gasoduto vai ser perto de 300 milhões de Euros para ligar Celorico da Beira a Zamora em Espanha. Isto levanta várias questões:
1) O gasoduto atual que liga Sines, o único local apropriado para depósito subterrâneo de GNL (gás natural líquido e não gás natural em vapor, que é o que os gasodutos transportam), até Celorico da Beira só é adequado para transportar o gás em estado gasoso, havendo necessidade de tratamento adequado de custos adicionais que passam por plantas de aquecimento à saída dos depósitos de GNL para transformar o GNL em gás gasoso transportável por gasoduto, obrigando à eliminação da água por aquecimento e sua transformação e eliminação do respetivo vapor de água. Alguém falou deste custo adicional? Não. Paga Zé!
2) Ao passo que o gás que vem da Argélia em gasoduto passa diretamente para a rede espanhola sempre em gás vapor sem necessidade de passar pelos custos de transformação em GNL (que é a única forma dos navios metaneiros o poderem transportar). Como conseguirá o gás "português" competir com o gás "espanhol" se este não necessita de custos adicionais de transformação do GNL em gás natural em estado gasoso? Já nem falo das perdas em linha e da volta maior que o gás teria de dar para vir da Argélia, chegar a Espanha, derivar para Portugal e voltar de novo a Espanha, não faz sentido nenhum! Este negócio só interessa à Espanha.
3) Alguém já se interrogou que é necessário construir novo gasoduto reforçado especial entre Sines e Celorico da Beira porque o atual só serve para transportar gás natural gasoso? Na verdade o atual gasoduto existente é permeável ao hidrogénio, que se perde para o exterior durante o transporte! Daí a necessidade de novas canalizações bastante mais reforçadas que as atuais existentes, e bastante mais caras por km. Alguém falou deste novo custo adicional? Não. Paga Zé!
4) A regra geral de investimentos públicos em zonas intercomunitárias é a de cada Estado promover os projetos, expropriações e custos de execução no seu próprio país. Porque carga de água vem o primeiro-ministro dizer que Portugal vai ter de assumir os custos do investimento até Zamora, que fica em Espanha? Outro mistério e novos custos adicionais. Paga Zé!
5) Alguém ouviu os espanhóis falar num projeto de gasoduto entre Zamora e Barcelona, que nunca existiu nem provavelmente irá existir? Para quê precisam os espanhóis dessa ligação se já têm uma rede de gasodutos muito desenvolvida e possuem um terminal em Barcelona com mais do triplo da capacidade de Sines e tendo em conta que o gasoduto da Argélia para Espanha desemboca numa data de cidades espanholas, incluindo Barcelona? Quem vai pagar o frete dos custos entre Zamora e Barcelona? Vocês estão mesmo a ver os espanhóis a assumir custos brutais para beneficiar Portugal, não estão? Esperem pelas desculpas de nuestros hermanos e, pois claro, o gasoduto do Costa vai ser uma miragem...
6) Finalmente, falemos dos benefícios. Alguém faz até agora um estudo de custos / benefícios deste projeto megalómano? Não. Nem pode haver porque se for feito tal estudo à data presente a conclusão é mais que óbvia: o hidrogénio verde é mais caro que o gás natural e portanto este projeto não tem nenhuma viabilidade porque ninguém compra na Europa hidrogénio verde que venha da Península Ibérica, que além do mais tem de incluir no seu preço o transporte por gasoduto e a amortização dos custos do investimento do gasoduto, se ao lado houver alguém a oferecer um preço mais barato por outra energia alternativa. E porque motivo alguém acredita que o hidrogénio verde está destinado a ser a energia que vai substituir o gás natural, se nem os próprios especialistas energéticos europeus acreditam nisso? Por magia, como vão baixar no futuro os custos de produção do hidrogénio? Só alucinados poderiam pensar tal cenário. E porque motivo só os socialistas portugueses andam entusiasmados com esta perspectiva, acham que é por acreditarem nas potencialidades e baixa de custos futuros do hidrogénio? Não me façam rir!
7) E já agora, se por acaso algum dia este projeto for para a frente: quem vai cobrar o gás transportado, seja gás natural ou hidrogénio verde, como vão pagar os custos dos investimentos, quem vai assumir esses custos (EU, ou contribuintes portugueses, ou ambos) e quais os benefícios que Portugal vai extrair deste projeto fantasma (porque os custos vão ser de tal forma gigantescos, em comparação com os dos espanhóis, que se vendermos a preço igual ao dos nuestros hermanos é mais que certo que o preço da venda vai ser inferior ao preço do custo) ? Ou seja, preparem-se porque todos os anos teremos de injetar mais e mais dinheiro para pagar não só a amortização dos custos do projeto, como o diferencial dos prejuízos entre o preço de venda final exportável ( se tivermos capacidade de injetar algumas sobras daquilo que Portugal consome no novo gasoduto!) e o preço de custo que vai ser superior, porque têm de somar ao custo todas aquelas alcavalas que mencionei atrás. Vamos ter uma nova TAP para somar subsídios todos os anos para tapar os prejuízos, só que desta vez subterrânea, paga Zé!
E muitas mais questões poderiam aqui ser aqui levantadas, mas para já fico-me por aqui. Simplesmente indignado na forma como uns políticos que se dizem responsáveis podem estabelecer um acordo de centenas de milhões, ou se calhar milhares de milhões, e endividar à vontade para o futuro incerto as populações que os elegeram, sem saberem se o projeto é viável, quanto custa e se toda esta mistela faz algum sentido comercial em sistema de concorrência, é preciso muita lata! E o Presidente, em quem eu ainda mantinha alguma esperança, aplaude, enfim, temos o que merecemos...