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Caldeirão da Bolsa

2022 - regresso ao futuro?

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

Re: 2022 - regresso ao futuro?

por djovarius » 3/1/2022 19:31

(restantes gráficos)
Anexos
DJCommodt.png
Este índice geral das matérias-primas reflete muito o que se passa no petróleo, mas não somente isso. Mostra como a inflação não pode ser evitada, sobretudo se passar a linha de cima, voltando a testar máximos - situação complexa....
DJCommodt.png (43.86 KiB) Visualizado 1736 vezes
EURUSD.png
O EUR/USD tem aqui um gráfico deste século. Está em queda, está "bear" e se romper aquela linha histórica pode ser um pequeno colapso....
EURUSD.png (54.86 KiB) Visualizado 1736 vezes
USDJPY.png
Este par está perto de super resistências, mas nada impede que as passe. É só continuar o otimismo nos mercados. De qualquer modo, do ponto de vista da AT é importante...
USDJPY.png (53.84 KiB) Visualizado 1736 vezes
BTC.png
O BTC simboliza as principais criptos. Já vi as coisas mais favoráveis. Se aquelas linhas derem defesa segura, o BTC pode voltar a sorrir, caso contrário, será mais uma desilusão... este gráfico faz lembrar (em 2021) o de várias "commodities", o que não deixa de ser curioso...
BTC.png (52.69 KiB) Visualizado 1736 vezes
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2022 - regresso ao futuro?

por djovarius » 3/1/2022 19:25

(artigo exclusivo do Caldeirão de Bolsa e da investing(BR)

No ano que agora terminou, continuámos a viver e, nalguns casos, ainda com maior intensidade, algumas das angústias e das perplexidades herdadas do ano anterior. As razões para tal, já todos as conhecemos, não vale a pena repisar sobre o assunto. A grande mágoa é que o tempo passa, mas parece que nada de novo acontece.

Sentimo-nos muitas vezes como o personagem daquele filme em que, ao acordar de manhã, revivia o dia anterior, perpetuando um estranho “loop” que levava a que tudo o que se passava no “hoje” fosse o mesmo do “ontem” e também o mesmo ocorreria no “amanhã”. Quantas vezes nos sentimos assim, também nós, neste início de década?

Mas não, não devemos cair em exageros. A verdade dos mercados mostra uma outra realidade. Para quem analisar os gráficos de hoje daqui a cem anos, olhando para este período histórico, até parece que estamos a atravessar um excelente “boom” económico. Ativos em forte valorização, inflação em elevação, pessoas em viagem, recintos desportivos lotados, etc… mais parece que não atravessámos nunca tempos de exceção e de perplexidade.

Mas para nós que vamos atravessando esta realidade dia após dia, sabemos bem quão complicada esta realidade pode ser para muitos de nós. Doença, solidão, desemprego, falências, restrições, avanços e recuos, são palavras amargas do nosso léxico. Já eram antes, tornaram-se mais assustadoras nestes tempos de uma estranha “guerra” não declarada. Por outro lado, a esperança humana nunca foi colocada em causa: sabemos que tudo vai voltar a ser o que era, só não sabemos quando. Felizmente, parece que estamos mais perto do fim do que do início da crise sanitária.

Sendo assim, podemos já falar de 2022 como sendo de “regresso ao futuro”? De regresso aos dias que deveríamos ter tido sem a incómoda presença do Sars-Cov2?

Queremos acreditar que sim, que a normalização da sociedade está em marcha, que os próximos meses nos vão mostrar isso mesmo. Queremos pensar que assim vai ser, que os avanços serão mais importantes do que os recuos, que os perigos atuais vão virar algo mais banal, algo com o qual viveremos relativamente bem, como sempre ocorreu no passado.

Olhando para o que escrevemos há um ano atrás (vale a pena clicar e reler para entender o contexto: viewtopic.php?f=3&t=92519&p=1610306&hilit=djovarius#p1610306), já antecipávamos, ainda que de um jeito desconfiado, sobre a possibilidade de a famosa inflação de ativos se espalhar para a Economia real. A razão para tal era simples, pois ao contrário de intervenções anteriores, em que a “nova” liquidez andava em circuito fechado, através da compra nos mercados secundários de títulos de dívida soberana e papel comercial, portanto, originando uma procura extra que levava a comprimir as taxas de juro associadas aos referidos ativos, desta vez, a liquidez dos Bancos Centrais não só tem uma escala explosiva (dólares, euros, etc… são quase todos novinhos em folha), como serve também para adquirir dívida recentemente emitida, não para o “rollover” da dívida existente, mas mesmo para atender à expansão da dívida de modo a poder injetar verbas em formato de subsídios a pessoas e empresas. Uma situação de emergência que levou inevitavelmente à manutenção da procura por bens e serviços (sobretudo por bens) sem o correspondente aumento ou manutenção da capacidade da oferta, a qual, aliás, sofreu enormes disrupções. A capacidade produtiva foi afetada pela pandemia, assim como as cadeias de distribuição.

Finalmente, sem susto nem surpresa, tivemos a reposição da teoria económica clássica. Mais “dinheiro” atrás dos mesmos bens e serviços só poderia levar a uma ainda maior distorção do equilíbrio entre oferta e procura. Este fator levou a um aumento natural dos preços, embora não de todos os preços.

Há um fator determinante para as subidas. O regresso à demanda por matérias-primas de base, como o petróleo e outros produtos energéticos, forte procura por “commodities” agrícolas, alavancada pelo açambarcamento chinês a produtos como a soja, arroz e outros cereais (porque será?), a que podemos somar a forte procura por metais e por materiais de toda a sorte.

Pela primeira vez no corrente século, deixaram o “génio sair da garrafa”, ou seja, a liquidez espalhou-se tão depressa como o próprio vírus. Temos, pois, outro vírus bem perigoso, mas este veio para ficar por uns tempos. Existe um debate que tenta desvalorizar esta onda inflacionista, como sendo passageira, resultado de um choque de curto prazo, o qual se dissipará a partir de meados do novo ano, o que levaria os índices de preços para valores mais aceitáveis.

Não creio que isso seja já possível. Ainda antes da atual crise, já se sentiam algumas pressões no sentido de uma alta de preços, ainda que limitada a certos ativos e a alguns setores. Existia a crença de que seria possível uma alta quase eterna de ativos mobiliários de risco e até de ativos imobiliários sem que isso se traduzisse numa elevação de preços de produtos e serviços básicos. O melhor dos dois mundos, diziam os mais otimistas.

A questão, porém, era o excesso de otimismo. Nada é bom demais para ser verdade. Se for, não pode durar para sempre. Aqui, o jogo mudou, o aumento dos agregados monetários é muito grande, num período temporal muito curto. O foco deixou de ser a criação artificial de inflação, como aconteceu na sequência das crises de 2008 a 2011, passou a ser criação artificial de crescimento (recuperação rápida a todo o custo), sem pensar nas consequências, sobretudo nas dinâmicas dos preços. A política oficial dos Bancos Centrais tem sido clara e transparente: não existe preocupação com a inflação ou, pelo menos, esse não é um tema para debater neste momento.
Claro que isto começa a ter consequências óbvias. Ninguém quer ter “liquidez” em carteira sabendo que nada fazer pode implicar em perdas por omissão. O capital pode ser o mesmo em termos nominais, mas com consideráveis perdas em termos reais.
Há muito tempo que a solução deixou de ser o tradicional juro bancário, cada vez mais negativo em termos reais. Tampouco em Obrigações. O alto risco (junk bonds) deixou de compensar, enquanto as OT soberanas ou são demasiado arriscadas para o investidor global ou “pagam” valores quase tão reduzidos quanto deixar o dinheiro parado.

Nesse caso, a demanda por ativos de risco ou ativos “palpáveis” não para de crescer. Ações internacionais seguem sendo compradas, sobretudo as das maiores empresas do mundo, ao mesmo tempo que matérias-primas (quase todas) voltam a ser queridas dos investidores. Não tem muito o que pensar, é praticamente tudo um “hedge” contra a inflação, refúgio contra a rápida desvalorização da moeda. Isso também levou à popularização das criptomoedas. Não são apenas um casino devorador de sonhos de um lucro fácil e rápido, acabaram finalmente por ser mais uma opção de investimentos, abrindo mesmo o apetite dos mais diversos perfis de investidores.

Mas, o que parece ser o melhor de todos os mundos encerra enormes riscos. Desde logo, por paradoxal que pareça, o fim da pandemia é um deles. Com a “normalização” da vida social e económica, não existe mais nenhuma razão para a continuação de uma política monetária tão laxista, a tal política de emergência. Se é certo que isso pode normalizar as pressões inflacionistas, pode também levar a uma derrocada dos ativos. A esse propósito, é possível que nos EUA possamos assistir a um travão nessa política. Fazendo uma análise a frio, não é normal que se mantenham juros próximos a zero (juro real altamente negativo) quando os índices de preços ao consumidor já atingem valores entre os 5 e os 12% ao ano, conforme o país em causa. Nesse caso, nem estamos a falar só de Turquia, Brasil ou qualquer mercado mais frágil. Falamos, sim, de EUA, de Alemanha e muitas outras Economias desenvolvidas. Pior ainda, os índices de preços ao produtor estão ainda mais elevados, mas só porque ainda não repassaram os aumentos de preços para o nível do consumidor final. Paira no ar o clima para uma tempestade (im)perfeita. Essas serão questões prementes em 2022 – como aumentar os juros para conter a inflação sem pôr em causa a recuperação económica? Como resolver esse paradoxo? E se ninguém lutar seriamente contra a subida da inflação, levando a mesma a valores impensáveis? Como vão reagir os mercados? Vão continuar a assumir mais riscos?

Além do mais, temos aqui uma série de riscos políticos e militares que têm estado latentes. O novo ano é um ano de eleições decisivas. Temos presidenciais no Brasil e em França, temos legislativas (meio do mandato) nos EUA e em muitos países da EU e um pouco por todo o mundo. Existem questões militares que podem facilmente ficar fora de controlo. Não se podem desprezar questões como Ucrânia, irão ou Taiwan.
A qualquer momento, um pequeno rastilho pode levar a uma situação de descontrolo. Por vezes, não é a guerra “quente” que assusta, pois essa vai sendo evitada. As novas “guerras frias” das políticas nacionais e da esfera política internacional podem assustar os mercados.
A esse propósito, os mercados ainda não fizeram o “pricing” de qualquer cenário ruim. De momento, tudo ainda é otimismo, o foco é o fim da pandemia e a recuperação económica. Ninguém pensa, até porque a liquidez após Março de 2020 não deixa margem para pensar. O negócio tem sido claro, clarinho. Investir sem olhar a meios, seguir em frente. Nem vale a pena falar na dicotomia otimismo / pessimismo. Tudo se resume a liquidez exacerbada, daí que ficou distorcida a normal perceção de risco.

Apesar de tudo, sinto que em breve, vamos deixar de “reviver” dias, vamos ter muitas novidades, umas melhores, algumas piores. Um ano de grande agitação em alguns casos. Se não for o regresso ao futuro, talvez seja, de certa forma, um regresso ao passado.

Certo de que já deixei muito para refletir, convido agora a ver os gráficos que resumem o ano passado de alguns ativos.

Obrigado, boa sorte a todos :)

djovarius
Anexos
US10YOT.png
Parece ser um ativo em valorização, mas não é, pois o que está em alta são os juros, sinal de que a OT está a perder nos mercados secundários. AS OT dos EUA a 10 anos são um bom exemplo de um mercado que esteve muito tempo em "bull", mas já não está, nem dá sinais de voltar a estar.
Com a alta da inflação, vemos juros a subir, ativo subjacente a cair...
US10YOT.png (51.69 KiB) Visualizado 1756 vezes
DE10YOT.png
Também na zona EUR, sobem os juros de mercado. No caso alemão, as OT a dez anos ainda estão negativas, mas o caminho parece óbvio. Se os juros continuarem em alta, as OT terão de amargar ainda mais perdas...
DE10YOT.png (49.35 KiB) Visualizado 1756 vezes
spx.png
Se as "bonds" não rendem, nada como apostar em "stocks". Pois aqui está mais um exemplo de um "bull market" com mais de 12 anos de idade. Diz-se que está para "morrer", mas ainda nada aponta para tal...
spx.png (49.92 KiB) Visualizado 1756 vezes
DAX.png
A zona EUR não é tão apetitosa como os EUA para o investidor global. Ainda assim, ganhos impressionantes no DAX e em muitos títulos de toda a Europa... veremos se é para continuar !!!
DAX.png (53.63 KiB) Visualizado 1756 vezes
ouro.png
O ouro tem sido sinónimo de volatilidade, embora nem esteja muito longe de máximos históricos. Eu espero pela saída daquele espaço entre linhas para tirar mais conclusões...
ouro.png (55.34 KiB) Visualizado 1756 vezes
Oil.png
O petróleo teve meses excelentes, já não está em máximos, mas eu considero aquelas linhas como fronteiras de curto prazo. Parece querer romper em alta para testar máximos recentes....
Oil.png (45.79 KiB) Visualizado 1756 vezes
Editado pela última vez por djovarius em 3/1/2022 19:32, num total de 1 vez.
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