Movimento antivacina covid-19 pode comprometer esforços para acabar com pandemia, alerta estudo A revista científica “Nature” detalha algumas das narrativas dos opositores das vacinas: alegam, por exemplo, que a vacina contra o novo coronavírus será usada para implantar microchips nas pessoas e fazem circular a informação falsa da morte de uma mulher que participou num ensaio clínico no Reino Unido. Estes grupos são pequenos mas a sua estratégia de comunicação online é preocupantemente eficaz e abrangente, adverte especialista.
Cientistas de várias partes do mundo tentam desenvolver uma vacina contra o novo coronavírus numa corrida contra o tempo. Enquanto isso, um pequeno mas fervoroso movimento antivacinas mobiliza-se contra os esforços de imunização. Segundo os dados mais recentes da Universidade Johns Hopkins, o SARS-CoV-2 já provocou quase 300 mil mortos em cerca de 4,4 milhões de casos confirmados de infeção à escala global, enquanto o número de recuperados ronda os 1,6 milhões.
O alerta foi feito esta quarta-feira pela revista científica “Nature”, que detalha algumas das narrativas que os ativistas antivacinas propagandeiam: dizem, por exemplo, que a vacina será usada para implantar microchips nas pessoas e fazem circular a informação falsa da morte de uma mulher que participou num ensaio clínico no Reino Unido.
Durante um protesto contra o confinamento na Califórnia no mês passado, alguns ativistas exibiram cartazes com palavras de ordem antivacinas. Um vídeo no YouTube difundia teorias da conspiração sobre a pandemia, declarando, sem fornecer quaisquer provas, que as vacinas iriam “matar milhões”. O vídeo, entretanto apagado, teve mais de oito milhões de visualizações.
Posições antivacinas podem ser dominantes em 10 anosInvestigadores que estudam estes movimentos dizem-se preocupados com a possibilidade de estas mensagens minarem os esforços para se conseguir a imunidade de grupo ao coronavírus. O físico Neil Johnson adverte que a oposição online às vacinas se articulou rapidamente para fazer incidir a discussão na pandemia de covid-19. A sua equipa na Universidade George Washington, nos EUA, que estuda as táticas usadas por aqueles ativistas, revela que estes grupos são pequenos mas que a sua estratégia de comunicação online é preocupantemente eficaz e abrangente.
A equipa de Johnson fez um levantamento de mais de 1.300 páginas de Facebook, seguidas por cerca de 85 milhões de pessoas, e concluiu que as páginas antivacinação são mais numerosas do que as que advogam a imunização. Os links daquelas páginas são frequentemente partilhados em discussões noutras páginas de Facebook, incluindo de associações de pais.
Durante os surtos de sarampo do ano passado, as páginas antivacinação geraram mais ligações no Facebook do que as páginas que a defendem. Segundo um estudo da equipa daquela universidade norte-americana, uma extrapolação das tendências atuais, usando simulações de computador, sugere que as posições contrárias à vacinação poderão dominar as redes em 10 anos. Mas o problema não se circunscreve ao Facebook: no início de abril, a equipa de Johnson divulgou um estudo que sugere que a partilha de links está a crescer em diferentes redes sociais entre grupos antivacinas e outros, como grupos de extrema-direita.
Comunidade pró-vacinas “agarrada à sua narrativa”“A comunidade pró-vacinas está basicamente agarrada à sua narrativa e a falar entre si, não se aproximando nem respondendo às narrativas propagadas entre os indecisos”, avalia, por sua vez, Heidi Larson, que dirige o Vaccine Confidence Project, um grupo da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres que monitoriza a confiança do público nas vacinas.
Os ativistas antivacinas tendem a ganhar adeptos com mensagens personalizadas e emotivas, que não apelam necessariamente ao medo (“As vacinas vão matá-lo!”) mas ao coração (“Ama os seus filhos?”), aponta Larson. Em simultâneo, a comunidade de saúde pública tenta simplesmente vacinar mais pessoas, o que pode criar a sensação de que só pretende aumentar os seus números, acrescenta.
Com uma taxa de vacinação global estabilizada nas últimas duas décadas, os especialistas ouvidos pela “Nature” temem que a velocidade de desenvolvimento de uma vacina contra o novo coronavírus constitua outro motivo de suspeição. Nesse sentido, apelam à total transparência no processo, sob pena de, quando surgir uma vacina, as pessoas poderem questionar-se se alguma etapa no desenvolvimento não terá sido desconsiderada.
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