Doreen Escreveu:Sou um daqueles que em 2017 adaptou uma moradia ao alojamento local, e que agora encerra portas a essa actividade para provavelmente não mais abrir.
No entanto, pelo que percebo, se participar o encerramento, arrisco-me a ter de pagar mais-valias como se de uma venda se tratasse.
A alternativa seria passar para arrendamento de longa duração, mas não estou minimamente interessado nessa opção.
Parece-me que o melhor será manter a actividade aberta até que uma nova legislação venha facilitar os encerramentos.
Acredito que casos como o meu se vão multiplicar.
Pois bem Doreen,
Quem responde agora é alguém que entende perfeitamente a questão. Sentes-te agora como alguém (como eu) que no ano 2000 ainda comprava "coisas" do PSI-20 esperando ganhar dinheiro. Como os dez anos anteriores tinham sido uma maravilha, porque não continuar a insistir?
Uma lição cara para mim e muitos outros.
E é disso mesmo que se trata no AL.
Eu fui um percursor das chamadas formas modernas de alojamento que descambaram no nome horroroso de AL (como se um hotel em Lisboa ou no Porto não fossem também eles "local", que eu saiba as unidades de alojamento não andam a passear como uma autocaravana) por via da legislação reguladora criada por um obscuro Secretário de Estado do Turismo que talvez seja daqueles que nunca falou com um turista.
Só para enquadrar o que quero dizer eu já gerente de dois Hostels ao mesmo tempo, mais tarde até de três (após regressar a Portugal em 2004) no Algarve num tempo em que em Lisboa só havia um e no Porto havia outro. Excetuam-se aqui as "velhas" Pousadas de Juventude do Estado.
Antes já haviam aqui quartos alugados "ad-hoc" pelas "velhas" que se degladiavam por clientes nas estações. Enfim, outros tempos.
Na minha carreira, passaram-me pela mãos muitos milhares de turistas...
Portanto, do que se trata no dito AL? Tal como na Bolsa, trata-se de entrar quando ninguém quer saber e de sair quando todos querem o mesmo. E foi o que se passou.
Ainda antes da atual crise, eu já falava (em Dezembro) com pessoas que não davam conta de pagar as despesas com as receitas do turismo. Era empréstimo bancário para aqui, eram obras para acolá. Sem esquecer as loucas contas de água, pois o turista é bem capaz de tomar banhos de 5 minutos em casa, mas toma banhos de uma hora em férias...
E a luz? Quantos deixam o ar condicionado 24 horas por dia ligado??
Este último inverno já demonstrava claramente que o "boom" tinha chegado ao fim e que o crescimento "normal" não seria suficiente para alimentar todos os negócios existentes e a serem criados.
Por medo disso, em 2015 eu saí dessa carreira. Cedo de mais, confesso, embora eu tenha tido outras razões também, pelo que não há espaço para arrependimentos...
Mas era óbvio: desde então até agora, a oferta de AL multiplicou por 5X em grande parte do país. Há locais em que multiplicou por 50X - isto não pode ser normal.
Sem o covid19 teríamos falências aqui e ali. Com o covid19 teremos quem se salve aqui e ali.
Sim, porque isto não é como as crises de 2008 a 2011. Nessas, salvava-se o "low cost". Mais do que se salvar, crescia exponencialmente. No negócio que eu geria, crescia-se "mano a mano" com o crescimento da Ryanair. Está tudo dito...
Nesta crise, por óbvias razões, é o mundo das viagens que está mais em causa. Tudo poderá retomar a atividade de alguma forma, mas o turismo não será o mesmo no curto / médio prazo. Voltaremos a valores ali de 2012 / 2013 seguramente. Ora, nesse caso, não há espaço para os negócios que surgiram entretanto.
Mas há uma frase, Doreen, que eu não entendo nem um pouco:
"No entanto, pelo que percebo, se participar o encerramento, arrisco-me a ter de pagar mais-valias como se de uma venda se tratasse."
Isto merece clarificação, pois acho que não dá para perceber o porquê.
Outra: com o meu conselho, alguns já se dedicam ao arrendamento urbano e estão satisfeitos. Hoje há formas de o fazer sem perder de vista o "controlo" das casas. Mas, ok, sem mais detalhes, não entendo as circunstâncias próprias de cada caso.
Abraço
djovarius